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Full text of "Monumenta Brasiliae"

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A'JC  30  1961  J 

BX  370I 


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in  2014 


https://archive.org/details/monumentabrasili03leit 


MONUMENTA  HISTÓRICA  SOCIETAT1S  IESU 

MONUMENTA   BRASILIAE  III 


4/ 

MONUMENTA  HISTÓRICA  SOCIETATIS  IESU 
A  PATRIBUS  EIUSDEM  SOCIETATIS  EDITA 


VOLUMEN  81 


MONUMENTA  MISSIONUM 

SOCIETATIS  IESU 

VOL.  XII 

MISSIONES  OCCIDENTALES 


MONUMENTA  BRASIL1AE  III 
(1558-1565) 


ROMAE 
"  MONUMENTA  HISTÓRICA  S.  [.„ 
VIA  DEI  PEN1TENZIERI  20 

195S 


«Nosso  Rey  tam  chistianissimo  que  a  estas  partes  nos 
mandou»  (Nóhkega,  carta  a  Tomé  de  Sousa,  infra,  p.  71) 


MONUMENTA  BRASILIAE 

ih 

(1558-1563) 

POR 

SERAFIM  LEITE   S.  I. 


ROMA 

MONUMENTA  HISTÓRICA   SOCIETATIS  IESU,, 
VIA  DEI  PENITENZIERI  20 

1958 


i 


NOSSA  SENHORA  APARECIDA 
PADROEIRA     DO  BRASIL 

Er  voto 


IMPRIMI  POTEST 


Romae,  die  18  ian.  1958. 

R.  Mendizábal  S.  I. 
Delegatus  P.  Generalis 


IMPRIMATUR 
E  Vicariatu  Urbis,  die  23  ian.  1958. 


f  Aloysius  Traglia 
Atchiep.  Caesarien.  Vicesgerens 


TODOS  OS  DIREITOS  RESERVADOS 


Coimbra  —  Tij).  da  Atlântida,  Rua  Fernandes  Tomás.  ^6 


ÍNDICE  GERAL 


Pág. 


ÍNDICE  GERAL   7* 

BIBLIOGRAFIA  IMPRESSA   41* 

ABREVIATURAS   53* 

INTRODUÇÃO  GERAL 

Capítulo   I.   Preliminares   57* 

Art.   1.    O  rumo  novo  de  Nóbrega  e  Mem  de  Sá  .   .    .  57 * 

Art.  2.    Crise  de  expedições  missionárias  para  o  Brasil .  59* 

Art.  3.  Ministérios  com  os  índios  das  Aldeias  ....  61* 
Art.  4.    Ministérios  com  os  moradores  da  Baía  e  das 

Capitanias   63* 

Art.  5.   Escolas  de  ler,  escrever  e  cantar   65* 

Art.  6.    Contribuição  às  ciências  naturais   67* 

Art.  7.    Contribuição  etnológica   68* 

Art.  8.    Observância  regular  e  subsistências  materiais  .  69* 

Art.  9.   Mudança  do  governo  provincial   71* 

Art.  10.    Resultados  do  plano  civilizador  de  1558   .    .    .  74 

Capítulo  II.   Autores  das  Cartas   77* 

A.  Na  Europa   78* 

Art.  1.   P.  Diego  Laynes,  2.0  Geral  da  Companhia  de 

Jesus   78* 

Art.  2.   P.  Juan  Alfonso  de  Polanco,  Secretário  da  Com- 
panhia de  Jesus   79* 

Art.  3.    P.Luís  Gonçalves  da  Câmara,  Assistente  de  Por- 
tugal em  Roma  e  Mestre  do  Rei  D.  Sebastião  .  79* 
Art.  4.    P.  Miguel  de  Torres,  Provincial  de  Portugal.   .  79* 
Art.  5.    P.  Gonçalo  Vaz  de  Melo,  Provincial  de  Portugal  81* 
Art.  6.    P.  Francisco  Henriques,  Procurador  do  Brasil 

em  Lisboa   82* 

Art.  7.   Ir.  Cipriano  do  Brasil,  primeiro  Jesuíta  nascido 

na  América   83* 

B.  No  Brasil   84* 

Art.  8.   P.  Manuel  da  Nóbrega,  Fundador  da  Província 

do  Brasil   84* 


8* 


ÍNDICE  GEKAI. 


Art.  9.  P.  Luís  da  Grã,  2 0  Provincial  do  Brasil.  .  .  .  84* 
Art.  10.    P.  António  Pires,  Mestre  de  obras  e  Vice-Pro- 

vincial  do  Brasil   84* 

Art.  11.    P.  Francisco  Pires,  Fundador  da  Igreja  da  Ajuda 

em  Porto  Seguro   85* 

Art.  12.  P.  Brás  Lourenço,  Superior  do  Espírito  Santo  .  85* 
Art.  13.   P.  António  Rodrigues,  Primeiro  Mestre-Escola 

de  São  Paulo   85* 

Art.  14.    P.  António  Blázquez,  Epistológrafo  e  Mestre  de 

Meninos   86* 

Art.  15.   P.  João  de  Melo,  Reitor  do  Colégio  da  Baía  .    .  86* 
Art  16.    P.  Leonardo  do  Vale,  Mestre  da  Língua  Brasí- 
lica  86* 

Art.  17.   P.  Manuel  Alvares,  Pintor   92* 

Art.  18.   P.  Rui  Pereira,  Pregador   92* 

Art.  19.  P.  Luís  Rodrigues,  Missionário  dos  índios  .  .  93* 
Art.  20.    P.  José  de  Anchieta,  Gramático  e  5.0  Provincial 

do  Brasil   94* 

Art.  21.    P.  António  de  Sá,  Missionário  dos  índios.    .    .  94* 

Art.  22.   Mem  de  Sá,  3.0  Governador  Geral  do  Brasil.    .  95* 

Capítulo  III.   Cartas  Perdidas   98* 

CapItuloIV.  Códices  Manuscritos   100* 

CapItulo  V.   Edições  das  Cartas  e  mais  Documentos   .   .  107* 

Capítulo  VI.   Gratiarum  Actio   115* 


DOCUMENTOS 
1558 

1.  Carta  do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Diego  Laynes,  Bolonha 
22  de  Setembro. 

Texto:  1.  Pede  que  se  lhe  enviem  as  determinações 
que  tocam  à  Província  de  Portugal  e  a  todas  as  outras. 
—  2.  Sobre  a  Província  do  Brasil  não  ficou  nada  assente 
antes  de  deixar  Roma   3 

ia-m.    Cartas  perdidas   4 

2.  Carta  do  P.  Diego  Laynes  aos  Padres  e  Irmãos  do  Brasil  c 
da  índia,  Roma  1  de  Dezembro. 

Texto:  1.  Diz  porque  escreve  e  manda  que  se  íaçam 
orações  em  todas  as  Casas  da  Europa  pelos  que  traba- 
lham na  obra  da  conversão.  —  2.  A  vocação  na  Compa- 
nhia é  grande  mercê  de  Deus,  mas  em  especial  para  os 
que  trabalham  nas  missões  em  ajudar  os  cristãos  e  con- 


ÍNDICE  GERAL  9* 

Pág 

verter  os  infiéis.  —  3.  Porque  também  são  lá  maiores  os 
trabalhos  e  perigos.  —  4.  E  por  isso  também  têm  mais 
necessidade  de  cultivar  as  virtudes  sólidas.  —  5.  E  neles 
têm  postos  os  olhos  todos  os  da  Companhia  e  de  fora 
dela.  —  6.   Para  isso  devem  conservar  as  forças  do  corpo. 

—  7.  Mas  de  maneira  que  não  enfraqueçam  as  da  alma 
e  da  observância  religiosa.  —  8.  E  cada  ano  terão  alguns 
dias  para  se  recolherem  a  fim  de  se  renovarem  e  fortale- 
cerem em  espírito.  —  9.  Que  Deus  tenha  especial  pro- 
tecção dos  missionários  e  os  abençoe   6 

2a-c.    Cartas  perdidas   n 

Carta  Régia  a  Mem  de  Sá  Governador  do  Brasil,  [Lisboa 
Dezembro]. 

Texto:  1.  Contentamento  pelas  boas  notícias.  —  2.  Des- 
gosto pela  morte  de  Fernão  de  Sá,  filho  do  Governador. 

—  3.  Sabe  que  o  Governador  favorece  os  Padres  da 
Companhia,  alegra-se  com  isso  e  recomenda-os  com 
instância.  —  4.    Carta  que  envia  à  Câmara  da  Baía  para 

que  também  ajude  os  Padres.  —  5.  Correspondência.  .  n 
3a-c.    Cartas  perdidas   15 

Carta   Régia    à   Câmara    da    Cidade  da   Baia,  [Lisboa 
Desembro]. 

Texto  :  1.  Recomenda  os  Padres  da  Companhia  e  a  obra 
da  conversão  do  gentio,  não  os  vexando  nem  tomando 
as  suas  terras   15 

4a.   Carta  perdida   16 


1559 


Carta  do  Ir.  Antônio  de  Sá  [?}  aos  Padres  e  Irmãos  da  Baía, 
[Espirito  Santo  Fevereiro  (?)  ] 

Texto  :    1.    Ida   do   P.   Francisco   Pires   para   a  Baía. 

—  2.  Grande  epidemia  e  mortandade. —  3.  Epidemia 
na  Aldeia  dos  índios  e  medo  que  estes  tinham  do  bap- 
tismo. —  4.    Crianças   enterradas   vivas   pelos  índios. 

—  5.    Renitência  das  velhas  em  receber  o  baptismo. 

—  6.  Procissão  de  penitência.  —  7.  Um  índio  frecha  a 
mulher  grávida,  baptizando-se  mãe  e  filho  antes  de  mor- 
rerem. —  8.  Uma  nau  francesa  no  Espírito  Santo  e 
Itapemirim  e  proeza  do  índio  Vasco  Fernandes  Gato. 

—  9.    Incêndio  na  Escola  e  Casa  de  Meninos  da  vila  do 
Espírito  Santo   17 


10* 


ÍNDICE  GERAL 


6.  Carta  do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega, 
Lisboa  12  de  Maio. 

Texto:  1.  Concede-se  dispensa  ao  P.  Francisco  Pires, 
que  foi  religioso  do  Mosteiro  de  Santa  Cruz  de  Coimbra, 
para  permanecer  na  Companhia  sem  escrúpulos   ...  22 

7.  Carta  do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega, 
Lisboa  12  de  Maio. 

Texto:  1.  Não  obstante  o  que  se  escreve  de  Roma  vai 
apontar  algumas  coisas.  —  2.  O  santo  zelo  de  Nóbrega 
fá-lo  instar  ou  aconselhar  coisas  que  talvez  fosse  melhor 
diferir  para  outro  tempo  procurando  ganhar  a  amizade 
do  Vigário.  —  3.  O  mesmo  se  entende  dos  principais  em 
sangue,  poder,  dignidade  ou  ofícios.  —  4.  Ser  aojo  de 
paz  entre  todos.  —  5.  Não  se  preocupar  que  terras  dão 
ou  não  dão  aos  índios.  —  6.  Não  usar  palavras  ásperas 
mesmo  tratando-se  de  grandes  males.  —  7.  Consola-se 
com  o  bom  êxito  que  houve  em  salvaguardar  a  boa  fama 
dum  Irmão  e  todo  o  cuidado  é  pouco. — 8.  O  novo  Bispo 
antigo  filho  espiritual  de  Nóbrega.  —  9.  O  Governador 
fez  algumas  coisas  por  conselho  de  Nóbrega.  —  10.  Man- 
dar as  cartas  por  pessoa  de  confiança  ou  escrever  em 
latim  ou  cifra   24 

8.  Carta  do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega, 
Lisboa  12  de  Maio. 

Texto  :  1.  Um  frade  que  se  lhe  queixou  de  Nóbrega  por 
ter  feito  um  libelo  contra  ele.  —  2.  Avisos  de  coisas 
que  lhe  disseram  em  Lisboa  contra  o  Provincial  do 
Brasil.  —  3.  Procure  cada  um  conhecer  a  sua  complei- 
xão  colérica  ou  fleumática   28 

9.  Carta  do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega, 
Lisboa  12  de  Maio. 

Texto  :  1.  Ordena  a  Nóbrega  que  vá  para  S.  Vicente  para 
recuperar  a  saúde  e  que  passe  o  cargo  de  Provincial  ao 
P.  Luís  da  Grã.  —  2.  E  isto  pode-se  fazer  não  obstante 
o  que  se  escreve  de  Roma   30 

9a.  Carta  perdida   32 

10.  Carta  do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Diego  Laynes,  Lisboa  16 
de  Maio. 

Texto:  1.  O  Bispo  ainda  não  embarcou  para  o  Brasil, 
mas  Torres  manda  cartas  por  um  navio  que  agora  vai. 
—  2.    Razões  porque  mandou  ao  P.  Nóbrega  que  fosse 


Índice  geral 


11* 


para  S.  Vicente  e  passasse  o  cargo  de  Provincial  ao 

P.  Luís  da  Grã  —  3.    A  doença  de  Nóbrega  

ioa-e.    Cartas  perdidas  .  .. 

n.  Caria  do  Ir.  António  de  Sá  aos  Padres  e  Irmãos  da  Baía, 
[Espirito  Santo]  ij  de  Junho. 

Texto:  1.  Depois  dalguma  hesitação,  o  Principal  Vasco 
Fernandes  [Gato]  está  disposto  a  fazer  Aldeia  onde  os 
Padres  lhe  mandarem.  —  2.  Os  mortos  da  epidemia  nos 
meses  atrás  passados.  —  3.  Medo  duma  nau  portuguesa 
cuidando  que  era  francesa.  —  4.  Aventura  sucedida  a 
um  filho  do  principal  Vasco  Fernandes  —  5.  O  Capitão 
Miguel  de  Azeredo  proibe  que  os  índios  vendam  os 
filhos  e  parentes. —  6.  Baptismo  e  casamento  de  índios 
e  festa  e  convite  do  Capitão  Azeredo.  —  7.  Prudência 
cristã  do  índio  Matanim.  —  8  Emenda  dum  índio  que 
vendera  a  filha.  —  9.  Emenda  doutro  índio  que  fora 
afamado  no  Rio  de  Janeiro  e  vendera  a  sobrinha. 
— 10.  Sete  índios  que  morreram  baptizados.— 11.  Vai-se 
fundar  a  nova  Aldeia,  aceitando  o  Principal  Vasco  Fer- 
nandes que  os  Padres  residam  nela. —  12.  E  haverá 
na  Aldeia  uma  casa  para  ensinar  meninos,  favorecendo 
também  isto  Dona  Branca,  mulher  do  principal.  — 13.  Um 
índio  que  deixa  a  manceba.  —  14.  Outro  que  sabe  os 
dias  de  jejum  que  manda  a  Igreja.  —  15  Doutrina  cristã 
na  vila,  em  português  e  na  língua  brasílica   36 

12.  Carta  do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Miguei  de  Torres  e 
Padres  e  Irmãos  de  Portugal,  Baia  j  de  Julho. 
Texto  :    1.    Correspondência :   consolações    e  tristezas. 

—  2.  Depois  da  vinda  de  Mem  de  Sá  fizeram-se  três 
Igrejas.  —  3.  Aldeia  de  São  Paulo  e  o  seu  método  de 
catequese  e  ensino.  —  4.    Doutrina  e  disciplina  aldeã. 

—  5.  Direito  penal  na  Aldeia  e  penitências.  —  6.  A  Se- 
mana Santa  na  Aldeia  e  contradição  do  cabido.  — 
7.  A  festa  da  Páscoa.  —  8.  A  festa  e  procissão  do 
Corpo  de  Deus  e  a  boa  correspondência  dos  índios. 

—  9.  Vai  acabando  o  costume  de  comer  carne  humana 
e  castiga-se  quem  a  come. —  10.  Vai-se  sujeitando  o 
gentio,  e  os  próprios  índios  ajudam.  —  11.  Na  Aldeia 
de   São  João    procede-se  como   na   de   São  Paulo. 

—  12.  Dia  de  S.  António,  procissão  em  acção  de  gra- 
ças pelas  vitórias  dos  Ilhéus. —  13.  Outra  Aldeia  que  se 
ajunta. — 14.  A  Igreja  do  Espírito  Santo.  —  15.  Doença, 
morte  e  funeral  do  P.  João  Gonçalves.  —  16.   A  falta 


Pág. 

32 
35 


ÍNDICE  GERAL 


que  faz. —  17.  Outras  doenças  de  vários  Padres  incluindo 
Nóbrega.  —  18.  Continua  o  assunto  da  Aldeia  do  Espí- 
rito Santo  e  casos  dela. —  19.    A  Aldeia  do  Chorão. 

—  20.    Os  feiticeiros  em  acção  e  um  castigo  simulado. 

—  21.  Fechou-se  a  porta  da  confissão  por  causa  dos 
escravos  e  amancebamentos.  —  22.  Escola  de  ler  e 
escrever.  Espera-se  Bispo.  —  23.  Novas  das  Capitanias 
de  São  Vicente  e  do  Espírito  Santo  

Carta  do  P.  Manuel  da  Nóbrega  a  Tomé  de  Sousa  antigo 

Governador  do  Brasil,  Baia  j  de  Julho. 

Texto:  1.  Correspondência  epistolar  e  afectuosa  com  o 
antigo  Governador  do  Brasil  Tomé  de  Sousa.  —  2.  Esta 
terra  está  castigada  e  espera  maiores  castigos.  —  3.  Dois 
desejos  sempre  me  atormentaram:  melhorar  os  cristãos 
e  converter  os  índios.  —  4.  E  dois  meios:  para  os  cris- 
tãos bom  Bispo,  para  o  gentio  sujeição,  sem  a  qual  a 
experiência  ensina  que  se  não  consegue  fruto.  —  5.  O 
Bispo  D.  Pedro  Fernandes  julgava  o  gentio  incapaz  da 
doutrina  e  morreu  em  poder  dele.  —  6.  O  Bispo  pôde 
fazer  pouco,  porque  os  clérigos  que  trouxe  deram  mau 
exemplo  e  autorizaram  os  escândalos  públicos.  —  7.  Os 
clérigos  começaram  a  dispensar  os  sacramentos  e  gene- 
ralizaram-se  os  pecados  mortais  em  matéria  de  honesti- 
dade pública  e  outros  pecados.  — 8.  Por  isso  Nóbrega 
desabriu  mão  de  tudo  e  foi  para  São  Vicente.  —  9.  Dei- 
xou-se  ficar  em  São  Vicente  por  achar  muitos  meninos 
do  gentio,  o  gentio  menos  escandalizado  e  Irmãos  lín- 
guas. —  10.  Em  São  Vicente  Deus  favoreceu  a  salvação 
dalguns  predestinados.  —  11.  Além  dos  mais  pecados, 
há  em  todas  as  Capitanias  um  que  é  o  ódio  ao  gentio. — 
12.  Tem-se  geralmente  e  aprovam-no  capitães  e  pre- 
lados que  é  serviço  de  Deus  fazer  que  os  gentios  se 
travem  e  se  comam  uns  aos  outros.  —  13.  Há  cristãos 
que  matam  em  terreiro  à  maneira  dos  índios  e  não  o 
fazem  só  baixos  e  mamalucos,  mas  o  mesmo  capitão.  — 
14.  Nóbrega  disputou  em  direito  e  mostrou  a  falsidade 
disto  no  ano  precedente.  —  15.  Não  há  compaixão  com 
o  gentio  quando,  por  ser  como  é,  devia  de  haver  para 
com  ele  maior,  para  o  ajudar  a  sair  da  sua  miséria. — 
16.  Outro  pecado  infernal  ensinam  os  cristãos  ao  gentio 
que  é  furtarem-se  a  si  mesmos  e  venderem-se  por  escra- 
vos. —  17.  Não  o  fazem  os  Tupinaquins  de  São  Vicente, 
mas  já  o  fazem  os  do  gentio  do  Gato  e  em  Pernambuco. 
—  18.    Na  Baía  introduziu-se  no  tempo  de  Dom  Duarte 


ÍNDICE  GERAL 


e  em  Ilhéus  e  Porto  Seguro  se  pratica  com  o  gentio  do 
sertão,  que  vem  fazer  sal  ao  mar.  —  19.  Nóbrega  cerrou 
a  porta  das  confissões,  mas  toda  a  outra  cleresia  os 
absolve  e  aprova.  —  20.  Dão-se  pouco  os  cristãos  com  a 
salvação  dos  escravos,  porque  só  lhes  interessa  o  seu 
serviço.  —  21.  E  para  cúmulo  até  já  há  opiniões  lutera- 
nas com  que  é  preciso  disputar.  —  22.  Os  que  praticam 
as  tiranias  contra  os  índios  sobretudo  na  Baía,  não  olham 
que  a  intenção  de  El-Rei  de  Portugal  não  foi  tanto  por 
interesse  temporal  como  pela  exaltação  da  fé  e  conver- 
são das  almas.  —  23.  Lembrados  os  pecados  da  terra, 
agora  os  castigos,  e  tem  o  primeiro  lugar  a  Capitania 
do  Espírito  Santo  em  guerras  onde  morreram  os  seus 
homens  principais.  —  24.  A  Baía  tem  o  segundo  lugar.  — 
25.  E  também  Pernambuco.  —  26.  São  Vicente,  é  mais 
unida,  mas  cercada  de  contrários  e  de  franceses.  — 
27.  Ilhéus  e  Porto  Seguro,  mas  destas  tornará  a  falar 
mais  abaixo.  —  28.  Açoite  geral  é  a  perda  de  barcos  e  a 
sua  gente  comida  de  índios.  —  29.  Outro  açoite,  as  guer- 
ras civis  entre  o  Bispo  e  o  Governador.  —  30.  Mas 
também  houve  misericórdia,  porque  o  gentio  não  pre- 
valeceu contra  os  cristãos.  —  31.  Voltando  de  São 
Vicente  à  Baía,  tratou  com  o  Governador  Dom  Duarte 
sobre  a  conversão  do  gentio.  —  32.  Chega  Mem  de  Sá 
com  Regimento  mais  expresso  sobre  a  conversão  do 
gentio  e  o  que  praticou  logo  no  começo  da  sua  gover- 
nança com  os  cristãos  e  na  cidade.  —  33.  Começam  os 
Aldeamentos  dos  índios,  Rio  Vermelho,  São  Paulo, 
S.  João  Evangelista,  com  o  gentio  de  Mirangaoba,  e  Espí- 
rito Santo.  —  34.  Casos  particulares  os  manda  Nóbrega 
escrever  pelos  Irmãos.  —  35.  Nas  Aldeias  há  escolas  de 
meninos,  e  baptismos  de  meninos  e  adultos,  e  se  guarda 
justiça.  —  36.  Há  outras  Aldeias  ainda  sem  Igreja  por 
não  ter  Padres  para  elas,  mas  está  tudo  bem  disposto  e 
Nóbrega  começa  a  ressuscitar.  —  37.  A  oposição  agora 
é  dos  maus  cristãos  que  começam  a  desinquietar  tomando 
as  terras  dos  índios  de  São  Paulo.  —  38.  E  fazem-lhes 
outros  agravos  que  o  Ouvidor  Geral  não  castiga  porque 
só  aceita  o  testemunho  dos  cristãos.  —  39.  Antiga  divi- 
são dos  índios  da  Baía,  os  do  Tubarão  e  Mirangaoba, 
ficando  contrários  entre  si :  agora  o  Governador  proibiu 
que  se  guerreassem  e  comessem  entre  si  e  se  doutri- 
nam. —  40.  Mas  a  gente  do  Brasil  murmura  cuidando  que 
é  melhor  que  os  índios  estejam  divididos.  —  41.  Divi- 
didos estavam  os  índios  do  Espírito  Santo  e  uniram-se 


ÍNDICE  GERAL 


entre  si  contra  os  cristãos  e  mataram  os  principais. — 
42.  Também  há  murmuradores  contra  os  Padres,  porque 
por  um  lado  apertam  os  índios  a  viver  bem  e  por  outro 
lado  os  tratam  e  defendem  e  lhes  mostram  entranhas  de 
amor.  —  43.  O  Governador  proibiu  que  se  comesse  carne 
humana  e  há  maliciosos  que  murmuram  e  tentam  descon- 
solar quanto  podem  o  Governador.  —  44.  Todos  come- 
çam a  aborrecer  o  Governador,  por  cortar  abusos  e  prin- 
cipalmente por  defender  os  índios.  —  45.  A  Câmara 
pediu  que  o  Governador  repartisse  os  índios  pelos  mora- 
dores, como  se  faz  nas  Antilhas  e  no  Peru,  mas  o  Gover- 
nador negou-o  por  não  haver  motivo  justo.  —  46-  E  se 
houvessem  de  se  repartir,  eram  obrigados  a  ter  Padre 
para  os  doutrinar  e  não  há  possibilidades  disso,  porque 
nem  das  suas  próprias  almas  cuidam.  —  47.  Bem  pare- 
cia conquistar-se  a  terra  e  repartir-se  os  índios,  com  a 
obrigação  de  os  doutrinar;  mas  o  que  agora  querem  é 
os  índios  que  já  estão  nas  Aldeias  sem  custar  o  sangue 
dos  moradores.  —  48.  E  como  o  Governador  nisto  de 
glória  de  Deus,  bem  das  almas  e  proveito  da  terra,  se 
rege  pelos  Padres,  murmuram  dos  Padres  e  do  Gover- 
nador. —  49.  Garcia  de  Avila,  amigo  de  Nóbrega,  não 
cumpriu  a  promessa  de  deixar  ir  os  meninos  índios  à 
Escola  de  São  Paulo  e  os  índios  à  doutrina  aos  domin- 
gos e  agora  está  contra  Nóbrega.  —  50.  Ocasião  e  guerra 
do  Paraaçu,  quebrando-se  esse  desencantamento  que  tra- 
zia medrosa  a  toda  a  gente  da  Baía.  —  51.  O  mesmo  se 
poderia  ter  feito  antes,  mas  o  medo  que  ficou  das  guer- 
ras de  Erancisco  Pereira  e  do  Espírito  Santo  o  impediu. 
—  52.  Guerra  dos  Ilhéus  e  Porto  Seguro,  e  vitória  do 
Governador,  e  já  todos  os  índios  pedem  pazes.  —  53.  O 
mesmo  se  poderá  fazer  nas  outras  Capitanias,  onde  ainda 
estão  as  fazendas  e  as  vidas  nas  mãos  dos  índios,  sem 
utilidade  para  os  índios,  que  se  não  podem  fazer  cristãos, 
nem  para  a  terra.  —  54.  Em  São  Vicente  há  gente  para 
senhorearaterra.  masnãose  resolve  a  isso. — 55.  Matança 
de  Tupis  pelos  Castelhanos  e  ameaças  dos  Tupis  contra 
os  cristãos  de  Geraibatiba.  —  56.  Como  os  deteve  o  boato 
duma  caravela  de  castelhanos,  mas  o  perigo  continua, 
acrescido  agora  dos  franceses.  —  57.  Que  Tomé  de  Sousa 
faça  socorrer  a  este  pobre  Brasil  para  que  se  não  apague 
a  faísca  da  fé  que  começa  no  coração  do  gentio.    .    .  . 


índice  geral  15* 

Pág. 

14.  Carta  do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Diego  Laynes,  Lisboa 
29  de  Julho. 

Texto:    1.  Correspondência  para  a  Índia  e  o  Brasil. — 

2.  Uma  carta  de  Nóbrega  que  de  Castela  mandou  para 
Roma.  —  3.  Porque  ordenou  a  mudança  do  Provincial 
no  Brasil.  —  4.  Manda  informações  sobre  o  envio  de 
missionários  para  o  Brasil  e  Angola.  —  5.  Já  não  manda 

estas  informações  porque  depois  houve  mudança  .   .   .  105 

15.  Carta  do  P.  Francisco  Pires  aos  Padres  e  Irmãos  de  S.  Roque, 
[Baia  (30?)  de  Julho}. 

Texto:    1.  O  que  sucedeu  depois  da  carta  geral. —  2.  O 
Governador  Mem  de  Sá  voltou  dos  Ilhéus  vitorioso. — 

3.  Os  índios  vão  mudando  os  seus  costumes,  de  pran- 
tear, beber  e  fazer  coroa.  —  4.  Oficio  solene  por  um  dos 
dois  índios  cristãos  que  morreram  em  combate  na  guerra 
dos  Ilhéus.  —  5.  Sentimento  dos  Padres  do  Brasil  por 
chegar  uma  caravela  e  não  trazer  Padres.  —  6.  Regozijo 

pela  eleição  do  novo  Geral   ....  108 

15a.    Carta  perdida   112 


16.  Carta  do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Diego  Laynes,  Baia 
jo  de  Julho. 

Texto:  1.  Regozija-se  com  a  sua  eleição  para  Geral  da 
Companhia.  —  2.  Mandava-lhe  o  P.  Laynes  que  conti- 
nuasse a  ser  Provincial,  mas  deram-lhe  sucessor  e  que 
vá  residir  em  S.  Vicente,  para  onde  partirá  quando  hou- 
ver embarcação.  —  3.  Como  encheu  as  Casas  da  Com- 
panhia de  meninos  Índios  para  escolher  os  melhores, 
ensinar-lhes  gramática  e  ver  se,  andando  o  tempo,  pode- 
riam servir  a  Deus  e  ser  bons  operários  no  Brasil. — 

4.  Tem  cargo  dos  meninos  um  homem  que  teve  ofício 
de  El-Rei  e  quer  ser  da  Companhia  e  estuda  latim. — 

5.  Os  meninos  já  têm  habitação  e  exercícios  separados 
dos  Padres.  —  6.  O  que  há  sobre  dispensa  de  regras  e 
eleição  de  consultores.  —  7.  As  graças  impetradas  che- 
garam a  mui  bom  tempo,  e  dão  remédio  a  muitas  almas. 
—  8.  Sempre  achou  que  seriam  úteis  para  a  Companhia 
os  meninos  mestiços  e  brasis,  mas  com  a  condição  de  se 
formarem  bem  na  Europa.  —  9.  Entretanto,  deve  o  Padre 
Geral  mandar  prover  de  operários  o  Brasil,  porque  são 
poucos  e  a  messe  muita   113 


16* 


ÍNDICE  GERAL 


Pág. 

17.  Carta  do  Ir.  António  Rodrigues  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega, 
[Itapuã  (Baia)  princípios  de  Agosto}. 

Texto:  1.  Baptismo  de  inocentes  e  perspectiva  de  se 
passarem  os  índios  para  a  Aldeia  do  Espírito  Santo. — 
2.  Mas  haverá  também  casa  em  Itapuã  por  ser  passagem 
dos  Padres  para  o  Espírito  Santo   118 


18.  Carta  do  Ir.  António  Rodrigues  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega, 
[Aldeia  do  Espírito  Santo  (Baía)  8(?)  de  Agosto]. 
Texto:    1.  O  Ir.  António  Rodrigues  chega  à  Aldeia  do 

Espírito  Santo  com  vinte  meninos  com  as  redes  às  cos- 
tas e  canas  de  pescar.  —  2.  Os  índios  davam  os  filhos  de 
boa  vontade.  —  3.  Pareciam  que  iam  estudar  a  Sala- 
manca mas  iam  para  a  Escola  de  Cristo.  —  4.  O  Princi- 
pal Urupemaíba  recebeu-o  de  braços  abertos.  —  5.  Que 
os  novos  cristãos  se  ponham  em  ordem  com  a  civiliza- 
ção cristã.  —  6.  Mas  daqui  não  poderemos  ir  mais  longe 
por  falta  de  operários   ...  120 

19.  Carta  do  Ir.  António  Rodrigues  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega, 
[Aldeia  do  Espirito  Santo  (Baía)  fim  de  Agosto]. 
Texto:    1.  A  obra  da  conversão  do  gentio  vai  em  cresci- 
mento  123 

20.  Carta  do  Ir.  António  Rodrigues  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega, 
[Aldeia  do  Espirito  Santo  (Baía)  p(?)  de  Setembro]. 
Texto:    1.  De  todas  as  partes  os  índios  entregam  os  filhos 

ao  Ir.  António  Rodrigues  e  já  tem  em  casa  mais  de 
200  meninos  para  aprenderem.  —  2.  O  novo  meirinho 
Urupemaíba  quebrou  à  meia  noite  todas  as  talhas  de 
vinho  que  achou.  —  3.  Toda  a  terra  está  abalada  para  se 
fazer  nela  grandíssimo  fruto.  —  4.  Acatamento  e  obe- 
diência dos  índios  aos  da  Companhia,  e  de  Carão,  junto 

a  Rembepe,  querem  trazer  os  filhos   124 

2oa-b.  Cartas  perdidas   127 


21.  Carta  do  P.  António  Blásques  por  comissão  do  P.  Manuel 
da  Nóbrega  ao  P.  Diego  Laynes,  Baía  10  de  Setembro. 
Texto:  1.  Correspondência.  —  2.  Os  Padres  e  Irmãos 
vão  bem  e  para  com  os  índios  são  pais,  médicos  e  enfer- 
meiros.—3.  Ministérios  de  Nóbrega,  único  pregador 
da  cidade  —  4.  Escola  Geral  de  meninos  de  que  é 
Mestre  o  P.  Francisco  Pires.  —  5.  Confissões  e  comu- 
nhão semanal  de  moradores.  —  6.   Espera-se  de  Portu- 


ÍNDICE  GERAL 


17* 


Pág. 

gal  o  Bispo  e  que  venham  também  Irmãos  para  ensinar 
Gramática  e  Lógica.  —  7.  Aldeia  de  S.  João  a  cinco 
léguas  da  Cidade  com  o  P.  António  Pires.  —  8.  Aldeia 
do  Espirito  Santo  com  o  Ir.  António  Rodrigues.  — 
9.  Aldeia  de  São  Paulo  a  uma  légua  da  Cidade  com 
dois  Irmãos. —  10.  Escola  de  São  Paulo  com  140  meni- 
nos e  aprendem  a  doutrina  por  um  «diálogo»  na  língua 
brasílica. —  11.  Nóbrega  determina  que  os  meninos 
brasis  das  Escolas  das  Aldeias  aprendam  Gramática  no 
Colégio.  —  12.  Meninos  brasis  cristãos  que  repreendem  os 
pais  feiticeiros.  —  13.  Nóbrega  administra  os  Sacramen- 
tos da  confissão  e  matrimónio  na  Aldeia  de  São  Paulo. 
—  14.  Baptismo  e  festa  solene  na  Aldeia  de  São  Paulo, 
com  uma  prosa  bilingue. —  15.  Confraternizam  índios 
e  Brancos  num  banquete  oferecido  pelos  índios.  — 
16.  Morte  súbita  dum  gentio  e  as  índias  cercam  de  cru- 
zes a  casa  onde  morreu.  —  17.  Os  índios  de  São  Paulo 
fazem  casas  de  taipa  para  morarem  com  estabilidade  e 
vendem  a  pluma  para  se  vestirem  dando  exemplo  o  seu 
índio  Principal  Garcia  de  Sá.  —  18.  E  insistem  com 
Nóbrega  que  querem  escrever  a  Portugal  para  virem 
mulheres  virtuosas  que  lhes  eduquem  também  as  filhas. 
— 19.  Aldeia  de  S.  João  e  favor  de  Mem  de  Sá  no 
aldeamento  e  evangelização  dos  índios.  —  20.  Vai  em 
crescimento  a  Escola  da  Aldeia  do  Espírito  Santo  do 
Ir.  António  Rodrigues.  —  21.  Guerra  dos  Ilhéus  ganha 
por  Mem  de  Sá.  —  22.  Carta  do  Ir.  António  Rodrigues  128 
2ia-d.    Cartas  perdidas   140 

22.  Carta  do  P.  António  Blásquez  por  comissão  do  P.  Manuel 
da  Nóbrega  ao  P.  Diego  Laynes,  Baía  10  de  Setembro. 
Texto:    1.  Nóbrega  visita  a  Aldeia  do  Espírito  Santo  onde 

a  gente  e  os  meninos  o  vieram  receber  ao  caminho  e  ao 
porto.  —  2.  Alegria  de  Nóbrega  pela  devoção  dos  meni- 
nos com  cruzes  nas  mãos  e  na  fronte. — 3.  Os  meninos 
entoando  o  rosário  do  Nome  de  Jesus,  pareciam  anjos  a 
rezar  matinas   141 

23.  Carta  do  P  António  Blásquez  por  comissão  do  P.  Manuel 
da  Nóbrega  ao  P.  Juan  de  Polanco,  Baia  10  de  Setembro. 
Texto:    1.  Alegria  com  as  cartas  de  Roma,  de  15  de 

Setembro  de  1558,  recebidas  na  Baía.  —  2.  Pedido  de 
contas  bentas.  —  3.  Esperam-se  de  S.  Vicente  alguns 
Irmãos  para  se  ordenarem  de  missa,  porque  faltam 


18* 


ÍNDICE  GERAL 


Padres.  —  4.  Há  mais  de  seis  anos  que  de  Portugal 
não  mandam  Padres,  alguns  morreram,  é  preciso  que 
Roma  o  saiba  e  proveja  

24.  Carta  Régia  por  onde  os  Padres  da  Companhia  de  Jesus  no 
Brasil  hão-de  haver  seu  mantimento  cada  mês,  Lisboa  14 
de  Setembro. 

Texto:  1.  O  subsídio  régio  que  antes  se  dava  para  28  reli- 
giosos S.  I.  —  2.  Deve  dar-se  agora  para  36  pessoas  e 
modo  como  se  há-de  dar. —  3.  E  que  em  caso  de  dúvida 
se  interprete  sempre  a  favor  dos  Padres.  —  4.  Sino  dado 
ao  Colégio  da  Baía  

25.  Lista  de  objectos  de  culto  c  outros  que  se  enviaram  de  Portu- 
gal para  o  Brasil,  [Lisboa  ip  de  Setembro}. 

Texto  :  1.  Sacrário,  retábulos,  cruzes,  ornamentos  e 
outros  objectos  de  culto  para  a  Igreja  da  Baía  e  mais 
quatro  casas.  —  2.  Vinho,  azeite,  vinagre,  farinha,  rou- 
pas, camas  e  outros  objectos  de  casa  e  de  cozinha. — 

3.  Dinheiro  e  especiaria  

26.  Carta  do  Ir.  António  Rodrigues  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega, 
[Paraguaçu  (Baia)  28  de  Setembro}. 

Texto  :  1.  Vitória  do  Governador  Mem  de  Sá  sobre  os 
contrários  —2.  Virtudes  de  Mem  de  Sá. —  3.  O  Gover- 
nador mandou  ao  Ir.  António  Rodrigues  que  desse  da 
sua  despensa  tudo  o  que  fosse  preciso  aos  pobres. — 

4.  No  lugar  da  vitória  vai-se  construir  a  vila  de  Nossa 
Senhora  da  Vitória. —  5.  O  Governador  alegra-se  com 
ver  o  Ir.  Rodrigues  ensinar  e  pregar  e  em  ouvir  os  meni- 
nos cantar.  —  6.  Continua  a  luta  e  a  entrada  às  aldeias 
dos  contrários.  —  7.  Pede  orações  por  si  e  pelo  Gover- 
nador   

27.  Carta  do  P.  Francisco  Pires  ao  P.  Miguel  de  Torres  [?}, 
Baia  2  de  Outubro. 

Texto:  1.  Vitória  do  Governador  na  Guerra  do  Para- 
guaçu com  a  assistência  do  Ir.  António  Rodrigues  para 
falar  aos  índios,  que  lhe  têm  crédito,  e  para  as  coisas 
espirituais.  —  2.  Continua  a  guerra  aos  contrários,  que 
fogem  abandonando  as  cercas  e  as  roças  que  se  quei- 
mam e  desfazem  


ÍNDICE  GERAL  19* 

Pág. 

28.  Caria  do  P.  Francisco  Pires  ao  P  Miguel  de  'forres,  Baia 
2  de  Outubro. 

Texto:  1.  Depois  do  tempo  das  desconsolações  começou 
já  o  tempo  de  recolher  o  fruto  da  conversão  dos  índios 
com  a  boa  indústria  do  Governador  Mem  de  Sá.  —  2.  Os 
índios  já  correm  para  a  Igreja,  louvam  a  Deus  e  se  con- 
fessam e  tudo  é  fácil.  —  3.  O  P.  Ambrósio  Pires  foi-se 
no  tempo  de  semear  com  lágrimas  e  por  isso  não  levou 
senão  desconsolações  que  contar.  —  4.  O  que  falta 
agora  são  Padres  para  o  trabalho  que  há.  —  5.  Depois 
de  Deus  toda  esta  mudança  se  deve  ao  Governador, 
verdadeiro  soldado  da  fé.  —  6.  E  o  mesmo  sucederia 
nas  outras  partes  da  costa  se  houvesse  outros  Mens  de  Sá. 

—  7.    Esperava-se  de  S.  Vicente  um  navio  com  Irmãos 

e  algum  Padre  que  o  P.  Nóbrega  mandou  vir   158 

29.  Carta  do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Diego  Laynes,  Lisboa 
6  de  Outubro. 

Texto:  1.  Expedição  missionária  para  o  Brasil.  —  2.  Pa- 
dres e  Irmãos  que  vão.  —  3.  Todos  lhe  pareceram  aptos 
para  esta  missão  incluindo  o  P.  Dictio,  doente  da  gota. 

—  4.  Levam  provisão  para  o  mar  e  para  sustento  de 
todos  os  da  Companhia  no  Brasil  por  quatro  anos  até 

que  entretanto  se  assente  renda  firme   163 


1560 

30.  Carta  do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Diego  Laynes,  Lisboa 
10  de  Janeiro. 

Texto  :  1.  Expedição  missionária  para  o  Brasil  em 
Setembro  de  1559.  —  2.  Cartas  de  Nóbrega  e  conso- 
lação recebida  pelas  boas  notícias  sobre  o  Governador 
e  a  cristandade.  —  3.  Boa  provisão  de  mantimentos  e 
outras  coisas  para  o  Brasil.  —  4.  Escreverá  ao  P.  Nó- 
brega, se  ao  P.  Geral  não  parecer  o  contrário,  que  fique 
na  Baía.  —  5.  Sobre  o  P.  Francisco  Pires  que  vestira 
o  hábito  doutra  religião  antes  de  ser  da  Companhia. 
—  6.  Expedição  para  Angola  e  graças  que  se  deveriam 
estender  a  todas  as  terras  de  infiéis.  —  7.  O  antigo 
Governador  D.  Duarte  da  Costa  quer  que  se  receba  um 
filho  para  estudar  com  os  da  Companhia  no  Colégio  de 
Évora   164 

3oa-b.    Cartas  perdidas   168 


20* 


ÍNDICE  GERAL 


31.  Carta  de  Mem  de  Sá  Governador  do  Brasil  a  D.  Sebastião 

Rei  de  Portugal,  Rio  de  Janeiro  ji  de  Março. 

Texto:  1.  Escreve  por  outra  via  o  que  lhe  sucedeu  nas 
guerras  do  Paraguaçu  e  do  Rio  de  Janeiro.  —  2.  A  Capi- 
tania da  Baía,  em  paz  e  crescimento.  —  3.  Os  Padres 
da  Companhia  de  Jesus  escreverão  a  Sua  Alteza  sobre 
o  aumento  da  fé.  —  4.  Baptismo  na  Aldeia  do  Espírito 
Santo.  —  5.  Escolas  de  360  moços.  —  6.  Teria  feito 
outras  igrejas  se  tivesse  com  quê,  e  poderiam  servir 
as  multas  dos  perdões  que  El-Rei  deve  facilitar  no 
Brasil.  —  7.  É  preciso  haver  no  Brasil  Capitães  honra- 
dos e  de  boa  consciência.  —  8.  Aceitou  para  El-Rei  a 
Capitania  do  Espírito  Santo  por  ser  boa  e  pelo  muito 
que  os  Padres  da  Companhia  têm  feito  com  o  gentio. 

—  9.  Nas  Aldeias  fez  meirinhos  índios  porque  eles 
gostam  e  contentam-se  com  pouco.  —  10.  Também  fez 
tronco  e  pelourinho  para  os  índios  verem  que  têm  o 
mesmo  que  os  cristãos  e  para  casos  leves  sob  a  autori- 
dade de  quem  os  ensina  [os  Padres  da  Companhia]. 

—  11.  O  Governador  devia  ter  maiores  poderes  de  jus- 
tiça.— 12.  As  determinações  da  Mesa  da  Consciência. 

—  13.  El-Rei  deve  pagar  o  seu  escrivão  como  se  fez 
com  o  de  Tomé  de  Sousa. —  14  Pede  a  El-Rei  que  lhe 
dê  substituto,  porque  gasta  mais  do  que  ganha  e  é  pobre 

e  tem  família   161 


32.  Petição  do  Provincial  Luis  da  Grã  e  depoimentos  de  diversos 
Padres  da  Companhia  de  Jesus  em  defesa  da  fé  católica  no 
processo  do  francês  fugitivo  João  de  Boles,  Santos  22  de 
Abril. 

Texto:  1.  Petição  do  Provincial  Luís  da  Grã  para  se 
abrir  devassa  sobre  o  que  dizia  contra  a  fé  católica 
Monsior  de  Bolés,  francês  fugido  do  Rio  de  Janeiro.  — 
2-4.  Depoimentos  do  P.  Manuel  da  Nóbrega,  Ir.  José 
de  Anchieta  e  P.  Fernão  Luís  Carapeto.  —  5.  Segunda 
declaração  do  P.  Luís  da  Grã.  —  6-7.  Depoimentos  de 
Adão  Gonçalves  e  Gaspar  Pinheiro.  —  8.  Declaração 
final  do  P.  Luís  da  Grã   17 

33.  Sesmaria  de  Geraibatiba  no  Campo  de  Piratininga,  San- 
tos 26  de  Maio. 

Texto:  1.  Mudando-se  a  vila  de  S.  André  para  S.  Paulo, 
o  Provincial  pede  novas  terras  em  vez  das  que  tinham 
sido  dadas  e  indica  as  novas  confrontações  em  Geraiba- 


ÍNDICE  GERAL 


21* 


Pág. 

tiba.  —  2.    O  Capitão-mor  concede  a  sesmaria  com  as 
confrontações  indicadas   197 

34.  Carta  do  Ir.  José  de  Anchieta  ao  P.  Diego  Laynes,  S.  Vi- 
cente 31  de  Maio. 

Texto:  1.  Vai  escrever  sobre  as  coisas  próprias  da  terra 
segundo  as  instruções  recebidas.  —  2.  Posição  da  terra, 
estações,  ventos  e  tempestades,  sol,  chuvas  e  duração 
dos  dias.  —  3.  O  peixe-boi.  —  4.  O  naufrágio  dos  Abro- 
lhos e  Rio  das  Caravelas.  —  5  O  piralqué  (pesca). — 
6.  A  cobra  de  água,  sucuriuba.  —  7.  O  jacaré.  —  8.  A 
capivara.  —  9.  Lontras.  —  10.  Caranguejos  e  cura  do 
cancro.  — 11.  Cobras  da  terra,  jararaca,  cascavel  e  outras. 

—  12.  Aranhas  e  lagartas.  —  13.  Onças.  —  14.  Taman- 
duá.—15.  Anta  —16.  A  preguiça,  o  sarigué  e  o  ouriço 
cacheiro.  — 17.  Macacos. — 18.  Tatu,  veados,  gatos  mon- 
teses, e  outros  animais.  — 19.   Bicho  de  taquara  e  outros. 

—  20.  Formigas  —21.  Abelhas,  moscas  e  mosquitos. — 
22.  Papagaio,  guará  e  outras  aves.  —  23.  Ervas  e  plan- 
tas, mandioca  e  outras.  —  24.  Árvores  copalba,  mangue, 
sapucaia,  pinheiro  e  outras.  —  25.    Plantas  medicinais. 

—  26.  Pedras  e  conchas.  —  27.  Espectros  e  demónios. — 
28.  Entre  os  brasis  não  há  pessoas  com  deformidade 
natural,  porque  os  pais  enterram  vivas  as  crianças  que 
nascem  com  deformidades  assim  como  as  adulterinas   .  202 

35.  Carta  do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  Cardeal  Infante  D.  Hen- 
rique de  Portugal,  S.  Vicente  1  de  Junho. 

TEXTO:  1.  Responde  ao  Infante  e  vai  falar  do  que  Mem 
de  Sá  tem  feito  a  bem  da  conversão  do  Gentio.  —  2.  O 
Governador  venceu  a  contradição  dos  cristãos  e  impôs 
a  ordem  e  a  lei  cristã  a  todos.  —  3.  Mas  custou-lhe  des- 
contentar a  muitos  e  ganhar  inimigos  —  4.  Guerra  dos 
Ilhéus  e  vitória  do  Governador  —  5.  Guerra  do  Para- 
guaçu  e  sujeição  do  gentio.  —  6  Já  se  poderia  doutri- 
nar se  houvesse  operários.  —  7.  O  Governador  prepa- 
rava-se  para  vingar  a  morte  do  Bispo  quando  chegou  a 
armada.  —  8.  E  com  ela  se  determinou  ir  livrar  o  Rio 
de  Janeiro  dos  franceses  luteranos  e  de  passo  animar  a 
Capitania  do  Espírito  Santo.  —  9.  Resolveu-se  atacar  de 
noite,  mas  o  guia  não  acertou  e  a  armada  ancorou  longe 
do  porto.  —  10.  Tomou-se  uma  nau  francesa  e  o  conse- 
lho achava  impossível  tomar-se  a  fortaleza.  —  11.  Os 
Capitães  da  armada  estavam  pouco  unidos  com  o  Gover- 
nador por  ter  inimigos  no  Reino.  —  12.   Mas  o  Governa- 


22* 


ÍNDICE  GERAL 


dor  era  prudente  e  foi  ganhando  as  vontades  de  todos  e 
Nóbrega  sabe  disto  porque  lhe  passavam  as  coisas  pela 
mão.  —  13.  Combate-se  a  fortaleza  dois  dias  e  os  fran- 
ceses e  índios  a  desamparam  e  se  acolhem  a  terra. — 
14.  Estes  franceses  seguiam  as  heresias  da  Alemanha 
e  mandavam  os  meninos  do  gentio  a  Calvino  em  Gene- 
bra e  levou  alguns  Villegaignon.  — 15.  E  dizia-se  que 
se  o  rei  de  França  o  não  favorecesse  se  aliaria  ao  Turco 
para  atacar  as  naus  da  índia  e  a  própria  índia.  —  16.  Esta 
gente  francesa  ficou  entre  os  índios,  espera  socorro  e 
diz-se  que  estava  aí  para  descobrir  metais.  —  17.  Parece 
necessário  povoar-se  o  Rio  e  fazer  aí  uma  Cidade  como 
a  da  Baía  e  ficará  tudo  guardado. —  18.  Mas  é  preciso 
mandar  mais  moradores  que  soldados.  —  19.  Depois  de 
tomada  a  fortaleza  o  Governador  atacou  uma  Aldeia  e 
a  armada  seguiu  para  São  Vicente  onde  Nóbrega  fica.  . 

36.  Carta  do  Ir.  José  de  Anchieta  ao  P.  Diego  Laynes,  S.  Vicente 
1  de  Junho. 

Texto:  1.  Correspondência  epistolar.  —  2.  Brasis  adul- 
tos, pouco  aparelhados  para  a  conversão,  recusam  o 
baptismo.  —  3.  Outros,  doentes  e  tratados  pelos  Padres, 
baptizam-se  e  curam-se  ou  morrem  bem.  —  4.  Traba- 
lhos pelos  caminhos  a  visitar  as  aldeias  e  os  enfermos. 
—  5.  Baptismos  de  crianças  que  nascem  meio-mortas 
ou  por  aborto.  —  6.  Ministérios  e  administração  dos 
sacramentos.  —  7.  E  mais  se  faria  se  os  índios  já  esti- 
vessem sujeitos  e  em  aldeias  grandes  como  na  Baía  por 
mandado  do  Governador.  —  8.  Festas  do  Natal  e  da 
Semana  Santa.  —  9.  Rosários  feitos  pelo  Ir.  Diogo  Jácome 
e  outros  Irmãos. — 10.  Ofícios  manuais  em  que  se  ocupam 
os  Irmãos.  —  11.  Casas  de  taipa  em  Piratininga  para  os 
índios  com  o  incansável  trabalho  do  P.  Afonso  Brás.  — 
12.  Os  índios  são  dominados  pela  luxúria,  mas  já  há 
escravas  que  resistem  a  mancebos  desonestos. —  13.  O 
ensino  da  doutrina  cristã  e  frequência  dos  sacramentos 
em  S.  Vicente  e  em  Piratininga.  —  14.  Temporal  de 
vento  e  granizo.  —  15.  Morte  em  terreiro  dum  menino 
índio  cativo  no  Campo  de  Piratininga,  sem  nenhuma 
autoridade  capaz  de  a  impedir.  —  16.  Outra  morte  em 
terreiro  dum  rapaz  de  15  anos,  ambos  morreram  bapti- 
zados e  não  foram  comidos. —  17.  Os  rapazes  que  se  edu- 
caram a  princípio  em  Piratininga  vieram  a  ser  piores 
que  os  pais,  mas  os  Padres  trabalham  agora  por  os  redu- 
zir.— 18.    Guerras  dos  índios  do  sertão  no  caminho  do 


ÍNDICE  GERAI. 


25* 


Paraguai  e  junto  a  S.  Vicente.  —  19.  Os  Franceses  no 
Rio  de  Janeiro  e  hereges  calvinistas.  —  20.  Um  francês 
fugido  do  Rio  de  Janeiro  [Bolés],  que  atacara  o  P.  Luís 
da  Grã  e  a  religião  católica,  preso  e  enviado  para  a  Baía. 

—  21.  Iuformado  pelo  francês  o  Governador  vem  com 
uma  armada  e  toma  a  fortaleza  dos  Franceses  no  Rio  de 
Janeiro.  —  22.  Nela  não  se  achou  nenhuma  cruz  nem 
nenhum  sinal  de  doutrina  católica  mas  muitos  livros 
heréticos.  —  23.  Com  o  Governador  veio  o  P.  Manuel 
da  Nóbrega,  muito  doente,  mas  logo  começou  a  melho- 
rar. —  24.  A  maior  parte  dos  Irmãos  está  em  Piratininga 
e  ensina-se  gramática  a  alguns  filhos  dos  Portugueses. 

—  25.   O  P.  Luís  da  Grã  tomou  posse  do  cargo  de  Pro- 
vincial dizendo  a  culpa  e  beijando  os  pés  aos  Irmãos.  .  246 


37.  Posse  da  Sesmaria  de  Geraibatiba  no  Campo  de  Piratininga, 
[Campo  de  Piratininga]  12  de  Agosto. 

Texto:  1.  O  Ir.  Gregório  Serrão,  ministro  do  Colégio  de 
S.  Paulo,  por  ordem  de  Nóbrega,  apresenta  uma  carta  de 
dada  de  terras  (Geraibatiba)  —  2.  Toma  posse  da  terra 
e  mato  no  caminho  da  borda  do  campo.  —  3.  O  juiz 
ordena  a  dois  moradores  da  vila  de  São  Paulo  que  a 
demarquem   270 


38.  Carta  do  P.  Manuel  Alvares  aos  Padres  e  Irmãos  [de  Coim- 
bra], Baia  4  de  Setembro. 

Texto:  1.  Vai  escrever  a  longa  narração  da  viagem  da 
nau  em  que  viajou  («S.  Paulo»)  entre  outros  motivos 
porque  o  mandou  o  Provincial.  —  2.  Com  os  navios  para 
a  índia  ia  também  um  para  o  Brasil  com  os  Irmãos  Antó- 
nio Gonçalves  e  Luís  Rodrigues.  —  3.  Já  com  mais  de 
três  meses  de  mar  encontram  uma  nau  que  ia  para 
S.  Vicente  e  vieram  à  fala.  —  4.  Da  nau  da  índia  provê 
no  mar  de  água,  pão  e  coisas  para  doentes  a  nau  que  ia 
para  S.  Vicente.  —  5.  A  nau  da  índia  resolve  arribar  à 
Baía.  —  6.  Alegria  ao  ver  terra  do  Brasil  e  caridade  com 
que  os  receberam  os  da  Companhia,  verdadeiros  apósto- 
los.—  7.  Vindo  do  Sul  com  o  Governador  Mem  de  Sá  che- 
gou à  Baía  o  P.  Provincial  Luís  da  Grã  que  logo  fez  junta 
com  todos  os  Padres  e  Irmãos  das  Aldeias.  —  8.  Se  fosse 
a  escrever  as  coisas  do  Brasil  faria  outra  carta  tão  longa 
como  esta  e  não  acabaria.  —  9.  Encomenda-se  aos  Padres 
e  Irmãos  de  Portugal   272 


24* 


ÍNDICE  GERAL 


Pág- 

39.  Carta  do  P.  João  de  Melo  ao  P.  Gonçalo  Vas  de  Melo, 
Baía  ij  de  Setembro. 

Texto:  1.  Escreveu  ao  P.  Miguel  de  Torres  o  sucesso  da 
viagem.  —  2.  Nóbrega  foi  para  S.  Vicente  com  o  Gover- 
nador e  o  deixou  a  ele  na  Aldeia  do  Espirito  Santo  com 
300  moços  de  escola  quase  todos  cristãos.  —  3.  Ministé- 
rios nessa  Aldeia.  —  4.  Baptismos  no  artigo  da  morte.  — 
5.  Procissões  nas  sextas-feiras  da  quaresma.  —  6.  Adoece 
e  volta  para  o  Colégio.  —  7.  Chegara  o  P.  Luís  da  Grã  e 
ordenou  que  se  lesse  em  Casa  a  arte  da  língua  brasílica 
do  Ir.  José.  —  8.  Melhorou  da  doença  e  espera  tornar  a 
poder  trabalhar  na  vinha  do  Senhor   279 

39a.   Carta  perdida   284 

40.  Carta  do  P.  Rui  Pereira  aos  Padres  e  Irmãos  de  Portugal, 
[Baia]  ij  de  Setembro. 

Texto:  1.  Correspondência  útil  para  se  corrigir  a  opinião 
de  que  vir  ao  Brasil  era  perder  tempo.  —  2-  O  P.  Nó- 
brega foi  com  o  Governador  Mem  de  Sá  na  armada  que 
botou  os  franceses  fora  do  Rio  de  Janeiro  e  espera-se 
que  o  P.  Grã  e  outros  venham  para  a  Baía  com  o  Gover- 
nador. —  3.  Ficou  Vice-Provincial  o  P.  António  Pires  e 
Reitor  o  P.  Francisco  Pires.  —  4.  Pregações  da  Qua- 
resma na  Baía.  —  5.  A  Casa  vai  bem  espiritual  e  cor- 
poralmente e  ele  próprio  melhorou  porque  a  terra  é  sã. 
—  6.  Estudantes,  um  dos  quais  entrou  na  Companhia.  — 
7.  Aldeia  de  S.  Paulo,  da  invocação  de  Nossa  Senhora, 
e  o  seu  estado  actual.  — 8.  Epidemia  e  grande  mortan- 
dade. —  9.  Zelo  do  Governador  Mem  de  Sá  pela  conver- 
são do  gentio  e  prestígio  que  dá  à  Companhia  e  aos 
índios  cristãos.  —  10.  Ordem  da  doutrina  e  escola  e 
outros  ministérios  na  Aldeia  de  S.  Paulo.  —  11.  Sauda- 
ção cristã  e  jogos  à  portuguesa.  — 12.  Paralelo  entre 
coisas  de  Portugal  e  do  Brasil  que  é  um  paraíso  terreal. 
— 13.  Aldeia  do  Espírito  Santo,  a  maior  de  todas  e  o 
seu  estado  actual. —  14.  Aldeia  de  S.  João,  donde  fugi- 
ram os  índios.  — 15.  Aldeia  de  Santiago,  seu  estado 
actual,  moços  da  escola  e  ministérios.  —  16.  Acata- 
mento dos  índios  para  com  os  Padres  da  Companhia.  — 
17.  Outras  povoações  esperam  que  haja  Padres  para  se 
fundarem  igrejas. — 18.  Arribou  à  Baía  a  nau  «S.  Paulo» 
com  dois  da  Companhia  a  caminho  da  índia.  —  19.  Outra 
nau  que  se  espera  também  com  dois  da  Companhia 
para  o  Brasil.  —  20.  Chegou  à  Baía  o  Governador  com 
o  P.  Grã  e  vários  Irmãos. —  21.  O  Provincial  convoca 


ÍNDICE  GERAL  25* 

Pág. 

uma  reunião  na  Baía  de  todos  os  Padres  e  índios 
Principais  das  Aldeias.  —  22.  Ministérios  na  Cidade. — 

23.  Lição  da  língua  brasílica  a  que  chamam  «grego». — 

24.  Pensa-se  em  prover  de  Padres  as  Capitanias  de 
Ilhéus,  Porto  Seguro  e  Pernambuco   285 


41.  Carta  do  P.  Antônio  Pires  aos  Padres  e  Irmãos  de  Portugal, 
[Aldeia  de  Santiago]  Baia  22  de  Outubro. 

Texto  :  1.  O  gentio  está  preparado  para  ser  doutrinado, 
mas  faltam  operários.  —  2.  Não  se  desculpem  lá  com 
estudos,  porque  a  doutrina  para  se  ensinar  fê-la  o 
P.  Luís  da  Grã  da  melhor  maneira  que  pôde.  —  3.  Aos 
que  se  confessam  muito  antes  da  missa,  talvez  falte  o 
escrúpulo  dos  que  aqui  se  perdem  à  sua  míngua. 
—  4.  Luís  da  Grã  chegou  e  deu  ordem  para  os  Irmãos 
aprenderem  a  língua  brasílica  e  ele  mesmo  ensina  a 
doutrina  na  língua  às  escravas  e  não  consente  que  nin- 
guém ensine  senão  ele.  —  5.  O  P.  Grã  começou  a  visita 
das  Aldeias,  primeiro  S.  Paulo  e  a  seguir  o  Espírito 
Santo.  —  6.  Depois  outra,  nova,  onde  os  índios  lhe  fize- 
ram um  recebimento  como  costumavam  outrora  aos 
seus  feiticeiros.  —  7.  Outra  vez  :  boa  disposição  dos 
índios  para  receberem  a  doutrina  cristã,  mas  faltam 
Padres.  —  8.  Visita  à  Aldeia  de  Santiago  onde  se  fez 
um  grande  baptismo  e  se  casaram  43  na  lei  da  graça  e 
11  na  da  natureza.  —  9.  De  tudo  António  Pires  foi  tes- 
temunha de  vista,  porque  acompanhou  o  Padre  Grã  e 
escreve  esta  na  Aldeia  de  Santiago   307 

4ia-b.    Cartas  perdidas   316 

1561 

42.  Carta  do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Diego  Laynes,  Lisboa 
24  de  Janeiro. 

Texto:    1.  Desculpa-se  por  não  ter  enviado  mais  Padres 


para  o  Brasil  e  as  outras  missões   316 

42a.    Carta  perdida   317 

43.  Faculdades  concedidas  pelo   Papa  Pio  IV  ao  Bispo  do 
Brasil,  Roma  28  de  Janeiro. 

Texto:  1.  Absolvição,  no  foro  da  consciência,  de  excomu- 
nhões, suspensões  e  outras  penas  eclesiásticas.  —  2.  Irre- 
gularidades para  receber  e  usar  das  Ordens  sacras 
recebidas.  —  3.   Dispensas  matrimoniais   317 


3 


26* 


ÍNDICE  GERAL 


Pá*. 

44.  Carta  do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Diego  Laynes,  [Lisboa 
fins  de  Março] 

Texto  :  1.  Sobre  o  cavaleiro  de  Rodes  [Villegaignon] 
que  queria  levar  de  França  gente  da  Companhia  para  o 
Brasil.  —  2.  Mas  por  estar  tirânicamente  no  Rio  de 
Janeiro  e  com  gente  luterana,  El-Rei  de  Portugal  pro- 
veu que  o  botassem  fora.  —  3.  As  coisas  do  Brasil  vão 
prósperas.  —  4.  O  Governador  Mem  de  Sá  é  muito 
amigo  e  o  Bispo  D.  Pedro  Leitão,  a  princípio  enganado, 
agora  já  está  conforme  em  tudo.  —  5.  D.  João  III 
escolheu  a  Companhia  para  o  Brasil,  não  há  outros 
religiosos,  os  Portugueses  em  toda  a  parte  pedem  os  da 
Companhia  e  querem  Colégios.  —  6.  Sua  Alteza  escreve 
ao  Governador  a  pedir  informações  para  Colégios  e 
parece  que  podiam  lavrar  terras  com  ajuda  de  escravos  320 

45.  Carta  do  P.  Rui  Pereira  aos  Padres  e  Irmãos  de  Portugal, 
Pernambuco  6  de  Abril. 

Texto:  1.  Correspondência  epistolar.  —  2.  Está  em  Per- 
nambuco por  a  Governadora  D.  Brites  ter  pedido  com 
instância  para  voltarem  os  Padres  da  Companhia  que  já 
tinham  princípio  de  casa  e  igreja.  —  3.  Distância  da 
Baía  a  Pernambuco  e  viagem  em  naveta  rasteira  contra 
a  monção  e  grande  perigo  no  mar.  —  4.  Arribada  a 
Ilhéus,  onde  foi  bem  recebido  pelo  Capitão,  e  onde  con- 
sertaram o  navio  e  tomaram  mantimentos.  —  5.  Torna- 
ram ao  mar,  parou  o  vento,  e  são  forçados  a  arribar  a 
Camamu  e  daí  outra  vez  aos  Ilhéus. —  6.  Tornando  ao 
mar,  passam  trabalhos  e  fome  e  vão  ancorar  no  Porto 
dos  Franceses  [Alagoas],  onde  acharam  duas  naus  fran- 
cesas.—  7.  Afastam-se  e  não  podendo  navegar  encon- 
tram uma  nau  francesa  e  ancoram  de  novo  na  Ponta  de 
Jaraguá  [Maceió],  onde  passam  o  Natal.  —  8.  Tomando 
aí  um  barco  de  Pernambuco,  com  outros  trabalhos, 
parte  por  terra  parte  por  mar,  chegam  a  Pernambuco. 

—  9.  A  Governadora  muito  amiga  da  Companhia  cho- 
rou de  contentamento.  —  10.  Ministérios  com  Bran- 
cos, muito  tratáveis  e  com  a  escravaria  e  com  índios. 

—  11.   Colaboração  da  Vila  no  aumento  da  casa  e  igreja. 

—  12.  O  P.  Dicio  volta  para  a  Europa.  —  13.  Posição 
geográfica  e  abundância  de  Pernambuco,  onde  até  o  gen- 
tio é  mais  rico  que  noutras  Capitanias.  —  14.  Semana 
Santa  e  celebração  festiva  da  Ressurreição. —  15.  Nova 
Lusitânia   323 

45a.   Carta  perdida   336 


ÍNDICE  GERAL 


46.  Carta  do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Miguel  de  Torres, 
S.  Vicente  14  de  Abril. 

Texto:  1.  Correspondência  sua  e  do  Irmão  José. — 
2.  Recebeu  na  Companhia  Simão  Jorge,  unido  por 
matrimónio  não  consumado,  expõe  o  caso  e  pede  dis- 
pensa.—  3.  Também  recebeu  dois  mestiços  que  pode- 
rão ir  estudar  a  Évora  

46a-b.    Cartas  perdidas  

47.  Carta  do  P.  Luis  Gonçalves  da  Câmara  ao  P.  Jerónimo 
Nadal,  Lisboa  4  de  Maio. 

Texto:  1.  Cartas  do  Brasil,  que  causam  consolação  e 
confusão  e  mostram  a  necessidade  de  criar  gente  para 
o  Brasil.  —2.  Todas  as  Províncias  Ultramarinas,  ainda 
que  as  mais  ajudem,  dependem  de  Portugal  

48.  Carta  da  Câmara  de  São  Paulo  de  Piratininga  a  D.  Cata- 
rina Rainha  de  Portugal,  São  Paulo  de  Piratininga  20 
de  Maio. 

Texto:  1.  Escrevem  por  conhecerem  o  zelo  da  Rainha 
pela  conversão  do  gentio.  —  2.  Os  índios  contrários 
fazem  guerras  e  levam  mulheres  e  filhos  dos  cris- 
tãos.—  3.  Os  cristãos  por  sua  vez,  com  titulo  de  paz, 
assaltam  os  Índios.  —  4.  Há  perigo  de  os  contrários 
levantarem  os  índios  amigos ;  mataram  portugueses  que 
vinham  do  Paraguai  e  assaltaram  uma  vila.  —  5.  O  Gover- 
nador Mem  de  Sá  em  1560  mandou  apregoar-lhes  guerra. 
—  6.  E  para  ficarmos  mais  fortes,  e  por  outras  causas, 
mandou  que  a  vila  de  S.  André  se  passasse  para  junto 
daCasa  de  São  Paulo  que  é  dos  Padres  de  Jesus.  —  7.  Mas 
para  a  guerra  apregoada,  Santos  e  S.  Vicente  deram  pouca 
gente. —  8.  E  foi  sobretudo  de  São  Paulo  que  foram  à 
guerra  aos  contrários  que  dispunham  de  arcabuzes,  pól- 
vora e  espadas  dadas  pelos  Franceses.  —  9.  Mas  Deus 
deu-nos  vitória,  ainda  que  com  morte  de  alguns  e  feri- 
mento de  muitos.  —  10.  E  por  ser  esta  vila  a  causa  de 
a  terra  se  ganhar  é  razão  que  Vossa  Alteza  lhe  faça 
mercês:  —  11.  Dando-lhe  armas  e  munições  que  serão 
entregues  à  Câmara.  —  12.  Aplicando  os  dízimos  por 
dez  anos  para  a  vila  se  fortificar  de  cercas  e  baluar- 
tes.—  13.  Mandando  para  aqui  os  degredados  que  não 
forem  ladrões  porque  há  muitas  mulheres  mestiças  e 
povoarão  a  terra.  —  14.  Confirmando  a  mudança  da 
vila  de  S.  André  para  São  Paulo  


28* 


ÍNDICE  GERAL 


49.  Carla  do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Francisco  Henriques, 
S.  Vicente  12  de  Junho. 

Texto:  1.  O  melhor  dote  para  o  Colégio  é  grande  criação 
de  vacas.  —  2.  Dão  carnes,  couro,  leite  e  queijos.  —  3.  O 
mesmo  poderá  ser  na  Baía,  mas  lá  haverá  mais  dificul- 
dade. —  4.  Na  Capitania  de  São  Vicente  os  rendeiros 
de  El-Rei  folgarão  em  pagá-lo  nos  dízimos  de  gado  .   .  347 

50.  Carta  do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Francisco  Henriques, 
S.  Vicente  12  de  Junho. 

Texto:  1.  Manda  conservas  de  ananases,  marmeladas  de 
ibás,  camucis,  araçás  e  abóbora  para  os  doentes.  — 
2.  Açúcar  não  o  permitiu  o  P.  Luís  da  Grã,  mas  tam- 
bém pode  ir.  —  3.  Nóbrega  não  tem  escrúpulo  de  o 
mandar,  porque  em  Portugal  há  doentes,  e  no  Brasil  a 
moeda  que  corre  é  o  açúcar  e  nele  pagam  a  esmola  de 
El-Rei   350 

51.  Carta  do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Francisco  Henriques, 
S.  Vicente  12  de  Junho. 

Texto:  1.  Um  Irmão,  antes  de  ser  da  Companhia,  pediu 
uma  terra  que  o  seu  procurador  tomara  para  si.  —  2.  Se 
o  Donatário  a  puder  dar  em  direito,  que  a  dê.  —  3.  E  ser- 
virá para  criação  de  gado  que  é  a  melhor  sustentação 
para  renda  de  Colégios.  —  4.  E  o  mesmo  aviso  se  devia 
dar  ao  Colégio  da  Baía  para  se  não  diminuir  essa  cria- 
ção. —  5.  A  sesmaria  a  pedir  a  Martim  Afonso  de  Sousa 
seria  ao  longo  do  Rio  de  Iguapé   352 

52.  Carta  do  P.   Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Diego  Laynts, 
S.  Vicente  12  de  Junho. 

Texto:  1.  Como  procedia  quando  foi  Provincial  e  seguia 
o  seu  caminho,  conforme  os  avisos  que  recebia  de  Por- 
tugal e  de  Roma.  —  2.  Ao  P.  Grã  não  satisfazem  as  deter- 
minações vindas  de  lá  e  acha  que  seria  bom  vir  Visita- 
dor ou  Comissário.  —  3.  Pareceu-lhe  que  o  P.  Geral 
gostaria  também  de  ter  a  sua  informação  do  que  se  pas- 
sou desde  que  veio.  —  4.  No  ano  de  49  veio  mandado 
pelo  P.  Mestre  Simão,  e  com  indicação  de  fazer  colégio 
ou  recolhimento  de  filhos  de  gentios  e  arranjar  terras. 
—  5.  Em  50  vieram  Padres  e  órfãos  e  confirmou-se  na 
opinião  de  que  Deus  queria  Casas  de  Rapazes  índios  e 
começou  a  juntá-los.  —  6.  Em  51  vieram  mais  órfãos  e 
bulas  para  se  ordenar  confraria  e  logo  se  fez  na  Baía, 
Espírito  Santo  e  São  Vicente.  —  7.  Com  a  vinda  de  Grã 


ÍNDICE  GERAL 


soube  como  se  não  aprovava  ter  Casas  de  Rapazes  e  o 
Provincial  de  Portugal  [Diego  Mirón]  o  avisava  de  que 
não  recebesse  nada  para  meninos,  como  sua  intenção 
foi  de  não  ser  só  para  eles  desassociados  da  Compa- 
nhia. —  8.  A  opinião  de  Nóbrega  era  que  as  razões 
que  valiam  para  Portugal  não  tinham  lugar  no  Brasil, 
mas  começou  a  desandar  a  roda.  —  9.  Na  Capitania 
de  São  Vicente  havia  mais  meninos  índios,  e  para  eles 
fez  a  Casa  de  Piratininga,  mas  os  meninos  cresce- 
ram e  foram-se  e  tiraram-se  as  confrarias,  excepto  no 
Espírito  Santo,  que  ainda  durou  algum  tempo.  —  10.  Ao 
voltar  à  Baía  achou  mais  órfãos  de  Portugal  e  outros  da 
terra  e  carta  de  Roma  em  que  parece  já  tinham  outro 
parecer  acerca  dos  rapazes  e  começou  de  novo  a  juntá- 
-los  fazendo  para  eles  Casa  separada.  — 11.  No  ano  de  6o 
voltou  a  S.  Vicente  e  viu  que  o  P.  Grã  não  achava  bem 
o  que  se  gastava  com  rapazes. —  12.  Dá  as  razões  do 
Padre  Grã.  —  13.  E  responde:  com  os  meninos  educa- 
dos não  se  perdeu  o  tempo  para  a  civilização  e  religião.  — 
14.  E  a  dificuldade  dos  gastos  pode-se  vencer.  —  15.  Os 
meninos  melhores  podiam-se  mandar  à  Europa,  para 
voltarem  formados  e  firmes.  —  16.  Estando  os  meninos 
com  os  Padres  seria  a  segurança  da  terra.  —  17.  Em  vez 
dos  que  se  mandavam,  poderiam  vir  outros  da  Europa 
novos  para  aprenderem  a  língua,  senão  muito  devagar 
irá  a  conversão  da  gentilidade.  —  18.  O  Padre  Grã 
quer  edificar  a  gente  portuguesa  por  meio  de  pobreza, 
diminuindo  tudo.  —  19.  Nóbrega  é  de  opinião  contrária 
e  deve-se  adquirir  tudo  o  que  se  puder  e  as  Constitui- 
ções permitam  para  que  os  operários  cresçam  e  não 
minguam.  —  20.  E  também  se  deviam  promover  Casas 
de  Meninas  para  casarem  com  os  moços  doutrinados. 
—  21.  Toda  a  gente  do  Brasil  não  é  poderosa  para  fazer 
Colégio  e  sempre  assaz  de  pobreza  fica  aos  da  Compa- 
nhia, nem  há  esmolas  que  bastem,  nem  se  deve  pôr  em 
perigo  a  saúde  dos  que  servem  a  Deus.  —  22.  Chega- 
ram as  graças  e  faculdades,  mas  ficou  uma  dúvida  sobre 

o  casamento  dos  mestiços  

52  a-b.    Cartas  perdidas  

Carta  do  Ir.  José  de  Anchieta  ao  P.  Diego  Laynes,  S.  Vicente 
jo  de  Julho. 

Texto:  1.  Correspondência  epistolar.  —  2.  Em  Junho 
de  1560  Nóbrega  vai  de  S.  Vicente  para  Piratininga  e 
trabalhos  do  caminho.  —  3.    Nóbrega  mandou  os  Irmãos 


30* 


ÍNDICE  GERAL 


visitar  as  Aldeias  dos  índios,  antigos  discípulos,  que 
depois  de  se  dispersar  voltaram  aos  antigos  costumes 
excepto  comer  carne  humana.  —  4.  Sucede  isto  por  não 
estarem  sujeitos  e  oxalá  chegue  esse  tempo  como  já  che- 
gou aos  da  Baía.  —  5.  Mas  sempre  há  alguns  que  se  con- 
fessam e  baptizam  e  ao  menos  os  Irmãos  ganham  mere- 
cimentos com  os  trabalhos  destas  visitas —  6.  Morte 
cristã  do  Principal  de  mais  de  cem  anos,  o  primeiro  que 
começou  a  povoar  Piratininga.  —  7.  Outros  casos  se 
poderiam  contar  dos  escravos  e  mulheres  dos  Portugue- 
ses. —  8.  Ministérios  na  vila  de  S.  Vicente  e  outras  vilas 
e  Engenhos  de  açúcar.  —  9.  Eleição  do  cargo  de  Capi- 
tão-mor  e  Ouvidor  com  a  presença  de  Nóbrega,  pedida 
pelos  moradores  para  seevitarem  desordens. — 10.  Ainda 
que  os  índios  abandonaram  Piratininga,  ficaram  alguns 
sobretudo  da  geração  daquele  velho  de  que  acima  falou. 

—  11.  Para  Piratininga  se  mudou  uma  vila  de  Portugue- 
ses a  mandado  do  Governador  e  instância  dos  Padres 
para  ficarem  mais  perto  e  serem  melhor  socorridos  espi- 
ritualmente.—  12.  O  Ir.  Gregório  Serrão,  que  sabe  a 
língua,  tem  cargo  dos  índios  de  Piratininga. —  13.  Pira- 
tininga, fronteira  dos  índios,  que  algumas  vezes  se  dei- 
tam a  perder  pelo  pouco  temor  que  têm  dos  cristãos.  — 
14.  Também  é  fronteira  dos  contrários  que  estão  a  quatro 
ou  cinco  dias  de  caminho. —  15  Guerra  aos  contrários 
que  aproveitará  também  aos  outros  pois  a  experiência 
mostra  que  se  hão-de  converter  mais  por  temor  que  por 
amor.  — 16.  Vai  com  eles  um  Padre  e  um  Irmão. — 
17.  Caminho  e  vitória.  —  18.  Durante  a  guerra  fazia-se 
em  casa  oração  e  penitência.  —  19.  Com  esta  guerra  os 
cristãos  animaram-se  e  estão  dispostos  a  sujeitar  os 
índios  como  se  fez  na  Baía.  —  20.  Epidemia  de  câmaras 
de  sangue  e  outras  doenças.  —  21.  Falecimento  do  Ir. 
Mateus  Nogueira,  ferreiro.  —  22.  Nóbrega  está  melhor, 
visita  a  todos,  prega  e  confessa,  onde  quer  que  se  encon- 
tre.—  23.  Fez-se  uma  casa  de  oração  e  recolhimento 
para  os  Irmãos  em  Piratininga.  —  24.  Estudo  de  gramá- 
tica em  S.  Vicente  para  os  Irmãos  de  casa  e  alguns  de  fora.  367 

54.  Informação  dos  ofícios  do  P.  Francisco  Henriques,  Lisboa 
8  de  Agosto. 

Texto:  1.  Secretário  e  Procurador  do  Brasil  e  das  outras 
Províncias  Ultramarinas  S.  I.  —  2.  O  que  toca  ao  ofício 
de  Procurador.  —  3.  O  que  toca  ao  ofício  de  Secretário. 

—  4.   Os  seus  ajudantes   383 


ÍNDICE  GERAL  31* 

P&g. 

55.  Carta  do  P.  António  Rodrigues  ao  P.  Luís  da  Grã,  [Aldeia 
do  Bom  Jesus  (Baia)  Agosto}. 

Texto:  1.  Jornada  bem  sucedida  com  muitos  índios 
Principais.  —  2.  Trinta  léguas  no  sertão  por  vales,  ser- 
ras e  matos.  —  3.  Formoso  auditório  de  gentios  na 
igreja   386 

56.  Carta  do  P.  António  Rodrigues  aos  Padres  e  Irmãos  da 
Baía,  Aldeia  do  Bom  Jesus  (Baia)  Agosto. 

Texto  :  1.  Reuniram-se  na  Aldeia  os  Principais  de 
30  léguas  ao  redor  e  todos  tem  grande  acatamento  ao 
P.  António  Rodrigues.  —  2.  Vai  a  coisa  tão  bem  que 
se  há-de  chegar  ao  Rio  de  S.  Francisco.  —  3  A  nova 
Aldeia  será  daí  a  sete  ou  oito  léguas.  —  4.  Na  escola  do 
Bom  Jesus  há  400  meninos  que  aprendem  e  seguem  a 
doutrina.  —  5.  Pelo  sertão  12  léguas  vieram  pedir-lhe 
para  se  juntarem  doze  Aldeias  numa.  —  6.  Aquela,  a 
oito  léguas  de  distância,  se  fará  com  pouco  trabalho. 
—  7.  Está  há  dois  meses  na  Aldeia  do  Bom  Jesus  e 
prepara  grande  baptismo  para  quando  lá  for  o  Pro- 
vincial Luís  da  Grã.  —  8.  Não  há  dúvida  que  a  miseri- 
córdia do  Senhor  está  sobre  o  céu  e  que  nestes  nossos 


dias  se  enche  de  almas  brasílicas   387 

56  a.    Carta  perdida   390 

57.  Respostas  do  Ir.  Cipriano  [do  Brasil]  ao  exame  do  P.  Nadal, 
[Lisboa  Agosto- Setembro], 

Texto  :    1.  Nascimento  no  Brasil,  família,  entrada  e  vida 

na  Companhia   391 


58.  Carta  do  P.  António  Blázques  ao  P.  Diego  Laynes,  Baía 
[7  de  Setembro]. 

Texto:  1.  Em  vez  das  notícias  desconsoladoras  de  antes 
agora  são  boas.  —  2.  Os  Padres  Gaspar  Lourenço  e  Si- 
meão  Gonçalves  vão  fundar  a  Aldeia  nova  de  S.  João. 
—  3.  Faz-se  igreja  de  palha,  provisória.  —  4.  Andam 
na  escola  100  meninos  que  aprendem  a  doutrina  pela 
«Suma  da  Fé»  do  P.  Grã.  —  5.  Casos  particulares  edifi- 
cantes desta  Aldeia.  —  6.  Recepção  do  Provincial  e 
baptismos  e  casamentos  que  faz.  —  7.  Outro  recebi- 
mento do  Provincial  na  Aldeia  de  S.  António  e  baptis- 
mos e  casamentos.  —  8.  Fundação  da  Aldeia  de  S.  Cruz 
de  Itaparica,  baptismos  e  casamentos  nela  e  na  Aldeia 
de  S.  Paulo.  —  9.  O  «Senhor  da  fala»,  o  seu  filho  e 
outros  índios  da  Ilha  de  Itaparica. —  10.    Ministérios  na 


32* 


ÍNDICE  GERAL 


cidade  durante  a  quaresma,  pregações  e  confissões. — 
11.  Monumento  da  Semana  Santa  e  pinturas  feitas  pelo 
P.  Manuel  Álvares,  de  passagem  para  a  índia.  — 12.  Ceri- 
mónias da  Semana  Santa  e  Festa  da  Páscoa.  — 13.  O  Pro- 
vincial visita  as  Aldeias  dos  arredores  da  Bafa  e  minis- 
térios nelas.  —  14.  Muda  de  sítio  a  Aldeia  do  Espírito 
Santo  e  conclui-se  a  visita  das  Aldeias  que  durou  dois 
meses.  —  15.  O  Bispo  e  o  Governador  ajudam,  mas  fal- 
tam ornamentos  e  Padres  para  fundar  novas  Aldeias. — 
16.  O  Provincial  e  o  P.  António  Rodrigues  vão  fundar 
a  Aldeia  do  Bom  Jesus.  —  17.  Festa  de  missa  nova  na 
Aldeia  de  Santiago.  — 18.  Recepção  festiva  do  Bispo 
na  Aldeia  de  S.  Paulo,  onde  fez  baptismos  e  casa- 
mentos.— 19.  O  Bispo  baptiza  em  Ilhéus  um  índio  prin- 
cipal, que  fora  da  Aldeia  de  S.  Paulo,  a  que  pôs  o  nome 
de  Henrique  Luís.  —  20.   O  P.  Grã  na  Ilha  de  Tinharé. 

—  21.    Francisco,  catequista  índio.  —  22.    O  Provincial 
escolhe  sítio  para  uma  Aldeia  na  Capitania  de  Ilhéus    .  394 

59.  Carta  do  P.  Luís  da  Grã  ao  P.  Miguel  de  Torres,  Bata 
22  de  Setembro. 

Texto:  1.  Correspondência  epistolar. —  2.  Terra  em  paz, 
enxerga-se  o  fruto  da  conversão  e  não  só  os  da  Com- 
panhia, mas  todos  os  Portugueses  pedem  que  venham 
mais  Padres.  —  3.  E  cada  Padre  que  vier  terá  à  sua 
conta  mil  almas.  —  4.  E  em  breve  se  chegará  por  toda 
a  costa  a  Pernambuco.  —  5.  E  o  mesmo  para  a  banda 
de  Ilhéus,  Capitania  que  devia  ser  também  de  El-Rei. 

—  6.  Faltam  objectos  necessários  para  fundar  igrejas, 
cálices,  pedras  de  ara,  retábulos,  missais,  vestimentas, 
frontal,  toalhas,  etc.  —  7.  De  Nóbrega  não  há  notícias, 
por  não  haver  navio,  os  do  Espírito  Santo  e  os  de  Per- 
nambuco. —  8.  Na  Baía  não  há  moços  de  fora  senão 
para  ler  e  escrever.  —  9.  De  Portugal  deviam  vir  moços 
aptos  para  a  Companhia  e  entretanto  aprenderiam  a 
língua.  —  10.  Até  agora  não  se  tem  falado  a  índios  em 
dízimos.  —  11.  Houve  requerimento  dos  moradores 
para  se  darem  de  soldada  moços  e  moças  índias,  mas  o 
Governador  o  impediu.  —  12.  A  igreja  da  Baía  caiu  por 
ser  de  taipa  e  o  Governador  toma  por  sua  devoção 
fazê-la  grande  de  pedra  e  cal.  —  13.  Governador,  Bispo 
e  Ouvidor,  todos  favorecem  a  obra  da  conversão.  — 

14.   Doenças  do  P.  Blázquez  e  de  outros   428 

59a-b.    Cartas  perdidas   43a 


ÍNDICE  GERAL  55* 


60.  Carta  do  Ir.  João  Fernandes  por  comissão  do  P.  Miguel  de 
Torres  ao  P.  Diego  Laynes,  Lisboa  22  de  Setembro. 
Texto  :  1.  Boa  disposição  para  a  conversão  por  se  sujei- 
tarem os  índios  do  Brasil  e  os  fazerem  viver  juntos. 
—  2.  Por  isso  o  Rei  de  Portugal  quer  fundar  no  Brasil, 
por  ser  obrigação  da  Coroa,  quatro  Colégios :  na  Baía, 
em  Pernambuco,  nos  Ilhéus,  e  outro  parece  que  na 
Capitania  de  S.  Vicente   433 

61.  Carta  do  P.  Leonardo  do  Vale  por  comissão  do  P.  Luis  da 
Grã  ao  P.  Diego  Laynes,  Baía  2j  de  Setembro. 

Texto:  1.  Vai  continuar  os  sucessos  da  viagem  do  Pro- 
vincial, que  o  P.  António  Blázquez  por  doença  não  pôde 
concluir.  —  2.  Viagem  trabalhosa,  por  matos,  serras, 
lagoas  e  rios,  até  vinte  léguas  dentro  da  Capitania  de 
Ilhéus.  —  3.  Os  índios  pelas  injustiças  dos  moradores 
tinham  desamparado  a  terra.  —  4.  Com  a  vinda  do  Pro- 
vincial começam  a  juntar-se  e  resolveu-se  fazer  uma 
grande  Aldeia  da  invocação  de  N.a  S.a  da  Assunção  em 
sítio  que  ele  para  isso  escolheu.  —  5.  Estratagema  e 
diálogo  do  P.  Grã  para  captar  um  índio  principal  des- 
contente. —  6.  Como  ganhou  outro  principal.  —  7.  Ga- 
nhou ainda  outro  principal  e  prometeu  fazer  igreja  na 
terra  dele,  onde  poderia  haver  três  mil  pessoas.  — 
8.  Desandando  o  caminho  voltou  à  Ilha  de  Itaparica,  à 
Aldeia  da  Santa  Cruz  que  ele  mesmo  tinha  fundado  e 
onde  ficou  a  preparar  a  festa  do  orago. — 9.  Grande 
festa  da  Exaltação  de  Santa  Cruz  em  que  tomou  parte  o 
Bispo  D.  Pedro  Leitão.  —  10.  Nesta  festa  fez  o  Bispo 
um  grande  baptismo  de  530  pessoas,  que  durou  quatro 
ou  cinco  horas,  sendo  padrinho  de  todas  o  Ouvidor 
Geral.  —  11.  No  dia  seguinte,  depois  da  missa  solene  de 
Pontifical  com  música  e  ricos  ornamentos,  casou  o  Bispo 
79  casais  de  índios  recém-baptizados.  —  12.  Fez-se 
depois  uma  procissão  solene,  com  cantores  e  folia,  por 
uma  comprida  e  formosa  rua  onde,  para  não  ser  só  à  por- 
tuguesa, também  foram  os  índios  ataviados  com  as  suas 
penas  e  tangendo  os  seus  maracás.  —  13.  Um  principal 
do  Rio  Jaguari  mandou  dizer  que  estavam  também  espe- 
rando o  Padre  Provincial.  —  14.  Acabada  a  festa  volta- 
ram de  Itaparica  para  a  Baía,  onde  esperavam  o  Provin- 
cial recados  de  diversas  partes  por  os  índios  o  quererem 
ter  presente  nos  seus  baptismos.  —  15.  Sermão  de 
S.  Mateus.  —  16.  Grã  saiu  de  novo  para  as  Aldeias,  a 
nau  está  para  partir,  e  não  faltarão  empresas  para  os 


34* 


Índice  gerai. 


Pie- 

Padres  que  hão-de  vir  de  Portugal.  —  17.  A  gente  da 
cidade  está  muito  diferente  do  que  era  no  fervor  dos 
sacramentos,  e  ele,  Leonardo  do  Vale,  confessa  e  ensina 
e  atende  nas  doenças  aos  escravos  e  escravas  que  não 
sabem  português.  —  18.  Isto  é  o  que  sucedeu  depois 
que  partiu  a  nau  francesa  [tomada  no  Rio  de  Janeiro]. 
— 19.  Mas  a  messe  é  muita  e  os  operários  poucos: 
acudam  1   435 

1562 

62.  Caria  do  Ir.  José  de  Anchieta  ao  P.  Diego  Laynes,  Pirali- 
ninga  Março. 

Texto:  1.  Correspondência  epistolar.  —  2.  Ministérios 
com  o  próximo  nas  vilas  do  litoral. —  3.  O  P.  Nóbrega 
prega  em  todas  elas,  e  caiu  doente  em  Santos  assim 
como  outros  também  adoeceram.  —  4.  O  estudo  de  gra- 
mática esteve  em  S.  Vicente  até  Novembro  e  pela  este- 
rilidade dos  mantimentos  passou  a  Piratininga  onde  a 
abundância  é  maior.  —  5.  Ministérios  em  Piratininga 
com  o  próximo.  —  6.  Com  os  brasis,  antigos  discípulos, 
não  se  tem  conta  alguma,  mas  ainda  assim  se  visitam  e 
se  baptizam  alguns  inocentes  e  alguns  adultos  aparecem 
na  igreja  por  festa.  —  7.    Portugueses  e  Brasis  são  cada 


vez  piores   451 

62a-b.   Cartas  perdidas   456 

63.  Lista  dos  Padres  e  Irmãos  que  estão  na  Capitania  de  S.  Vi- 
cente em  Abril  de  1562,  [S.  Vicente  Abril]. 
Texto:    1.  Professo,  Coadjutores  Espirituais  e  Tempo- 
rais, Estudantes,  e  recebidos  indifferenter   456 


64.  Carta  do  P.  Gonçalo  Vas  de  Melo  ao  P.  Jerónimo  Nadal, 
Lisboa  14  de  Maio. 

Texto  :  1.  Para  o  Brasil  não  têm  ido  navios  e  pelos  pri- 
meiros que  forem  espera  enviar  Padres  que  lá  ajudem. 
—  2.  E  também  um  Padre  que  tenha  entendido  bem  as 
coisas  da  Companhia  e  possa  ser  Provincial,  e  conso- 
lar-se-ia  que  lhe  indicasse  quem   459 

65.  Carta  por  comissão  do  P.  Brás  Lourenço  ao  P.  Miguel  de 
Torres,  Espirito  Santo  10  de  Junho. 

Texto:  1.  Situação  isolada  e  pobre  desta  Capitania.— 
2.  Casa  e  Igreja  de  Santiago  com  dois  Padres  e  dois 
Irmãos.  —  3.    E  alguns  meninos,  um  dos  quais  estuda 


ÍNDICE  GERAL 


latim,  e  os  outros  remam,  pescam  e  pedem  esmola  para  o 
seu  comer. —  4.  A  igreja  é  pobre  de  ornamentos  e  mal 
provida  de  vinho  e  farinha  para  missas.  —  5.  A  gente 
da  Capitania  tem  muito  crédito  aos  Padres.  —  6.  O  Capi- 
tão Belchior  de  Azeredo,  amigo  da  Companhia,  tem  ânimo 
para  sujeitar  os  índios  e  resistir  aos  Franceses.  —  7.  Com- 
bate aos  Franceses,  levando  o  P.  Brás  Lourenço  a  ban- 
deira de  Santiago. —  8.  Veio  outra  nau  explorar  o  porto, 
mas  retirou-se,  espera-se  que  a  Capitania  seja  de  El-Rei 
para  ter  melhor  defesa.  —  9.  Aldeia  de  N  a  S.a  da  Con- 
ceição, onde  as  índias  aprendem  a  alfaiatas  e  a  fiar. — 
10.  Os  Padres  nomearam  Ouvidor  o  Principal  da  Aldeia 
para  pequenos  delitos.  — 11.  É  constituída  por  mil  índios 
[do  Gato],  que  tinham  vindo  do  Rio  de  Janeiro,  e  o  Capi- 
tão juntou  há  dois  anos  nesta  Aldeia  separados  dos  Tupi- 
naquins.  —  12.  Os  moços  da  Baía  criados  aqui  na  casa 
da  vila  casaram-se  com  índias,  eles  aprenderam  a  tece- 
lões e  elas  a  alfaiatas  e  a  fiar  e  ganham  a  vida  ao  modo 
dos  Brancos.  —  13.  Os  Tupinaquins  é  gente  menos  apta 
para  se  fazer  fruto  neles  e  ainda  das  suas  guerras  trazem 

carne  humana  para  comer  

ôsa-b.    Cartas  perdidas  

Carta  do  P.  Leonardo  do  Vale  por  comissão  do  P.  Luis  da 
Grã  aos  Padres  e  Irmãos  de  S.  Roque,  Baía  26  de  Junho. 
Texto  :  1.  O  ano  passado  deu  conta  do  que  fez  o  Provin- 
cial Luís  da  Grã  até  o  baptismo  em  Santa  Cruz  de  Ita- 
parica.  —  2.  Depois  foi  visitar  as  Aldeias  da  banda  de 
Pernambuco  principiando  pela  do  Espírito  Santo.  — 
3.  Seguiu  para  a  de  S.  António  onde  fez  um  grande 
baptismo  e  muitos  casamentos.  —  4  Dali  foi  para  a  do 
Bom  Jesus,  onde  residia  o  P.  António  Rodrigues,  que  a 
fundara,  onde  baptizou  900  índios  e  casou  70  casais.  — 

5.  Depois,  acompanhado  do  P.  António  Rodrigues,  foi 
adiante  dez  léguas,  sendo  recebidos  com  grande  festa,  e 
escolheu  lugar  para  a  igreja  do  Apóstolo  S.  Pedro.  — 

6.  E  oito  léguas  mais  adiante  foi  igualmente  recebido  com 
festas  e  escolheu  lugar  para  outra  igreja  de  S.  André. — 

7.  E  foi-lhe  preciso  ir  ainda  mais  dez  léguas  adiante 
até  à  grande  Aldeia  do  velho  Principal  Aracaém  con- 
trário dos  precedentes  que  também  queria  igreja. 
—  8.  Daqui  fez-se  o  Provincial  na  volta  da  Baía,  tra- 
zendo consigo  um  índio  principal  sobrinho  de  Ara- 
caém, menos  velho  que  ele.  —  9.  Antes  de  passar  por 
S.  André  fazem-se  pazes  entre  o  seu  principal  e  o 


ÍNDICE  GERAL 


sobrinho  de  Aracaém,  e  rito  das  pazes. —  10.  O  Gover- 
nador alegrou-se  com  as  pazes,  nomeou  meirinho  o  prin- 
cipal, vestiu-o  e  deu-lhe  vinho  português.  —  11.  Ministé- 
térios  do  Provincial  na  cidade  até  partir  de  novo  para 
as  Aldeias  da  banda  de  Ilhéus.  —  12.  Aldeias  de  Nossa 
Senhora  da  Assunção  e  de  S.  Miguel  muito  povoadas. 

—  13.  Os  Índios  de  Tinharé  também  se  queriam  fazer 
cristãos  mas  só  lhe  deu  esperanças  por  falta  de  Padres. 

—  14.  Nos  começos  de  Janeiro  foi  o  Provincial  visitar  a 
Aldeia  de  Santiago  onde  no  dia  de  Reis  fez  um  grande 
baptismo  e  50  casamentos. —  15.  Na  Aldeia  de  S.  João 
dentro  da  baía,  fez  outro  baptismo  ainda  maior  e  com 
mais  casamentos.  — 16  Dali  foi  para  a  Aldeia  de  S.  Antó- 
nio, na  costa  do  mar,  onde  fez  o  mesmo.  —  17.  E  ainda 
outro  na  Aldeia  do  Bom  Jesus  e  outro  maior  de  todos 
em  S.  Pedro,  1.152  cristãos  e  150  casamentos.  —  18.  O 
P.  António  Rodrigues  tinha-se  antes  despedido  da  Aldeia 
do  Bom  Jesus  e  fora  dizer  a  primeira  missa  da  nova 
Aldeia  de  S.  Pedro  no  dia  da  dedicação  da  Basílica  de 
S.  Pedro  e  São  Paulo  (18  de  Novembro  de  1561).  — 
19.  Fugindo  a  gente  de  S.  André,  o  P.  António  Rodri- 
gues tornou  a  juntá-la,  3.000  almas,  e  voltou  para 
S.  Pedro.  —  20.  Chegada  do  P.  Francisco  Viegas  e  do 
Irmão  Cipião  e  o  que  passaram  na  viagem  e  primeiros 
contactos  com  a  terra  do  Brasil.  —  21.  Depois  da  Pás- 
coa o  Provincial  tentou  a  ida  ao  Rio  de  S.  Francisco, 
mas  ao  cabo  de  40  léguas  pela  costa  voltou  porque  fal- 
tou o  alimento  para  a  gente  que  levava.  —  22.  Sentença 
contra  os  índios  Caetés  que  mataram  o  Bispo  e  inter- 
venção mitigadora  do  P.  Grã.  —  23.  Com  todo  este  tra- 
balho era-lhe  forçoso  não  dizer  missa  toda  a  semana 
nem  rezar  o  breviário  no  devido  tempo.  —  24.  Zelo  de 
outros  Padres  e  casos  particulares.  —  25.  Por  isso,  os 
novos  que  vierem  de  Portugal,  incluindo  os  letrados, 
terão  tanto  que  fazer  como  na  índia.  —  26.  Ministérios 
com  a  gente  branca  na  cidade.  —  27.  A  povoação  de 
Afonso  Torres.  —  28.  Os  Franceses  na  costa  do  Bra- 
sil. —  29.  Monsior  de  Bolés.  —  30.  Expedição  em  busca 
de  oiro  e  o  caso  do  crucifixo.  —  31.  Baptismo  e  incêndio 
na  Aldeia  de  S.  Cruz  de  Itaparica  posto  por  uma  velha 
feiticeira.  —  32.  Grandes  baptismos  nas  Aldeias  de 
S.  Miguel  e  de  N.a  S.a  da  Assunção.  —  33.  Trabalhos, 
doenças  e  perigos  dos  caminhos  por  terra  e  água.  — 
34.  Estudos  no  Colégio  da  Baía  e  ministérios  na  cidade 
do  Padre  língua  


ÍNDICE  GERAL  37* 

Pág. 

67.  Sesmaria  da  Aldeia  do  Espirito  Santo  do  Colégio  da  Baía, 
Baía  7  de  Setembro. 

Texto:  1.  Requerimento  dos  índios  da  Aldeia  do  Espí- 
rito Santo  com  as  confrontações  das  terras.  —  2.  Des- 
pacho do  Governador  Mem  de  Sá.  —  3.  Carta  régia  que 
autoriza  o  Governador  a  dar  terras  aos  índios.  —  4.  Carta 
de  dada  e  traslado   507 

67a.    Carta  perdida   511 

68.  Carta  do  P.  Diego  Laynes  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega,  Trtnto 
[16  de  Dezembro}. 

Texto  :  1.  Responde  à  carta  de  Nóbrega  e  basta  que  este 
comunique  as  suas  determinações  ao  P.  Luís  da  Grã  [Pro- 
vincial].—  2.  Aprova  as  Casas  de  Meninos.  —  3.  E  que  se 
busquem  para  elas  meios  de  sustentação,  que  sejam  admi- 
nistrados por  seculares  ou  da  Companhia.  —  4,  Aprova 
as  Casas  de  Meninas,  mas  com  as  devidas  cautelas.  — 
5.  Aprova  que  se  tenham  os  escravos  necessários, 
desde  que  sejam  justamente  possuídos. —  6.  Aprova 
a  indústria  de  comprar  as  redes  mais  baratas  noutras 
partes  pois  não  é  comércio,  e  assim  outras  coisas.  — 
7.  Aprova  que  se  mandem  os  meninos  de  mais  habili- 
dade para  que  se  formem  em  Portugal  e  tornem  homens 
de  confiança  ao  Brasil.  —  8.  Aprova  que  se  tenha  cui- 
dado conveniente  com  a  saúde  dos  que  trabalham  no 
divino  serviço.  —  9.  Um  homem  casado  que  queria  entrar 
na  Companhia  antes  de  consumado  o  matrimónio.  — 
10.  Dispensas  matrimoniais  com  mestiços  sobre  as  quais 
escreveu  já  a  Roma.  —  11.  Não  há  inconveniente  em 
enviar  a  Portugal  açúcar  e  outras  coisas  para  se  comprar 
o  que  fizer  falta  no  Brasil   512 

69.  Quadrimestre  da  Casa  de  S.  Roque,  Lisboa  ji  de  Desembro. 
Texto:  1.  Expedição  missionária  para  o  Brasil.  —  2.  Objec- 
tos de  Igreja,  vestimentas,  frontais,  etc,  entre  os  quais 
18  cálices  de  prata,  oferta  régia.  —  3.  Ornamentos  envia- 
dos pelos  Padres  da  índia  para  os  do  Brasil.  —  4.  Pano 

para  roupa  dos  Padres   516 

6oa-c.    Cartas  perdidas   518 

1563 

70.  Carta  do  P.  Diego  Laynes  ao  P.  Luis  da  Grã,  Trento  6  de 
Janeiro. 

Texto:    1.  Não  tem  carta  sua,  mas  tem  do  P.  Nóbrega  a 


58* 


ÍNDICE  GERAL 


quem  escreve.  —  2.  Consolação  com  as  boas  notícias  do 
Brasil,  as  muitas  fundações  da  Europa  não  permitem  que 
se  enviem  tantos  Padres  como  seriam  precisos,  mas  sem- 
pre se  enviarão  alguns  .    .  •  


519 
520 


7oa-b.    Cartas  perdidas 


71.  Sesmaria  do  Camamu  doada  pelo  Governador  Mem  de  Sá 
ao  Colégio  da  Baia,  Baia  27  de  Janeiro. 

Texto:  1.  Doação  da  sesmaria  do  Camamu  de  doze 
léguas  pelo  Governador  da  Capitania  de  Ilhéus  a  Mem 
de  Sá  e  Francisco  de  Betancor.  —  2.  Cessão  da  parte 
de  Betancor  e  de  sua  mulher  a  Mem  de  Sá.  —  3.  Sen- 
tença régia  que  mete  Mem  de  Sá  na  posse  das  doze 
léguas.  —  4.  Doação  das  doze  léguas  ao  Colégio  da  Baía, 
reservando  para  si  légua  e  meia.  —  5.  Confirmação  da 
dada.  —  6.   Requerimento  do  Reitor  do  Colégio  da  Baía. 

—  7.  Carta  régia  a  Mem  de  Sá  dando-lhe  poderes  para 
confirmar  a  posse  de  todas  as  terras  dos  Padres  da 
Companhia.  —  8.    Escritura  do  escrivão  das  sesmarias 

e  traslado  autêntico   521 

7ia-b.   Cartas  perdidas   532 

72.  Carta  do  P.  Luis  Rodrigues  ao  P.  Gonçalo  Vas  de  Melo, 
Ilhéus  11  de  Março. 

Texto;  1.  Os  seus  ministérios  em  Ilhéus  com  o  P.  Diogo 
Jácome.  —  2.   Ordenado  de  missa  no  Natal  de  1560. 

—  3.    Com  o  P.  António  Pires  na  Ilha  de  Itaparica. 

—  4.  Passa  para  uma  Aldeia  da  terra  firme,  onde  foi 
mordido  por  uma  cobra  cascavel  e  esteve  à  morte. 

—  5.    Depois  de  convalescer  foi  para  outra  Aldeia. 

—  6.    E  esteve  ainda  noutra,  a  mais  longe  da  cidade. 

—  7.  Veio  para  Ilhéus  onde  está  agora.  —  8.  Os  mora- 
dores prometem  grande  ajuda  para  a  construção  de 

casa  e  igreja   533 

73.  Carta  do  P.  Juan  de  Polanco  por  comissão  do  P.  Geral  Diego 
Laynes  ao  P.  Gonçalo  Vas  de  Melo  Provincial  de  Portugal 
[respondendo  unicamente  a  cartas  de  Nóbrega],  Trento  2/ 
de  Março. 

Texto  :  1.  Responde  a  cartas  de  Nóbrega.  —  2.  Legados 
e  missas.  —  3.  O  Bispo  e  a  compra  de  escravos.  —  4.  É 
bom  que  a  Companhia  no  Brasil  tenha  com  que  se  man- 
ter sem  depender  de  esmolas  incertas.  —  5.  Obra  num 
morro  para  mantimentos  e  recreação  dos  estudantes 
[Casa  de  Campo].  —  6.  Terra  para  criação  de  gado.  — 


índice  geral  39* 

Pág. 

7.  Conservas  de  ananases  e  outras  para  câmaras.  — 

8.  As  escolas  mudadas  a  S.  Vicente  poderiam  voltar 
para  Piratininga.  —  9.  Sobre  ter  escravos  próprios 
ou  alugados.  — 10.  Perigo  de  se  construir  muito  em 
S.Vicente  que  se  despovoa  e  passa  a  Santos.  — 11.  Sobre 
a  ida  ao  Paraguai.  —  12.  Sobre  a  aplicação  das  esmolas 
de  El-Rei  aos  Colégios  de  S.  Vicente  e  da  Baía  e  ter- 
ras aos  índios.  —  13.  Necessidade  de  Padres  no  Brasil 
e  dum  mestre  para  substituir  o  Ir.  Anchieta  que  se 
poderá  empregar  mais  útilmente.  —  14.  Os  da  Compa- 
nhia poderão  ter  cura  de  almas  ad  tempus  enquanto  se 
forma  clero  secular  melhor.  —  15.  Os  Superiores  evitem 
demandas  e  persuadam  os  testamenteiros  a  cumprir  o 
seu  dever.  —  16.  E  muito  se  encomenda  aos  Padres  de 
Portugal  e  a  Nóbrega  e  aos  mais  de  S.  Vicente,  se  esta 

carta  lá  for   541 

73a-b.   Cartas  perdidas   546 


74.  Carta  do    Ir.  José  de   Anchieta  ao   P.   Diego  Laynes, 
S.  Vicente  16  de  Abril. 

Texto  :  1.  Os  índios  contrários  e  os  do  Campo,  mais  ter- 
ríveis por  ser  ladrões  de  casa,  põem  em  perigo  a  Casa 
de  S.  Paulo  de  Piratininga.  —  2.  Os  índios  têm  matado 
muitos  Portugueses  e  agora  mataram  mais  dois  e  de  um 
levaram  a  mulher  índia  cristã  e  fervorosa.  —  3.  Os  índios 
apregoam  guerra  contra  Piratininga,  houve  aviso  e  pre- 
para-se  a  defesa. —  4.  O  Principal  Martim  Afonso  Tibiriçá 
recolheu  a  sua  gente  na  vila  para  a  defender.  —  5.  O  ata- 
que dos  índios  foi  a  9  de  Julho,  durou  dois  dias,  feriram 
alguns,  mataram  gado,  destruíram  os  mantimentos  e  fugi- 
ram.—  6.  Três  portugueses  com  índios  fiéis  perseguiram- 
-nos  vinte  léguas  pela  terra  dentro  e  resgataram  40  pes- 
soas que  os  índios  tinham  como  cativas. —  7.  Esta  guerra 
foi  muito  útil  porque  se  fortificou  Piratininga  e  os  índios 
recolhidos  nela  poderão  ser  doutrinados.  —  8.  Porque 
para  esta  gente  não  há  melhor  pregação  que  espada  e 
vara  de  ferro.  —  9.  índios  doentes  que  se  baptizaram  e 
ajudaram  a  bem  morrer.  —  10.  Falecimento  do  Principal 
Tibiriçá,  que  se  enterrou  na  Igreja  da  Companhia,  acom- 
panhado por  todos  os  Portugueses  com  a  cera  da  sua 
confraria.  —  11.  Ministérios  com  os  índios  e  pregação 
do  P.  Nóbrega,  que  agora  tem  boa  saúde.  —  12.  Ministé- 
rios em  Santos,  vila  principal  da  Capitania  de  S.Vicente. 
—  13.  Ministérios  em  Itanhaém,  catequese  e  baptismo 
dum  velho  «de  mais  de  130  anos».  —  14.  Ministérios  no 


40:i 


ÍNDICE  GERAL 


Pág- 

caminho  de  Itanhaém  a  S.  Vicente.  —  15.  Os  contrários 
da  banda  do  norte  [Tamoios].  — 16.  Há  mais  de  dois  anos 
que  o  P.  Nóbrega  pensa  em  ir  fazer  as  pazes  com  eles 
e  agora  se  apresenta  oportunidade  com  grande  satisfa- 
ção de  toda  a  Capitania  —  17.  Irá  o  P.  Nóbrega  levando-o 
a  ele  Anchieta  por  intérprete,  espera-se  que  os  contrá- 
rios dêem  reféns,  e  estão  já  de  caminho   546 

Corrigenda   566 

Índice  Alfabético  e  Remissivo  (onomástico  [Jesuítas  com 

asterisco],  geográfico  e  ideográfico)   567 

Gravuras 

Retrato  de  D.  João  III,  Rei  de  Portugal  2*/ 3* 

Selo  da  Companhia  de  Jesus,  usado  pelos  primeiros  Padres 
Gerais  desde  S.  Inácio  a  Cláudio  Aquaviva  (conservado 
no  ARSI)   3* 


BIBLIOGRAFIA  IMPRESSA 


Os  livros  ou  revistas,  que  contêm  cartas  de  Jesuítas  do  Brasil  ou 
outros  documentos  relacionados  com  eles,  indicam-se  aqui  sumariamente, 
seguidos  dum  número  entre  parêntesis.  Este  número  remete  para  as  Edi- 
ções das  Cartas  e  mais  Documentos,  adiante,  Introdução  Geral,  cap.  V, 
em  que  se  descrevem  ou  se  fas  referência  à  página  de  Mon.  Bras.  I-II,  onde 
já  se  descreveram. 

— A  maior  parte  desta  bibliografia,  assim  como  a  dos  tomos  anteriores, 
já  foi  utilizada  nos  dez  volumes  da  História  da  Companhia  de  Jesus  no 
Brasil  (1938-1950) ;  e  nem  sempre  pareceu  de  utilidade  cientifica  repetir 
nestes  tomos  de  Monumenta  (textos)  toda  a  bibliografia  miúda  citada 
nos  passos  correspondentes  da  História. 

Accioli  de  Cerqueira  e  Silva,  Ignacio.  —  Memorias  Históricas  e  Poli- 
ticas da  Província  da  Bahia.  5  vols.  Bahia  1835-1843.  [Accioli  — 
B.  do  Amaral,  Memorias  Históricas  e  Politicas  da  Bahia.  5  vols. 
Bahia  1919-1937]  (n.  6). 

Actas  da  Camara  da  Villa  de  S.  Paulo  1562-1596  1  (Século  xvi).  São 
Paulo  1914. 

Aicardo,  José  Manuel.  —  Comentário  a  las  Constituciones  de  la  Com- 
partia de  Jesús.  6  vols.  Madrid  19 19-1932. 

Alão  de  Morais,  Cristóvão.  —  Pedatura  Lusitana  (Nobiliário  de  Famí- 
lias Portuguesas).  Publicado  por  Alexandre  António  Pereira  de 
Miranda  Vasconcelos,  António  Augusto  Ferreira  da  Cruz  e  Eugé- 
nio Eduardo  Andréa  da  Cunha  e  Freitas.  6  Tomos  [12  vols.]. 
Porto  1943-1948. 

Alcântara  Machado,  A.  de.  —  Ver  Cartas  Jesuíticas  (n.  20). 

Almeida,  Fortunato  de.  —  História  da  Igreja  em  Portugal.  4  Tomos 
[8  vols.].  Coimbra  1910-1924. 

—  História  de  Portugal.  6  vols.  Coimbra  1922-1929. 

Almuda  Prado,  J.  F.  de.  —  Primeiros  Povoadores  do  Brasil  i/oo-ijjo. 
São  Paulo  1935. 

Alves,  Isaías.  —  Nóbrega,  Educador  e  Pedagogo,  in  Revista  da  Colónia 
Portuguesa  da  Bahia,  Ano  III  n.  3  (Salvador,  JuDho  de  1957)  4-6. 

Anais  da  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro.  74  vols.  Rio  de 
Janeiro  1876-1953  (n.  11). 

Anchieta,  José  de.  —  Cartas  Inéditas.  São  Paulo  1900  (n.  18). 

—  Ver  Cartas  Jesuíticas. 

4* 


42* 


BIBLIOGRAFIA  IMPRESSA 


Archivum  Historicum  Societatis  lesu.  26  vols.  Roma  1932-1957.  Em 
curso  de  publicação  [AHSI]. 

Astrain,  Antonio.  —  Historia  de  la  Compania  de  Jesus  en  la  Asistencia 
de  Espana.  7  vols.   Madrid  1902-1925. 

Ayrosa,  Plínio. —  Termos  Tupis  no  Português  do  Brasil.  São  Paulo  1937. 

Azevedo,  Pedro  de.  —  Os  primeiros  Donatários,  in  História  da  Colo- 
nização Portuguesa  do  Brasil  III  (Rio  de  Janeiro  1924)  189-216. 

Azevedo  Marques,  Manuel  Eufrásio  de.  —  Apontamentos  Históricos, 
Geographicos,  Biographicos,  Estatísticos  e  Noticiosos  da  Provinda  de 
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Baldus,  Herbert.  —  Bibliografia  Crítica  da  Etnologia  Brasileira. 
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Barbosa  Machado,  Diogo.  —  Biblioteca  Lusitana,  Histórica,  Crítica  e 

Cronológica.  (2.a  ed.).  4  vols.  Lisboa  1930-1935. 
Beringer,  F.  —  Les  indulgences,  leur  nature  et  leur  usage,  trad.  de  Ph. 

de  Mazoyer,  2  vols.  Paris  1905. 
[Borgia]  Sanctus  Franciscus  Borgia  quartus  Gandiae  dux  et  Societatis 

Jesu  praepositus  Generalis  tertius.  5  vols.  Matriti  1894-1911  (MHSI). 
Braamcamp  Freire,  Anselmo.  —  Brasões  da  Sala  de  Sintra.  3  vols. 

Coimbra  1921-1930. 
Brasília.  9  vols.  Coimbra  1942-1955.  Em  curso  de  publicação. 
Brito  Aranha,  P.  V.  de.  —  Ver  Silva,  Innocencio  Francisco  da. 
Brotéria.  66  vols.  Lisboa  1926-1958.  Em  curso  de  publicação. 
Buarque  de  Holanda,  Sérgio.  —  Raízes  do  Brasil.  Rio  de  Janeiro  1936. 

—  Expansão  Paulista  em  fins  do  século  XVI  e  princípio  do  século  XV 11. 
[Publicações  do  Instituto  de  Administração  da  Universidade  de 
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—  índios  e  mamelucos  na  expansão  paulista,  in  Anais  do  Museu  Pau- 
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Bullarium  Patronatus.  —  Ver  Paiva  Manso. 

Calmon,  Pedro.  —  História  do  Brasil.  4  vols.  São  Paulo  1939- 1947. 

—  História  da  Casa  da  Torre.  Rio  de  Janeiro  1940. 

—  História  da  Fundação  da  Bahia.  Bahia  1949. 

Capistrano  de  Abreu,  J.  —  Capítulos  de  História  Colonial  (1500-1800). 
4.a  edição.  Revista,  anotada  e  prefaciada  por  José  Honório  RODRI- 
GUES. Rio  de  Janeiro  1954. 

—  Correspondência  de  Capistrano  de  Abreu.  Edição  organizada  e  pre- 
faciada por  José  Honório  Rodrigues.  3  vols.  Rio  de  Janeiro 
1954  1956- 

—  Novas  Cartas  de  Capistrano  de  Abreu.  Prefácio  e  Notas  de  José 
Honório  Rodrigues,  in  Revista  de  História  31  (São  Paulo  1957)  79-91. 

—  Prolegómenos  à  «História  do  Brasil*  de  Frei  Vicente  do  Salvador. 
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—  Notas  à  «História  Geral  do  Brasil»  de  Porto  Seguro  [HG].  —  Ver 
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Cartas  Jesuíticas.  —  [Publicações  da  Academia  Brasileira  de  Letras, 
«Colecção  Afrânio  Peixoto»] :  I  —  Manoel  da  Nóbrega,  Cartas  do 
Brasil  (1549  1560).  Nota  Preliminar  de  Afrânio  Peixoto.  Introdução 
de  Vale  Cabral.  Notas  de  Vale  Cabral  e  Rodolfo  Garcia.  Rio  de 
Janeiro.  [Contém  as  mesmas  cartas  da  edição  de  Materiaes  e  Ache- 
gas de  1886,  e  mais  o  «Diálogo  sobre  a  Conversão  do  Gentio»] ; 

II  —  Cartas  Avulsas  (1550-1568).  Nota  Preliminar,  Introdução  e 
Sinopse  da  História  do  Brasil  e  da  Missão  dos  Padres  Jesuítas 
de  1549  a  1568,  de  Afrânio  Peixoto.  Rio  de  Janeiro  1931.  [Contém 
as  mesmas  cartas  da  edição  de  Materiaes  e  Achegas  de  1887] ; 

III  —  Cartas,  Informações,  Fragmentos  Históricos  e  Sermões  do 
Padre  Joseph  de  Anchieta,  S.  J.  (1554-1594).  Nota  Preliminar  e 
Introdução  de  Afrânio  Peixoto;  um  artigo  de  Capistrano  de  Abreu  ; 
a  bibliografia  de  Sommervogel  e  Suplemento  de  Rivière;  notas  e 
Postfácio  de  A.  de  Alcântaia  Machado.  Rio  de  Janeiro  1933.  [Con- 
tém os  mesmos  documentos  da  edição  de  Materiaes  e  Achegas 
de  1886,  acrescida  doutros  de  Anchieta,  como  o  título  mostra, 
«conhecidos  até  1933;  e  alguns,  que  não  são  dele»,  Leite,  His- 
tória VIII  18 ;  J.  H.  Rodrigues,  Bibliografia  dei  Brasil  45]  (nn.  14 
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15J0-15J2.  Prefácio  de  J.  Capistrano  de  Abreu.  2  vols.  Rio  de 

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nal do  Rio  de  Janeiro.  Publicada  sob  a  direcção  do  bibliotecário 
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Biblioteca,  vols.  IV,  V,  x,  xv,  xvm,  xxin]. 

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Cimelios.  —  Ver  Catalogo  da  Exposição  permanente  dos  Cimelios. 

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edición  dei  P.  Francisco  Mateos  2  vols.  Madrid  1956.  [=  Biblio- 
teca de  Autores  Espaõoles,  tomos  91-92]. 

Collecção  de  Noticias  para  a  Historia  e  Geographia  das  Nações  Ultra- 
marinas, que  vivem  nos  Domínios  Portugueses,  ou  lhes  são  visinhos. 
Publicada  pela  Academia  Real  das  Sciencias.  7  Tomos.  Lisboa  1812- 
-1841  [1856]  (n.  4). 


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[Eglauer,  Ant.].  —  Die  Missionsgeschichte  spãterer  Zeiten,  oder  gesam- 

melte  Briefe  der  katholischen  Missionare  aus  allen  Theilen  der  Welt. 

Briefe  aus  Ostindien.  3  vols.  Augsburg  1794-1795. 
Epistolae  P.  Hieronymi  Nadal  Societatis  Jesu  ab  anno  1546  ad  1577  nunc 

primum  editae  et  illustratae  a  Patribus  ejusdem  Societatis.    4  vols. 

Matriti  1898-1905  (MHSI)  [Epp.  Nadal}. 
Epistolae  Praepositorum  Generalium.  Toulouse  1609. 
Epistolae  S  Francisci  Xaverii  aliaque  scripta.   Nova  editio  ex  integro 

refecta  textibus,  introductionibus,  notis,  appendicibus  aucta.  Edide- 

runt  Georgius  Schurhammer  S.  I.  et  Iosephus  "Wicki  S.  I.  2  tom. 

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in  quibus  aliqui  de  Societate  lesu  versabantur,  Romam  missae.  7  vols. 

Matriti-Roma  1894-1932  [Litt.  Quadr.]. 
Livro  do  Armeiro-Mor.  Organizado  e  iluminado  por  João  du  Cros. 

Com  um  estudo  de  António  Machado  de  Faria.  Lisboa  1956. 
Livro  de  Linhagens  do  Século  XVI. —  Introdução  de  António  Machado 

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—  Ver  Cartas  Avulsas  (n.  19). 

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Primeira  Visitação  do  Santo  Officio  ás  partes  do  Brasil  pelo  licenciado 
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Tomo  primeiro  da  entrada  da  Companhia  de  Jesv  nas  partes  do  Bra- 
sil &  dos  fvndamentos  que  nellas  lançarão,  &  continuarão  seus  Reli- 


52* 


BIBLIOGRAFIA  IMPRESSA 


giosos  emquanto  alli  trabalhou  o  Padre  Manoel  da  Nóbrega  Funda- 
dor, &■  primeiro  prouincial  desta  Prouincia,  com  sua  vida,  6*  morte 
digna  de  memoria:  e  algvãs  noticias  antecedentes  curiosas,  &  necessá- 
rias das  cousas  daquele  Estado.  Lisboa  1663 ;  2.a  ed.  [por  Inocêncio 
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(MHSI)  [DI]. 

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—  Ver  Gonçalves,  Sebastiam. 

Zabala,  Silvio  A.  —  La  encomienda  indiana.  Madrid  1935. 


ABREVIATURAS 

a.    -  ano. 

add.  =  addit :  acrescenta. 

AHSI  =  Archivum  Historicum  Societatis  Iesu. 
ARSI  =  Archivum  Romanum  Societatis  lesa. 
bis  —  doas  vezes  [no  ms.]. 
c.  =  caput :  capítulo. 

charta  cons.  —  charta  consumpta  :  papel  delido  ou^rasgado. 
cód.  =  códice. 

compl.  =  completur :  completa-se. 

corr.  ex  ~  emendado  de. 

D.  =  Dominus  [Senhor]  —  Dom,  Dona. 

dei.  —  deletum  :  riscado. 

DI  =  Documenta  Indica. 

D.  N.  =  Dominus  Noster  :  Senhor  Nosso. 

Dr.  =  Doctor :  Doutor. 

ed.  —  edição,  editou,  editado. 

ep.,  epp.  =  epistola,  epistolae  :  carta,  cartas. 

f.,  ff.  =  folium,  folia :  folha,  folhas. 

ib.,  ibid.  —  ibidem :  no  mesmo  lugar  [citação  de  livros  ou  documentos]. 
Id.  =  Idem  :  o  mesmo  [referência  ao  mesmo  autor,  etc.]. 
IHS  =  Iesus. 
II.  =  Irmãos. 

in  marg.  =  in  margine  :  à  margem  [do  manuscrito]. 
Ir.  =  Irmão. 

1.  c.  =  loco  citato :  lugar  citado  [referido  a  livro  ou  documento], 
liv.  =  livro. 

lin.  subd.  —  linea  subducta:  linha  de  baixo. 

MHSI  =  Monumenta  Histórica  Societatis  Iesu. 

MI  =  Monumenta  Ignatiana. 

Mon.  =  Monumenta. 

ms.  =  manuscriptum  :  manuscrito. 

N.  =  Nosso,  Nuestro  ;  Nossa,  Nuestra. 

N.  S.  =  Nosso  Senhor,  Nuestro  Senor. 

om.  =  omittit,  omissum  :  omite,  omisso  (ou  omitido). 

P.  =  Padre. 

PP.  =  Padres. 


54* 


ABREVIATURAS 


p.,  pp.  =  página,  páginas. 

p.  corr.  —  post  correctionem  :  depois  da  emenda. 
P.e  =  Padre. 

P.  M.  =  Padre  Mestre,  Padre  Maestro. 

P.  N.  =  Pater  Noster:  Padre  Nosso,  Pai  Nosso. 

post  —  depois  de 

prius  =  antes  [o  que  estava  no  ms.  antes  da  emenda]. 
S.  =  Senhor. 
S.  =  São,  Santo. 

s.,  ss.  —  sequens,  sequentes  :  seguinte,  seguintes. 
S.  A.  =  Sua  Alteza. 

5.  a.  =  sine  anno :  sem  ano  [sem  indicação  de  ano]. 
S.  I.  =  Societatis  Iesu  :  da  Companhia  de  Jesus. 
5.  /.  =  sine  loco  :  sem  lugar. 

sup.  =  supra:  por  cima  de  [escrito  por  cima  da  linha  no  ms.]. 
V.  =  Vosso,  Vossa  ;  Vuestro,  Vuestra. 
v.  =  verso. 

V.  A.  =  Vossa  Alteza. 

V.  M.  =  Vossa  Mercê. 

vol.  =  volume. 

V.  P.  =  Vossa  Paternidade. 

V.  R.  =  Vossa  Reverência. 

]  —  em  vez  de  [no  aparato  critico], 

[  ]  =  No  texto,  as  chavetas  encerram  letras  ou  palavras  supletivas. 

[...]  =  Texto  omitido. 

§,  §§  =  Parágrafo,  parágrafos. 


INTRODUÇÃO  GERAL 


CAPÍTULO  I 


PRELIMINARES 

ARTIGO  1 

O  RUMO  NOVO  DE  NÓBREGA  E  MEM  DE  SÁ 

Este  terceiro  volume  abrange  o  quinquénio  de  1558 
a  1563,  em  que  se  envereda  pelo  «rumo  à  vista  de 
Nóbrega  e  Mem  de  Sá»,  indicado  no  volume  precedente1. 
O  ponto  de  partida  expõe-no,  com  clareza,  a  carta  de 
Nóbrega  de  5  de  Julho  de  1559  ao  antigo  Governador  do 
Brasil,  Tomé  de  Sousa,  então  em  Lisboa  (doe.  13);  e  por 
ela  se  compreende  bem  o  plano  civilizador,  de  1558  2,  para 
a  evangelização  e  incorporação  er?  tual  do  gentio  no  Estado 
incipiente  do  Brasil. 

A  carta  a  Tomé  de  Sous.  a,  na  primeira  parte, 

o  passado  recente,  o  relaxamento  .  isciplina  eclesiástica 
em  matéria  de  honestidade  pública,  a  dissimulação  ou 
franco  incitamento  às  guerras  intertribais  e  à  antropo- 
fagia dos  índios,  as  calamidades  de  náufragos  mortos  e 
devorados  pelos  gentios,  a  introdução  entre  eles  do  cos- 
tume de  «se  furtarem  a  si  mesmos»  para  se  venderem  por 
escravos,  as  «guerras  civis»  entre  o  Bispo  D.  Pedro  Fer- 
nandes e  o  Governador  D.  Duarte  da  Costa:  toda  a  inquie- 
tação e  turbulência  do  momento  moral,  social  e  político 
do  Brasil,  à  chegada  do  terceiro  Governador  Mem  de  Sá» 


1  Mon.  Bras.  u  55*. 

2  Ib.  11  54*. 

5* 


58* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  I.  PRELIMINARES 


Angustiosa  situação,  que  dificultava  a  conversão  do  gentio, 
sem  proveito  nem  para  o  gentio  nem  para  a  terra. 

Na  parte  positiva,  Nóbrega  relata  e  defende  a  actividade 
de  Mem  de  Sá  na  obra  do  saneamento  de  costumes  pri- 
vados e  públicos,  como  impôs  a  todos,  Portugueses  e  índios, 
uma  autoridade  firme,  proibiu  as  guerras  intertribais  e  a 
antropofagia,  com  sanções  aos  que  a  praticavam,  «sem  nunca 
mandar  matar  ninguém»  (35  §  2);  como  alargou  a  zona  civi- 
lizada na  Baía,  com  a  sujeição  do  gentio,  não  permitiu  a 
repartição  dos  índios  pelos  moradores,  e  restabeleceu  a 
ordem  moral  e  legal,  debilitada  durante  o  governo  de 
D.  Duarte. 

Não  é  uma  crítica  ao  sistema  português  de  coloniza- 
ção, de  que  Nóbrega  também  é  parte  integrante  e  glo- 
riosa, mas  apenas  ao  desvio  operado  no  tempo  daquele 
governo  contra  as  intenções  de  Portugal,  que  não  era  tanto 
o  interesse  material,  como  a  exaltação  da  fé  e  conversão  do 
gentio  (13  §  22).  Na  mente  de  Nóbrega  e  na  ordem  dos 
fins,  a  «fé»  tinha  a  primazia  sobre  o  «império»,  mas  na 
ordem  dos  meios,  o  império,  com  a  sujeição  do  gentio,  era 
a  condição  prévia  para  o  estabelecimento  da  fé,  excepto 
casos  individuais.  Historicamente,  no  Brasil  e  por  toda  a 
parte,  olhando  o  mapa  das  religiões  do  inundo  moderno, 
este  foi  o  caminho  da  cristandade.  Fora  da  Europa  (na 
qual  os  reis  convertidos  ou  os  conquistadores  tanto  influí- 
ram), o  mapa  só  se  ilumina  de  regiões  cristãs,  onde  o  impé- 
rio (português,  espanhol,  inglês,  francês,  belga,  etc.)  foi 
efectivo  e  duradoiro.  Onde  ele  faltou,  ainda  hoje,  salvo 
raras  excepções,  o  mapa  se  escurece  de  manchas  maome- 
tanas ou  pagãs,  heranças  quase  sempre  doutros  impérios. 
O  criticismo  construtivo  do  religioso  português  era  um 
brado  de  alerta,  susceptível  de  se  ouvir  em  Lisboa,  para 
se  dar  vida  mais  eficaz  à  formação  portuguesa  e  cristã  do 
Brasil.  Tal  é  o  sentido  geral  e  comum  a  este  período. 

Não  nos  detemos  a  lembrar  que  em  assuntos  relacio- 
nados com  a  fé,  sempre  se  têm  em  conta  os  desígnios  da 
Providência  e  o  mistério  da  graça.  Supõe-se.  O  que  se 
trata  aqui  é  do  plano  histórico  e  dos  esforços  pessoais  dos 


ART.  2.  -  CRISE  DE  EXl\  MISSIONÁRIAS  PARA  O  BRASIL  59* 


Padres  da  Companhia  para  a  realização  do  seu  mandato 
e  dos  meios  humanos  de  que  dispunham  para  o  levar  a 
bom  termo.  Entre  eles,  importa  olhar  mais  de  perto  um 
ou  outro,  a  começar  pelo  isolamento  missionário  com  que 
então  se  debateu  a  Província  do  Brasil. 

ARTIGO  2 

CRISE  DE  EXPEDIÇÕES  MISSIONÁRIAS  PARA  O  BRASIL 

Os  meios  para  a  empresa  do  Brasil  (a  «nossa  empresa», 
de  Nóbrega)  eram  numèricamente  muito  reduzidos.  Fun- 
dada pela  Província  de  Portugal,  a  Missão  tinha  em  Lisboa 
a  base  originária  de  abastecimento,  sob  a  responsabilidade 
dos  seus  sucessivos  Provinciais.  Durante  o  governo  do 
P.  Simão  Rodrigues  sairam  do  Tejo  as  duas  primeiras 
expedições:  uma,  de  quatro  Padres  e  dois  Irmãos,  que 
depois  se  ordenaram — a  expedição  fundadora  sob  a  obe- 
diência de  Manuel  da  Nóbrega  (1549);  e  outra,  de  quatro 
Padres,  à  frente  dos  quais  ia  Afonso  Brás  (1550).  Durante 
o  governo  do  P.  Diego  Mirón  seguiu  a  terceira  expedição, 
de  que  era  Superior  o  P.  Luís  da  Grã  (1553),  constituída 
por  três  Padres  e  quatro  Irmãos,  que  também  depois  se  orde- 
naram. Da  primeira  e  da  segunda  perseveraram  e  falece- 
ram todos  no  exercício  da  sua  missão ;  da  terceira  só  um 
voltou  para  Portugal.  Expedições  todas  três  notáveis,  que 
foram  os  alicerces  da  Companhia  de  Jesus  no  Brasil. 

A  Mirón  sucedeu  no  governo  da  Província  de  Portugal, 
o  P.  Miguel  de  Torres,  e  apesar  das  repetidas  instâncias 
do  Brasil,  não  se  mandou  ninguém  até  1559  («seis  anos 
e  mais  há  que  viemos,  escreve  Blázquez,  e  de  então  para 
cá  não  vieram  outros»,  doe.  23  §  4);  e,  quando  nesse  ano 
se  enviaram,  a  selecção  não  foi  austera  quanto  à  saúde 
e  qualidades  pessoais  dos  missionários.  Constava  de  dois 
Padres  e  cinco  Irmãos,  sob  a  direcção  do  P.  João  de  Melo, 
que  perseverou  e  faleceu  no  Brasil.  O  outro  Padre  padecia 
de  gota  coral  e  não  tardou  a  voltar  à  Europa.  Dos  Irmãos, 
tirante  dois,  todos  os  mais  sairam  da  Companhia. 


60* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  I.  PRELIMINARES 


Torres  enviou  outra  expedição  em  1560,  composta  de 
dois  Irmãos  estudantes,  um  dos  quais  perseverou  no  Brasil, 
outro  não;  e  ainda  um  grupo  de  dois,  dos  quais  não  perse- 
verou nenhum.  Torres  deixou  o  governo  da  Província  de 
Portugal  em  1561,  e  a  expedição  seguinte  (a  7.*)  já  foi  no 
governo  do  P.  Gonçalo  Vaz  de  Melo  (1563) 3. 

A  crise  tornara-se  mais  sensível  depois  da  chegada  do 
Governador  Mem  de  Sá  e  da  submissão  do  gentio  da  Baía 
em  1559.  Alude  a  esta  sujeição  a  Quadrimestre  da  Casa 
de  S.  Roque,  de  17  de  Fevereiro  de  1560,  e  à  esperança  de 
fruto,  porque  agora  se  espera  que  os  gentios  «ou  se  con- 
vertam ou  ao  menos  não  impeçam  os  bons»  4. 

A  insistência  do  Brasil  em  pedir  missionários  (16  §9; 
23  §§  3_4>  41  §§  1  e  7)  impressionara  o  mestre  do  Rei 
D.  Sebastião,  P.  Luís  Gonçalves  da  Câmara,  que  se  con- 
verteu em  paladino  dessa  causa  (doe.  47);  e  uma  breve 
frase  ao  Comissário  Jerónimo  Nadal  denuncia  que  a  ques- 
tão económica  ou  falta  de  confiança  em  Deus  tivera  alguma 
parte  nesse  descaso  5.  O  assunto  chegou  a  Roma,  e  o  P.  Sal- 
meron comunica  ao  Geral  Laynes,  então  em  França,  o  pedido 
de  missionários  transmitido  por  Nadal,  e  que  se  tinha  feito 
um  apelo  aos  Provinciais  de  Itália  tí.  Mas  este  apelo  e  movi- 


3  Nomes  dos  componentes  destas  expedições,  Leite,  História  l 
560-562;  Mon.  Bras.  I  20  171  466 ;  e  infra,  does.  38  e  64. 

4  «Parece  que  aora  se  abre  más  la  puerta  para  aquel  gentio  rece- 
bir  de  veras  la  sancta  fee,  porque  se  usó  con  los  rebeldes  de  castigo, 
haziéndoles  guerra ;  con  que  se  espera  que  o  se  conviertan  o  a  lo  menos 
que  no  impidan  a  los  buenos.  Muchas  nuevas  nos  escriven  los  Padres 
que  allá  andan,  de  la  christiandad  que  se  haze»  (ARSI,  Lus.ji,  f.  iógr). 

5  «Deseo  que  aya  grande  zelo  y  buen  modo  de  acrecentar  la  Com- 
pafiía  entrando  muchos  en  ella,  maxime  vendo  que  no  pueden  ir  tantos 
a  la  índia  y  al  Brasil  que  más  no  sean  necessários;  y  que  contra  esto 
no  se  reciba  la  escusa  de  no  aver  que  darles  de  comer,  que  pues  Dios 
abre  las  puertas  dei  Evangelio  a  la  infedilidad  no  sarrará  las  dei  pan  a 
sus  ministros»  (carta  do  P.  Luís  Gonçalves  da  Câmara  ao  P.  Jerónimo 
Nadal,  Lisboa  2  de  Maio  de  1561,  ARSI,  Lus.  61,  f.  2or-20v). 

6  «Pide  así  mesmo  con  mucha  instancia  el  P.  Nadal  sugetos  para 
la  índia  y  Brasil,  y  así  se  ha  dado  orden  que  se  scriva  a  los  Provincia- 
les  de  Itália  para  que  avisen  de  la  gente  que  tienen  y  cómo  se  inclinan 


ART.  5.  -  MINISTÉRIOS  NAS  ALDEIAS  DOS  ÍNDIOS 


61* 


mento  para  enviar  missionários  ao  Brasil  não  teve  eficácia. 
A  seguir  à  referida  expedição  de  1563,  do  tempo  de  Gon- 
çalo Vaz  de  Melo,  a  que  se  lhe  seguiu  foi  em  1566,  quando 
o  Visitador  Inácio  de  Azevedo  levou  sete  companheiros, 
todos  portugueses. 

Valera  à  Província  do  Brasil,  neste  grave  hiato  de  mis- 
sionários europeus,  um  duplo  facto;  por  um  lado,  a  sólida 
formação  das  três  primeiras  expedições,  bem  continuada  e 
amparada  por  Nóbrega  no  Brasil,  e  por  outro,  a  inflexível 
preocupação  do  mesmo  Padre,  desde  a  primeira  hora,  em 
preparar,  nas  escolas  das  diversas  Capitanias,  meninos  que 
com  o  tempo  colaborassem  na  evangelização.  E  alguns 
deles,  mais  animosos  e  constantes,  já  nas  páginas  deste 
volume  se  revelam  com  excelentes  aptidões,  os  Padres 
Leonardo  do  Vale,  João  Pereira,  Simeâo  Gonçalves  e  Gas- 
par Lourenço.  E,  enquanto  assim  educava  meninos,  Nóbrega 
recebia  na  Companhia  homens  já  feitos  e  capazes,  salien- 
tando-se  entre  eles  António  Rodrigues,  que  de  soldado  no 
mundo  se  fez  «alferes  de  Cristo»,  mestre  de  meninos  e 
apóstolo  das  Aldeias. 

ARTIGO  5 

MINISTÉRIOS  NAS  ALDEIAS  DOS  ÍNDIOS 

Não  obstante  a  deficiência  de  meios  com  que  arcava 
a  Província  do  Brasil  —  e  até  em  razão  dessa  mesma  defi- 
ciência, para  estes  poucos  Padres  e  Irmãos  conseguirem 
doutrinar  o  maior  número  possível,  como  diz  Nóbrega 
(carta  13  §  31)  —  impunha-se  que  os  índios,  instáveis  e 
dispersos  pelo  mato,  se  reunissem  em  Aldeias  fixas. 

Ao  que  já  se  conhece  dos  volumes  anteriores  7,  tira-se 
dos  presentes  documentos  que  as  Aldeias  se  multiplicaram 
no  território  da  Baía  a  seguir  à  sujeição  do  gentio,  e  se 
atendia  a  que  lhes  não  faltasse  o  essencial.    Ao  menos 


a  esta  misión.  Avísenos  V.  P.  de  lo  que  en  esto  se  hará,  aviendo 
gente»  {Lainii  Mon.  vi  67). 

7    Mon.  Bras.  I  530-531 ;  II  478. 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  I.  PRELIMINARES 


aos  domingos  e  dias  santos,  nas  Aldeias,  que  não  pos- 
suíam missionário  residente,  além  da  missa,  havia  prega- 
ção na  língua  brasílica  (12  §  4);  e  entre  os  pregadores  dos 
índios  nomeiam-se  António  Rodrigues  (26  §  5;  27  §  1), 
Gaspar  Lourenço  (58  §  2)  e  João  Pereira  (58  §  21).  Ensi- 
nava-se  naquela  língua  a  doutrina  dialogada  (21  §  10; 
58  §  20),  e  aos  meninos  também  em  português  (21  §  10); 
aos  domingos  e  dias  santos  entoava-se  antes  da  missa  o 
Rosário  do  Nome  de  Jesus,  e  aos  sábados  a  Salve  em 
honra  de  Nossa  Senhora  (40  §  10). 

Nalguma  Aldeia  principal  faziam-se  com  pompa  as 
cerimónias  da  Semana  Santa  (12  §  8;  36  §  8),  a  festa  do 
Corpo  de  Deus  (12  §  8)  e  procissões  (39  §  5;  40  §§  10  14; 
58  §§  14  17  18).  Estavam  em  uso  as  disciplinas  (39  §  5). 
Durante  a  empresa  do  Rio  de  Janeiro  contra  os  Fran- 
ceses (1560)  organizavam-se  na  Baía  procissões  propicia- 
tórias semanais,  com  ladainhas  e  disciplinas  (40  §  10); 
assim  como  em  Piratininga,  durante  a  ida  contra  os 
Tamoios  e  o  assédio  da  vila  (1561-1562),  se  faziam  em 
casa  orações  e  disciplinas  (53  §  18;  74  §  5). 

As  missas  mais  solenes  eram  a  canto  de  órgão  e  mote- 
tes,  e  na  festa  de  Santiago  não  faltaram  tiros  de  espingar- 
das e  câmaras  (58  §  17).  A  cruz  dos  terreiros  das  Aldeias 
venerava-se,  como  sempre,  e  às  vezes  atingia  grandes 
dimensões.  A  do  terreiro  da  Aldeia  de  Santiago  achou 
Rui  Pereira  que  era  «a  maior  que  eu  em  minha  vida  vi» 

(4°  §  x5)- 

Para  as  novas  fundações  de  Aldeias  concorriam  às 
vezes  o  Bispo  e  o  Governador,  oferecendo  ornamentos 
(58  §  15);  e  o  mesmo  Prelado  colaborava  nalgumas  festas 
(58  §  19),  assinalando-se  em  particular  um  solene  pontifi- 
cal na  Aldeia  de  Santa  Cruz  de  Itaparica  (61  §§  11-12). 

Na  administração  dos  sacramentos,  o  baptismo  ocupava 
o  primeiro  lugar  por  ser  a  entrada  do  gentio  na  cristan- 
dade. Nas  Aldeias  da  Baía  entre  1556  e  1559  (tempo  de 
Nóbrega),  excepto  algum  caso  individual  de  índio  fervo- 
roso ou  in  extremis  de  adultos,  só  se  baptizavam  moços  das 
escolas,  meninas  da  doutrina  e  lactantes  (40  §§  7  e  13); 


ART.  4.  -  MINIST.  COM  OS  MOR AD.  DA  BAÍA  E  CAP1T.  63* 


depois,  com  a  maior  segurança  da  terra,  iniciou-se,  sobre- 
tudo com  o  P.Luís  da  Grã,  o  período  dos  grandes  baptis- 
mos em  série  (56  §  7;  58  §§  6-8  13  16  17;  61  §  10;  66 
§§  4  14-17  31-32).  Tais  baptismos  acompanhavam-se  geral- 
mente de  casamentos  também  em  série,  quer  ainda  na 
lei  da  natureza  (para  os  não  baptizados)  quer  já  na  lei 
da  graça  (sacramento)  para  os  que  recebiam  o  baptismo 
(21  §  14;  39  §  3;  40  §  10;  61  §  11 ;  66  §§  4  14-17). 

Os  índios  cristãos  coníessavam-se  e  alguns  comunga- 
vam (36  §  8;  40  §  10;  53  §§  5  7  8;  61  §  17;  72  §  1; 
74  §§  11-13).  Costume  singular  era  o  de  confessar  os 
índios  antes  de  receberem  o  baptismo  (58  §§  4-5).  Como 
ainda  não  eram  cristãos,  a  confissão  não  tinha  carácter 
sacramental,  nem  se  dava  a  absolvição.  Pia  prática.  Expli- 
ca-a  o  P.  Leonardo  do  Vale,  a  quem  o  Provincial  Luís  da 
Grã  mandou  (e  a  outros  Padres  conhecedores  da  língua 
tupi)  «confessar  os  que  se  avião  de  bautisar  ao  outro  dia. 
A  qual  confissão,  como  já  saberão,  não  é  mais  que  para 
lhes  fazer  detestar  a  vida  passada  e  conhecer  a  que  que- 
rem tomar»  (61  §  9). 

Parte  dos  trabalhos  com  os  índios  se  consagrava  a 
curar  os  doentes  e  a  assistir  aos  moribundos  (36  §  2-3; 
58  §  5;  61  §  17;  66  §§  24  34;  74  §  1);  e,  se  o  catequista  já 
era  Padre,  ministrava-se  a  santa-unção  (53  §  6). 

Blázquez,  escrevendo  por  comissão  de  Nóbrega,  resume 
assim  estes  trabalhos  apostólicos  da  Companhia:  os  Padres 
e  Irmãos  eram  para  com  os  índios,  «aios,  pais,  médicos  e 
enfermeiros»  (21  §  2). 

ARTIGO  4 

MINISTÉRIOS  COM  OS  MORADORES 
DA  BAÍA  E  CAPITANIAS 

Com  os  moradores,  a  actividade  da  Companhia  neste 
período  era  de  menor  intensidade  do  que  com  os  índios. 
O  culto  na  Igreja  do  Colégio  da  Baía  não  revestia  ainda  o 
esplendor  que  mais  tarde  o  caracterizou,  mas  o  monumento 
de  Quinta-Feira  Santa  ao  Santíssimo  Sacramento  des- 


64* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  I.  PRELIMINARES 


creve-se  já  com  luxo  de  figurantes  e  pinturas,  alguma 
feita  de  propósito  pelo  P.  Manuel  Alvares  na  sua  passa- 
gem pela  Baía  (58  §§  11-12).  Não  faltavam  as  pregações  de 
Nóbrega  tanto  nesta  cidade  até  fins  de  1559,  como  depois 
na  Capitania  de  S.  Vicente,  quando  a  saúde  lho  permitia 
(12  §21;  21  §  2;  23  §  4;  62  §  3).  Também  o  P.  Luís  da 
Grã  era  pregador  incansável  (58  §§  10  12;  61  §  15;  66  §  11). 
Mencionam-se  ainda  os  Padres  Francisco  Pires  (58  §  12) 
com  fama  de  demorado  no  púlpito,  Rui  Pereira  (39  §  7; 
40  §  10),  Luís  Rodrigues  (72  §  6)  e  Brás  Lourenço,  este 
na  Capitania  do  Espírito  Santo  (65  §  2).  E  de  certo  mais 
algum  haveria,  sem  falar  nos  Padres  pregadores  dos  índios 
que  também  data  occasione  o  poderiam  ser  dos  Portugueses. 

O  Sacramento  do  baptismo  é  de  direito  paroquial,  e 
portanto,  fora  das  missões,  na  cidade  e  nas  vilas  já 
com  Paróquias  organizadas,  tocava  ao  Pároco  ou  Vigário. 
Excepto  São  Paulo  de  Piratininga,  onde  os  Padres  da  Com- 
panhia eram  pràticamente  Vigários,  o  baptismo  de  meni- 
nos brancos  ou  mestiços  só  por  excepção,  —  substituição 
de  Vigário,  como  na  Capitania  do  Espírito  Santo  (65  §  2), 
ou  caso  urgente  —  o  administrariam.  O  mesmo  sucedia 
com  o  sacramento  do  matrimónio.  Não  assim  com  os 
sacramentos  da  confissão  e  eucaristia.  O  da  confissão 
sempre  o  exercitaram  os  Padres  da  Companhia  com  a 
escravaria  dos  moradores  das  Capitanias  de  modo  estável, 
quase  ainda  como  um  complemento  de  missão  (41  §  4; 
53  §  10;  62  §  3;  74  §§  12-13).  Confessavam-se  também  os 
estudantes  (40  §  6).  E  sempre  houve  na  cidade  da  Baía  e 
nas  vilas,  entre  os  moradores,  pessoas  pias  que  se  confes- 
savam com  frequência  e  comungavam  pelas  festas  (21  §  5; 
36  §  13;  39  §  6;  53  §§  11  16  20  22;  61  §  17;  65  §  25; 
66  §§  23  28 ;  72  §  5 ;  74  §  2). 

Quanto  à  confissão  de  moradores,  a  prática  evoluiu  neste 
período.  Por  causa  da  injusta  retenção  de  índios  cativos  e 
questão  de  moralidade  pública  (mancebias),  Nóbrega  tinha 
fechado  a  porta  das  confissões  e  só  se  confessavam  com 
Padres  da  Companhia  as  mulheres,  os  meninos  e  gente 
pobre  que  não  alcançava  escravos ;  mas  os  outros  achavam 


ART.  5.  -  ESCOLAS  DE  LER,  ESCREVER  E  CANTAR  05* 

«clérigos  liberais  da  absolvição,  e  que  vivem  da  mesma 
maneira»  (12  §  21).  Depois  de  1559,  a  situação  mudou  na 
Baía  com  as  vitórias,  prestígio  e  exemplo  do  Governador 
Mem  de  Sá,  que  frequentava  os  sacramentos  na  Igreja  do 
Colégio,  e  com  o  Bispo  D.  Pedro  Leitão,  que,  se  de  longe, 
antes  de  embarcar  em  Lisboa,  temera  a  austeridade  de 
Nóbrega,  depois  já  na  Baía,  desenganado  e  conhecedor  do 
ambiente  local  e  do  embaraço  dos  escravos,  proibiu  os 
clérigos  de  confessar  os  moradores,  preferindo  confessá-los 
ele  próprio.  Além  do  Bispo,  os  moradores  procuravam  os 
Padres  da  Companhia  para  os  seus  problemas  de  cons- 
ciência; e  em  1562  muita  gente  se  confessava  e  comungava 
no  Colégio  da  Baía  (66  §  26). 

ARTIGO  5 

ESCOLAS  DE  LER,  ESCREVER  E  CANTAR 

O  movimento  iniciado  por  Nóbrega  em  1549,  de  unir  à 
catequese  a  escola  de  ler  e  escrever  português  8,  desenvol- 
vera-se  e  ampliara-se.  Exceptuando  os  órfãos,  idos  de 
Portugal,  agora  já  crescidos  e  alguns  na  Companhia,  os 
alunos  destas  primeiras  escolas  do  Brasil  eram  filhos  de 
índio  e  índia  ou  de  português  e  índia,  portanto  mestiços, 
que  no  Brasil  também  se  chamavam  mamalucos.  Mais 
numerosos  que  os  mestiços  contavam-se  ainda  então  os 
meninos  brasis.  António  Rodrigues  tomava-os  a  rol  e 
levava-os  para  a  escola  (18  §  2),  numa  como  que  antecipa- 
ção do  ensino  primário  obrigatório  moderno.  Em  Julho 
de  1559,  os  da  Aldeia  de  S.  Paulo,  na  Baía,  já  «sabem  bem 
a  doutrina  e  coisas  da  fé,  lêem  e  escrevem  ;  já  cantam  e 
ajudam  já  alguns  à  missa»  (12  §  3).  Quando  Nóbrega  nos 
começos  de  1560  partiu  da  Baía  para  S.  Vicente,  na  Aldeia 
do  Espírito  Santo  andavam  300  moços  de  escola  (39  §  2); 
e  Mem  de  Sá,  alargando  a  conta  a  outras  Aldeias  da  Baía, 


8   Ib.  I  iio-iii. 


66* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  I.  PRELIMINARES 


escreve  que  os  moços  das  escolas  eram  «360,  que  já  sabem 
ler  e  escrever»  (31  §  5).  A  estas  e  outras  escolas  se  referem 
diversas  cartas  (12  §  22 ;  13  §  34 ;  21  §  4 ;  40  §§  10  15  ;  59  §  8). 
António  Rodrigues,  como  já  tinha  feito  em  São  Paulo  de 
Piratininga,  ensinava  os  meninos  não  só  a  ler  e  a  escrever, 
mas  também  a  cantar,  e  outros  Padres  e  Irmãos,  aptos 
para  isso,  fariam  o  mesmo.  Os  meninos  cantavam  em  por- 
tuguês e  na  língua  brasílica  «cantigas  a  seu  modo»,  dando 
glória  a  Deus  (12  §  17).  Nóbrega,  ouvindo-os  entoar  o 
rosário  do  Menino  Jesus,  declara  que  «pareciam  anjos  a 
rezar  matinas»  (22  §  3)  e  o  Governador  Mem  de  Sá  muito 
se  regozijava  em  os  ouvir  cantar  (26  §  5). 

Ora  sobre  estes  meninos  tinha  Nóbrega  opinião  for- 
mada. Achava  que  tanto  os  brasis  como  os  mestiços  eram 
capazes  de  seguir  estudos,  tratando  de  que  alguns  apren- 
dessem já  gramática  ou  latim  (16  §  3;  21  §  11);  e  até  os 
achava  suficientes  para  entrar  na  Companhia  de  Jesus,  com 
a  condição  de  se  formarem  em  meio  diverso  daquele  em 
que  nasceram,  não  ainda  bastante  evoluído  para  nele  cris- 
talizarem vocações  ao  sacerdócio.  O  envio  de  meninos 
brasis  e  mestiços  a  estudar  na  Europa  (Coimbra  ou  Évora) 
parecia-lhe  exequível  e  útil  (16  §  8;  46  §  3  ;  53  §  24).  Não 
foi  secundado.  Mas  a  sua  carta  de  12  de  Junho  de  1561  é 
uma  pequena  história  das  primeiras  instituições  de  ensino 
no  Brasil  (as  Confrarias  dos  Meninos  de  Jesus  e  «Casas  de 
Rapazes»)  e  uma  verdadeira  exposição  de  motivos  a  favor 
da  educação  da  juventude,  válida  em  qualquer  tempo  na 
sua  ideia  fundamental,  a  saber,  que  pode  não  corresponder 
o  fruto  aos  esforços  dos  mestres,  mas  em  conjunto  não  se 
perde  o  tempo  com  a  educação  de  meninos,  e  sempre  se 
apura  algum  bem  para  a  humanidade  e  a  religião  (doe.  52). 
As  medidas  práticas  conducentes  a  esse  alto  fim,  propostas 
por  Nóbrega,  o  Geral  da  Companhia  de  Jesus  (Laynes)  apro- 
vou-as,  mesmo  depois  de  ele  ter  deixado  de  ser  Provincial 
(doe.  68). 


ART.  G.  -  CONTRIBUIÇÃO  ÀS  CIÊNCIAS  NATURAIS 


67* 


ARTIGO  6 

CONTRIBUIÇÃO  ÀS  CIÊNCIAS  NATURAIS 

Assim  como  aos  primeiros  Portugueses  do  Descobri- 
mento em  1500,  a  Terra  do  Brasil  também  impressionou 
vivamente  aos  Padres  da  Companhia  de  Jesus,  desde  os 
contactos  iniciais.  Logo  em  1549  dá  Nóbrega  notícias  da 
formosura  do  Brasil,  dos  animais  que  não  conheceu  Plínio, 
e  dos  montes  e  campos  que  tudo  pareciam  jardins,  com 
ervas  diferentes  das  de  Europa,  a  revelarem  a  beleza  do 
Criador  na  variedade  e  beleza  das  criaturas  9.  Noutros 
escritos  seus,  fala,  aqui  e  além,  de  coisas  concretas:  man- 
dioca, milho,  tabaco,  conservas  e  marmeladas  de  ananás, 
ibás  e  araçás ;  do  peixe  boi,  do  piraiqué,  das  formigas. 
E  do  mesmo  modo,  outros  Padres  e  Irmãos  tratam  o  Brasil 
—  algum  o  considera  o  «paraíso  terreal»  (40  §  12) —  e  se 
referem  a  coisas  naturais,  quando  de  passo  lhes  vêm  ao 
sabor  da  narrativa. 

Estas  novidades  das  terras  novamente  descobertas  por 
Portugueses  e  Espanhóis,  caminho  do  Oriente  e  do  Oci- 
dente, enchiam  de  admiração  e  curiosidade  os  países  da 
Europa  e  chegaram  também  à  cúria  generalícia.  Uma  carta 
de  Roma  a  Nóbrega  manifesta  esse  espírito  e  convida  a 
que  se  escrevam  notícias  circunstanciadas  deste  género10. 
Ocupado  com  a  direcção  superior  da  Companhia  no  Brasil, 
Nóbrega  incumbiu  os  Irmãos  de  redigir  as  cartas  de  notí- 
cias e  edificação ;  e  na  Capitania  de  S.  Vicente,  o  encarre- 
gado foi  o  Ir.  José  de  Anchieta11.  Assim,  em  1560,  dois 
meses  depois  de  Nóbrega  voltar  da  Baía,  data  Anchieta  a 
carta  do  último  de  Maio  sobre  as  coisas  dessa  Capitania 
de  S.  Vicente  dignas  de  admiração  ou  desconhecidas  na 
Europa  (34  §  1). 


9   Ib.  1  135-136. 

10  Ib.  1  520 

11  Ib.  11  295-296. 


68* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  I.  PRELIMINARES 


Na  carta,  alude  o  autor  a  uns  animais,  vistos  pelo 
Ir.  António  Rodrigues  e  de  que  falavam  as  «crónicas  do 
Peru  que  correm  em  espanhol»  (§  18).  Eram  as  lamas  (ou 
lhamas);  e  sabe-se  que  Fernández  de  Oviedo,  cuja  Historia 
Natural  se  imprimiu  a  primeira  vez  em  1535,  já  se  refere 
a  elas.  Não  se  tira  a  limpo  da  carta  do  Ir.  José  de  Anchieta 
se  se  trata  de  pura  informação  oral  do  Ir.  António  Rodri- 
gues ou  se  haveria  no  Colégio  de  S.  Vicente  algum  exem- 
plar desse  ou  outro  livro  anteriormente  impresso  sobre 
assuntos  da  América  Espanhola,  onde  a  colonização  prin- 
cipiou antes  da  da  América  Portuguesa.  Esta  alusão  às 
lamas,  que  faz  nomear  aqui  Fernández  de  Oviedo,  leva  por 
conexão  de  história  comparada  ao  nome  de  Garcia  de  Orta, 
que  por  esse  tempo  escrevia  na  índia  o  livro  «Colóquios 
dos  Simples  e  Drogas»,  impresso  em  Goa  em  1563 12.  Em 
relação  a  estes  autores  (um  anterior,  outro  contemporâ- 
neo, sem  falar  dos  que  se  seguiram  no  Brasil),  a  carta  de 
Anchieta  é  contribuição  mais  modesta  no  volume  e  na 
importância  intrínseca.  Não  obstante,  possui  merecimento 
próprio,  valioso,  porque  além  do  elegante  latim  de  bom 
gramático,  denuncia  já  uma  intenção  de  conjunto  e  é  o 
primeiro  documento  elaborado  de  propósito  no  Brasil  sobre 
coisas  naturais. 

ARTIGO  7 

CONTRIBUIÇÃO  ETNOLÓGICA 

Sobre  os  usos  e  costumes  dos  índios  encontram-se  neste 
volume  variadas  notícias,  mas  em  geral  sumárias  e  de  passo. 
Entre  outras :  o  feiticeiro  que  tira  a  palha  ao  doente  (12  §  20); 
«chupar»  (58  §  9);  feitiçarias  e  laços  para  prender  a  morte 
(12  §  20);  beber,  prantear  e  fazer  coroa  (15  §  3);  o  «pranto» 
das  mulheres  (40  §  14);  redes  de  dormir  e  canas  de  pescar 
(18  §  1);  talhas  de  vinho  (20  §  2);  regime  familiar  (39  §  3), 
«sobrinhas  que  [os  índios]  herdam  como  verdadeiras  mulhe- 


12  Inocêncio,  Dic.  Bibi.  m  116-117. 


ART.  8  -  OBSERVÂNCIA  RKGULAR  E  SUBSIST.  MATERIAIS 


69* 


res»  (61  §  8) ;  enfeites  de  plumas  e  maracás  (21  §  17 ;  34  §  22; 
59  §  12);  «contas  e  galantarias  de  pena  de  diversas  cores  e 
lavores»  (66  §  5) ;  tamboris  (61  §  9)  danças  e  tangeres  (61  §  6), 
tangeres  e  atabales  (66  §  5).  Os  índios  mantêm-se  do  que 
pescam  dia  a  dia  (40  §  10) ;  «Têm  guerrear  pela  melhor 
vida  e  passatempos  que  há»  (66  §  9);  cercas  (27  §  2);  estre- 
pes no  caminho  (40  §  14) ;  o  «senhor  da  fala»  (58  §  9) ;  ausên- 
cia de  deformidade,  por  enterrarem  vivos  ao  nascer  os  filhos 
defeituosos  (34  §  28;  cf.  5  §  4). 

Com  mais  algum  desenvolvimento:  uma  notícia  de  José 
de  Anchieta  sobre  espectros  e  demónios  com  a  primeira 
menção  da  palavra  «curupira»  (34  §  27);  e  outra  notícia  de 
Leonardo  do  Vale,  descrevendo  em  pormenor  as  pazes  entre 
dois  índios  principais,  contrários,  nos  sertões  baianos  (66  §  9), 
página  esta  talvez  única,  segundo  Afrânio  Peixoto,  na  lite- 
ratura colonial13. 

ARTIGO  8 

OBSERVÂNCIA  REGULAR  E  SUBSISTÊNCIAS  MATERIAIS 

Tirando  algum  caso  particular,  em  que  se  deviam  dis- 
pensar as  regras,  como  o  de  Rodrigo  de  Freitas  residir  na 
casa  da  Baía  a  tomar  conta  dos  meninos,  enquanto  ele 
mesmo  não  se  desembaraçava  dos  seus  negócios  para  entrar 
na  Companhia  de  Jesus  (uma  espécie  já  do  «postulantado» 
moderno),  escreve  o  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  Geral  Laynes*. 
«Eu  não  sinto  coisa  em  que  as  regras  e  Constituições  de 
lá  não  se  guardem  também  cá»  (16  §  6).  E  guardavam-se ". 
«quanto  ao  espiritual  da  Casa,  procede-se  conforme  as 
regras.  Não  faltam  as  ajudas  dos  capelos  e  outras  peni- 
tências quando  convém»  (40  §  5).  No  meio  dos  trabalhos, 
não  se  esquecia  o  exercício  da  oração,  e  Nóbrega  mandou 
fazer  em  Piratininga  (1561)  uma  pequena  casa  para  Exercí- 
cios Espirituais,  a  fim  de  os  Irmãos,  vez  à  vez,  se  recolhe- 
rem e  renovarem  em  espírito  e  fervor  (53  §  23). 


13    Cartas  Avulsas  371. 


70* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  I.  PRELIMINARES 


Fora  das  coisas  espirituais  e  ministérios  próprios  do 
sacerdócio,  ensino  ou  catequese,  os  Padres  e  Irmãos  ocupa- 
vam-se  em  trabalhos  manuais,  como  fazer  rosários,  sapa- 
tos, alpergatas,  curar  e  sangrar  doentes,  construir  casas  e 
outros  objectos  de  barro  (36  §§  9-10). 

Tais  ocupações  envolviam  uma  intenção  ascética  (para 
não  entrar  em  casa  a  ociosidade),  mas  concomitantemente 
outra  de  utilidade  material;  e  tratava-se  de  assegurar  não 
só  o  presente  da  Companhia,  mas  também  o  futuro  dela, 
de  acordo  com  a  grandeza  e  crescimento  do  Brasil.  Era  o 
assunto  das  subsistências  para  a  construção  e  mantença 
dos  futuros  Colégios,  Igrejas  e  Casas,  de  que  Nóbrega  dis- 
sera que  haviam  de  ser  «para  enquanto  o  mundo  durar»  u. 
Tudo  dependia  dos  Reis  de  Portugal  e  dos  Governadores  e 
Capitães-mores  do  Brasil.  Nóbrega  sugeriu  que  o  melhor 
dote  para  colégios  seria  em  gado,  pelo  que  produz,  carne, 
coiros,  lacticínios  (doe.  49) ;  envia  conservas  para  Portugal 
(doe.  50)  e  pede  terras  (doe.  51).  Neste  período  recebeu  a 
Companhia  no  Brasil,  a  sesmaria  de  Jaraibatiba  para  o 
Colégio  de  São  Paulo  (does.  33  e  37)  e  a  sesmaria  do  Camamu, 
doação  pessoal  do  Governador  Mem  de  Sá  (doe.  71).  E  ainda 
uma  sesmaria  para  os  índios  da  Aldeia  do  Espírito  Santo 
do  Colégio  da  Baía  (doe.  67). 

Da  corte  de  Lisboa  mandaram-se  objectos  de  culto, 
incluindo  retábulos,  ornamentos,  18  cálices  de  prata,  vinho 
e  farinha  para  missas,  azeite  para  a  lâmpada,  pano  da  índia 
para  vestidos,  camas  completas  com  todos  os  acessórios, 
escudelas  de  estanho,  três  dúzias  de  pratos,  panelas  de 
cobre  e  ainda  vários  objectos,  sem  esquecer  especiaria  e 
«algum  dinheiro  pera  outras  miudezas»  (does.  25-69). 

O  subsídio  régio,  que  até  1559  se  dava  para  28  religio- 
sos da  Companhia,  passou  a  ser  para  36  pessoas,  a  título 
de  esmola,  enquanto  se  não  procedia  à  fundação  e  dotação 
estável  de  Colégios  (doe.  24).  Estes  pensava-se  então  em 
Lisboa  que  seriam  quatro:  na  Baía,  em  Ilhéus,  em  Per- 


14    Mon.  Bras.  1  402. 


ART.  9.  -  MUDANÇA  DO  GOVERNO  PROVINCIAL 


nambuco  e  outro  na  Capitania  de  S.  Vicente  (6o  §  2). 
E  todos,  excepto  o  de  Ilhéus  por  a  Capitania  não  prospe- 
rar, se  fundaram  depois;  mas  o  Colégio  da  Capitania  de 
S.  Vicente  veio  a  ser  no  Rio  de  Janeiro,  com  a  fundação  aí 
da  Cidade  de  S.  Sebastião,  a  qual,  pelo  facto  mesmo  de  ser 
cidade,  prevaleceu  a  todas  as  mais  vilas  do  Sul. 

ARTIGO  9 

MUDANÇA  DO  GOVERNO  PROVINCIAL 

Pertence  a  este  período  a  mudança  do  Provincial,  que 
foi  sempre  Nóbrega  até  1560,  ano  em  que  lhe  sucedeu  o 
P.  Luís  da  Grã.  Fez  a  mudança  o  P.  Miguel  de  Torres, 
Provincial  de  Portugal,  ordenando-a  em  1559  (doe.  9),  sem 
prévia  consulta  do  P.  Diego  Laynes,  que,  ao  ser  eleito 
2.0  Geral  da  Companhia  de  Jesus  em  1558,  confirmara  a 
Nóbrega  no  cargo  para  que  tinha  sido  nomeado  por  S.  Iná- 
cio. O  Padre  Geral  estranhou  o  procedimento  do  P.  Tor- 
res, sanou  enfim  o  caso,  mas  definiu  que,  como  quer  que 
fosse  do  passado,  para  o  futuro  a  mudança  de  Provinciais 
tocava  a  Roma  (doe.  14).  E  pode  dizer-se  que  para  Laynes, 
Nóbrega  continuou  a  ser,  se  não  o  Provincial  de  iure,  ao 
menos  o  Padre  de  maior  consideração  no  Brasil,  como  se 
vê  da  carta  do  mesmo  Padre  Geral  a  Nóbrega,  de  16  de 
Dezembro  de  1562,  em  que  aprova  a  sua  orientação  e  as 
suas  propostas  (doe.  68). 

Sobre  esta  mudança  versam  algumas  cartas  (doe.  789 
10  14),  e  infere-se  delas  que  mais  que  o  motivo  de  saúde, 
verdadeiro,  a  mudança  foi  consequência  de  uma  campanha 
organizada  na  Baía  por  clérigos  e  moradores,  contra  o  Pro- 
vincial, director  espiritual  do  grande  Governador  Mem  de 
Sá,  contra  a  sua  recíproca  amizade  e  mútua  colaboração. 
A  campanha  tendia  a  separá-los  com  o  afastamento  de 
Nóbrega  da  Baía.  A  raiz  do  caso  era  a  defesa  dos  índios, 
o  seu  aldeamento  e  liberdade,  as  suas  terras,  que  os  mora- 
dores cobiçavam,  a  repartição  dos  índios  que  Mem  de  Sá 


72* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  I.  PRELIMINARES 


negara,  e  que  todos  atribuíam  com  razão  à  direcção  espi- 
ritual do  Provincial  da  Companhia  ',  e  ainda  a  herança  do 
Caramuru  ao  Colégio  da  Baía,  que  o  cabido  levou  a  mal. 
Clérigos  e  moradores  queixavam-se  de  Mem  de  Sá,  dando 
a  Nóbrega  como  seu  «conselheiro». 

Nóbrega  escreveu  duas  respostas  indirectas,  datando-as 
ambas  do  mesmo  dia  5  de  Julho  de  1559,  uma  carta  ao 
P.  Torres  e  Padres  e  Irmãos  de  Portugal,  em  que  expõe  o 
apostolado  da  Companhia,  o  estado  moral  da  terra,  e  a 
pouca  ajuda  ou  mesmo  oposição  dos  clérigos  (doe.  12);  e 
outra  ao  antigo  Governador  do  Brasil  Tomé  de  Sousa,  em 
que  se  refere  sobretudo  ao  estado  social  e  político  da  terra, 
à  profícua  actividade  de  Mem  de  Sá  e  aos  «murmuradores» 
contra  o  Governador  e  contra  os  Padres  da  Companhia,  por 
defenderem  os  índios  e  o  saneamento  dos  costumes  priva- 
dos e  públicos  (doe.  13). 

Ao  P.  Diego  Laynes,  em  carta  de  30  de  Julho  do  mesmo 
ano,  Nóbrega  regozija-se  com  a  sua  eleição  para  Geral,  mas 
quanto  a  continuar  no  ofício  de  Provincial  já  lhe  deram 
sucessor.  Fala  dessa  mudança  com  ânimo  agradecido  e 
humildade  de  santo  (16  §  2).  E  continua,  no  resto  da  carta, 
a  expor  e  defender  as  coisas  do  Brasil  com  a  mesma  sere- 
nidade e  bom  senso,  como  se  nada  se  tivesse  passado. 

Do  teor  das  cartas  do  P.  Miguel  de  Torres,  parece 
insinuar-se  que  o  Provincial  do  Brasil  deveria  ter  culti- 
vado a  amizade  dos  cónegos  da  Baía,  sem  se  preocupar 
com  terras  para  os  índios  da  catequese,  nem  com  frades 
egressos  ou  exclaustrados  que  aprovavam  a  antropofagia, 
nem  se  meter  directamente  em  nada  no  foro  externo,  dei- 
xando as  coisas  locais  correrem  o  seu  próprio  curso.  Donde 
parece  deduzir-se  que  Torres  não  conhecia  bem  nem  o 
ambiente  da  Baía,  nem  o  Padre  Nóbrega.  Os  clérigos  não 
eram  o  que  se  representava  em  Lisboa,  e  o  mesmo  Bispo, 
algum  tempo  depois,  já  conhecedor  do  ambiente  e  desen- 
ganado, proibiu-os  de  confessar  aos  moradores  (44  §§  3-4). 
E  se  o  Provincial  do  Brasil  tivesse  buscado  a  amizade  dos 
clérigos  e  do  cabido,  tais  como  então  eram,  retraindo-se  e 
nivelando-se  com  eles,  teria  deixado  de  ser  o  Nóbrega  do 


ART.  9.  -  MUDANÇA  DO  GOVERNO  PROVINCIAL 


73* 


Brasil,  «nossa  empresa»  15.  Ele  possuía  visão  mais  ampla  e 
intrépida,  movendo-se  pelos  cimos.  E  nisto  não  se  afastou 
da  regra  de  S.  Ignácio.  Entre  outras  muitas,  cultivou  as 
amizades  «dos  que  mais  podiam  ajudar  ou  obstar  ao  bem 
das  almas»,  como  foram,  pelo  seu  prestígio  local,  os  dois 
patriarcas  da  colonização  no  Brasil,  o  Caramuru  na  Baía,  e 
João  Ramalho  em  S.  Vicente;  e  pelas  suas  posições  de 
ofício,  os  Governadores  e  os  Capitães-mores,  sobretudo  o 
Rei  de  Portugal  e  o  Cardeal  Infante.  A  este  tempo 
D.  João  III  já  era  falecido;  mas  o  Cardeal,  que  tinha  a 
seu  particular  cuidado  as  missões  ultramarinas,  em  vez  de 
dar  ouvidos  ao  que  se  lê  nas  cartas  de  Miguel  de  Torres, 
também  tomou  a  Nóbrega  como  conselheiro,  mandando-lhe, 
neste  mesmo  ano  de  1559,  que  o  avisasse  das  coisas  do 
Brasil.  O  que  ele  fez,  humilde  e  firme,  na  carta  de  1  de 
Junho  de  1560  (doe.  35),  com  pleno  conhecimento  de  causa, 
pois  as  mais  das  coisas  «lhe  passavam  pela  mão»  para  as 
remediar  {ib.  §  10).  E  fê-lo  com  êxito,  porque  não  faltou  o 
auxílio  às  missões,  e  chegou  em  bom  tempo  o  socorro 
pedido  para  a  fundação  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro.  De 
maneira  que  o  próprio  êxito  da  evangelização  e  da  política 
religiosa  (religiosa  e  geral)  do  primeiro  Provincial  da  Com- 
panhia de  Jesus  no  Brasil  parece  patentear  por  si  só  que 
os  seus  métodos  se  adequavam  ao  meio  ambiente  e  consti- 
tuíram uma  bênção  para  o  Brasil.  O  que  aliás  é  a  opinião 
unânime  dos  historiadores  brasileiros  16.   Também  pouco 


15  Ib.  I  125;  Breve  Itinerário  57. 

16  Leite,  História  11  (1938)  469-470;  ix  (1949)  430-433;  e  mais 
modernamente:  «A  figura  do  Padre  Manuel  da  Nóbrega  (1517-1570)  é 
a  mais  importante  da  história  da  Companhia  de  Jesus  no  Brasil,  desde 
a  chegada  com  o  primeiro  Governador,  Tomé  de  Sousa,  em  1549,  até  à 
sua  morte,  no  Colégio  do  Rio  de  Janeiro,  cidade  que,  como  as  do  Sal- 
vador e  São  Paulo,  ele  ajudou  a  fundar,  no  último  caso  cabendo-lhe  a 
própria  iniciativa  do  ato»  (Hélio  Vianna,  in  Revista  de  História  de  Amé- 
rica 42  [México  1956]  556).  «Nóbrega  fué  el  sembrador  incomparable 
de  este  nuevo  fruto  de  la  civilización  europea.  Fué  él  quien  dirigió 
con  mucha  pasión  y  mucho  ceio  los  primeros  pasos  dei  camino  dei 
Brasil»  (José  Honório  Rodrigues,  Historiografia  dei  Brasil  [1957]  27). 

6* 


74* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  I.  PRELIMINARES 


depois,  o  mesmo  P.  Torres  mudava  de  parecer:  Nóbrega  já 
podia  íicar  na  Baía  (30  §  4).  Felizmente,  a  comunicação  dessa 
mudança  de  parecer  ou  não  atravessou  o  mar  ou  não  chegou 
ao  Brasil  antes  de  Nóbrega  e  o  Governador  já  irem  a  cami- 
nho de  S.  Vicente  17. 

artigo  10 

RESULTADOS  DO  PLANO  CIVILIZADOR  DE  1558 

O  plano  civilizador  de  Nóbrega  de  1558  18  aparece  neste 
volume  em  plena  execução  com  a  enérgica  e  fervorosa 
colaboração  de  Mem  de  Sá. 

Por  um  lado,  a  interdição  das  guerras  intertribais  e  as 
consequentes  matanças  dos  cativos  em  terreiro,  proibidas 
com  pulso  firme,  tirou  aos  moradores  a  ocasião  do  resgate 
de  peças  (escravos).  Os  moradores  buscariam  outros  meios 
para  a  obtenção  de  mão  de  obra  e  de  escravos  (doe.  61  §  3), 
e  Nóbrega  não  deixará  de  os  profligar  e  condenar  no  famoso 
«Caso  de  Consciência»  de  1567  19 ;  mas  aquela  cruel  ocasião 
deixou  de  existir  na  Baía. 

Por  outro  lado,  as  guerras  vitoriosas  dos  Ilhéus  e  do 
Paraguaçu  criaram  as  indispensáveis  condições  de  psico- 
logia e  segurança  para  se  intensificar  o  aldeamento  dos 
índios,  primeiro  com  a  ponderação  de  Nóbrega,  prosseguido 
logo  com  ardor  pelo  Provincial  seguinte  Luís  da  Grã,  num 
ritmo  acelerado,  que  não  era  possível  sustentar,  e  depois 
se  moderaria  20.  Assinala-se  nesse  movimento  o  Irmão  (e 
logo  Padre)  António  Rodrigues,  que  por  ser  «lingoa  e  muy 
fervente  obreiro,  vai  sempre  adiante  a  esmoutar  a  terra» 
(12  §  14);  e  os  próprios  índios  aldeados  e  da  catequese 
já  cooperavam  com  os  Portugueses  na  sujeição  do  demais 
gentio  (12  §  10;  does.  26  27  28),  integrando-se  assim  pouco 
a  pouco  no  Estado  do  Brasil,  sob  uma  autoridade  superior 


17  Cf.  Leite,  Breve  Itinerário  155. 

18  Mon.  Br  as.  11  54*  450. 

19  Cartas  de  Nóbrega  (1955)  407  429. 

20  Leite,  História  11  59. 


ART.  10.  -  RESULTADOS  DO  PLANO  CIVILIZADOR 


75* 


unitiva.  Integração  lenta,  para  dar  tempo  a  sairem  da 
infância  da  civilização,  em  que  se  encontravam,  e  a  educa- 
rem-se  cristãmente  (a  esperança  estava  nos  meninos),  apren- 
dendo a  vida  política  do  Ocidente,  com  os  seus  meirinhos 
índios  para  castigar  pequenos  delitos  (por  isso,  com  tronco 
e  pelourinho),  num  natural  regime  ainda  de  menoridade  21, 
sob  a  orientação  tutelar  e  atenuante  dos  Padres  da  Com- 
panhia (12  §§  4-5 ;  13  §  38 ;  31  §  9 ;  65  §  10 ;  66  §  10).  Tam- 
bém serviam  para  fazer  voltar  os  meninos  à  escola,  se  algum 
faltava;  mas  era  já  raro.  Os  Padres  ensinaram-lhes  os 
jogos  usados  pelos  meninos  de  Portugal,  e  os  brasis  fol- 
gavam tanto  com  eles  como  se  toda  a  vida  se  criaram 
nisso  (40  §  11). 

Os  índios  começaram  a  aprender  ofícios,  eles  tecelões, 
elas  alfaiatas  (65  §§  9  12)  e  também  a  fiar  para  andarem 
cobertas,  e  muitas  já  se  vestiam  (40  §  10).  Sobre  um  rio, 
que  costumavam  passar  em  jangadas,  lançaram  os  índios 
uma  ponte  bem  comprida  (41  §6);  e,  para  morar  estàvel- 
mente,  principiaram  a  construir  casas  de  taipa  ao  modo  dos 
Portugueses  (21  §  17),  com  quem  já  se  incorporavam,  pios  e 
quietos,  nas  procissões  e  solenidades  religiosas  (12  §§  7-8). 
E  uns  e  outros  confraternizavam  em  festas  e  banquetes, 
algumas  vezes  oferecidos  pelos  próprios  índios,  onde  nem 
sequer  já  faltava  a  sua  «prosa»  bilingue  (21  §§  14-15). 

Sobre  este  árduo  e  meritório  trabalho  de  catequese, 
aldeamento  e  civilização,  além  da  carta  de  Nóbrega  aos 
Padres  de  Portugal  (doe.  12),  versam  outras  numerosas, 
em  particular  as  de  António  Rodrigues  (does.  17  18  19  20 
26  55  56),  António  Blázquez  (does.  21  22  23  58),  João  de 
Melo  (doe.  39),  Rui  Pereira  (doe.  40),  António  Pires  (doe.  41), 
Luís  Rodrigues  (doe.  72)  e  Leonardo  do  Vale  (does.  6j  66). 

Embora  em  menor  escala,  também  se  trabalhava  com 
íruto  na  Capitania  do  Espírito  Santo  (does.  5  11  65).  Na  de 
S.  Vicente  é  que  o  ritmo  foi  desigual,  a  catequese  estacio- 
nara e  mesmo  recuara  em  relação  a  1556  quando  Nóbrega 


21   Leite,  História  n  82;  Mon.  Bras.  11  467. 


76* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  I.  PRELIMINARES 


a  deixou.  Os  índios  desinquietaram-se,  quase  desampa- 
raram a  Aldeia  de  São  Paulo  de  Piratininga,  persistiam  as 
guerras  intertribais,  e,  com  raras  excepções,  ainda  mata- 
vam cativos  em  terreiro  que  davam  a  comer  aos  parentes 
(36  §§2  15;  53  §  3).  Para  eles  ainda  não  chegara  o  momento 
de  se  incorporarem  à  civilização  e  Estado  do  Brasil;  mas 
agora  a  solução  ia  já  a  caminho. 

A  partida  de  Nóbrega,  da  Baía  para  o  Sul,  com  o  Gover- 
nador Mem  de  Sá,  em  Janeiro  de  1560,  iria  dar  princípio  a 
outra  obra  não  só  tão  necessária  como  a  da  sujeição  do 
gentio  da  Baía,  mas  ainda  mais  urgente  e  de  mais  relevan- 
tes consequências  futuras,  servindo  a  unidade  da  fé,  como 
base  ou  argumento  para  a  unidade  política  (o  mesmo  espí- 
rito renasceria  mais  tarde  em  Pernambuco  no  tempo  dos 
holandeses).  A  reunificação  territorial  do  Brasil  iniciar- 
-se-ia  agora,  tomando  Mem  de  Sá  o  Forte  Coligny,  de 
calvinistas  franceses,  no  Rio  de  Janeiro  (does.  31  35);  e 
logo  a  seguir  se  procederia  à  consolidação  de  São  Paulo 
com  a  mudança  da  Vila  de  S.  André  para  Piratininga,  acto 
já  preconizado  pelo  Padre  fundador,  na  sua  carta  de  2  de 
Setembro  de  1557  22.  A  mudança,  sob  a  autoridade  legal 
do  Governador,  ainda  nesse  ano  de  1560  se  operou  (48  §  6; 
53  §  11).  Mudaram-se  os  moradores  de  S.  André,  trans- 
plantou-se  o  regime  municipal  e  extinguiu-se  aquela  povoa- 
ção. A  povoação  de  Piratininga  (a  povoação  nova,  mandada 
fazer  por  Nóbrega  em  1553)  essa  continuou  a  existir,  até 
hoje.  Com  uma  diferença:  antes,  a  povoação  era  parte 
dum  município,  com  sede  distinta;  daí  em  diante  passou 
a  ser  a  própria  cabeça  do  município.  Por  outros  termos, 
em  1560,  São  Paulo  de  Piratininga  deixou  de  ser  Aldeia 
de  índios  para  se  constituir  Vila  de  Portugueses.  E  nessa 
qualidade,  já  teve  parte  principal  na  guerra  aos  índios  con- 
trários mancomunados  com  os  Franceses  intrusos  (48  §  7;  53 
§§  I3"I9)»  e  já  também  pôde,  com  a  fidelidade  dos  índios 
amigos,  sobreviver  em  1562  a  um  violento  ataque  doutros 


22    Mon.  Bras.  II  415. 


ART.  10.  -  RESULTADOS  DO  PLANO  CIVILIZADOR 


77* 


índios  dissidentes  (74  §§  3-6).  Com  isto,  medidas  as  forças 
e  fortificada  a  Vila  de  São  Paulo,  cessara  a  Capitania  de 
S.  Vicente  de  viver  «à  mercê  dos  índios»  (13  §  54);  e,  asse- 
gurada a  rectaguarda,  os  olhos  já  se  podiam  voltar  mais 
confiantes  para  as  bandas  ainda  adversas  de  Iperoig  e  da 
Guanabara,  problema  em  que  Nóbrega  já  pensava  desde  1561 
(74  §  16).  Eram  os  pródromos  da  fundação  da  Cidade  do 
Rio  de  Janeiro.  E  assim,  sem  forçar  muito  os  passos,  con- 
jugados os  esforços  de  todas  as  forças  construtivas,  num 
evidente  sentido  de  unidade,  segurança  e  previsão,  se  iam 
organizando  os  bastiões  do  Brasil. 

Pertence  também  a  este  período  a  volta  da  Companhia 
de  Jesus  a  Pernambuco. 

CAPÍTULO  II 

AUTORES  DAS  CARTAS 

Como  nos  dois  volumes  precedentes,  também  as  cartas 
deste  se  escreveram  umas  na  Europa,  outras  no  Brasil;  e 
alguns  autores  delas  permanecem  os  mesmos,  outros  sur- 
gem pela  primeira  vez. 

Na  Europa,  da  Companhia:  Padres  Diego  Laynes,  Geral; 
Juan  Alfonso  de  Polanco,  Secretário ;  Luís  Gonçalves  da 
Câmara,  Assistente  em  Roma  e  logo  depois  Mestre  do  Rei 
D.  Sebastião;  Miguel  de  Torres  e  Gonçalo  Vaz  de  Melo, 
Provinciais  de  Portugal;  Francisco  Henriques,  Procurador 
do  Brasil  em  Lisboa",  Irmão  Cipriano  do  Brasil,  primeiro 
Jesuíta  nascido  na  América. 

No  Brasil,  da  Companhia:  Padres  Manuel  da  Nóbrega, 
fundador  da  Província  do  Brasil;  Luís  da  Grã,  2.0  Provin- 
cial do  Brasil;  António  Pires,  Vice-Provincial ;  Francisco 
Pires,  fundador  da  Igreja  da  Ajuda  (Porto  Seguro);  Brás 
Lourenço,  Superior  do  Espírito  Santo;  António  Rodrigues, 
Primeiro  Mestre-Escola  de  São  Paulo;  António  Blázquez, 
epistológrafo  e  Mestre  de  Meninos;  João  de  Melo,  Reitor 
do  Colégio  da  Baía;  Leonardo  do  Vale,  Mestre  da  Língua 


78* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  II.  AUTORES  DAS  CARTAS 


Brasílica ;  Manuel  Álvares,  pintor ;  Rui  Pereira,  pregador ; 
Luís  Rodrigues,  Missionário  dos  índios;  Irmãos  (depois 
Padres)  José  de  Anchieta,  5.0  Provincial  do  Brasil,  e  Antó- 
nio de  Sá,  Missionário  dos  índios.  De  fora  da  Companhia: 
o  Governador  Mem  de  Sá. 

Há  ainda  algumas  Cartas  Régias  (reinado  de  D.  Sebas- 
tião), Faculdades  Pontifícias  do  Papa  Pio  IV,  excertos  de 
Quadrimestres  da  Casa  de  S.  Roque  (Lisboa)  e  uma  lista 
de  objectos  de  culto  e  outros  utensílios  remetidos  de  Por- 
tugal para  o  Brasil ;  carta  da  Câmara  de  São  Paulo  à  Rainha- 
-Regente  (D.  Catarina),  sesmarias  de  São  Paulo  e  da  Aldeia 
do  Espírito  Santo  (Baía),  doação  do  Camamu,  declarações 
de  Padres  e  Irmãos  da  Companhia  no  processo  de  João  de 
Bolés,  e  Catálogo  da  Província  do  Brasil  em  1562. 

A)   Na  Europa 
artigo  l 

P.  DIEGO  LAYNES,  2.°  GERAL  DA  COMPANHIA  DE  JESUS 

Nasceu  em  Almazán,  Província  de  Sória  em  1512.  Filho 
de  Juan  Laynes  e  Isabel  Gomez  de  Leon.  Mestre  em  Artes 
pela  Universidade  de  Alcalá  (Outubro  de  1532).  Pouco 
depois  foi  estudar  Teologia  na  Universidade  de  Paris,  onde 
conheceu  Inácio  de  Loyola,  Simão  Rodrigues  e  os  mais  com- 
panheiros; e  com  estes  saiu  em  1536  para  Veneza,  onde  se 
ordenou  de  sacerdote  a  24  de  Junho  de  1537.  Falecendo 
S.  Inácio  no  fim  de  Julho  de  1556,  poucos  dias  depois  Lay- 
nes foi  eleito  Vigário  Geral,  e  a  2  de  Julho  de  1558  Prepó- 
sito  Geral  da  Companhia,  governando  até  à  morte,  a  19  de 
Janeiro  de  1565. 

Esteve  três  vezes  no  Concílio  de  Trento,  como  Teólogo 
do  Papa  (Papas  Paulo  III,  Júlio  III  e  Pio  IV),  sumamente 
ouvido  e  acatado  por  todos  os  Padres  do  Concílio.  Recusou 
com  firmeza  o  chapéu  cardinalício  e  deu  provas  não  ape- 
nas de  grande  talento,  mas  também  de  critério  recto,  juízo 


ART.  4.  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES,  PROV.  DE  PORTUGAL  79* 


penetrante  e  vida  exemplar.  Durante  o  seu  governo  se 
ampliou  e  progrediu  extraordinàriamente  a  Companhia  l. 

Quando  foi  eleito  Geral  escreveu  ao  P.  Nóbrega  man- 
dando que  continuasse  no  cargo  de  Provincial.  Alude  a 
esta  carta  do  Geral,  perdida,  a  de  Nóbrega  a  Laynes  de 
30  de  Julho  de  1559  (carta  16  §  2),  e  nela  diz  que  o  Provin- 
cial de  Portugal,  Miguel  de  Torres,  já  lhe  havia  dado  suces- 
sor. Facto  que  o  Geral  estranhou  por  se  efectuar  sem  seu 
conhecimento  prévio;  e  manteve  para  com  Nóbrega  o  mesmo 
conceito  e  através  de  Nóbrega  continuou  pràticamente  a 
tratar  das  coisas  do  Brasil,  como  se  vê  pelas  cartas  de  Lay- 
nes, Trento,  16  de  Dezembro  de  1562,  e  de  Polanco,  25  de 
Março  de  1563  (does.  68  e  73). 

Cartas  de  Laynes  neste  volume :  2  68  70. 

ARTIGO  2 

P.  JUAN  ALFONSO  DE  POLANCO,  SECRETÁRIO 
DA  COMPANHIA  DE  JESUS 

Ver  vol.  1  24-25 ;  vol.  11  57*. 
Neste  volume  111 :  carta  73. 

ARTIGO  3 

P.  LUlS  GONÇALVES  DA  CÂMARA, 
ASSISTENTE  DE  PORTUGAL  EM  ROMA  E  MESTRE 
DO  REI  D.  SEBASTIÃO 

Ver  vol.  11  6o*-6i*. 
Neste  vol.  111 :  carta  47. 

ARTIGO  4 

P.  MIGUEL  DE  TORRES,  PROVINCIAL  DE  PORTUGAL 

Nasceu  por  1507  no  Reino  de  Aragão,  em  Alagón,  perto 
de  Saragoça.  Indo  a  Roma  em  1542  por  Procurador  da  Uni- 
versidade de  Alcalá,  fez  os  votos  da  Companhia  em  1545, 


1   Gutierres,  Espanoles  en  Trento  (Valladolid  1951)  280-285. 


80*  INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  II.  AUTORES  DAS  CARTAS 


entrando  nela  abertamente  em  1547  2.  Era  Reitor  do  Colé- 
gio de  Salamanca,  quando  foi  nomeado  em  1552  Visitador 
de  Portugal  incumbido  de  promover  a  mudança  de  governo 
que  passava  do  P.  Simão  Rodrigues  para  o  P.  Diego  Mirón. 
O  P.  Inácio  deu-lhe  poderes  quase  de  Geral  e  algumas 
patentes  assinadas  em  branco  para  ele  preencher  como 
entendesse,  e  recomendou-lhe  «que  se  mostrasse  entre  os 
Portugueses  como  aragonês  que  era,  e  não  castelhano»  *. 
E  duvidoso  que  Torres  seguisse  inteiramente  a  orientação 
do  P.  Geral,  pois  alguns  dos  seus  actos  parece  que  não 
foram  aprovados  por  ele  4.  Voltou  mais  tarde  a  Portugal, 
quando  a  rainha  D.  Catarina,  mulher  de  D.  João  III,  por 
falecimento  do  seu  confessor  Fr.  Francisco  de  Villa  Franca, 
frade  espanhol  dos  Eremitas  de  Santo  Agostinho,  o  esco- 
lheu por  confessor;  e  neste  ofício  permaneceu  até  1571,  ano 
em  que  aconselhou  a  rainha  a  que  desse  costas  ao  mundo 
e  se  recolhesse  a  um  convento,  como  tinha  feito  o  irmão 
dela,  Carlos  V.  A  rainha  o  que  fez  foi  dar-lhe  costas  a  ele, 
tomando  por  confessor  ao  dominicano  Fr.  Francisco  de 
Bobadilla.  Miguel  de  Torres  era  Provincial  de  Andaluzia 
quando  a  rainha  o  chamou  para  esse  ofício.  Estava  então 
em  Granada  e  chegou  a  Lisboa  a  10  de  Setembro  de  1555, 
assumindo  nesse  mesmo  ano  o  cargo  de  Provincial  de  Por- 
tugal 5.  Governou  a  Província  até  1561  e  ainda  voltou  a 
ser  Visitador  (1566-1567).  Com  patente,  datada  de  1  de 
Fevereiro  de  1578,  o  Padre  Geral  Everardo  Mercuriano 
nomeou-o  Reitor  do  Colégio  de  Madrid,  cujo  ofício  desem- 
penhou por  pouco  tempo,  por  já  não  ser  para  ele.  Reco- 
lhe u-se  à  Casa  Professa  de  Toledo,  onde  faleceu  a  24  de 
Outubro  de  1593  6. 

Cartas  suas  neste  volume:  1  6  7  8  9  10  14  29  30  42  44. 


2  Dalmases,  MI  Fontes  Narr.  1  530. 

3  Rodrigues,  História  1/2  100. 

4  Ib.  1/2  118-121  188-191. 

5  Ib.  1/2  494-496;  [Acácio  Casimiro],  Padre  Miguel  de  Torres,  ia 
Grande  Enciclopédia  Portuguesa  e  Brasileira  32,  p.  253. 

6  Rodrigues,  História  11/1  335. 


ART.  5.  -  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO,  PROV.  DE  PORTUGAL  81* 


ARTIGO  5 

P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO,  PROVINCIAL  DE  PORTUGAL 

Gonçalo  Vaz  de  Melo  nasceu  perto  de  Viseu,  em  Vilar 
(S.  Pedro  de  Povolide)  por  1525,  e  cora  18  ou  19  anos 
entrou  na  Companhia  em  Coimbra  a  7  de  Fevereiro 
de  1544 7.  Era  filho  natural  de  António  de  Melo,  que 
depois  seguiu  a  carreira  das  armas,  e,  como  capitão  de 
galés  dos  Cavaleiros  de  S.  João,  se  achava  em  Rodes 
quando  esta  ilha  íoi  tomada  pelos  Turcos.  E  veio  a  ser, 
depois,  general  das  galés  do  Papa  Clemente  VII.  Mili- 
tando fora  de  Portugal,  António  de  Melo  confiou  aos 
cuidados  do  seu  irmão  Cristóvão  de  Melo,  senhor  de 
Povolide,  a  educação  do  filho  Gonçalo,  que  estudava  na 
Universidade  de  Coimbra,  quando  entrou  na  Companhia 
de  Jesus  8. 

O  P.  Gonçalo  Vaz  de  Melo  revelou-se  grande  orador  e, 
logo  nos  começos  da  sua  carreira,  em  1547,  deu  afamada 
missão,  entre  Douro  e  Minho,  com  o  P.  Afonso  Brás, 
futuro  missionário  do  Brasil 9.  Nas  pregações  agradava 
tanto  ao  povo  como  à  corte;  e,  não  obstante  adoecer  e 
deitar  sangue  pela  boca,  era  incansável,  nem  recusava 
o  trabalho  como  sucedeu,  quando  foi  a  Roma  à  Congre- 
gação Geral,  que  pregou,  em  português  a  13  de  Junho 
de  1558  na  Igreja  de  S.  António  dos  Portugueses10.  Quei- 
xa-se  o  P.  António  Franco,  e  já  antes  se  queixara  o 
P.  Manuel  da  Veiga,  no  Memorial  da  Casa  de  S.  Roque  de 
Lisboa,  «que  sendo  este  Padre  tão  nomeado  nesta  Provín- 
cia e  de  tanta  santidade,  se  não  fizessem  dele  as  memó- 
rias que  merecia».  Entretanto,  achou  uma,  do  Colégio  de 
Coimbra,  que  denuncia  o  seu  carácter  e  mostra  como  foi 


7  Lus  4j-i,  f.  5r. 

8  Franco,  Imagem  de  Coimbra  1  664.  Sobre  a  sua  família,  cf. 
Alão  de  Morais,  Pedatura  Lusitana  1/1  (1943)  554. 

9  Rodrigues,  História  1/1  647-648;  cf.  Mon.  Bras.  1  41. 
10    Polanci,  Complementa  II  623. 


82* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  II.  AUTORES  DAS  CARTAS 


«homem  de  grande  valor  e  caridade  com  os  súbditos»: 
«Ordenara  o  P.  Jerónimo  Nadal  que  se  diminuisse  a  por- 
çam  de  carne  e  se  desse  menos.  Era  Provincial  o  P.  Gon- 
çalo Vaz.  Ordenou  ao  Padre  Ministro  que  desse  aos  Reli- 
giosos o  costumado  e  só  ao  Padre  Comissário  desse  a 
quantidade  que  mandara.  Assim  o  executou  o  Padre 
Ministro,  Jorge  Rijo.  Entam,  vendo  o  Padre  Comissário 
a  pouquidade,  revogou  a  sua  disposiçam»  n. 

Gonçalo  Vaz  foi  vários  anos  Prepósito  da  Casa  de 
S.  Roque  e  algum  tempo  Vice-Provincial,  donde  no  ano 
de  1561  passou  a  Provincial,  cargo  em  que,  ao  íim  de  vinte 
meses  de  governo,  com  menos  de  40  anos  de  idade,  faleceu 
no  dia  14  de  Maio  [não  Abril]  de  1563.  Não  lhe  fizeram 
relação  da  vida,  mas  numa  linha  se  compendiou  muito: 
«Tinha  grande  talento  em  pregar,  e  rara  virtude»  12. 

O  ofício  de  Provincial  de  Portugal  constituía-o  como 
que  intermediário  entre  o  P.  Geral  e  a  Província  do  Brasil, 
e  se  vê  bem  pela  carta  de  Polanco  de  25  de  Março  de  1563 
a  ele  dirigida,  toda  em  resposta  a  cartas  de  Nóbrega;  e, 
sua,  entra  neste  volume  a  carta  64. 

ARTIGO  6 

P.  FRANCISCO  HENRIQUES,  PROCURADOR  DO  BRASIL 
EM  LISBOA 

Nasceu  em  Lisboa  por  1520.  «Moço  da  Câmara  de 
El-Rei».  Entrou  na  Companhia  de  Jesus  em  Coimbra  a 
10  de  Fevereiro  de  1546  13.  Estudou  apenas  latim  «y  per  sy 
casos»  14.   Esteve  em  Lisboa  e  Almeirim  (1551-1552),  e  em 


11  Franco,  Imagem  de  Coimbra  1  668-669. 

12  ARSI,  Lus.  43- j,  f.  23V. 

13  Havia  outro  do  mesmo  nome,  que  entron  em  Coimbra  no  dia  26 
de  Maio  de  1545  e  foi  para  a  índia.  Franco,  Ano  Santo  148-149,  traça 
as  biografias  de  ambos,  mudando  de  um  para  outro,  o  dia  das  entradas. 

Cf.  SCHURHAMMER-WlCKI,  Epp.  Xav.  I  69*. 

14  ARSI,  Lus.  4j-i,  f.  2V. 


ART.  7.  -  IR.  CIPRIANO  DO  BRASIL,  PRIMEIRO  JESUÍTA  83* 


Coimbra  (1553)  «sumista»  e  procurador  até  1556  *,  em  1557, 
Reitor  do  Colégio  de  S.  Antão  (Lisboa).  Em  1558  morava 
na  Casa  Professa  de  S.  Roque.  Secretário  da  Província  e 
Procurador,  não  só  de  Portugal  mas  também  das  Missões 
Ultramarinas  (entre  elas  Brasil)  até  1564;  em  1566  Sócio  do 
Provincial ;  e  Prepósito  da  Casa  Professa  de  1569  a  1571, 
período  em  que  deu  incremento  à  construção  da  Igreja  de 
de  S.  Roque  15.  Faleceu  na  mesma  Casa  Professa  em  1590. 
«De  letras  só  teve  as  que  bastavam  para  ser  sacerdote; 
porém  houve  ele  tão  rara  capacidade  e  prudência  para  os 
governos,  que  por  esta  lhe  foi  dada  a  profissão  solene  de 
quatro  votos.  É  nesta  matéria  quanto  me  lembro  —  diz 
Franco  —  o  único  exemplo  que  há  nesta  Província»  16. 
Documento  54. 

ARTIGO  7 

IR.  CIPRIANO  DO  BRASIL,  PRIMEIRO  JESUlTA 
NASCIDO  NA  AMÉRICA 

Nasceu  por  1540  na  Capitania  de  S.  Vicente,  de  pai 
português  e  mãe  índia.  Mestiço  ou,  como  se  dizia  no 
Brasil,  mamaluco.  Entrou  na  Companhia,  recebido  pelo 
P.  Leonardo  Nunes,  a  4  de  Março  de  1552,  e  três  anos 
depois  fez  os  primeiros  votos  concedidos  por  Nóbrega,  que 
o  mandou  para  Coimbra  a  fim  de  se  formar  em  virtude  e 
letras.  Era  um  dos  chamados  «Irmãos  pequenos»,  nomen- 
clatura usada  naqueles  começos  do  Brasil  antes  da  pro- 
mulgação das  Constituições.  Recebeu-se  em  Portugal  em 
Setembro  de  1556.  O  ter  entrado  menino,  embora  estu- 
dasse algum  latim,  fez  que  se  demorasse  a  sua  provação 
em  ofícios  humildes.  De  Coimbra  passou  para  Lisboa, 
onde,  em  1561  se  mudou  do  Colégio  de  S.  Antão  para  a 


15  Leite,  Novos  documentos  sobre  Francisco  Dias,  Mestre  de  Obras 
de  S.  Roque  em  Lisboa,  Arquitecto  da  Companhia  de  Jesus  no  Brasil,  in 
AHSI  22  (1953)  354-355- 

16  Franco,  Ano  Santo  148-149. 


84* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  II.  AUTORES  DAS  CARTAS 


Casa  de  S.  Roque  «para  escrever»  17.  Era  um  dos  ajudantes 
do  P.  Francisco  Henriques,  Secretário  da  Província  e  Pro- 
curador das  Missões  Ultramarinas,  então  residente  naquela 
Casa  de  S.  Roque.  Dizia-se  em  1559  que  tinha  boa  saúde  18. 
Não  obstante,  faleceu  prematuramente  em  Lisboa  a  2  de 
Março  de  1563  19. 

Conservam-se  dele  as  respostas  ao  exame  do  P.  Nadal, 
que  dão  alguns  elementos  históricos  sobre  a  vida  domés- 
tica e  religiosa  da  Capitania  de  S.  Vicente  e  demonstram  o 
seu  bom  espírito:  doe.  57. 

B)    No  Brasil 

ARTIGO  8 

P.  MANUEL  DA  NÓBREGA,  FUNDADOR  DA  PROVÍNCIA 

DO  BRASIL 

Ver  vol.  1  34-36;  vol.  11  6i*-63*. 

Neste  vol.  m :  cartas  12  13  16  35  46  49  50  51  52. 

ARTIGO  9 

P.  LUÍS  DA  GRÃ,  2.°  PROVINCIAL  DO  BRASIL 

Ver  vol.  11  63*-66*. 
Neste  vol. :  carta  59. 

ARTIGO  10 

P.  ANTÓNIO  PIRES,  MESTRE  DE  OBRAS 
E  VICE-PROVINCIAL  DO  BRASIL 

Ver  vol.  1  38-39;  vol.  11  66*. 
Neste  vol. :  carta  41. 


17  ARSI,  Lus.  43-1,  f.  i49r. 

18  Ib.,  f.  78r. 

19  Leite,  Cipriano  do  Brasil,  primeiro  Jesuíta  filho  da  América 
1540-1563,  in  Verbum  ix  (Rio  de  Janeiro  1952)  469-476. 


ART.  13. -P.  ANTÓNIO  RODRIGUES,  PRIM.  MESTRE-ESCOLA  85* 


ARTIGO  11 

P.  FRANCISCO   PIRES,  FUNDADOR  DA   IGREJA  DA  AJUDA 

EM  PORTO  SEGURO 


Ver  vol.  i  42-43;  vol.  n  66*. 
Neste  vol.:  cartas  15  27  28. 


artigo  12 

P.  BRÁS  LOURENÇO,  SUPERIOR  DO  ESPÍRITO  SANTO 
Ver  vol.  1  43;  vol.  11  67*. 

Neste  vol. :  carta  (sua  ou  por  comissão  sua)  65. 


ARTIGO  15 

P.  ANTÓNIO  RODRIGUES,  PRIMEIRO  MESTRE-ESCOLA 
DE  SÃO  PAULO 

Ver  vol.  1  45-46. 

Ordenação  sacerdotal.  A  primeira  carta  em  que  António 
Rodrigues  aparece  como  Padre  é  de  15  de  Setembro  de  1560 
(40  §  10).  Mas  veriíica-se  que  não  há  outras  cartas  da  Baía, 
nesse  ano,  antes  deste  mês  de  Setembro,  em  que  portanto 
pudesse  aparecer  o  seu  nome.  E  consta,  por  outro  lado, 
que  Rui  Pereira,  vindo  na  armada  de  Bartolomeu  de  Vas- 
concelos, chegada  a  30  de  Novembro  de  1559,  em  que  tam- 
bém veio  o  Bispo  D.  Pedro  Leitão  (24  §  2),  disse  missa 
nova  pouco  depois,  no  Natal  (40  §  14).  Nessa  primeira  orde- 
nação do  Bispo  devia  ter  sido  incluído  António  Rodrigues ; 
pois,  com  o  íim  expresso  de  se  ordenar,  viera  com  Nóbrega 
de  S.  Vicente  em  1556,  não  achando  já  o  Bispo  D.  Pedro 
Fernandes  (Mon.  Bras.  11  418). 

Neste  vol.:  cartas  17  18  19  20  26  55  56. 


86* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  II.  AUTORES  DAS  CARTAS 


ARTIGO  14 

P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ,  EPISTOLÓGRAFO 
E  MESTRE   DE  MENINOS 

Ver  vol.  ii  72*-73*. 

Neste  vol. :  cartas  21  22  23  58. 

ARTIGO  15 

P.  JOÃO  DE  MELO,  REITOR  DO  COLÉGIO  DA  BAÍA 

João  de  Melo  nasceu  por  1525  em  Monte-Redondo,  e 
entrou  na  Companhia  em  Coimbra  a  19  de  Agosto  de  1550 í0, 
onde  residia,  já  Padre  e  confessor  21,  nas  vésperas  de  embar- 
car para  o  Brasil  em  1559.  Dotado  de  boas  maneiras  para 
tratar  com  a  gente  de  fora,  fazia  amizades  entre  desavindos 
e  há  menção  nominal  das  que  efectuou  entre  pessoas  de 
família  do  Capitão  de  Pernambuco  22.  Foi  Reitor  do  Colégio 
da  Baía  e  Superior  de  Porto  Seguro,  falecendo  na  Baía 
em  1576,  com  fama  de  singular  probidade :  «Veteranus 
Societatis  miles  et  singularis  probitatis  vir»  23. 

Deixou,  escrita  em  1560,  pouco  depois  de  chegar,  uma 
carta,  a  39  deste  volume. 

ARTIGO  16 

P.  LEONARDO  DO  VALE,  MESTRE  DA  LlNGUA  BRASÍLICA 

Leonardo  do  Vale,  natural  de  Bragança  (Trás-os-Mon- 
tes),  onde  nasceu  por  1538,  chegou  menino  ao  Brasil  e  rece- 
beu-o  na  Companhia  em  S.  Vicente  o  P.  Leonardo  Nunes 
em  1553  J  mas  com  o  nome  expresso  de  Leonardo  do  Vale 
não  aparece  em  nenhuma  carta  nem  catálogo  antes  de  7  de 


ao  ARSI,  Lus.  4J-1,  ff.  4V  gr. 

21  Ib.,  4J-2Z,  f.  3831-. 

22  Cartas  Avulsas  401. 

23  Leite,  História  1  61-63;  vm  373;  x  159. 


ART.  16-  -  LEONARDO  DO  VALE,     MEST.  DA  LÍNG.  BRASÍL.  87* 


Abril  de  1560,  o  que  origina  um  pequeno  problema  crítico. 
Já  o  enunciámos  em  nota  à  carta  de  8  de  Junho  de  1556  do 
P.  Luís  da  Grã,  que  inclui  uma  lista  de  todos  os  Padres  e 
Irmãos  do  Brasil,  onde  se  não  lê  o  nome  de  Leonardo  já 
então  com  três  anos  de  Companhia  2i.  Leonardo  do  Vale 
chamar-se-ia  antes  António  do  Vale  ou  António  Gonçalves 
do  Vale  e  passou  para  a  Baia  em  companhia  de  Nóbrega 
em  1556.  Quando  chegaram,  já  tinha  partido  o  Bispo 
D.  Pedro  Fernandes;  e  só  aportou  à  Baía  o  segundo  Bispo 
D.  Pedro  Leitão,  nos  começos  de  Dezembro  de  1559, 
conferindo  ordens  sacras  logo  pelo  Natal  desse  ano,  como 
consta  de  Rui  Pereira  que  celebrou  missa  nova.  Leonardo 
do  Vale  (que  por  falta  de  Bispo  não  poderia  ser  ordenado 
antes  e  já  era  Padre  em  Abril  de  1560),  terá  também  rece- 
bido ordens  sacras  nessa  oportunidade.  Como  uma  das  con- 
dições requeridas  para  o  Sacramento  da  Ordem  é  o  da  Con- 
firmação ou  Crisma,  António  do  Vale,  com  o  fim  de  evitar 
a  aglomeração  ou  confusão  com  outros  Antónios  (António 
Pires,  António  Rodrigues,  António  Blázquez,  todos  na  Baía), 
se  crismaria  de  Leonardo,  em  memória  do  Padre  que  o  rece- 
bera na  Companhia  em  S.  Vicente;  e  desta  forma  António 
do  Vale,  que  ainda  aparece  no  Catálogo  de  1558  2õ,  deixa  de 
ser  citado  daí  em  diante  surgindo  o  nome  de  Leonardo  do 
Vale.  Não  nos  ocorre  outra  razão  plausível  para  explicar 
como  Leonardo  só  em  1560  se  nomeie  pela  primeira  vez,  e 
não  nas  listas  gerais  precedentes  de  1554,  1556  e  1558,  tendo 
entrado  na  Companhia  de  Jesus  no  Brasil  em  1553. 

Outro  pequeno  problema  é  a  fórmula  dos  últimos  votos. 
Dada  a  importância,  que  o  nome  de  Leonardo  do  Vale  adqui- 
riu depois  de  conhecida  a  carta  do  Provincial  Beliarte,  que 
revelou  ser  ele  o  autor  do  «Vocabulário  na  Língua  Bra- 
sílica», vale  a  pena  esclarecê-lo ;  e  agora  é  o  momento 
adequado,  por  a  fórmula  se  apresentar  datada  de  Pirati- 
ninga,  1560,  e  com  a  indicação  de  que  os  votos  foram  rece- 


24  Leite,  Diálogo  sobre  a  Conversão  do  Gentio  iio-iii. 

25  Mon.  Bras.  11  460. 


88*  INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  II.  AUTORES  DAS  CARTAS 


bidos  pelo  P.  Manuel  da  Nóbrega26.  O  facto  é  que  em  1560, 
a  7  de  Abril,  Leonardo  do  Vale  estava  na  Aldeia  de  S.  João 
(Baía)  como  diz  Rui  Pereira,  carta  de  15  de  Setembro 
de  1560  §  14;  e  a  22  de  Maio  de  1563,  apresentou  na  Baía 
a  petição  da  sesmaria  do  Passé.  Voltou  a  S.  Vicente  na 
armada  de  Estácio  de  Sá  em  fins  de  1563  ou  noutro  navio 
na  mesma  conjunção,  pois  já  se  encontrava  em  S.  Vicente 
em  1564  27,  e  daí  data  a  carta  de  23  de  Junho  de  1565.  Ora 
na  fórmula  de  1560  falta  um  elemento  necessário,  que  é  o 
do  dia  e  mês  dos  votos;  e  vê-se  que  é  fórmula  caligráfica 
com  outras  do  mesmo  grupo  escritas  provavelmente  por 
algum  Padre  ou  Irmão,  da  comitiva  do  Visitador  Inácio  de 
Azevedo,  que  no  primeiro  semestre  de  1567  procurava  reu- 
nir em  S.  Vicente  todo  esse  género  de  documentos  atrasa- 
dos ou  fazê-los  de  novo  se  se  tivessem  perdido.  Leonardo 
do  Vale  assistiria  de  facto  em  Piratininga  em  1567  ao  assi- 
nar a  fórmula  dos  votos  e,  quer  reparasse  quer  não  nos 
pormenores  deficientes  dela,  a  assinaria  sem  relutância 
nem  consequências,  por  se  terem  já  passado  seis  anos 
depois  que  os  fizera.  Poderia  também  ter  concorrido  a 
circunstância  de  haver  emitido  realmente  em  Piratininga, 
ao  fim  do  noviciado,  por  1555,  os  primeiros  votos  (os  votos 
simples),  recebidos  por  Nóbrega,  residentes  então  ambos  na 
Capitania  de  S.  Vicente.  Mas  os  últimos  votos  não  os  pode- 
ria ter  recebido  Nóbrega  no  ano  de  1560,  em  Piratininga, 
porque  em  Abril  Leonardo  estava  na  Baía  e  deve  tê-los  aí 
feito,  recebidos  pelo  P.  Luís  da  Grã,  em  1561,  ano  indicado 
no  Catálogo  mais  cuidadoso  de  1584 28. 

Ainda  outra  dúvida,  relacionada  com  a  precedente. 
O  Catálogo  de  1567  traz  Leonardo  do  Vale  na  Baía. 
A  explicação  é  que  esse  catálogo  deve  ter-se  redigido  em 
S.  Vicente  no  primeiro  semestre  de  1567,  durante  a  junta 
aí  realizada  pelo  Visitador  Inácio  de  Azevedo  e  a  que 
assistiram  o  Provincial  Luís  da  Grã,  Nóbrega  e  mais  dois 


26  ARSI,  Lus.  1,  f.  i37r. 

27  Sesmaria  do  Passé,  Bras.  11,  f.  55r ;  Cartas  Avulsas  443. 

28  ARSI,  Bras.  j-i,  í.  241-. 


ART.  16.  -  LEONARDO  DO  VALE,  MEST.  DA  LÍNG.  BRASÍL  89* 


Padres,  a  íim  de  se  ordenarem  as  coisas  da  Província,  o 
destino  e  ocupações  dos  Padres  e  Irmãos  29.  Para  a  Baía 
iria  o  P.  Leonardo  do  Vale  e  para  Pernambuco  os  Padres 
Luís  da  Grã  e  Amaro  Gonçalves;  e  com  efeito  assim  cons- 
tam já  no  referido  Catálogo  de  1567:  na  Baía,  Leonardo  do 
Vale;  em  Pernambuco,  Luís  da  Grã  e  Amaro  Gonçalves30. 
Todavia,  Amaro  Gonçalves  ainda  residia  na  Baía  em  Janeiro 
de  1568,  donde  escreve  uma  carta31;  o  P.  Grã  com  o  Visi- 
tador e  outros,  na  sua  viagem  de  S.  Vicente  para  a  Baía, 
ainda  se  encontravam  em  Porto  Seguro  a  15  de  Março 
de  1568  32;  e  o  Padre  Grã  só  foi  a  Pernambuco  no  segundo 
semestre  desse  ano,  onde  aliás  pouco  se  demorou,  porque 
já  escreve  da  Baía  a  26  de  Fevereiro  de  1569  33.  De  maneira 
que  o  Catálogo  de  1567,  para  vários  Padres  significa  ape- 
nas uma  intenção  de  destino,  não  ainda  residência  efectiva 
no  ano  indicado.  E  também  mostra  como  documentos  autên- 
ticos, e  na  aparência  fidedignos,  nem  sempre  o  são,  por  cir- 
cunstâncias em  parte  alheias  à  vontade  humana,  que  no 
caso  foram  os  ventos  contrários  que  obrigaram  o  navio  a 
arribar  ao  Rio  de  Janeiro  e  impediram  a  viagem  para  o 
norte  no  tempo  previsto  34. 

Voltando  â  Baía,  Leonardo  do  Vale  deu-se  a  ministé- 
rios com  os  índios;  e  em  Novembro  de  J572  era  Mestre  da 
lição  de  língua  brasílica  ou  tupi  no  Colégio  dessa  cidade: 
«Lia-a  o  Padre  Leonardo,  grande  língua,  e  os  ouvintes  eram 
todos  os  estudantes  de  casa,  os  mestres,  e  alguns  Padres»35. 
Convém  lembrar  que  na  Baía,  em  Novembro,  as  aulas  do 
Colégio  se  fechavam  por  começar  o  verão;  o  que  explica  a 
variedade  e  categoria  dos  alunos.  Na  verdade,  era  o  que 


29  Leite,  Breve  Itinerário  191-192. 

30  ARSI,  Bras.  j-i,  i.  6r. 

31  Leite,  História  vm  272. 

32  MHSI,  Borgia  iv  591. 

33  Leite,  História  viu  285. 

34  Cartas  Avulsas  490. 

35  Cf.  Anais  da  Bibi.  Nac.  do  Rio  de  Janeiro  19  (1897)  96,  que  em 
vez  de  maestros  leu  nuestros. 


90*  INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  II.  AUTORES  DAS  CARTAS 

hoje  se  chamaria  «Curso  de  Férias».  O  entusiasmo  dos 
que  aprendiam  deve  ter  estimulado  o  Mestre  para  pôr  em 
ordem  os  seus  papéis  e  apontamentos  e  organizar  em  regra 
o  Vocabulário  na  Língua  Brasílica^,  assim  como  a  Dou- 
trina Cristã,  em  tupi,  porque  em  1574  se  diz  que  compôs 
uma  «.Doutrina  na  Língua  do  Brasil,  quase  trasladando  a 
que  fez  o  P.  Marcos  Jorge,  de  boa  memória.  Custou  muito 
trabalho,  mas  entende-se  que  será  proveitoso»37. 

Depois  deste  período  de  fecunda  actividade  linguística, 
Leonardo  do  Vale  esteve  algum  tempo  em  Porto  Seguro  e 
voltou  mais  uma  vez  a  São  Paulo  de  Piratininga.  Já  aí 
residia  a  1  de  Janeiro  de  1584,  dando  o  Catálogo  deste  dia 
a  notícia  correspondente,  que  inclui  os  elementos  da  sua 
cultura,  superior  à  da  maior  parte  dos  Jesuítas  do  seu 
tempo  no  Brasil:  o  P.  Leonardo  do  Vale,  de  Bragança,  com 
46  anos,  entrou  na  Companhia  em  1553,  estudou  latim  três 
anos,  Dialéctica  e  Teologia  outros  três.  Ouve  confissões 
e  prega.  Coadjutor  Espiritual  formado  em  1561 38. 

Nos  Catálogos  seguintes,  Leonardo  em  Piratininga  apa- 
rece como  pregador  e  língua;  e  é,  claro,  missionário,  em 
cujo  ministério  percorria  os  caminhos  de  «alpercatas  de 
cardos  bravos»,  respeitado  e  amado  dos  índios.  Faleceu 
em  São  Paulo  de  Piratininga.  Dá  notícia  da  morte,  o  Pro- 
vincial Marçal  Beliarte,  em  carta  de  21  de  Setembro 
de  1591,  que  é  um  alto  testemunho  histórico  do  seu  valor 
como  religioso,  orador  e  linguista:  «Faleceu  em  Piratininga, 
no  dia  2  de  Maio  de  1591,  o  P.  Leonardo  do  Vale,  príncipe 
sem  dúvida  dos  línguas  do  Brasil,  eloquentíssimo  como 
Túlio,  que  até  os  índios  se  admiravam  do  seu  talento  e 
graça  singular,  com  a  qual  serviu  excelentemente  a  Deus 
e  a  Companhia;  e,  junto  com  o  P.  Nóbrega  e  os  primeiros 
Padres,  tomou  sobre  si  muitos  trabalhos  e  os  levou  a  cabo 
não  sem  notável  fruto.  E  compôs  o  «Vocabulário»  daquela 
língua,  óptimo,  abundante,  e  muito  útil,  com  que  é  fácil 


36  Cf.  Mon.  Bras.  II  52*. 

37  Cf.  Anais  19  (1897)  117. 

38  ARSI,  Bras.        f.  24V. 


ART.  16.  -  LEONARDO  DO  VALE,  MEST.  DA  LÍNG.  BRASÍL.  91* 


aprender;  e  muitos  sermões,  a  explicação  do  catecismo,  e 
outros  utilíssimos  avisos  para  a  educação  e  instrução  dos 
índios,  etc.»  39. 

Leonardo  do  Vale  deixou  inédito  o  manuscrito  do  Voca- 
bulário na  Língua  Brasílica;  e,  como  sucede  com  todas  as 
obras  não  impressas  em  vida  do  autor,  escreve  o  mesmo 
Beliarte  daí  a  um  ano,  em  carta  de  20  de  Setembro  de  1592, 
que  o  Vocabulário  se  ficava  preparando  para  a  imprensa, 
o  que  vem  a  dizer  que  ficava  a  ser  revisto  por  dois  ou  mais 
Padres  censores  competentes  com  autoridade  para  muda- 
rem ou  indicarem  a  mudança  dum  ou  outro  termo,  o  que 
não  tem  significado  de  colaboração,  nem  de  modo  nenhum 
diminui  ou  invalida  o  direito  do  autor.  E  convém  saber 
que  nenhum  livro  de  Padres  da  Companhia  se  podia,  nem 
pode,  então  como  hoje,  dar  à  estampa  sem  essa  formalidade 
legal.  Mas  a  morte  do  autor,  por  um  lado,  e  a  mudança  do 
Provincial  por  outro,  fizeram  que  a  impressão  proposta,  se 
não  chegasse  então  a  efectuar,  correndo  apenas  em  cópias 
manuscritas  mais  ou  menos  perfeitas,  sem  o  nome  do  autor, 
com  risco  de  o  V ocabulário  se  atribuir  a  outros  ou  se  dar 
por  anónimo,  como  ia  sucedendo,  se  não  tivesse  surgido  a 
tempo  a  declaração  explícita  do  Provincial  Beliarte. 

O  «Vocabulário  na  Língua  Brasílica»  publicou-se  em 
São  Paulo  duas  vezes,  uma  em  1937  por  Plínio  Ayrosa, 
segundo  um  ms.  existente  naquela  cidade,  outra  em  1952 
por  Carlos  Drumond,  confrontado  com  o  exemplar  ms.  do 
mesmo  «Vocabulário»,  conservado  na  Biblioteca  Nacional 
de  Lisboa  (f.  g.  3144) 40.  Como  os  textos  manuscritos  do 
«Vocabulário»  não  trazem  expresso  o  nome  do  autor,  tam- 
bém ele  se  não  inscreveu  no  frontispício  destas  publicações. 
Seria  menos  justo  que  se  não  inscrevesse  em  futura  edição 
crítica,  porque  assim  o  exige  cientificamente  o  documento 
autorizado  e  positivo  do  Provincial  Beliarte,  insuperável 
quanto  à  primazia  linguística  de  Leonardo  do  Vale  e  insu- 
bstituível quanto  ao  facto  mesmo  da  autoria. 


39  ARSI,  Bras.  if,  f .  373V  ;  cf.  Leite,  História  IX  170 ;  x  243. 

40  Ibid.  IX  170  ;  AHSI  26  (1957)  322. 


92* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  II    AUTORES  DAS  CARTAS 


Além  dos  trabalhos  linguísticos,  Leonardo  do  Vale  escre- 
veu cartas  de  edificação  e  de  notícias,  das  quais  se  conser- 
vam quatro.  Demonstram  notáveis  dotes  de  observação, 
em  particular  sobre  os  índios;  e,  delas,  entram  duas  neste 
volume:  cartas  61  e  66. 

ARTIGO  17 

P.  MANUEL  ÁLVARES,  PINTOR 

O  P.  Manuel  Álvares  nasceu  em  Portugal  por  1526, 
segundo  o  Catálogo  de  1556:  «Recebido  a  2  d'Octubro 
de  1549;  hé  de  idade  de  30  annos.  Aprende  latim  em  casa. 
Hé  mui  bom  pintor  e  escrivão.  Hé  de  boa  habilidade»  41. 
Em  1560  embarcou  para  a  índia  na  nau  «S.  Paulo»,  que 
arribou  à  Baía,  seguindo  depois  viagem  até  naufragar  num 
ilhéu  junto  à  grande  ilha  de  Samatra,  trabalhosa  viagem  e 
espantoso  naufrágio  que  ele  narra  pormenorizadamente. 
Como  pintor,  há  notícia  de  obras  suas  em  Coimbra  e  Goa42. 
Também  no  pouco  tempo  que  esteve  na  Baía  exerceu  a 
arte,  pintando  pelo  menos  um  frontispício  43.  Faleceu  na 
índia  a  2  de  Junho  de  1571  J4. 

Durante  a  estada  na  Baía  escreveu  a  carta  de  4  de 
Setembro  de  1560:  carta  38. 

ARTIGO  18 

P.  RUI  PEREIRA,  PREGADOR 

Rui  Pereira,  filho  de  Pero  Borges  e  de  Isabel  Pereira, 
natural  de  «Villa  Real,  do  Arco,  bispado  de  Braga» 45, 
nasceu  em  T533.    Entrou  na  Companhia  em  Coimbra,  a 


41  ARSI,  Lus.  4J-1,  f  8r. 

42  Franco,  Imagem  de  Coimbra  11  359  373. 

43  Leite,  História  11  334;  supra,  p.  411. 

44  Rodrigues,  A  formação  intellectual  do  Jesuíta  497-498 ;  Wicki, 
DI  IV  6*. 

45  ARSI,  Lus.  4j-i,  f.  32 r. 


ART.  19.  -  P.  LUIS  RODRIGUES,  MISSION    DOS  ÍNDIOS  95* 


23  de  Março  de  1550,  e  aí  residia  em  1556  já  com  o  Curso 
de  Artes  e  estudante  de  Teologia40.  Embarcou  para  o 
Brasil  em  1559,  e  disse  missa  nova  na  Baía,  pelo  Natal 
desse  mesmo  ano.  Era  bom  humanista  e  pregador  de  gran- 
des esperanças,  que  não  vingaram,  deixando  de  pertencer 
à  Companhia  dentro  de  pouco  tempo  (já  não  consta  no 
Catálogo  de  1567).  Desconhece-se  o  seu  destino  ulterior; 
e  nada  tem  que  ver  com  ele  um  espanhol  P.  Ruiz  Pérez, 
falecido  em  1589,  com  quem  o  confundiram  Sommervogel 
(vi  519)  e  Streit  (11  348) 47. 

Rui  Pereira  salvou-se  do  anonimato  por  duas  cartas, 
que  escreveu  na  Companhia  logo  à  raiz  da  sua  chegada  ao 
Brasil,  ainda  cheias  de  zelo  apostólico  e  ricas  de  porme- 
nores. São  as  cartas  40  e  45. 

artigo  19 

P.  LUÍS  RODRIGUES,  MISSIONÁRIO  DOS  ÍNDIOS 

Luís  Rodrigues  embarcou  para  o  Brasil  em  1560  e  voltou 
a  Portugal  em  fins  de  1565,  não  chegando  a  entrar  em 
Catálogos  do  Brasil  que  dariam  a  sua  idade  e  naturalidade, 
que  também  não  vimos  em  catálogos  portugueses.  Disse 
missa  nova  na  Baía  pelo  Natal  de  1560  e  trabalhou  muito 
pelas  Aldeias  dos  arredores.  Numa  delas  foi  mordido  de 
cobra  cascavel  e  consta  na  sua  carta  o  que  padeceu  e  como 
não  morreu,  mas  de  que  ficou  a  ressentir-se  depois  tanto 
fisicamente  como  ao  que  parece  moralmente,  porque  ao 
chegar  a  Portugal  em  1566  se  julgou  que  pela  sua  condição 
natural  não  convinha  para  a  Companhia,  e  foi  despedido48. 
O  P.  Luís  Rodrigues  quis  ir  a  Roma  e  recebeu-o  com  cari- 
dade o  P.  Francisco  de  Borja,  que  a  30  de  Janeiro  de  1567 
escreve  ao  P.  Inácio  de  Azevedo,  então  no  Brasil:  «El 


46  lb.,  4r  8v 

47  Cf.  Leite,  História  x  186;  Afrânio  Peixoto,  in  Cartas  Avul- 
sas 271. 

48  ARSI,  Lus.  62,  ff.  nr-nv  1071-. 


94*  INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  II.  AUTORES  DAS  CARTAS 


P.  Luís  Rodrigues,  que  allá  estuvo  tanto  tempo,  está  aora 
en  esta  casa  de  Roma,  exercitando  oíficios  humildes  entre 
los  novicios  y  en  ello  muy  consolado»  49.   E  foi  a  última 
notícia  que  dele  vimos  50. 
Deixou  a  carta  72. 

ARTIGO  20 

P.  JOSÉ  DE  ANCHIETA.  GRAMÁTICO 
E  5.°  PROVINCIAL  DO  BRASIL 

Ver  vol.  11  67*>7i*. 

Neste  vol. :  cartas  34  36  53  62  74. 

ARTIGO  21 

P.  ANTÓNIO  DE  SÁ,  MISSIONÁRIO  DOS  ÍNDIOS 

Diz  o  Catálogo  de  1567:  «António  de  Sá,  sacerdote, 
escolar,  de  30  anos  de  idade:  há  8  que  entrou  na  Compa- 
nhia no  Brasil,  estudou  algum  latim  e  casos  de  consciência. 
Sabe  a  língua  dos  índios»  51.  Não  consta  do  Catálogo 
de  1574,  que  daria  a  terra  da  sua  naturalidade,  por  ter 
voltado  a  Portugal  por  1570  a  fim  de  passar  para  a  Car- 
tuxa. Trabalhou  com  os  índios. 

Deixou  três  cartas  assinadas  52,  das  quais  cabe  uma 
neste  volume,  a  de  13  de  Junho  de  1559,  datada  da  Capi- 
tania do  Espírito  Santo;  assim  como  cabe  outra,  escrita 
na  mesma  Capitania,  não  assinada,  mas  que  parece  tam- 
bém sua,  de  Fevereiro  do  mesmo  ano:  cartas  5  e  11. 


49  MHSI,  Borgia  iv  400. 

50  Cf.  Leite,  História  I  562;  IX  88  ;  x  211. 

51  ARSI,  Bras.  j-i,  f.  6r. 

52  Leite,  História  ix  106. 


ART.  22-  -  MEM  DE  SÁ,  3.°  GOV.  GERAL  DO  BRASIL 


95* 


ARTIGO  22 

MEM  DE  SÁ,  3.°  GOVERNADOR   GERAL  DO  BRASIL 

Mem  de  Sá  é  filho  de  Gonçalo  Mendes  de  Sá  e  neto  de 
João  Gonçalves  de  Miranda  e  Sotomaior  e  de  sua  mulher 
Filipa  de  Sá.  O  nome  do  avô  explica  que  um  dos  irmãos 
de  Mem  de  Sá  se  chamasse  Francisco  de  Sá  de  Miranda, 
o  homem  «dantes  quebrar  que  torcer»,  grande  poeta,  intro- 
dutor da  Escola  Renascentista  em  Portugal.  Ambos  se  for- 
maram em  Direito  pela  Universidade  de  Lisboa  (antes  da 
sua  transferência  para  Coimbra)  e  ambos  foram  desembar- 
gadores. Sá  de  Miranda,  nasceu  em  Coimbra  antes  de  1490; 
Mem  de  Sá  também  nasceria  aí,  mas  não  se  conhece  com 
precisão  nem  o  lugar  nem  a  data  do  nascimento  53. 

Mem  de  Sá  seguiu  a  carreira  da  magistratura.  Foi 
nomeado  Desembargador  a  11  de  Maio  de  1532  M,  Corre- 
gedor dos  Feitos  da  corte  a  24  de  Março  de  1536  55,  Desem- 
bargador dos  Agravos  da  Casa  da  Suplicação  a  6  de  Agosto 


53  Cf.  José  de  Sousa  Machado,  O  Poeta  do  Neiva  —  Noticias 
biográficas  e  genealógicas  (Braga  1929)  315-317  O  pai  de  Mem  de  Sá, 
Gonçalo  Mendes  de  Sá,  era  natural  de  S.  Salvador  do  Campo  (Barcelos) 
e  cónego  da  Sé  de  Coimbra.  Segundo  Sousa  Machado  teve  13  filhos, 
cujos  nomes  dá  todos  no  seu  livro,  oito  dos  quais  legitimados,  e  entre 
eles  «o  poeta  do  Neiva»,  Francisco  de  Sá  de  Miranda.  Entre  os  cinco 
restantes,  de  que  se  não  conhecem  cartas  de  legitimação,  está  o  Gover- 
nador Mem  de  Sá  Sousa  Viterbo  publica  as  oito  cartas  de  legiti- 
mação (Estudos  sobre  Sá  de  Miranda  :  1  —  Os  filhos  do  Cónego  Gon- 
çalo Mendes,  in  O  Instituto  42  [Coimbra  1895]  678-679),  estranhando  não 
achar  a  do  Governador  do  Brasil,  sem  todavia  pôr  em  dúvida  a  irman- 
dade ;  porque  na  própria  obra  autêntica  do  poeta  há  uma  «carta  a  seu 
irmão  Mem  de  Sá»  (Carolina  Michaelis  de  Vasconcelos,  Poesias 
de  Francisco  de  Sá  de  Miranda  [Halle  1885]  225-236).  Recentemente 
publicou  A.  G.  da  Rocha  Madahil,  Novos  documentos  para  a  história 
de  Mem  de  Sá  Governador  Geral  do  Brasil,  in  Brasília  vi  (Coim- 
bra 1951)  33I-392- 

54  Carta  régia,  desta  data,  publicada  por  Sousa  Viterbo,  in  O  Ins- 
tituto 43  (1896)  229-230. 

55  1K  33o-33i- 


96* 


INTRODUÇÃO  GERAL  -  CAP.  II.  AUTORES  DAS  CARTAS 


de  1541  56.  Já  levava,  pois,  24  anos  de  brilhante  exercício 
da  magistratura  —  e  andaria  à  roda  dos  50  anos  —  quando 
foi  nomeado  Governador  Geral  do  Brasil.  A  carta  de 
nomeação,  de  23  de  Julho  de  1556,  dá-lhe  amplos  poderes, 
alude  aos  «Regimentos»  que  levava,  e,  no  fim,  tem  esta 
cláusula,  que  prenuncia  maior  demora  do  que  a  habitual, 
para  boa  continuidade  de  governo:  «servirá  os  ditos  car- 
gos emquanto  eu  ouver  por  bem  e  não  mandar  o  contra- 
rio, posto  que  acima  digua  que  os  servirá  por  tempo  de 
tres  annos»57;  e,  para  mais  autorizar  o  seu  mandato, 
nomeou-o  D.  João  III  para  o  seu  Conselho,  por  carta  de 
7  de  Novembro  de  1556  58. 

O  3.0  Governador  desembarcou  na  Baía  a  28  de  Dezem- 
bro de  1557  e  logo  estabeleceu  com  o  Provincial  Manuel  da 
Nóbrega,  que  há  muitos  meses  o  esperava,  uma  sólida  ami- 
zade e  colaboração  que  perdurou  até  à  morte.  Mem  de  Sá 
secundou  os  planos  de  Nóbrega  quanto  à  política  moral, 
cristã,  e  até  territorial  da  formação  do  Brasil.  Com  pru- 
dência e  tenacidade,  o  Governador  amparou  sempre  a  obra 
da  evangelização,  autorizou  os  Padres,  submeteu  os  índios 
contrários  ou  revoltos  e  honrou  os  índios  amigos  que  coo- 
peravam com  os  Portugueses  na  construção  do  Brasil;  e 
revelou,  além  disto,  não  ser  apenas  magistrado  íntegro  na 
administração  da  justiça,  mas  também  valoroso  militar  em 
guerras  sucessivas,  de  pacificação,  alargamento  ou  unifica- 
ção, nos  arredores  da  Baía,  na  Capitania  do  Espírito  Santo, 
onde  lhe  mataram  um  filho,  nas  de  Ilhéus  e  Porto  Seguro, 
e  no  Paraguaçu;  e,  assegurada  deste  modo  a  costa  e  a  rec- 
taguarda,  tomou  o  forte  francês  de  Coligny,  na  baía  de  Gua- 
nabara, fortaleceu  São  Paulo  de  Piratininga,  e  organizou  o 
estabelecimento  definitivo  de  Portugal  entre  o  Espírito 
Santo  e  S.  Vicente  com  a  fundação  da  cidade  de  S.  Sebas- 
tião do  Rio  de  Janeiro. 


56  lb .,  331. 

57  IK  335-336. 

58  lb.,  332 


ART.  22  -  MIEM  DE  SÁ,  3.°  GOV.  GERAL  DO  BRASIL 


97* 


Outra  característica  da  actividade  de  Mem  de  Sá  (esta, 
de  natureza  económica  e  social)  foi  que,  ao  ver  passar-se- 
-lhe  o  triénio  de  governo  e  que  continuava  no  Brasil,  enve- 
redou por  um  dos  caminhos  mais  eficazes  para  o  povoa- 
mento e  valorização  da  terra:  tornou-se  fazendeiro  e  Senhor 
de  Engenho. 

Não  faltaram  adversários  aos  seus  métodos  de  governo 
e  de  realização.  Mas  Nóbrega  animou  e  sustentou  sempre 
as  suas  felizes  empresas  e  as  defendeu  não  só  contra  os 
dissidentes  locais,  o  que  lhe  valeu  a  remoção  do  provin- 
cialato  operada  pelo  P.  Miguel  de  Torres  (doe.  7  §  9),  mas 
levou  também  a  sua  defesa  até  à  corte  (cartas  a  Tomé  de 
Sousa  e  Cardeal  Infante,  does.  13  35).  Por  sua  vez,  Mem 
de  Sá  foi  perpétuo  amigo  da  Companhia  de  Jesus  e  «verda- 
deiro soldado»  da  Fé  (doe.  28  §  5)  no  que  se  referia  à  cate- 
quese dos  índios  e  estabelecimento  de  Colégios.  Simpatia 
não  platónica,  mas  de  actos  positivos,  concorrendo,  para  a 
sustentação  dos  Colégios,  com  bens,  quer  seus  pessoais 
como  as  terras  do  Camamu,  que  em  parte  já  possuía  antes 
de  ir  para  o  Brasil  (doe.  71  §§  1-2),  quer  outras,  que  a  Coroa 
Portuguesa  lhe  mandava  confirmar  e  defender  (doe.  71  §  7). 

Pelos  seus  serviços  no  Brasil,  o  Rei  D.  Sebastião  deu- 
-lhe  o  hábito  de  Cristo,  a  7  de  Março  de  1566  59.  E  não 
deixou  de  pensar  em  lhe  dar  sucessor,  embora  ele  fosse 
nomeado  Governador  sem  limitação  de  tempo;  mas  a 
D.  Luís  de  Vasconcelos,  que  lhe  havia  de  suceder  no 
Governo  Geral  do  Brasil  e  se  pusera  a  caminho  em  1570, 
mataram-no  durante  a  viagem  marítima  os  calvinistas 
franceses  c'°.  De  maneira  que  Mem  de  Sá  chegou  ao  termo 
da  vida  no  exercício  das  suas  altas  funções,  falecendo  na 
Baía  a  2  de  Março  de  1572.  Sepultou-se  na  Igreja  do  Colé- 
gio por  ele  mesmo  fundada. 

Todas  as  cartas  de  Jesuítas,  que  falam  de  Mem  de  Sá,  o 
louvam,  e  todos  os  historiadores  exaltam  e  glorificam  o  seu 


59  Sousa  Viterbo,  in  O  Instituto  43  (1896)  342-343. 

60  Leite,  História  II  254. 


98* 


INTRODUÇÃO  GERAL 


grande  governo;  mas  um  deles,  da  maior  categoria,  diz  que 
«entre  todos  os  seus  serviços  sobreleva  o  auxílio  prestado 
a  Nóbrega  para  realizar  a  obra  das  Missões»  61. 

Da  sua  correspondência,  toca  à  história  da  Companhia, 
e  entra  neste  volume,  a  carta  31. 

CAPÍTULO  III 

CARTAS  PERDIDAS 

Além  das  impressas,  procurou-se  também,  neste  e  nos 
volumes  anteriores,  dar  notícia  das  cartas  e  documentos 
perdidos,  nos  anos  correspondentes  a  cada  volume,  todos 
três  ainda  dentro  do  grande  período  de  Nóbrega,  o  pri- 
meiro da  Companhia  de  Jesus  no  Brasil. 

Muitas  seriam  as  causas  desta  perda  de  correspondên- 
cia. Mais  frequente  é  a  alusão  às  vicissitudes  do  mar, 
piratarias  e  naufrágios;  mas  também  concorreria  a  inten- 
ção positiva  de  se  não  conservar  algum  documento  ou  a 
negligência  em  se  não  recolher  a  tempo  em  códices  apro- 
priados l. 

É  patente  a  utilidade  desta  pesquisa  não  só  para  avaliar 
o  volume  da  correspondência  da  Companhia,  mas  também 
para  tornar  imediatamente  visíveis  certos  factos  de  signi- 
ficação quase  ignorada,  como  o  de  que  o  P.  Gaspar  Lou- 
renço, de  quem  se  não  conhece  nenhuma  carta,  também  as 


61  Capistrano  de  Abreu,  Capitu/os  de  História  Colonial  111  ; 
cf.  Leite,  História  II  150-153. —  O  testamento  de  Mem  de  Sá,  datado 
de  6  de  Setembro  de  1569,  foi  publicado  por  Sonsa  Viterbo,  Rodolfo 
Garcia  e  Wanderley  Pinho  (a  publicação  de  Rodolfo  Garcia  em  nota 
a  HG,  de  Varnhagen,  é  a  mais  acessível  e  a  que  citamos).  Nele  enu- 
mera Mem  de  Sá  cinco  filhos,  os  que  sobreviveram  à  morte  da  sua 
mulher  D.  Guiomar  de  Faria,  falecida  em  Lisboa  em  1542  (Testa- 
mento 446)  Mas  acrescente-se,  a  titulo  de  mera  informação,  que  Sousa 
Machado,  além  dos  cinco,  lhe  dá  mais  uma  filha,  D.  Maria  de  Sá,  casada 
com  Rui  de  Figueiredo,  sem  geração  (O  Poeta  do  Neiva  317). 
1    Leite,  Cartas  de  Nóbrega  (1955)  77*-78*. 


CAP.  III.  -  CARTAS  PERDIDAS 


99* 


escrevia  (45a),  que  o  P.  António  Rodrigues  se  correspondia 
com  o  Governador  Mem  de  Sá  (56a),  que  a  Câmara  de 
Porto  Seguro  escrevia  ao  Provincial  Luís  da  Grã,  pedindo 
Padres  da  Companhia  (62a);  e  outros  factos  semelhantes, 
alguns  da  maior  importância,  como  a  correspondência  entre 
Nóbrega  e  D.  João  III 2  e  o  Tratado  de  Direito,  do  mesmo 
Nóbrega,  contra  a  antropofagia  3. 

Sem  dúvida,  são  mais  as  cartas  perdidas  do  que  as  que 
se  conseguiram  averiguar  como  tais  nos  documentos  conhe- 
cidos. Ainda  assim,  o  seu  número  é  vultuoso:  só  de  Nóbrega 
são  404,  quase  tantas  como  as  conhecidas  (42),  sem  contar 
as  de  outros,  que  a  ele  se  enviaram,  quer  dentro  do  Brasil, 
quer  de  Lisboa  e  Roma. 

A  inserção  ou  notícia  destas  cartas  perdidas  distribui-se 
pelos  respectivos  volumes  de  Monumenta,  por  ordem  cro- 
nológica, na  altura  em  que  naturalmente  cairiam,  se  se 
conhecessem  e  imprimissem,  de  acordo  com  as  datas  apu- 
radas, certas  umas,  aproximativas  outras. 

Subordinam-se  todas  à  formula  genérica  de  Cartas  per- 
didas. Mas  é  óbvio,  e  convém  advertir: 

1.  Que,  com  isso,  não  se  nega  a  possível  existência  de 
qualquer  delas  nalgum  arquivo  público  ou  privado;  o  que 
se  afirma  é  que  no  estado  actual  das  pesquisas  —  alheias  ou 
nossas  pessoais  —  não  se  conhece  a  existência  de  tal  carta 
ou  documento. 

2.  Que  muitas  cartas,  sobretudo  as  de  notícias  e  edi- 
ficação, se  copiavam  como  elemento  informativo  para  lei- 
tura pública  nos  refeitórios  da  Companhia  de  Jesus.  Com- 
preende-se  que  um  ou  outro  assunto,  de  carácter  mais 
particular,  não  se  prestasse  a  essa  finalidade.  Donde  se 
segue  que  nalguns  casos  não  se  tratará  de  cartas,  que  por 
si  mesmas  existissem  completas,  mas  de  capítulos  omitidos 
em  cartas  que  se  não  conservaram  autografas. 


2  Mon.  Eras.  II  419-420. 

3  Ib.  11  468. 

4  Cartas  de  Nóbrega  (1955)  79*-86*. 


100* 


INTRODUÇÃO  GERAL 


CAPÍTULO  IV 

CÓDICES  MANUSCRITOS 

Os  documentos  deste  volume  {Mon.  Bras.  m)  —  autó- 
grafos, originais,  apógrafos  ou  versões  -  fontes  —  conser- 
vam-se  nos  Arquivos  de  Roma,  Lisboa,  Évora,  Rio  de 
Janeiro  e  Madrid : 

Roma:      Archivum  Romanum  Societatis  Iesu  (ARSI). 
Lisboa:    Arquivo  Nacional  da  Torre  do  Tombo. 

Biblioteca  Nacional. 

Biblioteca  da  Ajuda. 

Academia  das  Ciências. 
Évora:     Biblioteca  Pública  e  Arquivo  Distrital. 
Rio  de  Janeiro:    Biblioteca  Nacional. 
Madrid:   Biblioteca  Nacional. 

Colégio  de  Chamartín. 

Como  nos  dois  precedentes,  também  os  códices  deste 
se  descrevem  pela  ordem  das  cidades.  E  dos  que  já  foram 
descritos  anteriormente,  faz-se  aqui  a  respectiva  referência, 
apontando  a  seguir  os  documentos  que  contém  o  presente 
volume  {Mon.  Bras.  m). 

i.    Bras.  2  (ARSI) 

1.  Titulo :  Na  lombada,  moderno  :  Bras.  j  2  Prov.  /  Brasiliae  Ord. 
ô'  Epp.  I  Generalinm  j  et  /  Visitationes.  Antigo,  num  rectângulo  de 
pergaminho  colado  dentro  na  capa:  Primus  liber.  Ordens  dos  Padres 
Geraes.  Outro,  posterior  a  este,  também  antigo:  Ordens  comnmas  a  esta 
Provinda  do  Brasil  enviadas  pellos  N.  Padres  Gerais,  e  agora  pedidas 
para  se  reverem  etc.  Num  pequeno  fragmento  de  pergaminho,  igual- 
mente colado  no  interior  da  capa :  Brasiliae  Ordinationes.  E  noutro : 
ijç  (número  que  devia  ser  o  do  códice  primitivo  do  Arquivo  da  antiga 
Província  do  Brasil).  Na  i.a  folha  do  antigo  códice  (hoje,  f.  i3r)  lê-se, 
por  letra  do  P.  Pero  Rodrigues:  JESUS. /  —  Obediências  de  Roma  —  / 
para  a  Provinda  do  Brasil.  — 

2.  Medida:  0,210x0,160.  Encadernação  moderna,  capas  de  pape- 
lão forte  e  percalina. 


CAP.  IV.  -  CÓDICES  MANUSCRITOS 


101* 


3.  Paginação :    166  ff.  (em  branco,  as  ff.  154-166). 

4.  Conteúdo:  Expresso  no  titulo.  Tirando  um  documento,  refe- 
rente a  Goa  de  1546,  o  mais  antigo  do  Brasil  é  de  1561  e  o  mais  moderno, 
de  1603,  ano  em  que  o  P.  Pero  Rodrigues  terminou  o  provincialato 
(1594-1603),  durante  o  qual  se  organizou  este  códice.  Documentos 
(cópias)  em  português,  espanhol  e  latim. 

5.  Mon.  Bras.  111:  Doe.  43. 

2.  Bras.  )-i  (ARSI) 

Descreve-se  :  Mon.  Bras.  I  61-62. 
Mon.  Bras.  m  :  Does.  35  36. 

3.  Bras.  J-ll  (ARSI) 

1.  Título:  Na  lombada,  moderno:  Bras.  j-ii  /  Brasil  /  Episto- 
lae  I  i66i-i6çj  /'  j.  Antigo,  num  rectângulo  de  pergaminho  colado 
dentro  na  capa:  Brasil  Epistolae  1661- 1695. 

2.  Medida:  0,330X0,235.  Encadernação  moderna,  capas  de  pape- 
lão e  percalina,  lombada  e  cantos  de  pergaminho. 

3.  Paginação:  ff.  01-02 -f- 363  -f- 363a  (branca).  Carimbo  moderno 
ao  pé  do  fólio. 

4.  Conteúdo :  Cartas  do  Brasil,  quase  todas  autógrafas  ou  origi- 
nais, em  latim  e  português,  e  uma  ou  outra  em  italiano  e  espanhol. 
As  datas  são  as  que  constam  do  título,  excepto  uma  carta  de  1563 
(incluída  por  equívoco  entre  as  de  1663),  e  no  fim  do  códice,  há  qua- 
tro documentos  também  do  século  xvi  (1594).  Na  f.  109  inseriu-se  uma 
carta  de  1670,  que  não  trata  do  Brasil,  datada  de  Beja  (Portugal),  decerto 
por  o  organizador  do  códice  ter  lido  Baya. 

5.  Mon.  Bras.  m :  Doe.  72. 

4.  Bras.  3-1  (ARSI) 

Descreve-se  :  Mon.  Bras.  11  75  *. 
Mon.  Bras.  m  :  Doe.  63. 

5.  Bras.  11  (ARSI) 

Descreve-se  :  Mon.  Bras.  I  62. 
Mon.  Bras.  III :  Does.  33  71. 

6.  Bras.  (ARSI) 
Descreve-se  :  Mon.  Bras.  1  62-63. 

Mon.  Bras.  Ill :  Does.  16  17  18  19  20  21  22  23  46  49  50  51  52  55  56  58 
59  61  66  72. 


102* 


INTRODUÇÃO  GERAL 


7.  Lus.  Jl  (ARSI) 

r.  Titulo  :  Na  lombada  moderno  :  Lusitânia  /  Quadritn.  /  1557- 
zSà2 1  jz  I  Dentro  na  guarda:    Lusit.  Annuae-Quadrimestres  1557-1562. 

2.  Medida:  0,315x0,235.  Encadernação  moderna  forte,  capas  de 
papelão  e  percalina,  lombada  e  cantos  de  pergaminho. 

3.  Paginação :  266  ff.  Carimbo  moderno  ao  pé  do  fólio. 

4.  Conteúdo  :  Relações,  ânuas  ou  quadrimestres,  quase  todas  auto- 
grafas, e  com  endereço  ao  P.  Geral.  Em  latim  e  espanhol. 

5.  Mon.  Bras.  m :  Doe.  69. 

8.  Lus.  60  (ARSI) 

Descreve-se:  Mon.  Bras.  11  77*. 

Mon.  Bras.  Ill :  Does.  6  7  8  9  10  14  25  29  30. 

9.  Lus.  61  (ARSI) 

SC    Título  :   Na  lombada,  moderno:   Epist.  /  Lusit.  / 1561-1565  /  61. 

2.  Medida:  0,310x0,240.  Encadernação  moderna,  capas  de  pape- 
lão e  percalina.  lombada  e  cantos  de  pergaminho. 

3.  Paginação :  ff.  303.  Carimbo  moderno  ao  pé  do  fólio. 

4.  Conteúdo  :  Quase  tudo,  cartas  autógrafas  ou  originais  de  Padres 
de  Portugal  ao  Padre  Geral  (em  Roma  ou  Trento)  e  ainda  algumas  de 
diversos  a  diversos;  entre  as  quais  uma  do  Duque  de  Bragança  (1561),  e 
um  breve  escrito  latino  autógrafo  de  El-Rei  D.  Sebastião,  menino  (1563). 
Em  português  e  latim  e  espanhol  que  é  a  língua  preponderante  deste 
códice. 

5.  Mon.  Bras.  in :  Does.  42  44  47  54  60  64. 

10.  Goa  10-2  (ARSI) 

1.  Titulo:  Na  lombada:  Goa  Malab.  /  Eppist.  / 1545- 1560  /  II  / 1554- 
-1560/10.   Dentro  na  guarda  :  Epistolae  Goa- Malab.  1554-1560. 

2.  Medida:  0,320X0,230. 

3.  Paginação :  301-596  ff.,  continuação  de  Goa  10-1.  Carimbo 
moderno  ao  pé  do  fólio. 

4.  Conteúdo  :  Este  códice  é  desdobramento  (2.0  vol.)  de  Goa  10-1, 
já  descrito  em  Mon.  Bras.  I  64;  e,  portanto,  com  o  mesmo  conteúdo. 

5.  Mon.  Bras.  m :  Doe.  40 


CAP.  IV.-CÓDICKS  MANUSCRITOS 


105* 


11.  Goa  J7  (ARSI) 

P.  Seb.  Gonçalves  /  Historia  /  da  /  Comp.  /  de  Iesus  j  na  j  índia  Orien- 
tal I  Primeira  parte. 

Descrito  pormenorizadamente  por  Wicki,  Introdução  ao  i  vol. 
desta  obra  (Coimbra  1957)  xii-xvi,  de  que  ainda  só  se  imprimiu  este 
primeiro  volume. 

Mon.  Bras.  Ill :  Doe.  2. 

12.  Itália  ii)  (ARSI) 

r.  Título  :  Na  lombada  :  Epist.  /  Italiae  /  ijj8  /  ///  /  iij.  Den- 
tro na  guarda,  moderno:  No  interior  da  capa:  Ital.  iij;  na  guarda: 
Epist.  Italiae.  Aug.  —  Dec.  ijj8. 

2.  Medida :  0,330  x  0,235. 

3.  Paginação:  338  ff.  carimbo  moderno  ao  pé  do  fólio. 

4.  Conteúdo :  Cartas  das  diversas  regiões  da  Itália  enviadas  a 
Roma.  Autógrafas  e  cópias.  Prepondera  o  italiano;  também  em  espa- 
nhol e  latim. 

5.  Mon.  Bras.  m:  Doe.  1. 

13.  Epp.  NN.  36  (ARSI) 

1.  Titulo:  Na  lombada,  moderno:  Variarum  Provinciarum  1/ 
10  Augusti  1J62.  / jo  Augusti  ijój.  /  36.  Antigo,  dentro,  na  i.a  folha 
do  códice  (depois  da  guarda  moderna):  Variarum  f  Provinciarum  / 
1/62  1 1563. 

2.  Medida  :  0,320x0,220.  Encadernação  moderna,  capas  de  pape- 
lão e  percalina,  lombada  e  cantos  de  pergaminho. 

3.  Paginação :  ff.  309.  Da  f.  79V  salta  para  9or.  Paginação  manus- 
crita ainda  antiga  ao  alto  (sem  carimbo  moderno  ao  pé  do  fólio). 

4.  Conteúdo:  Registo  das  cartas  enviadas  de  Trento  em  nome  do 
Geral  Diego  Laynes.  O  espaço  de  tempo  é  mais  amplo  que  o  indicado 
no  título  porque  vai  até  11  de  Outubro  de  1563  (cf.  f.  301V). 

5.  Mon.  Bras.  111 :  Does.  68  70  73. 

14.  Epp.  NN.  54  (ARSI) 

1.  Título  :  Na  lombada  :  Epistolae  /  P.  Laynes  /  Vota  /  de  eius  / 
generalatu.  54.  Dentro,  num  rectângulo  de  carneira  da  lombada  antiga: 
Epistolae  /  P.  Laines  j  Vota  de  eius  / generalatv.  Moderno :  Epp.  NN.  $4. 

2.  Medida:  0,320X0.240.  Encadernação  moderna,  capas  fortes 
de  papelão  e  percalina,  cantos  e  lombada  de  pergaminho. 

3.  Paginação :   249  ff.,  carimbo  moderno  ao  pé  do  fólio. 


104* 


INTRODUÇÃO  GERAL 


4.  Conteúdo :  Cartas  de  Laynes  durante  a  vida  de  S.  Inácio  e  depois 
da  sua  morte  (1540-1562).  Além  das  cartas  de  Laynes,  há  pareceres  de 
outros  Padres  de  diversas  Províncias.  Autógrafos  e  cópias.  Em  latim, 
italiano  e  espanhol.  E  também  algum  documento  em  português. 

5.  Mon.  Bras.  Ill :  Doe.  2. 

15.  Epp.  NN.  95  (ARSI) 

Descreve-se :  Mon.  Bras.  11  76^-77*. 
Mon.  Bras.  Ill :  Does.  34  36  53  74. 

16.  Fondo  Gesuitico  (ARSI) 

1.  Título:  Na  lombada  :  Responsa  ad  interrogationes  Patris  Nadal  I 
[=  códice  77  I]. 

2.  Medida  :  0,235x0,330.  Encadernação  moderna,  capas  de  per- 
calina,  lombada  e  cantos  de  pergaminho. 

3.  Paginação :    428  ff.,  carimbo  moderno  ao  pé  do  fólio. 

4.  Conteúdo:  As  respostas  estão  agrupadas  por  ordem  alfabética 
que  neste  primeiro  volume  vão  da  letra  A  à  letra  D.  As  respostas  deviam 
ser  todas  do  próprio  punho,  portanto,  autografas.  Preponderam  o  por- 
tuguês e  o  espanhol ;  também  em  latim  e  italiano.  São  na  primeira  pes- 
soa do  singular,  com  preciosos  elementos  autobiográficos.  Nos  diversos 
volumes  destas  respostas,  há  nomes  célebres  como  Pero  da  Fonseca, 
Luís  de  Molina,  e  vários  que  foram  ou  estiveram  depois  no  Brasil,  como 
o  Visitador  Cristóvão  de  Gouveia  (1561).  E  ainda  outros  que  seriam 
depois  mártires.  Fonte  de  informação,  em  muitos  casos  única,  e  não 
apenas  biográfica.  Não  tratando  de  assuntos  do  Brasil,  não  entram  em 
Mon.  Bras.  Todavia  está  presente  o  Brasil  com  um  filho  seu,  na  pes- 
soa de  Cipriano,  cujas  respostas  já  tocam  assunto  directamente  brasi- 
leiro. 

5.  Mon.  Bras.  111 :  Doe.  57. 

17.  Colecção  de  S.  Vicente  10  (Torre  do  Tombo,  Lisboa) 

r.  Titulo:  Na  capa  :  Cartas  e  papeis  var  jios  da  Raynha  Donna 
Cathariiia.  PD  AC.  Na  2.a  folha  da  guarda:  «De  Pedro  da  Costa  de 
Almeida  Salema». 

2.  Medida:  0.333x0,230.  Encadernação  ainda  antiga  de  perga- 
minho, de  uma  só  peça.  Os  cadernos  acham-se  descolados  da  lombada, 
com  muitas  folhas  soltas. 

3.  Paginação :  441  ff.  Paginação  manuscrita,  e,  através  do  códice, 
muitas  folhas  em  branco. 


CAP  IV. 


-  CÓDICES  MANUSCRITOS 


105' 


4.  Conteúdo  :  Minutas  de  cartas  e  alvarás,  traslados  de  alvarás  e 
litígios.  Algumas  assinadas  «a  RayDha»  e  algumas  «António  Pinheiro», 
cnja  letra  é  frequente.  Cartas  de  outros  para  o  Rei  ou  a  Rainha,  e 
avisos.  Assuntos  internos  e  externos  de  Portugal  e  Ultramar  (Brasil, 
índia,  Ormus,  etc).  Período  de  1557  a  1559.  Em  português  (um  ou 
outro  documento  em  espanhol  e  latim). 

5.  Mon.  Bras.  Ill :  Does.  3  4. 

18.  Corpo  Cronológico  (Torre  do  Tombo,  Lisboa) 

Duas  cartas,  uma  de  Mem  de  Sá  a  EI-Rei  (31  de  Março  de  1560),  outra 
da  Câmara  de  São  Paulo  à  Rainha  (20  de  Maio  de  1561). 
Mon.  Bras.  Ill :  Does.  31  48. 

19.  Inquisição  de  Lisboa  (Torre  do  Tombo,  Lisboa) 

Do  processo  de  João  de  Boles  {Inquisição  de  Lisboa,  Processos  1586 
e  5451),  extrairam-se  os  depoimentos  de  Padres  e  Irmãos  da  Companhia 
de  Jesus  no  Brasil. 

Mon.  Bras.  111  :  Doe.  32. 

20.  Fundo  Geral  91  j  (Biblioteca  Nacional,  Lisboa) 

É  uma  cópia  da  História  da  Companhia  de  Jesus  no  Oriente  do 
P.  Sebastião  Gonçalves  (século  xvn).  Mas,  por  ser  revista  e  corrigida 
pelo  autor,  pode  considerar-se  original.  Códice  descrito  em  MX  II  1022; 
Epp.  Xav.  I  183*;  WiCKl,  na  Introdução  a  esta  obra  de  Sebastião  Gon- 
çalves em  curso  de  publicação:  vol.  I  (Coimbra  1957)  X-XII  (Introdução). 

Mon.  Bras.  111 :  Doe.  2. 

21.  Fundo  Geral  4534  (Biblioteca  Nacional,  Lisboa) 

Livro  2°  em  o  qual  se  tresladão  as  cartas  que  mandão  os  Padres  he 
Irmãos  da  Companhia  de  Jesu  que  andão  na  índia  das  cousas  que  naque- 
las partes  Deus  Nosso  Senhor  por  meyo  deles  em  serviço  seu  he  louvor 
obra.  Que  começa  do  anno  do  nacimento  de  Nosso  Senhor  Jesu  Christo 
de  1557  em  diante  até  64.  Pertenceu  ao  Colégio  de  Coimbra.  Descre- 
ve-se  em  MX  I  p.  xx. 

Mon.  Bras  111 :  Doe.  38. 

22.  Cód.  46-XI-y  (Biblioteca  da  Ajuda,  Lisboa) 

1.  Título  :  Na  lombada  :  Rerum  /  Lusitanicarum  /  Vol.  LlV  /  Sym- 
mitica  Lusitanica  Tom.  47°  /Dentro  no  frontispício:  Codex  Diploma- 
tievs  I  Lvsitaniae  /  in  quo  Insígnia  Varii  Generis  Diplomata  /  Brevia 

8* 


INTRODUÇÃO  GERAL 


ac  Litterae  /  De  re  praecipuè  Ecclesiastica  continentur  nvnc  pritnvm  f 
Suinma  cura  laboreq  :  collecta,  ac  in  ordinem  /  digesta  /  opera,  et  studio  f 
Emmanuelis  Pereyra  Sampayo  Equitis  deavrati  j  Militiae  lesu  Christi  t 
Abba/is  Ponilimensis  [sic]  /  Tom  iv.  / 

2.  Medida :  0,272  X  0,205.  Encadernação  antiga,  lombada  de  coiro, 
capas  de  papelão  e  tela,  e  cantos  de  pergaminho. 

3.  Paginação  :  756  páginas. 

4.  Conteúdo:  Expresso  no  título.  Século  xvi-xvii.  Em  latim, 
português  e  italiano. 

5.  Mon.  Bras.  in  :  Doe.  43. 

23.  Cód.  49-IV-fo  (Biblioteca  da  Ajuda,  Lisboa) 

É  o  2.0  de  dois  volumes  de  «Cartas  de  Jesuítas  na  Ásia»,  que 
pertenciam  à  Casa  Professa  de  S.  Roque  (Lisboa).  Descritos  em  MX  I 
(1900)  xiv-xvi  ;  e  mais  profusamente,  Epp.  Xav.  1  i92*-io4:::. 

Mon.  Bras  111 :  Doe.  38. 

24.  Códice  12  Azul  (Academia  das  Ciências,  Lisboa) 

É  o  2.0  de  três  volumes  de  cartas  dos  Padres  da  Companhia  de 
Jesus  das  Missões  do  Oriente,  desde  a  Etiópia  à  índia,  Japão  e  Molu- 
cas,  que  pertenceram  ao  Colégio  de  Évora,  todos  três  hoje  na  Biblioteca 
da  Academia  das  Ciências,  também  conhecidos  pelo  título  mais  res- 
trito de  «Cartas  do  Japão».  Descritos  em  MX  l(i9oo)xvin-xx ;  Epp. 
Xav.  I  194*- 196*. 

Mon.  Bras.  m  :  Doe.  38. 

25.  Cód.  CV III 1 2-2  (Biblioteca  e  Arquivo  Público  de  Évora) 

Este  códice  não  trata  de  assuntos  do  Brasil;  mas  contém,  de  passo, 
uma  referência  a  eles,  que  entra  em  Mon.  Bras.  111 :  Doe.  69. 

26.  Códice  de  S.  Roque  (Biblioteca  Nacional,  Rio  de  Janeiro) 

Descreve-se :  Mon.  Bras.  1  67-68.  —  Ao  que  aí  dissemos,  e  em  Mon. 
Bras.  II  79*,  convém  acrescentar  que  o  códice  encerra  vários  documen- 
tos únicos,  e  que  em  muitas  partes  se  encontra  hoje  deteriorado  e  ate 
ilegível.  Donde  se  segue  que  reveste  carácter  de  benemerência  o  tra- 
balho dos  editores  das  Cartas  Jesuíticas,  onde  todas  se  imprimiram, 
Vale  Cabral  e  Capistrano  de  Abreu;  e  ainda  Afrânio  Peixoto,  promo- 
tor da  sua  reedição,  em  particular  das  «Avulsas». 

Mon.  Bras.  111  :  Does.  5  11  12  13  15  17  18  19  20  21  22  26  27  28  34  35 
36  39  40  41  45  53  55  56  58  59  61  62  65  66  72  74. 


CAP.  V.  -EDIÇÕES  DAS  CARTAS  E  MAIS  DOCUMENTOS 


27.  Varia  Historia  II  (Madrid) 

Desta  série,  do  antigo  Colégio  de  Alcalá  e  actualmente  no  Colégio 
de  Chamartín,  Madrid,  descreve-se  o  vol.  m  em  Mon.  Bras.  I  68-69. 
Nesse  vol.  m  (de  documentos  extra  Europani)  deveria  incluir-se  a 
carta  de  António  Pires,  da  Baía,  22  de  Outubro  de  1560,  aos  Padres  e 
Irmãos  de  Portugal;  mas  conserva-se  no  vol.  11  (de  documentos  intra 
Europam),  por  se  ter  copiado  numa  carta  escrita  do  Colégio  de  Bra- 
gança ao  Provincial  de  Portugal.  O  vol.  II,  que  é  continuação  do  1,  des- 
creve-se em  Epp.  Nadal  I  p.  LIV. 

Mon.  Bras.  m  :  Doe.  41. 

28.  Cód.  jçj8  (Biblioteca  Nacional,  Madrid) 

Este  cód.  5938  (antes  Q  317)  contém  três  cartas  do  Brasil : 

1.  De  Pero  Correia,  São  Vicente,  18  de  Julho  de  1554  ; 

2.  De  José  de  Anchieta,  São  Vicente,  31  de  Março  de  1555 ; 

3.  De  Ambrósio  Pires,  Baía,  12  de  Junho  de  1555. 
Informa-nos  o  P.  Josef  Wicki  que  também  se  ocupará  deste  códice 

em  DI  v,  por  conter  igualmente  alguns  documentos  da  Índia,  do  mesmo 
período. 

Pelo  que  toca  ao  Brasil,  aquelas  três  cartas,  traduzidas  em  italiano, 
são  transcritas  de  Diversi  Avisi  Particolari  daWIndie  di  Portogallo 
(Venezia  1559;  ib.  1565),  e,  portanto,  com  as  deficiências  de  datas  ou 
de  conteúdo,  apontadas  nas  introduções  a  cada  qual,  em  Mon.  Bras.  II : 
Correia  (63-72),  Anchieta  (173-193),  Pires  (234-238).  Não  tendo  valor  de 
fonte,  basta  esta  referência  de  carácter  arquivístico  retrospectivo. 


CAPÍTULO  V 

EDIÇÃO  DAS  CARTAS  E  MAIS 
DOCUMENTOS 

Cf.  Mon.  Bras.  I  69 ;  11  79*-8o*. 

I.    Nuovi  Avisi  ijÓ2. 

Descreve-se  :  Mon.  Bras.  I  72  ;  cf.  II  81*. 

Mon.  Bras.  111 :  Does.  17  18  19  20  21  22  34  36  40. 


108* 


INTRODUÇÃO  GERAL 


2.  Nuovi  Avisi  IJÓJ. 

NVOVI  AVISI  /  DELLE  INDIE  /  DI  PORTOGALLO,  /  Vennti 
nuouamente  dalli  R.  padri  delia  /  compagnia  di  GIESV,  &  tradotti  dal, 
la  lingua  Spagnola  nella  Italiana.  /  Quarta  Parte.  /  [Sibila]  Co'l  Priuile- 
gio  dei  Sommo  Pont.  Pio  IIII.  &  dei  /  1'Illustriss.  Senato  Veneto  per 
anni  XX. /[No  fim,  f.  189V:]  In  Venetia  per  Michele  Tramezzino.  / 
MDLXV.  / 

O  livro,  depois  do  «Motu  Próprio»  de  Paulo  IV,  introdução  e  índice 
(7  ff.  não  numeradas),  consta  de  189  ff.  numeradas  ;  e  até  à  f.  i6ir  é  todo 
preenchido  por  cartas  do  Oriente,  Japão,  índia,  Molucas,  e  ainda  por 
algumas  notícias  da  Etiópia  e  Monomotapa.  As  cartas  do  Brasil  come- 
çam na  f.  iôiv  e  vão  até  o  fim  do  livro  (f.  189V),  todas  do  ano  de  1561, 
de  António  Blázquez,  António  Rodrigues,  Luís  da  Grã  e  José  de 
Anchieta.  São  as  cartas  53  55  56  58  59  61. 

3.  Gabrieli  1369. 

Jvlii  Gabrieli  Eugubini  Orationum  et  epistolarum  Libri  duo.  Vene- 
tiis  1569. 

Contém  a  versão  latina  da  carta  de  Nóbrega  ao  Cardeal  Infante,  de 
1  de  Junho  de  1560,  primeira  impressão  conhecida  desta  carta  (Streit  II 
347  n.  1272):  Doe.  35. 

4.  Collecção  de  Noticias  1812. 

Collecção  de  Noticias  para  a  Historia  e  Geographia  das  Nações  Ultra- 
marinas, que  vivem  nos  Domínios  Portugueses  ou  lhes  são  visinhos. 
Publicada  pela  Academia  Real  das  Scicncias  I  (Lisboa  1812)  127-180. 

Este  tomo  1  consta  de  dois  volumes,  o  primeiro  dos  quais  contém 
três  trabalhos  diferentes,  e  o  segundo  um  só,  mas  com  paginação  autó- 
noma. No  primeiro  volume,  sob  o  n.°  III :  «Josephi  de  Anchieta  Epis- 
tola quamplurimarum  rerum  naturalium,   quae   S.  Vincentii  (nunc 

5.  Pauli)  Provinciam  incolunt,  sistens  descriptionem». 

Fez-se  uma  separata  com  o  título  seguinte:  «Josephi  de  Anchieta 
Epistola,  quamplurimarum  rerum  naturalium  quae  S.  V  incentii  (nunc 
S.  Pauli)  Provinciam  incolunt  sistens  descriptionem,  a  Didaco  de  Toledo 
Lara  Ordonhez  adjectis  annotationibus  edita:  Jussuque  Regiae  Scien- 
tiarum  Academiae  Olissiponensis  Ejus  Memoriis  ad  Historiam  Trans- 
marinarum  Nationum  conscribendam  proficientibus  adjecta.  Olissipone 
Typis  Academiae.  Anno  1799.  Régio  Permissu». 


CAP.  V.  -  EDIÇÕES  DAS  CARTAS  E  MAIS  DOCUMENTOS  109* 


Como  o  vol.  I  de  Collecção  de  Noticias  da  Academia,  a  que  alude  a 
separata,  é  de  1812,  mal  se  compreende  que  a  impressão  da  separata 
seja  de  1799.  Talvez  data  da  oferta  à  Academia  ou  das  anotações. 

Contém  a  carta  34. 

5.  Silva  Lisboa  iSjj. 

Annaes  do  Rio  de  Janeiro,  contendo  a  descuberta  e  conquista  d'este 
pais,  a  fundação  da  cidade,  com  a  historia  civil  e  ecclesiastica  até  á  che- 
gada d'elRey  D.  João  VI ;  alem  de  noticias  topographicas,  zoológicas  e 
botânicas.  7  vols.  Rio  de  Janeiro  1834-1835. 

Cf.  Mon.  Bras.  1  74. 

Mon.  Bras.  Ill :  Does.  13  35  36  40  53  (todos  no  vol.  VI,  1835). 

6.  Accioli  18 Jó. 

Memorias  Históricas  e  Politicas  da  Provinda  da  Bahia.  Por  Ignacio 
Accioli  de  Cerqueira  e  Silva.  5  vols.  Bahia  1835-1843. 

Teve  2."  edição,  feita  por  Brás  do  Amaral,  5  vols.,  Baía  1917-1937 ; 
e  nela,  além  das  cartas  do  texto,  reproduziu  o  editor,  em  apêndices, 
outras  cartas  de  Jesuítas,  já  antes  publicadas,  e  de  diversos  tempos. 
Mas  imprimiram-se  sem  menção  de  fontes  nem  a  indispensável  forma 
crítica,  o  que  as  desvaloriza.  Indicam-se  as  que  pertencem  ao  texto  de 
Accioli. 

Contém  as  cartas  13  40. 

7.  Revista  do  IH  GB  1840- 1886. 

Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  Brasileiro.  235  vols. 
Rio  de  Janeiro  1839-1957. 

Cf.  Mon.  Bras.  I  74-75 ;  11  82*. 

Mon.  Bras.  111 :  Does.  17  18  19  20  21  22  35  55  56  58  61  65  74. 

8.  Porto  Seguro  1854. 

Historia  Geral  do  Brasil  antes  da  sua  separação  e  independência  de 
Portugal.  2  vols.  Rio  de  Janeiro  1854-1857. 

A  primeira  edição  imprimiu-se  em  Madrid  ;  a  2.a  em  Viena  de 
Áustria  em  1877 ;  e  a  terceira  [do  primeiro  vol.  4."]  modernamente  em 


1 10* 


INTRODUÇÃO  GERAL 


São  Paulo,  sem  data,  em  5  volumes,  com  introdução  de  Rodolfo  Gar- 
cia e  notas  de  Capistrano  de  Abreu  e  Rodolfo  Garcia  [Manual  Biblio- 
gráfico de  Estudos  Brasileiros  546]. 

Cf.  Mon.  Bras.  II  82*. 

Mon.  Bras.  m  :  Does.  3  4  48. 

9.  Inocêncio  i86j. 

Chronica  da  Companhia  de  Jesus  do  Estado  do  Brasil.  Do  P.  Simão 
de  Vasconcelos.  Segunda  edição  correcta  e  augmentada.  2  vols.  Lis- 
boa 1865. 

Cf.  Mon.  Bras.  I  75. 
Mon.  Bras.  111  :  Doe.  35. 

10.  Bullarium  Patronatus  1868. 

Bullarium  Patronatus  Portugalliae  Regum  in  ecclesiis  Africae,  Asiac 
atque  Oceaniae,  Bulias,  Brevia,  Epistolas,  Decreta  Actaque  Sanctae 
Sedis  ab  Alexandro  III  ad  hoc  usque  tempus  amplectens.  Curante  Levy 
Maria  Jordão  [et  successoribus].  5  vols.  Olisipone  1868-1879. 

Levi  Maria  Jordão  é  também  conhecido  por  Visconde  de  Paiva 
Manso,  nome  com  que  às  vezes  se  cita  esta  obra.  Contém  o  doe.  43. 

11.  Anais  da  BNRJ  1876-1906. 

Anais  da  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro.  74  vols.  1876-1953. 
Cf.  Mon.  Bras.  II  82  *. 

Mon.  Bras.  111 :  Does.  26  27  28  31  32  34  62. 

12.  Azevedo  Marques  1879. 

Apontamentos  Históricos,  Geographicos,  Biographicos,  Estatísticos 
e  Noticiosos  da  Provinda  de  São  Paulo.   2  vols.  Rio  de  Janeiro  1879. 

Contém  os  does.  33  37. 


CAP.  V.  -  EDIÇÕES  DAS  CARTAS  E  MAIS  DOCUMENTOS  111* 


13.  Corpo  Diplomático  1886. 

Corpo  Diplomático  Português.  Vol.  IX.  Lisboa  1886. 
Contém  o  doe.  43. 

14.  Vale  Cabral  1886. 

Cartas  do  Brasil  do  Padre  Manuel  da  Nóbrega  fij^ç-ijéo).  Rio  de 
Janeiro  [Imprensa  Nacional]  1886. 

Da  intervenção  pessoal  de  Capistrano  de  Abreu  na  organização 
deste  volume  das  cartas  de  Nóbrega,  dá  testemunho  o  mesmo  Capis- 
trano em  Carta  ao  P.  Carlos  Teschauer,  Rio  26  de  Abril  de  1906,  num 
passo  de  interesse  bibliográfico  para  este  período  de  Mon.  Bras.  111  : 
«A  Biblioteca  Nacional  tem  no  prelo  um  trabalho  sobre  Mem  de  Sá. 
Consta  de  uma  justificação  de  serviços  prestada  na  Bahia  em  1570,  e 
de  outros  documentos  contemporâneos,  entre  os  quais  excertos  de 
cartas  de  Jesuítas,  geralmente  pouco  conhecidas.  Entre  estas  figuram 
algumas  de  Anchieta  que  se  podem  dizer  inéditas,  tamanhas  as  incor- 
reções  com  que  foram  publicadas  por  Baltazar  da  Silva  Lisboa.  Insto 
com  o  director  da  Biblioteca  para  dar  em  fotografia  a  admirável  carta 
de  Nóbrega  a  Tomé  de  Sousa:  ele  hesita,  porque  a  carta  é  bastante 
longa.  Além  disso  hoje  há  a  edição  correcta  do  finado  Vale  Cabral, 
que  bom  trabalho  deu  a  nós  dois»  (José  Honório  Rodrigues,  Novas 
Cartas  de  Capistrano  de  Abreu,  in  Revista  de  História  31  [São 
Paulo  1957]  83). 

Cf.  Mon.  Bras.,  1  76;  11  82*. 
Mon.  Bras.  m :  Does.  12  13  35. 

15.  [Teixeira  de  Melo  1886]. 

Cartas  do  Padre  Antonio  Blasques  da  Companhia  de  Jesus,  escrip- 
tas  do  Brasil  1556-65.  Rio  de  Janeiro  1880. 

Separata  da  Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  Brasileiro  49 
i.a  P.  (1886)  122-125.  Cf.  Leite,  História  vm  108.  Além  das  cartas  de 
Blázquez  (não  todas),  enunciadas  no  título,  inclui  seis  de  António 
Rodrigues,  e  uma,  no  fim,  de  Leonardo  do  Vale.  Pareceu  útil  deixar 
aqui  esta  notícia  destrinçada,  mas,  pois  é  separata,  cita-se  nas  introdu- 
ções apenas  a  Revista. 

Mon.  Bras.  11  8a*-83*. 

M on.  Bras.  Ill :  Does.  17  18  19  20  21  22  55  56  58  61. 


112* 


INTRODUÇÃO  GERAL 


16.  Cartas  Avulsas  1887. 

CARTAS  JESUÍTICAS  III-IV.  Cartas  Avulsas  ijjo-ij68.  Rio  de 
Janeiro  [Imprensa  Nacional]  1887. 

Como  se  diz  em  Mon.  Bras.  1  76  n.  14,  esta  edição  das  Cartas  Avul- 
sas, preparada  por  Vale  Cabral  e  Capistrano  de  Abreu,  não  entrou  no 
mercado  por  lhe  faltarem  as  notas,  e  quase  toda  desapareceu  no  incên- 
dio da  Imprensa  Nacional. 

Mon.  Bras.  m:  Os  mesmos  documentos  referidos  infra,  na  edição 
de  Afrânio  Peixoto  1931  (n.  19). 

17.  MHSI  (1894-19^7). 

Nas  diversas  séries  de  Monumento  Histórica  Societatis  lesu  foram 
saindo  documentos  comuns,  quer  àquelas  séries  quer  ao  Brasil;  e,  por- 
tanto, se  integram  também  na  série  brasileira  (cf.  Mon.  Bras.  11  83*). 
São  deste  período  e  entram  em  Mon.  Bras.  Ill : 

De  Documenta  Iudica  (DI) :  Does.  2  38. 

De  Epistolae  P.  Hieronymi  Nadal  (Epp.  Nadal)  :  Does.  44  47  64. 
De  Lainii  Monumento  (Lainii  Mon.)  ;  Does.  1  2  42  68. 
De  Litterae  Quadrimestres  (Litt.  Ouadr )  :  Doe.  60. 

18.  Cartas  inéditas  1900. 

Padre  José  de  Anchieta.  Cartas  inéditas.  Instituto  Histórico  e 
Geographico  de  São  Paulo  Edição  commemorativa  do  40  Centenario. 
S.  Paulo  1900.  —  Título  da  capa,  que  não  corresponde  ao  do  frontispício, 
como  segue:  Centenario  da  Descoberta  do  Brasil.  Carta  fazendo  a 
descripção  das  innumeras  coisas  naturaes,  que  se  encontram  na  pro- 
vinda de  S.  Vicente  hoje  S.  Paulo  seguida  de  outras  cartas  inéditas 
escriptas  da  Bahia  pelo  Venerável  Padre  José  de  Anchieta  e  copiadas  do 
Archivo  da  Companhia  de  Jesus.  Traduzidas  do  Latim  pelo  professor 
João  Vieira  de  Almeida.  Com  um  prefacio  pelo  Dr.  Augusto  Cesar  de 
Miranda  Azevedo.  S.  Paulo  1900. 

Este  livro  só  contém  as  traduções  em  português  (deficientes)  de 
três  cartas  latinas  de  Anchieta,  já  nenhuma  inédita  em  1900:  uma, 
de  1556  (Mon.  Bras.  II  302) ;  outra  de  1584  (a  que  leva  o  n.°  28  na 
bibliografia  geral  de  Anchieta,  que  demos  em  História  vm  16-42)  ;  e  a 
que  entra  neste  volume:  Carta  34. 


CAP.  V. -EDIÇÕES  DAS  CARTAS  E  MAIS  DOCUMENTOS  1  1 3* 


19.  Afrânio  Peixoto  1931. 

CARTAS  JESUÍTICAS  II.  Cartas  Avulsas  ijjo-ij68.  Rio  de 
Janeiro  1931 

Cf.  Mon.  Bras.  I  76-77  n.os  16  e  14 ;  11  84*. 

Mon.  tiras.  Ill :  Does.  5  11  15  17  18  19  20  ai  22  26  27  28  39  40  41  45 
55  56  58  59  61  65  66  72- 

20.  Alcântara  Machado  1933. 

CARTAS  JESUÍTICAS  III.  Cartas,  Informações,  Fragmentos 
Históricos  e  Sermões  do  Padre  Joseph  de  Anchieta  S.  J.  (iSS4-rS94)- 
Rio  de  Janeiro  1933. 

Cf.  Mon.  Bras.  I  35* ;  II  84*. 

Mon.  Bras.  Ill :  Does.  34  36  53  62  74. 

21.  Livro  do  Registo  1937. 

Copia  do  Livro  1°  do  Registo  de  Provimentos  Seculares  e  Ecclesias- 
ticos  da  Cidade  da  Bahia  e  Terras  do  Brasil,  feita  por  determinação 
do  lllm.0  e  Exm.<>  Sr.  D.  Fernando  José  de  Portugal,  Governador  e  Capi- 
tam General  da  Capitania  da  Bahia.  Anno  de  1800.  Biblioteca  Nacio- 
nal do  Rio  de  Janeiro,  cód.  1-19,  16,  1.  (Publ.  in  Documentos  Históri- 
cos xxxv  (1937)  1-458;  xxxvi  (1937)  3-198]. 

Mon.  Bras.  111 :  Doe.  24. 

22.  Serafim  Leite  1938-1943. 

História  da  Companhia  de  Jesus  no  Brasil.  Vols.  I  11  VI.  Lisboa - 
-Rio  de  Janeiro  1938-1945. 

Cf.  Mon.  Bras.  I  77 ;  II  85*. 

Mon.  Bras.  111 :  Does.  8  (vol.  11)  33  (vol.  1)  63  (vol.  VI). 

23.  Leite  1940. 

Novas  Cartas  Jesuíticas  —  de  Nóbrega  a  Vieira.  São  Panlo  1940. 

Cf.  Mon.  Bras.  1  77 ;  11  85*. 

Mon.  Bras.  m :  Does.  16  46  49  50  51  52. 


114* 


INTRODUÇÃO  GERAL 


24.  Livro  do  Tombo  1943-1944. 
Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  : 

I.  Códice  1-19,  18,  1.  Cópia  do  Livro  do  Tombo  das  terras  perten- 
centes à  Igreja  de  Santo  Antão  da  Companhia  de  Jesus.  Livro  V, 
Baía  1655-1712,  in  Documentos  Históricos  62  (Rio  de  Janeiro  1943)  141- 
-380  ;  63  (1944)  3-235. 

Na  p.  235  (correspondente  à  f.  442  do  códice)  se  explica  que  esta 
cópia,  por  autorização  superior,  foi  tirada  fielmente  do  livro  velho  que 
estava  lacerado  e  se  inutilizou;  e  que  desse  livro  os  espaços  lacerados 
se  deixam  em  branco  e  que  até  à  f.  27  do  códice  antigo  já  estava  tudo 
ilegível.  A  conferência  foi  feita  na  Tesouraria  da  Baía  a  9  de  Dezem- 
bro de  1853. 

II.  Códice  1-19, 18,  2.  Companhia  de  Jesus.  Bahia.  1727.  Tomo  2.», 
in  Documentos  Históricos  63  (1944)  236-391 ;  64  (1944)  3- 112. 

Deste  2.0  Tomo  não  se  transcreve  declaração  alguma.  O  exame  do 
conteúdo  mostra  que  consta  de  documentos  dos  séculos  XVI  a  XVIII, 
muitos  deles  conservados  através  doutros  posteriores  que  os  transcre- 
vem como  peças  justificativas  de  diversos  processos.  Também  com 
muitas  lacunas,  como  o  códice  precedente;  e  o  facto  de  serem  trans- 
crições tardias  de  documentos  antigos  origina  dificuldades  de  leitura, 
sobretudo  quando  se  trata  de  demarcações  de  terras  e  sesmarias  Uti- 
lizavam-se  por  vezes,  na  demarcação  das  terras,  acidentes  miúdos  de 
terreno  ou  de  vizinhança,  por  natureza  transitórios.  O  copista  ou  escri- 
vão reproduzia-os  mais  tarde  como  os  lia  sem  possibilidade  de  confir- 
mar por  si  mesmo  a  exactidão  da  leitura  por  se  ter  perdido  já  a  memó- 
ria deles,  no  momento  em  que  escrevia  E  alguma  coisa  disto  se  verá 
no  documento  que  entra  em  M on.  Bras.  Hl. 

Contém  o  doe.  07. 

25.  Leite  1935. 

Breve  Itinerário  para  uma  biografia  do  P.  Manuel  da  Nóbrega,  Fun- 
dador da  Província  do  Brasil  e  da  Cidade  de  São  Paulo.  Lisboa-Rio  de 
Janeiro  1955. 

Contém  o  doe.  25. 

26.  Leite  I9SJ- 

Cartas  do  Brasil  e  mais  escritos  do  P.  Manuel  da  Nóbrega  (Optra 
Omnia).  Universidade  de  Coimbra  1955. 

Cf.  Mon.  Bras.  I  78  ;  II  85*. 

Mon.  Bras.  111 :  Does.  12  13  16  35  46  49  50  51  52  68  73. 


CAP.  VI.  -  GRATIARUM  ACTIO 


115* 


27.    Cortesão  1956. 

Pauliceae  Lusitana  Monumento  Histórica  I  (1494-1600).  Em  dois 
tomos  (com  uma  só  paginação).  Publicações  do  Real  Gabinete  Portu- 
guês de  Leitura  do  Rio  de  Janeiro.  Lisboa  1956. 

Contém  os  does.  31  48. 

CAPÍTULO  VI 

GRATIARUM  ACTIO 

Ainda  deste  III  vol.  de  Monumento,  Brasiliae  se  fará, 
como  dos  dois  precedentes,  avultada  tiragem  com  o  título 
de  Cartas  dos  Primeiros  Jesuítas  do  Brasil  III.  Entre  as 
cláusulas  propostas  pela  Comissão  do  IV  Centenário  da 
Cidade  de  São  Paulo,  e  aceitas  por  Monutnenta  Histórica 
Societatis  lesu,  uma  era  que  dos  documentos  latinos  se 
desse  a  tradução  portuguesa.  Nos  dois  volumes  anterio- 
res, a  tradução  inseriu-se  logo  a  seguir  aos  textos  (eram 
vários  num  e  noutro),  saindo  portanto  nas  duas  tiragens 
de  Monumenta  e  de  Cartas.  Não  estando  prevista  tal  cir- 
cunstância nas  normas  habituais  de  MHSI,  a  sua  direcção 
achou  preferível  que  a  excepção  se  circunscrevesse  aos 
dois  primeiros  volumes  e  a  tradução  apenas  saísse  na  tira- 
gem das  Cartas.  O  que  se  fará  em  apêndice.  Pessoal- 
mente, preferíamos  manter  a  excepção  ainda  agora  no 
111  volume,  porque  na  realidade  todo  este  assunto  da 
dupla  tiragem  é  caso  excepcional.  E  trata-se,  desta  vez, 
apenas  de  um  documento,  a  carta  de  Anchieta  sobre  as 
coisas  naturais  da  Capitania  de  S.  Vicente  (doe.  34),  que 
mesmo  para  os  bons  conhecedores  de  latim  é  de  leitura 
difícil;  e,  uma  vez  assumido  e  realizado  o  trabalhoso 
encargo  da  tradução,  haveria  vantagem  em  que  ambas  as 
modalidades  beneficiassem  dela.  Donde  se  segue  que, 
neste  ponto,  fica  favorecida  a  tiragem  das  Cartas. 


116* 


INTRODUÇÃO  GERAL 


Resta,  por  último,  prestar  as  nossas  homenagens  à 
Comissão  e  Governo  do  Estado  de  São  Paulo,  do  mesmo 
modo  que  o  fizemos  nos  volumes  precedentes  (Mon.  Bras.  i 
84;  11  86*). 


Pelo  que  toca  à  execução  do  volume,  reiteramos  tam- 
bém o  nosso  reconhecimento  a  quantos  para  ela  concor- 
reram com  a  sua  autoridade  ou  inestimável  ajuda,  pedindo 
desculpa  de  qualquer  involuntária  omissão. 

Roma:  M.  R.  P.  João  Baptista  Janssens,  Prepósito  Geral 
da  Companhia  de  Jesus,  R.  P.  Rufo  Mendizábal,  Delegado 
do  mesmo  Geral  para  o  lnstitutum  Historicum  Societatis 
Iesu  até  à  impressão  deste  volume,  R.  P.  José  Leite,  da 
Cúria  Generalícia,  que  sempre  demonstrou  provado  e 
activo  interesse  por  estes  estudos,  R.  P.  Josef  Teschitel, 
Director  do  ARSI,  R.  P.  Josef  Wicki,  Redactor  de  MHSI, 
e  os  dedicados  Irmãos  António  Augusto  Rodrigues  e  Luís 
Gonzaga  Ferreira  Leão,  adstritos  aos  serviços  dactilográ- 
ficos  de  MHSI  (secção  da  antiga  Assistência  de  Portugal). 

Lisboa:  R.  P.  Acácio  Casimiro,  Arquivista  da  Província 
de  Portugal. 

Brasil:  R.  P.  Francisco  Tavares  de  Bragança,  fundador 
da  Universidade  Católica  do  Recife  («Manuel  da  Nóbrega»), 
e  os  ilustres  escritores  Dr.  José  Honório  Rodrigues  (Rio  de 
Janeiro)  e  Dr.  José  Pedro  Leite  Cordeiro  (São  Paulo). 

* 

Sobre  retratos,  convém  dizer  uma  palavra.  Como  se 
viu,  abrimos  o  1  volume  desta  série  com  o  de  Manuel  da 
Nóbrega,  Fundador  e  i.°  Provincial  do  Brasil,  e  o  11  com  o 
de  Luís  da  Grã,  2°  Provincial.  São  retratos  modernos  por 
não  haver  outros.  Nem  se  conhece  nenhum  do  século  xvi, 
em  qualquer  missão  ultramarina,  que  se  fizesse  em  vida 
do  retratado,  mas,  todos,  muito  depois  de  falecerem.  Uns 


CAP.  VI.  -  GRATIARUM  ACTIO 


117* 


e  outros,  portanto,  são  representações  executadas  com  idên- 
tica base  histórica,  a  saber,  os  documentos  em  que  se  fir- 
mam. Tais  retratos  assim  elaborados  de  acordo  com  os 
caracteres  morais  e  somáticos,  hauridos  de  informações 
coevas,  entre  outros  possíveis  merecimentos,  possuem  este, 
de  peso,  que  é  evitar-se  o  equívoco  de  representar  Padres 
da  Companhia  de  Jesus  com  o  cordão  franciscano,  a  cogula 
beneditina  ou  o  cercilho  de  monge.  Erro  de  indumentária 
ou  profissão  nada  imaginário  (pois  já  se  fez). 

Na  galeria  dos  Provinciais  do  Brasil  no  século  xvi,  a 
Nóbrega  e  Luís  da  Grã  seguiram-se  Inácio  de  Azevedo  (3.0), 
Inácio  Tolosa  (4.0),  José  de  Anchieta  (5.0),  [Cristóvão  de 
Gouveia,  Visitador],  Marçal  Beliarte  (6.°)  e  Pero  Rodri- 
gues (7.0).  Os  seus  retratos  poderão  abrir  futuros  volumes 
de  Monumenta  Brasiliae,  quando  a  cronologia  o  requerer. 
Entretanto  é  justo  que  honre  este,  o  do  Rei  de  Portugal. 
Na  história  geral  da  Companhia  de  Jesus,  D.  João  III  ocupa 
o  lugar  de  «quase  pai»,  e  na  da  Companhia  no  Brasil  foi 
ele  quem  enviou,  com  mandato  e  autoridade,  os  primeiros 
Padres,  acto  que  também  o  constitui  «quase  pai»  da  Pro- 
víncia do  Brasil.  Não  o  esqueceu,  neste  mesmo  volume  in, 
o  próprio  e  nobilíssimo  fundador  dela,  Nóbrega,  na  carta  a 
Tomé  de  Sousa,  de  5  de  Julho  de  1559  (doe.  13  §§  3  e  22). 
Por  obséquio  do  Dr.  João  Couto,  Director  do  Museu 
Nacional  de  Arte  Antiga  (Lisboa),  publicamos  o  retrato 
de  D.  João  III,  existente  nesse  Museu,  e  atribuído  a  Cris- 
tóvão Lopes,  pintor  régio,  nomeado  em  1551. 

Antes  de  concluir  esta  Introdução  Geral,  seja-nos  lícito 
lembrar  que  decorreram  já  vinte  anos  desde  que  imprimi- 
mos o  I  volume  da  História  da  Companhia  de  Jesus  no 
Brasil  (1938),  consagrado  ao  século  xvi.  Expusemos  no 
«Prefácio»  o  nosso  pensamento  crítico,  ponto  de  partida 
que  nunca  perdemos  de  vista,  sem  contudo  nos  lisongear- 
mos  de  o  ter  alcançado  sempre.   Tratava-se  de  realçar  o 


INTRODUÇÃO  GERAL 


valor  dos  documentos  coevos  (fontes)  para  corrigir  o  vezo 
dos  que,  reíerindo-se  a  factos  do  século  de  Quinhentos, 
confiavam  demasiado  nos  autores  de  Seiscentos  e  Setecen- 
tos. E  aduzíamos  o  autorizado  parecer  do  moderno  histo- 
riador da  Companhia  de  Jesus  em  Espanha: 

«E  sabido,  diz  Astrain,  que  então  dominava  aos  histo- 
riadores piedosos  uma  devota  parcialidade,  que  os  incli- 
nava a  ver  em  tudo  virtudes  eminentes,  acções  heróicas, 
milagres  estupendos,  êxtases,  visões,  arroubamentos,  reve- 
lações, profecias,  todo  um  mundo  de  maravilhas  espirituais, 
e  que  arrastados  pela  ânsia  de  encomiar  tudo,  chegaram 
algumas  vezes  à  manifesta  falsificação.  Alguma  desta 
devota  parcialidade  se  percebe  nestas  histórias  da  Com- 
panhia» (Astrain,  Historia  I  p.  xxxv ;  Leite,  História,  I 

p.  XII). 

Sábia  admoestação,  que  ainda  hoje  nos  parece  preserva- 
tivo salutar  contra  possíveis  fermentações  póstumas  de  seme- 
lhante critério,  quer  provenham  de  escassa  rectidão  de  jul- 
gamento, quer  de  educação  deficiente,  inclinação  subjectiva 
ou  propensão  a  querelas  estéreis,  quer  apenas  de  falta  de 
propedêutica  elementar;  e,  por  uma  razão  ou  por  outra,  se 
desviam  da  ciência  histórica.  O  caminho,  que  a  ciência 
aponta  aos  historiadores  sem  ser  o  do  apriorismo  (aceitar 
ou  rejeitar  tudo),  é,  todavia,  o  de  ponderar  bem  as  afirma- 
ções dos  cronistas  e  biógrafos  dos  séculos  xvn  e  xvm,  e, 
com  prudente  reserva,  conservar  íntegra  a  independência 
mental  para  as  julgar.  E  até  quando  os  cronistas  as  decla- 
rem abonadas  por  testemunhas  fidedignas,  o  historiador 
do  século  xx  não  pode  ignorar  o  que  essa  linguagem  signi- 
fica para  certa  credulidade  do  século  xvu  cf.  Nóbrega  no 
dia  2f  de  Janeiro  de  IJJ4,  in  Brotêria  59  [Lisboa  1954]  272). 
É  um  dever  conhecê-la,  e  este  dever  leva  outro  consigo, 
que  é  o  de  não  considerar  definitivamente  válidas  as  afir- 
mações desses  cronistas  senão  depois  de  as  verificar  com 
serenidade  sistemática.  Atitude  de  consciência  e  paciên- 
cia. E  também  de  humildade  intelectual  para  advertir  que 
não  há  verificação  eficaz,  se  a  não  precede  o  conhecimento 
complexivo  dos  textos  genuínos  do  século  xvi,  fontes  ainda 


CAP.  VI.  -  GRATIARUM  ACTIO 


não  inquinadas  por  aquele  género  de  parcialidade,  des- 
crita por  Astrain;  e  que  ora  se  manifesta  na  pouca  limpi- 
dez da  narrativa,  ora  no  uso  dos  documentos,  que  não 
hesita  em  mutilar,  suprimindo  umas  vezes  o  que  não  con- 
diz com  o  seu  intuito  encomiástico,  outras  vezes  desviando 
para  esse  encómio  o  que  pertence  a  outrem.  Exemplo  de 
ambos  os  processos  é  a  carta  de  Anchieta,  de  20  de  Março 
de  1555,  e  a  forma  como  a  divulgou  Simão  de  Vasconcelos 
(cf.  os  dois  textos,  o  autógrafo  e  o  divulgado,  Mon.  Bras.  II 
155-163). 

E  este  é  sem  dúvida  o  ponto  vulnerável  e  o  mais  grave 
dos  autores  dos  séculos  xvn  e  xvm.  A  narração  ou  divul- 
gação viciada,  de  factos  e  documentos,  enreda  o  verda- 
deiro com  o  falso  e  leva  consigo  um  prolongado  fio  de 
citações  da  mesma  forma  viciadas  (os  dizeres  «corruptos», 
de  que  falava  Capistrano).  E  o  que  por  essa  maneira  se 
infiltrou,  e  repetiu  por  largos  anos,  é  da  experiência  comum 
não  ser  susceptível  de  se  purificar  da  noite  para  o  dia; 
nem  na  verdade  é  possível  para  já,  em  toda  a  sua 
amplitude,  por  estar  ainda  longe  de  se  dar  por  concluída 
a  história  dos  factos  no  Brasil  (e  fora  dele).  Mas  purifi- 
car-se-á  com  o  tempo.  O  Brasil  não  faz  excepção  à  regra 
do  progresso  neste  sector,  e  já  nele  existem  eminentes  his- 
toriadores persuadidos  de  que  o  estudo  científico  dos  factos 
rejeita  improvisações  e  exige  critério  e  preparação  ade- 
quada, capaz  por  um  lado,  de  os  desenredar  dos  meandros 
daquela  tradição  de  cunho  retórico  e  mal  assente;  capaz, 
por  outro,  de  os  situar  no  espírito  da  época  em  que  se 
produziram,  acima  de  teses  particularistas  de  ideologias 
ou  de  política  moderna,  —  que  é  novo  escolho,  a  evitar. 
Sob  este  aspecto,  a  história  dos  factos  do  passado  significa 
um  equilíbrio  libertador  entre  extremos;  e  só  se  atinge 
pelo  trabalhoso  caminho  de  uma  vasta  cultura  geral  e  do 
documento  (mas  do  documento,  não  isoladamente  tratado). 

Tal  foi  a  posição  pragmática  que  nos  pareceu  mais 
certa  ao  publicar  há  vinte  anos  o  «Prefácio»  da  História, 
e  agora  nos  parece  também  não  omitir  aqui,  pelo  seu  evi- 
dente nexo  com  a  edição  dos  documentos,  que  a  alicer- 


120* 


INTRODUÇÃO  GERAL 


çaram.  Posição  certa,  dizemos,  até  para  o  ensaísta,  que 
olha  o  passado  através  de  determinado  prisma,  elaborando 
ensaios  ou  interpretações  de  diferente  nível,  alto  e  baixo, 
segundo  domine  com  maior  ou  menor  perfeição  as  fontes 
e  a  técnica  literária;  certa,  sobretudo,  para  a  ciência  his- 
tórica como  tal,  isto  é,  para  a  ciência  que,  com  aplicação 
crítica,  tranquila  e  severa,  procura  tirar  conclusões  gerais, 
estabelecendo  os  factos  na  realidade  do  passado  e  dos 
arquivos. 

Roma,  i  de  Janeiro  de  1958. 


Serafim  Leite  S.  L 


CARTAS 
E  OUTROS  DOCUMENTOS 


1 


DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

BOLONHA  22  DE  SETEMBRO  DE  1558 

I.  Texto:  ARSI,  Itália  iij,  f.  ii2r-ii2V  [antes  pp.  361-362].  Ende- 
reço por  mão  de  amanuense:  «Al  muy  Reverendo  en  Christo  Padre 
nnestro  el  Padre  Maestro  Diego  Lainez  Praepósito  General  de  la  Com- 
pariía  de  Jesú  en  Roma».  Outra  letra:  «Jesus  1558».  Ainda  outra  letra : 
«Bologna  dei  P.e  D.or  Torres  22  de  Settembre.  Recevuta  a  30  dei 
medessimo».    Original  em  espanhol. 

II.  Lugar:  Bolonha,  na  Itália,  por  onde  o  P.  Miguel  de  Torres 
passava  de  volta  para  Lisboa,  depois  de  ter  assistido  à  i.a  Congregação 
Geral  (19  de  Junho  —  10  de  Setembro  de  1558),  que  elegeu  segundo 
Geral  da  Companhia  o  P.  Laynes  (Synopsis  hist.  S.  I.  42). 

III.  Impressão :   Lainii  Mon.  Ill  (Matriti  1913)  564-566. 

IV.  Edição:  Reimprime-se,  por  Itália  iij,  o  que  interessa  ao  Brasil. 

Textus 

1.  Postulai  ut  sibi  mittantur  consilia  Romae  sumpta  circa  Provin- 
ciam  Portugaliae.  —  2.  Circa  Provinciam  Brasiliae  nullum  consilium 
conclusum  est  antequam  Roma  discessisset. 

[Sobre  a  sua  viagem  desde  Roma  e  vários  Padres] 

1.  Los  despachos  así  de  nuestra  Província  1  como  de 
todas  las  otras,  y  aun  todo  lo  que  se  ha  concluído  en  la 
Congregación,  pido  a  V.  P.  que  se  nos  embíe  con  toda  dili- 


i  O  P.  Miguel  de  Torres  era  Provincial  de  Portugal,  em  cuja  qua- 
lidade tinha  ido  à  i.a  Congregação  Geral. 


4 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  DIEGO  LAYNES 


gencia,  juntamente  con  la  orden  que  se  ha  de  tener  en  lo 
5  que  se  concluyó  que  se  hiziesen  en  la  nuestra,  así  a  lo  que 
toqua  a  personas  particulares,  como  a  lo  que  toqua  al 
govierno  de  toda  la  Província ;  y  lo  mesmo  a  lo  que 
toqua  a  la  índia  y  la  superintendência  o  cargo  que  la 
Provincia  de  Portugal  ha  de  tener  con  la  de  la  índia, 
io      2.    Y  el  P.  Luís  Gonçalves  podrá  dar  noticia  de  las  per- 
sonas que  hahi  en  el  Brasil 2  y  de  todo  lo  demás  pertene- 
cente  a  aquella  Provincia,  para  que,  así  como  de  todas  las 
otras  Provincias  se  a  tratado  y  proveydo,  se  haga  también 
desta  en  las  personas  particulares  y  en  el  universal,  porque, 
15  se  bien  me  acuerdo,  no  quedo  assentado  antes  que  de  allá 
partiésemos  3. 

[Sobre  outros  Padres,  sem  referência  ao  Brasil] 

CARTAS  PERDIDAS 

ia-b.  Do  P.  Diego  Laynes  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega,  Baia  (Roma 
[15  de  Setembro]  de  1558).  «Recebimos  las  de  V.  P.,  las  quales  oymos 
con  tanta  alegria  de  spíritu  como  venidas  dei  trono  de  la  Magestad 
divina»,  —  escreve  Nóbrega  a  Laynes  na  carta  de  30  de  Julho  de  1559 
§  1  (doe.  16).  As  do  P.  Polanco  tinham  a  data  de  15  de  Setembro,  que 
parece  indicar  a  data  comum  do  despacho  de  Roma  para  o  Brasil  depois 
de  concluída  a  i.a  Congregação  Geral.  A  estas  cartas  se  deve  referir  a 
do  P.  Miguel  de  Torres  de  12  de  Maio  de  1559  a  Nóbrega  (carta  7  §  1): 
«De  Roma  se  escrive  y  responde  tan  particularmente  a  V.a  R.a». 
E  cf.  carta  46  §  3. 


2  Deve  ter  tratado  Luís  Gonçalves  da  Câmara  das  pessoas  que  no 
Brasil  deveriam  fazer  os  últimos  votos  da  Companhia  (Padres,  Coadju- 
tores Espirituais;  Irmãos,  Coadjutores  Temporais)  e  de  que  se  fez  a 
seguinte  lista:  «Para  Coadjutores  Spirituales  en  el  Brasil:  El  P.e  Anto- 
nio Piriz,  el  P.e  Juan  Gonçalves,  Antonio  Blásquez,  Brás  Lorenço,  Fran- 
cisco Piris,  el  P.e  Paiva,  Alfonso  Bras,  Vicente  Rodriguez,  Diego  Jácome, 
Manuel  de  Chaves.  Antonio  Rodrigues  no  era  anchora  ordinato.  Pro 
Coadiutori  Temporali :  Simón  Gonçalves,  Matheo  Nogueira,  ferreiro» 
(Insl.  208,  f.  474  r ;  Epp.  Nadal  iv  189 ;  Wicki  DI  iv  82).  O  P.  João  Gon- 
çalves faleceu  na  noite  de  20  para  21  de  Dezembro  deste  ano  de  1558  e 
dirá  mais  tarde  o  mesmo  Luís  Gonçalves  da  Câmara  que  o  P.  Laynez 
«con  parecer  de  todos  los  Asistentes  mandava  hazer  professo  a  Juan 
Gonçalves»  (Mon.  Bras.  I  39). 

3  Cf.  infra,  carta  de  29  de  Julho  de  1559  §  3  (doe.  14). 


1.  -  BOLONHA  22  DE  SETEMBRO  DE  1558 


5 


ic-d.  Do  P.  Juan  de  Polanco  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega,  Baia 
(Roma  15  de  Setembro  de  1558).  «Esta  no  servirá  para  más  que  le 
avisar  cómo  las  cartas  escritas  a  Xb  [15]  de  Setiembre  dei  ano  de  1558 
fueron  recebidas  en  este  Collegio»,  —  escreve  Blázquez  ao  P.  Polanco 
por  comissão  de  Nóbrega,  da  Baía  10  de  Setembro  de  1559  §  1. 
E  Nóbrega :  «Lo  que  escrive  el  P.e  Juan  de  Polanco  por  commissión 
de  V.  P.  se  cumplirá  muy  a  la  letra»  (carta  de  Nóbrega  a  Laynes, 
de  30  de  Julho  de  1559  §  2).  A  alguma  destas  ou  outra  anterior,  do 
tempo  em  que  era  Provincial,  se  refere  Nóbrega,  tratando  da  educação 
de  meninos  e  da  variedade  de  ordens  vindas  da  Europa:  «Y  quedé 
perplexo  por  parescer  que  tenían  ya  otro  consejo,  y  por  esso  lo  con- 
servé  hasta  que  tuve  carta  dei  P.  Maestro  Polanco  escrita  por  comis- 
sión  de  V.  P.»,  —  diz  Nóbrega  ao  P.  Laynes,  carta  de  12  de  Junho 
de  1561  §  10  (carta  52). 

ie-f.  Do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Miguel  de  Torres,  Lisboa 
(Baía  1558).  «De  las  de  V.a  R.a  emos  entendido  cómo  se  ha  hallado 
siempre  maio  en  essa  tierra  de  la  Bahia  y  que  no  le  parecia  podría 
turar  ahí  el  verano  que  esperava",  despues  por  ocasión  dei  fructo  que 
se  offreció  escrive  que  quiere  morir  en  esse  trabajo»,  —  escreve  o 
P.  Miguel  de  Torres,  a  12  de  Maio  de  1559  (Lus.  60,  f.  127V). 

ig-h.  Do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Miguel  de  Torres  e  outros, 
e  deste  e  outros  ao  P.  Nóbrega  (1558).  «Pelos  derradeiros  navios  que 
desta  Bahia  partirão  ho  anno  passado,  escrevi  largo  do  que  até  àquelle 
tempo  passava,  agora  direy  o  que  depois  sucedeo.  E  espante-se  V.  R.a 
e  meus  Irmãos  como  tenho  entendimento  nem  mãos  pêra  o  fazer,  por 
a  desconsolação  que  caa  temos  de  não  poderemos  ter  resposta  das 
muytas  cartas  que  são  escritas,  porque  as  que  trazia  este  navio  de 
João  Gomez  não  nos  derão,  porque  o  principal  maço  em  que  devião 
vir  se  perdeo  ou  alguém  as  tomou,  de  maneira  que  não  vierão  à  nossa 
mão;  as  que  trazia  o  navio  de  Domingos  Leitão  tão  pouco,  porque 
o  navio  não  aportou  caa»,  —  escreve  Nóbrega  ao  P.  Torres,  a  5  de  Julho 
de  1559  §  1  (carta  12).  Deve  referir-se  a  navios  que  partiram  para 
Portugal,  depois  de  12  de  Setembro  de  1558,  data  da  carta  de  António 
Pires,  e  que  também  teriam  levado  as  de  Nóbrega  de  que  se  não 
conhece  nenhuma  neste  período. 

li-L  Do  P.  João  Gonçalves  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega,  Baia 
(Aldeia  do  Espírito  Santo  [Baía]  1558).  «De  la  [de  Sant  Spiritus] 
escrevia  [João  Gonçalves]  cartas  de  sua  consolação  grande»,  —  diz 
Nóbrega  na  carta  de  5  de  Julho  de  1559,  aos  Padres  de  Portugal  §  15. 

im.  Do  P.  Miguel  de  Torres  [?]  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega,  Baía 
(Lisboa  1558).  Nóbrega  enviou  para  Portugal  alguns  mestiços,  «y  dei- 
los  uno  está  agora  en  Coimbra,  mas  fui  avisado  que  no  mandasse 
más»,  —  escreve  Nóbrega  a  Laynes  a  12  de  Junho  de  1561  (carta  52 
§  17).  Nóbrega  não  diz  quem  o  avisou,  mas  Torres  era  então  o  Pro- 
vincial de  Portugal. 


6 


P.  DIEGO  LAYNES  -  PP.  E  II.  DO  BRASIL  E  DA  ÍNDIA 


2 

DO  P.  DIEGO  LAYNES 
AOS  PADRES  E  IRMÃOS  DO  BRASIL  E  DA  ÍNDIA 

ROMA  1  DE  DEZEMBRO  DE  1558 

I.    Bibliografia:    SOMMER  VOGEL  IV  1596  n.  6;  V  114-116. 

II.  Autores :  Sacchini,  Hist.  S.  I.  Pars  Secunda,  lib.  3,  n.  144 ;  De 
Guibert,  La  Spiritualité  de  la  Compagnie  de  Jesus  196-197. 

III.  Texto : 

1.  ARSI,  Epp.  NN.  54,  ff.  I27r-i28v  [antes  1  e  n.  91].  Letra  de 
Polanco:  «Copia  de  una  para  los  de  las  índias».  Outra  letra:  «Del 
P.  Laines,  stampata».  Apógrafo  em  espanhol. 

2.  Biblioteca  Nacional  de  Lisboa,  Fundo  Geral  915,  ff.  285v-287r. 
Versão  portuguesa. 

3.  ARSI,  Goa  jj,  ff.  I97v-i98r.  Outra  versão  portuguesa  coeva  do 
texto  2. 

IV.  Impressão:  Epistolae  Praepositorutn  Generalium (Toulouse  1609) 
42-50  [muitas  vezes  reeditadas] ;  Sacchini,  Hist.  S.  I.  Pars  Secunda, 
lib.  2,  n.  188  [com  o  titulo  à  margem:  Lainii  epistola  ad  Brasiliae  ct 
Indiae  sócios];  [Eglauer],  Die  Missionsgeschichte  11  108-114;  Lainii 
Mon.  IV  15-19;  Aicardo,  Comentário  IV  1071-1074;  Wicki,  DI  IV  108-113. 

V.  Data:  Em  Epistolae,  Sacchini  e  De  Guibert  lê-se  12  de  Dezem- 
bro; em  Lainii  Mon.  e  os  mais  que  reproduzem  o  texto  1,  lê-se  1  de 
Dezembro. 

VI.  História  da  Impressão:  Sacchini  diz  que  imprime  «ex  auto- 
grapho  hispano»  [talvez  só  original,  hoje  perdido];  Epistolae  provàvel- 
mente  o  mesmo  texto  perdido;  Lainii  Mon.  e  os  mais  o  texto  1  [Wicki 
acrescenta  ao  texto  1  a  cláusula  do  texto  2,  retrovertida  do  português: 
«Siervo  de  todos  en  Jesú  Christo,  Laynez»]. 

VII.   Edição:  Reimprime-se  o  texto  1  (Epp.  NN.  54)  por  Wicki. 

Textus 

1.  Ratio  cur  scribit  et  iubet  ut  fiant  orationes  in  omnibus  domibus 
Europae  pro  missionariis  qui  in  opere  conversionis  versantur.  —  2.  Voca- 
tio  in  Societatem  magna  Dei  est  gratia,  sed  praesertim  ea  quam  accipiunt 


2.  -  ROMA  1  DE  DEZEMBRO  DE  1558 


7 


qui  in  missionibus  laborant  in  auxilio  christianorum  et  conversione  Indo- 
rum.  —  3.  In  missionibus  maiores  sutit  labores  et  maiora  pericula.  — 
4.  Quare  opus  est  ut  ibi  solidae  virtutes  colantur.  —  5.  Óculos  positos 
habent  in  missionariis  omnes  tum  Societatis  tum  externi.  —  6.  Etiam 
vires  corporis  servari  debent.  —  7.  Ha  tamen  ut  non  minuantur  vires 
animae  nec  observantia  regularis. —  8.  Aliqui  dies  sumendi  sunt  quotan- 
nis  ad  renovandum  et  firmandum  spiritum.  —  9.  Omnes  sub  speciali 
protectione  habeat  Deus  eisque  benedicat. 

IHS 

Charísimos  Hermanos  en  Christo  nuestro  Senor 

La  gracia  y  paz  de  Christo  N.  Senor  sea  siempre  en 
nuestras  ánimas.  Amén. 

1.    Aunque  con  scrivirse  de  las  cosas  necessárias  a  los 
Superiores,  y  con  ynbiarse  allá  desde  Portugal  las  letras  5 
communes,  que  para  la  ediíicatión  y  consolatión  de  las  per- 
sonas  de  la  Companía  se  scriven,  sea  poco  necessário  que 
yo  os  scriva  de  otras  cosas,  Charísimos  Hermanos  en 
Christo  N.  Senor,  todavia  por  esta  vez  he  querido  conso- 
larme  con  vosotros  todos,  scriviéndoos  la  presente  en  tes-  IO 
timonio  que  os  tengo  a  todos  scritos  en  mi  ánima,  y  que 
en  estas  partes  se  ha  ordenado  que  todos  nuestros  Herma- 
nos cada  dia  hagan  special  oración  por  vosotros,  no  sola- 
mente  en  la  Casa  1  y  Collegio  de  Roma,  pero  en  todas  las 
partes  donde  reside  en  Europa  nuestra  Companía,  para  que  i5 
por  las  supplicationes  de  muchos  la  divina  y  summa  Bon- 
dad  os  haga  cada  dia  más  perfectos  siervos  suyos,  y  más 
útiles  instrumentos  de  su  divina  providencia,  para  la  reduc- 
tión  de  tantas  ánimas,  de  las  tinieblas  de  la  infidelidad  y 
peccados  a  la  luz  dei  conocimiento  y  amor  suyo,  y  direc-  20 
tión  en  la  via  de  su  santo  servicio,  para  que  caminen  al 
último  y  bienaventurado  íin,  para  que  las  crió  y  redimió 
con  su  sangre  Christo  N.  Senor. 


i    Casa  Professa  (Gesú),  distinta  do  Colégio  Romano. 


8  P.  DIEGO  LAYNES  -  PP.  E  II.  DO  BRASIL  E  DA  ÍNDIA 

2.  Grande  merced  y  favor  es,  Charíssimos  Hermanos, 
25  generalmente  el  que  haze  la  divina  y  summa  Bondad  a  los 

que  llama  a  esta  mínima  su  Compafíía,  y  les  da  gracia  de 
proceder  según  el  Instituto  delia;  pero  es  muy  special  don 
el  de  aquellos,  a  quienes  cabe  la  suerte  de  emplearse  en  su 
servicio  en  esas  partes,  así  por  la  importantia  de  la  obra 

30  en  que  os  occupáys,  como  por  el  privilegio  de  los  obreros. 
La  importantia  de  la  obra  se  vey  quánta  sea,  trattando  no 
solamente  de  conservar  y  ayudar  los  christianos  que  ya  en 
la  íe  tienen  principio  de  su  salvatión,  como  por  acá  se  haze, 
pero  aun  de  traer  muchos  otros  de  nuevo,  que  dei  todo 

35  eran  siervos  dei  demónio,  y  con  él  hijos  de  ira  2  y  de  per- 
ditión  3,  al  stado  de  la  libertad  santa  4,  y  adoptión  de  los 
hijos  de  Dios  5,  y  herederos  con  Christo  nuestro  Senor  de 
su  reyno  y  felicidad  eterna  6. 

3.  El  privilegio  de  los  operários  se  vey,  porque  os  es 
40  dado  a  vosotros  muy  specialmente,  [127V]  no  solo  hazer 

mucho  bien,  pero  aun  el  padezer  mucho  mal  y  trabajo  por 
Christo  nuestro  Senor,  poniendo,  ultra  de  la  industria, 
también  la  vida,  en  tan  continuos  peligros  por  su  servicio, 
y  en  modo  muy  special,  imitando  en  el  exercitio  y  mérito 

45  sus  santos  apostoles  y  discípulos,  trayendo  su  nombre  y 
conocimiento  a  las  gentes,  y  viviendo  y  moriendo  entre 
ellas,  por  su  gloria  y  ayuda  de  sus  muy  amadas  ánimas. 
Y  así,  aunque  no  cabe  ynbidia  en  la  charidad  con  que  os 
amamos,  ay  en  muchos  destas  partes  grandes  deseos  de  ser 

50  partícipes  con  vosotros  de  tan  alta  missión;  y  si  a  todos 
los  tales  se  les  concediese  este  don,  tendríades  en  él  muchos 
companeros.  Pero  en  fin,  ynbiaránse  los  que  Dios  N.  S. 
fuere  servido  de  escoger  para  ello,  que  siempre  serán  des- 
tas partes  algunos  7. 


2  Eph.  2 

3  Ioan.  17,  12. 

4  Iac.  1,  25. 

5  Rom.  8,  15. 

6  Rom.  8,  17. 

7  Depois  desta  carta,  a  primeira  expedição  para  o  Brasil  saiu  de 
Lisboa  a  19  de  Setembro  de  1559  (Leite,  História  1  561). 


2.  -  ROMA  1  DE  DEZEMBRO  DE  1558 


9 


4.  Esto  os  puedo  dezir,  Hermanos  mios,  que  los  que  55 
allá  estáys  tenéys  grande  obligatión  a  procurar  toda  per- 
fectión  en  las  verdaderas  y  sólidas  virtudes,  porque  tenéys 
grande  occasión  de  afíinarlas  en  el  íuego  de  los  trabajos  y 
tribulationes  8,  y  en  la  presentia  special  de  Dios  nuestro 
Sefior  con  los  que  las  padezen,  la  quale  suele  hazer  abun-  60 
dar  tanto  más  las  consolationes  divinas,  quanto  más  faltan 
las  humanas. 

5.  Y  porque  para  lo  que  allá  pretendéys,  de  la  conver- 
sión  y  conservatión  de  muchas  ánimas,  tanto  seréys  más 
útiles  y  efficazes  instrumentos  de  la  divina  mano,  quanto  65 
con  mayor  puridad,  humildad,  obedientia,  patientia  y  cha- 
ridad  os  dexáredes  posseer  y  guiar  delia;  y  acá  también  a 
todos  los  de  la  Compafiía  y  íuera  delia,  que  tenemos  pues- 
tos  los  ojos  en  vosotros,  pensad  que  avéys  de  dar,  no  sola- 
mente  consolatión,  pêro  muy  special  ayuda,  para  que  todos  70 
nos  animemos  y  crezcamos  en  el  divino  servicio  con  el 
exemplo  de  vuestras  virtudes  y  santos  trabajos  que  por  él 
tomáys. 

6.  Con  esto,  Charíssimos  Hermanos,  aunque  en  el  zelo 
dei  divino  honor,  y  en  la  sed  de  [la]  salvatión  de  las  ánimas,  75 
siempre  ayáys  de  crezer  de  dentro,  y  mostraria  de  íuera  con 
obras  de  charidad  y  misericórdia  para  con  ellas,  todavia  en 
los  trabajos  de  vuestros  cuerpos  ha  de  aver  medida,  y  para 
la  conservatión  de  vuestro  spírito  ha  de  aver  algún  tiempo- 

Y  pues  os  avéys  oírezido  enteramente  como  hóstia  viva  9  80 
a  Dios  nuestro  [i28r]  Criador  y  Senor,  para  emplearos  ente- 
ramente en  las  cosas  de  su  gloria  y  servicio,  y  ayuda  de 
sus  ánimas,  acórdãos  de  hazerlo  de  manera  que  el  cuerpo 
pueda  llevar  a  la  larga  el  peso  de  sus  trabajos,  teniendo 
cuenta  con  la  conservatión  dél  en  salud  y  fuerzas  necessa-  85 
rias  para  ellos10,  y  que  el  ánima  própria  no  se  descuyde  de 
sí  mesma  por  attender  a  las  de  los  otros;  pues  no  os  apro- 


8  Cf.  Eccli.  27,  6. 

9  Cf.  Rom.  12,  1. 

10   Cf.  carta  de  Nóbrega  de  12  de  Junho  de  1561  §  18  (carta  52). 


10 


P.  DIEGO  LAYHES  -  PP.  E  II.  DO  BRASIL  E  DA  ÍNDIA 


vecharía  la  ganantia  de  todo  el  mundo  con  la  pérdida  delia, 
según  el  dicho  de  Christo  nuestro  Seõor11,  y  quanto  más 
90  ella  se  ayudare  en  toda  perfectión,  tanto  más  útil  será  para 
la  ayuda  de  las  otras. 

7.  Y  así  es  rauy  necessário  que  andéys  cautamente  in 
médio  nationis  pravae  atque  perversae 12,  por  conservar 
entre  ella  toda  puridad,  y  que  lo  que  falta  de  la  clausura 

95  y  vigilantia  de  los  Superiores,  y  ordenationes  y  regias  de 
nuestra  Compafiía,  que  no  podréys  en  todas  partes  obser- 
var, se  suppla  con  el  santo  temor  y  amor  de  Dios,  y  con 
la  diligente  observación  de  los  votos  substantiales,  y  lo 
demás  que  podréys,  de  nuestro  Instituto,  y  con  algún 

100  recogimiento  que  cada  dia  tengáys  para  la  oración  13,  y 
para  la  examinatión  de  la  própria  conscientia  y  modo  de 
proceder  que  usáys;  y  si  las  muchas  occupationes  no  os 
dexan  lugar  para  deteneros  en  esto  cada  dia,  el  tiempo 
que  querríades,  puédense  tomar  entre  ellas  mesmas  algu- 

105  nos  ratos,  y  con  la  frequente  memoria  de  Dios  y  elevatión 
de  la  mente  a  él  (aunque  en  breve)  supplirse  la  continua- 
tión  de  los  spirituales  exercitios  que  se  acostumbran, 
quando  dan  lugar  las  necessidades  de  los  próximos. 

8.  Y  es  de  pensar,  que  por  muy  occupados  que  andéys, 
no  cada  afio  abrá  algunos  dias,  en  los  quales  los  que  vays 

fuera,  attendiendo  a  la  conversión  y  conservatión  de  los 
christianos,  puedáys  recogeros  para  attender  más  parti- 
cularmente a  vosotros  mesmos,  y  renovaros  y  fortificaros 
en  vuestro  spíritu  l4,  y  considerar  vuestro  modo  de  proce- 
115  der  con  los  otros,  para  ver  si  podríades  en  algo  mejorarle, 
para  mayor  ayuda  dellos,  a  gloria  de  Dios  nuestro  Sefior, 


11  Mat.  16,  26. 

12  Philip.  2,  15. 

13  Oração.  O  P.  Geral  deixa  aqui  certa  latitude  à  oração  e  tempo 
dela,  reflectindo,  nisto  de  tempo,  o  que  então  ainda  se  debatia  entre  as 
pessoas  autorizadas  da  Companhia  em  Roma  e  fora  de  Roma.  Cf.  Leti- 
RIA,  La  hora  matutina  de  meditaciòn  en  Ia  Compania  naciente  [ijjo-ijço], 
in  Estudios  Ignacianos  II  189-268. 

14  Cf.  Casa  de  Recolhimento,  mandada  fazer  por  Nóbrega  em  São 
Paulo  de  Piratininga  (doe.  53  §  24). 


3.  -  LISBOA  DEZEMBRO  (?)  DE  1558 


11 


confiriendo  lo  que  se  puede  con  los  Superiores,  y  guar- 
dando la  obedientia  perfecta  dellos,  quanto  os  es  posible. 
Porque  asi  os  dispondréys  a  ser  governados  y  regidos  en 
su  santo  servicio  de  la  divina  Sapientia,  como  creo  lo  120 
hazéys,  y  sentis  la  muy  suave  e  paterna  providentia 
suya  en  vuestras  cosas. 

9.  Y  así  suplico  yo  a  la  infinita  y  suma  Bondad  que  la 
sintáys  continuamente  y  que  de  todos  vosotros  tenga  muy 
special  protectión  y  os  dé  su  santa  benditión,  con  que  125 
crezcáys  en  virtudes  y  número,  y  en  fructo  de  su  santo 
servicio,  y  a  todos  en  todas  partes  dé  su  gracia  para 
sentir  siempre  y  cumplir  su  santísima  voluntad.  En  vues- 
tras oraciones  me  encomiendo  mucho,  con  todos  estos 
vuestros  Hermanos  destas  partes.  130 

De  Roma  primero  de  Deciembre  1558. 

CARTAS  PERDIDAS 

2a.  Dos  Irmãos  da  Capitania  de  S.  Vicente  ao  P.  Manuel  da 
Nóbrega,  Baía  (S.  Vicente  1558).  «Holgarían  acá  los  Hermanos  con 
algunas  cuentas  bentas...  y  el  ano  passado  mandaron  pedir  de  Sant 
Vicente  los  Hermanos  que  les  mandassen  algunas»,  —  escreve  Blázquez 
a  Polanco,  por  comissão  de  Nóbrega,  da  Baía,  10  de  Setembro  de  1559 
(carta  23  §  2). 

2b-c.  De  João  de  Bo/és  ao  P.  Luís  da  Grã,  Piratininga  (S.  Vi- 
cente 1558?).  «Escrevió  también  una  breve  carta  ao  Padre  Luís  de  Grana 
que  entonces  estava  en  Piratininga»,  —  diz  Anchieta  ao  P.  Laynes, 
carta  de  1  de  Junho  de  1560  §  20  (doe.  36),  referindo-se  a  João  de  Bolés. 
No  mesmo  §  dá  notícia  de  segunda  carta  ou  «invectiva»  do  mesmo  ao 
mesmo. 

3 

CARTA  RÉGIA  A  MEM  DE  SÁ  GOVERNADOR 
DO  BRASIL 

[LISBOA  DEZEMBRO  (?)  DE  1558] 

I.    Autores:  Luís  Norton,  A  Dinastia  dos  Sãs  no  Brasil  6. 

II.  Texto:  Lisboa.  Arquivo  Nacional  da  Torre  do  Tombo,  Colec- 
ção de  S.  Vicente  X,  ff.  227r-228r.  Sem  título.  Minuta  em  português. 


12 


CARTA  RÉGIA  -  MEM  DE  SÁ  GOVERNADOR  DO  BRASIL 


III.  Impressão:  PORTO  Seguro  (Varnhagen),  História  Geral  do 
Brasil  i  (Rio  de  Janeiro  1854)  234-236;  4.»  ed.,  1  (São  Paulo  sem  data) 

381-383- 

IV.  História  da  Impressão:  PORTO  SEGURO  insere  a  carta  no  texto 
do  livro,  sem  indicação  de  fonte,  também  não  declarada  na  4.*  edição 
pelos  seus  dois  anotadores,  Capistrano  de  Abreu  e  Rodolfo  Garcia. 

V.  Autor:  Na  publicação  de  Porto  Seguro  lê-se:  «Eu  a  Rainha», 
palavras  que  não  estão  no  texto  da  minuta-fonte.  A  fórmula  usual  era 
a  que  se  verá  adiante  na  carta  régia  de  14  de  Setembro  de  1559:  «Eu 
El-Rei».  No  mesmo  códice,  Colecção  de  S.  Vicente  X,  f.  23ir  segue-se 
logo  outra  minuta  em  resposta  a  mais  duas  cartas  de  Mem  de  Sá 
(de  20  de  Julho  e  8  de  Setembro)  e  esta  segunda  minuta  é  que  é  da 
Rainha-Avó,  pois  diz  folgar  muito  «do  que  nesas  terras  se  oferece  de 
serviço  d'El-Rei  meu  neto».  E  acrescenta:  «El-Rei  vos  responde  às 
[cousas]  que  lhe  pareceo  necesario,  posto  que  não  tam  larguo  como 
quisera»:  a  resposta  de  El-Rei  é  a  minuta  imediatamente  anterior,  esta 
que  aqui  se  imprime.  A  El-Rei,  aliás,  se  dirigia  a  carta  de  Mem  de  Sá 
de  1  de  Junho  de  1558,  como  se  lê,  infra,  nota  2.  Sobre  esta  matéria, 
cf.  também  a  nota  1  à  carta  de  14  de  Setembro  de  1559  (carta  24).  A  da 
Regente  D.  Catarina  a  Mem  de  Sá,  em  seu  nome  pessoal,  não  se  refere 
ã  Companhia. 

VI.  Data:  Por  ser  minuta  não  traz  cláusula  nem  portanto  data. 
Mas  reporta-se  a  uma  carta  de  Mem  de  Sá  (§  1)  de  ro  de  Setembro 
[de  1558],  que  dificilmente  chegaria  a  Lisboa  antes  do  fim  de  Outubro 
(a  viagem,  felicíssima,  de  Nóbrega,  levou  do  Tejo  à  Baía  seis  semanas). 
Dando  margem  ao  processo  administrativo  da  corte,  pode-se-lhe  assi- 
nar com  probabilidade  o  mês  de  Dezembro.  Ou  ainda  princípios  do 
ano  seguinte.    Seguem-se-lhe  documentos  datados  de  Março  de  1559. 

VII.  Edição:  Reimprime-se,  pela  minuta  da  Torre  do  Tombo,  o 
que  importa  à  Companhia  de  Jesus. 

Tcxtus 

7.  Laetatur  de  bonis  nuntiis  Brasiliae.  —  2.  Summo  cutn  dolore 
novit  necem  Ferdinandi  de  Sá,  filii  Gubernatoris.  —  3.  De  Patribus  S.  I. 
quos  ei  valdc  commendat.  —  4.  De  epistola  missa  Seuatui  Bahiettsi  ut 
Patres  iitvet.  —  5.    De  commercio  litterarum. 


5.  -  LISBOA  DEZEMBRO  (?)  DE  155S 


13 


Mem  de  Sá  amiguo,  etc. 

1.  Por  Dom  Duarte  da  Costa 1  recebi  vosas  carttas 
pelas  quaes  me  dáveis  conta  da  maneira  em  que  me  ficá- 
veis servindo  nesas  terras,  e  depois  recebi  as  vosas  cartas 
do  primeiro  de  Junho  2  e  dez  de  Setembro,  e  por  elas  soube  5 
como  a  Capytania  de  Vasco  Fernandes  Coutinho  ficava 
muito  pacifiqua  e  o  seu  gemtio  tam  castigado,  mortos  tam- 
tos  e  tam  primcipaes  que  parecia  que  nam  alevantariam 
tam  cedo  cabeça. 

2.  E  recebi  muito  contemtamento  com  estas  boas  novas,  10 
posto  que  das  de  Fernam  de  Sá3,  voso  fylho,  acabar  nesta 
guerra  me  desaprouve  muito;  mas,  semdo  tamto  em  seu 
lugar  e  em  cousa  e  tamanho  meu  serviço,  nam  há  hi  que 
fazer  senam  dar-se  a  Noso  Senhor  por  tudo  muitos  lou- 
vores como  vejo  que  fazeis,  o  qual  vos  agradeço  muito.  15 

[Sobre  a  intenção  do  Governador  de  ir  à  Capitania  do 
Espirito  Santo,  sobre  os  Franceses,  e  poderes  que  pede] 

3.  Por  diversas  vias  soube  do  muito  favor  que  dáveis 
aos  Padres  da  Companhia  de  Jesus  pera  o  que  compre  a 
serviço  de  Noso  Senhor,  e  recebi  [22&Y]  dyso  o  contenta-  20 
mento  que  hé  rezam  e  requere  o  intento  que  se  teve  no 
descobrimento  desas  terras,  que  hé  ser  Noso  Senhor  nelas 


3  me  dei.  daes  |  dáveis  in  marg.  sin.  ||  ia  muito;  dei.  mas  semdo  em  meu  e  muito 
tos  agradeço  a  vontade  com 


1  2.0  Governador  Geral  do  Brasil  (1553-1558),  a  quem  sucedeu 
Mem  de  Sá. 

2  «Carta  de  Men  de  Sá,  em  que  dá  conta  a  El-Rey  de  se  haver 
alevantado  huma  Capitania  nos  estados  do  Brasil.  Feita  na  Cidade  do 
Salvador  a  1  de  Junho  de  1558.  Reynado  do  Senhor  D.  Sebastião» 
(O  Instituto  43  [Coimbra  1896]  337-338  :  Anais  da  Bibi.  Nac.  do  Rio  de 
Janeiro  27  [1906]  226-227).  A.  Capitania,  a  que  se  refere  Mem  de  Sá,  é 
a  do  Espírito  Santo,  de  Vasco  Fernandes  Coutinho,  de  que  se  trata  a 
seguir. 

3  A  sua  morte  já  é  narrada  na  carta  de  Blázquez,  do  último  de 
Abril  de  1558  {Mon.  Bras.  11  439). 


14 


CARTA  RÉGIA  -  MEM  DE  SÁ  GOVERNADOR  DO  BRASIL 


tara  servydo  e  seu  nome  tara  conhecydo  e  louvado  como 
por  tamtas  rezões  o  deve  ser.  E  porque  o  meio  de  se  ysto 

25  conseguir  hé  o  dos  ditos  Padres,  que  sam  tam  virtuosos 
como  sabeis,  e  que  com  todas  suas  forças  tamto  procuram 
servir  a  Noso  Senhor,  vos  encomendo  muito  que  tenhais 
particular  cuydado  como  sei  que  temdes  d'os  favorecer 
e  ajudar  no  que  vos  requererem  e  virdes  ser  necesario. 

30  4.  E  quanto  à  carta,  que  vos  parecia  que  devia  des- 
crever à  Camara  do  Salvador  para  que  ajudasem  e  favo- 
recesem  os  ditos  Padres  na  conversam  dos  gemtios  4,  vos 
envyo  com  esta.  Agradecer-vos-ei  muito  dardes-lha  e  tra- 
balhardes por  que  asy  o  façam,  dizendo-lhes  o  grande 

35  contemtamento  que  diso  receberei  e  quanto  me  desapra- 
sará  do  comtrario. 

5.  E  porque,  como  diguo,  pela  presa  com  que  estes 
navyos  partem  nam  ouve  lugar  de  prover  em  algumas 
cousas  que  quisera,  por  esta  mesma  rezam  nam  vai  esta 

40  tam  largua  como  também  quisera,  mas  falo-ei  nos  primei- 
ros navios.  E  entretanto  vos  emcomendo  muito  que  do 
que  toqua  a  meu  serviço  nessas  terras  tenhaes  aquele 
cuidado,  que  eu  confio  de  vós  e  de  sempre  me  screverdes 
como  fazeis  o  que  vos  parecer. 


33    como  dei.  requeria  que  o  fose  [|  29    no  que  — necessário  in  marg.  sin. 


4  O  pedido  do  Governador  do  Brasil  ao  Rei  de  Portugal  para  que 
favorecesse  os  Padres  da  Companhia  coincidiu  com  outra  recomenda- 
ção da  i.a  Congregação  Geral  (1558)  para  que  se  impetrasse  da  Rainha 
Regente  de  Portugal  o  favor  das  missões:  «Primo  ex  parte  Praepositi 
Generalis  et  totius  Congregationis  suppliciter  Serenissimae  Reginae 
Portugaliae  ut  suo  favore  impensius  faveat  novam  conversionem  Indiae 
commendando  serio  gubernatoribus  novarum  plantationum  habeant 
curam»  (hist.  208,  ff.  473r-473v ;  Epp.  Nadal,  IV  188;  Wicki  DI  ív  82); 
e  era  um  dos  pontos  a  tratar  na  mesma  Congregação:  «Videatur  etiam 
quid  favoris  a  principibus  secularibus  illis  procurari  possit,  ut  neophiti 
humaniter  tractentur,  animentur  et  undecumque  iuventur,  nec  decimis 
graventur  plus  quam  alii  christiani  veteres»  (DI  IV  74).  Mas,  historica- 
mente, o  favor  de  Mem  de  Sá,  Governador  do  Brasil,  aos  Padres  da 
Companhia  para  a  conversão  do  Gentio  precede  estas  recomendações 
(cf.  Mon.  Bras.  11  438-440  452-453). 


4.  -  LISBOA  DEZEMBRO  (?)  DE  1558 


15 


CARTAS  PERDIDAS 

3a-c.  Do  P.  Luis  da  Grã  [e  outros  ?]  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega,  Baia 
(S.  Vicente  1558):  «Ho  ano  passado  me  escreverão  que  vierão  os  cas- 
telhanos a  vingar  a  morte  de  alguns  christãos  e  yndios  carijós  que  os 
Tupis  de  S.  Vicente  avião  morto»,  —  escreve  Nóbrega  a  Tomé  de  Sousa, 
5  de  Julho  de  1559  §  55  (carta  13).  O  Superior  de  S.  Vicente  era  o  P.  Luís 
da  Grã,  mas  o  verbo  no  plural  «me  escreverão»  parece  insinuar  cartas 
de  mais  de  uma  pessoa. 

4 

CARTA  RÉGIA  A  CÂMARA  DA  CIDADE  DA  BAÍA 

[LISBOA  DEZEMBRO  (?)  DE  1558] 

I.  Texto:  Lisboa.  Arquivo  Nacional  da  Torre  do  Tombo,  Colec- 
ção de  S.  Vicente  X,  f.  231V.  Sem  título.  Minuta  em  português. 

II.  Impressão:  PORTO  SEGURO  (Varnhagen),  História  Geral  do 
Brasil  1  (Rio  de  Janeiro  1854)  236-237;  4/»  ed.,  1  (São  Paulo  sem  data)  383. 

III.  História  da  Impressão:  Publicada,  como  a  precedente,  sem 
indicação  de  fonte. 

IV.  Autor:  Também  Porto  Seguro  imprimiu  esta  carta  com  a 
fórmula  «Eu  a  Rainha»,  que  não  se  encontra  na  minuta.  A  fórmula 
usual  era  «Eu  El-Rei»,  como  igualmente  se  expõe  na  carta  precedente. 

V.  Data:  Carta  escrita  ao  mesmo  tempo  que  a  anterior  a  Mem  de 
Sá,  a  qual  no  §  4  se  refere  a  esta,  à  Câmara. 

VI.   Edição:  Reimprime-se  pela  minuta  da  Torre  do  Tombo. 

Textus 

1.  Commendat  Patres  S.  I.  et  opus  conversionis  lndorum,  qui  neque 
vexandi  neque  terris  spoliandi  sunt. 


16 


CARTA  RÉGIA  -  CÂMARA  DA  CIDADE  DA  BAÍA 


Vereadores  e  Procurador  da  cidade  do  Salvador  *,  etc. 
1.  Ainda  que  seja  tamto  de  vosa  obrigaçam  favore- 
cerdes e  ajudardes  aos  Padres  da  Companhia  de  Jesus, 
que  nesas  terras  estam,  e  amdam  na  obra  da  conversam 

5  dos  gemtios  delas,  asi  por  as  obras  em  que  se  empregam 
como  por  suas  muitas  virtudes  e  pela  consolaçam  que  esa 
cidade  com  tal  Companhia  deve  receber,  todavia  sendo 
esas  partes  tam  remotas  e  em  que  por  ese  respeito  pode 
aver  nos  moradores  delas  alguum  descuido,  pareceo-me 

io  dever-vos  escrever  sobre  iso  e  emcomendar,  como  enco- 
mendo muito,  que  queiraes  aver  por  muito  encomendados 
os  ditos  Padres  e  os  favoreçais  em  tudo  o  que  para  a 
conversam  dos  gemtios  e  mais  obras  spyrytuaes  forem 
necesarias;  e  que  aos  gemtios  que  se  fizerem  christãos 

15  tratareis  bem,  e  nam  nos  avexeys  nem  lhes  tomeis  suas 
terras,  por  que  alem  disto  asi  ser  rezam  e  justiça  receberei 
muito  contentamento  em  o  asy  fazerdes,  pelo  exemplo  que 
os  outros  gentios  receberam.  Agradecer- vos-ei  muito  terdes 
destas  cousas  muita  lembrança  e  de  as  efectuardes  como 

20  confyo,  porque  do  contrario  nam  poderá  deyxar  de  me  desa- 
prazer  muito. 


CARTA  PERDIDA 


4a.  Do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Miguel  de  Torres,  Lisboa  (Baía 
Janeiro?  de  1559).  Sobre  o  escrúpulo  do  P.  Francisco  Pires  ter  sido 
crúzio,  «el  Padre  Nóbrega  temia  que  no  era  tanto  escrúpulo  como 
inconstância,  y  dizia  que  se  dispensasse  com  él,  porque  aliás  era  bueno 
y  útil  en  aquellas  partes»,  —  escreve  Torres  a  Laynes,  10  de  Janeiro 
de  1560  §  5  (carta  30).  Torres  já  tinha  respondido  a  Francisco  Pires 
a  12  de  Maio  de  1559  e  portanto  a  carta  de  Nóbrega  a  dar  aquela  infor- 
mação deveria  ser  de  alguns  meses  antes. 


16    receberei  dei.  diso 


1  A  8  de  Maio  de  1558  escrevia  Nóbrega  ao  P.  Miguel  de  Torres, 
Provincial  de  Portugal  e  confessor  da  Rainha:  «Também  se  devia  de 
haver  uma  carta  de  Suas  Altezas  para  a  Câmara,  em  que  declare  quantc 
pretende  a  conversão  do  Gentio»  {Mon.  Bras.  453). 


5.  -  ESPÍRITO  SANTO  FEVEREIRO  (?)  DE  1559 


17 


5 

DO  IR.  ANTÓNIO  DE  SÁ  [?] 
AOS  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAÍA 

[ESPÍRITO  santo  fevereiro  (?)  DE  1559] 
I.    Autores:  Leite,  História  I  230;  II  274  575. 

II.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lis- 
boa] 1-5,  2,  38,  ff.  57r-58r.  Sem  título,  nem  data,  nem  nome  de  autor. 
O  códice  tem  palavras  ilegíveis.  Apógrafo  em  português. 

III.  Autor:  A  carta  do  Ir.  Sá,  de  13  de  Junho  de  1559  (carta  11 
§  2),  diz:  «Después  que  assente  los  muertos  que  se  avían  finado  los 
meses  atrás  passados».  Tratando  disto  a  presente  carta  (§§  2-5)  e 
falando  na  i.a  pessoa  do  singular,  parece  que  o  mesmo  autor  escreveu 
uma  e  outra  carta.  E  embora  o  nome  de  António  de  Sá  não  conste  do 
Catálogo  de  Maio  de  1558  {Mon.  Bras.  11  460-461),  ele  é  já  autor  da  refe- 
rida carta  de  Junho,  que  trata  de  assuntos  anteriores  a  Maio  (e,  por- 
tanto, anteriores  à  data  do  Catálogo).  António  de  Sá  seria  dos  órfãos 
de  Lisboa  (Leite,  História  ix  106),  educado  pelos  Padres  e  pràtica- 
mente  pessoa  de  casa. 

IV.  Data:  A  carta  no  §  1  refere-se  à  ida  para  a  Baía  do  P.  Fran- 
cisco Pires,  que  já  lá  estava  quando  faleceu  o  P.  João  Gonçalves  na  noite 
de  20  para  21  de  Dezembro  de  1558  (infra,  carta  de  Nóbrega  aos  Padres 
de  Portugal  de  5  de  Julho,  carta  12  §  17).  Parece  que  seria  escrita  pelos 
começos  de  1559,  talvez  Fevereiro,  não  mais  tarde;  porque  a  carta  de 
António  de  Sá,  de  13  de  Junho  §  2,  começa  a  contar,  de  Março  em  diante, 
os  mortos  que  houve  depois  da  mortandade  narrada  na  presente  carta. 

V.    Impressão:   Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  207-211. 

VI.  Edição:  Reimprime-se  o  texto  único,  recorrendo  à  leitura  das 
Cartas  Avulsas  nas  palavras  já  hoje  ilegíveis  do  ms. 

Textus 

1.  Profectio  in  urbem  bahiensem  P.  Francisci  Pires.  —  2.  Magna pes- 
tilentia  et  strages.  —  3.  Pestilentia  in  pago  Indorum  qui  baptismum 
renuunt.  —  4.    Pueri  adhuc  viventes  ab  Indis  sepulti.  —  5.    Vetulae  bap- 


18 


IR.  ANTÓNIO  DE  SÁ  [?]  -  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAÍA 


tistno  reluctantes.  —  6.  Pompa  paenitentiae.  —  7.  Baptismus  in  extremis 
cuiusdam  mulieris  praegnantis  a  marito  sagittatae.  —  8.  Navis  gallica 
in  Praefectura  Spiritus  Sancti  et  facinus  lndi  «Gato».  —  9.  Incendium 
scholae  et  domus  puerorum  in  oppido  Spiritus  Sancti. 

Pax  Christi. 

1.  Despois  da  partida  do  P.e  Francisco  Pires  1  pera  essa 
cidade  do  Salvador,  as  cousas  que  hão  socedido  das  quaes 
me  parece,  Reverendos  Padres  e  Charissiraos  Irmãos,  vos 

5  devo  escrever  são: 

2.  Primeiramente  que  foy  grande  mortindade  2  assi  nos 
escravos  desta  Capitania  como  nos  íorros  e  tão  accelerada 
que  do  dia  que  lhe  dava  até  o  6.°  os  levava,  a  huns  com 
prioris,  a  outros  com  camarás  de  sangue,  e  como  quer  que 

io  o  Padre  Brás  Lourenço  3  ficasse  soo  carregarão  sobre  elle 
muitos  trabalhos,  porque  a  huns  era  necessário  aparelhar 
pera  o  baptismo  a  outros  pera  a  confissão  e  pera  bem 
morrerem;  e  asi  tinhão  sobre  elles  muy  special  cuydado 
o  Padre  e  o  Irmão  lingoa  4,  e  muytos  aparelhados  e  bapti- 

15  zados  passavão  desta  transitória  vida  à  eterna,  e  asi  nunca 
estavão  quedos,  porque  se  fazia  dia  de  enterrarem  treze: 
por  estar  já  o  adro  cheo  botavão  dous  em  huma  cova. 
Já  não  chamavão  ao  Padre  senão  o  que  leva  os  mortos, 
e  porque  não  acabasse  de  entrar  o  pasmo  nos  [sãos]  e  aca- 

20  bassem  os  doentes  mandou  que  não  tangessem,  porque 
com  tanto  tanger  de  sino  e  campa3'nha  esmayavão.  Final- 
mente, que  em  breve  tempo  achamos  por  conta  a  600  escra- 
vos serem  mortos. 


1  Residia  na  Capitania  do  Espírito  Santo  desde  1556,  donde  em 
Maio  de  1557  escreveu  a  Nóbrega  {Mon.  Bras.  11  371). 

2  Epidemia  de  difícil  interpretação,  que  parece  ser  gripe  nas  duas 
formas:  pulmonar  (prioris)  e  intestinal  (câmaras  de  sangue),  explica 
Afrânio  Peixoto,  que  era  médico  {Cartas  Avulsas  211). 

3  Superior  do  Espírito  Santo.  Cf.  infra,  carta  por  comissão  do 
mesmo  (carta  65). 

4  «Língua>,  isto  é,  conhecedor  da  língua  brasílica:  intérprete. 
Cf.  Mon.  Bras.  11  460. 


5.  -  ESPÍRITO  SANTO  FEVEREIRO  (?)  DE  1559 


19 


Esta  mortindade  começou  no  certão  e  pella  costa  des  o 
Rio  de  Janeiro  com  ramo  de  peste;  e  chegando  a  Tape-  25 
miri 5,  que  serão  daqui  [20]  legoas,  cortando  a  espada  da  ira 
de  Deos  6  por  alguns  e  matando  corpos  e  almas  ou  pare- 
cendo-lhe  que  escaparião  estando  perto  dos  Brancos  se 
vierão  pera  estes  logo  com  molheres  e  filhos,  e  porque 
vinhão  fugindo  de  huma  parte,  achando-se  cercados  da  30 
outra,  começarão  a  levar  o  caminho  dos  [escravos  e  mor- 
rer fortemente,  sendo  o  Padre  e]  o  Irmão  muy  deligentes 
como  em  cousa  que  tanto  lhe  hya,  como  era  buscar  the- 
souro  de  tão  excellentes  pedras:  baptizavâo  muy  tos  já  in 
extremis  e  baptizados  (de  crer  hé  que  de  filhos  de  ira  se  35 
tornavão  filhos  de  graça  7)  morrião. 

3.  Mas  como  o  imigo  vise  que  pera  muytos  não  era 
morte  mas  vida,  quis  impedir  tomando  temor  e  agouro  no 
baptismo,  dizendo  que  juntamente  naquella  agua  hya  tam- 
bém a  morte,  e  como  sabião  que  o  Padre  estava  no  porto  40 
(porque  a  Aldeã  está  parte  dalém  do  rio)  escondião-se  nas 
redes  e  as  mães  escondião  os  filhos  e  alguns  por  força  do 
demónio  [se  alevantavão  e  pedião  agua  pera  se  lavarem 
por  que  chegando  o  Padre  lhe  parecesse  que  estavão 
valentes,  e,  perguntando-lhes  como  estavão,  respondião  45 
que  bem  e  que  já  não  estavam  doentes;  e  porque  o 
demónio  por  estas  e  outras  maneiras  era  conhecido,  não 
deixavão  o  Padre  e  o  Irmão  de  dissimular,  mas  correndo 
a  Aldeã,  como  achavão  as  redes  emburilhadas]  as  desem- 
burilhavâo  e  achavão  as  crianças  cjue  estavão  espirando;  50 
e,  baptizando-as,  e,  lavadas  daquella  original  nódoa,  dor- 
miam em  paz. 


5  Tapemiri  ou  Tapimirim,  hoje  Itapemirim,  na  costa  ao  sul  de 
Vitória,  «algumas  20  léguas»,  como  diz  o  texto  e  o  §  8.  Rubim  distin- 
gue quatro  expressões  geográficas  com  este  nome:  porto,  rio,  comarca 
e  vila  {Diccionario  Topographico  da  Província  do  Espirito  Santo,  in 
Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  Brasileiro  25  [1862]  620). 
Do  porto  ou  rio  se  trataria  em  1559. 

6  Cf.  Ezec.  29.  8. 

7  Cf.  Rom.  8,  17. 


20 


IR.  ANTÓNIO  DE  SÁ  [?]  -  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAÍA 


4.  Tinha  o  Padre  avisados  os  [índios]  ou  por  milhor 
dizer  peitados  que  tanto  que  alguém  estivesse  pera  morrer 

55  o  viessem  [57V]  chamar;  mas  descuydados  por  sua  pouca 
devação  ou  ditos  das  velhas  morrião  alguns  e  socedeo 
morrer  huma  molher  a  qual  avia  poucos  dias  que  avia 
parido.  Fizerão  huma  fala  à  criança,  dizendo-lhe:  pois 
que  tua  may  morreo,  não  tens  quem  te  crie  nem  dê  de 

60  mamar,  vay-te  com  ella.  Cousa  pera  sintir  a  perda  das 
almas,  porque  asi  sem  mais  piedade  a  criança  viva  e  a 
may  morta  ambas  em  huma  cova  sepultarão  sem  serem 
baptizadas. 

Quasi  da  mesma  maneira  outra  aconteceo,  que  no 
65  mesmo  dia  baptizou  o  Padre  duas  crianças  e  tornando 
ao  outro  dia,  huma  delias  estava  já  morta  e  a  outra  em 
termos  disso.  Trazendo  o  Padre  a  morta,  dezião-lhe  os 
Negros  que  trouxesse  também  a  outra  e  que  as  enterrasse 
ambas.  O  qual  animal  há  que  ainda  depois  de  morto  não 
70  folgue  de  ter  o  filho  que  sayo  de  suas  entranhas  diante 
seus  olhos!  quanto  mais  os  racionaes!  Em  os  quaes,  per- 
dido este  natural  amor,  a  enterrarão  viva  depois  de  partido 
o  Padre. 

5.  Na  Aldeã  com  as  velhas  não  há  cousa  que  as  mova 
75  da  nossa  parte  pera  quererem  receber  o  baptismo,  porque 

tem  por  muy  certo  que  lhe  deitão  a  morte  com  o  baptismo. 
Huma  estando  doente  foy  convidada  com  a  mesinha  sem  a 
qual  ninguém  sara  daquella  chaga  da  morte  8.  Respondeo 
ella  que  si,  mas  em  breve  espaço  tornou  a  dizer  que  não. 

80  Como  Nosso  Senhor  hé  importuno  em  cousas  de  nosso  pro- 
veyto,  foy  chamado  um  indio  seu  parente  que  lhe  viesse 
falar,  o  qual  hé  fervente  e  desejoso  de  ser  christão  e  já 
bem  instruído  dos  Padres;  e  falando  à  velha  da  morte  e 
payxão  de  Nosso  Senhor,  alevantou-se  na  rede  e  disse  que 

85  ha  baptizasem  que  querya  ser  christãa.  Baptizaram-na. 
Esta  parece  que  quis  Nosso  Senhor  que  vivesse  pera  matar 
a  imaginação  às  outras,  mas  muytas  morrião  em  a  sua  per- 


8   Cf.  Mare.  16,  16. 


5.  -  ESPÍRITO  SANTO  FEVEREIRO  (?)  DE  1559 


21 


tinacia.  Finalmente  que  morreu  muyta  gente,  mas,  segundo 
em  o  Senhor  nos  parece  a  cuja  Divina  Providencia  e  saber 
deixamos  a  certeza,  entre  outros  muytos,  70  almas  asi  por  90 
sua  inocência  como  por  mostras  cremos  vivem  com  o 
Senhor. 

6.  Durando  por  alguns  dias  este  castigo  ou  por  milhor 
dizer  misericórdia,  determinamos  fazer  numa  procissão  e 
pedir  ao  Senhor  alevantasse  a  vara.  95 

7.  Porque  de  alguns  males  Nosso  Senhor  tira  bens, 
folgo  de  os  contar  por  que  com  tudo  elle  seja  louvado. 
Socedeu  que  vinha  hum  indio  pera  a  villa  com  sua  molher 
a  qual  vinha  prenha,  vinha  de  vagar  e  detrás;  o  negro 
adiantou-sse  por  algum  espaço;  quando  virou  em  busca  da  100 
molher  vinha  com  ella  hum  homem  branco  fazendo  sua 
viagem.  O  negro  sospeitoso  (pella  astúcia  do  demónio) 
que  lhe  tivera  parte  com  ha  molher,  deu-lhe  uma  frechada 
com  a  qual  frechou  a  criança  pellos  lombos.  Chegando  a 
casa  pariu  a  criança  viva,  e  porque  Nosso  Senhor  quer  que  105 
ninguém  morra,  baptizarão  o  filho  e  depois  a  may  e  hasi 
estão  agora  com  as  almas  com  Christo  gozando  de  sua 
beatíssima  visão  et  postea  com  os  corpos  e  almas  junta- 
mente in  secula  seculorum. 

8.  Porque  saibaes,  Charissimos  Irmãos,  quam  areceo-  no 
sos  estamos  aqui  dos  Franceses  dar-vos-ei  conta  de  como 
huma  sua  nao  chegou  aqui  a  este  porto,  a  qual  vinha  res- 
gatar [581-]  e  contratar  com  os  Portugueses,  mas  não  hera 
destes  que  quá  estão  no  Rio  de  Janeiro,  e  anchorando  na 
barra  temeo  a  gente  da  povoação  e  determinarão  ir  lá  115 
Simão  Azeredo  e  Mestre  Nao,  francês  aqui  morador  e  bom 
homem.    Chegando  à  nao,  os  Franceses  lhe  derâo  seguro 

e  entrarão  e  dormirão  lá  aquella  noyte.  Informando-se  os 
Franceses  da  villa  e  gente,  de  hum  homem  lhe  faziâo  roo, 
de  hum  barquo  muytos,  de  quatro  canoas  quatrocentas,  120 
de  hum  Padre  dous  mosteyros,  finalmente  que  ficarão  os 
Franceses  atónitos  e  mais  medrosos  que  os  Portugueses, 
e  a  noite,  segundo  parece,  lhe  parecia  muyto  grande,  por- 
que tanto  que  amanheceo  levarão  anchora  estando  aynda 
os  da  villa  dentro  na  nao,  e,  elles  fora,  derão  à  vella  e  125 


22 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


forão-se  a  Tapimirim  que  está  abayxo,  como  fica  dito, 
algumas  vinte  legoas,  pêra  ali  carregarem  de  brasil.  Con- 
sultarão os  da  villa  darem  lá  com  elles  e  levarão  Vasco 
Fernandes,  aliás  Gato  9,  com  sua  gente  a  qual,  adiantan- 

130  do-se  dos  Christâos,  deram  nos  Franceses  que  estavão  em 
terra  que  serião  alguns  vinte,  os  quais  trouxerão  e  duas 
chalupas  e  huma  ferraria  e  muyto  resgate  e  roupas,  de 
maneira  que  quasi  todos  os  negros  vinhão  vestidos. 

9.    Praeterea,  socedeo-nos,  à  huma  hora  depois  da  mea 

135  noite,  pôr-se  o  fogo  na  Escola  e  dahi  na  casa  dos  mininos, 
porquanto  está  junta  e  asi  ardeo  huma  e  outra  e  começou 
pellas  nossas,  mas  como  estão  cubertas  de  telha,  tivemos 
defensão  ao  irmão  fogo10,  mas  contudo  nos  ardeo  huma  que 
estava  cuberta  de  palma.    Demos  graças  a  Nosso  Senhor 

140  quando  das  casas  dos  m[ininos  se  sayo]  Francisco  Vaz  n, 
seu  curador,  porque  estava  entrevado  e  muyto  [doente]. 

O  mais,  que  resta  pera  escrever,  hé  encomendarmo-nos 
em  orações  [de  todos  e  fijcarmos  ao  presente  de  saúde, 
louvores  ao  Senhor. 

6 

DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA,  BAÍA 

LISBOA  12  DE  MAIO  DE  1559 
I.    Autores  :    Mon.  Bras.  I  42. 

II.  Texto:  ARSI,  Lus.  60,  f.  I26r  [antes  f.  461-].  Apógrafo  em> 
espanhol. 

III.    Edição  :    Edita-se  o  texto  único. 


9    índio  Gato,  cf.  Mon.  Bras.  11  497. 

10  «Irmão  fogo»,  reminiscência  franciscana  do  «Cântico  do  Sol».  Cf. 
Luigi  Foscolo  Benedetto,  77  Cântico  di  Frate  Sole  (Florença  1941)  31- 

11  Cf.  Mon.  Bras.  II  299. 


6.  -  LISBOA  12  DK  MAIO  DE  1559 


23 


7.  A  Francisco  Pires,  qui  vitam  religiosam  egerat  Conimbriae  in 
monasterio  Sanctae  Crucis,  immunitas  conceditur  ut  in  Societate  per- 
maneat. 

IHS 

Muy  Reverendo  em  Christo  Padre 

La  gracia  y  amor  de  Jesú  Christo  Nuestro  Senor  sea 
siempre  en  nuestras  almas. 

1.  Por  otras  1  se  escrive  lo  que  pareció  necessário;  esta 
solamente  es  para  que  V.  R.a  console  en  el  Senor  al  P.e  Fran-  5 
cisco  Pirez  dei  scrúpulo  que  tiene  de  aver  estado  en  el 
monasterio  de  Santa  Cruz  de  Coymbra  2,  porque  se  dis- 
pensa 3  con  él  para  poder  perseverar  en  la  Compafiía,  ado 
Nuestro  Senor  le  llarnó,  tanto  con  más  cierta  vocación  dei 
Spíritu  Sancto  quanto  más  tiempo  ha  que  en  ella  perma-  10 
nece,  y  espero  en  la  divina  bondad  que  se  sirva  dél  de 
aqui  en  delante  con  mucha  abundância  de  gracias. 

La  dispensación  holgáramos  de  embiar  de  Roma  ado  la 
hemos  embiado  a  pedir  para  más  su  satisfación,  mas  hasta 
aora  no  uvo  tiempo  de  venir ;  embiarse  ha  con  el  Obispo  4,  15 
plaziendo  a  Nuestro  Senor ;  y  aunque  no  se  embíe  no  avrá 
que  dudar  ni  desconsolarsse,  sino  que  puede  estar  con  la 
bendición  de  Dios,  al  qual  pido  nos  la  dee  a  todos  para  que 
en  todo  cumplamos  siempre  su  santíssima  voluntad. 

De  Lisboa,  a  xn  de  Mayo  de  1559.  20 


]8    la  corr.  tx  las 


1  As  três  seguintes  da  mesma  data. 

2  Mosteiro  de  Santa  Cruz  de  Coimbra,  de  Cónegos  Regrantes  de 
S.  Agostinho  (crúzios).  Cf.  F.  de  Almeida,  História  da  Igreja  em  Por- 
tugal iii/i  343. 

3  Francisco  Pires  entrou  na  Companhia  de  Jesus  em  1548  (Mon. 
Bras.  1  42),  antes  das  Constituições.  Ao  chegarem  estas  ao  Brasil  (1556) 
viu-se  que  o  haver  tomado  hábito  doutra  Ordem  era  impedimento  para 
entrar  na  Companhia  (Constitutiones,  P.i  c.3  n.5,  E). 

4  D.  Pedro  Leitão. 


24 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


7 

DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA,  BAÍA 

[LISBOA  12  DE  MAIO  DE  1559] 

I.  Autores:  LEITE,  História  II  411  464  523;  IX  426;  Breve  Itine- 
rário 144-145. 

II.  Texto :  ARSI,  Lus.  60,  f.  I27r-i27v  [antes  f.  58ir-58iv,  mais 
antigas,  riscadas,  pp.  225-226,  246-247].  Titulo :  «IHS.  Copia  de  lo  que 
se  escrive  al  Brasil  de  la  Província  de  Portugal  en  Mayo  de  1559». 
Sob  este  título  se  incluem  três  cartas  diferentes,  esta  e  as  duas  seguin- 
tes.  Apógrafo  em  espanhol. 

III.   Edição:  Edita-se  o  texto  único. 

Textus 

1.  Etsi  ab  urbe  Roma  Patri  Nóbrega  scribitur,  tamen  aliqua  dicet. — 
2.  Sanctus  zelus  Patris  Nóbrega  ttrget  rcs  quae  forsan  ad  aliud  tetnpus 
deferendae  essent,  culta  Ínterim  Vicarii  amicitia.  —  3.  Idem  intelligatur 
circa  viros  stirpe,  império,  dignitate  et  munere  praecipuos. —  4.  Angelus 
pacis.  —  5.  Oportet  ne  nimis  curctur  de  terris  Indoriun.  —  6.  Verbis 
accrbis  non  utendum  est,  quamvis  de  magnis  malis  agatitr.  —  7.  Gaudet 
de  felici  eventu  circa  bonam  /amam  cuiusdam  Fratris  S.  I.  —  8.  De  novo 
Episcopo  Brasiliae,  qui  filius  spiritualis  olim  fuerat  Patris  Nóbrega.  — 

9.  Gubernator  Mendus  de  Sá  aliqua  fecit  Consilio  Patris  Nóbrega.  — 

10.  Epistolae  mittendac  sunt  per  virum  fidelem  vel  sermone  latino  vel 
operto  scriptac. 

La  gracia  y  amor  de  Jesú  Christo  Nuestro  Senor  sea 
siempre  en  nuestras  almas.  Amén. 

1.  De  Roma  se  escrive  y  responde  tan  particularmente 
a  V.  R.a  que  si  nuestro  Padre  no  me  encargara  que  yo  lo 
hiziesse  también  en  lo  que  me  pareciesse  l,  casi  sólo  que- 


1  Este  encargo  o  devia  ter,  expresso  ou  verbal,  o  Padre  Torres, 
mas  parece  que  não  se  estendia,  sem  consultar  Roma,  à  mudança  de 
Provincial  do  Brasil.  Cf.  infra,  carta  de  29  de  Julho  de  1559  §  3  (doe.  14). 


7.  -  LISBOA  12  DE  MAIO  DE  1559 


'25 


dava  consolarme  con  V.  R.a,  dexando  todo  lo  más  a  la  expe- 
riência que  tiene  y  spíritu  que  el  Senor  le  ha  communicado, 
mas  pues  no  me  sacan  desta  obligación,  conforme  a  ella  me 
pareció  in  Domino  apuntar  algunas  cosas,  parte  por  occa- 
sión  de  sus  cartas,  parte  de  lo  que  acá  se  usa,  y  tengo  por  10 
cierto  que  de  todo  se  consolará  en  el  Senor,  pues  es  para 
mayor  gloria  de  su  divina  magestad. 

2.  De  las  cartas  de  V.  R.a  emos  entendido  los  grandes 
trabajos  que  en  essas  partes  él  y  los  que  tiene  a  su  cargo 
passan  y  el  poco  que  dello  los  próximos  se  ayudan,  aunque  15 
no  será  sin  fructo  y  mérito  delante  Nuestro  Senor;  y  algún 
temor  tengo  que  el  zelo  santo,  que  V.  R.a  tiene,  le  haga 
salir  a  algunas  y  instar  en  otras,  que  o  por  la  indisposición 
de  la  gente  o  porque  la  divina  Providencia  ansí  lo  ordena, 
seria  bueno  difirirlo  para  otro  tiempo,  no  dexando  de  pedir  20 
a  Nuestro  Senor  que  él  las  provea,  y  en  tanto  usar  dei 
consejo  que  V.  R.a  tomó  de  procurar  hazerse  muy  amigo 
de  los  clérigos,  que  íue  muy  bueno,  y  lo  mismo  íuera  y  aún 
más  necessário  si  pudiera  ganar  la  amistad  dei  Vicario  2, 
que  teniéndolo  a  él  facilmente  ternía  a  los  otros  ansí  eccle-  25 
siásticos  como  seculares,  pues  las  alteraciones,  que  se  sien- 
ten,  él  las  raueve;  e  a  lo  menos  él  las  podría  sedar. 

3.  Lo  mismo  se  entiende  de  todas  las  otras  personas, 
y  tanto  más  quanto  más  principales  ellas  son  o  por  sangre 

y  poder  o  por  dignidades  y  officios,  pues  destos  pende  en  30 
gran  parte  el  fructo  que  deseamos  hazer  en  la  vina  dei 
Senor,  el  qual  quiere  que  usemos  destos  médios  humanos 
condescendiendo  con  los  flacos  para  hazerlos  fuertes  y  aptos 
para  otro  cibo  más  sólido.  Los  médios  para  esto  tiene 
Nuestro  Senor  proveydo  esta  su  mínima  Companía  en  las  35 
Constituciones  y  avisos  otros  que  tenemos  y  la  experiência 
los  terná  monstrado  a  V.  R.a 

4.  Lo  que  specialmente  me  pareció  apuntarle  allende 
de  lo  dicho  de  la  amistad  con  todos  es  que  para  adquiriria 

y  conservaria  conviene  mucho  no  hecharsse  de  la  banda  de  40 


2    Francisco  Fernandes. 


'26 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


alguno,  ni  defender  su  causa  en  ningún  modo  contra  otro, 
mas  suave  y  benignamente  trabajar  de  escusar  y  concordar 
a  todos  como  ángel  de  paz  3,  que  este  es  el  officio  de  la 
Companía,  en  cosas  públicas  ni  secretas  no  darse  por  parte 

45  ni  dar  consejos  a  las  partes  contra  otras,  maxime  si  los  casos 
pertenecen  al  foro  exterior ;  todo  nuestro  negocio  deve  ser 
endereçar  las  ánimas  por  los  caminos  de  Dios  y  en  las  cosas 
spirituales,  dexando  las  temporales  a  los  que  las  professan, 
porque  debilita  mucho  las  fuerças  de  nuestro  ministério 

50  entender  en  ellas,  y  quanto  menos  las  tratamos  tanto  más 
efficacia  tienen  nuestras  obras  próprias  y  tanto  más  las 
favorece  Nuestro  Senor,  porque  esta  mezcla  de  spíritu  y 
carne,  mundano  y  divino,  temporal  y  eterno,  no  se  compa- 
desce  bien. 

55  5.  Lo  mismo  entiendo  de  lo  que  toca  a  las  tierras  de 
los  índios,  quales  les  darán  o  no;  quando  en  ello  intervi- 
niesse  interesse  de  alguno  o  algunos  particulares,  bastaria 
apuntarlo  facilmente  y  procurar  la  voluntad  de  los  a  que 
tocan  con  las  debitas  circunstancias. 

60  6.  No  es  de  creer  que  V.  R.a  usara  con  la  gente  allá  de 
algunos  términos  y  palabras  que  usa  en  sus  cartas,  pues  la 
poca  benevolência  dellos  no  lo  llevaría  facilmente,  mas 
porque  a  los  que  mucho  se  aman  no  faltan  temores  ni  son 
supérfluos  los  avisos,  maxime  que  los  grandes  males  y  poca 

65  emienda  que  vee  puede  mover  su  zelo  a  no  dexar  alguno 
remédio  y  lo  podrían  ser  palavras  rezias  y  ásperas  o  otras 
que  acá  escrive  para  signilicar  la  verdad  de  lo  que  passa, 
me  pareció  acordarle  que  así  como  los  semejantes  términos 
son  muy  extraordinários  en  personas  pias  y  religiosas,  ansi 

70  conviene  no  usarlos  nunca  el  hombre  como  hombre,  mas 
sólo  que  Dios  los  use  por  él,  pues  no  ay  otro  que  sepa  de 
cierto  lo  que  es  efficaz  y  fructuoso,  y  sin  esta  certeza  más 
licitamente  se  dexan  los  tales  remédios  que  se  usan. 

7.    Hémonos  consolado  de  ver  quan  bien  socedió  la  dili- 

75  gencia  que  se  hizo  sobre  la  infâmia  que  se  llevantó  aquel 


3  Cf.  Is.  33,  7. 


7.  -  LISBOA  12  DE  MAIO  DE  1559 


27 


Hermano  de  que  V.  R.a  escrive  4.  Entre  gente  tan  fácil  para 
llevantar  tales  cosas  convernía  bivir  con  mucha  cautela, 
quitando  toda  occasión  de  que  se  pueda  presumir  mal,  y 
en  donde  las  occasiones  de  peccado  están  tanto  a  la  mano 
y  la  buena  fama  es  tan  necessária  para  el  servicio  de  Dios,  8o 
seria  menester  mucha  cautela,  allende  de  la  virtud  que  se 
requiere,  y  no  ir  nunca  alguno  de  los  nuestros  solo  a  las 
poblaciones  de  los  índios,  y  por  los  caminos,  y  aun  seria 
de  procurar  que  quando  fuessen  dos  o  más,  los  acompanasse 
algún  layco,  persona  virtuosa,  si  fuesse  possible.  V.  R.a  85 
vea,  por  amor  de  Nuestro  Senor,  que  en  esto  se  tenga  toda 
la  consideración  necessária,  si  menos  desto  que  deseamos 
se  haze. 

8.  El  Obispo  Don  Pedro  Leytão,  olim  hijo  spiritual  de 

V.  R.a,  está  ya  consagrado  5,  partirá  plaziendo  a  Nuestro  90 
Senor  para  Setiembre;  muestra  mucha  voluntad  de  unirsse 
mucho  con  la  Companía  y  ayudarse,  en  consejo  y  en  lo 
más  que  toca  a  su  ministério,  de  las  personas  delia. 

9.  Yo  desearía  que  nos  esforçássemos  más  a  servirle 

en  las  cosas  de  nuestro  Instituto  que  de  consegeros  a  lo  95 
menos  tan  formalmente  que  pueda  afirmarse  que  por  nues- 
tro consejo  haze  sus  cosas,  que  esto  tiene  muchos  inconve- 
nientes, como  agora  se  vee  que  se  dize  acá  que  el  Gover- 
nador hizo  por  consejo  de  V.  R.a  algunas  cosas  de  que  se 
quexan  dél6;  y  nestos  casos  basta  proponer  lo  que  uno  100 
siente  siendo  interrogado,  remitiéndosse  [127V]  ad  meliore 
[sic]  iudicium  y  a  quien  más  derechamente  pertenecen.  Lo 


82    solo  corr.  ex  a  las 


4  Este  ponto  não  foi  conservado  nas  cartas  conhecidas  de  Nóbrega. 

5  D.  Pedro  Leitão,  alentejano,  2  0  Bispo  do  Brasil,  foi  proposto  no 
Consistório  de  4  de  Fevereiro  de  1558  e  eleito  a  23  de  Março  do  mesmo 
ano  (Van  Gulick-Eubel,  Hierarchia  Catholica  Medii  Aevi  [Munique  1910] 
308).  Faleceu  na  Baía  em  Outubro  de  1573  (Leite,  História  11  524). 

6  Sendo  Mem  de  Sá  o  maior  Governador  do  Brasil,  este  testemu- 
nho indirecto  tem  alto  valor  histórico  (cf.  Leite,  História  11  465-466; 
Breve  Itinerário  144-145;  supra,  Introdução  Geral,  cap.  11,  art.  22). 


28 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


principal,  que  pare[ce]  ser  menester,  es  ganarle  la  voluntad 
y  aficionarlo  a  nuestro  modo  de  proceder  en  lo  que  toca  al 
05  bien  de  las  ánimas  y  no  contender  con  él  que  parece  de  su 
openión,  y  con  los  tales  la  sumissión  sole  ganar  lo  que  la 
contención  podría  perder. 

10.  Quanto  más  necessário  es  que  V.  R.a  nos  dee  los 
avisos  y  informe  como  haze  de  las  cosas  universales  y  par- 

10  ticulares  dessas  partes,  tanto  más  importa  el  secreto  en  ello, 
porque  si  viniesse  a  descubrirse  no  se  podría  tam  bien 
hazer  y  seguirse  hian  muchos  inconvenientes  y  este  médio 
para  el  servicio  de  Dios  que  se  pretende  podrá  perder  su 
efficacia,  por  lo  qual  advierta  V.  R.a  de  escrivir  siempre 

15  por  las  personas  más  fiadas  que  hallare.  Acerca  dei  modo 
nos  parecia  que  devría  narrar  el  facto  y  las  ponderaciones 
moderadas  con  palabras  escogidas,  escusando  quanto  sea 
possible  la  intención  agena  o  dizir  que  algunos  sospechan 
o  pueden  presumir  que  se  haze  por  tal  respecto  y  tal,  y 

20  quando  este  modo  no  bastase  para  declarar  lo  necesario  y 
importante  de  la  cosa,  seria  bueno  escrivir  en  latín  o  en 
cifra  lo  que  podia  offender  si  se  viesse  de  alguno. 
[Lisboa,  xii  de  Mayo  de  1559]. 

8 

DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA,  BAÍA 

LISBOA  12  DE  MAIO  DE  1559 

I.  Autores:  Vasconcelos,  Chronica,  liv.  n  n.  64;  LEITE,  Histó- 
ria 11  466;  Breve  Itinerário  143;  Cartas  de  Nóbrega  (1955)  324-325; 
Mariz  146. 

11.  Texto :    ARSI,  Lus.  60,  f.  127V  [antes  f.  581V,  mais  antigas, 
riscadas,  pp.  226  247]. 

III.    Impressão:   Leite,  História  II  464-465. 


IV.    Edição:  Reimprime-se  o  texto  único. 


8.  -  LISBOA  12  DE  MAIO  DE  1559 


2S 


Textus 

1.  De  sacerdote  religioso  et  de  libello  a  Patre  Nóbrega  scripto.  — 
2.  Monita  circa  res  ad  Patrem  Torres  Olisipone  delatas.  —  3.  Otiaerat 
unusquisque  betie  cognoscere  suas  ipsins  naturae  propensiones. 

1.  Aqui  vino  a  San  Roque  un  flayre  1  el  qual  dize  que 
V.  R.a  bizo  un  libello  contra  él ;  no  dexaría  de  aver  algu- 
nos  buenos  respectos  que  le  moviessen  a  ello,  mas  aunque 
los  oviera  es  mucho  contra  el  modo  de  proceder  de  la  Com- 
pafiía  y  causa  de  algún  escândalo,  tenga  V.  R.a  cuenta,  por  5 
amor  de  Dios,  que  no  use  de  sus  letras  sino  en  el  foro  inte- 
rior, que  lo  exterior  no  es  nuestro. 

2.  Allende  de  este  aviso,  me  pareció  declararle  en  par- 
ticular por  esta,  que  será  para  él  solo,  algunas  cosas  de  lo 
que  en  general  digo  en  la  otra,  que  podría  communicarsse  i° 
con  algunos.  Y  son  que  dizir  a  uno:  tenéis  spíritu  de  demó- 
nio o  el  diablo  a  entrado  en  vos,  no  conviene  2.  Trabajar 
que  uno  aya  el  oíficio  que  pretende  aver  otro,  también  es 
para  temer  entender  enello;  reprender  uno  asperamente,  o 
lo  vean  algunos  o  no,  lo  mismo.  Algunas  cosas  destas  nos  15 
han  dicho  acá  personas,  que  de  allá  vienen,  y  mucho  más 
parece  que  dixeran  si  no  ordenara  Nuestro  Senor  que  estu- 
viera  aqui  Ambrósio  Pires  3  que  estando  presente  parece  le 
tienen  respecto  y  se  refrenan.  Y  esto,  aunque  nos  sabemos 

y  conocemos  lo  que  Dios  ha  dado  a  V.  R.a  y  por  eso  lo  20 
sabemos  entender,  la  otra  gente  y  estos  Príncipes  no  quer- 


1  Tirando  as  Casas  da  Companhia  de  Jesus,  não  havia  convento 
no  Brasil,  mas  apenas  alguns  frades  dispersos  aqui  e  além  pelas  vilas 
das  Capitanias;  e,  assim  não  há  elemento  positivo  para  identificar  quem 
fosse  este  frade.  Cf.  infra,  carta  de  Nóbrega  a  Tomé  de  Sousa  de  5  de 
Julho  de  1559  §  14  (carta  13). 

2  «Spinto  dal  demónio»,  diz  Nóbrega  dum  frade  («religioso  sacer- 
dote»), que  levou  o  índio  Principal  de  uma  Aldeia  ao  seu  contrário  para 
que  este  o  matasse  e  comesse  (Mon.  Bras.  1 164).  Frade  egresso  ou  fora 
de  qualquer  casa  religiosa,  porque  como  dirá  o  mesmo  Torres  em  Março 
de  1561  (carta  44  §  5),  excepto  os  da  Companhia,  «astagora  no  an  apor- 
tado allá  [al  Brasil]  ningunos  religiosos  otros». 

3  Torna  a  falar  do  P.  Ambrósio  Pires,  pouco  depois,  a  16  de  Maio 
(carta  10  §  2). 


50 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


ríamos  que  se  oífendiessen,  pues  ellos  son  tanta  parte  para 
el  servicio  de  Dios.  También  el  negocio  dei  legado  4,  ya  que 
se  oviera  de  hazer,  pudiera  ser  con  más  cautela,  no  poniendo 

25  por  testigos  a  los  nuestros  en  cosa  própria.  Querrá  Nuestro 
Sefior  quitar  de  aqui  adelante  estas  y  todas  las  más  oca- 
siones que  pueda  aver  para  impidir  el  servicio  que  deseamos 
hazerle  en  essas  partes,  y  V.  R.a  ansí  lo  procure  por  chari- 
dad.   En  sus  oraciones  mucho  me  encomiendo. 

30       De  Lixboa,  a  xn  de  Mayo  de  1559. 

3.  Es  bueno,  Padre  Charíssimo,  conocer  cada  uno  su 
complexión  colérica  o  ílemática  y  procurar  de  inclinar  más 
a  la  parte  contraria  para  que  quede  en  el  médio,  y  esto 
exercito  tanto  nuestro  Padre  Maestro  Ignacio,  de  buena 

35  memoria,  que  siendo  muy  colérico  de  su  naturaleza  parecia 
en  el  tratar  muy  flemático  5. 

9 

DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA,  BAÍA 

LISBOA  12  DE  MAIO  DE  1559 
I.    Autores  :  Leite,  História  li  463. 

II.  Texto:  ARSI,  Lus.  60,  ff.  I27v-i28r  [antes,  mais  antigas,  risca- 
das, pp.  226-227  247-248].   Apógrafo  em  espanhol. 

III.   Edição  :  Edita-se  o  texto  único. 

Textus 

1.  Itibet  Patrem  Nóbrega  adire  Praefecturam  S.  Vincentii  ad  recupe- 
randatn  valctudinem  et  tradere  múnus  Provincialis  Patri  Ludovico  da 
Grã.  —  2.    Quod  fieri  potest,  quamvis  aliter  a  P.  Generali  iubeatur. 


4  Legado  de  Diogo  Álvares  Caramurn.  Cf.  Mon.  Bras.  II  456. 

5  Cf.  MI  Fontes  Narra t.  11  375. 


9.  -  LISBOA  12  UE  MAIO  DE  1559 


31 


1.  De  las  de  V.  R.a  emos  entendido  como  se  ha  hallado 
siempre  maio  en  essa  tierra  de  la  Bahia  y  que  no  le  pare- 
cia podría  turar  ahí  el  verano  que  esperava,  después  por 
ocasión  dei  íructo  que  se  oííreció  escrive  que  quiere  morir 
en  esse  trabajo.  Es  mucho  de  alabar  a  Nuestro  Sefior  por  5 
el  ânimo  tan  prompto  que  le  da  para  poner  la  vida  por  sus 
animas;  mas  porque  creemos  que  el  misrao  Sefior  será  más 
servido  de  conservaria  para  más  a  la  larga  poder  servirle, 
nos  parece  in  Domino  que  V.  R.a  se  passe  a  San  Vicente 
que  es  tierra  más  a  prepósito  de  su  salud,  y  ahí  entienda  a  10 
recuperar  la  perdida  y  a  conservar  la  que  el  Sefior  le  diere, 
no  tomando  trabajos  que  no  se  compadezcan  con  sus  fuer- 
ças,  ayudándosse  quanto  fuere  possible  de  los  menistros 
que  allá  tiene;  y  podrá  hazer  venir  ahí  al  P.e  Luis  da  Grãa 
con  el  cargo  de  Provincial,  pues  la  mutación  dei  lugar  para  15 
la  salud  de  V.  R.a  es  tan  necessária  y  la  más  común  resi- 
dência dei  Provincial  deve  ser  en  la  Bahia. 

2.  Y  esto  se  puede  hazer  no  obstante  lo  que  de  Roma 
se  escrive  l,  porque  aqui  ay  comissión  2  para  ordenarlo  con- 
forme a  lo  que  in  Domino  sintiéremos  más  convenir;  y  20 
creemos  que  esto  ordenara  ansí  nuestro  Padre  3  si  tuviera 


I    ha  dei.  bl  |  hallado]  hablado  ms.  ||  16    la"]  las  ms. 


1  Carta  do  P.  Geral  a  Nóbrega  (que  Torres  leu),  em  que  lhe  man- 
dava que  continuasse  no  ofício  de  Provincial  e  que  o  P.  Nóbrega  agra- 
dece na  sua  de  30  de  Julho  de  1559  (carta  16  §  2) ;  pela  qual  se  verá 
também  o  modo,  verdadeiramente  santo,  como  Nóbrega  recebeu  esta 
ordem  do  P.  Torres,  oposta  à  do  P.  Geral. 

2  Se  era  comissão  do  P.  Geral  anterior  (cf.  supra,  Introdução, 
cap.  I  art.  9),  parece  que  deveria  ter  caducado  com  a  morte  dele;  pelo 
que  se  refere  ao  novo  Geral,  nada  estava  assente,  quando  Torres  saia 
de  Roma  (supra,  carta  1  §  2;  e  o  «despacho»  do  P.  Geral  para  o  Brasil 
chegou  às  mãos  do  P.  Torres  junto  com  a  carta  do  Geral  para  Nóbrega 
confirmando-o  no  cargo  de  Provincial,  a  que  alude  neste  mesmo  §. 
O  despacho  do  Geral  para  o  Brasil  enviou-o  logo  Torres  ao  seu  des- 
tino, como  dirá  na  carta  de  16  de  Maio  (carta  10  §  1),  na  qual  procura 
justificar-se  (§§  2-3). 

3  Diego  Laynes. 


52 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  DIEGO  LAYNES 


la  información  [i28r]  y  intelligencia  que  tenemos  y  en  lo 
más  principal  se  conforma  con  el  orden  que  Su  Paternidad 
manda  para  essa  Província,  pues  ordena  que  sea  Provincial 

25  el  P.e  Luis  da  Grãa  no  podiendo  V.  R.  atender  al  officio, 
como  no  puede,  pues  es  forçado  no  estar  en  la  Bahia,  y  en 
qualquiera  parte  que  estee  siempre  es  con  notable  dano  de 
su  salud.  Nuestro  Senor  por  su  bondad  nos  dee  su  santo 
spíritu   para  en  todo  conocer  y  cumplir  su  santíssima 

3o  voluntad. 

De  Lixboa,  a  xn  de  Mayo  de  1559. 

CARTA  PERDIDA 

9a.  Do  Cardeal  D.  Henrique  Infante  de  Portugal  ao  P.  Manuel  da 
Nóbrega,  Baia  (Lisboa  Maio  [?]  1559).  «O  anno  passado  de  1559  me 
derão  huma  de  Vossa  Alteza  em  que  me  manda  que  lhe  escreva  e 
avise  das  cousas  desta  terra»,  —  escreve  Nóbrega  ao  mesmo  Cardeal 
Infante  a  1  de  Junho  de  1560  §  1. 

10 

DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

LISBOA  16  DE  MAIO  DE  1559 
I.    Autores:  Leite,  História  II  464  523. 

II.  Texto:  ARSI,  Zws.  <5n,  f.  I33r-i33v  [antes  49r-49v].  Endereço 
[f.  135V]:  «Al  muy  R.do  en  Christo  Padre  el  Padre^Maestro  Diego  Laf- 
nez  Prepósito  General  de  la  Comfpania  de]  Jesus.  En  Roma».  Cláu- 
sula e  assinatura  autografa.  Original  em  espanhol. 

III.    Edição:  Edita-se  o  texto  único. 

Texlus 

1.  Episcopits  uondum  profectus  est  in  Brasiliam,  sed  Torres  episto- 
las alia  navi  mittit.  —  2.  Rationes  cur  iusserit  Patrem  Nóbrega  adire 
Praefccturam  S.  Vincentii  et  múnus  Provincialis  tradere  P.  Ludovico 
da  Grã. 


10.  -  LISBOA  16  DE  MAIO  DE  1559 


55 


+ 

IHS 

Muy  Reverendo  en  Christo  Padre 

La  gracia  y  amor  de  Jesú  Christo  sea  siempre  en  nues- 
tro  favor  y  ayuda.  Amén. 

1.  El  Obispo  dei  Brasil  no  es  aun  partido,  ni  partirá 
sino  para  el  Setiembre  que  viene.  Por  un  navio,  que  agora  5 
parte  1,  escrivimos  al  P.e  Nóbrega  lo  que  V.  P.  podrá  ver 
por  la  copia  2  que  con  esta  embío ;  allende  dello,  se  le  escrive 
de  los  negócios  y  cosas  de  ediíicación,  embiándosse  muchas 
copias  de  letras  de  Itália,  Alemana,  Yndia  y  Portugal  y 
algunos  avisos  3  que  de  Roma  tenemos  dei  modo  de  proce-  10 
der  que  en  aquella  Provincia  son  muy  necessários  según 
emos  entendido.  Embíase  el  despacho  4  de  V.  P.,  quedán- 
donos  aqui  la  copia  para  embiar  con  el  Obispo  5. 

2.  Y  pareciónos  importante  que  el  P.e  Manuel  da 
Nóbrega  se  passasse  de  la  Bahia  para  la  capitania  de  San  15 
Vincente  y  que  el  P.e  Luís  da  Grã  estuviesse  en  la  Bahia 


ia    Prius  embianse  ||  14    pareciónos]  pareciynos  ms.  \\  15    San  corr.  ex  Santo 


1  A  caravela,  que  levou  estas  cartas,  chegou  à  Baía  a  21  de  Julho 
(cf.  infra,  carta  15  §  5). 

2  Cópia  das  três  cartas  precedentes  de  12  de  Maio  (a  Nóbrega). 

3  Dos  avisos  de  Roma  para  o  Brasil  não  se  conservou  notícia. 
As  cópias  de  cartas  das  nações  europeias,  mencionadas  no  texto,  sem 
se  poder  determinar  exactamente  quais,  caem,  pelo  período,  dentro 
das  que  se  imprimiram  em  Li/t.  Quadr.  V-VI. 

4  O  despacho  do  P.  Geral  incluía  uma  carta  para  Nóbrega,  con- 
firmando-o  no  cargo  de  Provincial  (carta  de  Nóbrega  de  30  de  Julho 
de  1559:  carta  16  §  2).  O  P.  Torres  leu-a  (carta  9  §  2);  e  este  facto,  de 
a  ter  lido,  basta  para  explicar  psicològicamente  quanto  escreve  a  seguir 
para  justificar  o  seu  acto  (cf.  infra,  carta  14;  supra,  Introdução  Geral, 
Cap.  I,  art.  9). 

5  D.  Pedro  Leitão. 

3 


34 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  DIEGO  LAYNES 


con  el  cargo  de  Provincial.  Las  razones  son  que  en  la 
Bahia  estan  todos  muy  escandalizados  dei  P.e  Manuel  da 
Nóbrega,  ansí  las  personas  ecclesiásticas  como  seculares. 

20  Parece  que  no  puede  facilmente  moderar  el  zelo  ni  acomo- 
darse  a  las  complesiones  de  los  hombres  ;  y  siendo  muchas 
vezes  avisado  de  los  nuestros,  no  se  daba  por  eso,  antes 
les  recebia  mal  sus  recuerdos  y  les  dizia  palabras  ásperas 
y  mal  consideradas,  como  luego  vos  dareis  esse  consejo, 

25  tenéis  spíritu  de  todos  los  diablos,  y  de  las  mismas  y  otras 
muchas  y  poco  convenientes  usa  con  las  personas  de  fuera, 
y  aunque  será  possible  que  él  tenga  alguna  razón  por  si, 
no  ay  duda  sino  que  este  es  su  modo,  siendo  en  todo  al 6 
muy  virtuoso  y  bueno.   Puede  tanto  con  él  su  zelo  que  se 

30  intromete  en  las  cosas  de  justicia,  aconsejando  por  parte 
delia  contra  los  delinquentes  y  contra  un  ílayre  hizo  un 
libelo  7  por  parte  de  la  justicia;  y  siendo  avisado  de  los 
nuestros,  respondió  que  si  él  aquello  no  hazía  de  que  le 
avían  de  servir  sus  letras?  Sabemos  que  los  clérigos  y 

35  pueblo  están  muy  alboratados  contra  él  y  an  escrito  cartas 
a  S.  A.  y  embiado  un  canónego8;  el  Obispo  ha  hecho  que 
no  se  diessen  las  cartas  ni  el  canónego  entendiesse  en  el 
negocio  con  SS.  AA.,  mas  él  con  nosotros  lo  quiere  tratar 
para  que  se  haga  lo  que  más  convenga.   Los  nuestros 9 

40  piden  con  mucha  instancia  provean  de  otro  Superior  y 
dize  Ambrósio  Pirez  se  desconsolarán  mucho  no  se  pro- 
veyendo. 

3.    Por  estas  razones  y  porque  no  ay  duda  sino  que  el 
P.e  Manuel  da  Nóbrega  se  iva  consumiendo  con  callentura 
45  contínua  y  hechava  sangre  y  le  tenían  por  tísico  y  la  Bahia 


6  «En  todo  al»:  em  tudo  o  mais. 

7  Sobre  este  libelo,  cf.  supr.i,  carta  8  §  1 ;  infra,  carta  13  §  14. 

8  Sobre  estas  informações,  cf.  infra,  as  duas  cartas  de  Nóbrega, 
uma  a  Torres  e  Padres  de  Portugal,  outra  ao  Governador  Tomé  de 
Sousa,  ambas  datadas  de  5  de  Julho  de  1559  (cartas  12  e  13). 

9  Tirando  as  cartas  do  próprio  Nóbrega  a  pedir  sucessor,  e  de 
Luís  da  Grã,  de  acordo  com  Nóbrega  (Mon.  Bras.  11  361),  não  se 
conhece  nenhuma  carta  doutros  Padres  sobre  esta  matéria. 


10.  -  LISBOA  16  DE  MAIO  DE  1559 


55 


es  muy  cálida  y  Santo  Vincente  tierra  fresca  en  que  parece 
que  dándole  Nuestro  Senor  vida  podría  recuperarse,  pare- 
ció  que  V.  P.  seria  contento  que  él  se  passasse  allá;  y 
porque  el  P.e  Luís  da  Grã  viene  en  la  successión  por  Pro- 
vincial, y  en  la  Bahia  le  deseavan  mucho  ansí  los  nuestros  50 
como  los  clérigos  y  pueblo  y  tiene  talento  de  tratar  con  la 
gente  y  mucho  zelo  de  la  conversión,  pareció  que  se  viniesse 
para  allí,  y  que  con  él  cessarían  las  turbaciones  que  ay  y 
el  Obispo10  se  consolara  mucho  que  los  conoce  ambos,  y 
dende  acá,  está  temiendo  el  P.e  Nóbrega  y  deseando  la  55 
cotnunnicación  dei  P.e  Luís  da  Grã.  Confiamos  en  Nuestro 
Senor  que  esta  mutación  será  para  mayor  bien  y  gloria  de 
su  divina  magestad,  la  qual  nos  movimos  también  a  hazer 
por  la  commissión  que  para  ello  parece  que  acá  tenemos, 
según  se  entiende  de  las  cartas  de  allá.  El  Senor  nos  dé  60 
gracia  de  acertar  siempre  a  hazer  su  santa  voluntad. 

De  Lisboa  16  de  Mayo  1559. 

Indigno  e  ynútil  hijo  de  V.  P., 

Torres. 

CARTAS  PERD  DAS 

ioa-c.  Do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Manuel  da  Nóbrega,  Baia 
(Lisboa  Maio  de  1559).  «Allende  dello,  se  le  escrive  [a  Nóbrega]  de 
los  negócios  y  cosas  de  edificación,  embiándose  muchas  copias  de 
letras  de  Itália,  Alemafia,  Yndia  y  Portugal  y  algunos  avisos  que 
de  Roma  tenemos  dei  modo  de  proceder  que  en  aquella  Província 
son  muy  necessários»,  —  escreve  Torres  a  Laynes  a  16  de  Maio 
de  1559  §  1  (carta  10). 

iod-e.  Do  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Luis  da  Grã,  S.  Vicente 
(Lisboa  Maio  de  1559).  «Poco  a  que  [o  P.  Luís  da  Grã]  recibió  cartas 
en  que  se  le  encommendava  el  cargo  desta  Província»,  —  escreve 
Anchieta,  a  1  de  Junho  de  1560  §  25  (carta  36).  Não  se  conhece 
nenhuma  carta  do  P.  Geral  nem  do  Provincial  de  Portugal  a  Grã 
sobre  este  assunto.  A  mudança  operou-a  o  Provincial  de  Portugal 
(Miguel  de  Torres)  e  consta  de  cartas  a  Nóbrega.  Mas  o  texto 
refere-se  a  cartas  a  Grã,  e  assim  também  deveria  ser. 


10  Do  Bispo  D.  Pedro  Leitão,  dirá  depois  Torres  que  ele  fora 
«enganado  al  principio»  (Torres  a  Laynes,  Março  de  1561,  carta  44  §  4). 


36 


IR.  ANTÓNIO  DE  SÁ  -  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAÍA 


11 

DO  IR.  ANTONIO  DE  SÁ 
AOS  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAIA 

[ESPÍRITO  SANTO]  13  DE  JUNHO  DE  1559 

I.  Bibliografia:  Catalogo  dos  Manuscriptos  I  23;  Cimélios  494; 
Leite,  História  ix  160  n.  1. 

II.  Autores:  Leite,  História  I  215  218  229  235  237;  II  12  219  339 
340  550;  Diálogo  [do  Padre  Nóbrega}  sobre  a  Conversão  do  Gentio  (Lis- 
boa 1954)  45-47. 

III.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lis- 
boa] 1-5,  2,  38,  ff.  Ó2r-65v.  Título:  «Copia  de  numa  carta  do  Irmão  Anto- 
nio de  Sá  que  escreveo  aos  Irmãos  da  Baya  a  13  de  Junho  de  1559». 
Manuscrito  já  hoje  com  palavras  ilegíveis.  Tradução  espanhola,  coeva, 
do  original  português  perdido.  Com  portuguesismos. 

IV.  Impressão:  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  212-221. 

V.  Edição:  Reimprime-se  o  texto  único,  ajudando-nos,  nas  pala- 
vras ilegíveis,  das  Cartas  Avulsas. 

Textus 

1.  De  indo  principali  «Galo»,  et  de  novo  pago  instituendo.  —  2.  Di- 
fundi in  praeterita  pestilentia.  —  3.  Navis  lusitana  timetur  perinde  ae 
esset  gallica.  —  4.  Casus  filii  indi  principalis  «Gato». — 5.  Praefictus 
prohibet  ne  Indi  filios  consanguineosque  vendant.  —  6.  Baptismus  tt 
matrimonium  Indorum,  convivium  a  Praefecto  paratum  —  7.  Pruden- 
tia  Christiana  ctiiusdam  indi.  —  8.  Corredio  cuiusdam  indi  qui  filia 
vendiderat.  —  9.  Corredio  alius  indi,  qui  puellani  vendiderat. —  10.  Indi 
qui  defundi  sunl  iam  baplisati.  —  11-12.  De  novo  pago  Indorum  in  qu 
erit  schola  pucrorum.  —  13.  Indus  qui  concubinam  reliquit.  —  14.  Alt 
qui  bene  novit  dies  ieittnii  ab  Ecclesia  praeceptos.  —  15.  Dodrina  Chris- 
tiana sermone  lusitano  et  brasílico. 

La  summa  gracia,  etc. 
1.    Paréce[me  que  Nuestro]  Senor,  como  piadoso,  con- 
doliéndosse  de  los  trabajos  y  desgustos  que  llevamos  lo 


11.- ESPÍRITO  SANTO  15  DE  JUNHO  DE  1559 


37 


dias  atrás  passados  1  nos  quiere  agora  consolar  con  sua 
costumbrada  clemência:  laetati  sumus  pro  diebus  quibus  5 
humiliati  sumus  annis  quibus  vidimus  mala  2,  [62v]  y  por 
tanto  no  servirá  esta  más  que  para  darvos  información 
como  nuestro  Vasco  Fernandez,  Principal  de  los  índios, 
está  muy  arrepentido  y  puesto  en  otro  propósito  de  lo  que 
antes  tenía,  porque  cred  que  es  verdad  que  los  Christianos  10 
todos  los  momentos  y  horas  lo  estorvão  de  poner  en  obra 
lo  que  el  Senor  le  avia  inspirado;  y  vedasse  tan  impor- 
tunado dellos  que  se  passo  a  la  otra  vanda  con  toda  su 
casa. 

Nosotros,  por  saber  lo  que  teníamos,  fingimos  que  nos  15 
queríamos  ir  desta  tierra  no  por  su  causa  sino  porque  con 
los  suyos  no  podíamos  hazer  nada,  porque  luego  los  Chris- 
tianos los  venían  a  estorvar,  y  a  él  le  metían  tantas  cosas 
en  la  cabeça  que  lo  hazían  andar  de  aquella  manera;  la 
qual  palabra  (como  quien  ya  començava  a  sentir  nuestra  2o 
presencia)  le  lastimo  tanto  que  dixo:  Si  el  Padre  se  fuere 
para  allá,  yo  me  iré  para  acá,  id  est,  que  si  el  Padre  Brás 
Lorenço  se  fuesse  a  la  Ba^a,  él  se  yría  para  Tapemeri, 
dándonos  a  entender  que  si  él  y  toda  su  gente  estava  en 
la  tierra  era  por  nuestra  causa,  y  pues  él  avia  venido  dei  25 
Rio  de  Henero  3  tan  longe,  por  amor  de  nós,  que  no  parecia 
fermoso  irnos  y  dexarlo,  pues  era  yá  christiano.  Y  después 
de  dezir  la  perda  que  causaria  la  yda  dei  Padre  (porque 
como  no  uviesse  quien  reprendiesse  los  peccados,  todo  avia 
de  dar  al  través)  se  començó  a  enojar  contra  los  moradores  30 
christianos,  llamándolos  de  cunumis  4,  id  est,  moços,  lasti- 
mándosse  mucho  porque  íaltavan  ya  los  viejos.  Finalmente 
él  se  determino  que  queria  luego  hazer  su  Aldeã  dende  lo 
doctrinássemos.  Nosotros,  viéndolo  tan  encendido,  le  dixi- 


1  Cf.  supra,  carta  de  Fevereiro  de  1559  §  2  (carta  5). 

2  Ps.  89,  15. 

3  Sobre  a  vinda  de  Vasco  Fernandes  (Gato)  do  Rio  de  Janeiro  e 
o  seu  baptismo  no  Espírito  Santo,  cf.  Mon.  Bras.  II  226-227  374-375. 

4  Cunumim:  «menino  na  puerícia»  (Leonardo  do  Vale,  Vocabu- 
lário 296). 


58 


IR.  ANTÓNIO  DE  SÁ  -  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAÍA 


35  mos  que  se  sonava  en  el  pueblo  que  como  podia  ser  que 
gentiles  que  sierapre  mataron  y  comieron  carne  humana  et 
reliqua,  avia  Dios  de  permitir  que  en  el  cabo  de  su  vida 
se  avían  de  salvar  mayormente  siendo  tan  maios:  y  ellos, 
que  nascieron  luego  christianos,  y  van  siempre  a  la  ygle- 

40  sia,  se  avían  de  ir  al  infierno?  A  lo  que  él  respondió  que 
«por  tanto  eran  ellos  más  de  culpar,  que  sobre  ser  chris- 
tianos son  tan  maios,  y  yo  con  no  aver  mamado  desde  mi 
ninez  la  leche  soy  quasi  tan  bueno  como  ellos,  porque  me 
aparte  de  muchos  costumbres  de  mis  passados,  y  después 

45  que  íuy  christiano  nunca  más  conocí  otra  muger  sino  la 
que  me  dieron  en  matrimonio,  y  ellos  hazen  todo  al  revés 
desto;  y  ya  que  ellos  dizen  esso,  yo  quiero  agora  ponerme 
de  verdad  y  venga  lo  que  viniere  y  tengo  de  ser  mejor 
christiano  que  ellos',  y  lo  poco  mio  en  comparación  de  lo 

50  suyo  ha  de  ser  mucho,  porque  no  me  es  dado  tanto  como 
a  ellos». 

Concluyóse  este  negocio,  que  luego  pondría  la  mano  a 
la  obra,  como  viniessen  otros  Principales  que  le  avían  de 
ayudar.  Yo  tengo  de  ir  allá  estar  de  estada  para  les  ense- 

55  fiar  la  doctrina  y  para  lo  demás  que  fuere  servicio  de  su 
Divina  Magestad.  Estoy  yo  muy  contente  deste  Principal, 
porque,  ailende  de  naturalmente  ser  muy  prudente  y  sagaz, 
después  que  se  hizo  christiano  le  hallo  muy  obediente  en 
las  cosas  que  pertenecen  a  la  ley  de  Dios.  Él  me  dixó  que 

60  estava  aparejado  para  bever  el  cálix  repugnante  a  su  sen- 
sualidad,  hoc  est,  de  hazer  y  comprir  lo  que  le  mandaren 
y  sufrir  el  jugo  de  la  ley  de  Christo.  Y  bien  puede  dizir 
(si  lo  que  tengo  visto  en  él  no  me  engafia):  Benedictus 
Deus  qui  circumlinivit  nostrum  acrimoniae  poculum  cae- 

65  lesti  melle  suae  suavitatis  quod  possit  ab  his  gentilibus 
absque  ulla  refutatione  potari. 

2.  [63r]  Después  que  assenté  los  muertos  que  se  avían 
finado  los  meses  atrás  passados,  que  como  ya  sabrán  fue- 
ron  muchos  así  de  los  lactantes  y  inocentes  como  de  los 


43    tau  bueno  alta  tnanu 


11. -ESPÍRITO  SANTO  13  DE  JUNHO  DE  1559 


39 


adultos  5,  hallé  que  en  este  mes  de  Março  quiso  el  Senor  70 
llevar  para  sí  ocho,  quatro  adultos  y  quatro  inocentes:  éi 
les  dee  su  bienaventurança. 

3.  A  23  dias  de  Abril  llegó  aqui  Diego  de  Morín  c,  y 
con  su  llegada  puso  a  toda  la  villa  en  miedo  y  alvoroço 
pensando  que  fuessen  franceses  y  con  estar  los  más  dellos  75 
dolientes,  el  miedo  los  hazía  sanos  y  todos  ponían  la  mano 

al  trabajo,  haziendo  una  cerca  de  pipas  y  tanos  aterrados 
esperando  la  nueva  cierta,  porque  tenían  para  sí  que  unos 
nueve  franceses  que  de  aqui  huyeron  los  dias  passados 
irían  a  dar  rebate  al  Rio,  donde  están  los  otros  franceses.  80 
Enfín,  yendo  a  ver  hallarón  lo  que  era,  mas  no  están  con 
todo  esto  seguros,  porque  todo  el  pueblo  los  spera  cada 
dia. 

4.  No  dexaré  de  contar  una  cosa  muy  digna  de  admi- 
ración,  por  la  qual  se  verá  claramente  cómo  el  Demónio,  85 
inimigo  de  los  hombres,  anda  muy  ravioso  y  indignado 
por  ver  que  le  tenemos  llevado  este  ano  tan  grande  prenda 
de  almas,  que  en  la  mortindade  passada  después  de  ser 
baptizadas  llevó  el  Senor  para  sí.  El  caso  es  el  siguiente. 
Tenía  Vasco  Fernandez,  nuestro  Principal,  un  hijo  por  nom-  90 
bre  Manemoaçu,  el  qual  estava  muy  doliente  en  la  Aldeã 
de  la  villa.  Estando  él  así  una  noche  de  grande  tempestad 

lo  tomaron  los  demónios  en  cuerpo  y  alma,  y  con  grande 
estruendo  lo  llevarão  arastrando  y  maltratando.  Acudie- 
rão  los  de  la  Aldeã  al  ruydo  y  gritos  dei  pobre  negro  y  95 
tomando  lumbreras  de  fuego  y  fuéronse  por  el  rastro  hasta 
el  puerto  de  Manuel  Ramallo7  y  de  allí  por  delante  lo  per- 


5  Cf.  supra,  caria  de  Fevereiro  de  1559  §  2  (carta  5). 

6  Diogo  de  Morim,  o  velho,  um  dos  capitães  que  tinham  acom- 
panhado Fernão  de  Sá  em  1558  ao  Espírito  Santo  (Frei  VICENTE  DO 
Salvador,  História  do  Brasil  167). 

7  Manuel  Ramalho,  morador  da  Capitania  do  Espírito  Santo,  a 
quem  o  Governador  Tomé  de  Sousa,  passando  por  ela,  nomeou,  a  ir  de 
Dezembro  de  1552,  Escrivão  da  Provedoria,  Feitoria,  Almoxarifado  e 
Alfândega  da  mesma  Capitania  {Doe.  Hist.  XXXV  162-163).  Na  carta  a 
Tomé  de  Sousa,  de  5  de  Julho  de  1559  §  23,  Nóbrega  conta  a  sua  morte 
em  data  recente  (carta  13). 


40 


IR.  ANTÓNIO  DE  SÁ  -  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAIA 


dieron.  Dieron  luego  la  nueva  a  su  padre,  que  es  grande 
nuestro  amigo,  con  la  qual  él  fue  muy  triste  y  enojado, 

ioo  diziendo  que  si  se  le  muriera  no  le  diera  tanto,  mas  ser 
llevado  de  tan  ruyn  gente  le  pesava  mucho.  El  P.e  Brás 
Lorenço  lo  fue  a  consolar,  dandole  sperança  que  si  no  era 
muerto  que  él  apareceria,  como  de  hecho  de  a^  a  tres  dias 
apareció.  Y  luego  mandó  al  Padre  las  nuevas,  diziendo  que 

105  por  él  aver  confiado  tanto  en  las  palabras,  que  le  dixera, 
avia  aparecido;  y  agora  tienen  al  Padre  grande  crédito  y 
por  verdadero  pagé  8. 

El  pobre  indio  contava  que  después  de  lo  aver  puesto 
en  el  puerto  de  Juan  9  Ramallo  lo  llevaron  a  Sant  Anto- 

110  nio  10  con  tanto  ímpetu  y  clamor  que  él  a  si  mesmo  no  se 
podia  oyr  ni  entender.  De  aqui  lo  pusieron  en  el  puerto  de 
Jaravaia11  y  por  concluyr  diz  que  lo  pusieron  entre  muchas 
ostras  [donde]  se  hiriera  muy  mal.  Aqui  vió  muchos  fue- 
gos  y  muy  horríbiles.  Finalmente,  después  de  todos  estos 

115  martyrios  lo  arrojaron  entre  unos  mangues  13,  donde  se 
maltratara  muy  mal,  y  quedara  fuera  de  si  con  tantos  tor- 
mentos como  passara,  que  por  esso  no  conocía  a  los  suyos 
quando  dieron  sobre  él  y  hu^a  dellos  como  si  fueran  demó- 
nios. Todo  esto  permite  el  Sefior  para  que  vengan  a  conoci- 

120  miento  de  su  ley,  considerando  el  perverso  dominio  dei 


8  Pagé,  cf.  Mon.  Bras.  I  17. 

9  Parece  equívoco,  por  se  referir  ao  mesmo  porto,  não  de  João, 
mas  de  Manuel  Ramalho,  mencionado  doze  linhas  antes.  Mas  cf. 
infra  §  14. 

10  S.  António:  nome  da  Ilha  em  que  está  situada  Vitória,  Capital 
do  Espírito  Santo  (Leite,  História  1  225-226).  Mas  parece  tratar-se  da 
ponta  de  terra,  chamada  também  S.  Antônio,  na  mesma  baía  do  Espí- 
rito Santo  (Rubim,  Diccionario  Topographico  640). 

ri  Jaravaia  ou  Gerabaia,  Aldeia  a  que  já  se  referiu  Francisco  Pires 
(Mon.  Bras.  11  373). 

12  Rhizophora  tnangle  L.  —  Árvores  que  vivem  à  beira  da  água  sal- 
gada ou  em  pântanos  dessa  água.  As  raízes,  «encadeadas  e  feitas  em 
trempes»  (Cardim,  Tratados  95),  dificultam  sumamente  a  passagem, 
que  é  o  que  dá  a  entender  esta  carta,  não  citada  por  Friederici,  Ame- 
rikanistischcs  Wurterbuch  383-384. 


11. -ESPÍRITO  SANTO  15  DE  JUNHO  UE  1559 


41 


demónio.  Ellos  todos  atribuyen  esto  al  Padre  Brás  Lorenço 
y  tiénenle  grande  amor  toda  esta  Aldeã.  Gratias  Deo. 

5.  Viendo  el  P.e  Brás  Lorenço  cómo  los  índios  vendían 
sus  hijos  y  parientes  a  los  christianos  de  que  ellos  tenían 
muy  poco  scrúpulo,  antes  le  parece  que  hazen  bien,  movi-  125 
dos  [63V]  por  su  interesse  y  no  por  la  salvación  de  sus  áni- 
mas,  como  ellos  piensan,  puso  la  mano  en  este  negocio, 
hablando  a  los  moradores  con  quanto  peligro  de  sus  ánimas 
tenían  aquellas  pieças.  Algunos,  movidos  desto,  hizieron 
câmara  sobre  ello  y  de  común  consensu  asentaron  que  no  130 
era  bien  que  las  tales  pieças  se  resgatassen;  y,  para  que 

la  cosa  quedasse  más  firme,  determinaron  de  firmarse  por 
todos  aquel  concierto.  Mas  el  demónio,  como  ve^a  que 
perdia  aqui  mucho,  así  de  la  parte  de  los  índios  como  de 
los  Christianos,  porque  con  estos  contractos  a  todos  tiene  135 
enlaxados  en  el  profundo  de  la  perdición,  trabajou  quanto 
pudo  de  impidir  esto,  poniendo  alguns  en  la  voluntad  que 
no  firmassen,  a  otros  que  contradixessen  la  obra,  a  otros 
que  se  arrepentiessen  de  aver  puesto  sus  nombres,  a  otros 
que  dixessen  que  no  parecia  bien  esto  porque  estavan  140 
pobres  de  pieças,  porque  todas  se  le  avían  muerto  con  la 
dolência  dei  ano  passado,  y  que  si  no  compravan  estas 
que  no  tenían  otra  parte  do  pudiessen  resgatar.  Mas  el 
enemigo  no  ganó  nada  con  estos  ardiles,  porque  el  Capi- 
tán  mandó  pregonar  que  ninguno  las  comprasse  sob  pena  145 
de  las  perder  con  tantos  ducados  encima.  Quiera  el  Senor 
que  dure  mucho,  porque  a  ser  ansí  es  una  grande  cosa 
para  nuestro  ministério  y  para  las  almas  de  los  christia- 
nos quietas. 

6.  Este  Corpus  Christi 13  hizimos  un  baptismo  de  los  150 
índios  con  sus  mujeres  y  casándolos  juntamente  con  ellas; 
hízoles  Azeredo  una  grande  fiesta  y  combite.  Entre  estos 


129    pieças  dei.  se  resgatassen  y  para  que  la  tierra  quedasse  más  firme 


13   25  de  Maio  de  1559. 


42 


IR.  ANTÓNIO  DE  SÁ  -  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAÍA 


era  uno  que  ya  era  christiano,  que  se  llama  Gaspar,  el  qual 
fue  baptizado  por  el  P.e  Francisco  Pirez  quando  acá  estava; 

155  otro  se  llama  Matanim  con  su  mujer,  que  tiene  también 
dado  muy  buenas  muestras,  según  sabrán  por  el  P.e  Fran- 
cisco Pirez,  que  lo  conosce  muy  bien  y  es  grande  amigo 
suyo,  y  cierto,  quanto  a  la  aparência  de  fuera,  quanto  plu- 
guiesse  a  Dios  fuesse  la  mia.    Dél  podemos  con  verdad 

160  dizir  que  es  un  doctor  entre  los  suyos  y  el  que  más  com- 
prehende  en  el  juizio  lo  que  le  dizen,  y  mucho  mejor  que 
muchos  christianos  blancos;  donde  duda  pregunta  y  desea 
saber  enteramente  la  sentencia  de  aquel  passo;  mas  yo 
spero  que  aquella  Divina  e  Summa  Sapiência  le  commu- 

165  nicará  de  dia  en  dia  más  cosas  y  le  abrirá  los  ojos  en  el 
conocimyento  de  la  fee,  para  que  sea  espejo  y  exemplo  de 
los  otros  con  predicaciones  y  exemplo  de  vida,  como  él 
tiene  hecho  antes  de  ser  christiano  y  agora,  alcançada  esta 
gracia,  lo  haze  mucho  más  y  con  doblado  fervor. 

170  7.  Pondré  aqui  algunas  cosas  que  le  tengo  oydo  para 
que  loen  al  Senor.  Primeramente,  yo  le  oy  dexir,  hablando 
conmigo,  que  antes  que  recibiesse  el  sagrado  baptismo 
andava  muy  apartado  de  Dios  y  lleno  de  maldades  y  que 
tra}'a  una  grande  carga  que  lo  hazía  andar  muy  pesado, 

175  mas  después  que  lo  baptizaron  quedara  muy  descargado  y 
que  quedara  muy  junto  a  Dios  así  como  el  azero  con  el 
hierro  quando  lo  caldean.  Un  dia,  yendo  el  Padre  a  la 
Aldeã  y  después  de  aver  estado  con  él,  levanto  las  manos 
al  cielo;  mandóle  el  Padre  perguntar  que  si  él  no  sabia 

180  las  oraciones  como  avia  de  hablar  con  Dios?  Respondió 
él  muy  bien,  y  dixo:  «Diré,  Senor,  hasta  aqui  no  os  amé, 
fue  porque  no  os  conocí,  mas  conociéndoos,  vos  amaré». 
Benedictus  Deus,  pues  la  ásina  de  Balán14  avia  de  dizir 
tan  grandes  cosas.   Una  vez  le  dixe  que  poco  a  poco  iria 

185  sabiendo  [64T]  las  cosas  dei  Senor.  Concedióme  que  si, 
poniéndome  una  comparación :  que  así  como  a  la  casa  le 
ponen  primero  los  cimyentos  y  después  arman  sobre  ella 


14    Num.  22,  28. 


11. -ESPÍRITO  SAiNTO  13  DE  JUNHO  DE  1559 


43 


todo  el  edifício,  que  así  avia  él  de  ser.  Él,  loores  al  Sefior, 
aborrece  ya  mucho  sus  costumbres,  ni  quiere  ir  a  la  otra 
banda  quando  hazen  vino,  dixiendo  que  los  vinos  son  causa  19° 
de  apartar  una  alma  de  Dios  y  que  por  tanto  no  ha  de  ir 
allá,  ni  morar  con  ellos  en  su  compafiía,  porque  por  fuerça 
ha  de  ser  como  ellos,  y  que,  si  el  Padre  se  mudare  para 
onde  ellos  estuvieren,  que  entonces  lo  hará  y  de  otra 
manera  no.  Cierto,  Charíssimos,  que  es  esto  mucho  por  195 
quien  saben  quan  caro  les  cuesta  tirarlos  desto. 

8.  Una  cosa  le  diré,  para  que  den  loores  al  Sefior  y 
sepan  quán  adelante  están  algunos  destos  gentiles,  pues 
hazen  algunas  cosas,  movidos  [más]  por  las  inspiraciones 
dei  Sefior  que  por  temor,  pues  en  esta  tierra  no  ay  con  que  200 
se  le  haga.  Tenía  un  indio  una  hija  y  por  no  querer  estar 
con  él  para  le  hazer  lo  que  íuesse  necessário,  vendióla  a 
los  christianos.  Sabiéndolo  el  Padre  me  mando  que  le 
pusiesse  un  temor,  diziéndole  que  no  le  viesse  más  su  ros- 
tro  ni  apareciesse  ante  sí  (porque  vénia  él  algunas  vezes  a  205 
casa  a  pedir  el  baptismo),  ni  hablasse  más  en  él,  mas  que 
si  muriesse  que  lo  avia  de  enterrar  en  los  muladares. 
Quedo  el  pobre  negro  confuso,  poniéndome  muchas  escusas 
por  que  la  vendiera,  mas  yo  encarecíale  más  el  negocio ;  a 
lo  que  él  tornava  a  replicar  que  lo  perdonassen  que  él  no  210 
haría  otra,  y  como  desconfiado  de  poder  alcançar  nuestra 
amistad,  me  dijo  que  se  queria  ir  a  la  otra  banda,  porque 
ni  él  a  nos  ni  nosotros  lo  viéssemos,  por  estar  muy  aver- 
gonçado.  Entonces  viéndolo,  lo  consolé  con  blandas  pala- 
bras,  encareciéndole  todavia  su  peccado;  y,  por  ver  su  fir-  215 
meza  y  constância,  le  dixe:  Si  tu  fueres  y  te  hincares  de 
rodillas  delante  el  Padre,  pidiéndole  que  te  perdone  y 
tomares  unas  disciplinas  y  te  fueres  açotando  por  la  villa, 
yo  quedo  por  fiador  que  te  perdonará.  Hízolo  él  así.  Y  en 
entrando  el  negro  por  la  casa,  fingió  el  Padre  que  estava  220 
muy  agastado,  y  no  osó  ponerse  de  rodillas  como  él  se  dis- 
ponía  quando  entro.  Preguntáronle  que  buscava.  Dixo  que 
venía  por  sus  peccados  que  tenía  hecho.  Finalmente,  por 
abreviar,  él  se  desnudo  y  tomo  unas  disciplinas  y  se  fue 
publicamente  açotando  por  la  villa  y  a  los  que  le  pregun-  225 


44 


IR.  ANTÓNIO  DE  SÁ  -  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAÍA 


tavan  porque  se  açotava  respondia  que  por  sus  maldades, 
y  por  poder  alcançar  la  amistad  de  Dios  y  dei  Padre. 
Torno  a  casa  y  entonces  le  dixo  el  Padre  que  poco  a  poco 
se  le  iria  aquella  menencoría,  quedando  él  con  esto  muy 

330  satisfecho  y  contento. 

9.  Otro,  que  se  llama  Gonçalo,  el  qual  baptizamos 
estando  para  morir,  avia  hecho  otra  como  el  passado  y  no 
osava  aparecer  delante  dei  Padre  por  le  aver  dicho  yo  lo 
que  dixe  al  otro.   Mas  él  mostrava  sentir  esto  mucho  y 

235  tornar  a  la  amistad  dei  Padre,  que  antes  era  su  amigo  avia 
ya  mucho  tiempo.  Díxele  yo  si  queria  hazer  lo  que  el  otro 
hiziera?  Lo  que  hizo  y  mucho  mejor  que  el  primero,  y  es 
mucho  para  maravillar,  siendo  un  Principal  tan  grande. 
De  modo  que  vino  luego  otro  dia  de  manana  y  hincado  de 

240  rodillas  delante  el  Padre  le  pedia,  con  humildad,  le  perdo- 
nasse ;  agravióse,  por  mandado  dei  Padre,  su  peccado, 
diziéndole  quán  mal  avia  hecho  en  vender  [64V]  la  hija  de 
su  hermana,  a  lo  que  respondió  que  era  verdad  que  avia 
hecho  grande  mal,  y  también  sabia  que  por  el  Senor  estar 

245  enojado  contra  él,  se  le  avia  muerto  aquellos  dias  su  hija, 
mas  que  el  demónio  avia  entrado  en  él  y  le  hiziera  que 
hiziesse  aquello,  empero  que  estava  aparejado  a  hazer  qual- 
quiera  penitencia  que  le  impusiessen  por  su  peccado. 
Diósele  la  penitencia  que  al  otro  y  él  fue  por  toda  la  villa 

250  desnudo  açotándosse,  predicando  muy  alto  y  manifestando 
su  culpa.  Lo  que  dezía  (según  después  supe)  era  que  altas 
bozes  predicava  que  Nuestro  Senor  estava  muy  enojado 
contra  él  por  aver  vendido  su  sobrina,  mas  que  esperava 
en  él  que  con  aquello  que  hazía  lo  avia  de  perdonar.  Des- 

255  pués  de  aver  corrido  la  villa,  se  vino  a  nuestra  yglesia  y 
pidió  al  Senor  que  le  perdonasse  y  lo  mesmo  hizo  delante 
dei  Padre,  hincándosse  de  rodillas  y  con  las  manos  levan- 
tadas pidiendo  misericórdia;  y  que  ya  no  queria  ropa  ni  her- 
ramientas,  pues  tanto  mal  y  dano  le  causaron.  Y  nunca  se 

260  quiso  levantar  hasta  que  el  Padre  le  dixo  que  se  levantasse. 
El  Padre  le  dixo  que  poco  a  poco  se  le  iria  aquella  menen- 
coría que  era  tan  grande  que  aun  no  se  le  podia  despedir; 
y,  vestiéndosse,  me  dixo  se  podría  ya  yr  a  la  yglesia,  por- 


11.  -  ESPÍRITO  SANTO  15  DE  JUNHO  DE  1559 


45 


que  como  yo  le  avia  dicho  que  se  muriesse  que  lo  avían  de 
enterrar  en  los  muladares,  de  aqui  inferió  que  también  le  265 
prohibirían  el  entrar  en  la  yglesia,  sacando  por  lo  uno  lo 
otro.  Yo  le  dixe  que  íuesse  y  pidiesse  misericórdia  al 
Senor;  y,  según  estava  amedrentado,  no  le  mandaran  cosa 
que  no  hiziera.  Yo  íuy  después  a  la  Aldeã  y  lo  consolé  y 
lo  avisé  que  no  hiziesse  otra,  por  donde  paguasse  lo  uno  y  270 
lo  otro  y  executasse  el  Senor  en  él  y  su  mujer  otro  castigo 
así  como  en  su  hija.  Este  íue  gran  afamado  en  el  Rio  de 
Henero  y  fue  Principal  de  quatro  Aldeãs.  Cóntoles  esto 
para  que  más  loen  al  Senor. 

10.  Este  mes 15  murieron  de  los  nuestros  baptizados  275 
quatro  adultos  y  de  los  inocentes  tres.  Déles  el  Senor  su 
gloria. 

11.  Mil  impedimientos  ha  puesto  el  enemigo  para  que 
esta  Aldeã  de  Vasco  Fernandes16  no  se  ponga  por  obra, 
porque  como  determinamos  de  residir  en  ella  teme  ya  la  280 
pérdida  que  ha  de  recibir  con  nuestra  estada,  y  de  aqui 
viene  que  estando  muchas  vezes  los  índios  a  punto,  y  no 
faltando  nada  para  que  se  pusiesse  luego  la  mano,  de  a^  a 
poco  hallávalos  luego  trastornados  con  cosas  que  otros  le 
metian  en  cabeça,  pretendiendo  con  ellas  escusaciones  para  285 
impedir  lo  començado.  Algunas  vezes  le  reprendía  esta  su 
inconstância,  comparándolos  a  los  nifios  que  por  nada  se 
enojan  y  creen  quanto  les  dizen.  Todo  me  lo  sufren  porque 
sienten  de  mí  que  los  amo  y  busco  por  todas  las  vias  su 
provecho.  290 

Una  vez  fue  allá  el  Padre  para  apuntar  lo  que  era 
necessário  para  el  sitio  de  nuestra  yglesia  y  casa.  Con- 
cluyóse  por  entonces  que,  por  ellos  aver  poco  que  avían 
hecho  sus  casas  nuevas,  no  se  mudassen  de  aquel  lugar 
y  que  ellos  harían  nuestra  yglesia  y  casa  en  qualquier  295 


15  No  §  2  tinha  escrito  «este  mes  de  Março»,  no  §  3  começa  a 
contar  factos  de  Abril:  aqui  diz  «este  mes»,  sem  o  mencionar,  talvez 
Maio,  porque  logo  a  seguir  (§  12)  já  dirá  «por  todo  este  mes  de 
Junho». 

16  Vasco  Fernandes  (Gato). 


46 


IR.  ANTÓNIO  DE  SÁ  -  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAÍA 


parte  que  designássemos.  Con  esto  nos  venimos  con  pro- 
pósito de  tornar  allá  para  concluyr  el  negocio  el  domingo 
seguientej  mas  el  demónio  no  dexó  de  hazer  de  las  suyas, 
porque  estando  para  partir  sobrevino  tan  grande  lluvia 

300  que  quasi  nos  hazía  dexar  aquello  para  otro  dia,  mas  el 
Padre  como  buen  zelador  [65r]  destas  almas,  conociendo 
ser  esto  obra  dei  enemigo  dixo  que  aunque  lluviesse 
a  cântaros  aviamos  de  ir  para  confusión  dei  enemigo. 
Fuymos  nosotros  todavia  llevando  por  el  camino  una 

305  grande  agoa,  pero  en  llegando  a  la  Aldeã  cessó  luego  de 
llover,  por  donde  conocimos  todos  ser  impedimjrento  dei 
enemigo.  Como  llegamos,  el  Principal  Vasco  Fernandez 
fue  luego  por  las  casas  predicando  para  que  se  ayuntasse 
la  gente,  y  juntos  todos  los  Principales  y  la  otra  más  gente, 

310  Gonçalo  Álvares  17  le  hizo  una  plática,  la  qual  no  cuento 
por  ser  muy  grande  y  el  tiempo  breve.  Solamente  se  con- 
clutfe  que  ellos  holgavan  con  nuestra  estada  para  que  les 
ensefiássemos  la  doctrina  y  cosas  dei  Sefior,  y  no  speravan 
sino  por  buen  tiempo  para  començar  luego  la  yglesia  y 

315  casa.  Vasco  Fernandez  perante  ellos  dixo  que  a  par  de 
nosotros  avia  de  bivir,  que  se  queria  apartar  de  aquellos 
demónios,  entendiendo  por  los  suyos.  Por  aqui  verán, 
Charyssimos  Padres,  quánto  ponemos  de  nuestra  parte, 
sed  Dominus  incrementum  dabit 13. 

320  12.  Por  todo  este  mes  de  Junio  se  pondrá  la  mano  en 
la  obra.  Quiera  el  Sefior  llevar  al  cabo  lo  que  se  digno 
començar  en  estas  almas,  que  tanto  le  costaron.  El  Padre 
determina  de  ponerme  ailá  con  algunos  nifios  destos;  enton- 
ces,  con  la  ayuda  dei  Sefior,  espero  escrevirle  nuevas  de 

325  mucho  servicio  dei  Sefior.  También  me  tiene  dado  el 
assumpto  de  ordenar  como  se  haga  la  casa  y  yglesia.  Ayú- 
denme  con  sus  oraciones  para  que  todo  haga  conforme  a 
la  voluntad  de  Nuestro  Sefior. 


17  Gonçalo  Álvares,  intérprete,  o  do  «Diálogo»  de  Nóbrega  (Mon. 
Bras.  11  3T9-345)- 

18  1  Cor.  3,  6-7. 


11.- ESPÍRITO  SANTO  13  DE  JUNHO  DE  1559 


47 


Esta  escrevi  rauy  depriessa  por  estar  el  navio  para  par- 
tir. Después  socedieron  algunas  cosas  y  entre  ellas,  esta:  330 
que  ya  está  roçado  el  sitio  de  nuestra  casa,  porque  yendo 
a  la  Aldeã  dixe  a  Vasco  Fernandez  que  si  por  tiempo  que 
aqueste  era  muy  conveniente  pues  hazía  dia  claro,  que 
fuéssemos  luego  a  començar.    Su  mujer  Dona  Blanca  me 
ayudó  también,  de  modo  que  fuymos  a  roçar  y,  dexán-  335 
dolos  con  mucha  obra,  me  vine.    Pero  para  que  mejor 
tenga  los  ninos  hechos  en  mi  mano,  ordenamos  de  hazer 
un  tixipar  19  en  médio  de  la  Aldeã  para  luego  irme  allá. 
Todos  los  índios  me  desean  mucho  que  me  venga  y  sonme 
muy  afficionados,  y  también  Dona  Blanca  20,  mujer  dei  34o 
Principal,  es  mucho  mi  devota,  y  yo  trabajo  de  estar  bien 
con  ella,  porque  teniéndola  de  mi  parte  tengo  toda  la 
Aldeã,  y  no  se  haze  nada  en  ella  sino  lo  que  ella  quiere. 

13.  Un  negro,  que  baptizo  aqui  el  P.e  Francisco  Pirez, 
estava  amancebado  y  por  no  osar  aparecer  delante  de  nos  345 
se  fue  para  Mariguegype  21  y  allá  adoleció;  y  yendo  allá 
el  Padre  22  un  dia  con  Gonçalo  Álvares  [lhe  dixo  porque 
no  se  apartava?  El  respondió  que  devagar  23  se  hazían 
las  cosas.  Vínose  el]  doliente  para  la  villa,  el  qual  encon- 
trándome  me  dixo  que  alargara  ya  la  manceba  y  que  la  350 
diera  a  su  padre,  que  ya  conociera  que  aquella  enferme- 
dad  le  vénia  por  aquel  peccado  y  que  estava  muy  arre- 
pentido. 


19  «Tixipar»  ou  no  «Vocabulário»  de  Leonardo  do  Vale  (p.  153) 
«tejgiupaba»  (choupana);  cf.  Friederici,  o.  c.  6or. 

20  D.  Branca.  Cf.  supra  (Mon.  Bras.  II  375),  a  resolução  do  Dona- 
tário Vasco  Fernandes  Coutinho  de,  no  baptismo  do  Principal  Gato, 
lhe  dar  o  seu  próprio  nome  e  à  mulher  o  de  sua  mãe.  O  Donatário  era 
filho  de  Jorge  de  Melo  e  D.  Branca  Coutinho  (Rubim,  Memorias  218). 

21  Parece  tratar-se  de  Maraguí,  já  mencionado  em  1557,  para  cuja 
Aldeia  o  caminho  tinha  subidas  (Mon.  Bras.  II  375).  O  Atlas  de  Homem 
de  Melo  assinala  hoje,  ao  norte  de  Vitória,  o  nome  parecido  de  Manga- 
ra! na  topografia,  orografia  e  hidrografia  espírito-santense. 

22  Brás  Lourenço. 

23  «Devagar»  em  português;  em  espanhol  seria  «despacio». 


48 


IR.  ANTÓNIO  DE  SÁ  -  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAÍA 


14.  Un  indio,  que  se  llama  Belchior,  está  puesto  en 
355  ayunar  todos  los  dias  que  manda  la  Yglesia,  y  sin  yo  le 

hablar  nada  preguntóme  que  le  hiziesse  saber  los  dias  de 
ayuno  y  qual  dellos  [65V]  no  se  comia  carne,  diziéndorae 
que  antes  que  muriesse  Joan  24  Ramallo  que  él  se  lo  dizia 
y  apuntava  todos  los  dias  que  la  Yglesia  manda;  y  parece 
360  que  el  Sefior  se  lo  dixo,  porque  aquel  mesmo  dia  que  él 
me  dixo  esto,  me  dixo  el  Padre  que  le  dixesse  que  avia 
de  ayunar. 

15.  Yo  ensefio  agora  acá  la  doctrina  Christiana  y  las 
oraciones  en  nuestro  romance25,  como  siempre  hizimos  des- 

365  pués  que  nos  mandaron  dizir  que  era  necessário  concer- 
tarsse  algunos  vocablos  que  estavan  en  la  doctrina.  Si 
allá  tuvieren  alguna  manera  de  ensefiar  en  lengua  brasí- 
lica mándenosla,  porque  de  otra  manera  dificultosamente 
se  les  meterá  en  la  cabeça,  aunque  les  bozeen  cada  hora 

37o  y  cada  momento.  Ellos  me  dizen  que  nuestro  romance  es 
muy  trabajoso  de  tomar,  mas  no  por  esso  les  dexo  de 
ensefiar  todos  los  dias,  y  acúdenme  todos  quantos  ay  en 
la  Aldeã,  porque  los  llevo  por  mi  simple  manera,  y  algu- 
nas  vezes  hablo  en  lengua  brasílica  con  ellos  lo  que  sé,  y 

375  conténtansse  mucho  y  dízenme  que  más  le  queda  lo  que 
yo  les  digo  que  si  fuesse  de  otro  grande  lengua.  De  todo 
sean  dado  loores  a  aquel  benigníssimo  Sehor  que  por  tra- 
bajoso instrumento  quiere  mostrar  las  riquezas  de  su  mise- 
ricórdia, que  yo  más  era  para  la  cozina  y  otros  officios 

380  baxos  que  correspondiezen  a  la  baxeza  de  my  spíritu  que 
no  para  ser  ministro  en  obra  de  tanta  dignidad  como  es 


24  João.  Ou  é  persistência  do  equívoco  do  §  4,  em  vez  de  Manuel 
Ramalho  falecido  recentemente,  ou  deve-se  admitir  a  existência  duma 
pessoa  com  este  nome  no  Espírito  Santo.  Diferente,  em  todo  o  caso, 
do  famoso  João  Ramalho,  da  Capitania  de  S.  Vicente,  que  ainda  então 
não  era  falecido:  o  seu  testamento  data  de  1580  (Leite,  História  II 
382-384)- 

25  «Romance,  línguas  romances,  línguas  novi-latinas  derivadas  da 
romana:  o  nosso  romance  é  o  português-»  (Afrânio  Peixoto,  neste 
passo,  Cartas  Avulsas  222). 


12. -BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


4H 


adquirir  almas  al  Sefíor.  Él,  por  su  infinita  clemência, 
perdone  las  faltas  y  errores  que  en  esto  officio  cada  dia 
cometo,  y  a  vos,  Hermanos  mios,  pido  con  grande  deseo  ser 
de  vos  encomendado  en  vuestros  sacrificios  y  oraciones. 

Oy,  xm  de  Junio  de  1559  anos. 

Indigno  Hermano  vuestro, 

Antonio  de  Saa. 


12 

DO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
AO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
E  PADRES  E  IRMÃOS  DE  PORTUGAL 

BAIA  5  DE  JULHO  DE  1559 

I.  Bibliografia :  Catalogo  dos  Manuscriptos  I  22  ;  Cimêlios  494 ; 
Sommervogel  v  1782  n.  19;  Streit  ii  346  n.  1264;  Leite,  História  ix 
io  n.  27. 

II.  Autores :  Leite,  História  n  25  26  33  37  41  51  53  54  62  76  77  101 
320  336  338  377  378  468  477  538  540;  ix  425;  Breve  Itinerário  133-136; 
Nemésio  422-424;  Tito  Lívio  Ferreira  189  233;  José  Honório  Rodri- 
gues, Bibliografia  dei  Brasil  28. 

III.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lis- 
boa] 1-5,  2,  38,  ff.  51V-56V.  Título:  «Copia  de  huma  carta  do  P.e  Manoel 
da  Nóbrega  que  escreveo  do  Brasil  da  Baya  de  Todos  os  Santos  a  5  de 
Julho  de  1559».  Códice  lacerado  já  com  algumas  palavras  ilegíveis. 
Apógrafo  em  português,  mas  de  copista  pouco  diligente. 

IV.  Destinatários:  «A  V.a  R.a  e  a  nossos  dilectissimos  Padres  e 
Irmãos»,  «V.a  R.a  e  meus  Irmãos»;  ao  Provincial  Miguel  de  Torres 
(cláusula:  «inutilissimo  filho  de  V.a  R.a»).  Explica-se  o  duplo  ende- 
reço, individual  e  colectivo,  por  a  carta  não  tratar  de  assuntos  de 
governo  mas  só  gerais,  de  notícias  e  edificação. 

V.  Impressão :  Vale  Cabral,  Cartas  do  Brasil  do  Padre  Manoel 
da  Nóbrega  (Rio  de  Janeiro  1886)  134-145;  ib.  (1931)  177-190;  Leite, 
Cartas  de  Nóbrega  (Coimbra  1955)  293-313. 

VI.  Edição:  Reimprime-se  o  texto,  suprindo  pela  ed.  de  Vale 
Cabral  as  palavras  ilegíveis. 


50 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


Textus 

1.  Commercium  litterarum.  —  2.  Ab  adventu  Gubernatoris  Mendi 
de  Sá  tres  erectae  sunt  ecclesiae.  —  3.  Pagus  S.  Pauli  eiusque  ratio 
catechizandi  et  docendi.  —  4.  Doctrina  et  disciplina.  —  5.  lus  poenale 
et  poenae.  —  6.  Hebdomada  sanefa  et  oppositio  canonicorum — 7.  Dies 
festus  Paschae.  —  8.  Pompa  Corporis  Christi  ad  quam  Indi  libenter 
conyeniunt.  —  9.  Gradatim  exsiinguitur  usus  vescendi  carne  humana.  — 
10  Subiiciuntur  gentiles,  ipsi  Indi  iuvant. —  11.  In  Pago  S.  Ioannis 
eadem  ratio  viget  ac  in  Pago  S.  Pauli.  —  12.  Die  festo  S.  Antonii 
pompa  fit  in  gratiarum  actionem  de  Victoria  apud  «.Ilhéus»  a  Guberna- 
tore  habita.  —  13.  Alius  Indorum  pagus.  —  14.  Ecclesia  Pagi  Spiritus 
Sancti.  —  15.  P.  Ioannis  Gonçalves  morbus,  mors  et  funus.  —  16.  Qui 
magnopere  desideratur.  —  17.  Morbi  aliorum  Patruni,  Nóbrega  non 
excluso.  —  18.  Pagus  Spiritus  Sancti.  —  19.  Pagus  « Chorão »  dic- 
tus.  —  20.  Venefici.  —  21.  Redigentibus  in  servitutem  Indos  et  con- 
cubinariis  clauditur  ianua  confessionum.  —  22.  Schola  legendi  et  scri- 
bendi ;  exspectatur  Episcopus.  —  23.  Nuntii  ex  Praefecturis  S.  Vinctntii 
et  Spiritus  Sancti. 

A  paz  e  amor  de  Christo  etc. 

1.    As  novas,  que  de  nós  há,  escreverei  a  V.a  R.a  e  a 
nosos  dilectissimos  Padres  e  Irmãos  pera  que,  como  verda- 
deiros membros,  se  alegrem  no  Senhor  connosco  de  nossa 
5  consolação  e  se  compadeção  também  connosco  de  nossas 
tristezas  e  trabalhos. 

Pelos  derradeiros  navios,  que  desta  Bahia  partirão  ho 
anno  passado,  escrevi  largo  do  que  até  àquele  tempo  pas- 
sava \  agora  direy  o  que  depois  sucedeo.  E  espante-sse 
io  V.  R.  e  meus  Irmãos  como  tenho  entendimento,  nem  mãos 
pera  o  fazer,  por  a  desconsolação  que  caa  temos  de  não 
podêremos  ter  reposta  das  muytas  cartas  que  são  escritas, 
porque  as  que  trazia  este  navio  de  João  Gomez  nam  nos 
derão,  porque  o  principal  maço  em  que  devião  de  vir  se 
15  perdeo  ou  alguém  as  tomou,  de  maneira  que  não  vierão 


13    este  dal.  anno 


1    Cf.  Mon.  Bras.  11  445. 


12. -BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


51 


a  nossa  mão;  as  que  trazia  o  navio  de  Domingos  Leitão  2 
tão  pouco,  porque  o  navio  não  aportou  caa.  Ha  armada 
d'El-Rey,  que  esperamos,  já  tarda  tanto  que  não  se  espera 
este  anno  3,  e  por  isso  não  poderey  contar  as  cousas  com 
todas  suas  circunstancias,  mas  contentar-me-ei  com  as  20 
dizer  de  qualquer  maneira  que  poder. 

2.  Despois  da  vinda  de  Men  de  Sá,  Guovernador,  se 
fizerão  tres  igrejas  em  tres  povoações  de  índios  e  muytas 
mais  se  fizerão  se  ouvera  Padres  e  Irmãos  pera  nellas  resi- 
direm *,  outras  (duas  ou  tres)  Aldeias  de  índios  estão  juntas  25 
esperando  por  Padres  pera  os  doutrinarem :  estas  sam  visi- 
tadas de  nós  quando  podemos  por  se  deterem  assi  até  serem 
socorridos.  A  primeira  igreja  que  se  fez,  ha  huma  legoa 
desta  cidade,  chama-se  Sam  Paulo;  [52r]  a  segunda, 
Sam  João,  tres  legoas;  a  outra  Sancti  Spiritus,  sete  legoas.  30 
Mas  será  rezão  dizer  o  que  em  cada  huma  aconteceo  em 
particular. 

3.  E  començando  em  Sam  Paulo,  que  foy  a  primeira, 
direy  primeiramente  ha  ordem  que  teve  e  tem  em  proceder. 
Aqui  há  escola  dos  meninos,  que  são  pera  isso,  cada  dia  35 
huma  só  vez,  porque  tem  o  mar  longe  e  vão  pelas  menhãs 
pescar  pera  sy  e  pera  seus  paes,  que  não  se  mantém  doutra 
cousa,  e  às  tardes  tem  escola  tres  oras  ou  quatro  4.  Destes 
ahi  cento  e  vinte  por  rol,  mas  contínuos  sempre  há  de 
oitenta  pera  arriba.  Estes  sabem  bem  a  doutrina  e  cousas  40 
da  fee,  lem  e  escrevem;  já  cantão  e  ajudão  já  alguns  hà 


18  esperamos  corr.  ex  esperávamos  |]  25  duas]  dous  ms.  |  Aldeias]  juntas  ms.  | 
Iadios  dei.  de  ||  31    será]  serão  ms.  ||  33  E]  em  ms.  \  Prius  primera  [|  34  primeramente  ms. 


2  Domingos  Leitão,  genro  de  Luís  de  Góis  (A.  de  Moura,  Os 
povoadores  do  Campo  de  Piratininga  102;  B.  de  Magalhães,  O  Açiícar 
nos  primórdios  do  Brasil  Colonial  37 ;  Leite,  Luis  de  Góis  155). 

3  Chegou  à  Baía  a  30  de  Novembro  de  1559  (Leite,  História  II  377). 

4  Nóbrega  dá  a  razão  local,  porque  esta  Escola  não  tinha  duas 
lições  uma  de  manhã  outra  de  tarde  como  era  costume:  São  Paulo 
(hoje  Brotas)  ficava  a  uma  légua  da  Baía,  e  para  o  lado  do  mar  a  dis- 
tância era  equivalente. 


52 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


missa.  Estes  são  já  todos  bauptizados  com  todas  as  meni- 
nas da  mesma  ydade,  e  todos  os  innocentes  e  lactantes. 
Despois  da  escola  há  doutrina  geral  a   toda  gente,  e 

45  acaba-sse  com  Salve  cantada  poios  meninos  e  as  Ave 
Marias.  Despois,  huma  hora  de  noite,  se  tanje  o  sino  e  os 
meninos  tem  cuydado  de  ensinarem  ha  doutrina  a  seus  pais 
e  mais  velhos  e  velhas,  os  quais  não  podem  tantas  vezes  ir 
hà  igreja,  e  hé  grande  consolação  ouvir  por  todas  as  casas 

50  louvar-se  Nosso  Senhor  e  dar-se  gloria  ao  nome  de  Jesu  5. 
4.  Aos  domingos  e  sanctos  tem  missa  e  pregação  na 
sua  lingoa  e  de  contino  hé  tanta  a  gente  que  não  cabe  na 
igreja,  posto  que  hé  grande;  ali  se  toma  conta  dos  que  fal- 
tão  ou  dos  que  se  ausentão  e  lhes  fazem  sua  estação.  Ho 

55  meirinho,  que  hé  hum  seu  Principal  delles,  prega  sempre 
aos  dominguos  e  festas  polas  casas  de  madrugada  a  seu 
modo.  A  obediência  que  tem  hé  muyto  pera  louvar  a 
Nosso  Senhor,  porque  não  vão  fora  sem  pedir  licença,  por- 
que lho  temos  asym  mandado  por  sabêremos  onde  vão, 

60  pera  que  não  vão  comunicar6,  ou  comer  carne  humana,  ou 
embebedar-se  a  alguma  Aldeã  longe;  e  se  algum  se  des- 
manda, hé  presso  e  castigado  pelo  seu  meirinho,  e  o  Gover- 
nador faz  delles  justiça  como  de  qualquer  outro  christâo  e 
com  maior  liberdade.    Se  algum  adoece,  hé  obrigado  a 

65  mandar-nos  chamar  e  hé  de  nós  curado  e  remedeado  asi 
no  corpo  como  n'alma  ho  milhor  que  podemos,  e  assi  poucos 
morrem  [52VI  que  não  sejão  bautizados  no  artigo  da  morte, 
quando  elles  amostrão  sinaes  de  fee  e  de  contrição,  e  assi 
destes  como  dos  inocentes  regenerados  com  a  agoa  do  bap- 

7o  tismo  se  salvão  muytos. 


6a  meirinho]  merinho  ms.  ||  63  christâo  bis  ||  67  morrem]  morem  ms.  ||  69-70  bap- 
tismo] baptismos  ms 


5  Está  clara  e  exemplarmente  resumido,  neste  parágrafo  e  no 
seguinte,  o  método  de  catequese  de  Nóbrega,  usado  com  leves  varian- 
tes, em  todas  as  Aldeias  do  Brasil  que  fundou  ou  mandou  fundar. 

6  Comunicar:  eufemismo  de  Nóbrega,  que  o  leitor  interpretará 
como  convém. 


12. -BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


53 


5.  Os  feitizeiros  são  de  nós  perseguidos  e  outras  muy- 
tas  abusões  que  tinhão  se  vão  tirando,  mas  dos  casos  par- 
ticulares que  contarey  poderão  entender  milhor  o  que  digo. 
Aconteceo  que  hum  irmão  do  meirinho  e  Principal  da  Villa 
se  foy  a  huns  matos  onde  huma  velha  estava  guardando  a  75 
fructa  e  ha  matou,  dizendo  que  esta  velha  e  o  seu  spirito 
o  fizera  estar  doente  muyto  tempo.  Este  foy  preso  e, 
por  ser  a  primeira  justiça  e  por  amor  de  seu  irmão,  ho 
meirinho,  foy  açoutado  e  lhe  cortarão  certos  dedos  das 
mãos  de  maneira  que  podesse  ainda  com  os  outros  traba-  80 
lhar.  Disto  ganharão  tanto  medo,  que  nenhum  fez  mais 
delicto  que  merecesse  mais  que  estar  alguns  dias  na  cadea. 

Em  hum  Engenho  se  alevantou  huma  sanctidade  7  por 
hum  escravo  que  desenquietou  a  toda  a  terra,  porque  os 
escravos  dos  christãos  são  os  que  nos  fazem  caa  a  princi-  85 
pai  guerra  por  o  descuydo  de  seus  senhores.  Aconteceo 
que  vindo  hum  indio  de  outra  Aldeã  a  pregar  a  santidade 
que  andava,  hum  o  recolheo  e  lhe  ajuntou  gente  em  ter- 
reiro pera  ouvir.   E  a  sanctidade,  que  pregava,  era  que 
aquele  sancto  fizera  baylar  o  Engenho  e  ao  senhor  com  90 
elle,  e  que  converteria  a  todos  os  que  queria  em  paxaros, 
e  que  matava  a  lagarta  das  roças  que  entonces  avia,  e  que 
nós  não  éramos  pera  a  matar,  e  que  avia  de  destruir  a  nossa 
igreja,  e  os  nossos  casamentos  que  não  prestavão,  que  o  seu 
sancto  dezia  que  tivessem  muytas  molheres,  e  outras  cou-  95 
sas  desta  qualidade.  E  estando  em  esta  pratica  não  pode 
ser  tão  secreta  que  alguns  não  o  viessem  dizer  ao  Irmão 
Pedro  da  Costa  8  que  ali  residia  com  outro,  o  qual  mandou 
lá  o  meirinho  que  o  tomasse  e  o  levasse  ao  Governador. 
Mas  elle  fogio  pelos  matos  des  que  vyo  que  era  sentido;  100 
mas  prendeo  o  que  o  recolheo  e  outros  culpados  nisso,  os 
quais  se  soltarão  e  fogirâo  de  noite.   Sabendo  o  Governa- 


7  «Santidade»  do  gentio:  descrita  já  por  Nóbrega  em  1549  (Mon. 
Br  as.  1  150-152). 

8  O  Ir.  (depois  Padre)  Pedro  da  Costa  nasceu  por  1529  em  Portela 
de  Tamel  (S.  Pedro  Fins,  Minho)  e  morreu  na  Baía  a  26  de  Maio  de  1616 
<Leite,  História  viu  182). 


54 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


dor  onde  estava,  o  mandou  buscar,  mas  elle  também  fogio 
dos  homens  brancos,  ferido  em  hum  braço.  Despois  tomou 

105  por  seu  conselho  vir  pidir  misericórdia,  e  íoy-lhe  dada 
penitencia  que  se  disciplinasse  hum  domingo  na  igreja  e 
pedisse  perdão  a  Deus  e  ao  [531-]  povo  do  escândalo  que 
dera  em  recolher  ao  que  trazia  a  feitiçaria,  o  que  elle  fez 
milhor  do  que  lhe  foy  mandado,  não  somentes  elle  mas 

110  também  os  outros  culpados;  e  meteo  nos  outros  tanto  fer- 
vor e  devação  asi  verem-no  como  se  açoutava  cruamente, 
como  a  pratica  que  fez,  que  moveo  a  muytos  que  se  sintiâo 
culpados  em  suas  consciências,  a  virem  confesar  seu  peccado 
secreto  e  a  disciplinarem-sse  também  com  elle  em  publico, 

115  que  foy  auto  de  muyta  devação  a  todos,  e  alguns  brancos, 
que  ahi  estavão,  ficarão  pasmados  de  verem  o  que  virão. 
O  que  trouxe  a  santidade  fogio  pera  longe  e  não  se  pode 
mais  aver. 

6.    Na  Somana  Santa  me  fuy  pera  esta  igreja  de 
120  Sam  Paulo  com  alguns  Irmãos  pera  hi  fazêremos  os  offi- 
cios  daquelle  tempo.  Achou-se  ahi  todos  estes  dias  Simão 
da  Gama  e  sua  molher  9  e  filhas,  e  seu  cunhado  Bastião  de 
Ponte,  os  quais  com  seu  exemplo  muyto  nos  ayudarâo. 
Fizemos  a  picissão  de  Ramos  muy  solemne  e  todos  os  mais 
125  officios  das  trevas  e  encerramos  o  Senhor,  porque  Simão 
da  Gama  tomou  por  sua  devação  cuydado  de  ha  armar 
muyto  bem  e  de  acompanhar  o  Senhor  com  toda  sua  casa 
e  criados.  Mas  o  que  aconteceo  em  ha  noyte  das  trevoas  10 
é  muyto  para  louvar  ao  Senhor,  porque,  quando  veo  ao 
130  Miserere  mei  Deus  n,  que  se  diz  por  derradeiro,  os  Irmãos 
se  deciplinarão  todos  quando  o  dezião  às  escuras.  Os  índios 


137    casa  corr.  ex  casua  ||  lag    veo]  prius  vfio 


9  D.  Leonor  Soare?,  mulher  de  Simão  da  Gama  de  Andrade,  e 
irmã  de  Sebastião  da  Ponte  (Afrânio  Peixoto,  in  Cartas  Avulsas  246). 

10  Quarta-feira  de  Trevas,  isto  é,  Quarta-feira  Santa  à  noite  (22  de 
Março  de  1559). 

11  Ps.  50,  3. 


12. -BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


55 


que  da  Paixão  de  Nosso  Senhor  Jesu  Christo  já  tinhão 
alguma  noticia,  irruit  spiritus  Domini  in  iis  12,  e  movidos 
de  grande  compunção  se  davão  de  bofetadas  muy  aspe- 
ramente, derramando  muytas  lagrimas,  segundo  soube  de  135 
todos  os  christãos  brancos  que  na  igreja  estavão.  Ao 
seguinte  das  Endoenças  vierão  todos  ou  a  maior  parte  da 
gente,  asi  pequenos  como  grandes,  disciplinando-sse  hà 
cidade,  e  achegarão  a  tempo  que  entrarão  na  pecissâo  que 
os  christãos  íazião,  o  que  foi  de  muyta  edificação  de  todos  14° 
os  christãos. 

Mas  sempre  nossas  consolações  desta  qualidade  se  bebem 
com  mestura  de  fezes  amargossas,  porque  aconteceo,  no 
mesmo  dia  d'Endoenças13,  estando  eu  pera  encerrar  o  Senhor, 
mandou  o  Cabido  hum  monitorio  a  mira  e  a  todos  os  chris-  145 
tãos  que  presente  estavão  que  não  ençarrasse  ahi  o  Senhor, 
e  a  Simão  da  Gama  e  a  Bastião  de  Ponte  sob  pena  d'escumu- 
nhão  e  de  vinte  cruzados  que  logo  sse  viesse  à  cidade.  Mas 
eu  declinando  o  foro  14  não  deixei  de  o  emcerrar,  nem  Simão 


136    na  dei.  igrj  ||  1^4  emçarar 


12  Cf.  ludic.  14,  6. 

13  Dia  de  Endoenças,  isto  é,  Quinta-feira  Santa. 

14  O  Provincial  procedia,  na  obra  da  conversão  do  gentio,  segando 
os  poderes  que  lhe  tinham  sido  conferidos  pela  Santa  Sé;  e  contra  as 
suas  legítimas  faculdades  o  Cabido  não  tinha  alçada;  daí  a  frase  de 
direito:  «declinou  o  foro».  Cf.  [Delplace],  Synopsis  Actorum  S.  Sedis 
in  causa  Societatis  Iesu  ijjo-fóoj  (Florentiae  1887)  1-15  (Documentos 
pontifícios  dos  Papas  Paulo  III  e  Júlio  III  (1540-1555).  Estes  poderes 
exerciam-nos  os  Jesuítas  por  si  ou  delegavam-nos  em  procurador  idó- 
neo como  já  tinha  feito,  antes  de  Nóbrega,  S.  Francisco  Xavier,  na 
índia,  no  Colégio  de  Goa,  a  12  de  Abril  de  1552.  Ele  e  os  seus  Padres 
nomearam  procurador  o  «Licenciado  Manoel  Alvares  Barradas,  mora- 
dor nesta  cidade  de  Guoa,  ao  quoal  diserão  que  davão,  como  de  feito 
logo  derão  e  outorgarão,  todo  seu  livre  e  comprido  poder  e  mandado 
especial  com  Iybera  e  geral  e  particular  aministração  pera  que  o  dito 
Licenciado  em  nome  do  dito  Colégio  possa  fazer  todo  que  fiqua  dito, 
a  saber,  demandar  todallas  terras  que  pertencem  e  pertencerem  ao 
dito  Colégio,  e  sobre  elas  preityar  com  todalas  pesoas  que  as  tiverem, 


56 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


*5o  da  Gama  se  quis  hir,  mas  demos  gloria  a  Deus,  posto  que 
com  desconsolação  e  turbação.  Na  cidade  também  lançarão 
fama  que  erâo  descomulgado[s]  quem  viesse  visitar  ho 
Senhor  a  Sam  Paulo.  Estes  são  os  favores  e  ajudas  que 
dos  Padres  desta  terra  recebemos  na  conversão  do  gentio ! 

*55  7.  Ao  sábado  sancto  loguo  seguinte  fezemos  ho  officio 
das  fontes  muy  solene  [53V]  e  bautizamos  naquelle  dia  a 
muytos,  os  quaes  estavão  confessados  e  aparelhados  asi 
pera  o  bautismo  como  pera  o  casamento  que  avião  de  rece- 
ber despois  dia  da  Resurreiçam.  Ouve  muitos  desposados  e 

160  fizemos  a  picissão  muy  solene,  porque  veio  folia  da  cidade 
que  Simão  da  Gama  ordenou  e  Bastião  da  Ponte  seu  cunhado: 
os  meninos  cantando  na  lingoa  [e]  em  português  cantigas  a 
seu  modo  dando  gloria  a  Nosso  Senhor ;  e  forão  todos  os 
Imdyos  em  pecissâo  asi  homens  como  molheres,  tendo  as 

165  ruas  limpas  e  bem  emramadas,  de  que  muyto  se  alegrou 
meu  spiritu  em  ho  Senhor15. 

8.  Dia  de  Corpus  Christi16  seguinte  se  fez  outra  picis- 
são solemne  da  mesma  maneira  e  muytas  vezes  se  faz  polas 
necessidades  que  acorrem  com  sua  ladainha,  a  qual  dizem 

170  os  meninos  e  respondem  todos;  principalmente  huma  feze- 
rão  pedindo  chuva  pola  grande  secaa  que  avia,  de  maneira 
que  se  secavão  os  mantimentos  e  forão  ouvidos  de  N.  Senhor. 
Todos  tem  jaa  per  custume  quando  seus  filhos  adoecem 
trazerem-nos  à  igreja  com  suas  pobres  offertas  a  offerecer 

175  e  dos  que  morrem  fazemo-los  enterrar  con  ponpa  funeral,  e 


16a   cantando]  cantandão  ms.  ||  i6(    Imdyos  corr.  tx  Irmãos 


e  as  não  quiserem  restetuir  ao  dito  Colégio,  asy  no  caso  d'apelação 
e  agravo  como  todo  o  mais  que  comprir  aos  ditos  preytos  e  demandas 
até  aver  sentenças  finais  enclusive.  E  poderá  pedir  restituição  em  inte- 
gro em  favor  do  dito  Colégio  quoando  necessário  for,  e  poderá  decrinar 
o  foro  de  quoalquer  juiz  quoando  comprir»  (Schurhammer-Wicki,  Epp. 
Xav.  11  378);  cf.  Leite,  Breve  Itinerário  134. 

15  Luc.  1,  47. 

16  25  de  Maio  de  1559. 


12.  -  BAÍA  5  Dh  JULHO  DE  1559 


57 


dizem-lhe  seus  officios  de  que  se  elles  rauyto  edeficão ; 
quando  podemos  tem  missas  cantadas  em  festas  principaes. 

9.  Ha  carne  humana  que  todos  comião  e  muy  perto  da 
cidade  hé  agora  tirada,  e  muitos  tomão  já  por  injuria  alem- 
brar-lhe  aquelle  tempo,  e  se  em  alguma  parte  se  comem  180 
são  amoestados  e  castigados  por  isso;  isto  em  partes  onde 
ainda  não  pode  chegar  a  doutrina,  como  foy  pola  bahia 
adentro  sete  ou  oyto  legoas  desta  cidade,  hum  Principal 
não  quis  senão  comê-la  com  festas.  Mandou  o  Governador 
prendê-lo  e  teve-o  huum  anno  presso  por  isso  e  por  deso-  185 
bedecer,  e  hé  agora  [o]  milhor  indio  que  há  na  terra17.  Outros 
forâo  à  guera  e  matarão  contrários  e  deixarão-nos  de  trazer 
por  medo  do  Governador;  e  estes  são  os  de  Apacé18  e  de 
Cerigipae19  e  da  ilha  de  Taparica20,  antre  os  quaes  se  far[i]ão 
já  igrejas  se  ouvesse  Padres  pera  o[s]  sustentarem.  Os  do  190 
Paraçu21  esta  vão  muy  soberbos  e  não  querião  paz  com  os 
christãos,  mas  antes  vinhão  a  saltear  os  brancos  e  tomarão 
hum  [barco]  sen  gente,  porque  se  lhe  acolheo  a  gente.  Mas 
pagarão-no  muy  to  bem,  porque  forão  tres  vezes  à  guerra  a 
elles  e  matarão  muytos  e  cativarão  grande  soma,  quei-  195 
mando-lhe  suas  casas  e  tomando-lhes  seus  barcos,  polo  qual 
pedirão  paz  e  lha  derão  com  trebuto  de  certa  farinha  e  gali- 
nhas, e  que  não  comerrâo  carne  humana,  e  serão  christãos 
quando  lhes  mandarem  Padres  e  estarão  à  obediência 
do  Governador.    O  mesmo  quiserão  os  de  Tinharê,  que  200 


187    trazer]  trazes  MIS.  ||aoO    Tinharê]  finharê  ms. 


17  Cururupeba.  Cf.  Carta  a  Tomé  de  Sousa,  de  5  de  Julho  de  1559 
(carta  13  §  43). 

18  Apacé  ou  Pacé  ou  Passé,  no  Recôncavo  da  Baía  e  ao  norte  da 
Ilha  de  Maré. 

19  Também  no  Recôncavo,  no  extremo  norte,  onde  mais  tarde  se 
fundou  o  famoso  Engenho  de  Cerigipe  ou  Sergipe  do  Conde. 

20  Ilha  de  Itaparica,  em  frente  da  Cidade  da  Baía. 

21  Paraçu,  isto  é,  Paraguaçu. 


58 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


são  da  mesma  geração,  por  estarem  bem  com  os  chris- 
tãos  22. 

10.  E  hé  esta  huma  cousa  tão  grande,  que  nunca  os 
christãos  desta  terra  souberâo  desejar  nem  querer  tanto, 

205  porque  tinhão  por  inposivel  poderem-se  domar  aquelles, 
nem  poderem-se-lhes  dar  guerra  em  suas  Aldeãs,  por 
serem  os  caminhos  de  muytos  matos  e  agoas  e  serras 
fragosas.  E  fez  [54X]  isto  hum  mancebo,  que  se  chama 
Vasco  Rodriguez  de  Caldas,  por  mandado  do  Governador, 

210  com  bem  pouca  gente,  que  não  erão  oitenta  pessoas,  mas 
ajudarão  muy  bem  os  nossos  cathecumenos  destas  três 
povoações,  os  quaes,  com  muyta  fi[de]lidade  e  deligencia, 
servem  nestas  guerras  e  à  sua  custa,  e  pelejão  já  de  outra 
maneira,  porque  vão  armados  com  ho  nome  de  Jesu,  e 

215  quando  partem  se  encomendão  a  Deus  e  pede[m]-nos  que 
roguemos  a  Deus  por  elles ;  e  Nosso  Senhor  ouve  a  elles 
e  a  nós,  porque  sempre,  ategora,  lhe  tem  dado  vencimentos 
grandes  com  não  lhes  matarem  lá  ninguém,  posto  que  vem 
delle  feridos  e  são  curados  de  nós  com  a  charidade  que 

220  podemos. 

Hum  Principal,  dez  ou  doze  legoas  daqui,  tendo  dez  ou 
doze  contrários  pera  matar,  sendo  amoestado  pelo  Gover- 
nador, não  quis  senão  comê-llos  com  muita  soberba,  e 
queria,  sobre  tudo,  vir  dar  guerra  a  huma  fazenda  dos 

225  christãos;  mas  loguo  lhe  foy  socorer  em  breve  e  elle  não 
ousara  a  cheguar,  antes  todos  os  daquella  comarca  e  paren- 
tes de  aquelles  que  se  acharão  nas  festas,  de  medo  despo- 
voarão e  deixarão  roças  e  casas  e  forão-se  fazer  todos  fortes 
no  sartão  com  este.  Estava  detreminado  darem  nelles  por 

230  ser  terra  pera  cavalos  lá  poderem  ir  e,  fazendo- sse  prestes 
a  gente,  sobreveo  a  nova  dos  Ilheos  que  estava  em  guerra 


326    ousara  corr.  ex  ousarão 


22  Sobre  esta  campanha  de  Paraguaçu  e  suas  fases,  Nóbrega  dá 
maiores  pormenores  na  Carta  a  Tomé  de  Sousa  (carta  13  §  50). 


12.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


59 


e  quatro  Engenhos  que  hi  avia  despovoados  e  roubados  do 
gentio.  Foy  necessário  acudir  laa  o  Governador  28  levando 
consigo  alguns  christãos  e  os  nossos  cathecumenos  e  outros 
gentios ;  mas  este  indio  e  todos  estão  amendontrados  e  pedem  235 
pazes,  e  peitão  escravos  aos  christãos  pera  que  os  fação 
amigos  do  Governador. 

11.  Na  Villa  de  Sam  João  se  procede  da  mesma  maneira, 
posto  que  com  menos  fervor,  porque  o  Principal  delles,  que 
também  servia  de  meirinho,  não  ajudava,  mas  estorvava  e  240 
desobedecia  muytas  vezes  ao  Governador  e  aos  Padres; 

e  [senjdo  contrairo  dos  do  Paraaçu,  entrava  com  elles  deso- 
bedecendo nisso  ao  [manjdado  do  Governador,  do  qual  se 
temia  alguma  treição  por  ser  indio  muy  sábio  [e  muy]  esti- 
mado e  por  isso  muy  soberbo.  Este  se  chama  Mirangaoba  24.  245 
Pelo  [qual,  de]  conselho  dos  christãos,  que  todos  sospeita- 
vão  mal  dele  fazer  pazes  com  seus  [contrarijos,  foy  presso 
e  humilhado,  e  agora  foy  ajudar  ao  Governador  com  todos 
os  seus  [e  dizem  que]  o  faz  tam  bem  que  vay  merecendo 
soltare  m-no  de  todo.  250 

12.  Nesta  Villa  de  Sam  [João  me]  achei  dia  de  S.  Anto- 
nio 25,  onde  me  derão  novas  das  victorias  que  o  [Governa- 
dor ouve]  nos  Ilheos,  e  fizemos  com  os  índios  procissão 
solene  dando  graças  [a  Nosso]  Senhor,  onde  se  acharão 
alguns  christãos  e  suas  molheres  presentes,  por  [estar]  255 
esta  casa  perto  de  algumas  fazendas  e  alguuns  domingos 

e  festas  irem  ali  [à  m]issa. 

13.  [54V]  Desta  igreja  se  visita  outra  Vila  de  tanta 
gente  e  mais  que  esta,  huma  legoa  pequena,  a  qual  ajun- 
tamos de  outros  Índios  que  erão  contrairos  destes  de  26o 
Sam  Joam,  que  ainda  quando  se  foy  o  P.e  Ambrósio  Pirez 

se  comião  con  grande  crueldade,  a  que  não  podemos  fazer 
mais  que  bautizar  os  lactantes  e  saber  dos  doentes,  pera 
que  não  morrão  sem  lhes  offerecer  a  Jesu  Christo  N.  Senhor. 


23  Pormenores,  adiante,  carta  13  §  52. 

24  Cf.  Carta  a  Tomé  de  Sousa  §  39  (carta  13). 

25  13  de  Junho  de  1559. 


BO 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


265  14.  A  terceira  igreja,  que  se  chama  Sant  Espiritus,  sete 
legoas  desta  Cidade,  principyou  o  P.e  Joara  Gonçalvez  ee 
nella  começou  a  lançar  os  primeiros  fundamentos  em  com- 
panhia do  Irmão  Antonio  Rodriguez,  o  qual  como  hé  lingoa 
e  muy  fervente  obreiro,  vay  sempre  diante  a  esmoutar  a 

270  terra.  Aqui  se  ajuntou  mais  gente  que  em  nenhuma;  aqui 
há  cento  e  cincoenta  moços  de  escola,  afora  outros  muytos 
que  ainda  se  não  poderão  ajuntar.  Aqui  bautizou  o  Padre 
Joan  Gonçalvez  grande  numero  de  meninos  lactantes,  dos 
quais  falecerão  muytos:  este  hé  hum  fructo  grande  e  seguro 

275  de  almas  regeneradas  que  a  Nosso  Senhor  mandamos  de 
todas  estas  tres  povoações  e  de  outras  vizinhas. 

15.  Mas  ante  que  va  adiante  quero  contar  do  tra[n]sito 
glorioso  do  Padre  Joham  Gonçalvez.  Sendo  mandado,  como 
digo,  a  Sant  Spiritus  a  doutrinar  aquelas  almas  e  bautizar 

280  os  lactantes,  porque  a  estes  baptizamos  logo,  polo  perigo 
que  correm,  ele  o  acceptou  com  muita  alegria,  como  accep- 
tava  tudo  o  que  lhe  era  mandado,  e  de  lá  escrevia  cartas 
de  sua  consolação  grande,  por  ser  lugar  onde  juntamente 
com  doutrinar  se  podia  dar  à  oração,  de  que  elle  era  mui 

285  zeloso,  e  por  ser  o  sitio  mui  aprazivel.  E  como  era  devoto  de 
N.  Senhora  da  Comcepção,  determinou  em  aquelle  dia26  bap- 
tizar os  innocentes  e  fazer  aquelas  almas  limpas  à  homrra  da 
pureza  de  Nossa  Senhora;  e  escreve[u]-me  que  me  pedia  que 
pregasse  em  seu  dia  as  grandezas  desta  Senhora,  e  que  dixesse 

290  que  soubessem  negocear  com  Noso  Senhor  por  meo  delia, 
que  não  podia  aver  outro  milhor  negocear,  e  outras  pala- 
vras, o  que  eu  fiz  o  milhor  que  soube27,  porque  ho  amava 
e  reverenciava  muito  por  suas  virtudes. 


265  Sant  Espiritus]  Sante  Spiritus  ms.  ||  267  ■  lançar]  alcançar  ms.  ||  288  Nossa 
penhora]  Nosso  Senhor  ms. 


26  8  de  Dezembro  de  1558. 

27  Como  o  dizem  as  palavras,  o  sermão  de  Nóbrega  foi  sobre 
*Nossa  Senhora  Medianeira».  Cf.  Leite,  João  Gonçalves,  primeiro 
Mestre  de  Noviços  no  Brasil  (ijsóJ,  in  «Verbum»  vm  (Rio  de 
Janeiro  1951)  258;  Breve  Itinerário  106;  «Mensagem  aos  Brasileiros» 
do  Papa  Pio  XII,  in  Acta  Apostolicae  Sedis  (15  Oct.  1954)  545. 


12.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


tu 


Aconteceo  que  no  mesmo  dia  de  Nossa  Senhora,  aca- 
bando de  baptizar  os  meninos,  avendo  sido  largo  o  ofíicio,  295 
e  solemne,  lhe  deu  grande  febre,  e  todavia  acabou  a  missa 
de  N.  Senhora  da  Concepção,  a  deradeira  que  dixe  com 
muito  trabalho;  e  des  que  dixe  a  primeira  misa  até  àquella 
nunca  deix[ouJ  dia  por  dizer  misa,  por  mais  trabalho  e  mais 
fraco  e  doente  que  e[stivesse].    Foy  tam  grande  a  febre  e  300 
trazia  tam  grande  febre  a  chamá-lo,  [que]  em  treze  ou 
quatorze  dias  aspirou  neste  Colégio,  ond[e  foi]  trazido  já 
muy  mortal;  e  dia  de  Nosa  Senhora  ante  Natal  esteve 
[tão  bom]  e  rezou  comigo  e  falamos  louvores  de  Nossa 
Senhora,  que  me  parecia  [a  mim]  que  mo  queria  N.  Senhor  305 
dar,  mas  logo  sobre  a  noite  emtrou  em  trang[ia  de  sono]  no 
qual  expirou  a  noite  [de]  S.  Thomé  28.  Foy  levado  à  igreja 
pera  lhe  [fazerem  os]  officios,  onde  por  ser  dia  sancto  29  e 
porque  era  amado  de  todos,  [concorreu]  toda  a  Cidade  a 
seu  enteramento,  e  fazião  todos  grande  pranto  nã[o  ces-  310 
sando]  [55^  de  lhe  beijar  os  pés  e  as  mãos,  e  com  trabalho 
ho  tiramos  pera  lhe  dar  sepultura. 

16.  Mas  eu  a  mim  chorava  e  não  deixo  de  chorar 
quando  me  acho  sem  elle,  porque  de  todas  as  partes  fiquei 
órfão:  elle  era  meu  exemplo,  minha  coluna  em  que  me  315 
arrimava  e  consolava;  seus  conselhos  sempre  me  forão 
saudáveis,  tão  fiel  companheiro  nunca  ninguém  perdeo 
como  eu  !  Elle  me  descansava  e  me  fazia  dormir  meu  sono 
quieto,  porque  tomava  todos  meus  trabalhos  sobre  sy ;  por 
elle  e  pola  graça  que  N.  Senhor  lhe  deu  vivia  eu  asi  no  320 
spirito  como  no  corpo!  Quid  amplius  de  fratre  nostro? 
Nos  trabalhos  o  primeiro,  no  descanso  o  derradeiro,  na 
conversão  dos  gentios  fervente  e  zeloso,  com  os  christãos 
muyta  charidade  e  humildade,  no  serviço  de  seus  Irmãos  e 


394  In  marg.  Morte  do  P.  Goncalvez  ||  30a  quatorze  dei.  horas  ||  307  igreja  corr.  ex 
igeja. 


28  Na  noite  de  20  para  21  de  Dezembro  (dia  de  S.  Tomé). 

29  «Dia  santo»,  isto  é,  de  guarda  ou  de  preceito. 


62 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


325  dos  pobres  muy  deligente,  na  obediência  muy  pronto,  nos 
conselhos  muy  maduro,  na  governança  da  casa  que  teve 
muy  vigilante,  na  observância  das  regras  muy  cuidadoso: 
O  írater,  quis  mihi  daret  ut  pro  te  morerer!  porque  asi 
acabara  hum  mao  de  escandalizar  e  ficara  huma  candea  de 

330  luz  e  boom  exemplo  nesta  casa  e  nesta  terra30. 

17.  Mas  pois  jaa  comecei  de  contar  o  castigo  com  que 
N.  Senhor  me  castigou  a  mim  e  a  meus  Irmãos  levando-nos 
tal  companheyro,  proseguiré  esta  matéria  até  acabar.  Forão 
este  anno  tantas  doenças  e  trabalhos  que  ouve  nesta  casa 

335  que  não  saberei  contar,  porque  todos  os  Padres  achegarão 
às  portas  da  morte  e  passarão  per  ignem  et  aquam31. 

O  Padre  Francisco  Pirez,  despois  do  falecimento  do 
P.e  João  Gonçalvez,  adoeceo  também  muito. 

O  Irmão  Antonio  Rodriguez  da  mesma  maneira,  e  por- 

340  que  não  foi  sangrado,  foi  sua  infirmidade  mais  prolixa, 
porque  le  sayo  aquele  sang[u]e  em  postemas  e  sarna  por 
todo  o  corpo  e  durou  muyto  tempo;  mas  asi  não  deixava 
de  falar  e  tratar  com  os  índios  o  negocio  de  N.  Senhor, 
estando  em  Sant  Paulo. 

345  O  Padre  Antonio  Pirez  veo  de  S.  Joam,  onde  resedia, 
ajudar  as  confissões  da  Coresma,  mas  no  fim  dela  adoeceo 
estando  eu  em  San  Paulo  a  Somana  Sancta,  e  foi  tão  grande 
e  perigosa  sua  ynfirmidade  que  eu  o  tive  por  [mojrto,  e  per- 
metio  Nosso  Senhor  porque,  já  que  eu  não  sentia  a  morte 

350  de  meu  [Senho]r  Jesu  Christo  por  si,  siquer  asi  atribulado 
me  alem[br]asse  dela.  Não  [vijnha  portador  nem  escrito  da 
Cidade  que  eu  não  fosse  sobresalteado,  maior[me]nte  por 
ser  em  tempo  de  Endoenças,  não  avendo  quem  armasse  [a] 
igreja  nem  quem  fizesse  os  officios  e  encerrasse  o  Senhor, 


354    encerrasse    encerasse  ms. 


30  O  alto  louvor  que  Nóbrega  dá  aqui  ao  P.  João  Gonçalves  não 
era  ditado  apenas  pelo  sentimento  imediato  da  morte;  vinha  de  longe 
e  já  o  põe  em  relevo  na  carta  de  2  de  Setembro  de  1557  §  24:  «a  minha 
alegria  e  consolação»  (Mon.  Bras.  II  417;  e  cf.  ib.  II  7i*-72*). 

31  Ps.  65,  12;  106,  18. 


12.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


porque  ainda  a  este  tempo  Francisco  Pirez  não  era  bem  355 
são;  e  eu  desejava  que  na  Cidade  e  em  São  Paulo  se 
glorificasse  Nosso  Senhor  [55V]  naqueles  dias,  e  via-me  eu 
só,  também  com  minhas  manqueiras,  de  tal  maneira  que 
com  muyto  trabalho  podia  andar  se  me  não  levavão.  Mas 
tudo  Nosso  Senhor  ordenou  de  maneira  que  tudo  se  cum-  360 
prisse,  posto  que  com  muyto  trabalho. 

18.  Deixo  de  contar  de  outras  yníermidades  de  Irmãos 
e  gente  desta  casa,  que  seria  nunca  acabar,  por  tornar  a 
contar  da  casa  de  Sant  Spiritus,  na  qual  se  procede  com 
a  mesma  ordem  que  nas  outras.  Esta  casa  trabalhou  o  365 
imigo  mais  por  estrovar  que  nenhuma,  porque  aconteceo, 
despois  do  falecimento  do  Padre  Joam  Goncalvez,  que  os 
officiaes  que  lá  trabalhavão  adoecerão  alguns  e  punhão-no 
ao  sitio,  sendo  elle  o  milhor  que  há  na  terra,  polo  que  nin- 
guém lá  queria  ir  trabalhar;  e  ao  Governador  e  a  todos  370 
parecia  que  do  sitio  viria,  e  querião  impeli-la  a  pasar-se 
dali,  o  que  nunca  me  pareceo,  antes  muy  confiado  em  Nosso 
Senhor  mandei  lá  Antonio  Rodriguez  mal  são,  com  ter  os 
mais  dos  dias  febre,  e  foi  são,  e  o  Padre  Antonio  Pirez, 
que  tãobem  não  podia  reconvalecer  e  recaya  muytas  vezes,  375 
foy-se  lá  e  deu-lhe  Nosso  Senhor  saúde  perfeita.  De 
maneira  que  donde  os  outros  fugirão  por  não  adoecer,  man- 
dava eu  os  enfermos  a  sarar,  no  que  se  vio  ser  aquilo 
estrovo  do  imigo  porque  desta  casa  é  elle  muy  quonquis- 
tado.  380 

Aqui  acontecerão  casos  muy  notáveis  que  eu  não  pode- 
rei dizer  todos,  mas  somente  me  contentarei  com  alguns 
poucos.  Huma  criança  esteve  morta,  chorada  de  seu  pay  e 
mây,  e,  estando  pera  espirar,  foi  bautizada  do  Irmão  e  logo 
sarou,  de  que  todos  ficarão  espantados  e  muy  edificados  e  385 
com  credito  de  bautismo. 

Estando  eu  lá  hum  dia,  aconteceo  que  estando  os  meni- 
nos na  escola  dizendo  a  oração  do  Pater  nostre,  achegando 


357  Senhor  dil.  ordenou  de  maneira  que  tudo  se  cumprisse,  posto  que  com  muyto 
trabalho.  Deixo  de  contar  ||  371  sitio  viria]  sito  veria  ms.  |  impeli-la]  impedi-la  ms.  || 
374    e  o]  ae  ms.  ||  388    a  oração  do]  as  oraço  do  ms. 


64 


P,  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


àquele  paso  de  et  ne  nos  inducas  in  tentationem,  [hum]  foy 
390  arrebatado  do  spiritu  maligno,  segundo  que  todos  julgamos 
pelos  sinaes  que  fez  naquela  ora  e  tres  dias  continuos;  e 
elle  mesmo  como  asombrado  das  visões  que  via,  bramava 
e  não  queria  estar  senão  com  os  olhos  tapados,  dizendo 
que  via  demónios,  e  foi  muy  cruelmente  atormentado  de 
395  tal  maneira  que  parecia  que  morria,  e  tornei32,  a  bautizá-lo, 
e  sa[rou]  pela  misericórdia  de  Nosso  Senhor. 

19.  Aconteceo  que  daly  me  fuy  a  outra  povoação 
adiante,  que  está  duas  legoas  des[ta],  onde  não  podemos 
residir  por  não  aver  quem,  onde  chamão  o  Chor[ão]33,  e 

400  bautizei  os  latantes  pelo  perigo  que  passão,  e  fizemos  rol 
de  aquel[a]  gente  toda.  Algumas  crianças  doentes  se  escon- 
diâo,  porque  os  feiticeiros  diz[em]  que  com  o  bautizmo  as 
mataremos,  mas,  pola  muyta  deligencia  do  Ir[mão]  e  porque 
sempre  há  alguns  boons  que  ajudão,  bautizamos  todas, 

405  mandando-as  buscar  onde  as  escondião  e  depois  de  bauti- 
zados  muytos  destes  enfermos  viverão,  outros  entrarão 
no  ceo. 

20.  [56r]  Aconteceo  hum  dia  que  estando  hum  feiti- 
ceiro tirãodo  huma  palha  a  hum  doente,  hum  menino  da 


393    bramava]  bravama  ms. 


32  A  este  tempo  na  Aldeia  do  Espírito  Santo  ainda  só  eram  bapti- 
zados os  meninos  inocentes  (lactantes);  os  da  Escola,  tirando  algum 
mais  adiantado,  ainda  não,  como  se  diz  no  §  20;  mas  Nóbrega  /ornou 
à  Escola  para  baptizar  este,  por  parecer  que  morria. 

Desta  Aldeia  do  Espírito  Santo,  como  exemplo  prático  das  «Aldeias 
da  Doutrina»,  ficou  breve  monografia  na  Introdução  ao  Diálogo  sobre  a 
Conversão  do  Gentio  32-38  (1954).  Ao  deixarem-na  os  Padres  em  1758 
recebeu  o  nome  de  Vila  de  Abrantes.  Pouco  depois  fez-se  um  mapa 
colorido  da  nova  vila,  que  se  conserva  no  Arquivo  Histórico  Ultrama- 
rino (Lisboa)  e  que,  com  o  título  de  «Mapa  da  Vila  de  Abrantes», 
publicou  Robert  C.  Smith,  Arquitetura  Colonial  Bahiana  —  Alguns 
aspectos  da  sua  história  (Bahia  1951)  55-61. 

33  Deve  ser  o  mesmo  lugar  que  adiante  aparece  escrito  «Carón» 
carta  20  §  4). 


12.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


66 


escola  se  achegou  e  estando  o  feiticeiro  gloriando-sse  de  410 
aver  tirado  a  palha  que  era  a  doença  daquele,  o  moço 
movido  por  Nosso  Senhor  e  com  zelo  da  fee,  porque  era  já 
christão,  lha  arrebatou  da  mão,  dizendo  que  era  grande 
mentira,  e  lança  a  fugir  e  mostrá-la  ao  Irmão  Antonyo 
Rodriguez,  que  não  levava  fôlego  pera  lhe  contar  daquilo.  415 
Mandou  chamar  aquele  feiticeiro  e  os  principaes  e,  depois 
de  feita  pratica  e  reprender  aquilo,  disse  aos  principaes 
que  levassem  o  feiticeiro  ao  Governador  presso.  Elie 
ouvindo  isto  rompeo  a  casa  de  palha  e  foy-se  e  andou  pelos 
matos  maltratado,  mas  tomando  boom  conselho  se  veo  a  420 
humilhar  e  pedir  penitencia,  e  derão-lhe  que  trabalhasse 
nas  obras  da  igreja  que  se  fazia. 

A  hum  principal  morreo  hum  filho  pequeno  sem  bau- 
tismo  por  não  chamarem  ao  Irmão,  porque  estes  meninos 
de  Sant  Spiritus  ainda  não  são  bautizados  até  não  serem  425 
mais  instruídos  na  fee31,  mas  ten-se  tento  que  não  morão 
sem  bautismo.  Foi  logo  chamado  a  juizo  perante  todos  os 
principaes  e  depois  de  bem  reprendido  mandou  aos  prin- 
cipaes que  em  ferros  o  levassem  ao  Governador.  E  obede- 
cerão-lhe,  mas  juntarão-se  todos  os  moradores  da  Villa  e,  430 
postos  de  giolhos,  pedirão  ao  Irmão  que  o  não  mandasse, 
mas  ali  lhe  desse  penitencia,  e  prometerão  que  nunca 
nenhum  morreria  sem  o  chamarem ;  e  desta  maneira  se  vai 
tirando  seu  custume  e  vão  tomando  obediência  e  aborre- 
cendo os  feiticeiros  e  tomando  credito  ao  bautismo.  435 

Passando  nós  por  huma  Aldeã  onde  nunca  se  ensinou, 
achamos  hum  menino  muyto  doente  e  na  casa  onde. estava 
muitas  feitiçarias  e  laços  armados  pera  prender  a  morte 
se  aly  viesse.  E  falando  de  Nosso  Senhor,  não  queria  o 
pay  nem  a  mãy  que  lhe  bautizassem  seu  filho,  porque  440 
hum  fer-iceiro  seu  que  ali  estava  dezia  que  não;  fiz  o 

   I 

4ai    humilhar]  ohumilhar  tns. 


34  O  período  preparatório  para  o  baptismo  dos  meninos  da  Escola 
não  era  demasiado  longo,  e  o  P.  João  de  Melo,  na  carta  de  13  de  Setem- 
bro d  e  1560  (carta  39  §  2),  dirá  que  já  «quasi  todos  são  christãos». 


66 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


chamar,  e  perguntado  por  manha  quem  lhe  ensinara  a 
sciencia,  disse  que  seu  pay,  e  começou-sse  a  vangloriar 
de  sua  sciencia,  e  que  dava  saúde  aos  doentes.  Despois 

445  de  tomada  sua  confissão  fiz  ajuntar  a  gente  da  Aldeã  toda 
e  disse-lhes  o  Irmão:  «Vinde  a  ver  o  vosso  feiticeiro  e  o 
vosso  deus  em  quem  credes»,  e  sobre  isso  lhes  falou  largo; 
e  depois  disse  que  cada  hum  levasse  seu  tição  de  lume 
e  a  lenha  que  pudessem  e  que  o  queimassem  no  meo  do 

4ò  tereiro,  [56V]  que  asi  o  mandava  o  nosso  Deus  verdadeiro. 
J  iodos  rogavam-lhe  pola  vida,  e  vendo  que  não  aprovei- 
tav?o  lezia  que  o  queimasem  fora  da  Aldeã  por  não  feder. 
Huns  cu  '  tãos,  que  se  ali  acharão,  o  puserão  no  terreiro 
e  achegavam  -lhe  lume  já,  o  que  se  fazia  por  fazer  medo 

455  aos  outros:  até  q  .e  vierâo  huns  principaes  velhos  e  postos 
os  jiolhos  em  terra,  xhe  pedião  a  vida  e  que  o  levasse 
comigo  pera  taipar  nas  taipas  de  Sant  Spritus  que  se 
fazia,  e  eu  o  levei,  não  pera  trilar,  mas  pera  se  doutrinar  na 
fee,  e  doutrina,  com  os  outro::    Desta  maneira  está  a  terra 

460  agora  e  esta  hé  a  condição  do  ge.  io ;  e  todavia  o  pay  e  a  mãy 
do  menino  consentio  despois  qut  lhe  bautizassem  o  filho. 

21.  Com  os  christãos  desta  terra  se  faz  pouco,  porque 
lhe  temos  cerrada  a  porta  da  confssão  por  causa  dos 
escravos  que  não  querem  senão  ter  t  resgatar  mal,  e  por- 

465  que  geralmente  todos  ou  os  mais  está  amancebados  das 
portas  adentro  com  suas  negras,  casados  •  sulteiros,  e  seus 
escravos  todos  amancebados,  sem  em  hum  caso  nem  no 
outro  quererem  fazer  consciência,  e  achão  1?.  ou  "tos  Padres 
liberaes  da  asolvição  e  que  vivem  da  mesma  maneira;  mas 

470  com  tudo  não  deixei  o  Advento  passado  e  1  Coresma  e 
festas  e  os  mais  dos  domingos,  de  lhes  pregai  alembrar 
a  ley  de  Deus.  Somente  as  molheres  e  gente  L  re,  que 
não  alcanção  escravos,  são  confessados  de  nós. 

22.  Escola  de  leer  e  escrever  se  tem  em  casa,  studo 
475  ouve  muyto  tempo,  até  que  os  estudantes,  que  en  gente 

da  See,  não  quiserão  vir.   Espera-sse  polo  Bispo  pt--a  pôr 


447    largo]  Urgor  ms.  H470    e]  em  "is. 


13.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


67 


tudo  em  seu  lugar.  Isto  hé,  amado  Padre,  o  que  agora  se 
pode  escrever  depressa  e  com  tristeza,  por  tardar  tanto  a 
consolação  e  remédio  que  esperamos.  Nas  orações,  sacre- 
ficios  de  V.  R.  e  de  nossos  charissimos  Padres  e  Irmãos, 
queremos  ser  encomendados  em  Christo  Jesu  Nosso  Senhor. 

23.  De  São  Vicente  não  são  chegados  navios  nem  temos 
novas  que  escrever;  aguardam-sse  cada  dia.  Novas  do  Esprito 
Sancto  saberão  pela  copia  que  com  esta  vay35. 

Desta  Bahia  a  5  de  Julho  1559. 

Inutilissimo  filho  de  V.  R. 

Nóbrega. 

13 

DO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
A  TOMÉ  DE  SOUSA  ANTIGO  GOVERNADOR 
DO  BRASIL,  LISBOA 

BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 

I.  Bibliografia:  B.  Machado  III  319;  Catalogo  dos  Manuscrlptos  1 
23-24;  Cimélios  495;  Sommervogel  v  1782  n.  20;  Streit  11  347  n.  1265; 
Leite,  História  ix  10  n.  28;  H.  Baldus,  Bibliografia  Critica  386  n.  843. 

II.  Autores:  Capistrano  de  Abreu,  Notas  à  «.História  Geral  do 
Brasil»  1  343-344;  Leite,  História  1  193  213  214  343;  11  4  40  45  86  113  121 
145  148  150  204  206  271  281  378  462  514  518  521 ;  IX  426 ;  Breve  Itinerário 
139-141;  Mariz  141;  Nemésio  429-438;  J.  Honório  Rodrigues,  Biblio- 
grafía\del  Brasil  28. 

III.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lis- 
boa] 1-5,  2,  38,  íf.  7or-78v.  Título:  «Carta  que  escreveo  o  P.e  M.el  da 
Nóbrega  a  Thomé  de  Sousa,  da  Baya,  a  5  de  Julho  de  1559».  Este  título 
foi  posto  em  Lisboa  ao  colocar-se  a  carta  original  neste  Códice  de 
S.  Roque;  e  escreveu-se  entre  o  início  da  carta  «-(-  Jesus»  e  o  começo 
do  texto,  «A.  pax...».  Toda  a  carta  por  mão  do  amanuense  António 
Blázquez  até  à  data  «1559».  Depois,  cláusula  e  assinatura  por  mão  de 
Nóbrega.   Na  f.  78V,  no  espaço  em  branco  entre  o  texto  da  carta  e  a 


35   Cf.  supra,  carta  de  Fevereiro  de  1559  (carta  5). 


68 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


cláusula,  há  uma  referência,  sobre  a  qual  colocaram  modernamente  um 
papelinho,  mas  que  ainda  leu  Vale  Cabral:  «Brazil.  1559.  Copiou-se  e 
mandou-se  a  Thomé  de  Souza»  {Cartas  [1886]  168).  Original  em  por- 
tuguês. 

IV.  Impressão:  Baltasar  da  Silva  Lisboa,  Annaes  do  Rio  de 
Janeiro  VI  (Rio  de  Janeiro  1835)  63-100;  ACCIOLI,  Memorias  Históricas 
e  Politicas  da  Provinda  da  Bahia  III  (Baía  1836)  210-235;  [ed.  de  B.  DO 
Amaral  v  (Baía  1937)  25-44];  Vale  Cabral  (1886)  146-168;  (1931)  191-210; 
Leite,  Cartas  de  Nóbrega  (Coimbra  1955)  313-354. 

V.   Edição:  Reimprime-se  o  texto  original  (único). 

Textus 

1.  Commercium  litterarum  amicissimum  inter  Pairem  Nóbrega  et 
Thomam  de  Sonsa.  —  2.  Brasília  castigata  est  et  maiores  castigationes 
exspcctat.  —  3.  Duo  Nóbrega  maxime  studia  sollicitabant :  christianos 
reddere  meliores  et  Indos  convertere.  —  4.  Et  duo  media :  pro  christianis 
bónus  cpiscopus  et  pro  indis  subiectio  sinc  qua  ostendit  experientia  fruc- 
tum  non  afferri.  —  5.  Episcopus  D.  Petrus  Fernandes  iudicavit  gentiles 
doctrinae  incapaces  et  interfectus  est  ab  illis.  —  6.  Episcopus  parum  fecit 
quia  clerici  quos  secum  attulit  malum  exemplum  dederunt,  horum  aucto- 
ritate  et  exemplo  scandala  publica  aucta  sunt.  —  7.  Clerici  sacramenta 
dispensare  coeperunt  et  multiplicata  sunt  peccata  in  matéria  honestatis 
publicae  et  aliis.  —  S.  Ouare  Nóbrega  omnia  dcseruit  et  profectus  est  in 
Praefecturam  S.  Vincentii.  —  9.  In  illa  mansit  quia  ibi  et  plures  invenit 
pueros  et  Indos  mimes  scandalisatos  pluresque  Fratres  linguae  brasilicae 
peritos.  —  10.  In  Praefeclura  S.  Vincentii  iuvit  Deus  ad  salutem  aliquo- 
rum  praedestinatorum.  —  //.  Praeter  alia  peccata,  unum  est  in  omnibus 
Praefecturis  scilicet  animadversio  in  gentiles.  —  12.  Omnes  etiam  Prae- 
fecti  et  Praelati  iudicant  esse  servitium  Dei  promovere  bella  et  anthropo- 
phagiam  inter  gentiles.  —  13.  Et  sunt  christiani  qui  interficiunt  genti- 
les more  Indorum.  —  14.  Cuius  rei  immoralitatem  anno  praeterito  ipse 
Nóbrega  in  scriptis  iure  monstravit.  —  15.  Non  est  misericórdia  erga 
gentiles,  cum  ob  eorum  condicionem  deberet  maior  haberi.  —  16.  Aliud 
infernale  peccatum  fuit  docere  Indos  sese  invicem  rapere  et  ut  servos 
venuudari. —  77.  Non  venundantur  Indi  «Tupinaquins»  in  Praefeclura 
S.  Vincentii,  sed  iam  venundantur  Indi  «Ga/o»  et  in  Praefeclura  Per- 
ttambuci.  —  18.  Bahiae  incepit  tempore  Domini  Eduardi,  et  in  Praefec- 
turis «Ilhéus*  et  Portus  Securi  in  usu  est  erga  Indos  interioris  terrarum 
qui  ad  mare  conveniunt  ad  sales  f adendos.  —  19.  Nóbrega  ianuam  clau- 
sit  confessionum,  sed  omnes  alii  clerici  approbant  Indorum  venditionem. 
—  20.    Parum  curant  christiani  salutem  servorum,  quia  horum  laborem 


15.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


69 


solum  inspiciunt.  —  21.  Neque  desuni  iam  opiniones  lutheranae  contra 
quas  disputare  opus  sit.  —  22.  Qui  tyrannice  tractant  Indos  praesertim 
Bahiae  non  observant  intentionem  Régis  Portugaliae  minus  solliciti  de 
emolumento  temporali  quam  de  exaltatione  fidei  et  animarum  conversione. 

—  23.  Memoratis  terrae  peccatis,  castigationes  enucleandae  sunt,  et  primo 
loco  quas  pertulit  Praefectura  Spiritus  Sancti,  ubi  interfecti  sunt  bello  viri 
praecipui.  —  24.  Bahia  secundum  locum  tenet.  —  25.  Et  etiam  Pernam- 
bucus.  —  26.  Praefectura  S.  Vincentii  magis  est  unita,  sed  circumdata 
ab  Indis  inimicis  et  a  Gallis.  —  27.  Etiam  «Ilhéus»  et  Portus  Securus 
de  quibus  infra  dicetur.  —  28.  Calamitas  generalis  est  iactura  navium 
earumque  hominum  manducatio  ab  Indis.  —  29.  Alia  calamitas  est 
bellum  civile  inter  Episcopum  et  Gubernatorem.  —  30.  Sed  non  defuit 
Dei  misericórdia  quia  gentiles  non  praevaluerunt  contra  christianos.  — 

31.  Nóbrega,  quum  e  Praefectura  S.  Vincentii  Bahia  m  rever  sus  est, 
egit  cum  Gubernatore  D.  Eduardi  da  Costa  de  conversione  Indorum.  — 

32.  Sed  Mendus  de  Sá  gubernandi  rationem  latiorem  habebat  circa 
Indorum  conversionem  et  statim  novum  modum  instituit  gubernandi.  — 

33.  Incipiunt  Pagi  Indorum  Fluminis  Rubri,  S.  Pauli,  S.  Ioannis  Evan- 
gelistae,  incipiunt  catechizari  Indi  Mirangaobae  et  Spiritus  Sancti. — 

34.  De  his  omnibus,  curat  Nóbrega  ut  scribant  Fratres.  —  35.  In  pagis 
adsunt  puerorum  scholae,  baptizantur  Indi  et  iustitia  servatur.  —  36.  Sunt 
alii pagi  adhuc  sine  ecclesiis  quia  desuni  Paires  sed  omnia  bene  disponun- 
tur  et  Nóbrega  animum  resumere  incipit.  —  37.  Oppositio  nunc  est  ex 
parte  malorum  christianorum  qui  terras  Indorum  Pagi  S.  Pauli  cu piunt. 

—  38.  Aliae  iniuriae  in  Indos  quae  a  iudice  non  puniuntur  quia  non 
accipit  nisi  testimonia  christianorum.  —  39.  Antiquam  erat  dissidium 
inter  indos  «Tubarão»  et  «Mirangaoba»,  sed  Gubernator  prohibuit  ne 
inter  se  bellarent  nec  se  invicem  comederent  eosque  iussit  catechizari.  — 
40.  Cives  tamen  murmurant  eo  quod  credant  melius  esse  Indos  manere 
inter  se  divisos.  —  41.  Sed  divisi  inter  se  vivebant  Indi  Praefecturae 
Spiritus  Sancti  et  adunati  sunt  contra  christianos  quorum  praecipuos 
interfecerunt.  —  42.  Sunt  etiam  murmuratores  contra  Patres  S.  I.  quia 
et  impellunt  Indos  ut  bene  vivant  eosque  defendunt  et  peramanter  tractant. 

—  43.  Gubernator  prohibuit  ne  manducaretur  caro  humana  et  idcirco 
homines  de  Gubernatore  detrahunt.  —  44.  Et  omnes  inceperunt  alieno 
animo  in  Gubernatorem  esse,  eo  quod  públicos  mores  emendarei  et  Indos 
tutaret.  —  45.  Senatus  quaesivit  ut  Gubernator  Indos  disiribueret  civibus 
sicut  fit  in  America  Hispana,  sed  Gubernator  negavit  deficiente  iusta 
ratione.  —  46.  Et  si  distribuendi  essent  Indi,  cives  deberent  habere  Patres 
ad  illos  catechizandos,  sed  ne  de  ipsorum  quidem  animis  curant.  — 
47.  Bene  videtur  cives  ferram  occupare  et  Indos  inter  se  distribuere 
dummodo  eos  doceant,  sed  illi  volunt  possidere  Indos  qui  absque  eorum 
concursu  et  sanguine  iam  reducti  sunt.  —  48.  In  procurandis  gloria  Dei, 
bono  animarum  et  emolumento  terrae,  Gubernator  a  Patribus  S.  I.  regi- 
tur,  quare  homines  murmurant  et  de  Gubernatore  et  de  Patribus.  — 


70 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


49.  Garcia  de  Avila,  amicus  olim  Patris  Nóbrega,  non  fecit  promissum 
mittendi  pueros  in  scholam  Pagi  S.  Pauli  et  Indos  in  catechesim  domini- 
calem  et  nunc  est  contra  Pairem  Nóbrega.  —  50.  Bellum  «Paraguaçu» 
quo  fractum  est  incantamentum  populi  bahiensis.  —  51.  Idem  potuisset 
antea  fieri  nisi  obstitisset  memoria  calamitatum  quae  afflixerunt  Fran- 
ciscum  Pereira  et  Praefecturam  Spiritus  Sancti.  —  52.  Bellum  «Ilhéus» 
et  Portus  Securi  victum  a  Gubernatore,  unde  omnes  iam  Indi  pacem 
petunt.  —  53.  Idem  fieri  potest  in  aliis  Praefccturis  ubi  possessiones  et 
vitae  hominum  in  manibus  Indorum  permanent  sine  lucro  neque  pro  Indis, 
qui  christiani  fieri  non  possunt,  neque  pro  terra.  —  54.  In  Praefectura 
S.  Vincentii  eives  apti  sunt  ad  dominandum  in  terram,  sed  de  hoc  non 
curant.  — 55.  Strages  Indorum  «.Tupis»  a  castellanis  et  minae  Indorum 
contra  christianos  Pagi  Geraibatibae.  —  56.  Quae  minae  dissipatae  fue- 
runt  rumore  sparso  de  adventu  alicuius  navis  castellanorum,  sed  perma- 
net  periculum  adauctum  periculo  gallorum.  —  57.  Faciat  Thomas  de 
Sousa  ut  subveniatur  huic  pauperi  Brasiliae  ne  fidei  exstinguatur  scintilla 
quae  in  gentilium  cor  de  incipit  accendi. 

+ 

Jesus 

A  pax  e  amor  de  Christo  N.  Senhor  seja  sempre  em 
seu  continuo  favor  e  ajuda.  Amen. 

1.  Rezão  hé  que,  pois  Vossa  Mercê,  por  sua  boa  condi- 
5  ção,  se  tanto  communica  comigo  tam  yndigno,  e  me  dá 
conta  con  tanto  amor  de  sy,  de  seus  gostos  e  desgostos, 
por  suas  cartas  1,  polas  quais  N.  Senhor  me  muyto  con- 
sola, que  eu  também  não  deixe  cousa  de  consolação  ou 
desconsolação  de  que  lhe  não  dê  parte.  E,  se  íor  mais 
io  largo  e  prolixo  do  necessairo,  V.  M.  o  atribua  hà  chari- 
dade  com  que  ho  amo,  ha  qual  está  muy  desejosa  de  se 
dilatar  por  carta,  pois  mais  nam  pode,  sendo  certo  que  ha 
muyta  que  em  V.  M.  há,  terá  paciência  e  folgará  de  ler 
carta  prolixa,  aynda  que  nisso  se  perqua  algum  tempo. 


6    desgostos  corr.  ex  desgotos 


i  Se  existem,  ignora-se  o  paradeiro  das  cartas  de  Tomé  de  Sousa 
a  Nóbrega. 


15. -BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


7! 


2.  E  primeiramente  quero  fazer  pranto  sobre  esta  terra  15 
e  dar-lhe  conta  dela  particular  de  cousas  que  mais  tenho 
na  alma  des  o  tempo  que  a  V.  M.  leixou,  e  aynda  que  isto 
não  sirva  de  mais  que  de  mover  as  orações  de  V.  M.  a  que 
com  mais  fervor  e  piedade  roguem  a  Nosso  Senhor  por 
ela,  com  isso  me  contentarei,  porque  devem  elas  agora  ser  20 
muyto  aceptas  diante  ho  divino  acatamento,  como  de  viuvo, 
velho  e  prudente,  que  cada  dia  espera  pola  conta  que  lhe 
há-de  tomar  cedo,  cujos  desejos  sou  eu  certo  que  serão  os 
do  outro  Simeão,  que  desejava  lúmen  ad  revelationem  gen- 
tium,  et  gloriam  plebis  tuae,  Ysrael2:  defecerunt  prae  25 
lachrymis  oculi  mei,  conturbata  sunt  viscera  mea,  effusum 
est  in  terra  iecur  meum  3,  porque  vejo  o  mao  caminho  que 
esta  terra  leva,  cada  vez  vai  merecendo  a  N.  Senhor  gran- 
des castigos,  e  castigada  por  seus  peccados  espera  outros 
mayores  castigos,  porque  cada  vez  se  faz  mais  yncorregivel  30 
e  lança  mayores  rayzes  em  sua  obstinação. 

3.  Des  que  nesta  terra  estou,  que  vim  com  V.  M.,  dous 
desejos  me  atormentarão  sempre:  hum,  de  ver  os  christãos 
destas  partes  reformados  em  bons  custumes,  e  que  fossem 
boa  semente  tresplantada  nestas  partes  que  desse  cheiro  35 
de  bom  exemplo ;  e  outro,  ver  disposição  no  gentio  pera 
se  lhe  poder  pregar  a  palavra  de  Deus,  e  eles  fazerem-se 
capaces  da  graça  e  entrarem  na  Ygreja  de  Deus,  pois 
Christo  N.  Senhor  por  eles  tãobem  padeceo.  Porque  pera 
isso  fuy  com  meus  Yrmãos  mandado  a  esta  terra,  e  esta  40 
foy  a  yntençâo  de  nosso  Rey  4  tam  christianissimo  que  a 
estas  partes  nos  mandou  5.    E,  porque  pera  ambas  estas 


15    terra  sk/>.  H38    pois  sup  H39    Senhor  dei.  pois 


2  LUC.  2,  25  32. 

3  Thr.  2,  11. 

4  D.  João  III,  Rei  de  Portugal. 

5  Alude  ao  mandato  régio,  que  tinha  a  Companhia  de  Jesus  sobre 
os  índios  do  Brasil  para  a  sua  conversão.  O  Rei  de  Portugal,  pelo  seu 
Direito  de  Padroado,  confiou  essa  missão  à  Companhia,  cf.  carta  do 
Doutor  Torres  a  Diego  Laynes,  de  Lisboa  31  de  Janeiro  de  1559  {Mon. 


72 


15.  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


cousas  eu  via  sempre  por  esta  costa  toda  mao  aparelho, 
ó  quantos  cálices  de  amargura  e  de  angustia  bibia  a  minha 
45  alma  sempre!  E  disto  alguma  cousa  alem-[7ov]brará  a 
Vossa  Mercê  porque  eu  communicava  com  ele  sempre  minha 
dor,  posto  que  aynda  naquele  tempo  não  me  amargavão  tanto 
as  fezes  deste  cálix  por  não  entrar  tanto  nelas. 

4.  Destes  dous  desejos  que  digo,  me  nacião  outros,  que 
50  era  desejar  os  meios  para  que  isto  tivesse  eífeito,  e  destes 

escolhia  dous  que  me  parecião  milhores:  hum,  era  desejar 
Bispo,  tal  qual  V.  M.  e  eu  ho  pintávamos  quá  pera  refor- 
mar os  christãos,  e  outro,  ver  o  gentio  sobjeito  e  metido 
no  jugo  da  obediência  dos  christãos,  pera  se  neles  poder 

55  ymprimir  tudo  quanto  quisesemos,  porque  hé  ele  de  quali- 
dade que  domado  se  escreverá  em  seus  entendimentos  e 
vontades  muyto  bem  a  fé  de  Christo,  como  se  fez  no  Piru 
e  Antilhas,  que  parece  gentio  de  huma  mesma  condição 
que  este,  e  nós  agora  o  começamos  de  ver  a  olho  por  expe- 

60  riencia,  como  abaixo  direi,  e,  se  o  deixão  em  sua  liberdade 
e  vontade,  como  hé  gente  brutal,  não  se  faz  nada  com  eles, 
como  por  experiência  vimos  todo  este  tempo  que  com  ele 
tratamos  com  muyto  trabalho,  sem  dele  tiráremos  mais 
fructo  que  poucas  almas  ynnocentes  que  aos  ceos  man- 

65  damos. 

5.  Trouxe  N.  Senhor  o  Bispo  Dom  Pedro  Fernandes  fi, 
tal  e  tam  virtuosso  qual  o  V.  M.  conheceo,  e  muy  zeloso 
da  reformação  dos  custumes  dos  christãos,  mas  quanto  ao 
gentio  e  sua  salvação  se  dava  pouco,  porque  não  se  tinha 


49    dous]  dos  ms.  ||  56    se  sup.\\  66    Trouxe  corr.  e.v  troxe 


Bras.  1  27).  E  com  exactidão  notável  se  refere  Anchieta  a  um  facto 
executado  dentro  do  exercício  desta  jurisdição  da  Companhia  sobre  os 
Índios  do  Brasil:  «No  ano  de  1554  mudou  o  P.  Manuel  da  Nóbrega  os 
filhos  dos  Índios  ao  Campo,  a  uma  povoação  nova,  que  os  índios 
faziam  por  ordem  do  mesmo  Padre  para  receberem  a  fé»  {Cartas  de 
Anchieta  316;  Mon.  Bras.  11  111 ;  Leite,  Posição  histórica  de  Nóbrega  na 
fundação  de  São  Pauto,  in  Brotcria  65  [1957]  287). 
6   Cf.  Mon.  Bras.  1  46-52. 


15.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


73 


por  seu  Bispo,  e  eles  lhe  parecião  incapazes  de  toda  a  dou-  70 
trina  7  por  sua  bruteza  e  bestialidade,  nem  as  tinha  por 
ovelhas  de  seu  curral,  nem  que  Christo  N.  Senhor  se  digna- 
ria de  as  ter  por  tais;  mas  nisto  me  ajude  V.  M.  a  louvar 
a  N.  Senhor  em  sua  providencia,  que  permittio  que  fogindo 
ele  dos  gentios  e  da  terra,  tendo  poucos  desejos  de  morrer  75 
em  suas  mãos,  fosse  comido  deles,  e  a  mym  que  sempre  o 
desejei  e  pedi  a  N.  Senhor,  e  metendo-me  nas  occasiões  mais 
que  ele,  me  íoy  negado.   Ho  que  eu  nisto  julgo,  posto  que 
não  fuy  conselheiro  de  N.  Senhor  8,  hé  que  quem  isto  fez, 
porventura  quis  pagar-lhe  suas  virtudes  e  bondade  grande,  80 
e  castigar-lhe  juntamente  o  descuydo  e  pouco  zelo  que  tinha 
da  salvação  do  gentio.    Castigou-o,  dando-lhe  em  pena  a 
morte  que  ele  não  amava,  e  remunerou-o  em  ela  ser  tam 
gloriosa  como  já  contariam  a  V.  M.  que  ela  íoy,  pois  foy 
em  poder  de  ynfieis  com  tantas  e  tam  boas  circunstancias  85 
como  teve. 

6.  Ho  Bispo,  posto  que  era  muyto  zelador  da  salvação 
dos  christãos,  fez  pouco  porque  era  só,  e  trouxe  consigo 
huns  clérigos  por  companheiros  que  acabarão,  com  seu 
exemplo  e  mal  usarem  e  dispensarem  os  sacramentos  da  90 
Ygreja,  de  dar  com  tudo  em  perdição.  Bem  alembrará  a 
V.  M.  que  antes  que  esta  gente  viesse,  me  dezia:  está  esta 
terra  huma  religião,  porque  peccado  publico  não  se  sabia 
que  logo,  por  o  zelo  de  V.  M.  e  diligencia  de  meus  Irmãos, 
não  fosse  tirado,  e  dos  secretos  retinhamos  ha  absolvição  95 
a  alguns  até  tirarem  toda  occasião  e  perigo  de  tornar  a 


79    conselheiro  corr.  ex  conselhero  ||  8o    pagar-lhe]  pagar-lhes  ms. 


7  Esta  opinião  deve  ter  pesado  também  no  espírito  de  Nóbrega 
para  escrever  o  Diálogo  sobre  a  Conversão  do  Gentio,  onde  a  refuta 
{Mon.  Bras.  li  336-338).  E  aqui  neste  §  5,  está  bem  clara  a  raiz  da  dissi- 
dência entre  o  primeiro  Bispo  e  os  primeiros  Jesuítas:  a  missão  formal 
dos  Padres  da  Companhia  era  a  conversão  dos  índios  e  D.  Pedro  Fernan- 
des não  se  tinha  por  seu  Bispo.  Cf.  Leite,  Cartas  de  Nóbrega  (1955)  319. 

8  «Deus  não  há  mister  conselheiros»,  tinha  dito  no  Diálogo  {Mon. 
Bras.  II  328-329). 


74 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


peccar.  Mas  como  eles  vierâo,  introduzirão  na  [711*]  terra 
estarem  clérigos  e  dignidades  amancebados  com  suas  escra- 
vas, que  pera  esse  effeito  escolhião  as  melhores  e  de  mais 
preço  que  achavão,  com  achaque  que  avião  de  ter  quem  os 
servisse,  e  logo  começarão  a  fazer  filhos  e  fazer-se  criação: 
porque  convinha  muyto  ao  Brasil  aver  quá  este  treslado  de 
dignidades  e  cónegos  9,  como  os  há  em  outras  ygrejas  da 
Christandade  10,  e  não  sem  muyto  descuydo  dos  prelados, 
a  quem  N.  Senhor  castigará  a  seu  tempo.   E  este  lhe  sey 


104    descuydo  corr.  cx  escândalo 


9  Exemplo  destes  «treslados»:  O  cónego  da  Sé  de  Coimbra,  Gon- 
çalo Mendes  de  Sá,  renunciou  a  conezia  em  Henrique  de  Sá,  seu  filho, 
o  qual  por  sua  vez  teve  um  filho,  Ambrósio  de  Sá,  todos  três  cónegos 
sucessivos  da  mesma  Sé  (José  DE  Sousa  Machado,  O  Poeta  do 
Neiva  315-316). 

10  Por  estas  e  outras  frases  do  autor,  se  vê  como  o  animava  intensa- 
mente o  espírito  de  reforma  da  Igreja,  que  preocupava  então  a  Europa, 
insistindo-se  pela  reunião  dum  Concílio  Ecuménico,  que  se  foi  adiando. 
Reuniu-se  finalmente  e  continuava  ainda  em  Trento  quando  Nóbrega 
escrevia.  A  literatura  católica  do  tempo  está  cheia  de  expressões 
reformadoras  mais  fortes  do  que  estas  de  Nóbrega;  e  seria  longo  ilus- 
trá-lo através  de  Erasmo  (o  Elogio  da  Loucura)  ou  de  Gil  Vicente,  no 
Auto  da  Feira,  no  Auto  da  Barca  do  Inferno  e  noutros,  em  particular 
na  Comédia  Sobre  a  divisa  da  Cidade  de  Coimbra  representada  nesta 
cidade  diante  de  D.  João  III  (1527),  em  que  trata  pública  e  directamente 
dos  clérigos  que  «mantém  as  regras  das  vidas  casadas»  e  tinham  filhos, 
parecendo  os  que  os  não  tinham  que  eram  excomungados:  «porque 
sam  leis  dos  antigos  fados  /cousa  na  terra  já  determinada,  /  que  os 
sacerdotes  que  não  tem  ninhada  /  de  clerigozinhos,  sam  escomungados» 
(Gil  Vicente,  Copilaçam  de  todalas  obras  [Lisboa  1562]  CVIr-CVIv). 
O  P.  Tacchi  Venturi  abre  a  sua  história  da  Companhia  de  Jesus  na 
Itália  com  o  estudo  de  «La  vita  religiosa  in  Itália  durante  la  prima  età 
delia  Compagnia  de  Gesú  (1534-1585)» ;  e  ao  tratar  do  clero,  embora 
sempre  houvesse  sacerdotes  exemplares  e  santos,  intitula  alguns  pará- 
grafos da  seguinte  forma:  «inettitudine  pei  sacri  ministeri»;  «licenza 
mostruosa» ;  «preti  degeneri»,  etc.  (Tacchi  Venturi,  Storia  1/1  3."  ed. 
56-62).  Para  o  Brasil,  cf.  Sérgio  Buarque  de  Holanda,  Raises  do 
Brasil  (Rio  de  Janeiro  1936)  84;  Leite,  História  11  510;  Mariz  de 
Morais,  Nóbrega  146  221-222. 


15.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


75 


dizer  que  tem  quá  por  o  milhor  proceder  e  mais  quieto, 
porque  quando  eles  não  tinhão  escravas,  nem  com  que  as 
comprar,  era  pior,  porque  eram  forçados  de  seus  peccados 
a  buscarem-nos  com  escândalo  da  terra  e  de  seus  vezinhos, 
e  porque  já  disto  no  tempo  de  V.  M.  avia  muyto  e  muy  no 
notório,  me  dezia  muytas  vezes:  milhor  nos  fora  que  não 
vierão  quá. 

7.  Começarão  também  de  usar  de  suas  ordens  e  dis- 
pensar os  sacramentos  e  desatar  as  ataduras  com  que  nós 
detinhamos  as  almas,  e  a  dar  jubileos  de  condenação  e  115 
perdição  às  almas,  dando  o  sancto  ha  cãis  e  as  pedras  pre- 
ciosas a  porquos  n,  que  nunca  souberão  sair  do  lodo  de 
seus  peccados,  polo  qual  não  somente  os  maos,  mas  algum 
bom,  se  o  avia,  tomou  liberdade  de  ser  tal  qual  sua  má 
ynclinaçâo  lhe  pedia.  E  asi  está  agora  a  terra  nestes  ter-  120 
mos,  que  se  contarem  todas  as  casas  desta  terra,  todas 
acharão  cbeas  de  peccados  mortais,  cheas  de  adultérios, 
fornicações,  yncestos  e  abominações,  em  tanto  que  me 
deito  a  cuydar  se  tem  Christo  algum  limpo  nesta  terra, 

e  escasamente  se  offerece  hum  ou  dous  que  guardem  125 
bem  seu  estado,  ao  menos  sem  peccado  publico.  Pois  dos 
outros  peccados  que  direi?  Nam  há  paz,  mas  tudo  odio, 
murmurações  e  detrações,  roubos  e  rapinas,  enganos  e 
mentiras;  não  há  obediência  nem  se  guarda  hum  soo  man- 
damento de  Deus  e  muyto  menos  os  da  Ygreja.  130 

8.  Bem  alembrará  a  Vossa  Mercê  que,  vendo  eu  isto 
logo  em  seu  principio,  cuydei  de  dor  perder  o  siso,  e  asy 
como  desesperado  de  poder  na  terra  nem  com  christãos  nem 
com  gentio  fazer  fructo,  me  fuy  com  V.  M.  a  Sant  Vicente, 
correndo  a  costa,  desabrindo  a  mão  de  tudo,  encomen-  135 
dando  a  Deus  a  Baya  e  a  seu  Prelado,  e  somente  ficou 


110  e2  bis  ||  I2i  contarem  dei.  que  se  contarem  |  casas  corr.  e.r  causas  ||  128  murmu- 
rações corr.  ex  murmuracioncs 


11    Cf.  Mat.  7,  6. 


76 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


hum  Padre  na  casa  com  hum  Irmão 12  ou  dous 15  pera 
ensinarem  dous  14  meninos  e  olharem  por  ella. 

9.  Pola  costa  que  corremos  achamos  asaz  de  misérias 
140  e  peccados  que  chorar,  até  achegar  a  S.  Vicente,  onde  por 

eu  ah}^  achar  Irmãos  da  Companhia  e  muytos  meninos  do 
gentio  em  casa  e  algum  pouco  milhor  aparelho  pera  com  o 
gentio  entender  15,  por  achar  ahy  Irmãos  que  entendião  a 
lingoa  e  o  gentio  menos  escandalizado  dos  christãos,  me 
145  deixei  ficar  e  V.  M.  se  tornou  em  paz. 

10.  Nesta  Capitania  se  fez  algum  fructo,  posto  que 
muyto  à  força  de  braço,  porque  N.  Senhor  favorecia  a  sal- 
vação de  alguns  predestinados  que  tinha,  que  outra  ajuda 
nenhuma  não  tinhamos,  porque  geralmente  nesta  terra 

150  todos  são  pera  estorvar  o  serviço  [71V]  de  Nosso  Senhor, 
e  hum  só  se  não  acha  pera  favorecer  ho  negocio  de  salvar 
almas. 

11.  Em  todas  estas  Capitanias,  alem  destes  peccados 
que  tenho  dito,  notei  outros  que  muyto  mais  que  todos 

155  offendem  a  divina  Bondade  e  mais  lhe  atirão  de  rostro, 
porque  sam  contra  a  charidade,  amor  de  Deus  e  do  pró- 
ximo.  E  estes  peccados  tem  sua  raiz  e  principio  no  odi 
geral  que  os  christãos  tem  ao  gentio,  e  não  somente  lh 
avorecem  os  corpos,  mas  também  lhes  avorecem  as  almas, 

160  e  em  tudo  estorvão  e  tapão  os  caminhos  que  Christo 
N.  Senhor  abrio  pera  se  elas  salvarem,  os  quais  direi  a 
V.  [M.],  pois  já  comecei  a  lhe  dar  conta  de  minha  dor. 

12.  Em  toda  a  costa  se  tem  geralmente,  por  grandes 
e  pequenos,  que  hé  grande  serviço  de  N.  Senhor  fazer  aos 


14a    pera  dei.  q  ||  155    atirão  corr.  ex  tirão  ||  161    se  sup. 


12  O  Padre  era  Salvador  Rodrigues  e  o  Irmão  Vicente  Rodrigues 
(Leite,  Aries  e  ofícios  dos  Jesuítas  tio  Brasil  253). 

13  Estava  também  Domingos  Anes  «Pecorela»  (ib.  121). 

14  Quando  chegou  o  P.  Luís  da  Grã  (13  de  Julho  de  1553)  já 
achou  em  casa  Pedro  de  Góis,  talvez  um  destes  dois  meninos  {Mon. 
Bras.  11  144). 

15  Cf.  «Diálogo  sobre  a  Conversão  do  Gentio»  {ib.  II  341). 


15.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


77 


gentios  que  se  comão  e  se  travem  huns  cora  os  outros,  e  165 
nisto  tem  mais  esperança  que  em  Deus  vivo,  e  nisto  dizem 
consistir  o  bem  e  segurança  da  terra,  e  isto  aprovão  capi- 
tais e  prelados,  eclesiásticos  e  seculares,  e  asi  o  põem  por 
obra  todas  as  vezes  que  se  offerece;  e  daqui  vem  que,  nas 
guerras  passadas  que  se  tiverão  com  o  gentio,  sempre  170 
da[v]am  carne  humana  a  comer  não  somente  a  outros 
yndios,  mas  a  seus  próprios  escravos.  Louvão  e  aprovão 
ao  gentio  o  comerem-se  huns  a  outros,  e  já  se  achou 
christão  mastigar  carne  humana  pera  dar  com  isso  bom 
exemplo  ao  gentio.  175 

13.  Outros  matam  em  terreiro  hà  maneira  dos  Yndios, 
tomando  nomes,  e  não  somente  o  fazem  homens  baixos  e 
mamalucos,  mas  o  mesmo  capitão,  às  vezes!  O  cruel  cus- 
tume !  O  deshumana  abominação!  O  christãos  tam  cegos, 
que  em  vez  de  ajudarem  ao  Cordeiro,  cujo  ofíicio  foy  (diz  180 
S.  Joam  Baptista)  tirar  os  peccados  do  mundo  16,  elles  por 
todos  os  modos  que  podem  os  metem  na  terra,  siguindo  a 
vandeira  de  Lúcifer,  homicida  e  mentiroso  desde  o  princi- 
pio do  mundo  17.  E  não  hé  muyto  que  siguâo  a  seu  capi- 
tão gente  que  não  sei  se  algum[a]  ora  do  ano  está  sem  pec-  185 
cado  mortal. 

14.  Alembra-me  que  o  ano  passado  disputei  em  dereito 
esta  opinião  e  amostrei  sua  falsidade  por  todas  as  rezões 
que  soube  18  e  o  mandei  a  meus  Irmãos  pera  se  ver  por 
letrados.  190 


170   tiverão]  teverão  ms.  \  com  sup.  ||  185   gente  sup. 


16  Ioan.  r,  29. 

17  Ioan.  8,  44.  Cf.  «Diálogo»  {Mon.  Bras.  II  336). 

18  Cf.  supra,  carta  do  P.  Miguel  de  Torres  a  Nóbrega,  12  de  Maio 
de  1559  (carta  8  §  1):  «Aqui  vino  a  San  Roque  un  flayre  el  qual  dize 
que  V.a  R.a  hizo  un  libello  contra  él».  Pelo  que  se  expõe,  nesta  carta 
de  Nóbrega,  §§  11-13,  0  libelo  devia  versar  não  apenas  sobre  a  antropo- 
fagia, proibida  por  direito  natural,  mas  sobre  o  matar  em  terreiro  à 
moda  dos  índios,  e  sobre  cristãos  que,  embora  não  comessem  carne 
humana,  a  davam  a  comer  a  outros  Índios  e  aos  seus  escravos.  Não  se 
pode  inferir  quem  fosse  este  «frade».  Mas  já  em  1550,  em  Porto  Seguro, 


78 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


15.  Deste  mesmo  odio  que  se  tem  ao  gentio,  nasce  não 
lhe  chamarem  senão  cãis  e  tratare[m]-nos  como  cãis  19,  não 
olhando  o  que  dizem  os  Sanctos  que  a  verdadeira  justiça 
tem  compaixão  e  não  yndignaçâo,  e  quanto  mayor  hé  a 

195  cegueira  e  bruteza  do  gentio  e  sua  erronia,  tanto  se  mais 
avia  o  verdadeiro  christão  apiadar  a  ter  dele  misericórdia 
e  ajudar  a  remediar  sua  miséria  quanto  nelle  fosse,  à  imi- 
tação daquele  Senhor,  qui  venit  quaerere  ovem  quae  perie- 
rat  deixando  as  noventa  e  nove  no  deserto  20;  et  manduca- 

200  bat  cum  peccatoribus  et  publicanis  21 ;  o  que  veio  a  buscar 
não  justos  mas  peccadores  pera  salvar  22;  et  venit  quaerere 


198-199    perierat  corr.  ex  periearat 


fala  Nóbrega  do  «religioso  sacerdote»,  que  levou  um  dia  um  índio  prin- 
cipal ao  seu  contrário  para  que  o  matasse  e  comesse  {Mon.  Bras.  I  164). 
A  qualidade  (frade)  e  o  assunto  identificam  a  pessoa,  e  pelo  que  diz 
no  §  13  o  facto  criou  doutrina:  a  esta  doutrina  se  opôs  o  zelo  e  o  espí- 
rito apostólico  do  Jesuíta.  Se  no  Brasil  a  maioria  do  Clero  não  estava 
à  altura  das  suas  sagradas  funções,  dos  frades  egressos  não  se  podia 
esperar  mais.  Como  se  sabe,  no  Brasil  não  havia  então  casas  religiosas 
senão  as  dos  Jesuítas.  Tratava-se,  portanto,  de  frade  egresso,  uma  das 
pragas  da  Igreja  universal  naquele  tempo,  e  que  denuncia  Gian  Pietro 
Caraffa,  futuro  Papa  Paulo  IV,  ao  Papa  Clemente  VII  (1523-1534): 
«S.a  S.,a  sappia» —  diz  —  «che  qualunque  siano  stati  gli  apostati  per  il 
tempo  passato  (quali  però  sempre  si  legge  che  siano  stati  pessimi,  e 
SanfAgostino  giura  di  non  haver  visto  peggior  huomini  di  loro),  piú 
hoggi  di  si  vede  questo,  che  tutti  coloro  che  apostatano  dalli  chiostri, 
apostatano  ancora  dalla  fede;  talchè  non  vi  è  altri  fondatori,  defensori 
e  propagatori  dell'heresia  piú  che  sono  loro ;  e  vanno,  chi  con  habito 
di  prete  secolare,  chi  da  laico,  penetrando  le  case  et  infettando  li 
monasterii  di  monache  e  per  tuto>»  [...].  «Li  quali,  entrati  come  lupi 
in  quelle  chiese  et  nella  cura  dell'anime,  fanno  quello  stratio  dei  sangue 
di  Christo  e  di  sua  santa  fede,  quel  mercato  delli  sacramenti  (li  quali 
però  non  credono)  e  delle  povere  anime,  che  non  è  língua  che  lo  potesse 
esprimere».  O  documento  continua;  e  traz  outros  Tacchi  Venturi, 
Storia  1/1  3-a  ed.  73-74.  Cf.  Leite,  Breve  Itinerário  131-132. 

19  Cf.  Diálogo  {Mon.  Bras.  11  321)  na  exposição  das  objecções. 

20  Mat.  18,  11-12. 

21  Mat.  9,  11. 

22  Mat.  9,  13. 


15.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


79 


et  salvura  facere  quod  perierat23;  e  disse:  Beati  misericor- 
des,  quoniam  ipsi  misericordiam  consequentur  24 .  E  apia- 
dou-se  do  roubado  e  ferido  dos  ladrõis25;  deixado  deles 
meo  morto  no  deserto,  o  qual  estes  sacerdotes  e  levitas  205 
desta  terra  deixão,  passando  sem  delle  fazer  caso  nem  usa- 
rem de  misericórdia  com  ele. 

16.  [72r]  Outro  peccado  nasce  também  desta  ynfernal 
raiz,  que  foy  ensinarem  os  christãos  ao  gentio  a  furtaren-se 

a  sy  mesmos  e  venderen-se  por  escravos.    Este  custume,  210 
mais  que  em  nenhuma  Capitania,  achei  no  Spirito  Sancto, 
Capitania  de  Vasco  Fernandez,  e  por  aver  aly  mais  disto 
se  tinha  por  milhor  Capitania  26. 

17.  Em  Sant  Vicente  não  usão  isto  aqueles  gentios 
Topinachins ;  mas  os  christãos  de  Sant  Vicente  no  Rio  de  215 
Janeiro  avião  do  gentio  do  Gato  muytas  fêmeas  que  pedião 
por  molheres  dando  a  seus  pais  algum  resgate,  mas  elas 
ficavão  escravas  para  sempre.  Em  Pernambuquo  há  tam- 
bém muyto  trato  deste,  principalmente  despois  das  guerras 
passadas,  que  os  Yndios,  por  mais  não  poderem,  davâo.  220 

18.  Ho  mesmo  se  yntroduzio  nesta  Baya  em  tempo  de 
Dom  Duarte27,  porque  aynda  em  tempo  de  V.  M.  não  avia 
disto  nada,  e  isto  despois  da  guerra  passada,  da  qual  os 
Yndios  ficarão  medrosos  e  por  medo  e  sobjeição  dos  chris- 
tãos, e  também  por  cobiça  do  resgate,  vendem  os  mais  225 
desamparados  que  há  entre  eles.  Os  de  Porto  Seguro  e 
Ylheos  nunca  se  venderão,  mas  os  christãos  lhes  ensina- 
rão que  aos  do  sartão,  que  vinhão  a  fazer  sal  ao  mar,  os 


204  roubado  corr.  ex  robado||2l6  do  Gato  sup.\\23)  sobjeição]  sobijidão  ins.  lin. 
subducta 


23  Luc.  19,  10. 

24  Mat.  5,  7. 

25  Luc.  10,  30-32. 

26  No  «Caso  de  Consciência»  de  1567,  Nóbrega  nega  que  esses,  da 
Capitania  de  Vasco  Fernandes  Coutinho,  pudessem  ser  escravos  (Leite, 
Cartas  de  Nóbrega  [1955]  424). 

27  D.  Duarte  da  Costa. 


80 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


salteassem  e  vendessem,  e  asy  se  pratica  lá  os  do  mar 
230  venderem  aos  do  sertão  quantos  podem,  porque  lhes  parece 
bem  ha  rapina  que  os       stãos  lhe  ensinarão. 

19.  E  porque  ist  -  >  geral  trato  de  todos,  me  conveo 
cerrar  as  confissões,  potque  ninguém  quer  nisso  fazer  o 
que  é     rigado,  e  tem  toda  a  outra  clerizia  que  os  absolve 

235  e  lho  ova. 

20.  Desta  mesma  raiz  nasce  darem-se  pouco  os  chris- 
tãos  pola  salvação  dos  escravos  que  tem  do  gentio,  dei- 
xando-os  viver  em  sua  ley,  sem  doutrina  nem  ensino,  em 
muytos  peccados;  e  se  morrem  os  enterrão  nos  monturos, 

240  porque  deles  não  pretendem  mais  que  o  serviço,  e  pera 
terem  mais  quem  os  sirva  trazem  gentios  a  casa  pera  se 
contentarem  de  suas  escravas,  e  assy  estão  amancebados 
christãos  com  gentios. 

21.  E  porque  não  aja  peccado  que  nesta  terra  não  aja, 
245  tamv  m  topei  com  opiniões  luteranas  e  com  quem  as  def- 

fenc1  se,  porque,  já  que  não  tinhamos  que  fazer  com  o  gen- 
tio çjn  lhe  tirar  suas  erróneas  por  argumentos  2S,  tivéssemos 
hereses  com  que  disputar  e  defender  a  fé  catholica  29. 

22.  Pois  que  direi  das  tyranias,  agravos  e  sem-rezões 
250  que  se  fazem  aos  Yndios,  mayormente  nesta  Capitania  e 

outras  donde  os  christãos  tem  algum  dominio  sobre  os 
Yndios?  V.  M.  as  poderá  julgar,  pois  já  quá  esteve:  de 
ma  eira  que  a  sobjeição  do  gentio  não  hé  pera  se  salvarem 
e  '  ihecerem  a  Christo  e  viverem  em  justiça  e  rezão,  senão 
255  p(  serem  roubados  de  suas  roças,  de  seus  filhos  e  filhas 
e  ,  aòlheres,  e  desa  pobreza  que  tem,  e  quem  disso  usa  mais, 


353    sobjeiçio  lin.  subd. 


28  Cf.  «Diálogo»  (Mon.  Eras.  II  322  326-327). 

29  Cf.  infra,  doe.  32  (Bolés);  J.  P.  Leite  Cordeiro,  Padre  Manuel 
da  Nóbrega,  in  Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  de  São 
Paulo  49  (1949)  19.  As  «opiniões  luteranas»,  de  que  fala  o  texto,  enten- 
dam-se  opiniões  protestantes  em  geral,  não  especificamente  luteranas. 
Pelo  doe.  32  se  verá  que  eram  sobretudo  opiniões  calvinistas,  que 
diferem  das  luteranas. 


13.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


BI 


maior  serviço  lhe  parece  que  faz  a  Nosso  Senhor,  ou,  por 
milhor  dizer,  a  seu  senhor,  o  príncipe  das  escuridades  30. 
Muy  mal  olhão  que  a  yntenção  nosso  Rey  sancto  31,  que 
está  em  gloria,  não  íoy  povoar  -  por  esperar  da  terra  260 
ouro  nem  prata  que  não  ha  tet«*j  nem  tanto  polo  ynte- 
resse  de  povoar  e  fazer  emgenhos,  nem  por  ter  c  *de  aga- 
salhar os  portugueses  que  lá  em  Portugal  sobejão  e  não 
cabem,  quanto  por  exaltação  da  fé  catholica  e  salvação  das 
almas32.  265 

23.  Í72V]  Mas,  pois  V.  M.  ouvio  os  pecados  da  terra, 
ouça  agora  o  cuydado  que  teve  a  divina  Justiça  de  os  cas- 
tigar. Ha  Capitania  do  Spiritu  Sancto,  onde  mais  reinava 
a  yniquidade  dos  Christãos  e  onde  os  Yndios  estavão  mais 
travados  entre  si  com  guerras,  porque  vissem  que  sua  espe-  270 
rança,  que  tinhão  nos  Yndios  estarem  differentes,  não  era 
boa,  permittio  N.  Senhor  que  se  destruisse  por  guerra  dos 
Yndios,  morrendo  nela  os  principais,  como  foy  Dom  Jorge  33 
e  Dom  Simão  34  e  outros,  e  todos  perderem  com  isso  suas 
fazendas;  e  a  terra,  despois  que  de  novo  se  tornou  a  povoar,  27^ 
sem  aver  emenda  do  passado,  não  deixa  a  vara  do  Senhor 
de  castigar,  porque  poucos  a  poucos  os  vay  consumindo,  e 
misericórdia  hé  do  Senhor  muy  grande  que  de  todo  os 
não  destrue;  mas  não  tem  quietação  com  guerras  e  sobre- 
saltos  até  agora  de  yndios  e  agora  de  francesses,  e  os  Topi-  280 
nachins  de  Porto  Seguro,  que  tinhão  por  sy  e  achegavão  lá, 
tem  agora  levantados.  E  nestes  trabalhos  pereceo  Berr  Ido 

  A.  í 

2Ó4    fé  dei.  cahol  ||  266    Mas  corr.  ex  Mais  ||  275    despois  que  corr.  ex  que  de'  ois 


30  Cf.  Eph.  6,  12. 

31  D  João  III. 

32  Cf.  Preâmbulo  do  Regimento  de  Tomé  de  Sousa  (Leite,  Histó- 
ria 11  141 ;  Mon.  Bras.  I  5). 

33  D.  Jorge  de  Meneses  (Caliion,  História  do  Brasil  I  192-193). 

34  D.  Simão  de  Castelo  Branco  (ib.  I  192).  Estes  dois  fidalgos  per- 
tencem ao  primeiro  período  da  Capitania  antes  «que  de  novo  se  tornou 
a  povoar»,  como  diz  Nóbrega  e  esclarece  G.  Soares  de  Sousa,  Tra- 
tado descriptivo  78. 


6 


82 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


Pimenta35  e  Manoel  Ramalho30,  que  erão  os  que  mais  zela- 
vão  contra  o  gentio,  que  V.  M.  bem  conheceo:  e  sobretudo 

285  de  contino  tem  guerras  civis  antre  sy,  que  pouco  a  pouco  se 
consumem,  e  pirmitio  a  justiça  divina,  a  qual  faz  seu  oíficio. 

24.  Esta  Capitania  da  Baya  me  parece  que  tem  o 
segundo  lugar  na  maldade,  e  os  peccados  desta  se  pare- 
cem mais  com  os  daquella,  porque  aqui  há  o  menos  gen- 

290  tio  que  em  nenhuma,  e  esse  se  dividio  em  tempo  de  V.  M. 
antre  sy',  mas,  porque  nella  avia  os  peccados  que  bem 
sabe,  foy  destruyda  e  seu  capitão  Francisco  Pereira  37 
comido  dos  Yndios.  E  despois  que  El-Rey,  que  está  em 
gloria,  ha  tornou  a  povoar  com  tanto  zelo  e  con  tanto 

295  custo,  mandando  a  V.  M.  a  lançar  bons  fundamentos  na 
terra,  e  Bispo  e  clérigos  e  religiosos  pera  fazerem  serviço 
a  Nosso  Senhor,  e  pera  que  todos  entendêssemos  em  curar 
esta  Babilónia.  Mas  ela  não  ficou  curada.  Mas  permittio 
o  Senhor  que  fosse  huma  nao  que. levava  [o]  Bispo  e  a  prin- 

300  cipal  gente  da  terra  e  fosse  toda  comida  dos  Yndios.  Ali 
acabarão  clérigos  e  leigos,  casados  e  solteiros,  molheres  e 
meninos!  Aynda  escrevendo  isto  se  me  renova  a  dor  que 
tive  quando  vi  que  não  avia  casa  em  que  não  ouvesse 
prantos  de  muytas  viuvas  e  órfãos  3S. 

305  25.  Pernâobuco  também  por  seus  peccados  foy  muy 
castigado  e  muytas  fazendas  perdidas,  como  hé  notório  39. 


35  Bernardo  Sanches  Pimenta,  cuja  morte  deve  ter  sido  recente, 
«agora»,  porque  a  20  de  Janeiro  de  1558  ainda  tinha  sido  padrinho  dum 
filho  do  «Gato  Grande*  {Mon.  Bras.  II  372;  Leite,  História  1*234-235). 

36  Manuel  Ramalho,  morador  do  Espirito  Santo,  possuía  terras 
confinantes  com  as  doadas  ao  Colégio  de  Santiago  em  1552  (ib.  225). 

37  Francisco  Pereira  Coutinho,  primeiro  Donatário  da  Capitania  da 
Baía,  foi  morto  pelos  Índios  em  1547,  segundo  Calmon,  História  do 
Brasil  1  181. 

38  O  morticínio  foi  nos  meados  de  Junho,  mas  quando  Nóbrega 
chegou  à  Baía  no  mês  seguinte  a  30  de  Julho  de  1556,  ainda  era  igno- 
rado (Leite,  Breve  Itinerário  123;  Mon.  Bras.  11  310).  Também  do 
texto  desta  carta  se  infere  que  Nóbrega  já  estava  presente  ao  divul- 
gar-se  a  terrível  notícia. 

39  Cf.  Calmon,  História  do  Brasil  1  165-166  1.69. 


15.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


83 


26.  Sant  Vicente,  da  mesma  maneira,  sempre  perse- 
guida dos  contrairos,  e  em  numa  guerra  que  com  elles 
tiverão  morrerão  os  principais  nella,  mas  não  permittio  o 
Senhor  que  de  todo  se  perdesse,  tendo  hum  gentio  tam  310 
grande  e  tam  unido,  sem  aver  antre  elle  as  divisões  que 

há  no  das  outras  Capitanias;  mas  porque  também  não 
conhece  o  dia  de  sua  visitação,  hé  cercada  de  todas  as 
partes  de  seus  ynimigos,  scilicet,  contrairos  e  franceses  40. 

27.  Pois  que  direi  da  Capitania  dos  Ylheos  e  Porto  315 
Seguro,  as  quais  também  tem  hum  só  gentio  todo  con- 
forme e  grande?    A  estas  duas  Capitanias  dilatou  mais 

N.  Senhor  o  castigo,  mas  agora  achegou  o  tempo  em  que 
pagou  alguma  cousa  do  que  deve,  e  disto  direi  abaixo 
mais  largo.  320 

28.  Deixo  de  dizer  hum  geral  açoute,  que  cada  dia 
vemos  nesta  terra  com  perdas  de  barquos  e  gente  comida 
dos  Yndios,  a  qual  [73r]  por  experiência  vejo  ser  mais  a 
que  nisso  se  gasta,  que  a  que  se  de  novo  acrecenta  à  terra. 

E  disto  poderá  contar  muytas  particularidades,  as  quais,  325 
asy  porque  Vossa  Mercê  sabe  já  muytas,  como  por  vir  a 
outras,  que  ma[i]s  folgará  de  saber  por  serem  de  mais 
perto,  as  deixarei  de  dizer. 

29.  E  todavia  não  deixarei  de  relatar  ho  açoute  de 
Nosso  Senhor  que  deu  a  esta  Baya  nas  guerras  civis  41,  330 
que  permittio  que  ouvesse  antre  o  Bispo  e  Governador 
Dom  Duarte,  ho  qual  eu  não  tenho  por  o  mais  somenos 
castigo,  e  que  mais  dano  fizeram  na  terra  que  as  guerras 
que  se  teve  com  o  gentio,  porque  naquellas  não  morreu 
nenhum  home,  e  nestas  se  engendrou  a  morte  a  muytos  335 


318    Prius  chegou  |J  321    dia  sup. 


40  Contrários,  isto  é,  Tamoios ;  e  Franceses,  que  desde  1555  se  esta- 
beleceram no  Rio  de  Janeiro  (Leite,  História  1  364;  Mon.  Bras.  11  51*). 

41  Cf.  Van  der  Vat,  Princípios  344  ss.,  Cap.  VIII:  «Guerras  civis» 
e  eclesiásticas,  onde  as  duas  palavras,  entre  aspas,  são  desta  carta  de 
Nóbrega. 


84 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


e  perderão  a  honrra  e  fazenda,  e  a  terra  perdeo  muytos 
povoadores. 

30.  E  nisto  note  V.  M.  a  bondade  de  N.  Senhor,  junta- 
mente com  sua  justiça,  que  de  tal  maneira  castigou,  que 

340  também  ouve  misericórdia:  não  quis  que  os  Yndios  preva- 
lecessem contra  os  christãos,  porque  tem  almas  suas  cria- 
turas que  salvar  antre  elles,  e  da  guerra,  bem  dada  ou  mal 
dada,  soube  tirar  este  bem,  que  os  Yndios  ficassem  sobjei- 
tos  e  medrosos  e  despostos  pera  agora  receber  o  Evange- 

345  lho,  e  a  doutrina  de  Christo  poder  entrar  com  eles,  como 
abaixo  direi,  e  contentou-se  seu  furor  com  levar  aqueles 
cento  a  ser  comidos  dos  Yndios. 

31.  Estando  eu  em  Sant  Vicente  e  sabendo  a  victoria 
dos  christãos  42  e  sobjeição  do  gentio  e  que  ao  Bispo  man- 

350  davão  yr,  parecendo-me  que  já  se  poderia  trabalhar  com 
ho  gentio  e  tirar  algum  fructo,  me  tornei  a  esta  Cidade 
trazendo  comigo  alguns  Hirmãos  que  soubessem  a  lingoa 
da  terra.  E  antre  outras  cousas,  que  pedi  a  Dom  Duarte 
governador  pera  bem  da  conversão,  forâo  duas,  scilicet, 

355  que  ajuntasse  algumas  aldeãs  em  huma  povoação,  pera 
que  menos  de  nós  abastassem  a  ensinar  a  muytos,  e 
tirasse  ho  comer  carne  humana,  ao  menos  àqueles  que 
estavão  sobjeitos  e  ao  derredor  da  Cidade,  tanto  quanto 
seu  poder  se  extendesse.  Não  lhe  pareceo  a  ele  bem,  nem 

360  a  seu  conselho,  porque  Sua  Alteza  lhe  tinha  mandado  que 
desse  paz  aos  Yndios  e  não  os  escandalizasse:  mas  todavia 
nos  favoreceo  em  duas  ygrejas  que  fizemos  de  palha43,  das 
quais  se  visitavão  quatro  Aldeãs  aqui  perto  da  Cidade,  e 
lhes  mandou  que  não  comessem  carne  humana,  de  tal 

365  maneira  que,  ainda  que  a  comessem,  não  se  fazia  por  isso 


346   contentou-se]  contentó-sse  >«s. 


42  Na  «Guerra  de  Itapuã»  (1555).  Cf.  Calmon,  História  do  Bra- 
sil I  256. 

43  As  duas  Aldeias  do  Rio  Vermelho  e  do  Tubarão  (S.  Sebastião) 
datam  de  1556,  portanto  do  tempo  de  D.  Duarte  da  Costa  (LEITE,  His- 
tória II  49-50;  Mon.  Bras.  11  268-269  271). 


13.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


85 


nada,  e  asy  ha  comião  a  furto  de  nós  e  polias  outras 
Aldeãs  ao  derredor,  muy  livremente. 

Nós,  por  ter  que  fazer  alguma  cousa,  ensinávamos  a 
doutrina;  avia  escola  de  mininos  em  cada  huma  destas 
duas  ygrejas;  pregávamos  ho  Evangelho  com  muyta  des-  370 
con[so]lação,  pedindo  a  Nosso  Senhor  que  alguma  ora 
tivesse  por  bem  que  nosos  trabalhos  não  fossem  sem 
fructo.  Neste  tempo  44  nos  levou  N.  Senhor  ao  nosso 
companheiro  o  Padre  Navarro,  que  era  hum  grande  ope- 
rário desta  obra,  e  como  tinha  atravessado  nas  entranhas  375 
ho  zelo  e  amor  da  conversão  do  gentio  usque  in  finem 
dilexit  eos  45,  porque  morrendo  disse  que  por  isso  somente 
partia  triste  deste  mundo,  por  não  ver  compridos  seus 
desejos. 

32.    Mas  eu  creo  que  N.  Senhor  ouvio  lá  suas  orações  380 
mais  perto,  e  con-[73v]cede-nos  que  dahi  a  pouco  tempo 
viesse  Men  de  Sá  com  hum  Regimento  46  de  Sua  Alteza, 
em  que  ho  mandava  muy  de  preposito  ajudar  a  conversão, 


369    Priits  escolas  ||  370    duas]  dous  ms. 


44  30  de  Abril  de  1557  (Leite,  Aries  e  Ofícios  dos  Jesuítas  no  Bra- 
sil 123). 

45  Cf.  Ioan.  13,  1. 

46  Regimento  «mui  copioso  e  abundante»,  como  já  dissera  Nóbrega 
na  carta  de  8  de  Maio  de  1558  {Mon.  Bras  11  450).  Deste  Regimento, 
a  parte  tocante  a  sesmarias  vem  transcrita  num  documento  de  1561,  do 
Tombo  das  Terras  pertencentes  à  Igreja  de  Santo  Antão  da  Companhia 
de  Jesus,  in  Documentos  Históricos  63  (1944)  34;  e  já  antes,  numa  dada 
de  terras,  por  Mem  de  Sá,  a  Fernão  Rodrigues  de  Castelo  Branco,  na 
Baía,  a  20  de  Agosto  de  1559,  e  ainda  outro,  relativo  às  armas  que 
deviam  ter  os  Capitães  das  Capitanias  e  os  Senhores  de  Engenho  nas 
respectivas  casas  fortes.  Neste  capítulo  das  armas  fala-se  de  António 
Cardoso  de  Barros  como  de  pessoa  viva:  que  «ora  serve  de  Prove- 
dor-mor»  (Doe.  Hist.  63  [1944]  72-75).  Barros  foi  morto  pelos  índios 
a  16  de  Junho  de  1556  e  a  notícia  não  deve  ter  chegado  a  Lisboa  antes 
da  nomeação  de  Mem  de  Sá  para  Governador  do  Brasi],  a  23  de  Julho 
de  1556,  em  que  já  se  alude  aos  «Regimentos»  que  Mem  de  Sá  levava 
(Sousa  Viterbo,  in  O  Instituto  43  [Coimbra  1896]  335-336).  Documento 
importante,  hoje  perdido  ou  de  paradeiro  desconhecido. 


86 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


por  paz  ou  por  guerra,  ou  como  mais  conveniente  fosse. 

385  E  agora  começarei  a  contar  ho  estado  desta  terra  mais 
pello  meudo  se  V.  M.  tiver  paciência  pera  o  ovir,  porque 
ho  dito  até  agora  foy  relatar  cousas  e  trazê-las  à  memoria, 
que  V.  M.  já  saberia. 

Como  Mem  de  Sá  tomou  a  governança,  começou  a  mos- 

390  trar  sua  prudência,  zelo  e  virtude,  asy  no  boom  governo 
dos  christãos  como  do  gentio,  pondo  tudo  na  ordem  que 
N.  Senhor  lhe  ensinou.  Primeiramente,  cortou  as  longas 
demandas  que  avia,  concertando  as  partes,  e  as  que  de 
novo  nascião  atalhava  da  mesma   maneira,  ficando  as 

395  audiências  vazias  e  os  procuradores  e  escrivãis  sem  ganho, 
que  era  huma  grande  ymmundicia  que  comia  esta  terra 
e  fazia  gastar  mal  o  tempo  e  engendrava  ódios  e  paixões. 
Tirou  quanto  pode  o  jogo,  que  era  outra  traça,  fazendo  a 
todos  entender  em  seus  trabalhos  com  fructo  e,  evitado 

400  este,  se  evitarão  muytas  offensas  de  N.  Senhor,  como  blas- 
phemias  e  rapinas  que  na  terra  avia;  finalmente,  mos- 
trou-se  muy  diligente  em  todo  o  que  pertencia  a  serviço 
de  Deus  e  d'El-Rey.  Acabou  o  Engenho,  e  acabará  cedo 
a  See,  e  com  ho  exemplo  de  sua  pessoa  convida  a  todos  a 

405  boom  viver,  de  tal  maneira  que  sabe  N.  Senhor  quanta 
enveja  lhe  eu  tenho. 

33.  Na  conversão  do  gentio  nos  ajudou  muyto,  porque 
fez  logo  ajuntar  quatro  ou  cinco  Aldeãs  que  estavão  dar- 
redor  da  Cidade,  em  huma  povoação  junto  ao  Rio  Verme- 

410  lho,  onde  pareceo  mais  conveniente,  pera  que  toda  esta 
gente  podesse  aproveitar-se  das  roças  e  mantimentos  que 
tinhão  feitos,  e  aqui  mandou  fazer  huma  ygreja  grande, 
em  que  coubesse  toda  esta  gente,  a  que  chamão  Sant 
Paulo  4;.    Mandou  apregoar  por  toda  a  terra,  scilicet,  oito 

415  e  nove  legoas  ao   derredor,  que  não  comessem  carne 


388  saberia  corr.  ex  saberá  ||  389  Prius  comeoçou  ||  401-403  mostrou-se]  mos- 
tró-sse  >«s.  ||  408    ou]  o  »«s. 


47    Leitf,  História  n  51. 


15.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


87 


humana,  e  por  se  amostrar  ao  gentio  foy  ouvir  a  primeira 
missa  dia  de  S.  Paulo,  acompanhado  de  todos  os  principais 
da  terra,  e  naquele  dia  se  baptizarão  muytos,  onde  deu  a 
todos  de  comer  grandes  e  pequenos ;  esta  será  huma  legoa 
da  Cidade.  Outra  ygreja  mandou  logo  fazer,  de  S.  Joam  420 
Evangelista  48,  quatro  ou  cinco  legoas  da  Cidade  onde  se 
ajuntarão  outras  tantas  Aldeãs  do  gentio  de  Mirangaoba. 
A  terceira  mandou  fazer  onde  chamão  o  Rio  de  Joanne, 
esta  se  chama  Sant  Spiritus  49;  aqui  há  mais  gente  junta 
que  em  todas:  está  sete  ou  oito  legoas  da  Cidade,  perto  da  425 
costa  do  mar.  Nestas  tres  ygrejas  se  faz  agora  muyto  ser- 
viço a  Nosso  Senhor,  e  o  gentio  vay  conhecendo  que  só  a 
Jesu  Christo  se  deve  crer,  amar  e  servir. 

34.  As  cousas,  que  nisto  há  particulares  pera  muyto  dar 
graças  a  Nosso  Senhor,  faço  eu  escrever  a  meus  Irmãos;  430 
se  muyto  desejo  tiver  [741*]  de  as  saber,  elles  lho  dirão  lá. 

35.  En  todas  há  escola  50  de  muytos  meninos;  pequeno 
nem  grande  morre  sem  ser  de  nós  examinado  se  deve  ser 
baptizado,  e  asy  N.  Senhor  vay  ganhando  gente  pera 
povoar  sua  gloria  e  a  terra  se  vai  pondo  em  sobjeição  435 
de  Deus  e  do  Governador,  o  qual  os  faz  viver  em  justiça 

e  rezão,  castigando  os  delinquentes  com  muyta  moderação, 
com  tanta  liberdade  como  aos  mesmos  christãos.  E  cada 
povoação  destas  tem  seus  meirinhos,  os  Principais  delas, 
os  quais  por  mandado  do  Governador  prendem  e  lhe  tra-  440 
zem  os  delinquentes,  e  asi  lhes  tira  a  liberdade  de  mal 
viver  e  os  favorece  no  bem. 

36.  Alem  destas  tres,  estão  juntas  outras  muytas  Aldeãs 
em  duas  povoações  grandes,  e  estas  não  tem  ygrejas,  por- 
que esperão  por  sacerdotes  e  quem  resida  antre  eles,  mas  445 


421    ou]  o  >»s.  jl  435    em  dei.  boiei  [|  439    meirinhos]  merinkcs  ms. 


48  Jb.  11  51-52. 

49  lb.  11  53-54;  cf.  Diálogo  sobre  a  Conversão  do  Gentio  (1954)  32-38 
(Introdução). 

50  Escolas  não  apenas  de  doutrina,  mas  também  de  ler  e  escrever, 
informa  o  Governador  Mem  de  Sá  (carta  31  §  5). 


88 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


somente  são  visitados,  a  tempo,  das  outras  Casas,  porque 
somos  poucos  e  não  podemos  supprir  a  muyta  messe  que 
há,  e  por  esta  causa  não  entendemos  em  Apacê  e  Cirigype, 
e  na  ylha  de  Tapariqua,  e  no  Paraaçu,  nos  quais  há  já  apa- 

450  relho  pera  se  tratar  com  eles  se  tivéssemos  Padres:  tudo 
isto  se  deve  a  N.  Senhor  e  ao  bom  zelo  do  Governador. 
E  des  que  eu  isto  vi  na  terra,  comecei  a  resuscitar  e  já  não 
queiro  ser  ethico51,  nem  morrer,  por  dar  graças  muytas  a 
N.  Senhor  e  ter  que  o  louvar  em  suas  misericórdias,  e  me 

455  alegrar  não  sobre  hum  só  peccador  que  faz  paenitencia  52, 
mas  sobre  muytos  que  de  sua  ynfedilidade  se  convertem  a 
Christo. 

37.  Mas  o  ymigo  da  humana  geração,  a  quem  muyto 
magoarão  estas  obras,  trabalha  polas  estorvar  e  nos  descon- 

460  solar,  tomando  por  seu  ynstrumento  muytos  maos  que  há 
nesta  terra,  os  quais  não  favorecem  nada  esta  obra,  mas  por 
mortas  maneiras  trabalhão  [por]  cerrar  as  portas  todas  há 
salvação  do  gentio,  polo  odio  que  comummente  se  tem  a 
esta  geração.  E  o  primeiro  golpe  que  começou  a  dar  toy 

465  desenquietar  os  yndios  de  S.  Paulo,  tomando-lhe  suas  ter- 
ras e  roças,  em  que  sempre  estiverão  de  posse  e  nunca 
fizerão  por  donde  as  perdessem,  antes  na  guerra  passada 
estes  ajudarão  aos  christãos  contra  os  seus  próprios.  Ha 
causa  que  tinhão  os  christãos  por  sy  não  era  outra  senão 

470  que  as  avião  mester,  e  porque  nisto  ho  Governador  e  eu 
estorvamos  esta  tyrania,  contra  ele  e  contra  my  conceberão 
má  vontade,  o  que  me  fez  alembrar  da  dada  de  terras 53 


454  Senhor  sup.  I  suas  dei.  criaturas  ||  459  trabalha  corr.  ex  tabalha  ||  46a  todas 
dei.  ha  es 


51  Éctico,  o  que  padece  de  héctica  (febre  lenta  e  consumpção  pro- 
gressiva do  organismo).  Alguns  médicos  estudaram  modernamente 
a  possível  diagnose  da  doença  de  Nóbrega,  e,  examinando  diversas 
manifestações  dela,  embora  algum  se  incline  para  a  tuberculose,  não 
chegaram  a  nenhuma  conclusão  definitiva  (Leite,  Breve  Itinerário  207). 

52  Cf.  Luc.  15,  7  10. 

53  Sesmaria  de  Água  de  Meninos,  de  21  de  Outubro  de  1550  (Leite, 
História  I  149 ;  Breve  Itinerário  65 ;  Mon.  Bras.  I  194-200). 


15. -BAIA  5  DE  JULHO  DE  1559 


89 


que  V.  M.  deu  a  este  Collegio,  e  fiz  as  marcar  e  achou-se 
que  as  mais  de  aquelas  terras  que  os  Yndios  pessuião, 
estavão  na  nossa  dada,  e  por  isso  abrandou  alguma  cousa  475 
sua  perseguição;  mas  os  Yndios  que  acertarão  a  ter  terras 
fora  da  nossa  dada  aynda  agora  são  perseguidos,  e  sendo 
agora  os  Yndios  com  ho  Governador  à  guerra  dos  Ylheos, 
quá  lhes  tomão  suas  roças  e  os  perseguem  aynda. 

38.  Outra  grande  desenquietação  se  dá  aos  Yndios,  por  480 
gente  de  mao  viver,  que  anda  antre  eles,  que  lhes  furtão  o 
que  tem  e  lhes  dão  pancadas  e  feridas  poios  caminhos, 
tomando-lhe  seu  peixe,  furtando-lhe  seus  mantimentos. 

E  nisto  não  pode  aver  justiça,  porque  recebe  quá  o  Ouvi- 
dor Geral54  huma  opinião  muy  perjudicial,  que  sem  prova  485 
de  dous  ou  tres  christãos  [74.V]  brancos55  não  se  castiga 
nada,  aynda  que  seja  notório  poios  Yndios,  ha  qual  prova 
hé  ympossivel  aver-se,  e  asy  fiqua  tudo  sem  castigo.  Outros 
muytos  estorvos  temos,  os  quais  conhecerá  poios  casos  par- 
ticulares que  contarei.  490 

39.  Bem  alembrará  a  V.  M.  como  em  seu  tempo  se  divi- 
dirão estes  yndios  desta  Baya,  scilicet,  os  do  Tubarão  com 
os  de  Mirangaoba 56,  com  que  V.  M.  folgou  muyto  e  os 
christãos  todos,  e  em  tempo  de  Dom  Duarte  se  encarniça- 
rão tanto  em  tam  grande  crueldade,  que  cada  dia  se  mata-  495 
vão  e  comião,  porque  não  estavão  mais  de  mea  legoa  huns 
dos  outros,  e  desta  Cidade  duas  ou  tres,  e  tão  desasosega- 
dos  andavão  que  não  era  possivel  poder-se-lhes  ensinar 
doutrina  a  huns  nem  a  outros.  Polo  qual  mandou  o  Gover- 
nador ajuntá-los  os  de  huma  parte  em  povoaçõis  sobre  sy,  e  500 
mando[u]-lhes  que  ementes  se  ajuntavão,  não  guerreassem, 
nem  também  queria  que  fossem  amigos,  a  que  eles  obede- 
cerão ;  e  despois  de  juntos,  tendo  já  contentamento  do  bem 


54  Dr.  Pero  Borges. 

55  Esta  diminuição  civil  dos  índios  existia  na  América  Espanhola, 
onde  «a  seis  índios  não  se  dá  mais  fé  que  a  uma  testemunha  idónea» 
(Juan  Solorzano  Pereira,  Política  Indiana  I  [Madrid-Bnenos  Aires 
sem  data]  417  423.    Cf.  Leite,  História  II  61). 

56  Cf.  carta  de  8  de  Maio  de  1558  §  17  {Mon.  Bras.  II  452). 


90 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


da  paz,  não  quiserão  guerrear,  nem  tara  pouco  estão  ami- 
505  gos,  posto  que  alguns  parentes  se  entrão  a  furto,  os  quais 
com  as  guerra[s]  dantes  ficarão  divididos,  por  se  acharem 
de  aquela  vanda.  Estes,  asy  huns  como  outros,  são  agora 
doutrinados,  e  todos  bem  sobjeitos  à  obediência  do  Gover- 
nador. 

510  40.  Por  esta  causa  se  alevantou  também  grande  mur- 
muração antre  os  christãos,  dizendo  que  os  deixassem  comer 
que  nisso  estava  a  segurança  da  terra,  não  olhando  que, 
aynda  pera  o  bem  da  terra,  hé  milhor  serem  eles  christãos 
e  estarem  sobjeitos,  que  não  como  de  antes  estavâo,  pondo 

515  mais  confiança  nos  meios  de  Satanás  que  nos  de  Christo, 
mayormente  em  tempo  que  os  christãos  estão  tão  podero- 
sos contra  eles,  e  elles  tara  sobjeitos  e  abatidos  que  sofrem 
a  quem  quer  dar-lhe  muyta  pancada,  posto  que  seja  longe 
daqui.  E  cuyda  esta  gente  do  Brasil  que,  estando  os  Yndios 

520  differentes,  nam  poderá  Nosso  Senhor  castigá-los  se  quiser, 
e  não  escarmentão  aynda  vendo  quam  mal  foy  à  terra  toda, 
e  quanto  castigou  N.  Senhor  ho  pôr  nisso,  e  em  tomarem 
as  filhas  dos  yndios  por  mancebas  e  em  outros  semelhan- 
tes ardis,  e  não  nelle  a  confiança:  pois  nas  Capitanias  em 

525  que  eles  estavam  mais  divissos  e  mais  amancebados  com 
as  filhas  do  gentio,  deu  mayores  trabalhos,  como  acima 
disse. 

41.  Na  guerra  em  que  a  Capitania  do  Spiritu  Sancto  se 
destruio,  estando  todos  os  Yndios  antre  sy  divisos,  se  fize- 

530  rão  amigos  pera  contra  os  christãos,  porque  a  justiça  divina 
ho  queria  asy.  Milhor  conselho  seria  fazer  penitencia  e 
emenda  de  seus  peccados,  e  asy  terião  a  Nosso  Senhor  de 
sua  parte  e  deixava  sua  justiça  de  os  castigar;  e  porque  eu 
isto  não  vejo,  antes  se  multiplicão  os  peccados  e  a  gente  se 

535  diminue,  temo  perder-se  tudo. 

42.  Outros,  zelando  por  parte  dos  Yndios  ou  por  parte 
de  Sathanás,  murmurão  por  serem  presos  e  castigados  por 
seus  delictos,  e  por  serem  apremiados  à  doutrina  e  a  bons 
custumes,  temendo  que  por  isso  se  alevantem,  e  não  mur- 

540  murão  pelas  sem-rezões  que  eles  fazem  aos  [75r]  Yndios, 
que  hé  mayor  ocasião  de  se  eles  amotinarem,  porque  nós, 


13.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


91 


posto  que  por  huma  parte  os  apremiamos  a  bem  viver,  por 
outra  lhe  amostramos  entranhas  de  amor,  pugnando  por 
eles  em  tudo  e  defendend[o]-os  de  tyranias  e  servindo-os  e 
curando-os  de  suas  yníirmidades  com  muyto  amor,  de  que  545 
eles  são  bem  em  conhecimento;  e  por  outra  parte  estes 
christãos,  se  algum  yndio  lhe  perjudica  em  huma  palha  de 
sua  fazenda,  querem  logo  que  seja  crucificado57. 

43.  Acima  disse  como  o  Governador  mandara  noti- 
ficar a  estes  da  Baya  que  não  comessem  carne  humana;  550 
muytos  obedecerão  mas  não  hum  Principal  da  ylha  de 
Corurupeba  5S,  que  está  pola  Baya  adentro  sete  ou  oito 
legoas,  que  matou  e  comeo  com  festas  seus  escravos,  e 
sobre  isso  não  quis  vir  a  chamado  do  Gouvernador,  falando 
palavras  de  muyta  soberba,  porque  estes  nunca  avião  555 
conhecido  sobjeição,  e  entrava-sse  com  estes  de  novo,  polo 
qual  mandou  o  Governador  a  Vasco  Rodriguez  de  Caldas59 
com  quinze  ou  vinte  homens  buscá-lo  por  força,  e  trouxe- 
rão  ao  pay  e  filhos  presos  sem  os  seus  ousarem  a  os  defen- 
der. Este  foy  o  tormento  de  grande  esca[nda]lo  nesta  terra,  560 
porque  tiverão  logo  os  maliciosos  que  murmurar  e  ocasião 
de  alevantar  mentiras:  disserão  que  aqueles  yndios  avião 
morto  certos  escravos  do  Engenho,  que  foy  de  Antonio 
Cardosso  que  lá  estavão  perto,  e  como  se  conheceo  ser 
mentira,  disserão  que  hum  barquo,  que  o  Governador  avia  565 


553    adentro  corr.  ex  dentro  ]  ou]  o  ms. 


57  Leite,  História  11  75-83  [Direito  penal  nas  Aldeias]. 

58  Corurupeba  ou  Cururupeba  (sapo  miúdo),  nome  que  parece 
aplicar-se  à  ilha,  mas  T.  Sampaio  (O  Tupi  na  Geographia  Nacional  194) 
aplica-o  ao  índio,  fundado  no  Instrumento  131,  que  todavia  o  aplica  pri- 
meiro ao  índio  e  depois  à  ilha.  A  Ilha  do  Cururupeba  é  a  que  «hoje 
chamamos  Madre  de  Deus»  (Wanderley  Pinho,  Testamento  de  Meu 
de  Sá  36). 

59  O  Capitão  Vasco  Rodrigues  de  Caldas  (na  carta  precedente  da 
mesma  data  §  10,  Nóbrega  chama-lhe  «mancebo»)  foi  vereador  da 
Câmara  da  Baía  e  capitaneou  uma  entrada  em  busca  de  oiro,  a  que  se 
refere  Leonardo  do  Vale  (carta  66  §  30). 


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P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


mandado  a  Tatuapara  60,  o  avião  os  yndios  tomado  e  morto 
a  gente,  tudo  por  entristecerem  ao  Governador,  ho  que 
também  logo  se  soube  ser  mentira.  Este  Principal  esteve 
presso  perto  de  hum  anno  e  agora  hé  o  milhor  e  mais 
570  sobjeito  que  há  na  terra. 

44.  Por  estas  cousas  tem  concebido  todos  grande  avor- 
recimento  ao  Governador,  huns  porque  lhes  tirou  o  ganho 
das  demandas  que  antes  avia,  outros  porque  perderão  a 
liberdade  que  antes  tinhão  de  jugar  e  adulterar,  outros 

575  porque  os  obriga  a  trabalhar  nas  obras  d'El-Rey  e  em  prol 
da  terra,  mayormente  aos  que  tem  soldo  d'El-Rey,  os  quais 
antes  vivião  muy  à  larga,  e  os  outros  porque  lhes  não 
paguão  à  sua  vontade,  e  nisto  só  tem  alguma  rezão',  mas 
não  sei  se  tem  nisso  o  Governador  culpa,  pois  não  ho  há 

580  tanto  que  abaste  a  contentar  a  todos,  mas  ha  mayor  occa- 
sião  que  tem  de  o  aborrecerem  de  graça  hé  isto  que  tenho 
dito  dos  Yndios,  e  aynda  direi  mais  por  onde  conheça  o 
que  tenho  dito  e  o  estado  da  terra. 

45.  Ho  ajuntar  dos  Yndios,  que  o  Governador  faz  pera 
585  se  milhor  poderem  doutrinar,  deu  também  muyta  ocasião 

de  escândalo  a  muytos  que  tinhão  yndios  perto  de  suas 
fazendas,  dos  quais  se  ajudavão  em  seus  serviços  deixan- 
do-os  viver  em  seus  costumeis]  e  morrer  sem  baptismo, 
nem  aver  quem  lhes  alembrasse  a  Jesu  Christo  N.  Senhor. 
590  Outros,  despois  que  virão  o  gentio,  com  estas  cousas  que  se 
fizerão  antre  eles,  domados  e  metidos  no  jugo  e  sobjeiçâo 
que  nunca  tiverão,  cobiçarão  ser  repartidos  pera  seu  ser- 
viço, como  se  fez  nas  Antilhas61  e  Peru,  e  asy  ho  pedio  ha 
Camara  ao  Governador:  mas  a  ele  não  lhe  pareceo  bem 


573    liuns  sup.  ||  593    pedio]  pediou  >«s. 


60  Aqui  se  fundou  depois  a  Aldeia  do  Bom  Jesus.  Cf.  Leite,  Histó- 
ria II  56 ;  infra,  carta  de  António  Rodrigues,  Agosto  de  1561  (carta  56  §  1). 

61  Cf.  Silvio  A.  Zabala,  La  Encomienda  Indiana  (Madrid  1935I 
1-39  [El  período  antillano];  Ots  Capde^ui,  El  Estado  Espanol  m  Ias 
Índias  28. 


15.  -  BAIA  5  DE  JULHO  DE  1559 


93 


por  não  aver  causa  pêra  isso  justa,  porque  [75 v]  os  mais  595 
deles  nunca  fizerão  por  donde  merecessem  isso,  antes  na 
guerra  passada  se  lançarão  da  vanda  dos  christãos,  e  pera 
os  que  íorão  na  guerra  passada  tão  pouco  avia  causa  justa, 
pois  a  guerra  se  não  ouve  lá  por  justa  da  parte  dos  chris- 
tãos, e  mandou  El-ReyG2,  que  está  em  gloria,  restituy-los  600 
em  suas  terras  como  de  antes  estavâo. 

46.  E  já  que  lhos  ouvessem  de  repartir,  como  no  Peru, 
avião  de  ser  obrigados  a  terem  hum  Padre  pera  sua  dou- 
trina como  lá  também  se  acustuma,  ho  que  esta  gente  não 
pode  fazer,  asy  por  nam  terem  possibilidade  de  manterem  605 
hum  capellão,  como  também  porque  não  se  trata  de  salvar 
almas  nesta  terra,  senão  de  qualquer  seu  interesse,  e  dos 
próprios  seus  escravos  se  tem  tam  pouco  cuydado,  que  os 
deixão  viver  como  gentios  e  morrer  como  bestas,  e  asy  os 
enterrão  poios  monturos;  e  não  hé  muyto,  pois  eles  de  suas  610 
próprias  tem  tam  pouco  cuydado  de  as  salvar  e  muyto  por 
enriquecer  e  levar  boa  vida  segundo  a  carne  nos  vicios  e 
peccados  que,  segundo  a  pobreza  da  terra,  se  pode  ter  nela. 

47.  Bem  me  pareceria  a  my  conquistar-se  a  terra  e 
repartir-se  os  Yndios  por  os  moradores  obrigando-sse  a  615 
doutriná-los,  que  ahy  muytos  que  podiam  sobjeitar,  mas 
nam  ahy  homem  que  por  isso  queira  levar  huma  má  noite, 

e  se  o  Governador  por  segurança  da  terra  quer  fazer  alguma 
cousa  ou  castigar  algum  yndio  todos  lho  estorvão  e  nin- 
guém o  ajuda;  e  agora  que  vem  os  Yndios  sobjeitos  sem  620 
custar  sangue  de  christâo  nenhum,  nem  guerra  (posto  que 
da  passada  ficarão  amedrentados),  agora  que  estão  juntos 
com  ygrejas  pera  se  doutrinarem,  agora  os  querem  repar- 
tidos, e  asy  não  falta  quem  vá  tirar  nossos  yndios  que 
temos  juntos  com  muyto  trabalho  e  levá-los  a  suas  roças  a  625 
viver,  e  muytos  vão  por  fugir  à  sobjeição  da  doutrina  e 


616   muytos  sup.  \\  619   todos]  tododos  ms. 


62   D.  João  III. 


94 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


viverem  como  seus  avós,  e  comerem  carne  humana  como 
de  antes. 

48.  Estas  cousas  todas  e  outras  desta  qualidade,  que  o 
630  Governador  não  consinte  e  outras  que  faz,  conformando-se 

connosco  no  que  nos  parece  gloria  de  Deus  e  bem  das 
almas  e  proveito  da  terra,  engendrão  escândalo  em  todos 
e  tumulto  no  povo  contra  ele  e  contra  nós,  porque  sempre 
no  serviço  de  N.  Senhor  há  cousas  contrarias  ao  que  pre- 
635  tendem  de  seus  ynteresses,  e  a  estas  acrecentão  mil  falsi- 
dades e  mentiras  que  alevantão,  porque  asy  hé  costume  do 
povo,  quando  está  mal  afíeiçoado. 

49.  Agora  entrão  os  queixumes  que  eu  tenho  de  Gar- 
cia d'Avila63:  hé  elle  hum  homem  com  quem  eu  mais  me 

640  alegrava  e  consolava  nesta  terra,  porque  achava  nelle  hum 
rasto  do  spirito  e  bondade  de  V.  M.  de  que  eu  sempre  muyto 
me  contentei,  e  com  ho  ter  quá  me  alegrava,  parecendo-me 
estar  aynda  Tomé  de  Sousa  nesta  terra.  Tinha  elle  huns 
yndios  perto  de  sua  fazenda.    Quando  o  Governador  os 

645  ajuntava,  pedio-me  lhe  alcançasse  do  Governador  que  lhos 
deixasse,  promettendo  elle  de  os  meninos  yrem  cada  dia  à 
escola  a  Sant  Paulo,  que  estará  mea  legoa  dele,  e  os  mais 
yrião  aos  domingos  e  festas  à  missa  e  pregação.  Conce- 


63a  engendrão]  cngrendão  »is.  ||  633-636  falsidades  corr.  tx  falsedades  ||  646  yrem] 
yrreui  tns. 


63  Garcia  de  Avila  veio  com  Tomé  de  Sousa,  homem  de  capaci- 
dade e  por  ele  protegido  nos  cargos  públicos.  Fundou  a  famosa"«Casa 
da  Torre»  ou  «Torre  de  Garcia  de  Ávila»,  no  litoral  atlântico  da  Bala, 
perto  da  foz  do  Rio  Pojuca.  Cf.  T.  Sampaio,  Carta  do  Recôncavo  da 
Bahia  (1899).  Sobre  a  matéria,  Pedro  Calmon,  História  da  Casa  da 
Torre,  Rio  de  Janeiro  1940.  —  Garcia  de  Ávila,  passado  o  arrufo janti- 
-catequético  de  1559,  feito  já  grão  senhor,  recebeu  na  sua  Torre  o  Visi- 
tador Cristóvão  de  Gouveia  e  Fernão  Cardim:  «Elle  mesmo,  desbarre- 
tado, servia  à  mesa  e  nos  ajudava  à  missa  em  uma  sua  Capella,  a  mais 
formosa  que  há  no  Brasil»  (Cardim,  Tratados  312  397).  Faleceu  na  Baía 
a  23  de  Maio  de  1609  Deixou  grandes  bens  e  grandes  legados:  à  Com- 
panhia «deixo  as  terras  que  me  pertencem  nos  Reis  Magos»,  porque 
a  outra  parte  é  da  Misericórdia,  diz  no  testamento  de  8  de  Maio  de  1609 
{Anais  do  Arquivo  Público  e  Museu  do  Estado  da  Bahia  VI  72). 


15.  -  BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


95 


dera-lho,  mas  ele  teve  mao  cuydado  de  o  cumprir,  sendo 
de  my  muytas  vezes  amoestado,  antes  deixava  viver  e  mor-  650 
rer  a  todos  como  gentios;  e  tinha  aly  hum  homem  que  lhe 
dava  pouco  por  ele  nem  os  escravos,  e  muyto  menos  o  gen- 
tio yrem  à  missa.  Polo  qual  fuy  forçado  de  minha  [r]6v] 
consciência  a  pedir  que  os  ajuntassem  com  os  outros  em 
Sant  Paulo,  e  posto  que  aynda  lhos  não  tirarão,  contudo  655 
ele  muyto  se  escandalizou  de  my,  asy  que,  nem  a  elle,  nem 
a  outro  nenhum  já  tenho,  nem  quero  mais  que  a  Deus 
N.  Senhor  e  a  rezão  e  justiça,  se  ha  eu  tiver. 

50.    Também  começou  a  entender  com  os  do  Paraaçu  64 
e  com  os  da  ylha  de  Tapariqua  65,  que  são  todos  huns:  e  660 
isto  por  rezão  dos  escravos  dos  christâos  que  pera  eles 
fugião  e  não  os  davão,  e  isto  contentou  a  todos  porque 
lhes  tocava  em  seu  proveito.    Os  de  Tapariqua  obedece- 
rão, mas  os  do  Paraaçu  muytos  deles  não  quiserão  paz  nem 
dar  os  escravos,  antes  tomarão  hum  barco  de  Pero  Gonçal-  665 
vez  66,  de  S.  Thomé,  com  ferramenta  que  levava,  e  os  negros 
de  Guiné  fugirão  e  esconderão-se  pelos  matos,  e  por  isso 
escaparão.  Despois  sendo  requiridos  com  paz  e  com  resti- 
tuírem o  barquo  e  os  escravos,  nam  quiserão,  polo  qual 
lhe  pareceo  mandar  a  eles  com  conselho  de  muytos  a  tomar-  570 
-lhes  os  rodeiros  67  que  tinhão  feitos  com  que  determinavão 
fazer  a  guerra  aos  christâos,  e  mandou  a  Vasco  Rodriguez 
de  Caldas  com  a  gente  de  barquos  que  pode,  o  qual  deu 


649    mao]  mão  tns. 


64  Paraaçu,  hoje  Paraguaçu,  no  Recôncavo  da  Baía. 

65  Taparica,  hoje  Ilha  de  Itaparica,  em  frente  da  Cidade  da  Baía. 

66  Entre  os  homens  da  Armada  de  Tomé  de  Sousa,  e  cujos  nomes 
constam  dos  «mandados  de  pagamento»,  iam  pelo  menos  três  com  o 
nome  de  Pero  Gonçalves,  um  de  Alpedrinha,  guardião  de  gado;  outro 
das  Lapas,  trombeta;  e  ainda  outro,  bombardeiro:  e  talvez  seja  este  o 
Pero  Gonçalves  de  S.  Tomé  (cf.  Calmon,  História  da  fundação  da 
Bahia  127-128). 

67  «Rodeiros»:  assim  chamam  os  moradores  ribeirinhos  do  Rio 
Douro  aos  barcos  mais  pequenos  que  nele  navegam  (cf.  Cândido  de 
Figueiredo,  Diccionario,  «rodeiro»). 


96 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


neles,  sayndo  em  terra,  mattando  muytos  e  trazendo  outros 

675  cativos.  Aqui  se  quebrou  o  desencantamento  do  Paraaçu, 
onde  ninguém  ousava  sayr  em  terra,  e  perderem  os  chris- 
tãos  o  medo  que  tinhão  àquele  gentio,  vindo  com  muyta 
victoria  sem  lhe  matarem  ninguém. 

Não  poderão  muytos,  que  avorreciâo  ao  Governador, 

680  dissimular  sua  paixão  do  bom  sucesso,  e  porventura  folga- 
rão mais  de  succeder  alguma  desgraça  ao  Governador  pera 
fiquar  mais  desacreditado  em  suas  obras. 

Com  esta  boa  fortuna  alguns  yndios  principaes  do 
Paraaçu  vieram  a  pedir  paz  ao  Governador,  trazendo-lhe 

685  o  barquo  dos  christãos  que  avião  tomado  aos  outros  pera 
com  ele  alcançarem  paz  pera  sy,  ficando  os  outros  era  sua 
pertinácia  e  fazendo-se  fortes.  Tornou  a  eles  Vasco  Rodri- 
guez e  deu  era  huma  Aldeã  que  estava  mea  legoa  do  mar, 
por  hum  caminho  muy  áspero  que  andarão  de  noite  e  derão 

690  nela,  que  era  grande  e  toda  a  gente  matarão,  porque  os 
tomarão  dormindo,  salvo  vinte  ou  trinta  pessoas,  meninos 
e  molheres,  que  trouxerão  por  escravos,  de  que  não  esca- 
pou mais  de  hum  yndio  ou  dous  mal  feridos  pera  levarem 
novas  aos  outros. 

695  Outra  vez,  terceira,  tornou  lá  Vasco  Rodriguez  já  com 
mayor  animo  dos  christãos  e  todo  perdido  o  medo;  quei- 
mou muitas  Aldeãs,  matando  muytos  sem  lhe  matarem  nin- 
guém. E  com  esta  se  renderão  os  mais  e  pedirão  paz  e  se 
fizerão  tributários  a  El-Rey,  obrigando-sse  a  pagar  certa 

700  farinha  e  galinhas,  e  de  não  comerem  carne  humana  e  serem 
sobjeitos  e  christãos,  como  lá  lhe  mandassem  Padres,  os 
quais  eu  desejo  que  aja  pera  lhes  dar  e  fazer-lhes  lá  ygre- 
jas,  dando  eles  quá  alguns  filhos  pera  segurança  e  reffens, 
agora  pelo  principio  que  eles  darão  de  boa  vontade;  o 

70-  mesmo  fizerão  os  de  Tapariqua  e  os  de  Tinharê  6S,  e  todos 


68a    mais]  mas  MM,  ]    697    muitas  j  muchas  ms.    ,  698    e  pedirão  bis 


68  Tinharé.  «É  o  nome  de  uma  ponta  ou  cabo  na  Bahia»  (T.  Sam- 
paio, O  Tupi  na  Gcographia  Nacional  325);  e  também  da  ilha,  que  lhe 
fica  em  frente. 


13. -BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


97 


desejão  estar  bem  com  os  christãos  e  se  obrigão  a  pagar  o 
tributo  que  tenho  dito. 

51.  A  mi  me  alembra  ser  este  mesmo  ho  spirito  que 
regia  a  V.  M.  quando  governava  esta  terra  e  comigo  o 
praticava  muytas  vezes,  desejando  sobjeitá-los  e  dar-lhes  710 
qualquer  jugo,  e  tinha  entonces  muyto  mayor  aparelho  e 
muyta  mais  gente  que  agora,  mas  estorvarão  [76V]  os  meus 
peccados  e  a  gente  desta  terra,  a  qual  tinha  tão  ympresso 

na  mente  o  medo  que  lhes  ficou  da  guerra  de  Francisco 
Pereira  e  do  Spiritu  Sancto  69,  que  por  ali  querião  medir  715 
tudo,  nam  lançando  suas  contas  com  Deus,  nem  lhe  alem- 
brando  sua  gloria  e  honrra  e  salvação  das  almas,  e  que 
N.  Senhor  sempre  favorece  quem  anda  por  seus  cami- 
nhos 70,  e  dá  graça  aos  humildes  e  resiste  aos  soberbos  71 
que  fora  dele  põem  sua  confiança,  porque  amão  a  paz  que  720 
o  mundo  dá  72,  mas  Christo  ha  avorrece. 

O  si  entonces  V.  M.  começara,  quantas  almas  se  ganha- 
rão! E  Nosso  Senhor  favorecera  e  povoara  a  terra  milhor 
do  que  ha  povo[o]u,  e  levara  tudo  milhor  fundamento,  por- 
que se  fundarão  na  pedra  viva,  que  hé  Christo  N.  Senhor  73.  725 
E  pera  mayor  prova  desta  verdade,  que  só  em  Christo  e 
com  Christo  se  devem  fundar  estas  cousas,  lhe  contarei 
outro  caso  que  aconteceo. 

52.  Ha  Capitania  dos  Ylheus  e  Porto  Seguro,  as  quais 
tinhão  ho  gentio  Topinachim  74  grande  e  todo  amigo,  e  que  730 
mais  favorável  se  amostrou  sempre  aos  christãos,  e  em  cuya 


716   contas  sup. 


69  Ao  i.°  Donatário  da  Baía,  Francisco  Pereira  Coutinho,  a  seguir 
a  um  naufrágio,  mataram  os  Índios  da  Baía  por  1546- 1547 ;  e,  por  esse 
mesmo  tempo,  o  gentio  devastou  a  Capitania  do  Espírito  Santo  (Mon. 
Bras.  1  4 ;  11  48). 

70  Deut.  19,  9;  26,  17. 

71  Iac.  4,  6;  1  Pet.  5,  5. 

72  Ioan.  14,  27. 

73  Cf.  i  Cor.  10,  4. 

74  t,Tupi-na-ki,  o  galho  do  parente  dos  Tupis,  os  collateraes  dos 
Tupis»,  segundo  Sampaio,  op.  cit.  331. 

7 


98 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


amizade  os  christãos  confiavão  muyto  e  mais  perseveravão 
que  outro  nenhum  da  costa,  avendo  nestas  Capitanias  muyta 
gente,  mas  muy  pouco  temor  de  Deus,  nem  zelo  de  sua 

735  honrra,  mas  muytos  peccados,  e  íavorecião  o  comer  da 
carne  humana  e  ensinavam-lhe  outros  peccados  que  eles 
nem  seus  avós  tinhão  —  porque  esta  gente  do  Brasil  não 
tem  mais  conta  que  com  seus  Engenhos  e  ter  fazenda, 
aynda  que  seja  com  perdição  das  almas  de  todo  o  mundo—, 

740  aconteceo  que  por  matarem  hum  yndio  em  Porto  Seguro  e 
outro  nos  Ylheos,  sem  lhes  fazerem  satisfação  de  justiça, 
elles  se  alevantarão  e  mattarão  dous  ou  tres  homens  que 
acharão  no  caminho  dos  Ylheos  pera  Porto  Seguro  e  derão 
em  huma  roça  de  christãos  nos  Ylheos.  E  passando  pollo 

745  Engenho  de  S.  Joam,  em  que  estava  Thomas  Alegre  7r>, 
meteo  N.  Senhor  tanto  medo  nos  ossos  dos  christãos,  que 
despovoão  o  Engenho  sem  yndio  atirar  frecha,  antes  se 
cree  que,  já  satisfeitos  da  morte  dos  seus,  se  contentavão, 
porque  a  muytos  christãos  que  poderão  matar  e  roubar 

750  muy  liberalmente  deixarão  yr.  Como  isto  se  soou,  entrou 
o  mesmo  medo  nos  outros  Engenhos  e  sem  verem  yndio 
despovoão  e  alargão  tudo,  recolhendo-se  na  Vila;  o  que 
vendo  os  Yndios,  ao  recolher  de  Thomás  Alegre,  lhe  toma- 
rão alguns  escravos  que  poderão  alcançar  e  entrarão  e  rou- 

755  barão  o  que  acharão  nas  fazendas.  E  asy,  posto[s]  os  chris- 
tãos em  cerquo,  mandarão  pedir  socorro  a  esta  Baya  ao 
Governador,  de  gente  e  munição  e  mantimentos,  porque 
não  comião  senão  laranjas.  E  agora  ouça  o  que  sucedeo. 
Pondo  o  Governador  isto  em  conselho,  huns  dezião  que 

760  ele  devia  de  yr  e  outros  que  não,  mas,  finalmente,  por  hum 
só  voto  de  mais,  se  determinou  que  fosse.  Mas  como  as 
principais  pessoas  erão  de  opinião  que  não  fosse,  e  esta 


73a   amizade]  amizidade  ttts.  \t  736   ensinavam-lhe  corr.  ex  ensivam-llie 


75  Feitor  de  Lucas  Giraldes,  mercador  em  Lisboa  e  depois  Dona- 
tário dos  Ilhéus.  Tomás  Alegre  era  florentino  (Leite,  Rrevs  Itine- 
rário 137). 


15. -BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


99 


openião  agradava  mais  aos  proves,  porque  estes  são  por 
derradeiro  os  que  se  levão  e  deixão  suas  casas  e  temião 
levarem-nos,  despois  de  todavia  se  determinar  sua  yda,  765 
contentando-sse  mais  de  suas  rezões  que  não  da  obediên- 
cia e  parecer  do  Governador  e  dos  outros,  emtrou  em  muy- 
tos  a  murmuração,  semelhante  hà  de  Judas  que  dezia: 
Potuit  unguentum  istud  venundari  multo  et  dari  paupe- 
ribus,  non  quia  de  egenis  pertinebat  ad  eum,  [77^  sed  770 
quia  fur  erat 76.    E  asy  esta  gente,  avendo  de  consolar  e 
animar  aos  pobres  que  avião  de  yr,  dezião  que  pera  que 
era  levá-los  e  tirar  a  gente  de  suas  casas?  E  isto  não  por 
se  tanto  doerem  deles,  como  por  temerem  que  poderia  cayr 
o  ceo  e  suas  fazendas  correrem  ventura,  não  vendo  que  ho  775 
Governador  levava  muyta  gente  dos  Yndios  e  os  que  fica- 
vão  não  avião  de  ousar  de  bolir  consigo,  mayormente 
estando  tam  sobjeitos,  nem  olhavão  que  em  tempo  de  tam 
extrema  necessidade  como  estavão,  avia  obrigação  de  lhes 
socorrer.    E  com  este  desgosto  que  todos  os  principais  780 
tinhão  e  a  gente  popular  bramava  77,  se  embarcou  o  Gover- 
nador sem  aver  quem  o  ajudasse  naquela  armada,  pobre, 
feita  mal  e  por  mal  cabo  e  mal  aviado,  com  muyta  des- 
consolação, que  ouvera  V.  M.  lastima  se  o  vira  como  ho 
eu  vi,  porque  huns  não  ajudavão,  outros  estorvavão,  outros  785 
mordiâo,  e  todos  com  fastio,  e  outros  ho  desacatavão,  de 
maneira  que,  como  a  homem  de  capa  cayda,  quem  quer  se 
lhe  atreve,  porque  dizem  que  não  tem  lá  no  Reyno  nin- 
guém por  sy  e  tudo  lhe  convertem  em  mal,  até  a  morte  de 
seu  filho  78  que  ele  sacrificou  por  esta  terra.    Mas  neste  79o 
negocio,  de  Garcia  d'Avila  só  sey  que  se  lhe  offereceo  pera 


770   non  sup.  ||  788   que  dei.  q 


76  Ioan.  12,  5-6. 

77  «Bramava».  O  mesmo  verbo  usou-o  Nóbrega  na  outra  carta 
desta  mesma  data  §  18,  e  já  na  de  18  de  Junho  de  1548:  «os  cónegos 
bramam  por  isto»  (Leite,  Carias  de  Nóbrega  [1955]  15). 

78  Fernão  de  Sá,  morto  na  guerra  do  Espírito  Santo,  nos  primeiros 
meses  de  1558  {Mon.  Bras.  II  439-440). 


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P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


yr  com  elle,  porque  quando  hé  tempo  sabe  bem  usar  da 
boa  criação  que  V.  M.  nele  pôs;  mas  o  Governador  o 
excusou.  Outro  se  lhe  offereceo,  parecendo-lhe  que  tam- 
795  bem  o  excusasse  o  Governador,  mas  lançando  mão  por  sua 
palavra,  se  tornou  a  escusar  querendo  mais  padecer  ver- 
gonha no  rosto  que  magoa  no  coração.  Desta  maneira  o 
tratão,  mas  ele  se  há  com  muyto  sofrimento  e  paciência 
em  tudo. 

800  Despois  de  embarquado,  ventando  sudueste  e  sendo  a 
força  do  ynverno,  quis  N.  Senhor  aver  piedade  daquelas 
almas,  que  nos  Ylheos  estavão,  e  se  mudou  ao  nordeste, 
vento  prospero  com  que  em  dous  dias  chegou  lá,  e  achou-os 
em  tanto  aperto,  que  se  mais  tardara  oito  dias,  dizem  que 

805  os  achara  comidos  dos  Yndios,  e  se  tiverão  embarquação 
todos  ouverão  já  despovoado.  E  logo  que  achegou,  tomada 
a  emformação  da  terra,  desembarcou  à  mea  noite,  começou 
a  caminhar  pola  praya  com  a  sua  gente  e  outra  da  terra, 
que  toda  estava  sem  alma  e  sem  spiritos  vitais,  e  com  sua 

810  yda  tornarão  em  sy.  E  foy-se  pola  praya,  polo  caminho 
que  vai  pera  Porto  Seguro,  e  tomarão  humas  espias  dos 
Yndios  que  forão  logo  mortas  e  presas;  forão  dar  em  huma 
Aldeã  onde  matarão  tres  ou  quatro  pessoas,  porque  os  mais 
fogirão  e  não  poderão  mais  fazer  que  queimarem-lhe  as 

815  Aldeãs.  Tornando-sse  a  recolher  pera  a  Villa,  vinhão  os 
Yndios  ladrando  detrás  às  frechadas.  Meteo-sse  Vasco 
Rodriguez,  que  levava  a  dianteira,  em  cilada  no  mato  e  dei- 
xou-os  passar  e,  como  os  teve  dentro  deu  neles  e  matarão 
hum  só  os  christãos,  porque  todos  se  acolherão  ao  mar, 

820  com  os  quais  se  lançarão  também  os  nossos  yndios  da 
Baya,  que  o  Governador  levou,  e  forão  nadando  huma 
grande  legoa  e  lá  tiverão  huma  forte  batalha*,  mas  os  nos- 
sos, ajudando-os  o  favor  divino,  sendo  já  alguns  deles 
christãos,  amostrarão  muyto  esforço  e  matarão  lá  alguns  e 

825  outros  trouxerão  mal  feridos  que  na  praya  acabarão  de 
matar.  Outras  vezes  forão  a  outras  [77V]  partes  e  não  acha- 
rão já  yndios,  que  todos  se  afastarão  longe.  De  todas  estas 
vezes  foy  o  Governador  em  pessoa,  e  todos  se  espantão  de 
seu  animo  e  forças,  porque  ele  amostrou  sentir  menos  o 


15. -BAÍA  5  DE  JULHO  DE  1559 


101 


caminho,  sendo  ele  de  muytas  sobidas  e  muytas  agoas  e  830 
matos  muy  bravos. 

Despois  veo  outra  nova,  e  hé  que  parecendo  aos  Yndios 
dos  Ylheus  que  o  Governador  seria  ydo,  porque  virão  sayr 
do  porto  alguns  barquos  e  navios,  os  quais  mandava  o 
Governador  buscar  mantimentos  e  a  buscar  yndios  que  835 
pedião  pazes  e  se  offerecião  a  peleijar  contra  os  outros, 
dizendo  que  não  forão  consintidores  do  que  os  outro[s] 
fizerão,  determinarão  de  vir  ao  salto  e  vierão  ter  a  huma 
roça  de  André  Gavião79,  onde  estavão  oito  negros  de  Guiné, 
doentes  e  tristes.  E  foy  mandado  Vasco  Rodriguez  com  a  840 
gente  a  fazer-lhes  cilada,  e  puserão-se  em  quatro  partes 
pera  não  poderem  escapar  por  nenhuma,  e  entrarão  na 
cilada  sesenta  negros  valentes,  homens  e  mancebos,  e  todos 
forão  tomados  sem  nenhum  escapar:  os  quarenta  matarão 
ali  logo,  os  vinte  trouxerão,  os  quais  o  Governador  tem  845 
pera  por  eles  aver  algumas  crianças  que  aynda  estão  em 
poder  dos  negros  e  algua  fazenda  dos  christãos ;  mas  toda- 
via os  oito  negros  de  Guiné  acharão  mortos  por  estes 
sesenta  antes  que  a  cilada  se  descubrisse.  Dizem  que  dahy, 
jornada  de  dous  dias,  se  fazyão  fortes  os  Yndios  com  cer-  850 
qua;  esperava-sse  por  boom  tempo  pera  darem  nela,  e,  se 
estes  forem  vencidos,  pola  misericórdia  de  N.  Senhor  aca- 
bar-se-á  aqui,  porque  todos  os  mais  pidem  pazes  e  na 
verdade  amostram-se  sem  culpa  e  sometem-se  à  obe- 
diência80. 855 


836  contra  os  outros  sup.  j|  837  consintidores]  consintoderes  ms.  \\  843  valentes 
dei.  os  quais  o  Governador  tem 


79  Deste  André  Gavião  denunciaram  mais  tarde  que  ele  tinha 
dito  nos  Ilhéus  que  «se  havia  de  esperar  à  porta  do  paraíso  quanto 
o  P.  Francisco  Pires  da  Companhia  de  Jesus  estava  no  púlpito  em 
pregar,  antes  não  queria  ir  ao  paraíso»  {Primeira  Visitação.  Denun- 
ciações  da  Bahia  (1591-1593)  348).  [Denúncia  de  17  de  Agosto  de  1591]. 

80  Guerra  e  assunto  de  actualidade,  que  se  realizava  no  próprio 
tempo  em  que  se  redigia  a  carta. 


102 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


Vinhão  humas  canoas  de  yndios  do  Rio  das  Caravelas 
e  forâo  tomadas,  em  que  vinha  huma  grande  sanctidade81 
sua.  Estes  todos  e  seus  parentes  se  querem  vir  viver  aos 
Ylheos  pera  os  guardarem  e  defenderem,  os  quais  dizem 

86o  que  são  de  outra  geração,  que  já  em  outro  tempo  se  comiâo 
com  estes  que  derão  a  guerra,  do  que  eu  também  colijo 
que,  quando  Deus  quer  ajudar,  os  amigos  se  fazem  j^ninú- 
gos  em  favor  dos  christãos  e,  quando  quer  castigar,  faz  dos 
ynimigos  amigos,  e  huma  cousa  e  outra  se  vio  nesta  terra 

865  por  experiência.  E  por  isso  em  N.  Senhor  só  se  deve  espe- 
rar, como  diz  o  Sabio  no  Ecclesiastico :  Respicite,  filii, 
nationes  hominum  et  scitote  quia  nullus  speravit  in  Domino 
et  confusus  est82;  e  o  Propheta  diz:  Spera  in  Domino  et 
fac  bonitatem  83. 

870  Deste  negocio  se  deve  muito  a  Vasco  Rodriguez  de  Cal- 
das, a  quem  N.  Senhor  deu  tam  boa  fortuna,  como  até 
agora  tem  dado,  e  por  seu  esforço  tira  o  medo  aos  chris- 
tãos desta  terra  e  se  crê  que  os  Yndios  não  são  serpes,  mas 
gente  nua,  nos  quais  estou  espantado,  porque  não  parecem 

875  que  são  da  casta  dos  portuguesses  que  lemos  nas  crónicas 
e  sabemos  que  sempre  no  mundo  tiverão  o  primado  em 
todas  as  geraçõis  e  polas  historias  antigas  e  modernas  se 
lê.  Estando  tanta  gente  nos  Ylheos,  sem  verem  mais  que 
quemarem  huma  casa  de  huma  roça,  alargâo  Engenhos  e 

880  fazendas  e  quanto  tinhâo  e  põem-se  em  hum  oiteiro,  vendo 
que  lhes  matavâo  o  gado  e  lho  comião  peraante  eles,  e  todos 
encorrelados  que  serião  mais  de  mil  almas  de  peleja  com 
escravos  e  tudo. 

53.    [78r]    E  o  mesmo  será  de  todas  as  outras  Capita- 

885  nias  emmentes  o  gentio  não  for  senhoreado  por  guerra  e 


861  coligo  »is.  II  871  gente  corr.  «r  gentes  ||  875  coronicas  ms.  ||  877  geraçõis]  genera- 
çols  tns. 


81  Cf.  supra,  carta  12  §  5.  A  «santidade>  ou  cerimónia  religiosa 
dos  índios,  deixou-a  Nóbrega  descrita  já  nas  primeiras  cartas  (cf.  Mon. 
Bras.  1  17 ;  150  152). 

82  Eccl.  2,  11. 

83  Ps.  36,  3- 


13. -BAÍA  5  DE  JUI.HO  DE  1559 


103 


sobjeito,  como  fazem  os  Castelhanos  nas  terras  que  con- 
quistão,  e  no  Paraguay  o  íizerão  com  muy  pouca  gente 
senhoreando  o  mayor  gentio  que  há  na  terra.  E  asy  estão 
as  fazendas  e  vidas  dos  homens  na  mão  dos  Yndios  cada 
vez  que  quiserem,  se  não  se  for  nesta  Baya,  onde  já  o  gen-  890 
tio  está  sobjeito  e  medroso,  este  que  está  perto  dos  chris- 
tãos.  Meu  conselho  seria  ou  bem  se  ganhar  e  se  segurar  ou 
alargá-la,  porque  se  se  espera  que  con  qualquer  paz  se  yrá 
povoando,  eu  vejo  que  cada  vez  há  menos  gente  e  menos 
resistência  aos  Yndios,  e  mais  gente  vay  do  que  vem  e  895 
outros  que  morrem  a  mãos  de  yndios  em  barquos  que  se 
perdem.  Se  isto  fosse,  os  Yndios  serião  christãos  e  ha  terra 
se  povoaria  em  serviço  de  Deus  N.  Senhor,  scilicet,  e  em 
prol  do  Reyno. 

54.  Em  Sant  Vicente,  onde  eu  creo  que  há  mais  gente  900 
pera  senhorear  yndios  que  em  nenhuma  Capitania,  porque 
alem  de  aver  muytos  brancos  e  mamalucos,  há  ahy  muyta 
escravaria,  nam  se  trata  de  ganhar  a  terra,  senão  de  se 
darem  à  boa  vida,  e  com  ardis  e  manhas  muy  perjudiciaes 

a  suas  almas  e  com  peitarem  os  Yndios  querem  lograr  suas  905 
cãas  com  suas  queixadas  sãas,  e  asy  vivem  à  mercê  dos 
Yndios. 

55.  Ho  ano  passado  me  escreverão84  que  vierâo  os  cas- 
telhanos a  vingar  a  morte  de  alguns  christãos  e  yndios 
carijós  que  os  Tupis  de  S.  Vicente  avião  morto,  avendo  o  910 
capitão  do  Paraguay  feito  pazes  antre  os  Tupis  e  Carijós 
que  não  lhe  comprirão,  polo  qual  vierâo  castelhanos  e  cari- 
jós a  vingar  isto,  e  foy  a  mortandade  tanta  que  fizerão  nos 
Tupis  que  despovoarão  o  Rio  Grande  e  vinhão  fugindo  pera 

o  mar  de  S.  Vicente  com  medo  dos  castelhanos.   Antre  915 
estes  castelhanos  vinha  algum  português,  dos  que  fugirão 
de  S.  Vicente,  o  qual  conhecerão  os  Yndios,  e  por  isso 
determinarão  de  se  vingarem  nos  portugueses  de  S.  Vicente, 


89a    ou]  o  »is.  II  893    qualquer  corr,  tx  qual  ||  916    vinha  corr.  ex  vinhSo 


84   Carta  perdida. 


104 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  TOMÉ  DE  SOUSA 


e  vinhão  com  determinação  de  matarem  os  christãos  de 

920  Gerabatiba,  e  lá  ouverão  de  yr  também  meus  Irmãos  de 
Pyratininga  se  N.  Senhor  não  socorrera,  e  foy  que  meteo 
na  vontade  a  dous  Principais  do  Campo,  os  quais  detiverâo 
a  muyta  gente  que  já  caminhava  com  aquele  mao  preposito 
e  fizeram-os  tornar. 

925  56.  A  gente  de  S.  Vicente  e  Sanctos,  ouvindo  estas 
novas,  mandarão  lançar  fama  que  era  achegada  huma 
caravela  chea  de  castelhanos,  que  avião  de  yr  por  terra 
e  outros  aviam  de  vir  do  Paraguay  e  tomarião  no  meo  a 
todos  e  os  matarião.    Ho  que  nisto  pretendião  era  por 

930  meter  medo  ao  gentio  que  não  viesse,  mas  como  souberão 
da  mentira,  não  sérvio  de  mays  que  de  íicarem  mais  desa- 
creditados com  os  Yndios,  de  maneira  que  aquela  Capita- 
nia está  em  grande  pendura,  e  não  está  em  mais  que  em 
quererem  os  Yndios,  porque,  aj*nda  que  há  muyta  gente, 

935  hé  toda  triste  e  desarmada*,  e  agora  se  lhe  acrecentou  outra 
desaventura,  que  íorão  os  francesses,  e  temo  vir  alguma 
triste  nova  e  estou  muy  arrependido  de  não  aver  já  tirado 
meus  Irmãos  de  lá,  porque,  segundo  parece  muy  claro,  está 
aquela  terra  com  a  candea  na  mão,  porque  cada  vez  se  lhe 

940  acrecenta  a  desventura  e  lhe  falta  o  socorro  M.  Ho  capitão 
do  Paraguay  se  mandou  offerecer  por  vezes,  que  sobjeitaria 
os  Tupis  a  Sant  Vicente,  se  lhe  dessem  licença,  e  querem 
com  os  portuguesses  trato  e  conversação,  e  ajudá-los  con- 
tra o  gentio  e  outros  ymigos,  e  nem  o  querem  aceitar  nem 


939   a  sup.  ||  941    sobjetaria  ms.  ||  94a   querem  corr.  «x  quererem 


85  Toda  a  página  é  um  acto  de  amor  à  terra  em  perigo,  para  forçar 
a  vir  socorro,  que  de  facto  veio.  O  Superior  dos  Irmãos  na  Capitania 
de  São  Vicente  era  o  P.  Luís  da  Grã;  e  ele  e  os  Irmãos  de  Piratininga 
e  Geraibatiba  lhe  escreveram  à  Baía  [«Ho  ano  passado  me  escreverão» 
§  55]  a  manifestar  os  perigos  e  temores.  A  frase  «estou  muy  arrepen- 
dido» faz  lembrar  outra  da  Bíblia  em  que  se  apresenta  o  Criador 
arrependido  de  ter  criado  o  homem:  «Videns  autem  Deus  quod  multa 
malitia  hominum  esset  in  terra...  poenituit  eum  quod  hominem  fecis- 
set  in  terra»  (Gen.  6,  5-6). 


14.  -  LISBOA  29  DE  JULHO  DE  1559 


105 


querem  ganhar  a  terra,  mas  deixam-se  estar  esperando  que  945 
por  huma  parte  os  matem  os  franceses  e  os  contrairos  por 
outra,  e  os  [j8v]  Yndios  da  terra  que  se  alevantem  e  os 
acabem  de  consumir  e  comer  a  todos.   Este  segredo  eu  não 
ho  entendo,  mas  vejo  yr-se  a  perder  tudo. 

Já  tenho  dito  muyta  parte  de  minha  dor  a  V.  M. ;  muy-  950 
tas  mais  dores  me  ficavão  pera  com  ele  desabafar  que  por 
carta  se  não  podem  dizer.    Peço-lhe,  pola  charidade  de 
Christo  N.  Senhor  com   que  sempre  me  amou,  que  a 
soberba  e  ygnorancia  que  nesta  conhecerá,  emende  pater- 
nalmente; e,  quanto  nele  for,  faça  socorrer  a  este  pobre  955 
Brasil  do  que  ele  bem  sabe  que  lhe  será  necessário  pera 
tantas  ynfirmidades  quantas  tem,  pera  que  esta  piquena 
faisca  de  fee  e  amor  divino,  que  agora  se  começa  acender 
nos  corações  deste  gentio,  se  continue  e  não  se  apague, 
pois  Christo  N.  Senhor  venit  hunc  ignem  mittere  in  ter-  960 
ram  et  vult  ut  accendatur  86.  Ele  lhe  dê,  por  sua  misericór- 
dia, a  sua  paz  na  terra  e  a  gloria  nos  ceos.  Amen. 

Desta  Baya  a  5  de  Julho  de  1559. 

[Mão  própria :}  Orador  e  servo  de  V.  M.  em  Christo, 

+  Manoel  da  Nóbrega.  965 

14 

DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

LISBOA  29  DE  JULHO  DE  1559 

I.  Texto:  ARSI,  Lus.  6o,  ff.  I37r-i38r  [antes  pp.  51-53].  Ende- 
reço por  mão  de  amanuense:  «Al  muy  Reverendo  en  Christo  Padre, 
el  P.e  Maestro  Diogo  Laynez,  Prepósito  General  de  la  Compaiiía  de 


945   a  terra  bis  ||  948   consumir  e  sup.   \\  961    Ele  dei.  d  [é]  ||  963   sua  sup. 


86   Luc.  12,  49. 


106 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  DIEGO  LAYNES 


Jesus.  En  Roma».  Outra  letra:  «1559  Lisbona.  Del  P.e  D.  Torres 
Provincial,  29  di  Luglio.  Ricevuta  à  6  di  Settembre».  Original  em 
espanhol. 

II.   Edição:    Edita-se  o  que  toca  ao  Brasil. 

Textus 

1.  Epistolae  ad  Indiam  et  Brasiliam.  —  2.  Epistola  Patris  Nóbrega 
quam  ipse  Torres  Romam  misit.  —  3.  Cur  mutationem  Provincialis  ius- 
serit  in  Brasília.  —  4.  Mittit  informatioties  de  expeditionibus  sacris  in 
Brasiliam  et  Angolam.  —  5.  Iam  fias  informatioties  non  mittit  quia 
aliquid  in  eis  mutatum  est. 

+ 

IHS 

Muy  Reverendo  en  Christo  Padre 

La  gracia  y  amor  de  Jesú  Christo  Nuestro  Senor  sea 
siempre  en  nuestras  almas.  Amén. 

5      1.    A  13  dei  presente  recibimos  la  primera  via  dei  des- 
pacho de  V.  I3.  para  la  índia  y  Brasil,  la  qual  se  guarda  para 
embiar,  quando  aya  embarcación. 
[...] 

2-    [x37v]  La  carta  dei  Padre  Nóbrega  embiamos  de 
10  Castilla  1,  parece  que  se  perderia  en  el  camino,  ni  creo 
que  era  muy  importante.    El  P.e  Ambrósio  Perez  está  en 
esta  casa,  muchas  vezes  anda  enfermo. 
[...]  ' 

3.    Ya  escrivimos  por  diversas  vias,  que  se  recibió  acá 
15  a  buen  tiempo  el  despacho  que  venía  para  la  índia  y  el 
Brasil,  el  qual  se  ha  copiado  para  ir  en  diversas  naos  2. 


1  Pela  referência  a  seguir  ao  P.  Ambrósio  Pires,  parece  tratar-se 
da  cópia  da  carta  perdida  de  Nóbrega,  de  informação  de  ofício,  sobre 
esse  Padre,  enviada  primeiro  a  Castela  para  a  ver  o  P.  Comissário 
Francisco  de  Borja  (cf.  Leite,  Cartas  de  Nóbrega  [1955]  83*  n.  28). 

2  Cf.  supra,  carta  10  §  1. 


14. -LISUOA  29  DE  Jl'LHO  DE  1559 


107 


Y  al  Brasil  ordenamos  de  commissión  de  V.  P.  que  el 
P.e  Manoel  da  Nóbrega  embiasse  a  llamar  a  la  Bahia  el 
P.e  Luís  da  Graam  para  que  tu  viesse  el  cargo  de  Provin- 
cial, y  él  se  passasse  a  San  Vicente  por  las  razones  de  su  20 
enfermidad,  y  por  el  mismo  lo  pedir  con  tanta  instancia,  y 
por  los  Padres  y  Hermanos  allá  lo  desearen  mucho,  y  los 
moradores  de  aquellas  partes  estaren  muy  alboratados  con- 
tra el  Padre  Nóbrega  y  averen  embiado  aqui  processos 
contra  él,  etc.  Y  visto  todo,  pareció  que  V.  P.  seria  dello  25 
contento,  y  por  aver  periculum  in  mora  no  se  consulto  pri- 
mero  a  Roma.  Tamen  convenía  aprobación  de  allá  3. 


4.    Con  esta  se  embían  los  nombres  y  iníormación  de 
los  que  tenemos  nombrados  para  el  Brasil  y  Angola.  Par-  3° 
tirán  todos  en  el  mes  de  Agosto  con  la  ayuda  de  Nuestro 
Senor,  o  al  principio  de  Setiembre  4. 


3  A  aprovação  do  facto  consumado  é  menos  explícita,  segundo 
escreve  Polanco  a  21  de  Agosto  de  1559,  por  comissão  do  P.  Geral 
Diego  Laynes :  Nuestro  Padre  «aprueba  la  horden  que  se  dió  para  el 
Brasil,  de  que  el  Padre  Luís  de  Grana  fuese  a  la  Baya  y  tubiese  cargo 
de  Provincial  y  el  Padre  Nóbrega  se  tornasse  a  Sanct  Vincente  para 
más  poder  atender  a  su  salud.  Con  ésto,  como  el  poner  Provincial  es 
próprio  dei  Prepósito  General,  así  también  el  quitarle  o  mudarle;  y  no 
se  deve  hazer  desde  Portugal  sin  comisión  particular  o  general  que  a 
ésto  se  estienda;  mas  bien  parece  que  aya  acá  memoria  que  se  dió 
esta  comissión  a  V.  R.a»  (Hisp.  66,  f.  7V)  Como  se  verá  pela  carta 
de  30  de  Julho  (carta  16  §  2)  o  P.  Geral  Laynes  tinha  confirmado  a 
Nóbrega  no  cargo  de  Provincial  para  que  fora  nomeado  por  S.  Inácio. 
Oito  dias  depois  daquela  carta  de  Roma,  seguiu  outra,  para  Torres, 
a  29  de  Agosto  de  1559,  ordenando  que  o  Provincial  de  Portugal  daí 
em  diante  não  abrisse  as  cartas  que  no  sobrescrito  dissessem  ser  só 
para  o  Geral  (ARSI,  Fondo  Ges.  1540  [Coll.  163]).  Donde  se  infere  que 
mais  uma  vez,  neste  assunto  do  Brasil,  procedeu  o  P.  Torres  sem 
conhecer  cabalmente  as  coisas,  como  dele  diz  Polanco  noutra  oportu- 
nidade: «aliqua  constituit,  rebus  non  bene  intellectis>  {Chronicon  11 
705;  Rodrigues,  História  1/2  i2r). 

4  Partiram  a  19  de  Setembro  (Leite,  História  1  561). 


2i    y  sup. 


108 


P.  FRANCISCO  PIRES  -  PADRES  E  IRMÃOS  DE  S.  ROQUE 


5.    [i38r]  Los  nombres  y  información  de  los  de  Angola 
35  y  Brasil 5  no  van,  porque  pareció  despues  variar0  algo  en 
ello.  Como  estuvieren  dei  todo  determinados,  se  embiarán 
con  las  informaciones  que  V.  P.  pide. 

No  se  offrece  agora  otra  cosa.  En  las  oraciones  y  santos 
sacrifícios  de  V.  P.  mucho  en  el  Senor  nos  encomendamos. 
4o      De  Lisboa,  29  de  Julio  de  1559. 

[Mão  própria:]  Indigno  e  ynútil  hijo  de  V.  P., 

-f  Torres. 

15 

DO  P.  FRANCISCO  PIRES 
AOS  PADRES  E  IRMÃOS  DE  S.  ROQUE,  LISBOA 

[BAÍA  30  (?)  DE  JULHO  DE  1559] 

I.   Bibliografia :    Catalogo  dos  Manuscriptos  i  33  ;  Cimélios  499 ; 
Leite,  História  ix  63  n.  4. 

II.    Autores:    LEITE,  História  I  218;  II  153 

III.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque, 
Lisboa]  1-5,  2,  38,  ff.  195V-196V  Titulo:  «Copia  de  huma  do  Padre 
Francisco  Pires  do  Brasil,  de  novas,  depois  da  geral».  Manuscrito 
com  passos  lacerados  e  ilegíveis.   Apógrafo  em  português. 


5  Os  que  foram  para  o  Brasil,  o  dirá  adiante,  a  6  de  Outubro 
(carta  29  §§  1-2). 

6  Este  pormenor  é  sintoma  da  crise  de  perturbação  e  indecisão 
de  ânimo,  que  dominava  então  o  P.  Miguel  de  Torres,  e  a  que  alude  o 
P.  Gonçalo  Vaz  de  Melo  (Leite,  Breve  Itinerário  T42);  crise  que  também 
chegou  à  índia,  e  que  o  mesmo  Vaz  de  Melo,  sucessor  do  P.  Torres  no 
governo  da  Província  de  Portugal,  exprimirá  depois  por  estes  termos: 
«A  lo  que  el  P.  Doctor  Torres  scrivió  sobre  la  conversión  de  los  de  la 
índia,  mucha  alteración  causó  en  estas  partes  y  en  las  de  la  Índia, 
como  ya  por  otras  tengo  escrito  largo,  de  Coimbra»  (carta  do  P.  Gon- 
çalo Vaz  de  Melo  ao  P.  Geral  Laynes,  de  Braga,  25  de  Agosto  de  1562, 
Lus.  61,  f.  io8r). 


15.  -  BAÍA  50  (?)  DE  JULHO  DE  1559 


109 


IV.  Data:  Como  diz  no  §  i  é  complemento  à  carta  geral  de  5  de 
Julho  de  1559  (carta  12).  Escrita  depois  do  dia  21  de  Julho,  citado  no 
texto  (§  5),  e  deve  ter  seguido  para  Lisboa  com  a  carta  de  Nóbrega 
do  dia  30  (carta  16),  data  também,  mais  dia  menos  dia,  desta  carta  de 
Francisco  Pires. 

V.   Impressão:    Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  239-241. 

VI.   Edição:    Reimprime-se  o  texto  único,  socorrendo-nos  das 
Cartas  Avulsas  nos  passos  delidos  ou  ilegíveis. 

Textus 

1.  Quid  accidit  post  epistolam  generalem  missam.  —  2.  Gubernator 
Mendus  de  Sá  rever  sus  est  victoriosus  ab  «Ilhéus».  —  3.  Indi  iam  inci- 
piunt  mu  tare  mores  plorandi,  bibendi  et  tonsuram  faciendi.  —  4.  Solemne 
funus  duorum  indorum  in  bello  «Ilhéus»  occisorum. —  5.  Dolor  Patrum 
Brasiliae  quum  e  Portugália  sitie  Patribus  navis  adventaverit .  —  6.  Lae- 
titia  de  electione  Patris  Generalis. 

Gratia  et  Pax  Christi. 

1.  [içór]  Estando  a  carta  geral  já  no  maço  [e  escrita, 
me  mandou  o  nosso]  Padre  Preposito  que  proseguisse  com 
algumas  cousas  adiante,  quae  sunt  ea  quae  sequuntur. 

2.  Chegou  o  Senhor  Governador,  dos  Ilheos,  com  muyta  5 
vitoria,  gloria  a  Nosso  Senhor,  porque  matando  na  guerra 

a  muytos  negros  e  queimando  muytas  aldeãs  e  cobrando 
muytas  cousas  que  os  índios  tinhão  em  seu  poder,  que 
elles  mesmos  trazião,  e  vinhão  com  muyta  instancia  pedir 
paz.  E  assi  assentou  o  Guovernador  com  elles;  e  bem  i0 
creo  que  durará,  porque  pella  bondade  do  Senhor,  pella 
vitoria  dos  Branquos,  fiquão  todos  tão  medrosos  que  soo  a 
fama  os  faz  polias  outras  Capitanias  algum  tanto  encolher. 
Vierão,  sem  falecer  nem  periguar  nenhum  branco,  e  de 
todo  o  numero  de  índios,  que  desta  Baya  forão,  só  dous  I5 
morrerão  1. 


12   dos]  aos  >«s.  |  medrosos  corr.  sup.  ex  temerosos 


i   Cf.  supra,  carta  de  Nóbrega  a  Tomé  de  Sousa  (carta  r3  §  52). 


110 


P.  FRANCISCO  PIRES  -  PADRES  E  IRMÃOS  DE  S.  ROQUE 


3.  Disse  isto  para  vir  ad  ea  quae  ad  nos  pertinent.  Se 
vireis  alguma  hora,  Charissimos  Irmãos,  este  gentio  vir  da 
guerra  ora  com  vitoria  ora  sem  ella,  bem  creo  que  teríeis 

20  altas  contemplações  ora  do  inferno,  ora  da  gloria,  ora  do 
próprio  conhecimento,  ora  do  fazimento  de  graças  para  nós, 
não  todos  do  numero  dos  que  no  tal  tempo  parecião  bor- 
rados 2  do  livro. 

Primeiramente,  as  molheres  fazião  grande  grita  geral- 

25  mente,  chorando  seus  maridos,  parentes,  outras  chorando 
os  mortos.  O  quantas  lagrimas,  quantos  gemidos  e  gritos, 
não  por  culpas,  não  por  peccados,  senão  por  antiguo  e  ceguo 
custume ! 

Pois  seu  beber,  com  tanta  immundicia  e  perigo  e  largo 
30  tempo,  não  se  pode  dizer!   Digão-no  lá  os  de  Pádua3  e  o 
Reverendo  Padre  Ambrósio  Pirez,  que  ainda  alcançaria 
algum  pedaço.  Mas  já  agora  cantemus  Domino  4  glorioso, 
pois  o  chorar  destas  em  entre  mãos  hé,  o  beber  por  medida. 
Pois  das  cerimonias,  quid  dicam  ?  Ho  rasguar  suas  car- 
35  nes,  ho  tosquiar  seus  cabellos,  o  tirar  seus  dós  dos  ante- 
passados e  mortos,  era  espanto!  Hum  mancebo  christão 
dos  da  villa  de  S.  Paulo  5,  exercitado  pello  demónio,  porque 
elle  hé  muito  das  taes  obras,  quis  usar  nesta  villa  de  huma 
cerimonia  da  ley  velha,  que  foy  fazer  a  coroa6:  tanto  que 


2  «Borrados»,  isto  é,  riscados,  dcleti;  cf.  Exod.  32,  32-33;  Apo.  3.  5. 

3  Alusão  à  última  estrofe  do  «Responsório  de  S.  António»:  «Todos 
os  males  humanos  /  Se  moderam,  se  retiram.  /  Digam-no  aqueles  que  o 
viram  /  E  digam-no  os  Paduanos»  (A.  Cardoso,  Tesouro  de  Piedade 
[Porto  1948]  342). 

4  Exod.  15,  1. 

5  Vila  de  S.  Paulo,  arredores  da  Baía.  Aldeia  de  Índios  não  vila 
no  sentido  municipal  português,  por  lhe  faltar  câmara.  Mas,  para  satis- 
fação dos  índios,  o  Governador  Mem  de  Sá  conferiu-lhe  alguns  elemen- 
tos próprios  das  vilas  dos  «Cristãos»,  entre  os  quais  o  pelourinho,  como 
explica  o  mesmo  Governador,  infra,  carta  31  §  10 

6  Os  Índios,  uns  trazem  o  cabelo  «comprido  com  uma  meia  lua 
rapada  por  diante  [...],  outros  fazem  certo  género  de  coroas  e  círculos, 
que  parecem  frades»  [...]:  «é  tanta  a  variedade,  que  tem  em  se  tos- 
quiarem, que  pela  cabeça  se  conhecem  as  nações»  (Cardim,  Trata- 
dos 168). 


15. -BAÍA  30  (?)  DE  JULHO  DE  1559 


111 


foi  sabido,  foy  muy  bem  castiguado  e  sofreo  o  castigo  con  40 
tanta  patientia  que  foi  pera  louvar  ao  Senhor. 

4.  Hum  dos  negros,  que  assima  disse  que  morrerão,  era 
hum  delles  desta  villa  de  S.  Paulo,  christão  dos  antiguos,  e 
Principal.  Fomos  o  P.e  Antonio  Pirez  eu  com  outros  alguns 
Irmãos  fazer  hum  officio:  e  assi  se  trabalha  solemnizar  alli  45 
muyto  o  culto  divino  para  em  tudo  tomarem  novo  espirito. 
Vierão  todos  à  igreja,  ouve  huma  solemne  pregaçam  na  sua 
lingoa,  scilicet,  do  inferno,  purguatorio  e  gloria.  £  acabado 

o  officio  e  missa  cantada,  jantamos  hum  galo,  que  nos  trou- 
xerâo  de  oferta  7.  50 

5.  [196V]  Aos  21  de  Julho  de  1559,  [entrou]  por  esta 
barra  huma  caravela,  que  vinha  pera  a  fazenda  de  Antonio 
Cardoso,  que  Deos  tem  s.  Não  sey  a  que  compare  a  ale- 
gria, o  alvoroço,  o  pedir  dalviçaras,  parecendo-nos  que 
tinhamos  aly  nossos  dilectissimos  Padres  e  Irmãos,  que  ao  55 
contentamento  se  pudesse  dizer  que  os  do  limbo  terião 
com  as  novas  do  mais  que  propheta  São  João  9,  scilicet, 
que  esperassem  cedo  por  seu  Christo,  que  já  o  deixava 
começando  sua  Redempção  em  o  mundo;  mas  assi  como 
aquelles  que  o  virão  e  resuscitarâo,  dalguns  as  culpas  fica-  60 
rão  na  terra  nem  tem  gloria  perfeita,  nem  nós  a  teríamos, 
achando-nos  somente  com  cartas;  mas  não  foy  pequena. 
Começando-as  a  ler,  [começamos  a  receber  nojvas  forças  e 
novos  desejos;  e  novos  louvores  ao  Senhor  começamos  a 
pintar  polias  mostras  das  muy  eroicas  obras,  obradas  pollo  65 
Espiritu  Santo  aos  que  não  conhecíamos;  e  [aqui  já]  con- 
versamos fallar  e  dizer:  O  quam  bonum  et  quam  iucun- 


41  patientia  corr.  sup.  cx  dilligencia  ||  59  mas  assi  como  bis  \\  60  resuscitarâo] 
resuscitarâo  mas  h.a  ms. 


7  Neste  pormenor  pitoresco  há  uma  contraposição  entre  a  actual 
«santidade»  cristã  e  a  antiga  «santidade»  gentia,  em  que  os  índios 
comiam  carne  humana. 

8  António  Cardoso  de  Barros,  Provedor-mor,  que  ia  na  nau  do 
Bispo,  e  a  quem  mataram  e  comeram  os  índios  {Mon.  Bras.  II  448). 

9  Mat.  11,  9. 


112 


F.  FRANCISCO  PIRES  -  PADRES  E  IRMÃOS  DE  S.  ROQUE 


dum  habitare  fratres  in  unum,  sicut 10  etc.  E  assi,  de  grao 
em  grao,  cá  recebemos  nossa  parte,  e  posto  que  não  nos 

70  chegue  mais  que  o  cheiro,  com  isto  se  contenta  a  espoza, 
in  odorem  11  etc.  De  vossas  obras  curamos,  pois  são  da 
espoza  de  Christo  e  por  elle  se  obrão. 

6.  Chegando  àquella,  em  a  qual  se  nos  mostrou  o  nosso 
novo  pai12  e  nosso  novo  pastor,  o  pastor  das  nossas  almas, 

75  quid  dicam?  Illa  nubes  lúcida  [obumbravit]  omnes,  et  ceci- 
derunt  omnes  in  fácies  suas13,  porque  corpos  humanos  não 
podem  comprehender  tam  grande  alegria.  Gloria  à  Santís- 
sima Trindade,  três  pessoas,  hum  só  Deus,  cuius  omnia 
sunt  u,  tenha  por  bem  levar  nossas  almas  consiguo  in 

80  secula  seculorum.  Amen. 
Ynutilis, 

Francisco  Pirez. 

CARTA  PERDIDA 

15a.  Do  P.  Francisco  Pires  ao  P.  Miguel  de  Torres,  Lisboa  (Baía 
30?  de  Julho  de  1559).  Sobre  o  seu  escrúpulo  de  ter  sido  crúzio  antes 
de  entrar  na  Companhia  e  que  o  P.  Torres  tranquilizara  na  carta  de  12 
de  Maio  de  1559:  «Ahora  me  responde  el  mismo  que  se  ha  consolado 
mucho  dello  y  queda  satisfecho  de  la  dispensación»,  —  escreve  Torres  a 
Laynes,  10  de  Janeiro  de  1560  §  5.  A  carta  de  Francisco  Pires  a  Torres 
deve  ter  sido  escrita  com  a  carta  precedente,  de  30  de  Julho  de  1559 
(carta  15). 


67-6S    locundum  »«s. 


10  Ps.  132,  r. 

11  Cant.  r,  3. 

12  O  novo  Geral,  P.  Diego  Laynes  (cf.  infra,  carta  16  §  1). 

13  Mat.  17,  5-6. 

14  Cf.  1  Cor.  3,  22.  Deste  louvor  à  Santíssima  Trindade,  ao  chega- 
rem ao  Brasil  as  cartas  e  eleição  do  novo  Geral,  há  outro  eco  transmi- 
tido por  Luís  Fróis  ao  receberem-se  estas  mesmas  notícias  em  Goa,  na 
índia:  «E  o  dia  seguinte  depois  das  cartas  chegadas,  se  dise  huma 
misa  mui  solemne  de  canto  d'orgão,  de  diácono  e  subdiacono,  oficiada 
pelos  nosos  meninos  de  casa,  em  omrra  e  louvor  da  Sanctissima  Trin- 
dade, porque  fizera  comnosco  suas  misericórdias»  (Wicki,  DI  IV  291). 


16.  -  BAÍA  30  DE  JULHO  DE  1559 


115 


16 

DO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

BAÍA  50  DE  JULHO  DE  1559 
I.   Bibliografia :    Leite,  História  IX  io  n.  29. 

H.  Autores :  Vasconcelos,  Chronica,  liv.  11  n.  64 ;  Leite,  His- 
tória I  460  ;  II  466. 

III.  Texto:  ARSI,  Bras.  ij,  ff.  64r-65v  [antigo  301T-302V;  riscado 
pp.  168-172].  Notação  do  arquivista  (f.  65V):  «1559.  De  la  Baía  dei  Sal- 
vador. Del  Padre  Nóbrega,  30  de  Luglio».  Texto  por  letra  do  ama- 
nuense António  Blázquez;  cláusula  e  assinatura  autografa  de  Nóbrega. 
Original  em  espanhol. 

IV.  Impressão  :  Leite,  Novas  Cartas  Jesuíticas  —  de  Nóbrega  a 
Vieira  (São  Paulo  1940)  88-92;  Cartas  de  Nóbrega  (Coimbra  1955)  354-360; 
489-501. 

V.  História  da  Impressão:  Novas  Cartas  dá  o  texto  traduzido 
em  português,  porque  tal  era  a  índole  desse  livro  brasileiro;  Cartas  de 
Nóbrega  o  original  espanhol  e  a  tradução  portuguesa  moderna. 

VI.   Edição  :   Reimprime-se  o  original  (Bras.  ij). 

Textus 

I.  Laetatur  de  eius  electione  ad  Generalem  S.  I.  —  2.  Iubebat  P.  Lay- 
ties  ut  ipse  Nóbrega  in  múnus  Provincialis  pergeret,  sed  ei  successorem 
iam  dederunt  et  iussus  est  residere  in  Praefectura  S.  Vincentii  quo  ibit 
quum  navis  habeatur.  —  3.  Domos  Societatis  replevit  pueris  indis  ad 
seligendos  meliores  eosque  grammaticam  docendos  ut  suo  tempore  fierent 
boni  operarii  in  Brasília.  — 4.  De  pueris  curat  vir  qui  functus  est  munere 
régio  vultque  Societatem  ingredi  et  latinam  linguam  discit.  —  5-  Pueri 
iam  domum  habent  a  Patrum  domo  seiunctam  et  e/iam  exercitia  pró- 
pria.— 6.  De  dispensatione  a  regulis  et  consultorum  electione.  —  7.  lmpe- 
tratae  facultates  opportune  pervenerunt.  —  8.  Semper  iudicavit  pueros 
mixtos  et  brasilos  ad  Societatem  aptos  esse,  dummodo  in  Europa  insti- 
tuerentur.  —  9.  ínterim  mittat  P.  Generalis  operários  in  Brasiliam  quia 
pauci  sunt  et  messis  multa. 

8 


114 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


+ 

Jesús 

La  gracia  y  amor  de  Christo  N.  Senor  sea  syempre  en 
continuo  favor  y  ayuda  de  V.  P.  Amén. 

1.    Recebiraos  las  de  V.  P.,  las  quales  oymos  con  tanta 

5  alegria  de  spíritu  como  venidas  dei  trono  de  la  Magestad 
Divina,  como  en  la  verdad  venían  tan  sabrosas  palabras 
que  el  Spírito  Sancto  Paracleto  nos  embiava  por  manos  de 
V.  P.  para  Consolación  destos  hijos  de  la  Compafiía  dester- 
rado[s]  en  estas  partes  por  su  amor;  y  tanto  más  nos  ale- 

°  graraos  quanto  más  desseosos  estávamos  de  saber  a  quien 
nuestro  Senor  se  dignava  darnos  por  padre  y  pastor. 
Dimosle  gracias  por  nos  dar  a  V.  P.  a  quien  ya  en  nues- 
tras  ánimas  teniamos  por  tal l,  quedando  con  esto  nuestros 
desseos  etfectuados. 

5  2.  V.  P.  me  mandava  que  yo  attendiesse  al  officio 
de  Provincial,  y  fué,  según  yo  pienso,  por  no  tener  mani- 
fiesta  y  clara  ynformación  de  quán  poco  yo  era  para  ello, 
mas  de  Portugal 2  onde  conocieron  mis  enfermedades  cor- 
porales  y  espirituales,  an  usado  conmigo  de  misericórdia 

°  y  me  han  relevado  dei  cargo,  y  me  mandaron  abrir  la  pri- 
mera  sucessión,  en  la  qual  lo  da  a  nuestro  verdadero 
P.e  Luys  de  Grana,  y  con  mucha  razón  porque  yo  era 
abortivo3  ante  tyempo  embiado  con  el  cargo  a  estas  par- 
tes. Y  me  mandan  que  resida  en  Sant  Vicente  para  onde 


lo   prius  estamos 


1  Diego  Laynes,  depois  da  morte  de  S.  Inácio  (31  de  Julho  de  1556), 
governou  como  Vigário  Geral  e  foi  eleito  segundo  Geral  da  Companhia 
no  dia  2  de  Julho  de  1558,  na  I  Congregação  Geral  reunida  em  Roma 
de  19  de  Junho  a  10  de  Setembro  de  1558  (Rodrigues,  A  Companhia 
12-13;  Synopsis  historiae  S.  1.  [1950]  42). 

2  Isto  é,  o  Provincial  de  Portugal,  Miguel  de  Torres,  que  então 
era  (1555-1561). 

3  Cf.  1  Cor.  15,  8-9. 


16.  -  BAÍA  30  DE  JULHO  DE  1559 


115 


partiré  como  tuviere  embarcación,  puesto  que  temo  me  sea  25 
contraria  aquella  tierra  por  causa  de  ser  muy  fria,  y  mis 
enfermedades  antiguas  averse  resolvido  en  corrimientos  y 
postemas  de  sangre  flemático  que  por  todo  el  cuerpo  me 
salieron  por  donde  he  purgado  mucho,  y  me  hallo  bueno 
loores  al  Sefior,  porque  él  mismo  asy  lo  quiso  por  las  ora-  30 
ciones  de  V.  P.  y  de  mis  Padres  y  Hermanos  en  Christo. 
Yo  más  quisiera  ayudar  aqui  al  P.e  Luys  de  Grana,  subiecto 
a  tan  dulce  y  prudente  Padre,  asy  porque  aqui  se  abren  las 
puertas  de  la  conversión,  por  causa  de  la  subieción  en  que 
se  mete  la  gentilidad,  como  también  por  residir  aqui  el  35 
Governador  dei  Rey,  lo  que  allá  en  Sant  Vicent  no  ay, 
como  verá  por  las  cartas  de  las  nuevas  que  de  entram- 
bas  las  partes  allá  yrán.  Lo  que  escrive  el  P.e  Juan  de 
Polanco  por  commissión  de  V.  P.  se  cumplirá  muy  a  la 
letra 4.  40 

3.  En  este  Collegio  reside  agora  muy  poca  gente,  por- 
que los  Padres  y  Hermanos  están  repartidos  por  las  Ygle- 
sias  que  están  entre  la  gentilidad  haziendo  su  oíficio;  sola- 
mente  residen  los  que  attienden  al  estúdio  y  doctrina  desta 
ciudad.  Tanbién  están  aqui  en  casa  algunos  yndiozicos  de  45 
los  gentiles,  aunque  poços  por  aver  falta  de  provisión  para 
su  sustentación:  pero  en  las  [64.V]  Casas  donde  residen 
nuestros  Hermanos  ay  muchos,  y  tan  acrecentados  en  la 
fe  y  mandamientos  y  ley  dei  Sefior  que  es  una  gloria  ver- 
los.  Yo  he  procurado  mandar  hazer  muchos  mantenimien-  50 
tos  en  las  tierras  deste  Collegio  por  hun  hombre  casado,  que 
allá  fuera  tiene  cargo  de  los  esclavos  y  de  toda  la  más  gente 
desta  Casa;  y  la  causa  por  que  ordene  esto,  fué  para  reco- 
ger  aqui  los  moços  de  mejores  yngenios  y  abilidades  que 
se  hallassen  por  nuestras  Casas,  y  a  estos  ensenarles  gra-  55 
mática  y  todo  lo  demás;  y  si  andando  el  tyempo  alguno 


30  porque  corr.  tx  que  ||  38  Juan]  Ju°  ms,  |  47  las  dei.  tie  ||  54  abilidades 
dil.  de 


4   Carta  perdida. 


116 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


mostrasse  tener  gracia  para  servir  a  N.  Senor,  mandarse  a 
Espanha  por  espacio  de  algún  tiempo  para  ver  y  depren- 
der  virtudes,  aquellas  que  menester  fuessen  para  hun  buen 
6o  operário  en  estas  partes  5.  El  P.e  Luys  de  Grana  lo  hará 
agora  mejor  quanto  él  tiene  más  prudência  para  todo  lo 
bueno. 

4.  Ha  nuestro  Senor  dado  muy  a  propósito  hun  hom- 
bre  de  mucho  respecto  6  para  tener  cargo  destos  ninos,  el 

65  qual  después  de  biudo  se  entrego  todo  a  este  cargo,  puesto 
que  sirve  hun  officio  dei  Rey  honrrado,  que  tiene  con  poco 
trabajo,  con  deseos  de  ser  recebido  en  la  Compahía  des- 
pués que  se  desenbaraçare  de  sus  obligaciones  y  traspa- 
sare  el  oííicio  que  tiene  a  un  su  hermano,  que  también 

70  queria  que  succediesse  en  su  lugar  en  el  cargo  de  los 
ninos,  e  para  ser  más  abil  para  lo  recebir  en  la  Compahía 
estudia  agora  latín.  Es  persona  de  mucha  edificación  asy  a 
nosotros  como  a  los  de  fuera,  y  dél  me  ayudo  agora  mucho 
en  los  negócios  temporales  deste  Collegio. 

75  5.  Para  este  y  para  los  ninos  tengo  hecho  una  divi- 
sión  de  las  casas  entre  ellos  y  los  Herraanos  7,  aunque  por 
ellos  ser  hasta  agora  poços  y  los  Hermanos  no  muchos, 
y  no  aver  quien  a  ellos  y  a  nos  sirva,  no  se  ha  podido  dei 
todo  hazer  apartamiento,  antes  nos  ayudainos  unos  a  otros. 

80  Comen  todos  en  nuestro  relitorio  en  mesas  separadas,  por 
causa  de  oyr  la  lición  que  se  lee ;  todos  tenemos  un  cozi- 
nero  y  una  despensa,  porque  no  ha  sydo  possible  aver 
aparejo  para  otra  cosa  hasta  agora,  pêro  en  la  habitación 
y  exercicios  están  separados. 


70   succediesse]  succcediesse  tus. 


5  Manifestação  clara  de  Nóbrega,  enquanto  foi  Provincial,  sobre 
o  Clero  indígena  (índios  e  mestiços);  e  que  era  também  para  serem 
religiosos  da  Companhia  o  declara  mais  abaixo  no  §  8. 

6  Rodrigo  de  Freitas,  como  Nóbrega  escreveu  nominalmente  no 
fim  da  carta  de  8  de  Maio  de  1558  (Mon.  Bras.  II  458-459). 

7  Sobre  esta  separação  de  Meninos  e  Irmãos,  em  Goa,  cf.  WlCKI, 
DI  II  592-593;  Hl  97- 


16.  -  BAÍA  50  DE  JUI.HO  DE  1559 


117 


6.  Quanto  al  dispensar  de  las  regias,  se  guardará  lo  85 
que  manda.  Yo  no  siento  cosa  en  que  las  regias  y  Cons- 
tituciones  de  allá  no  se  guarden  tanbién  aquá,  sino  seria 

en  admitir  este  hombre  dentro  deste  Collegio  entre  tanto 
que  se  apareja  para  dei  todo  renunciar  el  mundo,  puesto 
que  biva  separado  de  los  Hermanos,  lo  que  yo  hize  por-  90 
que  edificavan  mucho  sus  virtudes  a  los  Hermanos,  y  a 
my  es  muy  util  y  buen  ayudadorj  y  en  otras  cosas  que 
antre  poços  como  aquá  estamos  se  pueden  mal  guardar. 

Quanto  a  la  eleción  de  los  consultores  para  el  Provin- 
cial, me  parece  bien  que  adonde  ay  muchos  Padres  ele-  95 
girse  por  ellos,  o  elegirse  en  Portugal  adonde  son  más 
conocidos  los  que  aqui  están,  como  será  aqui  en  esta  Baya 
adonde  parece  que  avrá  más  gente  que  en  las  otras  partes 
y  residirá  el  Provincial;  y  para  las  otras  partes  donde  ay 
menos,  el  Provincial,  que  agora  es  Luys  da  Grana,  proverá  100 
como  mejor  le  pareciere. 

7.  Las  gracias  ympetradas 8  an  venido  a  muy  buen 
tyempo  y  con  ellas  avemos  hecho  [65r]  mucha  obra  entre 
los  nuevos  convertidos,  y  dado  remédio  a  muchas  almas. 
Lo  que  más  uviere  para  pedir,  el  tiempo  y  la  necessidad  lo  105 
amostrará. 

8.  Quanto  al  escogerse  de  la  gente  que  nasce  aquá 
para  la  Compafiía,  asy  mestiços  como  brasiles,  siempre  me 
pareció  que  seríão  muy  útiles  operários,  por  causa  de  la 
lengua  y  ser  de  los  mismos  naturales.  Mas  estos  se  deven  no 
escojer  aquá  y  embiarse  a  Europa  muchachos  y  allá  ser 
por  tyempo  largo  doctrinados  en  letras  y  virtudes  pri- 
mero  que  aquá  buelvão,  porque  aquá,  por  la  mucha  occa- 
sión  que  tienen,  tengo  por  muy  diííicultosso  quajarse 
ninguno.  115 


96   o  sup.  |j  10a   a  dei.  b    |  104    los  dtl.  gentiles 


8  Referência  a  dispensas  matrimoniais,  que  Nóbrega  por  diversas 
vezes  pedira,  sobretudo  na  carta  do  último  de  Agosto  de  1553  e  ainda 
urgia  na  carta  de  25  de  Março  de  1555  §  12  (Mon.  Bras.  11  171). 


118 


IR.  ANTÓNIO  RODRIGUES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


9.  Quanto  al  prover  de  operários  a  estas  partes,  V.  P. 
devia  mandar  prover,  porque  de  los  que  avemos  venido  de 
Portugal  an  fallecido  quatro  9,  y  parece  que  tomão  otro 
que  de  acá  embié,  que  es  el  P.e  Ambrósio  Pirez  que  vale 

120  por  cinco,  y  de  los  otros  ay  muy  poços  y  la  miesse  mucha 
y  cada  vez  será  mucho  más,  plaziendo  a  nuestro  Senor. 
Agora  no  más  que  encomendamos  todos  en  los  sacrifícios 
y  oraciones  de  V.  P.,  y  pedimos  su  bendición  en  Christo 
Jesú  nuestro  Senor. 

125      Desta  Baya  a  XXX  de  Julho  de  1559  anos. 
[Mão  própria:]  Hijo  de  V.  P.  mui  inutill, 

+  Nóbrega. 

17 

DO  IR.  ANTONIO  RODRIGUES 
AO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA,  BAÍA 

[ITAPUÃ  (BAÍA)  PRINCÍPIOS  DE  AGOSTO  DE  1559] 

1.  Bibliografia:    B.  MACHADO  1  367  ;  SOMMERVOGEL  VI  1939  n.  IJ 
Streit  11  347  n.  1266;  Leite,  História  ix  82  n.  2. 

IL  Texto:  1.  ARSI,  Bras.  15,  f.  57r  [antes  f.  2951-,  mais  antigo 
riscado  p.  165].  Titulo:  «Copia  de  una  dei  Hermano  Antonio  Rodriguez 
para  el  P.e  Nóbrega».  Versão  espanhola  do  original  português  perdido. 
Autógrafo  do  tradutor  António  BJázquez,  que  a  incluiu  na  sua  primeira 
carta  de  10  de  Setembro  de  1559  (carta  21).  Incluiu  três  a  seguir,  e 
mais  uma  depois  de  datada  a  carta.  De  todas  quatro,  esta,  que  aqui  se 
imprime,  é  a  primeira. 

2.  Bras.  ij,  f.  70V.  Tradução  italiana,  coeva,  feita  pela  espanhola. 
5.    Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa]  1-5, 

2,  38,  f.  6ov.  Cópia  coeva  da  tradução  espanhola  (1). 

III.  Data:  Blázquez,  ao  traduzi-la  do  português  (era  carta  de  por- 
tuguês para  português)  e  ao  transcrevê-la  na  sua  de  10  de  Setembro, 


9  Salvador  Rodrigues  (f  1553),  Leonardo  Nunes  (f  1554),  João  de 
Azpilcueta  Navarro  (f  1557)  e  João  Gonçalves  (f  1558). 


17.  -  ITAPUÃ  PRINCÍPIOS  DE  AGOSTO  DE  1559 


119 


omitiu  a  data;  mas  a  posição  dela  neste  conjunto  de  cartas  parece  cor- 
responder a  princípios  de  Agosto,  antes  de  todas  as  mais  de  António 
Rodrigues;  e  por  isso  Blázquez  a  teria  colocado  em  primeiro  lugar. 

IV.  Impressão:  Nuovi  Avisi  deWlndie  di  Portogallo.  Terza  Parte 
(Veneza  1562)  f.  57r-57v;  Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico 
Brasileiro  49  i.a  P.  (1886)  40;  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  232. 

V.  História  da  Impressão:  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução  ita- 
liana (2);  Revista  e  Cartas  a  retroversão  portuguesa  moderna,  feita 
por  3. 

VI.    Edição  :   Edita-se  a  tradução  autografa  de  Blázquez  (1). 

Textus 

1.  Baptismus  piterorum  innocentium  et  spes  ut  transeant  Indi  in 
Pagum  Spiritus  Sancti.  —  2.  Sed  oportet  ut  etiam  domus  habeatur  apud 
«Itapuã». 

Reverendo  Padre 

1.  Luego  como  llegamos  a  esta  Itapuán  luego  hize 
asentar  el  número  de  los  ynnocentes,  los  quales  me  dieron 
de  muy  buena  voluntad,  y  los  baptizamos  todos  para  glo- 
ria dei  Senor.  Eran  por  todos  treynta  y  uno.  Acabado  el 
oíficio  les  prediqué  lo  mejor,  que  pude  y  supe,  de  la  cria- 
ción  dei  mundo  y  nuestra,  de  la  gloria  etc,  lo  que  todo  fué 
de  tanta  ediíicación  para  los  circunstantes,  que  se  hallaron, 
christianos,  que  lloravan  por  las  barbas,  según  me  dixo  el 
patrón2  y  otros  christianos  que  presentes  se  hallaron.  Glo- 


6   les  corr.    Polanco  ex  le  [  supe  bis  priore  dei.  \  6-7    criación  corr.  ex  criaçoon 


1  Itapuã,  pequeno  porto,  fora  do  Recôncavo  da  Baía,  na  costa 
atlântica. 

2  O  sentido  desta  palavra  parece  ser,  aqui,  o  de  patrão  ou  arrais 
de  embarcação,  diferente  do  padrinho,  de  que  se  fala  a  seguir  (trata-se 
de  autógrafo  de  Blázquez).  O  que  indicaria  que  a  viagem,  pelo  menos 
da  Baía  até  Itapuã,  fosse  por  mar.  Estes  «cristãos  que  choravam  pelas 
barbas»  deviam  ser  portugueses  ou  filhos  de  portugueses. 


120  IR.  ANTÓNIO  RODRIGUES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


ria  y  loores  al  Senor.  El  viejo  fué  su  padrino  con  tanto 
fervor  que  era  espanto.  Cierto  que  es  un  buen  viejo,  y 
tiénele  grande  amor  toda  esta  gentilidad;  luego  seria  her- 
mitano  de  alguna  hermita  que  aqui  se  le  hiziesse. 

2.  Paréceme  que  es  ympossible  mudar  esto  de  aqui, 
principalmente  deseando  ellos  tanto  de  ser  christianos,  que 
todos  sus  hijos  me  tienen  juntos  esta  mariana  con  buena 
voluntad  para  levarlos  comigo  a  San  Spíritus;  allende  desto 
avrá  aqui  una  casa,  a  qual  ellos  harán,  porque  esperan 
moradores  de  longe  que  se  ajunten  con  ellos,  y  como  es 
nuestra  passage  siempre  se  doctrinarán  y  se  le  dirá  missa 
a  las  vezes.  V.  R.a  o  3  veja. 

18 

DO  IR.  ANTÓNIO  RODRIGUES 
AO  F.  MANUEL  DA  NÓBREGA,  BAÍA 

[ALDEIA  DO  ESPÍRITO  SANTO  (BAÍA)  8  (?)  DE  AGOSTO  DE  1559] 

1.  Bibliografia:  B.  Machado  I  367 ;  SoMMERVOGEL  VI  1939  n.  1 ; 
Streit  11  347  d.  1266 ;  Leite,  História  ix  82  n.  3. 

IL   Autores:    Leite,  História  11  30;  Breve  Itinerário  147. 

III.   Texto:    1.  ARSI,  Bras.  ij,  f.  57r-57v  [antes  f.  295r-295v,  mais 
antigo  riscado  pp.  165-160].  Título:  «En  otra  dize»  [Antonio  Rodrigues 
ver  título  da  carta  precedente].    Tradução  autografa  em  espanhol  do 
original  português  perdido,  feita  por  António  Blázquez. 

2.  Bras.  ij,  ff.  7ov-[7i]-72r.  A  f.  71,  encaixada  na  encadernação 
entre  70  e  72,  não  pertence  a  Rodrigues. 

3.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  ff.  6ov-6ir.  Cópia  da  tradução  espanhola  (1). 


14    de  corr.  ex  que      15    paréceme  post  tOft. 


3    Pronome  o  em  português;  em  espanhol  seria  lo. 


18.  -  ALDEIA  DO  ESPÍRITO  SANTO  8  (?)  DE  AGOSTO  DE  1559  121 


IV.  Data:  Escrita  depois  da  precedente  (António  Rodrigues  ia  a 
caminho  da  Aldeia  do  Espirito  Santo,  agora  chegou),  numa  «terça-feira», 
talvez  8  de  Agosto.  Excluímos  a  terça-feira  seguinte,  15,  festa  da  Assun- 
ção, que  por  ser  tão  grande  solenidade  ele  a  teria  indicado  em  vez  do 
dia  comum  da  semana. 

V.  Impressão  :  Nuovi  Avisi  deWIndie  di  Portogallo.  Terza  Parte 
(Veneza  1562)  57v-58r;  Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  Bra- 
sileiro 49  i.a  P.  (1886)  40-41 ;  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  234-235. 

VI.  História  da  Impressão:  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução  ita» 
liana  (2),  Revista  e  Cartas  a  retroversão  portuguesa  moderna,  feita 
por  3. 

VII.    Edição:    Edita-se  a  tradução  autografa  de  Blazquez  (1). 

Textas 

1.  Fr.  Antonius  Rodrigues  in  Pagum  Spiritus  Sancti  pervenit  cum 
viginti  pueris  portantibus  dorso  relia  ad  dormiendum  et  arundines  ad 
piscandum.  —  2.  Indi  bona  voluntate  filios  dant.  —  3.  Pueri  videbantur 
adire  Salamancam  sed  reverá  in  scholam  Christi  ibant.  —  4.  Indus  Prin- 
cipalis  Urupemaiba  Fratrem  Rodrigues  amplexu  recepit.  —  5.  Ut  novi 
christiani  barbariam  deponant  cultique  deveniant.  —  6.  Non  amplius  pro- 
gredi possumus  deficientibus  Patribus. 

1.  Llegamos  aqui  a  Sant  Spiritus,  oy  martes,  con  obra 
de  veynte  ninos  hijos  dei  Parajuba1  [57V]  y  de  sus  parien- 
tes,  los  quales  dieron  con  muy  buena  voluntad  y  con  espe- 
rança que  allí  también  les  harían  yglesia.  Cierto  que  era 
para  ver  los  meninos  con  sus  redes  a  cuestas  y  canas  de 
pescar  juntos  todos  al  pie  de  la  +  [cruz],  juntamente  con 
lo  que  me  dezíão  las  viejas. 

2.  Algunos  vinieron  hasta  acá  con  sus  hijos  para  que 
los  aposentássemos  bien,  y  algunos  que  faltaron  de  la 
nómina,  que  yo  tenía  hecho,  me  los  llevaron  luego  atrás 


5   para  sup. 


1    Índio  Parajuba,  Principal  de  Itapuã.   Cf.  carta  precedente  §  2. 


122 


IR.  ANTÓNIO  RODRIGUES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


de  my  hasta  que  dellos  fuy  alcançado,  y  encomendándome 
sus  hijos  con  mucha  ynstancia  se  tornaron.  Entre  estos 
me  dixo  una  vieja  desculpando  a  su  hierno,  que  ella  lo 
venía  a  traer  por  él  porque  él  estava  doliente. 

15  3.  Asy  que  íué  este  un  viaje  para  my  de  mucha  Con- 
solación viéndome  cercado  destas  almas  que,  dexadas  las 
casas  de  sus  padres  y  madres,  se  venían  conmigo  con  tanta 
alegria  a  la  casa  de  Dios  para  ser  ensenados  en  su  sancta 
fe.    A  mí  parecíanme  estos  ninos  estudiantes  pobres  que 

20  yvan  a  estudiar  a  Salamanca,  mas  differentes  y  desiguales 
en  la  yntención,  porque  allá  van  aprender  letras  y  scien- 
cias,  y  estes  caminavan  para  la  escuela  donde  no  ha  de 
sonar  sino  Christo  in  cordibus  eorum.  Desta  cosa  no 
qiiento  más,  hasta  que  vaya  al  Carón  2  a  juntar  los  de 

25  allá  que  agora  será  muy  fácil  de  hazer. 

4.  Hallé  aqui  la  gente  muy  deseosa  de  my,  y  el  Prin- 
cipal Urupemaíba  3,  que  es  cierto  muy  buen  yndio,  se  vino 
luego  con  los  braços  abiertos  abraçarme,  diziendo  que 
siempre  nos  avia  favorecido  y  que  siempre  lo  avia  de 

30  hazer.  Este  agasalhado  que  él  me  hizo,  hizieron  otros 
también  movidos  por  su  exemplo.  Louvores  al  Senor  con 
tan  buenas  amuestras. 

5.  Haga  V.  R.a  con  los  nuevamente  christianos,  scilicet, 
Garcia  de  Sá  y  Bastião  de  Ponte 4,  que  se  pongan  en 

35  órden  y  policia  Christiana. 

6.  Por  falta  de  obreros,  según  va  la  cosa,  no  allegamos 
ya  muy  longe  de  aqui  con  el  nombre  de  Jesus.  Sone  su 
Magestad  en  las  orejas  y  coraçones  de  todas  sus  criaturas 
para  ser  de  todas  ellas  amado  y  reverenciado. 


14  por  él  sup.  |l  19  pobres]  povres  ms.  |i  21  porque  corr,  Polanco  tx  por  ||  36  Por 
ms.  pol 


2  Torna  a  falar  do  «Carón»,  Iocalizando-o  mais,  na  carta  20  §  4. 

3  Índio  Urupemaíba,  Principal  da  Aldeia  do  Espirito  Santo. 

4  Destes  dois  índios,  o  primeiro,  Garcia  de  Sá,  era  meirinho  da 
Aldeia  de  São  Paulo  {Mon.  Bras.  II  467). 


19.  -  ALDEIA  DO  ESPIRITO  SANTO  AGOSTO  DE  1559 


123 


19 

DO  IR.  ANTÓNIO  RODRIGUES 
AO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA,  BAÍA 

[ALDEIA  DO  ESPÍRITO  SANTO  (BAÍA)  FIM  DE  AGOSTO  DE  1559] 

1.  Bibliografia:  B.  Machado  i  367;  Sommervogel  vi  1939  n.  x; 
Streit  11  347  n.  1266 ;  Leite,  História  ix  82  n.  4. 

II.  Texto:  1.  ARSI,  Bras.  //,  f.  57V  [antes  f  295V,  mais  antigo 
não  riscado  p.  166].  Título:  «En  otra  dize»  (cf.  as  duas  cartas  prece- 
dentes). Tradução  espanhola  do  original  português  perdido,  feita  por 
António  Blázquez  (autografa). 

2.  Bras.  ij,  f.  72r.  Tradução  italiana,  coeva,  feita  pela  espa- 
nhola (1). 

5.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  f.  6ir.  Cópia  coeva  da  tradução  espanhola  (1). 

III.  Data:  Parece  continuação  das  duas  precedentes,  e  certa- 
mente antes  de  10  de  Setembro,  data  da  autógrafa  de  António  Bláz- 
quez dentro  da  qual  está  traduzida.  Talvez  fins  de  Agosto. 

IV.  Impressão  :  Nuovi  Avisi  deWIndie  di  Portogallo.  Terza  Parte 
(Veneza  1562)  58r ;  Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  Brasi- 
leiro 49  i.a  P.  (1886)  41-42;  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  236. 

V.  História  da  Impressão:  Em  Nuovi  Avisi  imprime-se  a  tradu- 
ção italiana  (2),  mas  aí  se  ajuntou  inadvertidamente  o  final  da  carta  de 
Blázquez;  na  Revista  e  Cartas,  &  retroversão  portuguesa  moderna,  feita 
por  3. 

VI.    Edição :   Edita-se  a  tradução  autógrafa  de  Blázquez  (1). 

Textus 

7.    Opus  conversionis  gentilium  maius  in  dies  incrementum  suscipit. 

1.  Las  cosas  van  en  crecimiento  por  la  bondad  dei 
Senor.  Un  yndio  llevó  un  su  hijo  a  la  +  [cruz]  de  Sanc- 


a    yadio  corr.  tx  hijo 


124 


IR.  ANTÓNIO  RODRIGUES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


tiago  1  para  que  lo  sanasse,  y  así  lo  sano.  Un  viejo  de 
algunos  cien  anos  está  de  buena  voluntad  para  recebir  el 
5  baptismo  en  Sanctiago.  Hun  moço  de  doze  afios  íué  a  la 
mar  y  dióle  súpitamente  la  muerte,  y  truxéronmelo  luego 
corriendo  en  una  rede  a  la  yglesia,  y  el  P.e  Antonio  Pires  2 
lo  baptizo  porque  aún  bivía.  Este  muchacho  avia  obra  de 
dos  meses  que  con  mucha  ynstancia  me  avia  pedido  el 
io  baptismo.  Parece  que  adevinava  que  avia  de  morir  presto. 
No  más  sino  que  me  encomiendo  en  sus  devotos  sacri- 
fícios. 

Siervo  sin  provecho, 

Antonio  Rodriguez. 

20 

DO  IR.  ANTÓNIO  RODRIGUES 
AO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA,  BAÍA 

[ALDEIA  DO  ESPÍRITO  SANTO  (BAÍA)  9  (?)  DE  SETEMBRO  DE  1559] 
I.    Bibliografia:   B.   MACHADO  I  367-368;  SOMMERVOGEL  VI  1939 

n.  1;  Streit  11  347  n.  1266;  Leite,  História  ix  n.  5. 
II.    Autores:  LEITE,  História  II  25  59  62 

III.  Texto:  1.  ARSI.  Bras.  ij,  f.  58r-58v  [antes  f.  296r-29Óv,  mais 
antigo  riscado  p.  167].  Tradução  espanhola  do  original  português  per- 
dido, feita  por  António  Biázquez  (autógrafa). 


1  Sobre  a  Cruz  ou  Aldeia  de  Santiago,  cf.  Leite,  História  II  54. 

2  O  P.  António  Pires  residia  actualmente  na  Aldeia  de  S.  João 
e  ia  aos  domingos  dizer  missa  à  do  Espirito  Santo  (carta  de  Blázquez 
de  10  de  Setembro  §§  7-8).  Mas  antes  esteve  uma  temporada  no  Espí- 
rito Santo  a  convalescer  duma  doença,  diz  Nóbrega,  carta  aos  Padres 
e  Irmãos  de  Portugal,  de  5  de  Julho  (carta  12  §  18);  e  talvez  sucedesse 
nesse  tempo  o  caso  referido  no  texto.  Observe-se  que  António  Rodri- 
gues ainda  não  era  Padre,  e  António  Pires  já,  e  por  isso  foi  ele  quem 
fez  o  baptismo. 


20.  -  ALDEIA  DO  ESPÍRITO  SANTO  9  (?)  DE  SETEMBRO  DE  1559  125 


2.  Bras.  //,  f.  72r-72v.  Tradução  italiana,  feita  pela  espanhola  (1). 

3.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [  S  Roque,  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  f.  6iv.   Cópia  coeva  da  tradução  espanhola  (1). 

IV.  Data:  Não  a  traz  expressa,  como  nenhuma  das  precedentes 
do  Ir.  António  Rodrigues.  Esta  vem  a  seguir  a  uma  das  três  de  Bláz- 
quez,  por  comissão  de  Nóbrega,  datadas  todas  da  Baía,  10  de  Setembro 
de  1559,  que  assim  se  constitue  data  convencional  para  as  deste  período. 
Convindo  manter  a  materialidade  da  data  (são  cartas  autografas  de 
Blázquez),  pareceu  atribuir  a  esta,  de  António  Rodrigues,  a  data  de 
9  de  Setembro,  e  poderia  chegar  de  facto  à  Baía  depois  de  10. 

V.  Impressão:  Nuovi  Avisi  deli' Indie  di  Portogallo.  Terza  Parte 
(Veneza  1562)  59v-6or;  Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  Brasi- 
leiro 49  i.a  P.  (1886)  43  44 ;  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  237-238). 

VI.    História  da  Impressão:  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução  ita- 
liana (2) ;  Revista  e  Cartas  a  retroversão  portuguesa  feita  por  3. 

VII.   Edição:  Edita-se  a  tradução  autógrafa  de  Blázquez  (1). 

Textus 

1.  Indi  undique  filios  tradunt  Fr.  Antonio  Rodrigues,  qui  iam 
habet  200  pueros  docendos.  —  2.  Indus  Urupemaiba,  novus  pagi  prae- 
fectus,  media  nocte  omnes  cados  vini,  quos  invenit,  fregit.  —  3-  Omnis 
terra  disposita  est  ut  in  ea  magnus  fructus  percipiatur.  —  4.  Indi  omnes 
Fratribus  S.  I.  obediunt,  etiam  qui  apud  «.Carão»  habitant  prope  «Rem- 
bepé»  cupiunt  filios  eis  tradere. 

La  surama  gracia  de  Christo  nuestro  Senor  sea  syempre 
en  continuo  favor  y  ayuda.  Amén. 

1.  Nunca  mi  spíritu  (Padre  mio)  fué  tan  alegre  y  con- 
solado en  las  cosas  de  mi  ofíicio,  que  el  Senor  por  médio 
de  V.  R.a  me  dió,  como  el  dia  presente  de  agora.  Ajúntense  5 
todas  las  gentes  y  congréguense  todas  las  naciones,  quo- 
niam  coníirmata  est  super  nos  misericórdia  Domini  *.  Quien 
me  diera  que  se  sintiera  y  conociera  como  se  passa,  porque 
yo  no  me  atrevo  a  declararlo.  Digo,  Padre  mio,  que  «iuve- 


1   Ps.  116,  2. 


126 


IR.  ANTÓNIO  RODRIGUES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


io  nes  et  virgines,  senes  cum  iunioribus  laudant  nomen 
Domini»  2.  Ya  tenemos  en  esta  casa  por  la  bondade  dei 
Sefior  más  de  dozientos  nifios  yndiozicos  que  continua- 
mente se  occupan  en  la  doctrina  y  cosas  pertenecientes  a 
la  fe.  Espero  en  el  Sefior  que  muy  presto  llegarán  a  dozien- 

i5  tos  y  cinqiienta,  porque  dei  Carón  traen  los  padres  a  sus 
hijos  y  me  los  entregan  con  grande  edificación  de  palabras; 
y  tomando  cada  uno  su  hijo  por  la  mano  me  dizen:  «Véis 
aqui  mi  hijo?  Ensefiadlo,  poco  a  poco  aprenderá  y  des- 
pués  yrnos  ha  ensefiar  las  cosas  dei  Sefior».  Y  a  ellos  le 

20  dizen  que  no  huyão,  y  para  qualquier  cosa  me  pidan  licen- 
cia, y  me  sean  obedientes  y  subiectos  en  todo  lo  que  les 
mandare.  Ellos  tanbién  dizen  que  quieren  ser  christianos. 
Quien  me  diesse  tener  alas  para  bolar  adonde  está  mi 
Sefior  3  y  dezirle:  Domine,  respice  in  testamentum  tuum  4 

25  et  mitte  operários  5. 

2.  El  nuevo  Alcayde  Urupemaíba  u,  aunque  no  tiene  la 
vara,  solamente  la  esperança  de  lo  ser,  fué  con  un  mar- 
tillo  a  la  media  noche  y  quebro  quantas  tinajas  halló  llenas 
de  vino,  porque  se  tiene  mandado  que  no  bevan  de  noche 

30  por  se  evitar  muchas  occasiones  de  peccados  y  dissolucio- 
nes  que  entonces  se  hazen.  De  todo  sale  mucho  loor  al 
Sefior.  Que  será  después  que  el  Governador  le  hiziere  la 
solennidad  devida? 

3.  Da  por  acá  muy  buen  odor  de  sy  Sant  Pablo  con 
35  sus  moradores,  loores  al  Sefior.   La  tierra  está  muy  aba- 


10    seaes  add.  sup.  Polanco     \\  13   se  dei.  co  ||  34    con  post  corr. 


a    Ps.  148,  ia. 

3  Ps.  54.  7- 

4  Ps.  73,  20. 

5  Mat  9,  38;  Luc.  10,  a. 

6  Meirinho  Urupemaíba;  o  texto  de  S.  Roqne  acrescentou  um  dt 
intermédio:  meirinho  «de  Urupemaíba»,  transformando  em  locativo 
(como  se  fosse  Aldeia)  o  que  era  nome  de  pessoa.  Blázquez  na  trans- 
posição da  carta  para  espanhol  escreve  calcayde»,  mas  o  termo  ofi- 
cial deste  cargo  nas  Aldeias  dos  Índios  era  o  de  meirinho  (cf.  infra, 
carta  31  §  10). 


20.  -  ALDEIA  DO  ESPÍRITO  SANTO  9  (?)  DE  SETEMBRO  DE  1559  127 


liada  para  se  hazer  en  ella  grandíssimo  fructo.  Ay  todos 
harán  lo  mesmo  que  aqui,  por  esso  desseo  a  V.  R.a  aqui, 
de  estada,  para  que  sienta  y  ordene  sus  cartas  y  negócios 
con  el  Sefior  Governador  y  lo  que  se  ha  de  hazer  en  la 
tierra.  4° 

4.  [58V]  Cada  vez  van  más  creciendo  y  no  diminuyen 
en  todo  bien,  mayormente  en  el  acatamiento  y  obediência 
a  los  de  la  Companía.  De  aqui  bien  longe,  allende  dei 
Caron,  junto  a  Rembepê  7,  me  quieren  agora  traer  sus  hijos 
y  estoy  esperando  por  ellos.  Dizen  que  me  mandarán  algu-  45 
nos  y  que  poco  a  poco  vendrán  otros,  serial  es  que  Dios 
les  habla.  En  la  Itapuán  8  quedaron  alguns  ninos.  Tráy- 
galos  V.  R.a  quando  en  buen  ora  viniere.  Encomiéndome 
mucho  en  sus  devotos  sacrificios  y  oraciones. 


CARTAS  PERDIDAS 


20a.  Do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Antônio  Blásques,  Baia 
(Aldeia  do  Espírito  Santo  [Baía]  Setembro  de  1559)  «kl  Padre  Pro- 
vincial me  escrivió  de  allá»,  —  diz  Blazquez,  2.a  carta  de  10  de  Setem- 
bro de  1559  §  2 

20b.  Do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  P.  Miguel  de  Torres,  Lisboa 
(Baía  Setembro  ?  de  1559).  Nóbrega  «significa  que  se  partiria  luego 
con  el  Governador  para  el  Rio  de  Henero,  que  es  junto  a  San  Vicente», 
—  escreve  Torres  a  Laynes,  10  de  Janeiro  de  1560  §  4  (carta  30). 


41     creciendo  corr.  ex  creciento  |   47     les  corr.  Polanco  e.v  le  ||  49     devotos  y  ms. 


7  Carón  junto  a  Rembepê,  que  também  se  escrevia  Rembe  pê,  ou 
simplesmente  Rembê  (e  ainda  Arembé).  Já  se  referia  ao  Carón  na 
carta  18  §  3;  e  deve  ser  o  mesmo  lugar,  que  na  carta  de  Nóbrega  a 
Torres  (carta  12  §  19)  aparece  escrito  «Chorão». 

8  Cf.  supra,  carta  escrita  em  Itapuã  (carta  17). 


128 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


21 

DO  P.  ANTÓNIO  BLÁZQUEZ 
POR  COMISSÃO  DO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 

1.  Bibliografia :    Catalogo  dos  Manuscriptos  I  22 ;  Cimèlios  494 ; 
Leite,  História  vm  107  n.  4. 

II.  Autores:  Leite,  História  I  90;  II  51  87  111  153  274  288  298 
463;  Breve  Itinerário  152. 

III.  Texto:  1.  ARSI,  Bras.  ij,  ff.  55r-s8v  [antes  ff.  293r-296v, 
mais  antigo  riscado  pp.  161-168J.  Endereço  autógrafo  [296V] :  «Al  muy 
Reverendo  en  Christo  Padre  nuestro,  el  Padre  Maestro  Diego  Lainez, 
Prepósito  General  de  la  Compania  de  Jesus,  eu  Roma.    Del  Brasil. 

1.  a  via».  Outra  letra  :  «Brasília  1559».  Dentro  desta  carta  se  acham 
traduzidas  de  português  e  insertas  as  quatro  cartas  precedentes  de 
António  Rodrigues.  Autógrafo  em  espanhol  com  portuguesismos. 

2.  Bras.  if,  ff.  68r-72r.  Tradução  italiana. 

3.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa],  1-5, 

2,  38,  ff.  58V-60V  +  6tr  6iv.  Titulo:  «Copia  de  huma  do  P.e  Antonio 
Blázquez  que  escreveo  da  Bahia  do  Salvador  a  10  de  Setembro  de  1559 
para  o  P.e  G  ;ral».  Cópia  em  espanhol  (de  1). 

IV.  Imiressão  :  Nuovi  Avisi  deWIndie  di  Portogallo.  Terza  Parte 
(Veneza  156^)  51V-56V  +  58V;  (linha  15)  5gr;  Revista  do  Instituto  Histó- 
rico e  Geográfico  Brasileiro  49  1.»  P.  (1886)  33-44 ;  Cartas  Avulsas  (Rio 
de  Janeiro  1031)  223  231. 

OJ.  if. 

V.  História  da  Impressão:  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução  Ita- 
liana (2)  com  as  cartas  traduzidas  de  António  Rodrigues,  como  indica 
a  paginação  descontinua  ;  Revista  e  Cartas  a  retroversão  portuguesa 
pelo  texto  3. 

VI.   Edição:    Edita-se  o  autógrafo  (1). 

Textus 

J.  Commercium  litteraruin.  —  2.  Otnnes  S.  1.  bene  valent  et  pro 
Indis  sunt  patres,  mediei,  et  infirmarii.  —  3.  Ministério  Patris  Nóbrega, 
unici  in  urbe  contionatoris.  —  4.    Schola  generalis  puerorum  cuius  «st 


21.  -BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 


129 


magister  P.  Franciscus  Pires.  —  5.  Confessiones  et  communio  hebdo- 
madalis  civium. —  6.  E  Portugália  Episcopus  exspectatur  et  etiam  Fra- 
tres  ad  docendum  Grammaticatn  et  Logicam  —  7.  Pagus  S.  loannis, 
ab  urbe  quinque  leucas  distans,  ubi  est  P.  Antonius  Pires.  —  8.  Pagus 
Spiritus  Sancti  ubi  est  Fr.  Antonius  Rodrigues.  —  9.  Pagus  S  Pauli, 
ab  urbe  leucam  distans,  ubi  sunt  duo  Fratres.  —  10.  In  S.  Pauli  schola 
140  pueri  discunt  doctrinam  dialogo  brasílico.  —  //.  Nóbrega  statuit 
ut  pueri  brasili  scholarum  pagorum  discant  grammaticatn  in  Collegio 
bahiensi.  —  12.  Pueri  brasili  christiani  patres  veneficos  reprehendunt.  — 
13.  Sacramenta  confessionis  et  matrimonii  in  Pago  S.  Pauli.  — 14.  Bap- 
tismus  et  solemne  festum  in  Pago  S.  Pauli  cum  sermone  bilingui. — 
15.    Fraternitas  Indorum  et  Lusitanorum  in  epulis  oblatis  ab  Jndis- 

—  16.  Mors  repentina  alicuius  indi,  cuius  domum  indae  crucibus  cir- 
cumdant.  —  17.  In  Pago  S.  Pauli  domos  aedificant  Indi  lusitano  more  ven- 
duntque  pennas  exemplo  dato  ab  indo  principali  Garcia  de  Sá.  —  18.  Indi 
cupiunt  ut  e  Portugália  veniant  etiam  matronae  ut  eorum  filias  doceant. 

—  19.  Pagus  S.  loannis  et  favor  Mendi  de  Sá  in  Indorum  caleche- 
sim.  —  20.  In  dies  crescit  schola  Pagi  Spiritus  Sancti  quam  regit 
Fr.  Antonius  Rodrigues.  —  21.  Bellum  apud  «Ilhéus»  a  Mendo  de  Sá 
victum.  —  22.    Epistola  Fr.  Antonii  Rodrigues. 

+ 

Jesús 

Muy  Reverendo  em  Christo  Padre 

La  gracia  y  paz  dei  Spíritu  Sancto  sea  syemprt.  en  con- 
tinuo favor  y  ayuda  de  V.  P. 

1.    Por  estotra  embarcación  se  escrivió  a  Portugal  una 
aeral  de  nuevas  de  lo  que  el  Senor  se  avia  di    iado  de 
obrar  por  los  de  la  Companía,  desde  el  Setiembre  passado 
hasta  el  postrero  de  Julho  de  1559  l,  y  fué  dirigida  al  Padre 
Provincial  Miguel  de  Torres  porque  hasta  aquel  tiempo  no 


1  Carta  de  Nóbrega  de  5  de  Julho  de  1559,  dirigida  ^  .  Miguel 
de  Torres,  como  diz  Blazquez  nesta  por  comissão  de  Nóbrega.  A  carta 
de  5  de  Julho  (carta  12)  deve  ter  seguido  para  Lisboa,  com  outra  de 
Nóbrega,  de  30  de  Julho  (carta  16),  esta  já  dirigida  ao  novo  Geral.  Neste 
meio  tempo  se  soube  na  Baía  a  eleição  de  Laynes  pela  Caravela,  que 
chegou  à  Baía  a  21  de  Julho  (carta  15  §  5). 


130 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


io  sabíamos  que  N.  Senor  nos  avia  dado  por  Padre  General 
a  V.  P.  Agora,  pues  somos  ya  ciertos  dello,  haremos  rela- 
ción  de  lo  que  después  acá  ha  succedido. 

2.    Los  Padres  y  Hermanos  que  al  presente  en  esta 
Baya  residen  están  buenos  in  utroque  homine2  y  proceden 

i5  (gracias  al  Senor)  cada  uno  en  lo  que  le  es  encomendado 
con  mucha  quietud,  pero  no  syn  mucho  trabajo  corporal 
y  espiritual,  por  ellos  ser  poços  y  los  negócios  a  que 
attienden  muchos  y  de  mucha  ymportancia,  como  es  en  la 
conversión  de  los  gentiles,  que  como  agora  el  Senor  les 

20  comiença  abrir  los  ojos  más  que  en  ningún  tiempo  atrás 
passado,  syempre  los  operários  son  muy  occupados  o  en 
desaraygarles  las  costumbres  dei  hombre  viejo  3  y  plan- 
tarles  las  dei  nuevo,  Christo,  o  en  predicarle  contra  sus 
ritos  y  ceremonias,  o  en  ymponerles  en  orden  y  policia 

25  Christiana.  Asy  qué  para  con  ellos  en  lo  exterior  (ultra 
dei  ensenamiento  spiritual)  son  nuestros  Hermanos  ayos, 
padres,  médicos,  enfermeros,  finalmente  sírvenlos  y  pro- 
venlos  quanto  en  sy  es  en  todas  sus  necessidades  con 
entranas  de  charidad,  para  que  viendo  ellos  que  por  todas 

3o  las  vias  buscan  su  provecho,  más  íácilmente  dexen  su  her- 
ror  y  se  conviertan,  y  tomen  sobre  sus  ombros  el  suavís- 
simo jugo  4  de  Christo  N.  Senor;  y  todas  estas  muestras  de 
amor  es  necessário  a  plantas  nuevas  y  de  tan  tosquo  enten- 
dimiento,  pero  por  la  bondad  dei  Senor  agora  ya  claro  des- 

35  pués  que  an  sido  regenerados  a  Christo  con  el  sagrado 
baptismo5.  Las  particularidades  que  con  ellos  se  ha  con- 
tecido  las  diré  luego,  por  dezir  primero  en  lo  que  nuestros 
Padres  se  ocupan. 


16  trabajo  corr.  ex  trabajor  ||  32-33  plaotarles  corr.  ex  praatarles  ||  31  convier- 
tan corr.  ex  convientan    |  37    primero  corr.  tx  luego 


2  «Num  e  noutro  homem»,  no  corpo  e  na  alma:  «bons  de  saúde  e 
de  espirito». 

3  Rom.  6,  6. 

4  Cf.  Mat.  ir,  30. 

5  Cf.Tit.3,3- 


21. -BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 


151 


3.  En  esto  Collegio  de  la  Ciudad  predica  el  Padre 
Nóbrega  algunos  domingos  y  fiestas  dei  afio  por  no  aver  40 
otro  ni  de  fuera,  ni  de  la  Compafiía  que  lo  haga;  alo  con- 
tinuado después  de  la  partida  dei  Padre  Ambrósio  Pirez6 
con  asaz  trabajo  por  sus  grandes  y  continuas  enfermeda- 
des.  En  casa  ay  syempre  todos  los  domingos  doctrina  a 
los  esclavos  de  los  christianos  y  de  en  quando  en  quando  45 
tienen  algunas  predicaciones  en  su  lengua,  o  declarándoles 

i  el  evangelio  dei  dia,  o  dándoles  algunos  documentos  de 
como  se  an  de  aver  en  la  fe  de  Christo. 

4.  Ay  tanbién  escuela  general  de  ninos  de  la  tierra  y 
hijos  de  los  christianos,  de  quien  tiene  cargo  el  Padre  50 
Francisco  Pirez. 

5.  Ay  tanbién  personas  devotas  que  siguen  las  confes- 
siones  y  toman  el  Sanctíssimo  Sacramento  todos  los  domin- 
gos, en  lo  que  an  sydo  muy  contrariadas,  pero  syempre  el 
demónio  ha  quedado  vencido,  dándoles  el  Senor  a  los  tales  55 

,  voluntad  y  esfuerço  de  ilevar  adelante  su  buen  propósito 
començado  por  más  difficultades  que  por  médio  se  pusiessen. 

6.  El  estúdio  se  ha  hasta  agora  continuado,  mas  porque 
ellos  eran  poços  y  faltavan  muchas  vezes,  y  el  [55V]  maes- 
tro aver  enfermado,  se  an  dado  ferias  que  durarán  hasta  60 
que  venga  el  Perlado  que  se  espera  cada  dia,  en  compafiía 
dei  qual  esperamos  que  vengan  algunos  Hermanos  que 
ensefien  gramática  y  lógica,  porque  avrá  ya  algunos  que  la 
pueden  deprender.  Agora  en  este  entre  tanto  que  no  vienen, 
se  comiençan  aparejar  algunos  de  los  que  an  de  ser  coadiu-  65 
tores,  y  no  se  aguarda  sino  que  vengan  los  Hermanos  de 
Sant  Vicente,  que  cada  dia  esperamos,  para  que  mientra  se 
recojen  unos,  acudan  otros  a  la  conversión  de  las  gentes, 

;  que  es  el  su  continuo  officio.  Pero,  no  obstante  esto,  syem- 
pre endereçan  a  este  fin  sus  meditaciones  y  sacrificios,  70 
rogando  al  Senor  los  haga  verdaderos  y  fieles  ministros,  y 


55    tales  bis  ms.  posteriore  dtl.  j|  57    por'  corr.  ex  sor 


6   Partiu  para  Portugal  por  Maio- Junho  de  1558  {Mon.  Bras.  11 459). 


132 


P.  ANTÓNIO  BLÁZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


los  vista  de  arriba  de  aquellas  virtudes  que  se  requieren 
en  el  cargo  de  que  su  divina  Magestad  se  quiere  servir 
dellos. 

75  7.  Los  Padres  que  aqui  residen  son  tres  y  las  yglesias 
a  que  acuden  son  quatro  con  esta  de  la  Baya.  El  P.e  Anto- 
nio Pirez  está  en  Sant  Juan,  cinco  léguas  desta  Ciudad. 

8.  Y  de  allí  açude  a  dezir  missa  algunos  domingos  a 
Sant  Spíritus,  adonde  reside  el  Hermano  Antonio  Rodri- 

8o  guez,  que  está  tres  legoas  de  aquella  Villa. 

9.  Desta  Ciudad  se  va  syempre  a  dezir  missa  los  domin- 
gos a  Sant  Pablo,  una  légua  de  aqui,  estando  ultra  desto 
dos  Hermanos  de  contino  attendiendo  syempre  a  la  doctrina 
de  los  gentiles  y  instruyendo  sus  hijos  en  buenas  costum- 

85  bres,  de  los  quales  ay  una  grande  escuela  en  que  se  les 
ensena  a  ler  y  escrevir,  y  la  doctrina  Christiana  con  otras 
cosas  pertenecientes  a  la  fe.  Tiene  cargo  desta  casa  el 
Hermano  Pero  da  Costa  en  compafiía  de  Juan  de  Sant 
Sebastián  que  acá  se  recibió  7. 

90  10.  Están  estos  ninos  muy  adelante  asy  en  costumbres 
y  buena  criança,  como  en  la  doctrina  y  cosas  de  la  fe.  Son 
por  todos  ciento  y  quarenta,  aunque  destos  no  serán  conti- 
nuos  sino  los  ciento,  entre  los  quales  ay  algunos  que  saben 
muy  bien  de  choro  la  doctrina,  y  un  diálogo  en  su  lengua 

95  donde  está  toda  la  substancia  delia;  y  destos  se  tiene  orde- 
nado que  alternatim,  quando  le  viniere  su  vez,  ensefie  por 
sy  en  su  lengua  y  en  la  nuestra  a  sus  compafieros  la  doc- 
trina Christiana.  Házenlo  con  tanta  destreza  y  desembol- 
tura  como  qualquiera  de  nosotros.  Gloria  al  Senor  por  todo. 
100  11.  Todos  estos  yndiozicos,  y  algunos  mayorzillos  que 
tienen  dado  de  sí  buenas  muestras,  son  todos  ya  chris- 
tianos  por  aver  mucho  tiempo  que  con  ellos  se  trabaja,  y 
de  su  parte  estar  muy  adelante  en  todo.  Por  lo  que  tiene 


7a   Prius  arribas  ||  91    Prius  crianças  ||   103    estar  corr.  tx  ertar 


7  Destes  dois,  Pero  da  Costa  veio  a  ser  Padre;  de  João  de  S.  Sebas- 
tião é  a  única  referência  (Leite,  História  I  575). 


21.  -  BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 


133 


determinado  nuestro  Padre  8,  a  estos  que  están  más  aven- 
tajados  en  ler  y  escrevir,  ponerlos  a  escuela  de  gramática  105 
en  este  Collegio,  trayendo  de  las  casas  donde  los  Herma- 
nos  están  los  más  ábiles  y  de  mejores  yngenios  ;  creo  que 
presto  avrá  commodidade  para  que  se  ajunten,  los  quales 
estarán  divididos  en  unas  casas  a  par  de  nos  teniendo  dellos 
cargo  en  lo  temporal  un  biudo  hombre  honrrado  que  ha  no 
dias  que  se  tiene  dedicado  para  este  ofiicio  9. 

12.  Los  muchachos,  ultra  de  lo  que  atrás  tengo  dicho, 
van  cada  dia  creciendo  en  amor  y  zelo  de  nuestra  ley,  y 
reprehenden  las  costumbres  de  sus  padres  descubriendo  a 
los  Hermanos  las  abusiones  que  usan  sin  nosotros  lo  saber.  115 
Uno,  sabiendo  que  nos  defendíamos  a  los  hechizeros  que 
no  se  quisiessen  hazer  dioses  con  meter  en  cabeça  a  los 
ygnorantes  que  les  davan  salud  con  sus  hechizerías,  vino 
a  descubrir  a  su  mismo  padre  que  a  escondidas  usava  de 
aquel  oíficio;  lo  que  sabiendo  él,  lo  açotó  terriblemente,  120 
suíriéndolo  el  moço  por  amor  dei  Senor  pacientemente. 
Mas  el  padre  no  quedo  sin  penitencia  asy  por  lo  uno  como 
por  lo  otro:  yo  lo  vi  publicamente  en  la  missa  pedir  de 
rodillas  perdón  al  Senor  accusándose  de  lo  passado  con 
muchas  protestaciones  de  ser  otro  de  allí  por  delante.  125 

Estava  también  un  indio  principal  desta  Villa  10  vana- 
gloriándose  de  algunas  valentias  que  tenía  hecho  en  la 
guerra,  mas  con  tanta  sobervia  y  presunción  que  passava 
de  medida  y  era  ynsufrible  oyrlo.  Lo  que  viendo  un  nino, 
que  se  llama  Benedicto,  christiano  y  muy  pequeno,  se  íué  130 
a  él  sin  de  nadie  ser  [56r]  avisado,  y  aunque  el  Principal 
era  viejo  y  estavan  algunos  parientes  que  le  pudieran  hazer 
mal,  no  obstante  esto  lo  reprehendió  teriblemente :  que 
para  que  se  estava  en  aquellas  locuras  que  no  servían  de 


118    ygnorantes  corr.  ex  ygrantes 


8  Nóbrega. 

9  Rodrigo  de  Freitas. 
10   S.  Paulo  (Baía). 


154 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


135  nada?  con  otras  cosas  con  que  el  pobre  viejo  quedó  mor- 
tificado. Destas  cosas  acontecen  cada  dia  muchas  que  por 
prolixidad  no  las  escrivo  por  contar  otras  cosas  de  más 
ymportancia. 

13.    Tornando  al  propósito  dexado,  en  esta  Villa  de 

140  Sant  Pablo  se  ha  celebrado  una  íiesta  de  mucha  aediíica- 
ción  y  alegria  spiritual  avrá  quinze  dias  u.  Desseavan  los 
yndios  de  Sant  Pablo  (aquellos  a  quien  dava  el  Sefior 
ynspiración  de  mudar  la  vida)  de  ser  christianos  movidos, 
según  creo,  por  el  exemplo  de  otros  que  por  Pascua  de 

145  Resurreción  12  resuscitaron  en  vida  de  gracia  con  el  sagrado 
baptismo  que  entonces  recibieron.  Asy  qué  ymportunavan 
mucho  al  Padre  que  quisiesse  también  que  ellos  fuessen 
baptizados  promettiendo  ser  otros  de  allí  adelante,  y  que 
luego  apartarían  de  si  las  mugeres  no  quedando  más  que  con 

150  una,  con  la  qual  querían  vivir  en  legítimo  matrimonio 
conforme  a  la  ley  de  los  christianos.  En  este  entre  tanto 
que  no  se  effectuavam  sus  desseos  dieron  de  sy  muy  buenas 
muestras  y  no  usando  de  sus  custumbres  viejas,  todo  a  fin 
a  que  pudiessen  atraher  al  P.e  Nóbrega  a  lo  que  ellos 

155  querían.  No  lo  pudo  él  más  dilatar,  porque  aunque  por  de 
fuera  mostrava  que  se  requerían  muchas  cosas  para  tan 
grande  negocio,  todavia  ynteriormente  lo  desseava  más 
que  ellos.  Por  lo  que  mandó  llamar  al  Hermano  Antonio 
Rodriguez,  que  estava  entonces  en  Sant  Spíritus  aedifi- 

160  cando  aquella  yglesia,  para  que  en  este  negocio  lo  ayudasse; 
y,  repartiéndose  entre  los  dos  el  trabajo,  el  P.e  Nóbrega 
confessava  y  él  era  el  yntérprete,  no  sin  mucha  Consolación 
de  entrambos  por  ser  ynstrumentos  en  obra  tan  pia  y 
acepta  al  Senor.   Gastáronse  algunos  dias  en  confessiones 


153   muestras  dtl.  apartando  de  sy  \  no  corr.  *x  uno 


11  A  27  (domingo)  ou  29  de  Agosto,  dia  da  Degolação  de  S.  João 
Baptista,  referida  directamente  à  santidade  do  matrimónio,  por  a  festa 
acabar  com  15  casamentos  cristãos. 

12  Em  1559 :  26  de  Março. 


21. -BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 


155 


y  en  aparejarlos  para  el  sacramento  dei  baptismo,  el  qual  165 
quiso  el  Padre  que  fuesse  con  toda  la  solenidad  que  ser 
pudiesse. 

14.    El  Principal  de  la  Villa,  que  agora  se  llama  Garcia 
de  Sá,  una  ora  antes  que  amaneciesse  (según  es  su  custum- 
bre)  anduvo  predicando  por  la  Villa,  y  por  cada  una  de  las  170 
casas  delia,  o  protestando  con  mucho  íervor  la  íe  y  ley  que 
tomava,  y  moviendo  con  esto  a  los  otros  a  que  íuessem 
christianos  y  dexassen  las  costumbres  de  sus  passados,  con 
otras  cosas  que  el  Spíritu  Sancto,  que  aquel  dia  recibió,  le 
ynspirava  ya  que  dixesse  a  los  otros.  Después  de  acabada  175 
esta  prédica,  se  juntaron  los  yndiozicos  de  la  Villa,  chris- 
tianos, que  son  muchos,  y  todos  con  el  Padre  se  íueron  a 
la  yglesia,  do  los  aguardavan  ya  aquellos  que  en  Christo 
avían  de  ser  regenerados  em  médio  de  sus  padrinos.  Púsose 
el  Padre  en  órden  y,  hechos  los  cathecismos,  los  baptizo  a  180 
todos  recibiendo  ellos  aquel  sacramento  con  mucha  devo- 
ción  y  lágrimas,  que  cierto  para  la  gente  de  íuera  era  cosa 
de  mucha  edificación,  por  ver  tan  humildes  y  mansos  aque- 
llos que  menos  avia  de  quatro  anos  los  vieran  tan  encarni- 
çados en  comer  carne  humana,  que  no  sonavan  ni  pensavan  185 
otra  cosa.    Un  Cavallero,  que  siempre  por  su  virtud  nos 
ayuda  en  estas  obras  13,  me  dixo  que  sintiera  tanta  devo- 
ción  en  esto,  que  por  vezes  no  se  pudiera  contener  de 
lágrimas:  este  era  su  padrino.   Como  el  Padre  acabó  este 
oíficio,los  yndiozicos  christianos  començaron  a  loar  al  Senor  190 
con  una  prosa  en  lengua  brasílica  y  espanola  14,  cosa  que 


171   o  sup.  II  17a   y  post  corr.  \\  186    Prius  cavalleros 


13  Pelo  que  diz  Nóbrega  na  carta  de  5  de  Julho  de  1559  §  6  (carta  12), 
parece  tratar-se  de  Simão  da  Gama  de  Andrade. 

14  Blázquez  deve  ter  usado  aqui  o  termo  «espanhola»  no  sentido 
ibérico,  que  ainda  então  possuía  a  palavra  «Espanha»  e  não  no  sen- 
tido nacional  moderno,  como  sinónimo  de  «castelhana».  Depois  de  1580 
seria  crivei  e  de  facto  se  fez.  O  «Diálogo  Pastoril»  de  1584  é  em  por- 
tuguês, castelhano  e  tupi  (Leite,  História  II  608).  Mas  é  menos  crível 
que  em  1559,  na  Baía  de  Mem  de  Sá  e  de  Nóbrega,  se  usasse  a  língua 


136 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


movia  mucho  a  devoción  a  los  circunstantes,  que  todos 
estavan  muy  aedificados  de  los  nifios  en  los  ver  tan  apro- 
vechados  en  las  cosas  de  la  fe.  Oííiciaron  la  missa  cantada 

195  los  mesmos  yndiozicos  hijos  de  los  baptizados,  la  qual  aca- 
bada el  Padre  casó  a  quinze  yndios  con  sus  mugeres,  de 
aquellos  que  avían  mostrado  mayores  desseos  de  guardar 
la  ley  de  Christo,  ultra  de  aver  hecho  muchos  christianos 
este  dia  asy  de  los  lactantes  como  de  los  mayorzillos  que 

200  estavan  ynstruydos  en  la  doctrina. 

15.  Despidiósse  esta  íiesta  con  llevar  los  padrinos  a 
los  [56V]  casados  a  sus  casas,  regozijándolos  con  una  folia 
que  en  todo  aquel  dia  alegro  mucho  a  todos.  Los  yndios 
tenían  aparejado  un  banquete  en  el  médio  dei  campo  en 

205  una  ramada  para  todos  aquellos  que  los  vinieron  a  honr- 
rar,  el  qual  aceptaron  los  christianos  y  comieron  a  su  mesa 
con  mucho  contentamiento  y  alegria  de  todos.  Entre  estos, 
que  se  casaron  y  hizieron  christianos,  fué  uno  el  Principal 
de  la  Villa,  grande  nuestro  amigo,  que  se  llama  agora  Gar- 

210  cia  de  Sá,  que  no  será  pequeno  médio  para  que  los  otros 
se  muevan  a  hazer  lo  mesmo.  El  Vicario  General 15  y  la 
otra  gente  noble  que  presente  se  halló  fueran  muy  edifica- 
dos deste  acto,  y  no  menos  maravillados  por  no  esperar 
tanto  de  gente  de  tan  baxo  entendimiento,  ni  les  parecer 

215  que  tan  presto  avia  de  ser  tan  doméstica  e  capaz  de  tan 
grandes  cosas,  mas  el  Senor,  lo  que  a  los  otros  parece  muy 
difficultoso  de  emprender,  con  su  favor  y  gracia  lo  haze 
muy  fácil.  A  él  sea  por  todo  loores  y  gracias. 

16.  En  esta  mesma  Casa  de  Sant  Pablo  aconteció  que 
220  aviendo  sydo  muerto  un  gentil  sin  ser  baptizado,  tan  súbito 


198    Christo  dil.  dexan  ||  aio    será  dei.  agora 


castelhana  em  vez  da  portuguesa;  e  é  sabido  que  o  «Auto  da  Pregação 
Universal»,  feito  por  Anchieta,  a  mandado  de  Nóbrega,  era  em  portu- 
guês e  tupi  (ib.  11  606). 

15  Vigário  Geral,  Francisco  Fernandes.  Deixou  o  cargo  a  1  de 
Agosto  de  1560  e  deve  ter  embarcado  pouco  depois  para  Portugal  com 
o  Dr.  Pero  Borges  (Capistrano  de  Abreu,  nota  a  GH  1  367). 


21. -BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 


157 


temblor  y  asombramiento  entro  en  unas  yndias  que  a  su 
muerte  se  hallaron  presentes,  que  no  podían  valerse  de 
miedo  por  las  visiones,  asy  que  tomaron  para  su  remédio 
cercar  toda  la  casa  con  cruzes,  teniendo  para  sy  que  con 
aquella  seiial  se  ampararían  de  aquel  terror.  Y  por  la  íe  225 
que  ellas  tuvieron  quedaron  libres  de  aquellas  visiones. 
Bendito  sea  el  Senor  que  les  abre  los  ojos  para  que,  no  en 
otro,  sino  en  él  y  su  cruz  busquen  el  remédio  de  sus  ánimas. 

17.  Los  yndios  desta  Villa  de  Sant  Pablo  en  todo  quie- 
ren  mudar  sus  custumbres,  y  comiençan  agora  los  que  ya  son  230 
christianos  a  hazer  cassas  apartadas  y  de  tapias  para  syem- 
pre  viver  en  ellas,  porque  su  custumbre  de  antes  era  cada 
dos  y  tres  anos  renovar  las  casas  mudándose  a  otras  par- 
tes.   Vendieron  también  todo  el  plumaje  que  tenían  para 

se  vistir  ellos  y  sus  mujeres,  lo  qual  aver  hecho  es  muy  235 
cierta  senal  dei  Spíritu  Sancto  aver  tocado  sus  coraçones. 
Porque  estas  plumas,  que  ellos  tienen,  son  las  mejores  alha- 
jas  que  ellos  tienen  y  delias  usavan  quando  matavan  los 
contrários  y  los  comían,  haziendo  delias  sus  capas  y  otros 
trajes  con  que  se  vestíanj  todo  lo  expendieron  y  desecha-  240 
ron  de  sy,  de  lo  qual  sy  antes  carecían  dello  no  se  tenía 
por  honrrado  entre  ellos.    La  causa  por  que  hazen  esto, 
dize  el  Principal  de  todos  ellos  Garcia  de  Sá  que  es  para 
que  sus  hijos  hagan  lo  mesmo  quando  mayores  viendo  que 
ellos  se  deshizieron  de  todo  esto  en  vida  dellos,  y  ansí  con  245 
su  exemplo  les  tenga  hecho  el  camino  para  seguir  buena 
vida. 

18.  An  también  hecho  ynstancia  al  Padre  que  querían 
escrevir  a  la  Reyna16  les  embiasse  mugeres  virtuosas  para 
doctrinar  sus  hijas,  pues  los  Padres  le  ensenavan  los  hijos,  250 


22i    temblor  corr.  ex  temslor  |j  227    el  sup.  \\  238    Prius  yuando 


16  D.  Catarina,  viúva  de  D.  João  III,  regente  do  reino  na  menori- 
dade do  Rei  D.  Sebastião.  Sobre  a  educação  de  meninas  do  Gentio 
por  mulheres  virtuosas,  escreveu  Nóbrega  ao  P.  Geral  (carta  52  §  20) ; 
e  cf.  resposta  (carta  68  §  4). 


138 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


y  ansí  lo  escriven ;  y  ha  parecido  esto  tan  bien  a  todos,  asy 
a  el  Governador17  y  toda  la  más  gente  de  la  Ciudad,  y  a 
nuestros  Padres,  que  todos,  unos  y  otros,  escriven  18  sobre 
esso.  Plazerá  a  N.  Sefior  que  será  obra  de  que  él  mucho 
255  se  sirva. 

19.  [57 r]  Lo  que  de  nuevo  ay  de  que  se  haga  saber  de 
la  Villa  de  Sant  Juan  es  lo  presente.  Estavan  algunas 
poblaciones  de  los  Yndios  apartadas  desta  Aldeã,  por  causa 
que  no  se  le  podia  socorrer  por  estar  longe  de  nos,  y  desto 

260  resultava  un  mal  muy  grande,  que  los  que  nosotros  doctri- 
návamos  tenían  estas  poblaciones  por  sus  acogidas,  donde 
yvan  quando  querían  y  celebravan  allí  sus  beveres  y  bay- 
les  con  otros  ritos  gentílicos  que  los  Padres  trabajavan  de 
desarraygarle  quanto  podían.  Atajósse  este  mal  con  man- 

265  dar  el  Governador  un  hombre  de  respeto  para  que  de  su 
parte  los  hiziesse  todos  passar  a  la  población  donde  los 
Padres  doctrinavan,  y  si  no  quisiessen  obedecer  les  que- 
masse  las  casas.  Asy  se  hizo  y  en  todo  se  provee  como 
cumple  al  servicio  de  nuestro  Senor,  y  esto  por  zelo  dei 

270  Governador  que  en  el  negocio  de  la  conversión  nos  ayuda 
con  todas  sus  fuerças :  y  sy  en  estos  dos  anos  se  tiene 
mucho  fructificado  in  vinea  Domini19,  después  dei  favor 
divino,  ha  sido  por  el  cuydado  y  j'ndustria  que  él  puso  en 
este  negocio.  Plega  al  Sehor  lo  conserve  en  tan  sancto 

275  propósito,  y  a  los  que  después  dél  vinieren  meta  el  mismo 
ânimo,  porque  si  los  otros  lo  ymmitaren,  ábrense  las  puer- 
tas  para  todo  el  Brasil  entrar  en  la  Yglesia  de  Dios. 

20.  De  la  Villa  dei  Spíritu  Sancto,  donde  está  el  Her- 
mano Antonio  Rodriguez,  tenemos  nuevas  que  cada  dia  se 

280  van  allí  acrecentando  los  nihos  de  la  escuela,  de  otras  pobla- 
ciones de  los  gentiles  que  están  a  par  dellos ;  es  para  nos 


353  escriven  bis  posttriorê  dei.  \\  357  Sant  dei.  Pablo  ||  a6a  celebravan]  colebra 
van  ws,  ||  264    desarraygarle  corr.  tx  desay raygarle 


17  Mem  de  Sá. 

18  Cartas  perdidas. 

19  Cf.  Mat.  20,  4-7. 


21.  -  BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 


159 


una  grande  Consolación.  El  Hermano  ha  hecho  ynstancia 
al  Padre  le  mande  quien  le  ayude  a  la  escuela,  porque  se 
va  llegando  el  número  de  dozientos  nifios,  y  porque  él  es 
syempre  occupado  con  sus  padres  no  puede  acudir  como  285 
conviene  a  tanta  muchedumbre.  Mas,  por  falta  de  aver 
Hermanos,  ayudámonos  de  los  muchachos  más  provectos 
que  nos  ayudan  muy  bien  Lo  más  podrá  conocer  V.  P. 
por  estas  copias  que  aqui  abaxo  pondré  dei  Hermano 
Antonio  Rodriguez.  290 

Copia  de  una  dei  Hermano  Antonio  Rodriguez 
para  el  P.e  Nóbrega20 

En  otra  dize21 

[57V]    En  otra  dize22 

21.    Los  dias  passados  vino  aqui  nuevas  como  la  Capi-  295 
tanía  de  los  Ylheos  estava  en  grande  apierto,  porque  los 
Yndios,  porque  no  les  dieron  satisfación  de  unos  agravios 
y  sinjusticias  que  los  christianos  les  avían  hecho,  determi- 
naron  de  vengarse  por  sy  mesmos,  y  ansí  quemaron  quatro 
yngenios  de  açúquar  que  allí  estavan,  y  robaron  toda  la  300 
hazienda  que  en  ellos  hallaron ;  y  a  los  christianos  hizieron 
retraer  a  la  Villa  donde  los  cercaron,  de  modo  que  no 
podían  yr  a  buscar  [58r]  mantenimientos,  de  lo  que  resul- 
tava aver  grande  hambre  en  la  población.  Acudió  el  Gover- 
nador en  este  aprieto  con  él  yr  en  persona  allá  llevándoles  305 
mantenimientos  y  municiones  de  guerra  para  contra  los 
gentiles,  con  los  quales  le  dió  el  Senor  grande  victoria23. 
Después  de  bien  castigados  hizo  pazes,  satisíaziendo  ellos 
el  mal  que  avían  hecho  lo  mejor  que  pudieron,  quedando 


20  Cf.  supra,  carta  17. 

21  Cf.  supra,  carta  18. 

22  Cf.  supra,  carta  19. 

23  Sobre  esta  guerra  dos  Ilhéus  e  vitória  de  Mem  de  Sá,  cf.  supra, 
carta  13  §  52. 


140 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


310  tributários  y  subiectos  al  Rey  de  Portugal,  promettiendo 
de  no  comer  carne  humana  y  de  ser  christianos  como 
uviere  quien  los  doctrine.  Aora  se  pudiera  también  con 
estos  trabajar  muy  fructuosamente  por  la  buena  disposi- 
ción  que  el  temor  les  ha  dado  para  recebir  la  fe.   V.  P., 

315  vista  la  necessidad  que  agora  acá  tenemos  de  gente,  nos 
haga  prover  de  Padres  y  Hermanos  que  ayuden  a  trabajar 
a  los  que  por  acá  andan  in  vinea  Domini. 

Estas  son  las  cosas  que  se  an  offrecido  scrivir,  deseando 
ser  encomendados  en  la  bendición  y  sacrifícios  de  V.  P. 

320  para  que  la  Divina  Bondad  se  digne  a  obrar  cada  vez  más 
cosas  de  su  servicio  por  esta  su  mínima  Companía. 

Desta  Baya  dei  Salvador  a  X  de  Setiembre  de  1559  anos. 
22.    Después  de  tener  escrito  esta  llegó  otra  carta  dei 
Hermano  Antonio  Rodriguez  para  el  Padre  Nóbrega,  que 

325  por  me  parecer  cosa  de  que  V.  P.  holgará,  la  puse  aqui24. 

[58V]  Por  commissión  dei  Padre  Manuel  de  Nóbrega. 
Yndigníssimo  siervo  de  la  Companía  de  Jesús, 

Antonio  Blázquez. 

[58  v.  Endereço  autógrafo :]  +  Al  muy  Reverendo  en 
330  Christo  Padre  nuestro,  el  Padre  Maestro  Diego  Lainez, 
Prepósito  General  de  la  Companía  de  Jesús,  en  Roma,  etc. 
Del  Brasil.  i.a  via. 

CARTAS  PERDIDAS 

2ia-d.  Dos  índios,  Governador,  Câmara  e  Nóbrega  à  Rainha  D.  Cata- 
rina, Lisboa  (Baia,  Setembro  de  1559).  Os  Índios  «an  tambiéu  hecho 
ynstancia  al  Padre  [Nóbrega]  que  querían  escrevir  a  la  Reyna  les 
embiasse  mugeres  virtuosas  para  doctrinar  sus  hijas,  pues  los  Padres 


314  recebir  sufi.  ||  318  Estas  corr.  tx  Estan  |  scrivir]  scivir  tus.  \\  321  Compailia 
dei.  De  Lixbo 


24    Cf.  supra,  carta  20. 


22.  -  BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 


141 


le  ensenavan  los  hijos,  y  ansf  lo  escriven;  y  ha  parecido  esto  tan  bien 
a  todos,  asy  al  Governador  y  toda  la  más  gente  de  la  Ciudad  y  a  nues- 
tros  Padres,  que  todos,  unos  y  otros,  escriven  sobre  esso», —  escreve 
Blázquez  a  Laynes,  a  io  de  Setembro  de  1559  (carta  21  §  18).  Segundo 
esta  enumeração  escreveram  os  índios  (algum  deles,  ou  alguém  por 
eles)  o  Governador  Mem  de  Sá,  a  gente  da  Cidade  (não  de  certo  todos 
os  moradores,  mas  a  Câmara  em  nome  deles),  e  os  Padres  da  Compa- 
nhia (aão  individualmente,  mas  o  Provincial  P.  Manuel  da  Nóbrega). 
Pelo  menos,  quatro  cartas. 


22 

DO  P.  ANTONIO  BLÁZQUEZ 
POR  COMISSÃO  DO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 

1.  Bibliografia:  Catalogo  dos  Manuscriptos  I  32:  Cimélios  494; 
Leite,  História  vm  107  n.  5;  e  cf.  infra,  História  da  Impressão. 

II.   Autores :    Leite,  História  IX  426. 

III.  Texto:  1.  ARSI,  Bras.  15,  f.  sgr  [antes  f.  297^  mais  antigo, 
riscado  p.  171].  Endereço  autógrafo  [f.  6ov]:  «Al  muy  Reverendo  en 
Christo  Padre,  el  Padre  Maestro  Diego  Laynez  Praepósito  General  de 
la  Compahía  de  Jesús  en  Roma.  Del  Brasil.  i.a  via».  Autógrafo  em 
espanhol. 

2.  Bras.  ij,  f.  67r.  Tradução  italiana,  coeva. 

3.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  f.  62r.  Apógrafo  coevo  em  espanhol. 

IV.  Data:  No  fim  da  carta  precedente  (a  i.a  com  a  data  de  10  de 
Setembro)  diz  Blázquez,  já  depois  de  datar  a  carta,  que  chegou  a  do 
Ir.  António  Rodrigues  para  Nóbrega,  o  qual  lha  deve  ter  passado  para 
a  incluir  nessa  carta  à  guisa  de  post-scriptum.  Agora,  nesta  nova  carta, 
que  escreve  por  não  caber  mais  na  outra  como  explica,  diz  logo  no 
mesmo  §  1  que  Nóbrega  já  tinha  ido  para  a  Aldeia  do  Espírito  Santo 
a  «semana  passada».  O  dia  10  de  Setembro  de  1559  era  domingo, 
começo  de  nova  semana,  e  bastava  que  tivesse  ido  um  ou  dois  dias 
antes  para  a  afirmação  ser  exacta.  Ainda  assim,  não  é  possível  conca- 
tenar com  rigor  os  factos  desta  quinzena,  mantendo  para  ambas  as 


142 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


cartas  a  data  de  10  de  Setembro,  que  deve  ser  convencional.  Mas  são 
datas  autografas;  e,  com  esta  advertência,  as  deixamos,  assim  como  a 
da  carta  seguinte. 

V.  Impressão :  Nuovi  Avisi  delVIndie  di  Portogallo.  Terza  Parte 
(Veneza  1562)  6iv-6ir ;  Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  Bra- 
sileiro 49  i.a  P.  (1886)  44-45;  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  242-243. 

VI.  História  da  Impressão:  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução 
italiana  (2)  com  este  título:  «Copia  di  quanto  il  medesimo  scrive  al 
P.  Generale  delia  Compagnia  di  Giesú».  Como  precediam  cartas  de 
António  Rodrigues,  a  este  a  aplicam  B.  Machado  I  367-368;  Sommer- 
vogel  vi  1939  e  Streit  11  347  n.  1267.  Na  Revista  e  Cartas  Avulsas 
imprime-se  a  tradução  portuguesa  do  texto  3. 

VII.   Edição:   Edita-se  o  autógrafo  (1). 

Textus 

7.  Nóbrega  Pagum  Sancti  Spiritus  visitat,  gentiles  et  pueri  eum 
/estive  receperunt  in  ititiere  et  portu.  —  2.  Laetatur  Nóbrega  de  devo- 
tione  puerorum  brasilorum  qui  cruces  in  manibus  et  in  fronte  porta- 
bant.  —  3.  Pueri  rosarium  Nominis  lesu  concinentes  angeli  videbantur 
matutinas  preces  recitantes. 

+ 

Jesús 

Muy  Reverendo  en  Christo  Padre 

La  surama  gracia  de  Christo  N.  Sefior  sea  syempre  en 
nuestro  continuo  favor  [y]  ayuda.  Amén. 

1.  Porque  en  la  otra  no  cabia  más,  me  fué  necessário 
escrevir  agora  lo  que  después  sucedió.  El  Padre  Nóbrega 
partió  de  aqui  la  semana  passada  para  la  Villa  de  Sant 
Spiritus,  y  dei  camino  avia  de  llevar  algunos  nifios  que 
estavan  en  la  Aldeã  de  Itapuán,  para  que  allá  se  doctri- 
nassen  [y]  ynstruyessen  en  la  fe,  porque  allí  más  que  en 
otra  parte  ay  mejor  occasión.  Como  supieron  la  gente  de 
Sant  Spiritus  que  él  vénia  por  el  camino,  primero  fueron 


22.  -  BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 


143 


los  nifíos  con  unas  cruzes  en  las  frentes  y  manos,  unos  lo 
fueron  esperar  una  légua,  otros  media,  y  los  más  al  puerto, 
mostrando  todos  summa  alegria  con  su  vista,  porque  saben  15 
bien  (como  ellos  dizen)  que  es  su  Padre  verdadero,  que  es 
manera  de  hablar  suya.  De  ay  lo  llevaron  cantando  loores 
al  Senor  a  nuestra  Casa,  y  era  tanto  el  fervor  al  besarle  la 
mano,  que  no  se  podia  el  Padre  valer;  y  él,  que  no  podia 
allegar,  por  yr  tan  apretado  y  cercado  de  la  gente,  tantas  20 
bueltas  dava  y  tantos  erapuxones  recebia,  hasta  que  yva  a 
tener  con  el  Padre,  a  el  qual  le  besava  la  mano  con  mucha 
mesura,  y  dezía  levantadas  las  manos:  «Loado  sea  nuestro 
Senor  Jesú  Christo». 

2.  El  Padre  Provincial  me  escrivió  1  de  allá  que  quando  25 
los  via  por  aquellos  campos,  con  las  cruzes  en  las  manos 

y  frente,  que  le  parecian  aquellos  muchos  asenalados  dei 
Apocalipsi 2,  y  que  tanto  fervor  y  devoción  en  tan  poco 
tyempo  no  podia  proceder  sino  de  las  oraciones  de  nues- 
tro[s]  Hermanos  que  en  el  cielo  están,  y  de  muchas  almas  30 
ynnocentes  que  deste  Brasil  al  Senor  se  mandaron  senala- 
das  con  el  serial  dei  Cordero. 

3.  Luego  a  otro  dia  de  madrugada  vinieron  los  nifíos 
a  la  yglesia  y,  repartidos  en  sus  choros,  començaron  a  rezar 
en  voz  baxa  y  entonada  el  rosário  dei  Nombre  de  Jesus  3,  35 
que  parecian  unos  ángeles  que  rezavan  maytines,  a  los 
quales  vienen  no  constrangidos,  sino  por  su  voluntad  y 
gusto  que  el  Spíritu  Sancto  les  pone  en  todas  las  cosas  dei 
divino  servicio. 


33   madrugada]  magrada  ms.  ||  38    el  corr.  tx  le 


1  Carta  perdida. 

2  Apoc.  7,  3. 

3  Cf.  «Corona  SS.  Nominis  Iesu»  (P.  Antonius  Natalis,  De  cae- 
lesti  conversatione  36o-36t).  O  rosário  ou  coroa  do  «Nome  de  Jesus» 
não  se  menciona  em  Beringer,  mas  este  refere-se  à  Confraria  do 
Santíssimo  Nome  de  Jesus,  fundada  em  Lisboa  em  1432,  particular- 
mente encarregada  aos  Padres  Dominicanos  (Les  Indulgences  II  I22)> 
Cf.  rosário  do  Menino  Jesus  (Mon.  Bras.  II  59). 


144 


P.  ANTÓNIO  BLÁZQUEZ  -  P.  JUAN  DE  POLANCO 


40      Esto  es  lo  que  después  se  a  offrecido  de  escrevir  deseando 
ser  encomendados  en  la  bendición  y  sacrifícios  de  V.  Pater- 
nidad  para  que  la  Divina  Bondad  se  digne  a  obrar  cada  vez 
más  cosas  de  su  servicio  por  esta  su  mínima  Companía. 
De  la  Baya  dei  Salvador  a  X  de  Setiembre  de  1559  anos. 
45      Por  commissión  dei  P.e  Manuel  de  Nóbrega. 
Indigno  hijo  de  V.  P., 

Antonio  Blázquez. 

[60  v.  Endereço  autógrafo :]  +  Al  muy  Reverendo  en 
50  Christo  Padre,  el  Padre  Maestro  Diego  Laynez,  Praepósito 
General  de  la  Companía  de  Jesús  en  Roma.   Del  Brasil. 

1.  a  via. 

23 

DO  P.  ANTONIO  BLÁZQUEZ 
POR  COMISSÃO  DO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
AO  P.  JUAN  DE  POLANCO,  ROMA 

BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 
I.    Autores  :    Leite,  Breve  Itinerário  146-147. 

II.  Texto:  ARSI,  Bras.  //,  f.  6rr  [antes  f.  3001-,  mais  antigo  ris- 
cado p.  150].  Endereço  autógrafo  [6iv]:  « -\-  Al  Reverendo  em  Christo 
Padre,  el  Padre  Maestro  Juan  de  Polanco  de  la  Companía  de  Jesús,  em 
Roma.  Del  Brasil.  i.a  via».  Outra  letra:  «1559.  Baia.  Del  P.  Antonio 
Blasquez  10  di  Settembre».  Autógrafo  em  espanhol. 

III.   Edição:    Edita-se  o  texto  único. 

Textus 

1.    Gaudium  Bahiae  quum  cpistolae  Roma  missae  pervenerunt.  — 

2.  Fratres  quaerunt  glóbulos  bcncdictos.  —  3.  Deficientibus  Patribus, 
aliqui  Fratres  e  Prae/ectura  S.  Vincentii  e.xspectantur  ut  Bahiae  ordincs 


45    Por  commissión  —  Nóbrega  in  ms.  post  Iudigao  liijo  de  V.  r*. 


25. -BAÍA  10  DE  SETEMBRO  DE  1559 


145 


sacros  recipiant.  —  4.  Abhinc  plus  quam  sex  annos  e  Portugália  nou 
mittuntur  Patres  in  Brasiliam,  aliqui  defuncti  sunt,  opus  est  ut  Roma 
hoc  cognoscat  et  provideat. 

+ 

Jesús 

Reverendo  en  Christo  Padre 

Pax  Christi. 

1.  Esta  no  servirá  para  inás  que  le  avisar  cómo  las 
cartas  escritas  a  Xb  [15]  de  Setierabre  dei  afio  de  1558  1  5 
fueron  recebidas  en  este  Collegio,  con  las  quales  todos  los 
Hermanos  que  en  el  se  hallaron,  y  otros  que  mandaron 
llamar  de  una  Aldeã  más  cercana,  tomaron  summo  con- 
tentatniento,  asy  por  las  buenas  nuevas,  como  por  saber  el 
cuydado  que  Su  Reverenda  Paternidad  tiene  de  nos  enco-  10 
mendar  a  su  Divina  Magestad  en  sus  sanctos  sacrificios  y 
oraciones,  a  las  quales  después  de  la  divina  gracia  attri- 
buymos  lo  mucho  que  en  estos  dos  anos  se  tiene  fructifi- 
cado  en  la  vifia  dei  Sefior.  Crea  V.  R.a  que  quando  veen 
acá  cartas  de  Roma  que  no  caben  de  plazer  nuestros  Her-  15 
manos,  y  con  la  que  Su  Reverenda  Paternidad  nos  mandó  2 
no  uvo  nadie  que  no  la  tomasse  por  meditación  y  guia  en 
como  se  avia  de  aver  en  las  cosas  dei  Sefior.  Algunos  que 
acá  se  recibieron,  y  que  no  an  tenido  otra  ynformación  sino 
por  cartas,  quando  oyen  lo  mucho  que  el  Sefior  se  digna  20 


30    quando  dei.  no 


1  Cartas  perdidas.  No  ms.  está  1559,  equívoco  evidente  por  1558. 
Trata-se  das  cartas  escritas  em  Roma  a  seguir  à  i.a  Congregação  Geral 
e  que  chegaram  à  Baía  a  21  de  Julho  de  1559  (cf.  carta  15  §  5). 

2  Como  as  cartas  de  15  de  Setembro  de  1558  só  chegaram  à  Baía 
a  21  de  Julho,  com  elas  já  poderia  ter-se  juntado  em  Lisboa  outra 
escrita  por  Polanco  a  toda  a  Companhia,  datada  de  19  de  Dezembro 
de  1558  {Lainii  Mon.  IV  75-78),  a  qual  trata  do  próspero  estado  da 
Companhia,  contém  instruções  do  Padre  Geral  e  pede  orações  pelo 
mesmo  Geral,  o  que  explica  o  que  se  lê  a  seguir  neste  §  i.°  da  pre- 
sente carta. 


IO 


146 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  JUAN  DE  POLANCO 


obrar  por  los  desta  mínima  Companía  están  attónitos  y 
pasmados  y  lloran  de  plazer. 

2.  Holgarían  acá  los  Hermanos  con  algunas  qúentas 
benditas,  porque  no  todos  las  tienen,  y  el  afio  passado  3 

25  mandaron  pedir  de  Sant  Vicente  los  Hermanos  que  les  man- 
dassen  algunas.  V.  R.a  nos  mande  proveer. 

3.  Estamos  aguardando  cada  dia  de  Sant  Vicente  el 
Hermano  Joseph  4  y  otros  Hermanos  que  mandaron  llamar 
para  se  hazer  Padres,  y  tardan  tanto  que  nos  parece  que 

30  no  vendrán  este  afio,  que  será  una  grandíssima  falta  si  de 
Portugal  no  acuden,  por  no  aver  en  esta  Baya  más  de  tres 
Padres  de  missa  com  el  Provincial 5,  que  ya  cada  vez  se  se 
le  van  apocando  las  fuerças  y  no  puede  acudir  ni  a  la  mie- 
tad  de  lo  que  se  ha. 

35  4.  Seys  anos  y  más  ha  que  venimos  tí,  y  después  acá 
no  vinieron  otros,  mas  dessos  poços  que  acá  [ajvía  murie- 
ron  tres  Hermanos  7  muy  buenas  lenguas  y  de  que  el  Senor 
se  servió  mucho  en  la  conversión.  También  fallecieron 
tres  Padres8,  los  dos  de  los  quales  an  hecho  mucha  men- 

40  gua,  porque  eran  el  P.e  Navarro  y  Juan  Gonçalvez,  que 
ultra  de  ser  muy  antiguos  en  la  Companía  en  virtud,  sabían 


aS    llamar  dei.  desa  ||    \\    virtud  dei.  eran 


3  Carta  perdida. 

4  José  de  Anchieta. 

5  Três  Padres  de  missa:  o  Provincial  (Nóbrega),  António  Pires  e 
Francisco  Pires  (Blázquez  ainda  só  era  diácono,  Mon.  Bras.  11  460). 

6  Desde  1553,  data  da  última  expedição,  nenhum  dos  dois  Provin- 
ciais, que  governaram  a  Província  de  Portugal  (Mirón  e  Torres),  enviou 
missionários  para  o  Brasil.  Para  a  índia  e  a  Etiópia  foram  12  em  1555 
e  14  em  1556  (Wicki,  DI  270-271  472-473). 

7  Domingos  Anes  «Pecorela»,  Pero  Correia,  João  de  Sousa.  Tam- 
bém já  havia  tempo  para  se  conhecer  no  Brasil  o  falecimento  em 
Coimbra  do  Ir.  Pero  de  Góis,  bom  língua,  ocorrido  a  2  de  Dezembro 
de  1558  (Leite,  História  I  575). 

8  Além  dos  dois  que  menciona,  Navarro  e  João  Gonçalves,  já 
tinham  morrido  outros  dois  Padres,  Salvador  Rodrigues  e  Leonardo 
Nunes  (Leite,  Breve  Itinerário,  147). 


24.  -  LISBOA  14  DE  SETEMBRO  DE  1559 


147 


la  lengua  brasílica.  Ajuntósse  a  esto  yrsenos  el  P.e  Ambró- 
sio Pirez  con  que  quedamos  dei  todo  huérfanos  sin  aver 
quien  predicasse  en  la  Ciudad  ny  de  fuera  ni  de  la  Com- 
panía, sino  alguna  ora  el  P.e  Nóbrega.  Esto  cuento  a  V.  R.a  45 
porque  sé  y  tengo  por  muy  cierto  que  hará  con  que  se  pro- 
vea  nuestra  necessidad,  asy  como  en  las  más  todos  los  que 
son  de  la  Companía  lo  tiene  de  V.  R.a  exprimentado.  Por 
agora  no  más,  sino  que  me  encomiendo  en  sus  devotos 
sacrilicios.  50 

Desta  Baya  a  X  de  Setiembre  de  1559  anos. 

Por  commissión  dei  P.e  Manuel  de  Nóbrega. 

Innutilíssimo, 

Antonio  Blázquez. 

[61  v.  Endereço  autógrafo :]  -J-  Al  Reverendo  em  Christo  55 
Padre,  el  Padre  Juan  de  Polanco  de  la  Companía  de  Jesus, 
en  Roma.  Del  Brasil.   i.a  via. 


24 


CARTA  RÉGIA  POR  ONDE  OS  PADRES 
DA  COMPANHIA  DE  JESUS  NO  BRASIL 
HÃO-DE  HAVER  SEU  MANTIMENTO  CADA  MÊS 


LISBOA  14  DE  SETEMBRO  DE  1559 


I.  Texto :  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro,  Cód.  1-19, 16, 1. 
Títnlo:  «Carta  por  onde  os  Padres  de  Jesus  hão-de  haver  seu  manti- 
mento cada  mez».  Apógrafo  em  português. 

II.  Impressão:  Documentos  Históricos  xxxvi  (Rio  de  Janeiro 
1937)  3-6. 

III.   Edição :    Reimprime-se  o  texto  por  Doe.  Hist. 


48    V.  R."  dei.  y 


14S         CARTA  RÉGIA  SOBRE  OS  MANTIMENTOS  DOS  PP.  DO  BRASIL 


Textus 

1.  Subsidium  regium  antea  pro  28  religiosis  S.  I.  dabatur.  —  2.  Nunc 
da/ur  pro  j6  et  quo  modo  dandum. — 3.  Si  quid  dubii  aderi/,  interpretem- 
dum  es/  in  favorem  Pa/rum.  —  4.    Campana  Collegio  bahiensi  donata. 

Mem  de  Sá. 

1.  Eu  El-Rei 1  vos  envio  muito  saudar.  El-Rei 2  Meu 
Senhor  e  Avô,  que  Santa  Gloria  haja,  houve  por  bem,  que 
se  desse  a  certo  numero  de  Religiosos  da  Companhia  de 
5  Jesus  nessas  partes  do  Brasil  tudo  o  que  lhe  for  necessário 
para  sua  despesa,  mantimento,  e  vestido;  e,  porque  se  lhes 
dava  o  dito  mantimento  em  mercadoria  era  oppressão  e 
inconveniente  para  elles,  houve  Sua  Alteza  por  bem  por 
uma  sua  Provisão  feita  a  doze  de  Fevereiro  de  557  3,  que 
10  em  lugar  do  mantimento,  que  dantes  estava  ordenado  pela 
dita  maneira,  se  desse  cada  mez  a  cada  um  dos  ditos  vinte 


1  D.  Sebastião,  Rei  de  Portugal.  Nasceu  em  Lisboa  a  20  de  Janeiro 
de  1554,  filho  do  Príncipe  D.  João  e  da  Princesa  D.  Joana.  O  Príncipe 
D.  João  era  filho  do  Rei  D.  João  III  e  da  Rainha  D.  Catarina,  irmã  do 
Imperador  Carlos  V ;  e  a  Princesa  D.  Joana  era  filha  do  mesmo  Carlos  V, 
prima  coirmã,  portanto,  do  Príncipe  D.  João,  seu  marido,  que  faleceu 
a  2  de  Janeiro  de  1554,  18  dias  antes  do  nascimento  de  D.  Sebastião. 
A  Princesa  viúva,  quase  quatro  meses  depois  do  nascimento  do  filho 
D.  Sebastião,  voltou  para  Castela  (era  irmã  de  Filipe  II),  onde  faleceu 
a  8  de  Setembro  de  1573. 

Ao  morrer  D.  João  III,  a  11  de  Junho  de  1557,  o  neto  D.  Sebastião 
tinha  3  anos  e  foi  aclamado  Rei,  cinco  dias  depois,  a  16  de  Junho  de  1557. 
A  regência  ficou  nas  mãos  da  avó  D.  Catarina,  tendo  por  adjunto  no 
governo  o  Cardeal  Infante  D.  Henrique,  irmão  de  D.  João  111,  e  por 
isso  cunhado  da  Rainha  e  tio-avô  de  El-Rei.  Em  1562,  D.  Catarina 
resignou  a  regência,  assumindo-a  o  Cardeal  Infante  até  1568  em  que 
D.  Sebastião,  com  14  anos  de  idade,  foi  coroado  Rei  e  começou  a  gover- 
nar (Fortunato  de  Almeida,  História  de  Portugal  11  367  422).  Pare- 
ceram úteis  estas  referências  cronológicas  para  esclarecimento  de  actos 
e  cartas  régias  tocantes  ao  Brasil,  que,  como  a  presente,  começa  «Eu 
El-Rei»  e  conclui:  «A  Rainha». —  D.  Sebastião  faleceu  em  Marrocos  na 
batalha  de  Alcácer-Quibir,  a  4  de  Agosto  de  1578. 

2  D.  João  III. 

3  Mon.  Bras.  II  357-359. 


24.-  LISBOA  14  DE  SETJOf BRO  DE  1559 


149 


e  oito  Religiosos  da  dita  Companhia,  que  então  andavam 
nas  ditas  Partes  nas  Capitanias  donde  estiverem,  quatro 
panacus  de  mandioca4,  e  um  alqueire  de  arroz,  e  um  cru- 
zado em  dinheiro;  e  quando  não  houver  de  arroz,  se  lhes  15 
desse  um  alqueire  de  milho  da  terra,  e  isto  por  tempo  de 
quatro  annos,  que  se  começarão  do  dia  em  que  se  começa- 
rem haver  as  ditas  cousas  em  diante. 

2.  E,  porque  sou  informado  que  os  Officiaes  de  Minha 
Fazenda  entenderam,  que  pela  dita  Provisão  se  ordenava,  20 
que  se  não  desse  aos  ditos  Padres  mais  cousa  alguma  da 
esmola,  que  dantes  o  dito  Rei  meu  Senhor  e  Avô  tinha 
ordenado  que  houvesse  para  sua  despesa,  o  quiz  declarar 
por  esta  Carta,  e  é:  que  a  dita  Provisão  se  entenda  somente, 
no  mantimento  e  despesa  de  comer,  hei  por  bem,  e  mando  25 
que  o  dito  mantimento,  e  tudo  o  mais,  que  de  principio  se 
ordenava  para  os  ditos  Padres  e  Religiosos  se  dê  da  fei- 
tura desta  em  diante  para  trinta  e  seis  pessoas  da  dita 
Companhia,  a  saber:  Os  vinte  e  oito  que  nas  ditas  Partes 
estão,  e  sete  mais5,  que  nesta  armada  vão;  e  quanto  ao  30 
mantimento,  que  pela  dita  Provisão,  feita  a  12  de  Fevereiro 
de  1557,  El-Rei  Meu  Senhor  e  Avô  mandou  que  se  desse 
aos  ditos  28  Religiosos  por  tempo  de  quatro  annos,  hei  por 
bem  que  do  dia  6,  que  embora  esta  armada  chegar  ao  Bra- 


4  Panacus  ou  panacuns :  cestos.  Sobre  a  mandioca,  cf.  Mon. 
Bras.  I  529;  II  477  (Agricultura).    E  infra,  doe.  34  §  23. 

5  Dá  os  nomes  dos  sete.  infra,  a  carta  de  6  de  Outubro  de  1559 
§  2  (carta  29) ;  cf .  Leite,  História  I  561. 

6  A  armada  de  três  «naus»  {Instrumento  192),  comandada  por 
Bartolomeu  de  Vasconcelos  da  Cunha,  entrou  na  Baía  a  30  de  Novem- 
bro de  1559  (Pedro  Calmon,  História  I  361-362).  Os  sete  da  Companhia 
vieram  repartidos  em  duas  naus,  uma  das  quais,  a  «caravela  S.  João» 
com  o  Bispo  D  Pedro  Leitão,  que  diz  Porto  Seguro  (HG  1  384)  che- 
gou a  9  de  Dezembro  de  1559  (cf.  Leite,  História  1  561-562).  Mas  este 
dia  é  já  o  do  registo  das  Provisões  que  tocam  aos  assuntos  eclesiás- 
ticos da  Sé  {Doe.  Hist  xxxvi  [1937]  15-25).  Por  outro  lado,  esta  presente 
Carta  Régia  já  tinha  sido  registada  sete  dias  antes,  a  2  de  Dezembro, 
como  se  lê  no  fim  dela.  Deve  ter  seguido  pelo  outro  navio  em  que 
também  iam  Padres  da  Companhia. 


150         CARTA  RÉGIA  SOBRE  OS  MANTIMENTOS  DOS  PP.  DO  BRASIL 

35  sil  em  diante,  se  dê  para  as  mais  as  ditas  sete  pessoas  da 
dita  Companhia,  que  vão  na  dita  armada,  e  a  todas  trinta 
e  seis  pessoas  se  dê  o  dito  mantimento,  e  mais  esmola  para 
sua  despesa  por  tempo  de  outros  quatro  annos  mais,  que 
começarão  do  dia  que  os  primeiros  quatro  annos  se  acaba- 

40  rem,  em  cada  uma  das  ditas  Partes,  em  que  estiverem  repar- 
tidos, pela  maneira  que  na  dita  Provisão  se  declara;  e  o 
alqueire  de  arroz,  que  se  houver  de  dar  a  cada  hum  dos 
ditos  Padres,  hei  por  bem  e  mando  que  seja  picado. 

3.    E  que  de  tudo  lhe  façaes  fazer  bom  pagamento  com 

45  certidão  dos  Superiores  das  Casas  ou  lugares  das  ditas 
Partes, onde  os  ditos  Padres  Religiosos  residirem, do  numero 
dos  que  em  cada  um  delles  residem,  posto  que  na  dita  Pro- 
visão diga  que  o  meu  Governador  passe  certidão  dos  que 
estiverem  em  cada  uma  das  ditas  Capitanias,  porque  por 

50  serem  muito  distantes  será  difíicultoso  saber-se  sempre  o 
numero  certo  e  haver  a  dita  certidão  quando  for  necessário; 
e  quando  sobre  as  ditas  esmolas  e  quaesquer  outras,  que 
eu  mandar  fazer  aos  ditos  Padres,  tiver  alguma  duvida,  hei 
por  bem  que  se  determine  e  entenda  da  maneira  que  a 

55  elles  for  mais  favorável,  e  não  seja  necessário  de  novo 
requerer  outra  Provisão  ou  declaração  disso.  E  esta  Carta 
se  trasladará  nos  Livros  do  Oííicial,  que  as  ditas  esmolas 
lhe  houver  de  pagar,  para  que  saibam,  como  eu  houve 
assim  por  bem,  e  o  próprio  se  tornará  aos  ditos  Padres 

60  para  sua  guarda;  e  quando  houverem  mister  o  traslado 
delle  para  mandar  diversos  escriptos,  onde  estiverem  repar- 
tidos os  ditos  Religiosos,  vós,  ou  quem  vosso  cargo  tiver, 
ou  a  qualquer  dos  Provedores  de  Minha  Fazenda,  e  o  dará 
assignado  por  elle  em  modo,  que  faça  fé. 

65  4.  Os  ditos  Padres  me  fizeram  saber  como  lhes  mandá- 
reis dar  um  sino  para  o  Collegio  da  Bahia  de  Todolos  San- 
tos, o  que  houve  por  bem  e  lhes  faço  delle  esmolla.  E  pelo 
traslado  deste  Capitulo  assignado  por  vós,  ou  pelo  Prove- 
dor de  Minha  Fazenda  nas  ditas  partes,  e  com  conheci- 

70  mento  do  Reitor  do  dito  Collegio,  mando  aos  Contadores 
que  levem  em  conta  o  dito  sino  ao  official  sobre  quem 
está  carregado  em  receita. 


25.  -  LISBOA  19  DE  SETEMBRO  DE  1559 


151 


Feita  em  Lisboa  a  14  de  Setembro.  Pantaleão  [Rabelo] 7 
a  fez,  de  1559.  A  Rainha  8. 

Despacho  do  Provedor-mor :  Registe-se  esta  Carta  no  75 
Livro  da  Fazenda  a  dois  de  Dezembro  de  1559.  Borges9. 
A  qual  Carta  eu  Sebastião  de  Rabello,  Escrivão  da  Fazenda, 
aqui  registei  fielmente  sem  duvida,  que  a  ello  faça,  e  con- 
certei com  o  Escrivão  abaixo  assignado  aos  2  dias  do  Mez 
de  Dezembro  de  1559.  80 

25 

LISTA  DE  OBJECTOS  DE  CULTO  E  OUTROS 
QUE  SE  ENVIARAM  DE  PORTUGAL 
PARA  O  BRASIL 

[LISBOA  19  DE  SETEMBRO  DE  1559] 

I.   Autores:  Leite,  Artes  e  Ofícios  dos  Jesuítas  no  Brasil  (Lis- 
boa-Rio  de  Janeiro  1953)  53. 

II.  Texto:  ARSI,  Lus.  60,  f.  125  [antes  f.  45].  Parece  letra  do 
P.  Francisco  Henriques,  Procurador  em  Lisboa  das  Missões  Ultrama- 
rinas S.  I.  Em  português. 

III.  Data:  Nóbrega  pedia  ornamentos  e  objectos  de  estanho  e 
cobre,  na  carta  de  8  de  Maio  de  1558  §§  26-27  (Cartas  de  Nóbrega  [1955] 
288;  Mon.  Bras.  II  455);  a  expedição,  que  os  levou,  saiu  de  Lisboa 
a  19  de  Setembro  de  1559  (Lus.  6o,  f.  171  v). 

IV.  Impressão:  LEITE,  Breve  Itinerário  (1955)  150- 151. 
V.    Edição:   Reimprime-se  o  texto  único. 


7  Em  branco  em  Doe.  Hist.  Mas  a  carta  de  El- Rei,  de  7  de  Novem- 
bro de  1556,  nomeando  a  Mem  de  Sá,  para  o  seu  Conselho,  tem  «Pan- 
talyam  Rabelo  a  fez»  1  publicada  por  Sousa  VITERBO,  O  Instituto  43 
[1896]  332).  «Pantaliam  Rebelo»  aparece  em  vários  registos  da  Casada 
Índia  (cf.  Luciano  Ribeiro,  Registo  da  Casa  da  índia  I  [Lisboa  1954] 
112  168). 

8  D.  Catarina,  cf  supra,  nota  1. 

9  Doutor  Pero  Borges,  que  dois  dias  depois  (a  4)  passará  os  car- 
gos de  Ouvidor  Geral  e  Provedor-mor  ao  Licenciado  Brás  Fragoso, 
recém-chegado  de  Lisboa  com  o  Bispo  (Doe.  Hist.  XXXVI  7-10). 


152  LISTA  DOS  OBJECTOS  UE  PORTUGAL  PARA  O  BRASIL 


Tcxtus 

7.  Sacrariitm,  tabulae  pictae,  cruces,  vestes  sacrae,  aliaque  supellec- 
tilia  culttis  ad  ecclesiam  Bahiac  et  alias  quattuor  domos.  —  2.  Vinum, 
oleum,  acetum,  farina,  vestes,  lecti,  aliaque  ad  domum  et  culinam.  — 
3.    Pecunia  et  condimenta  árida. 

+ 
Jesus 

1.  Hum  retavolo  de  Jesus  com  seu  sacrário  no  meio 
dourado  pera  o  altar-moor  da  Casa  da  Bahia  e  Cidade  do 
Salvador. 

5  Outros  quatro  retavolos  com  suas  cortinas,  sscilicet, 
hum  de  Nossa  Senhora  d'Anu[n]ciaçam  com  Sam  Paullo,  e 
outro  de  São  João  Evangelista,  outro  do  Espirito  Santo, 
outro  de  Samt'Iago  Maior  l. 

Quatro  cruzes  de  pao  douradas  com  hum  cruxiíicio  pin- 
ro  tado  no  meio. 

Quatro  alampadas  de  latam,  dous  encensarios  de  latam 
e  quatro  dúzias  de  alampadas  de  vidro. 

Quatro  sinos,  seis  campainhas,  e  os  sinos  de  n  [dois] 
quintais  cada  hum. 
15      Quatro  vestimentas  de  damasquo  e  quatro  de  chamalote 
com  suas  alvas  e  frontais  do  mesmo. 

2.  Duas  pipas  de  vinho  e  huma  d'azeite,  outra  de  vina- 
gre e  hum  moio  de  farinha. 

E  duas  pipas  de  sal. 


3    da]  de  tns.  ||  15   damasquo  corr.  tx  tafetá 


1  Oragos  das  quatro  Aldeias  da  Baía.  Como  a  de  S.  Paulo  conti- 
nuava a  ter  por  orago  principal  a  Nossa  Senhora,  juntaram-se  num  só 
retábulo  Nossa  Senhora  e  S.  Paulo.  O  que  parece  indicar  que  os  retá- 
bulos se  fizeram  então  expressamente  para  estas  Aldeias. 


26.  -  PARAGUAÇU  28  DE  SETEMBRO  DE  1559 


155 


Hum  vestido  a  cada  hum,  sscilicet,  roupeta  e  manteo  de  20 
pano  preto  e  calças,  gibão,  camisas,  siroulas  e  çapatos, 
barete  e  sombreiro,  etc. ;  e  isto  pera  trinta  pessoas. 

Quatro  camas  2  pera  as  quatro  emfermarias  de  quatro 
casas  do  Brasil  da  Companhia,  sscilicet,  dous  colchõis,  qua- 
tro lançois,  2  cobertores  de  pano  branquo,  hum  cabeçal  25 
com  suas  fronhas,  a  cada  cama. 

Quatro  aparelhos  de  barbear  e  dous  de  carpinteiro. 

Duas  dúzias  e  meia  de  escudellas  destanho  e  tres  dúzias 
de  pratos. 

Panelas  de  cobre,  tachos  pera  sua  farinha,  XX  trempes  3° 
e  espetos,  e  outras  meudezas. 

3.    E  assi  algum  dinheiro  pera  outras  meudezas,  e 
alguma  especiaria  pera  as  quatro  casas. 

26 

DO  IR.  ANTÓNIO  RODRIGUES 
AO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA,  ALDEIA 
DO  ESPÍRITO  SANTO 

[PARAGUAÇU  (BAÍA)  28  DE  SETExMBRO  DE  1559] 

I.    Bibliografia  :  Catalogo  dos  Manuscriptos  l  23  ;  Cimèlios  206  ; 
Leite,  História  ix  83  n.  6. 

II.   Autores:  Leite,  História  II  121;  Breve  Itinerário  153;  E.  San- 
ceau,  Capitães  do  Brasil,  330. 

III.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lis- 
boa] 1-5,  2,  38,  ff.  65v-66r.  Titulo :  «Copia  de  numa  carta  do  P.e  Fran- 
cisco Pires  e  do  Irmão  Antonio  Rodrigues  pera  o  Padre  Nóbrega». 


33    especiaria  dei.  cada 


2  Quatro  camas,  tantas  como  os  retábulos,  o  que  insinua  que  eram 
para  as  Residências  da  Companhia  nas  mesmas  quatro  Aldeias  de 
índios,  cujos  oragos  se  nomeiam. 


154  IR.  ANTÓNIO  RODRIGUES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


Incluída  na  do  P.  Pires,  donde  se  separa  para  aqui  na  devida  ordem 
cronológica.  Apógrafo  em  português. 

IV.  Data:  O  ano  de  1559  vem  expresso  na  carta  do  P.  Francisco 
Pires  (§  2) ;  o  dia:  «Oje,  bespora  de  S.  Migel»:  28  de  Setembro. 

V.  Lugares:  1.  O  autor  escreve  no  lugar  onde  se  combatia  (§  1) 
e  vem  expresso  na  mesma  carta  seguinte  de  Francisco  Pires:  «Guerra 
do  Paraoaçu»  (§  1),  hoje  Paraguaçu;  2.  Escreve  para  Nóbrega,  que 
estava  então  na  Aldeia  do  Espirito  Santo  (cf.  a  carta  seguinte,  de  2  de 
Outubro  §  1). 

VI.  Impressão  :  Anais  da  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro 
27  (1906)  249-250;  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  244-246. 

VII.  Edição :  Reimprime-se  o  texto  único. 

Textus 

1.  Victoria  Gubernatoris  Mendi  de  Sá  in  hostes  «Paraguaçu-».  — 
2.  Virtutes  Mendi  de  Sá.  —  3.  Gubernator  iussit  Fr.  Antonium  Rodri- 
gues de  penaria  cella  quidquid  pauperibus  opus  esset  distribuere.  —  4.  In 
loco  victoriae,  Gubernator  instituet  oppidum  Nostrae  Dominae  Victoriae. 
—  5.  Gubernator  atnat  videre  Fratrem  Rodrigues  Indos  docentetn  et pueros 
canentes.  —  6.   Pergit  bellum.  —  7.    Preces  pro  se  et  Gubemaíore  postulai. 

Dilectissimo  Padre 

1.  Deu  Nosso  Senhor  victoria,  por  sua  misericórdia, 
ao  Governador1,  oje  bespora  de  S.  Migel.  Tivemos  grande 
refega  com  os  contrários,  porque  hindo  dous  esquadrões 

5  por  duas  partes,  hum  delles  topou  com  muytos  contrários 
e  com  huma  cerca,  e  íê-llo  tam  bem  hum  filho  de  Gil  Fal- 
cão, que  fez  entrar  a  cerca,  ainda  que  recebeu  X  [io]  fre- 
chadas cruéis,  mas,  pola  bondade  de  Deus,  nenhuma  de 
morte.  A  o  curar  estive  com  hum  crucifixo  na  mão,  aju- 

10  dando-lhe  a  passar  as  dores.  Era  cousa  cruel  ver-lhe  tirar 
as  frechas  com  os  dentes.  Frecharão  também  dos  nossos 
índios  20,  e  houverão  de  matar  a  muytos  christâos,  se  elles 
o  não  íizerão  muy  esforçadamente. 


1   Mem  de  Sá. 


26.  -  PARAGUAÇU  28  DE  SETEMBRO  DE  1559 


155 


2.  Hé  grande  o  exercito  que  o  Senhor  Governador  traz, 
que  são  mais  de  4000  almas.   Hontem  tomarão  conselho  15 
de  se  darem  à  mayor  pressa  que  podessem  até  achanarem 
tudo  e  ganhar  a  terra.  Contarey  a  V.  R.a  sua  virtude,  ainda 
que,  pola  letra  que  faço,  conhecerá  a  presa  que  tenho,  por- 
que estão  tirando  de  mim  os  doentes  e  feridos  e  christãos 
pera  que  os  faça  levar  aos  navios.  E  o  mais  solicito  Capi-  20 
tão  que  eu  vi 2;  parece  que  toda  sua  vida  o  usou  ;  sua  humil- 
dade e  constância  e  paciência  me  tem  atónito,  porque  a 
dous  ou  tres  homens  a  quem  reprendeo  com  aspereza  lhe  vi 
pedir-lhe  perdão  com  o  barrete  na  mão.   Sofre  muytas  cou- 
sas et  cura  spiritu  lenitatis  3  leva  tudo  e  mostrando  muyta  25 
perfeição  em  suas  palavras  e  obras  com  muyta  paciência. 

3.  Mandou-me  que  de  sua  mesa  dese  o  que  me  pare- 
cesse aos  índios  principais,  que  ao  derredor  estão,  e  de  sua 
despensa  tomasse  tudo  o  que  quisesse  pera  os  pobres,  e  asi 

o  faço  com  muyta  edificação  de  todos.  Toda  a  sua  boca  hé  3° 
chea  de  contentar  a  todos,  e  tudo  o  que  faz  parece  proce- 
der de  muy  recta  intenção,  e  asi  o  diz  a  estes  Senhores 
Capitães,  que  lhes  quer  dar  descanso. 

4.  Escolheo  logo  este  sitio,  onde  estava  a  cerca  dos 
índios,  pera  ahi  se  ayuntar  huma  villa:  pôs-lhe  nome  Nossa  35 
Senhora  da  Victoria,  e  que  a  igreja  se  lizesse  à  custa  de 
Simão  da  Gama  4,  e  elle  o  aceytou  de  boa  vontade  e  por 
grande  mercê. 

5.  Hé  muyto  grande  sua  alegria  ver-me  ensinar  e  pre- 
gar, e  muyto  mais  ouvir  cantar  os  meninos  a  Salve  e  ladai-  4° 
nhãs  cada  dia. 


2  Tinha  visto  muitos  nas  guerras  do  Rio  da  Prata  e  Paraguay 
(Mon.  Br  as.  1  468-481). 

3  Gal.  6,  1. 

4  Simão  da  Gama  de  Andrade,  fidalgo  português,  que  veio  à  Baía 
como  capitão  do  galeão  «S.  João  Baptista»  em  1550  (Leite,  His- 
tória I  560-561).  Desejou  ficar  na  terra  e  pediu  uma  sesmaria  e 
deram-lhe  a  que  foi  de  João  de  Velosa,  perto  da  cidade  para  os  lados 
de  Paripe,  mas  que  englobava,  dentro  do  Recôncavo,  a  Ilha  do  Frade 
(Doe.  Hist.  xiii  251).  O  que  explica  a  decidida  intervenção  de  Simão 
da  Gama  nesta  jornada  e  a  incumbência  de  que  fala  o  texto. 


156 


P.  FRANCISCO  PIRES  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


6.  Esta  cerca  se  entrou  e  outras  duas  muy  poderosas; 
vai  na  dianteira  Bastião  de  Ponte  5  por  lhe  dar  o  Senhor 
Governador  essa  honrra  inda  que  não  ouve  resistência. 

45  Oje  vão  muitos  christãos  a  buscar  humas  Aldeãs  grandes. 

7.  Rogue  V.  R.a  por  nós  a  Nosso  Senhor  e  pelo  Senhor 
Governador,  a  quem  devemos  muyto  serviço  polo  que 
vemos  que  elle  faz  a  Deos. 

27 

DO  P.  FRANCISCO  PIRES 
AO  P.  MIGUEL  DE  TORRES  [?],  LISBOA 

[BAÍA]  2  DE  OUTUBRO  DE  1559 

I.  Bibliografia:  B.  Machado  ii  206;  Catalogo  dos  Manuscriptos  1 

23;  Cimélios  494;  SOMMERVOGEL  VI  848A. 

II.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lis- 
boa] 1-5,  2,  38,  ff.  65v-66r.  Titulo:  «Copia  de  huma  carta  do  P.e  Fran- 
cisco Pires  e  do  Irmão  Antonio  Rodrigues  pera  o  Padre  Nóbrega». 
Manuscrito  deteriorado  e  nalgumas  partes  lacerado.  Apógrafo  em  por- 
tuguês. 

III.  Destinatário:  O  P.  Nóbrega,  que  se  lê  no  título,  é  o  destina- 
tário da  carta  do  Ir.  António  Rodrigues.  A  de  Francisco  Pires,  com  a 
cópia  de  Rodrigues,  seria  enviada  ao  Provincial  de  Portugal  (Torres), 
endereço  insinuado  pelo  cargo  e  pelo  facto  de  a  carta  estar  copiada 
apenas  no  códice  de  Lisboa  (S.  Roque). 

IV.  Impressão  :  Anais  da  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  27 
(1906)  249-250;  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  244-246. 

V.  História  da  Impressão  :  Anais  e  Cartas  imprimem  em  con- 
junto as  duas  de  Pires  e  Rodrigues. 

VI.  Edição:  Reimprime-se  o  texto  do  que  pertence  a  Francisco 
Pires,  valendo-nos  das  Cartas  Avulsas  num  passo  deteriorado  do  tns. 


5  Sebastião  da  Ponte,  cunhado  de  Simão  da  Gama.  Cf.  supra, 
carta  de  5  de  Julho  de  1559  (carta  12  §  6). 


27.  -  HAIA  2  DE  OUTUBRO  DE  1559 


157 


Textus 

1.  Victoria  Gubernatoris  in  beUo  «Paraguaçu»,  assistente  Fr.  Anto- 
nio Rodrigues  qui  curam  habet  Indorum  et  rerum  doctrinae  et  carita- 
tis.  —  2.    Pergit  bellum  in  persecutionem  hostium. 

Pax  Christi. 

1.  O  Padre  Nóbrega,  que  ao  presente  está  em  S.  Spi- 
ritus  me  mandou  escrevesse  a  V.  R.a  o  successo  da  Guerra 
do  Paraoaçu  por  ser  cousa  de  que  tanto  depende  a  conver- 
são de  todo  o  Brasil.  E  as  novas,  que  ao  presente  temos,  5 
conhecerá  por  a  copia  da  carta  do  Irmão  Antonio  Rodri- 
gues, que  lá  está  com  ho  Governador  2  por  o  elle  pedir  com 
muita  instancia,  ao  Padre,  pera  effeito  de  falar  aos  índios, 

a  quem  todos  tem  grande  credito,  e  pera  com  elle  [ordenar 
as  cousas  que  pertencem  ao  serviço  de  Nosso  Senhor,  como  i° 
ajuntar  os  índios  de  Cerigipe  3  e  Apacé  4  e  os  mais  que 
forem  sogigando  5,  de  maneira  que  pos]são  ser  doutrinados, 
e  pera  ter  cuydado  dos  enfermos  e  feridos,  e  ajudar  a  bem 
morrer  alguém ;  e,  finalmente,  pera  pregar  o  Evangelho  a 
todos  os  índios  que  vão  com  o  Governador,  que  são  todos  15 
estes  comarcãos,  que  ali  se  ajuntarão,  e  animá-los  a  eles  e 
aos  christãos. 

[Carta  do  Ir.  Antonio  Rodrigues,  de  28  de  Setembro  6] 

2.  Depois  veyo  outro  barquo  com  certos  frechados^ 
mas  não  cousa  perigosa.  Somente  hum  escravo  temos  por  20 
nova  que  hé  morto  até  o  presente.  Os  índios  não  parão 


1  Aldeia  do  Espírito  Santo  (Baía). 

2  Mem  de  Sá. 

3  Cerigipe  ou  Sergipe,  que  depois  se  celebrizou  com  o  Engenho 
do  mesmo  nome  (Sergipe  do  Conde).  Cf.  Leite,  História  x  92. 

4  Apacé  ou  Passe,  para  os  mesmos  lados  de  Sergipe,  em  frente 
da  Ilha  de  Maré  (Teodoro  Sampaio,  Carta  do  Recôncavo  da  Bahia, 
Baía  1899). 

5  Ainda  hoje  se  usa  na  Baía:  forma  antiquada  do  verbo  subjugar. 

6  Supra,  carta  26. 


158 


P.  FRANCISCO  PIRES  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


nem  esperão,  porque  a  esperarem  nas  cercas  seria  grande 
perdição  sua.  Desfazem-lhes  os  nossos  seus  mantimentos, 
queimão-lhes  as  casas,  o  que  também  lhes  hé  grande  tra- 
25  balho,  porque  primeiro  que  façam  outras  padecem  muyto 
e  immagrecem  e  morem  elles  e  seus  filhos  7. 
A8  2  de  Outubro  de  1559. 

Francisco  Pirez. 

28 

DO  P.  FRANCISCO  PIRES 
AO  P.  MIGUEL  DE  TORRES,  LISBOA 

[BAÍA]  2  DE  OUTUBRO  DE  1559 

I.    Bibliografia :    Catalogo  dos  Manuscriptos  I  23 ;  Cimélios  495 ; 
Leite,  História  ix  63  n.  6. 

II.   Autores  :    LEITE,  História  II  122  150  426  548. 


7  Escreve  o  Governador  Mem  de  Sá:  «Estando  aynda  nos  Ilheos 
me  forão  novaas  como  ho  gentio  do  Peroaçuu  estava  allevantado  e  vie- 
rão  à  Ilha  de  Tapariqua  e  matarão  três  ou  quatro  homens  branquos  e 
tomarão  hum  barquo  com  muita  fazenda,  e  a  gentee  se  salivara  a  nado, 
e  não  ousavão  jaa  de  sair  fora  em  barquos.  Logo  me  fiz  prestes  e  me 
vim  a  esta  Capitania,  e  praticando  o  caso  lhes  dise  que  todos  se  fizes- 
sem prestes  que  lhes  avia  d'ir  dar  gerra,  e  em  menos  de  oito  dias  fui 
com  trezentos  bramquos  e  dous  mil  yndios  de  pases  ;  e,  pera  yr  dar 
em  huma  fortalleza  em  que  estava  hum  principall,  que  se  chamava  o 
Tarajoo,  foi  necessário  fazer  huma  estrada  honde,  digo,  per  onde  a 
gente  e  os  cavallos  podesem  yr,  e  a  fiz  em  hum  dia  e  noitee,  sendo  de 
três  legoas  de  comprido,  por  brenhas  e  montes  asperissimos.  E  ante- 
-manhãa  dei  na  fortaleza  e  a  emtramos,  matamdo  todos  os  que  quise- 
rão  defender,  e  nos  deixarão  as  casas  com  todos  seus  mantimentos  e  mais 
fato  que  nella  tinham.  E  dahy  emtrei  e  rodeey  todo  o  Peroaçu  tendo 
muitas  pelejas,  e  lhes  destroy  cento  e  trinta  e  tantas  alldeias  e  me  tor- 
nei a  embarquar.  E  dahy  a  dias  mandarão  pedir  pazes,  que  lhes  dei 
com  ficarem  vassallos  de  Sua  Alteza»  (Instrumento  133-134). 

8  Depois  de  filhos  e  antes  da  data,  está  no  ms.  a  partícula  de,  pro- 
vàvelmente  para  indicar  o  lugar  onde  escrevia,  e  que  ficou  em  branco. 


28. -BAlA  2  DE  OUTUBRO  DE  1559 


159 


III.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque, 
Lisboa]  1-5,  2,  38,  ff.  66r-Ó7r.  Titulo:  «Copia  da  do  P.e  Francisco  Pirez 
para  o  P.  Doctor».  Manuscrito  já  deteriorado  nalguns  pontos.  Apó- 
grafo  em  português. 

IV.  Destinatário:    «O  P.  Doctor»  é  Miguel  de  Torres,  Provincial 
de  Portugal. 

V.   Impressão  :    Anais  da  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  27 
(1906)  250-252;  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  247-249. 

VI.   História  da  Impressão:   Em  Anais  suprimiram-se  alguns  pas- 
sos da  carta. 

VII.   Edição  :    Reimprime-se  o  texto  único,  valendo-nos  das  Cartas 
Avulsas  nos  pontos  deteriorados. 

Textus 

1.  Post  tempus  aegritudinis  incipit  tempus  carpendi  fructus  in  con- 
versione  Indorum,  bona  Gubernatoris  Mendi  de  Sá  industria.  —  2.  Indi 
ad  Ecclesiam  currunt,  Deum  laudant,  confitentur,  et  omnia  facilia  deve- 
niunt.  —  3.  P.  Ambrosius  Pires  disiessit  tempore  quo  seminabatur  cum 
lacrimis  quare  non  nisi  aegritudines  enarrandas  habebat.  —  4.  Sed  nunc 
non  desunt  nisi  operarii  ad  laborandum.  —  5.  Haec  omnia  post  Deum 
debentur  Gubernatori,  vero  militi  fidei.  —  6.  Et  idem  alibi  in  lota  ora 
Brasiliae  eveniret.  si  alii  ut  Mendus  de  Sá  haberentur.  —  7  A  Prae- 
fectura  S.  Vincentii  exspectatur  navis  cum  Fratribus  et  aliquo  Patre 
quos  Nóbrega  vocavit. 

Pax  Christi. 

1.  Se  vay  em  dez  annos  *,  Charissimo  e  muy  Reve- 
rendo Padre,  que  ando  nesta  terra  [66v],  ora  entre  o  gentio, 
ora  entre  os  christãos".  os  oito,  morou  commigo  numa 
tentação,  a  qual  muytas  vezes  alargava  e  estendia  huns  5 
ramos  que  mais  justo  fora  não  nacerem  que  depois  de  naci- 
dos  buscar  remédio  pera  cortá-los;  erão,  finalmente,  suas 
raizes  e  tronco  deseiar  muytas  vezes  escrever  as  calidades 


i  Veio  na  2.a  expedição  missionária,  que  saiu  de  Lisboa  para  o 
Brasil  a  7  de  Janeiro  de  1550  (Mon.  Bras.  1  171). 


160 


P.  FRANCISCO  PIRES  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


do  gentio  desta  terra  e  o  fruito  que  com  elle  se  íazia.  E  se 

io  algumas  vezes  o  intentei  fazer,  posto  que  com  palavras  de 
boa  cor,  contudo  não  lhe  davão  lugar  a  yrem,  e,  porque 
os  tentados  tudo  ignorão  e  com  pouco  se  ceguão,  hé  bem 
esperar-lhe  o  tempo  da  luz.  E  asi  o  que  eu  então  pudera 
dizer  pera  a  alguns  e  a  mim  desconsolar,  espero  agora 

15  dizer  pera  a  todos  alegrar,  porque,  na  verdade,  com  os 
olhos  tenho  visto  e  com  as  mãos  palpado  e  com  todos  os 
sentidos  experimentado.  Por  todo  este  tempo  que  acima 
disse,  sempre  me  pareceo  impossível  nestas  partes  se  fazer 
fruyto,  sem  huma  de  duas,  scilicet,  ou  pola  misericórdia 

20  de  Nosso  Senhor  ou  por  sua  justiça;  mas  elle,  como  quem 
hé,  usou  de  ambas,  de  maneyra  que  a  misericórdia  nunca 
lhe  faltou,  a  justiça  com  elle  naceo.  E  se  elle  hé,  como  hé, 
infinito,  ella  nunca  teve  nacimento,  mas  mostrou-se-nos 
agora  nestes  nossos  novíssimos  tempos.  Porque  entrando 

25  a  justiça  com  elles,  com  espada  nua  e  campal  guerra,  por 
boa  industria  do  Senhor  Men  de  Saa,  Governador,  liquão 
de  paz;  e,  como  a  tem  corporalmente,  nós  trabalhamos  de 
a  dar  espiritualmente;  e  por  este  meyo  se  há  feito  tanto 
fruito  quanto  V.  R.a  poderá  lá  entender  por  cartas. 

30  2.  De  maneyra  que  as  difficuldades,  que  eu  para  sua 
virtude  achava,  se  deminuyem,  e  os  meyos  se  executão,  e 
homem  recolhe  o  que  há  tantos  tempos  que  com  trabalhos 
e  lagrimas  derramou.  Porque  se  eu  escrevera,  como  muy- 
tas  vezes  desejey  escrever,  que  seus  pees  erão  veloces  ad 

35  effundendum  sanguinem  8,  agora  posso  com  resão  escrever 
que  são  ligeiros  pera  irem  e  correrem  à  igreja;  e  se  suas 
gargantas  eram  sepulchrum  patens  3  pera  matarem  e  come- 
rem os  vivos,  agora  estão  abertas  pera  louvarem  a  Cristo; 
e  se  não  avia  contricio  mas  infelicitas  in  viis  eorum  *, 


19    misericórdia]  maueyra  ms. 


2  PS.  13,  3. 

3  Ps.  5,  n;  Rom.  3,  13. 

4  Ps.  13,  3 ;  Rom.  3,  16. 


28. -BAÍA  2  DE  OUTUBRO  DE  1559 


161 


agora  já  chorão  e  se  arrependem  e  se  confessão;  e  se  não  40 
avia  temor  de  Deos  ante  óculos  eorum  r>,  agora  não  tão 
somente  do  Senhor  mas  do  Governador  isto  tudo  se  obra, 
Padre  meu,  in  manu  potenti  et  brachio  excelso  6.  E,  asi, 
fica  a  cousa  tão  chãa  que  se  pode  dizer  erunt  prava  in 
directa  et  áspera  in  vias  planas  7.  45 

3.  Ó  quem  me  dera  esperar  o  dilecto  Padre  Ambrósio 
Pirez  a  ver  a  certeza  destas  cousas,  porque  yr  elle  em 
tempo  de  semear  com  lagrimas  e  não  esperar  o  tempo  de 
recolher  com  alegria8,  não  levava  bens  que  dizer  mas  des- 
consolações que  contar.  Todos  os  tempos  passados  parecia  5° 
que  éramos  quá  muytos  (sendo  na  verdade  sempre  poucos) 
polo  pouco  que  avia  que  fazer;  e  se  nos  perguntarão  quare 
hic  statis  ociosi,  respondêramos  que  nemo  nos  conduxit 9, 
mas  já  guora,  que  ha  mese  hé  muyta  operarii  autem  pauci10, 
que  diremos  senão  com  grandes  vozes  que  mande  o  Senhor  55 
o  pastor  desta  terra  u,  porque  vindo  elle  ordenará  alguns 
até  que  V.  R.a  se  certifique  do  aproveitamento  desta  terra 

e  perqua  ho  medo  de  mandar,  porque  cada  dia  parece 
eterno,  he  ho  mes  anno.   Porque  as  casas,  que  são  feitas, 
excedem  aos  [é^r]  moradores  e  os  trabalhos  às  forças,  he  60 
querer  homem  hir  adiante  é  tornar  atrás. 

4.  V.  R.a  o  julgue:  quatro  igrejas  e  tres  Padres!  E  hum 
delles,  que  é  o  Padre  Nóbrega,  sempre  mal  desposto,  he  eu 
sempre  mao:  como  se  podem  outras  fazer  nem  estas  reme- 
dear?    E  se  de  hum  se  ha  de  fazer  dous,  como  hé  dizer  65 
aqui  huma  misa  e  hir  dizer  outra  a  S.  Paulo  12 ?  Respondo 


44    erunt  prava]  errut  parva  ms. 


5  Ps.  13,  3;  Kom,  3,  18. 

6  Ps.  135,  12. 

7  Isai.  40,  4 ;  Luc.  3,  5. 

8  Ps.  125,  5. 

9  Mat.  20,  6. 

10  Mat.  9,  37  ;  Luc.  io,  2. 

11  O  Bispo  D.  Pedro  Leitão. 

12  Aldeia  de  S.  Paulo  (Baía).  Comentário  de  Afrânio  Peixoto  a 
este  passo  da  carta  :  «Quatro  igrejas  e  três  Padres ;  desses,  um  Nóbrega 

11 


162 


P.  FRANCISCO  PIRES  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


eu  que  nemo  potest  duobus  dominis  servire13;  e,  posto 
que  isto  seya  servir  a  hum  só  Senhor,  por  acudir  a  uma 
parte  há  falta  em  ambas.  Houvera,  finalmente,  mais  igre- 

70  jas  e  mais  christandade  e  mais  filhos  de  graça,  he  legíti- 
mos, no  sangue  de  Christo,  recebidos  na  sua  Católica  e 
Sancta  Ygreja,  se  houvera  Padres. 

5.    Depois  de  dar  graças  ao  Senhor,  de  quem  todo  o 
bem  procede,  deve  he  devemos-lhe  todos  dar  pelo  exce- 

75  lente  ministro,  que  tomou  pera  este  tão  alto  hoficio  he 
mistério,  como  é  exalçar  a  Fé  he  ter  zello  da  salvação  das 
almas,  [contra]  o  qual  zelo  não  tem  poder  por  ser  fundado 
no  amor  de  Christo,  os  contrastes  e  lingoas  dos  maldizen- 
tes: heste  verdadeiro  soldado  14  hé  o  Governador. 

80  6.  Acabando  por  onde  comecey,  digo,  Reverendo  em 
Christo  Padre,  que  ha  minha  tentação  terá  lugar,  posto 
que  em  parte  he  não  em  tudo,  en  as  houtras  partes  da 
costa,  porque  falta  por  ella  outros  Men  de  Saas,  porque, 
[a]  avê-[los,  averia  o  que  aqui  há]. 

85  7.  De  Sam  Vicente  tarda  tanto  hum  navio,  que  daqui 
partio,  [que  nos  vay  pondo  desconfiança]  sua  vinda,  he  já 
pode  ser,  ser  deitado  [no  Reyno  por]  algumas  rezões  que 
não  hé  necessário  dizer.  Ha  não  vir,  nos  [dará  tra]balho, 
pola  esperança  que  tinhamos  vir-nos  de  lá  socoro,  asi  de 

90  Ir[mãos  co]mo  de  algum  Padre,  que  o  Padre  Nóbrega  tinha 
mandado  vir  15.  [Nosso  Senhor  ord]ene  tudo  pera  mays 
sua  gloria.   V.  R.a  me  encomende  ao  Senhor. 

Deste  misero,  indigno  filho  de  V.  R.a,  o  Padre,  hoje  2  de 
Outubro  de  1559, 

q;  Francisco  Pirez. 


«sempre  mal  disposto»,  e  Francisco  Pires  «sempre  mau»,  de  anos  e 
achaques,  e  o  outro  certamente  a  dizer  no  mesmo  dia  duas  missas, 
uma  na  cidade,  outra  no  Rio  Vermelho  em  S.  Paulo,  uma  légua  dis- 
tante... E  esse  tempo,  sempre  de  penúria,  já  era  «o  tempo  de  reco- 
lher com  alegria».  Está  aí,  resumido,  o  apostolado  jesuíta»  (Cartas 
Avulsas  249). 

13  Mat.  6,  24. 

14  Cf.  2  Tim.  2,  3. 

15  Cf.  supra,  carta  de  Blázquez  de  10  de  Setembro  4>  3  (carta  23). 


29.  •  LISBOA  6  UE  OUTUBRO  UE  1559 


165 


29 

DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

LISBOA  6  UE  OUTUBRO  UE  1559 

I.  Autores  :    Leite,  História  i  561. 

II.  Texto:  ARSI,  Lus.  60,  f.  is6r  [antes  f.  78r].  Endereço:  «Al 
mny  R.do  en  X.°  P.e  el  P.e  Maestro  Diego  Laynez  Prepósito  General  de 
la  Compafiía  de  [Jesus]  en  Roma».  Cláusula  e  assinatura  autografa. 
Original  em  espanhol. 

III.   Edição:    Imprime-se,  desta  carta,  o  que  toca  ao  Brasil. 

Textus 

1.  Expeditio  sacra  in  Brasiliam.  —  2.  Paires  et  Fratres  expeditio- 
nis.  —  3.  Omnes  iudicat  idóneos  ad  Brasiliam,  Patre  Dictio  incluso.  — 
4.  Subsidium  regium  pro  omnibus  S.  I.  in  Brasília  degentibus  ad  quat- 
ttior  annos,  dum  definitive  provideatur. 

1.  Los  dei  Brasil  partieron  a  19  de  Setiembre,  hales 
hecho  hasta  agora  muy  buen  tiempo,  parece  que  van  bien 
navegados. 

2.  Los  que  van  son  el  P.e  Dictio,  y  el  P.e  Joán  de  Melo, 
el  Hermano  Joseph,  el  Hermano  Jorge  Rodrigues,  estos  5 
quatro  en  un  navio.  En  otro,  con  el  Obispo  \  van  el  Her- 
mano Ruy  Pereyra,  theólogo,  y  otros  dos  Hermanos,  uno 
se  dize  Pedro  de  Crasto,  y  otro  Vicente  Mestre. 


1  A  demora  do  Bispo  D.  Pedro  Leitão  a  embarcar  deu  tempo  a 
preparar-se  esta  expedição.  Porque  a  18  de  Abril  de  1559  escrevia 
o  P.  Torres  a  Layues,  de  Lisboa:  «También  no  avrá  manera  para 
embiar  agora  al  Brasil  con  el  Obispo  que  está  de  camino.  Trabajare- 
mos  de  proveer  una  parte  y  otra  lo  más  presto  que  sea  possible,  mas 
no  se  me  representa  como  pueda  ser  si  de  otras  partes  no  ayudan. 
Nuestro  Sefior  dará  el  modo  y  donde,  porque  no  ay  duda  sino  que 
todas  estas  empressas,  que  tenemos  entre  manos  y  las  más  que  se 
ofrecen  por  estas  partes,  son  de  gran  importância  y  servicio  de  su 
divina  Magestad»  {Lus,  60,  f.  n8r). 


164 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  DIEGO  LAYNES 


3.  Todos  nos  parecieron  aptos  para  esta  missión  y  que 
podrán  allá  servir  mucho  Nuestro  Sefior.  Y  aunque  el 
P.e  Dictio  tiene  la  enfermedad  de  gota,  como  V.  P.  sabe, 
tiene  tantas  partes  para  aquella  tierra  que  esperamos  sea 
de  los  mas  útiles  en  ella ;  y  specialmente  se  embió  porque 
acá  no  avia  esperança  ordinariamente  de  salud,  y  allá, 
según  dizen  los  médicos,  la  cobrará  con  los  ayres  y  exer- 
cícios de  la  tierra  si  en  alguna  parte  la  pode  cobrar  2. 

4.  Allende  de  lo  que  llevan  de  provisión  para  la  mar, 
mandó  Su  Alteza  también  que  a  ellos  y  los  más  que  estan 
de  la  Compafiía  en  aquellas  partes  se  diesse  todo  lo  que 
les  fuesse  menester  por  espacio  de  quatro  anos  3,  porque 
en  este  tiempo  parece  que  se  podrá  assentar  alguna  renta 
firme  a  los  Collegios  que  allá  se  ordenaren. 

30 

DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

LISBOA  10  DE  JANEIRO  DE  1560 

I.  Autores:  LEITE,  História  i  62  132;  II  149  464;  IX  426;  Breve 
Itinerário  155. 

II.  Texto:  ARSI,  Lus.  60,  ff.  I7ir-i73v  [antes  ff.  33or-332v].  Ende- 
reço por  mão  de  amanuense  [173V]:  «Al  muy  Reverendo  en  Christo 
Padre  el  Padre  Maestro  Diego  Laynez  Prepósito  General  de  la  Com- 
pafiía de  Jesus  en  Roma».  Outra  letra:  «1560.  Del  P.  Torres  10  de 
Gennaio».  Cláusula  e  assinatura  autógrafa.  Original  em  espanhol. 

III.    Edição  :    Edita-se  o  que  tem  relação  com  o  Brasil. 


2  O  P.  João  Dictio,  flamengo,  que  sofria  de  gota  coral,  doença 
sobrevinda  já  depois  de  estar  na  Companhia  (Lus.  4J-1,  f.  29V),  não 
recuperou  a  saúde,  voltando  para  a  Europa ;  o  Ir.  Joseph  faleceu  algum 
tempo  depois,  e  os  mais  sairam  da  Companhia,  excepto  os  Padres  João 
de  Melo  e  Jorge  Rodrigues  (Leite,  História  1  56r). 

3  Cf.  supra,  Carta  Régia  de  14  de  Setembro  de  1559  (carta  24). 


50.  -  LISBOA  10  DE  J AMURO  DE  1560 


165 


Textus 

1.  Expeditio  sacra  in  Brasiliam.  —  2.  Epistola  Patris  Nóbrega  et 
boni  nuntii  de  Gnbematore  et  de  Indorttm  conversione.  —  3.  Supellectilia 
in  Brasiliam  missa.  —  4.  Scribet  Patri  Nóbrega  ut  remaneat  Bahiae, 
nisi  aliter  iudicaverit  P.  Generalis.  —  5.  De  P.  Francisco  Pires,  qui  reli- 
giosus  fuit  alterius  Ordinis. —  6.  Expeditio  sacra  in  Angolam  et  gratiae 
quae  ad  omnes  regiones  infidelium  extendi  debebant.  —  7.  Dominus  Eduar- 
dus  da  Costa,  olim  Brasiliae  Gnbernator,  vult  ut  filius  Collegium  ebo- 
rense ingrediatur. 

[-..] 

1.  Para  el  Brasil  partierón  siete  nuestros  a  19  de  Setiem- 
bre  passado  1,  scilicet,  el  Padre  Dictio  y  el  P.e  Joán  de  Melo; 
Ruy  Pereyra,  Pedro  de  Crasto,  Joseph,  Vicente  Mestre  y  Jorge 
Rodrigues. 

2.  [171V]  Con  esta  van  algunas  dei  Brasil,  que  el  Padre 
Nóbrega  nos  embió  abiertas  2.  Recibimos  mucha  Consola- 
ción con  ellas,  y  por  los  nuestros  se  les  embió  recado  a 
prepósito  de  lo  que  escriven  en  estas  cerca  dei  Governador  5 
y  de  la  christiandad. 

3.  También  les  fue  buena  provisión  de  mantenimientos, 
camas,  vestido  y  otras  cosas  para  ellos  y  para  las  nuevas 
yglesias  que  se  han  hecho  4,  y  procurarse  ha  de  continuar 
con  lo  que  piden  para  que  quanto  sea  possible  no  sientan 
allá  falta. 

4.  Al  Padre  Nóbrega  escreviremos,  si  a  V.  P.  no  pare- 
ciere  otra  cosa,  que  pues  tiene  entendido  que  su  enferme- 
dad  es  otra  de  la  que  pensava,  y  allí,  adonde  agora  está, 


17    la  corr.  ex  lo 


1  Cf.  supra,  carta  29  §§  1-3. 

2  Refere-se  à  carta  de  Nóbrega  de  30  de  Julho  de  1559,  às  três  de 
Blázquez  de  10  de  Setembro  (com  as  que  contém,  do  Ir.  António 
Rodrigues),  todas  destinadas  a  Roma,  e  são,  desse  período,  as  que  se 
conservaram  no  ARSI. 

3  Mem  de  Sá. 

4  Cf.  supra,  doe.  25. 


166 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  DIEGO  LAYNES 


se  abre  la  puerta  para  la  conversión  más  que  en  otra  parte, 
se  dexe  quedar  sin  el  cargo  por  que  pueda  mejor  recuperar 

20  la  sanidad,  mas  temo  que,  según  él  quiso  5  entender  lo  que 
se  le  escrevia  sobre  passarse  a  San  Vicente,  no  le  tomen 
nuestras  cartas  ya  en  la  Bahia,  porque  no  avrá  nave  para 
allá  sino  en  fin  de  Abril  o  Março  que  viene,  y  él  signiíica  ,: 
que  se  partiria  luego  con  el  Governador  para  el  Rio  de 

25  Henero,  que  es  junto  a  San  Vicente. 

5.  Un  Padre,  que  se  dize  Francisco  Pirez,  de  los  que 
están  en  el  Brasil,  estava  con  alguna  inquietud,  parecién- 
dole  que  no  podia  estar  en  la  Companía  por  aver  tomado 
hábito  de  otra  religión  7,  antes  de  entrar  en  ella.  El  Padre 

30  Nóbrega  temia  que  no  era  esto  tanto  escrúpulo  como  incons- 
tância, y  dizia  que  se  dispensasse  con  él,  porque  aliás  era 
bueno  y  útil  en  aquellas  partes.  Escrivile  yo  que  se  quie- 
tasse, porque  tenía  por  certo  que  V.  P.  dispensaria  con  él. 
Agora  me  responde  el  mismo  8  que  se  ha  consolado  mucho 

35  dello  y  queda  satisfecho  de  la  dispensación.  Se  V.  P.  lo  ha 
ansí  por  bien,  bolveremos  a  escrivírselo  de  su  parte  por 
cerrar  de  todo  la  puerta  a  la  imaginación. 

6.  Para  Angola  partierón  los  nuestros  a  XXII  dei  pas- 
sado, scilicet,  o  P.e  Francisco  de  Gouvea,  português,  que 

40  era  ministro  en  el  Collegio  de  S.  Anton,  y  el  P.e  Agostín 
de  la  Cerda,  Castellano,  y  dos  Hermanos  portugueses,  el  uno 
se  dize  Antonio  Méndez,  y  el  otro  Manuel  Pinto.  Francisco 
de  Gouvea  va  por  Superior,  y  Agostín  de  la  Cerda  le  soce- 
derá  si  nuestro  Senor  dispusiere  de  su  vida  primero.  Van 

45  los  embaxadores,  que  aqui  andavan  dei  Rey  de  Angola,  y 


33  p°rJ  p°ra 


5  Cf.  supra,  (carta  9  §  1),  os  termos  que  escreveu  a  Nóbrega  para 
que  «se  passe  a  San  Vicente». 

6  Carta  perdida. 

7  Tinha  sido  religioso  do  Mosteiro  de  Santa  Cruz  de  Coimbra. 
Cf.  supra,  carta  6. 

8  Carta  perdida. 


30.-  LISBOA  10  DE  JANEIRO  DE  1500 


167 


lliévalos  uno  que  va  por  embaxador  dei  Rey  de  Portu- 
gal. El  negocio  de  la  christiandad  va  todo  encomendado  a 
los  Padres;  y  al  embaxador  se  dió  por  regimiento  que  no 
hiziesse  más  de  lo  que  ellos  le  dixessen  que  conviene. 
Esperamos  en  Nuestro  Senor  que  todo  lo  guie  a  mayor  glo-  50 
ria  suya  9.  [172V]  Las  gracias  que  V.  P.  embió  dei  summo 
penitenciário,  parece  que  no  servían  para  este  reyno  de 
Angola,  ni  para  otros  de  aquellas  partes  aunque  son  gen- 
tiles.  Se  se  pudiessen  estender  a  todas  las  tierras  de  infie- 
les  o  a  lo  menos  de  gentiles,  adonde  los  nuestros  entienden  55 
en  la  conversión,  seria  gran  bien. 

7.  Un  Cavallero,  que  se  dize  Don  Duarte  da  Costa  10, 
que  estuvo  por  Governador  en  el  Brasil,  y  es  benemérito 
de  la  Companía  de  aquellas  partes  y  aun  de  las  destas,  y 
allende  desto  es  hermano  de  uno,  el  principal  o  de  los  60 
más  principales  dei  Consejo  dei  Rey,  pide  que  le  tengamos 
un  hijo  suio  de  edad  de  treze  anos  poco  más  o  menos  en 
el  Collegio  de  Évora  con  los  nuestros,  y  que  dará  todo  lo 
que  fuere  menester  para  su  gasto,  y  que  si  Nuestro  Senor 
le  diere  voluntad  de  ser  de  la  Companía  se  holgará  mucho  65 
dello  y  lo  avrá  por  gran  merced  de  Dios,  y  quando  no  lo 
quisiere  ser,  disporná  de  otra  maneira  dél  después  que 
uviere  estudiado.  Hasta  agora  no  le  emos  mostrado  que 
pueda  esto  ser,  antes  se  le  ha  hecho  mucha  diíicultad,  y 
le  diximos  que  se  escriviría  a  Roma  y  que  según  allá  lo  70 
ordenassen  se  haría.  Dízennos  que  el  nino  es  bien  incli- 
nado, manso,  y  de  buenas  partes.  V.  P.  lo  verá.  Acá  nos 
parecia  embaraço  y  exemplo  para  otros,  aunque  su  padre 
quiere  que  este  solo,  como  cada  uno  de  los  nuestros,  y 


59   las]  la  nts.  H65   diere]  dire  ms.  ||  73    y  exemplo  para  otros  sup. 


9  Foi  a  primeira  expedição  missionária  da  Companhia  de  Jesus 
para  Angola.  Cf.  F.  Rodrigues,  História  1/2  557- 558;  A.Brásio,  Monu- 
mento Africana  II  (Lisboa  1953)  451-458  495-512. 

10  Sobre  D.  Duarte  da  Costa,  2.0  Governador  do  Brasil,  cf.  LEITE, 
História  11  146-150 ;  Mon.  Bras.  11  73*-74*. 


168 


MEM  DE  SÁ  -  REI  D.  SEBASTIÃO 


75  que  se  crie  como  para  la  Compafiía  sin  pensamiento  de 
bolver  a  casa  de  su  padre  11 . 

[...] 

CARTAS  PERDIDAS 

30a.  Do  P.  João  de  Melo  ao  P.  Miguel  de  Torres,  Lisboa  (da  Bala, 
Janeiro  de  1560).  «Na  carta  que  escrev}'  ao  Padre  Doutor  lhe  dou 
conta  do  sucesso  da  nossa  viagem»,  —  diz  o  P.  João  de  Melo  ao  P.  Gon- 
çalo Vaz,  da  Baía  13  de  Setembro  de  1560  §  1  (carta  39). 

30b.  Do  P.  Rui  Pereira  ao  P.  Miguel  de  Torres,  Lisboa  (da  Baía 
Janeiro  [?]  de  1560).  «Da  carta  que  escrevi  ao  Padre  Doutor  Torres 
por  via  da  nao  Sant  Lourenço»,  —  diz  Rui  Pereira  na  carta  de  15  de 
Setembro  de  1560  aos  Padres  e  Irmãos  de  Portugal  (carta  40  §  1),  e 
no  §  7:  «As  quatro  [Aldeias]  que  já  escrevi»;  e  ainda  «como  tenho 
escrito  por  outra  via»  (§  14);  e  parece  referir-se  a  esta  primeira  carta 
perdida  este  passo:  «O  anno  passado  lhes  escrevi  ou  ao  P.e  Doutor  Tor- 
res pedindo-lhe  que  os  fizesse  participantes  das  novas,  poia  nao 
S.  Lourenço  aserqua  da  nossa  chegada».  Carta  de  6  de  Abril  de  1561  §  1 
(carta  45). 

31 

DE  MEM  DE  SÁ  GOVERNDOR  DO  BRASIL 
A  D.  SEBASTIÃO  REI  DE  PORTUGAL 

RIO  DE  JANEIRO  51  DE  MARÇO  DE  1560 

I.  Autores :  Vasconcelos,  C/ironica,  liv.  li  nn.  74-78 ;  Porto 
Seguro,  HG  i  384-386;  Leite,  História  11  25  274  373;  Breve  Itinerá- 
rio 154;  E.  SaNCEAU,  Capitães  do  Brasil  333. 

II.  Texto  :  Lisboa.  Arquivo  Nacional  da  Torre  do  Tombo,  Corpo 
Cronológico,  Parte  i.a,  maço  104,  doe.  13  [antes,  riscado,  Armário  15, 
maço  104,  n.  13,  n.  13763;  este  último  número  escrito  segunda  vez  e  não 
riscado].  Título:  «1560.  Brasyl.  De  Men  de  Sá,  do  derradeiro  de  Março. 
D.  Sebastião».  Outro  título,  menos  antigo:  «Carta  de  Mem  de  Saa  Gover- 
nador do  Brazil  para  El-Rey  em  que  lhe  dá  conta  do  que  passou  e 
passa  lá  e  lhe  pede  em  pago  doz  seus  serviços  o  mande  vir  para  o  Reyno. 


11  D.  Duarte  da  Costa  teve  sete  filhos,  dos  quais  quatro  homens: 
D.  Álvaro  que  esteve  no  Brasil  com  o  pai,  D.  Francisco,  D.  João  e 
D.  Lourenço.  Parece  tratar-se  deste  D.  Lourenço  da  Costa,  «que  foi 
clérigo  e  dizem  que  teve  espírito  profético»  (Leite,  História  n  149). 


31. -RIO  DE  JANEIRO  51  DE  MARÇO  DE  1560 


168 


De  Brazil,  o  ultimo  de  Março  de  1560».  Endereço  autógrafo:  «A  El-Rei 
noso  Senhor».  Autógrafo  em  português. 

III.  Impressão  :  Sousa  Viterbo,  in  O  Instituto  43  (Coimbra  1896) 
338-340;  Anais  da  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  27  (rçoó)  227-229; 
J.  CORTESÃO,  Pauliceae  Lusitana  Monumento  Histórica  1  (Lisboa  1956) 
285-288. 

IV.  Edição:    Reimprime-se  o  autógrafo  (Torre  do  Tombo). 

Textus 

1.  Alia  via  scribit  de  rebus  actis  in  bellis  «Paraguaçu»  et  Fluminis 
Ianuarii.  —  2.  Praefectura  Bahiae  in  pace  progreditur.  —  3.  Paires  S.  I, 
scribent  Regi  de  incremento  fidei.  —  4.  Baptismus  in  Pago  Spiritus 
Sancfi.  —  5.  Scholae  in  quibus  j6o  pueri  versantur.  —  6,  Alias  scholas 
aedificaret  sed  deest  pecunia,  eas  iuvare  possent  mulctae  condonatio- 
num. —  7.  Opus  est  ut  in  Brasília  sint  praefecti  bona  conscientia  prae- 
diti.  —  8.  Pro  Rege  accepit  Praefecturam  Spiritus  Sancti  quia  bona  est 
et  in  ea  multum  agunt  Patres  S.  1.  in  Indorum  conversione.  —  9.  Indos 
creavit  praefectos  in  pagis,  quia  hoc  múnus  amant  et  parce  vivunt.  — 
10.  Etiam  constituit  carcerem  et  palum  ut  Indi  easdem  res  ac  christiani 
haberent  et  corrigerentur  levia  delida  sub  praeceptorum  auctoritate.  — 
77.  Gubernatores  maior  em  habere  debebant  iurisdictionem  iustitiae.  — 
72.  Sententia  Mensae  Conscientiae.  —  13.  Scriba  Gubernatoris  a  Rege 
mercedem  accipere  debebat,  sicut  actum  est  tempore  Thomae  de  Sousa. — 
14.  Petit  successorem  quia  expendit  plus  quam  lucratur,  pauper  est  et 
familiam  habet. 

Senhor 

1.  Por  outra  via  1  escrevo  a  Vosa  Alteza  o  que  me 
socedeo  na  guerra,  que  tive  com  o  gentio  do  Peroaçu  2  e 
com  os  Franceses  do  Rio  do  Janeiro,  onde  se  achou  Berto- 


1  Sobre  a  guerra  com  os  Franceses,  cf.  carta  de  Mem  de  Sá  a 
El-Rei,  de  S.  Vicente,  17  de  Junho  de  1560,  publicada,  segundo  o  exem- 
plar da  Torre  do  Tombo,  por  Sousa  Viterbo  in  O  Instituto  43  (Coim- 
bra 1896)  340-341;  com  a  data  de  16  de  Junho  em  António  Duarte 
Nunes,  Memoria  do  descobrimento  e  fundação  do  Rio  de  Janeiro,  in  Revista 
do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  Brasileiro  I  (3.a  ed.  1908)  100- 101 ; 
ib.  xxi  (1858)  13-14. 

2  Sobre  a  guerra  do  Peroaçu  (Paraguaçu),  cf.  supra,  cartas  do 
Ir.  António  Rodrigues,  que  nela  esteve,  e  do  P.  Francisco  Pires,  de  28 
de  Setembro  e  2  de  Outubro  de  1559  (cartas  26-27). 


170 


MEM  DE  SÁ  -  REI  D.  SEBASTIÃO 


5  lameu  de  Vascoconcelos  da  Cunha  8,  que  veo  por  Capitão- 
-mor  da  armada,  e  o  fez  tam  bem  que  merece  mercê.  E  os 
mais  Capitães  e  mais  gente  todos  pelejaram  bem. 

2.  A  Capitania  da  Baia,  quando  me  de  lá  parti 4,  íicava 
muito  de  paz  e  o  gentio  todo  muito  sogeito  e  mais  pacifico 

io  que  nunca.  A  cidade  vai  em  muito  crecimento  e  com  estas 
terras,  que  se  agora  sogeitarão,  se  podia  fazer  hum  Reino, 
soo  ao  redor  da  Baia.  Sam  boas  em  estremo  para  tudo  o 
que  nelas  quiserem  fazer. 

3.  Os  Padres  da  Companhia  escreverão  a  Vosa  Alteza 
15  quanto  a  fee  de  Noso  Senhor  se  estende  polo  gentio 

da  Baia.  Parece  que  hé  chegado  o  tempo  em  que  há 
por  seu  serviço  que  este  gentio  participe  de  tamanha 
mercê. 

4.  A  doze  do  mes  de  Novembro  pasado  se  bautisarão 
20  em  hum  dia  na  Igreja  do  Esprito  Santo,  que  hé  sete  legoas 

da  cidade5,  coatrocentas  e  trinta  e  sete  pesoas.  Muitas 
mais  se  bautisariam  cada  dia.  Estes  são  os  que  sabem  a 
doutrina  milhor  que  muitos  cristãos.  Em  outras  igrejas  se 
bautisarão  e  bautizam  outros  muitos. 

25  5.  Haa  Escolas  de  trezentos  e  sesenta  moços  que  jaa 
sabem  ler  e  escrever. 

6.  Eu  tevera  feitas  outras  muitas  igrejas  se  tevera  com 
quê.  Para  isto  pedia  o  poder  perdoar  as  culpas,  que  acon- 
teceram despois  da  minha  vinda,  para  apricar  as  penas  a 

30  estas  obras.  Porque  as  outras  da  justiça,  polas  leis  do 
Reino,  são,  as  mais  [delas],  apricadas  aos  cativos.  Esta 


ao    hum  tHp.  ||  33    cristãos  dei.  h 


3  Bartolomeu  de  Vasconcelos  da  Cunha  chegou  de  Portugal  à 
Bafa  a  30  de  Novembro  de  1559  e  vinha  para  guardar  a  costa  do  Brasil 
(Leite,  História  11  377). 

4  Partiu  da  Bala  a  16  de  Janeiro  de  1560  (ib  II  377). 

5  Da  Bala.  Enquanto  o  Ir.  António  Rodrigues  foi  com  os  índios 
à  guerra  do  Paraguaçu,  ficara  a  tomar  conta  da  Aldeia  do  Espirito 
Santo  o  P.  Nóbrega.  Cf.  supra,  primeira  carta  de  2  de  Outubro  de  1559 
§  1  (carta  27) ;  mas  em  Novembro  Rodrigues  já  ai  estaria  de  novo. 


51.  -  RIO  DE  JANEIRO  51  DE  MARÇO  DE  1560 


171 


terra  não  se  deve  nem  pode  regular  polas  leis  e  estilos  do 
Reino.  Se  V.  Alteza  não  for  muito  fácil  em  perdoar,  não 
terá  gente  no  Brasil.  E  porque  o  eu  gainhei  de  novo, 
desejo  de  se  ele  conservar.  35 

7.  Os  meios  para  iso  necesareos  eu  os  escrevi  a  Vosa 
Alteza  o  anno  pasado,  e  lhe  lembrava  quam  necesareo  era 
pôr  nestas  Capitanias  capitães  onrrados  e  de  boa  concien- 
cia.  Agora  o  vi  [2r]  quando  corri  a  costa.  Porto  Seguro 
está  para  se  despovoar  por  causa  do  capitão.  Os  llheos,  se  4° 
lhe  não  acudira,  ouvera-se  de  perder  e  ouverâo  de  matar 

o  capitão.    No  Esprito  Santo  estão  tres  filhos  de  Vasco 
Fernandes  Coutinho,  moços  sem  barbas,  e  todos  são  capi- 
tães. Os  de  São  Vicente  estão  casi  alevantados.  Se  Vosa 
Alteza  quer  o  Brasil  povoado,  hé  necesario  ter  outra  ordem  45 
nos  capitães,  como  jaa  escrevi. 

8.  Em  chegando  à  Capitania  do  Esprito  Santo,  achei 
huma  carta  de  Vasco  Fernandes  Coutinho,  em  que  rogava 
ao  Ouvidor  da  Capitania,  que  em  seu  nome  renunciase  a 
Capitania  e  lhe  mandava  pera  iso  procuração  bastante.  50 
Os  moradores  estavam  ]aa  todos  para  se  hir,  e  quando 
isto  souberam  se  foram  a  mim  com  as  molheres  e  mininos 
pidindo  que  a  tomase  para  Vosa  Altesa.  Asi  o  fiz,  como 
Vosa  Alteza  pode  mandar  ver  por  hum  auto,  que  diso  fiz, 
com  parecer  dos  Capitães,  até  o  fazer  saber  a  Vosa  Alteza.  55 
Fi-lo  [para]  que  se  não  perdese  huma  tão  boa  Capitania,  e 
polo  muito  fruito  que  os  Padres  da  Companhia  tem  feito 
com  o  gentio.    Haa  muitos  cristãos  e  bem  doutrinados. 

A  terra  hé  boa,  há  nela  muito  brasil  e  bom.  Os  armado- 
res 6  pasados  como  souberem  que  hé  de  Vosa  Altesa  tor-  60 
narão  a  armar,  se  lhes  mandar  falar  niso. 

9.  Não  escrevi  a  Vosa  A.  particularmente  as  diligen- 


61    a  corr.  ex  h 


6  Armadores:  aqui,  sentido  claro,  diferente  de  moradores;  o  que 
parece  autorizar  que  na  carta  de  5  de  Maio  de  1554,  de  Brás  Lourenço, 
em  vez  de  moradores  também  se  devesse  ler  «por  los  armadores», 
como  está  no  tns.  (Mon.  Bras.  11  48,  nota  38). 


172 


MEM  DE  SÁ  -  REI  D.  SEBASTIÃO 


cias  que  aviam  de  fazer  os  homens  7  que  mandava  pidir 
par'as  vilas,  que  fazia  do  gentio8,  por  serem  muitas;  agora 

65  por  menos  despesa  e  pola  muita  necesidade  que  avia  deles, 
ordenei  de  fazer  hum  meir-[2v]inho  dos  do  gentio  em  cada 
vila,  porque  folgam  eles  muito  com  estas  onrras  e  conten- 
tam-se  com  pouco:  com  os  vestirem  cadanno  e  às  molhe- 
res  huma  camisa  dalgodam  bastará;  e  isto  deve  V.  A. 

70  mandar  que  lhe  dem. 

10.  Também  mandei  fazer  tronco  em  cada  vila  e  pelou- 
rinho, por  lhes  mostrar  que  tem  tudo  o  que  os  cristãos 
tem,  e  para  o  meirinho  meter  os  moços  no  tronco  quando 
fogem  da  Escola,  e  para  outros  casos  leves,  com  autori- 

75  dade  [de]  quem  os  ensina  9  e  riside  na  vila.  D[isto]  sâo 
muito  contentes,  e  recebem  milhor  o  castigo  que  nós. 

11.  Os  poderes,  que  mandava  pidir  a  V.  A.,  pidi-os 
pola  esperiencia  que  da  terra  tenho  e  por  quam  necesareos 
são  aos  Governadores.    E  deve-se  V.  Alteza  lembrar  que 

80  povoa  esta  terra  de  degradados,  malfeitores,  que  os  mais 
deles  mereciam  a  morte,  e  que  não  tem  outro  oficio  senão 
ordir  males.  Se  o  Governador  não  tever  [po]deres  largos 
na  justiça  para  castigar  e  perdoar,  hé  cá  pouco  necesareo 
e  o  Ouvidor  fica  com  muito  mor  jurdição  e  fazem  o  que 


71    mandei  bis  poster,  dei. 


7  Estes  homens  ou  «capitães»,  para  as  vilas  ou  aldeias  do  gentio, 
pô-los  Mem  de  Sá  algum  tempo  depois  de  voltar  à  Bala,  mas  sem  resul- 
tado prático,  continuando  nelas  os  Padres  da  Companhia  {Discurso  das 
Aldeias  357-358  ;  Leite,  História  11  64-65). 

8  Vilas  do  Gentio,  isto  é,  Aldeias  de  índios,  mas  diferentes  das 
Aldeias  gentias,  por  serem  da  doutrina  e  já  com  algUDs  elementos 
das  vilas  portuguesas,  como  se  explica  neste  e  no  §  seguinte;  não, 
contudo,  vilas  no  sentido  pleno,  municipal,  por  carecerem  de  câmara. 

9  Os  Padres  da  Companhia  de  Jesus.  Cf.  infra,  carta  de  15  de 
Setembro  de  1560  §  9  (carta  40).  A  primeira  manifestação  deste  regime 
foi  em  1558  na  Vila  de  S.  Paulo  (Baía),  sob  a  direcção  do  Padre  Manuel 
da  Nóbrega  {Mon.  Bras.  II  466-467;  Isaías  Alves,  Nóbrega,  Educador 
e  Pedagogo,  in  Revista  da  Colónia  Portuguesa  da  Bahia,  Ano  III  n.  3 
[Salvador  Junho  de  1957]  6). 


51. -RIO  UE  JANEIRO  51  DE  MARÇO  DE  1560 


175 


querem;  e  quando  os  mandão  responder,  dizem  que  cabe  85 
na  sua  jurdição  ou  alçada. 

12.  Aos  oficiaes  da  Camara10  mostrei  as  determinações 
que  se  tomaram  na  Mesa  da  Conciencia  11  sobre  o  resgatar 
do  gentio  e  as  mandei  escrever  no  livro  da  Camara.  Eles 
receberam  isto  muito  mal,  porque  não  tem  outros  provei-  90 
tos  na  terra.  Sobre  iso  escrevem  a  Vosa  Alteza.  Bem  me 
parece  a  mim  que  se  os  da  Conciencia  foram  milhor  enfor- 
mados que  em  algumas  cousas  foram  mais  largos. 

13.  [3r]  Eu  trouve  hum  escrivão  para  escrever  as  pro- 
visões que  paso,  e  outras  cousas  muito  necesareas,  que  hé  95 
imposivel  podê-las  fazer  por  mim.    Nâo-no  pidi  a  V.  A., 
parecendo-me  que  era  isto  ordinareo,  como  o  teve  Tomé 

de  Sousa.    Ategora  lhe  não  pagaram.    Peço  a  V.  Alteza 
lhe  mande  pagar  o  tempo  que  há  que  me  serve,  asi  como 
se  pagou  ao  de  Tomé  de  Sousa,  por  que  lho  não  pague  de  100 
minha  casa.  Os  negócios  do  Brasil  vão  crecendo  muito  e 
avia  mester  hum  Governador  dous  escrivães. 

14.  Peço  a  V.  A.  que  em  pago  de  meus  serviços  me 
mande  hir  para  o  Reino,  e  mande  vir  outro  Governador, 
porque  afirmo  a  V.  A.  que  não  sou  para  esta  terra.  Eu  105 
nela  gasto  muito  mais  do  que  tenho  d'ordenado.  O  que  me 
pagam  hee  em  mercadorias  que  me  não  servem,  e  eu  fui 
sempre  ter  guerra  e  trabalhos,  onde  ei-de  dar  [de  co]mer  aos 
homens,  que  vão  pelejar  e  morrer  sem  soldo  [nem  majnti- 
mento,  porque  o  não  haa  para  lho  dar.  Sou  velho,  tenho  no 
filhos  que  andão  desagasalhados ;  huma  filha1'2,  que  estava 


88    tomaram  post  corr.  || 89    as  sup.  \\  105    sou]  são  ms.  |  terra  sup. 


10  Da  cidade  da  Baía. 

11  Sobre  a  Mesa  da  Consciência,  cf.  Leite,  Cartas  de  Nóbrega 
(1955)  400. 

12  Mem  de  Sá,  casado  com  D.  Guiomar  de  Faria,  enviuvara  em  1542 
e  diz  no  testamento  que  ela  lhe  deixara  duas  filhas  uma  das  quais  D.  Bea- 
triz de  Sá,  falecera  com  12  anos  de  idade  e,  portanto,  já  não  existia  à 
data  desta  carta.  Trata-se  da  outra  filha,  mencionada  no  testamento, 
D.  Filipa  de  Sá,  a  qual  não  era  freira  mas  recolhida;  e,  se  chegou  a  ser 


174 


MEM  DE  SÁ  -  REI  D.  SEBASTIÃO 


no  Mosteiro  de  Sancta  Caterina  de  Sena,  em  Évora,  man- 
dou Frei  Luis  de  Granada  que  se  saise.  Não  sei  coanto 
serviço  de  Deos,  nem  de  V.  Altesa,  foi  deitar  huma  moça 
dum  mosteiro  na  rua,  sendo  filha  de  quem  o  anda  servindo 
no  Brasil.  Noso  Senhor  a  vida  e  real  estado  de  V.  Alteza 
acrecente. 

Do  Rio  do  Janeiro,  o  derradeiro  dia  de  Março  [de  1560]. 

Men  de  Saa. 


114    foi  sup. 


deitada  «na  rua»,  foi  logo  readmitida  (talvez  em  razão  desta  própria 
carta),  porque  consta  que  desde  1560  (o  presente  ano)  até  1573  esteve 
«no  Convento  de  Dominicanas  de  Santa  Catarina  de  Sena  de  Évora» 
(cf.  V.  Ribeiro,  A  fundadora  da  Egreja  do  Collcgio  de  Santo  Antão  14). 
D.  Filipa  casou  com  o  2.0  Conde  de  Linhares  e,  como  fundadora  da 
Igreja  de  S  Antão,  deixou  o  nome  unido  não  só  à  história  daquela 
igreja  lisboeta,  da  Companhia  de  Jesus,  mas  também  à  história  açuca- 
reira do  Brasil,  por  a  base  daquele  financiamento  ser  constituída  por 
dois  Engenhos,  que  Mem  de  Sá  (que  ficou  e  faleceu  no  Brasil)  ainda 
teve  tempo  de  fundar,  um  em  Ilhéus  (S.  Ana)  e  outro  em  Sergipe, 
mais  conhecido  depois  por  Sergipe  do  Conde  ;  o  qual,  sendo  já  da 
Companhia,  se  desenvolveu  extraordinàriamente  e  mereceu  o  título  de 
«rei  dos  Engenhos  do  Brasil»  (Leite,  História  X  92).  Os  documentos 
da  actividade  produtiva  e  administrativa  deste  Engenho,  importantes 
para  a  história  económica  e  social,  começaram  agora  a  ser  publicados 
no  Brasil  (cf.  Instituto  do  Açúcar  e  do  Álcool.  Documentos  para  a 
História  do  Açúcar.  II.  Engenho  Sergipe  do  Conde  —  Livro  de  Contas 
[1622-16JJ].  Serviço  Especial  de  Documentação  Histórica.  Rio  de 
Janeiro  1956).  Com  uma  explicação  à  frente  do  volume,  assinada 
por  Gil  Metódio  Maranhão,  em  que  se  põe  em  relevo  o  trabalho  edi- 
torial de  Gildo  Moura. 


52.  -  SANTOS  22  DE  ABRIL  UE  1560 


175 


32 

PETIÇÃO  DO  PROVINCIAL  LUÍS  DA  GRÃ 

E  DEPOIMENTOS  DE  DIVERSOS  PADRES 
DA    COMPANHIA   DE  JESUS    EM  DEFESA 

DA  FÉ  CATÓLICA  NO  PROCESSO 
DO  FRANCÊS  FUGITIVO  JOÃO  DE  BOLÉS 

SANTOS  22  DE  ABRIL  DE  1560 

I.  Autores:  CapisTRANO  DE  Abreu,  in  HG  I  375-376455;  Ensaios 
e  estudos,  3.a  série  (7938)  13-30;  E.  Sanceau,  Capitães  do  Br asil  307-321  ; 
Leite,  História  n  387;  Breve  Itinerário  162-165. 

II.  Texto:  Lisboa.  Arquivo  Nacional  da  Torre  do  Tombo, Inqui- 
sição de  Lisboa,  processos  nn.  ij86  e  J4J1.  Original  em  português.  Mas 
a  petição  e  os  depoimentos  de  Padres  da  Companhia  do  Brasil,  que 
contêm,  são  todos  apógrafos,  incluindo  as  assinaturas  (transcritos  pelos 
escrivães  dos  dois  processos). 

III.  Impressão:  Anais  da  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  XXV 
(Rio  de  Janeiro  1904)  217-308. 

IV.  Posição  dos  documentos :  Como  se  verá  pelas  declarações, 
tratou-se  a  princípio  duma  devassa  para  inquirir  e  atalhar  a  infiltra- 
ção contra  a  fé  católica  de  que  era  protagonista  o  francês  João  Cointá, 
que  se  nomeava  Monsior  de  Bolés,  e  fugira  do  Rio  de  Janeiro  por  1558 
ou  1559,  acolhendo-se  a  S.  Vicente.  Em  S.  Vicente  descobriu  os  planos 
dos  seus  compatriotas,  estabelecidos  na  Guanabara,  em  guerra  com  os 
Portugueses;  e,  por  este  lado,  a  sua  vinda  foi  estimada  e  útil.  Mas 
João  de  Bolés  (que  com  este  nome  ficou  a  ser  mais  conhecido),  afeito 
às  intermináveis  e  por  vezes  sangrentas  lutas  religiosas  da  França, 
reproduzidas  em  miniatura  no  Forte  Coligny  da  Guanabara,  levou 
consigo  o  mesmo  espírito,  e  não  tardou  a  levantar  suspeitas  de  pro- 
pagandista disfarçado,  perturbando  o  ambiente  católico  local,  facto  que 
constituía  delito  segundo  a  legislação  do  tempo.  A  devassa  iniciada 
na  Capitania  de  S  Vicente  transitou  para  a  Baía  e  daí  para  Lisboa  por 
ordem  do  Cardeal  Infante,  onde  foi  processo  da  Inquisição  em  regra, 
no  qual  já  não  aparecem  Padres  da  Companhia.  As  declarações  dos 
Padres,  parte  em  S.  Vicente,  parte  na  Baía,  agrupam-se  aqui  todas, 


176         DECLARAÇÕES  DOS  PP.  NO  PROCESSO  DE  JOÃO  DE  BOLÉS 


não  só  porque  a  sua  dispersão  cronológica  subverteria  a  unidade  delas 
mas  também  porque  se  reportam  a  factos  sucedidos  antes  de  22  de 
Abril  de  1560,  data  inicial  dos  documentos.  João  de  Bolés,  quando  lhe 
constou  que  se  iniciara  a  devassa,  tornou-se  mais  cauto,  cessou  a  pro- 
paganda, e  organizou  a  defesa  no  sentido  de  que  não  era  contra  a  fé 
católica  e  que  só  falara,  repetindo  opiniões  alheias  e  não  próprias. 
A  Inquisição  de  Lisboa,  pelas  informações  recebidas  de  diversas  pes- 
soas (muitas  mais  que  as  dos  Padres  da  Companhia),  averiguou  por 
fim  que  João  de  Bolés  sendo  católico  se  tornara  luterano  ou  mais  pro- 
priamente calvinista,  mas  que  se  arrependera.  E  desta  maneira,  feita 
em  forma  a  abjuração,  e  renovada  a  fé  católica,  foi  absolvido  em  1564. 
Para  a  absolvição  pesaram  a  seu  favor  os  serviços  prestados  no  Brasil 
aos  Portugueses,  serviços,  que  Bolés  invocou,  e  que  foram  descobrir 
os  planos  dos  seus  compatriotas  e  combater  contra  eles  com  as  armas 
na  mão  quando  se  tomou  o  Forte  Coligny  em  1560.  Assim  o  declarou 
Mem  de  Sá,  e  tudo  consta  do  processo. 

V.  Edição :  Este  longo  processo  na  íntegra  (jã  publicado  nos 
Anais)  não  teria  cabimento  adequado  neste  livro;  mas  as  declara- 
ções dos  Padres  da  Companhia  são  documentos  históricos,  e  aqui  se 
reimprimem  pelo  original  da  Torre  do  Tombo. 

Textus 

1.  Petitio  Provincialis  Ludovici  da  Grã  ut  informatio  instituatur  de 
modo  agendi  contra  fidem  catholicam  Ioannis  de  Bolés,  civis  galli  Flu- 
mint  Januário  profugi.  —  2-4.  Testimonia  P.  Emmanuelis  da  Nóbrega, 
Fr.  Iosephi  de  Anchieta  et  P.  Ferdinandi  Luis  Carapeta.  —  5.  Altera 
denuntiatio  P.  Ludovici  da  Grã.  —  6.  Testimonia  Fratrum  Adami  Gon- 
çalves et  Gasparis  Pinheiro.  —  7.   Declaratio  ultima  P.  Ludovici  da  Grã. 

1.  Treslado  de  hum  auto  que  Gonsalo  Monteiro,  ouvi- 
dor do  ecclesiastico,  mandou  fazer  ha  requerimento  do 
Padre  Luis  da  Graam. 

Ano  do  nacimento  de  Noso  Senhor  Jesu  Christo  de  mill 
5  y  quynhentos  e  sesenta  anos,  em  os  vinte  dous  dias  do 
mes  d'Abril  da  sobredita  hera,  em  esta  villa  de  porto  de 
Santos,  Capitanya  de  São  Vicente,  de  que  hé  Capitão  e 
Governador  o  Senhor  Martin  Afonso  de  Sousa  por  El  Rei 
noso  Senhor  e  do  seu  conselho,  etc. ;  em  esta  dita  villa, 


32.  -  SANTOS  22  DE  ABRIL  DE  1560 


177 


por  mandado  de  Gonçalo  Monteiro  *,  Vigairo  e  Ouvydor  10 
do  eclesiástico  em  todas  estas  Capitanias  de  Santos  e 
Santo  Amaro,  pelo  muito  Reverendo  Senhor  Dom  Pero 
Leytão,  Bispo  da  cidade  do  Salvador  da  Baya  de  Todolos 
Santos  e  Comisairo  Geral  em  toda  esta  costa  do  Brasil  por 
El-Rei  noso  Senhor  e  do  seu  conselho,  íoy  mãodado  a  mim  15 
escrivão  que  fizesse  este  auto,  a  requerimento  do  Reverendo 
Padre  Luis  da  Graam  em  como  lhe  requeria  da  parte  de 
Deus  que  ele  mãodase  fazer  este  auto;  por  quanto  elle  hé 
enformado  que  nesta  Capitanya  há  algumas  pessoas  que 
temem  mal  da  fee,  como  consta  de  huma  pitição,  que  loguo  20 
ahi  apresentava,  pela  qual  lhe  requeria  que  ha  mandase 
aqui  acostar  e  por  que  ela,  diguo,  e  por  ela  se  perguntasen 
as  testemunhas;  e  que  outrosi  loguo  dava  em  roll  as  mais, 
que  do  caso  lhe  paresesem,  para,  sabida  a  verdade,  fose 
provydo  como  lhe  parecese  justiça.   O  qual  loguo  ano-  25 
meava  por  testemunhas  ao  primeiro  artiguo  Fernão  Luis, 
ho  Yrmão  Josee  2,  Pero  de  la  Cruz,  Jorge  Moreira ;  e  ao 
segundo,  Aliador  3;  ao  terceiro  Josepe  Adorno  4;  ao  quarto, 


1  De|Gonçalo  Monteiro,  actual  Vigário  e  Ouvidor  eclesiástico,  já 
se  falou,  a  propósito  de  «Gonçalo  Monteiro,  que  aqui  foi  capitão»  {Mon. 
Bras.  1  460).  A  identidade  do  nome  não  significa  necessàriamente  iden- 
tidade de  pessoa,  o  que  é  frequente;  e  por  alguma  obscuridade  da 
documentação  nunca  a  afirmámos  nem  também  a  negámos.  A  dar-se 
a  identidade  de  pessoa,  a  saber,  que  este  Vigário  Gonçalo  Monteiro 
de  1560  era  o  mesmo  Capitão  e  Feitor  do  Donatário  e  o  mesmo  capi- 
tão da  Casa  Forte  do  Rio  de  Janeiro  em  1535  (Van  der  Vat,  Prin- 
cípios 199),  e  já  então  Padre,  é  claro,  que  nas  expressões  «Vigário 
e  Capitão»,  «Vigário  e  Feitor»,  o  termo  «Vigário»  se  deve  entender 
não  apenas  no  sentido  etimológico  («que  faz  as  vezes  de»),  mas  também 
no  sentido  habitual  (eclesiástico). 

2  José  de  Anchieta. 

3  Eliodoro  Ébanos,  português  de  nascimento  (Carvalho  Franco, 
Dicionário  140).  O  mesmo  que  mais  adiante  aparece,  incorrectamente 
escrito,  Lyador  Heso. 

4  Giuseppe  ou,  no  Brasil,  José  Adorno,  genovês,  tio  do  P.  Fran- 
cisco Adorno,  que  estudou  em  Coimbra  e  depois  voltou  de  Portugal 
para  a  Itália,  onde  foi  confessor  de  S.  Carlos  Borromeo  e  Provincial  de 
Génova.  José  Adorno  doou  mais  tarde  alguns  bens  à  Companhia,  onde 

13 


178 


DECLARAÇÕES  DOS  PP.  NO  PROCESSO  DE  JOÃO  DE  BOLÉS 


ho  Padre  Manoel  da  Nobregaa ;  /  ao  quinto,  Antonio  Tei- 
30  xeira  5,  Cristóvão  Dinis  6,  e  ao  sesto,  ho  Padre  Nobriga ;  e 
ao  septimo  Jorge  Grego  e  Tavares.  Pelo  qual  o  dito  Vigairo 
mandou  fazer  o  dito  auto  e  se  nomearão  loguo  as  testemu- 
nhas, e  acostei  aqui  a  dita  pitição.  E  o  dito  Gonçalo  Mon- 
teiro ho  assinou,  e  eu,  Antonio  Rodrigues  d'Almeida,  que 
35  o  escrevi.  Gonçalo  Monteyro. 

Pytiçâo 

Senhor  Vigairo 

Diz  ho  Padre  Luis  da  Graam,  Provenciall  da  Companhia 
de  Jesus  nestas  partes  do  Brasill,  que  ho  ano  pasado  de 

40  mil  quinhentos  e  sesemta  7,  vosa  mercê  inquerio  e  tirou 
huma  devasa  sobre  certos  errores,  heresias  e  novidades, 
que  se  começavam  a  samear  pela  terra,  as  quais  hos  fran- 
cezes  que  estavão  em  ho  Rio  de  Janeiro  segião ;  e  porque 
ha  devasa  que  vossa  mercê  tirou  se  mandou  ao  Senhor 

45  Bispo  e  se  escondeo,  o  que  foi  causa  de  Sua  Senhoria  nela 
não  prover;  e  porque  outrosi  depois  se  souberão  outras 
cousas  muitas  da  mesma  calydade  e  em  prejuizo  da  nosa 
santa  fee  catolyca,  as  quais  elle  agora  de  novo  tornará 
denunciar;  e  lhe  requere,  da  parte  de  Deus  e  da  Santa 

50  Madre  Ygreja  e  da  santa  Inquisysão,  que  de  novo  inqueira 
de  todo  o  seguinte. 


desejou  entrar  já  de  idade  avançada  em  1591,  não  realizando  os  sens 
intentos  (Leite,  História  1  368). 

5  António  Teixeira:  «em  1544  trouxe  de  Lisboa  alvará  da  Dona- 
tária [D.  Ana  Pimentel,  mulher  de  Martim  Afonso  de  Sousa],  permi- 
tindo a  ida  ao  campo  a  resgates»  (A.  de  Moura,  Os  povoadores  179). 

6  No  decurso  do  processo  aparece  um  Dinis,  francês,  criado  de 
João  de  Bolés  {Anais  xxv  252).  Pura  informação,  que  aqui  se  dá,  sem 
intuitos  de  identificação  com  este  Cristóvão  Dinis. 

7  Deve  ser  equívoco,  porque  esta  declaração  é  de  22  de  Abril 
de  1560  e  diz-se  que  a  precedente  devassa  era  do  «ano  passado»,  por- 
tanto, de  1559,  como  aliás  pedem  os  adjuntos  de  ter  sido  mandada  ao 
Bispo  e  se  esconder. 


32.  -  SANTOS  22  DE  ABRIL  DE  1560 


179 


Primeiramente  denuncia  em  como  Pero  de  la  Cruz  dise 
na  Borda  do  Campo,  perante  muitas  pessoas,  muitas  cou- 
sas escandalosas,  que  houvia  dele,  ao  Monsior  de  Bolés  8, 
de  que  ele  Padre  Luis  da  Graam  foy  avizado  por  algumas  55 
pessoas;  e  depois,  perguntado  ao  mesmo  Pero  de  la  Cruz 
em  Peratininga,  ele  as  tornou  a  comtar,  as  quais  ele  fez 
escrever  perante  elle  a  hum  Yrmão  de  casa;  e  sam  as 
seguintes : 

Primeiramente  que  dezia  Monsior  de  Bolés  que  a  Igreja  60 
de  Roma  não  tinha  mais  que  ha  de  Lisboa  ou  de  Paris,  que 
tamta  denidade  tem  um  Bispo  como  ho  Papa,  e  ho  Papa  hé 
hum  homem  como  nós,  hum  bugiarão,  que  tem  em  Roma 
putarias  de  homens,  por  que  pagam  dinheiros;  e  que  Nosso 
Senhor  mandou  a  São  Pedro  que  pregase  aos  judeus  e  65 
São  Paulo  aos  gentios,  e  que  São  Pedro  não  havia  de  sair 
do  mandado  de  Deus  pera  deixar  de  pregar  aos  judeus,  e 
ser  Papa,  negamdo  ho  que  dele  se  diz  que  foi  vinte  e  quatro 
anos  Papa ;  que  as  bulas  do  Papa  hé  numa  falsydade  mui 
grande,  que  as  faz  por  tirar  dinheiros  e  por  dois  reales  70 
asolve  de  culpa  e  pena ;  e  que  não  há-de  crer  outra  cousa 
senão  ho  que  está  na  Sagrada  Escritura,  e  que  dise  São 
Paulo  que  aimda  que  viese  algum  amjo  do  seo  a  pregar 
fora  do  que  eles  pregavão,  que  não  no  cresem  9 ;  e  que  não  se 
crea  aver  outros  santos  senão  os  apóstolos  e  que  os  outros  75 
não  se  podem  chamar  santos;  e  que  não  há  hi  Prugatoreo, 


8  Monsior  de  Bolés.  Já  em  Lisboa,  «perguntado  como  se  chama, 
dise  que  se  chamava  Joauano  Cointá,  natural  de  Bollés,  lugar  de  Fransa, 
da  jurdição  de  Tróia,  Cãopanho,  do  Arcebispado  de  Saans»  (Anais  xxv 
255).  Tróia  é  Troyes,  capital  da  antiga  Champagne,  e  o  Arcebispado  é 
Sens,  englobados  hoje  no  departamento  de  Yonne.  Nesta  região  se 
encontra  Coligny  (o  que  pode  significar  alguma  coisa  na  vida  deste 
aventureiro)  e  também  um  pequeno  lugar,  que  actualmente  se  escreve 
Le  Boulay  (cf.  Adolphe  Joanne,  Dictionnaire  Géographique  de  la 
France  [Paris  1869]  323).  O  apelido  de  família  aparece  na  pena  de 
Villegaignon,  Cointat  e  na  de  Crespin,  Cointac.  A  consoante  final 
(t  ou  c),  suprimida  na  pronúncia  e  na  escrita,  obriga  a  acentuar  a 
vogal  final:  Cointá. 

9  Cf.  Galat.  1,  8. 


180 


DECLARAÇÕES  DOS  PP.  NO  PROCESSO  DE  JOÃO  DE  BOLES 


senão  que  ou  vão  loguo  /  direitos  à  gloria  ou  imferno,  e 
que  a  Paixão  de  Jesus  Christo  basta  para  levar  homem  ao 
seo  ainda  que  estê  no  artiguo  da  morte  com  dizer:  Senhor, 

8o  avei  misericórdia  de  mim  pela  Paixão  que  viestes  a  pade- 
ser;  e  que  as  hobras,  que  fazemos  boas,  são  boas  por  amor 
de  Deus,  mas  que  se  cuidamos  que  por  nosas  obras  nos 
avemos  de  salvar,  que  fazemos  gramde  peccado  e  nos  ymos 
ao  imferno;  e  que  mais  perfeito  hé  ho  imferno,  diguo,  e 

85  que  mais  perfeito  hé  ho  matrimonio  que  a  Relegião,  e  que 
Deus  não  defende  que  os  Padres  sejão  casados.  E,  falando 
numa  excomunhão,  que  vosa  mercê10  fizera,  respondeo: 
rio-me  eu  desas  excomunhões.  E  asi  disera  que  se  há-de 
dar  ha*comunhão  aos  leyguos  com  pão  e  vinho  consagrado; 

90  e  que  ho  Pero  de  la  Cruz  lhe  perguntara:  e  vós  avei-lo  de 
tomar  também?  E  que  ele  lhe  respondera:  toma-lo-ey 
como  ho  tomam  os  outros.  E  que  estas  cousas  lhe  dezia 
em  muito  segredo  e  em  lugares  apartados,  avisando-o 
muito  que  as  não  disese  a  ningem  até  ele  não  ser  hido 

95  desta  terra ;  e  que  todas  estas  cousas,  quando  as  contava  o 
dito  Pero  de  la  Cruz,  elle  Luis  da  Graam  as  examinava  se 
as  dezia  Monsior  de  Bolés,  referindo  o  que  deziâo  os  inre- 
ges  ou  se  herão  openions  suas,  e  o  dito  Pero  de  la  Cruz  se 
afirmava  que  herão  opinions  do  mesmo  Monsior  de  Bolés, 

100  e  ele  Padre  Luis  da  Graam  se  afirma  que  do  modo  e  pala- 
vras com  que  ho  dezia  clarisimamente  se  via  que  as  dezia 
como  sua  opinião ;  e  o  mesmo  entendeo  ho  Yrmão  Josee, 
que  escreveo,  e  o  Padre  Fernão  Luis,  que  lhe  ouvyo  algu- 
mas delas,  vindo  todos  tres  de  Peratininga  para  quá  pera 

105  ho  mar.  E  depois,  topando-o  ele  Padre  Luis  da  Graam  ho 
dito  Pero  de  la  Cruz,  em  Santos,  lhe  perguntou  se  tinha 
ele  dito  a  vosa  mercê  ho  mesmo,  que  lhe  tinha  dito?  Elle 
lhe  respondera  que  todo  o  disera,  porem  que  depois  que 
ele  viera  do  Campo,  lhe  disera  Monsior  de  Bolés  que  ho 


89   comunhão]  ezcomuDhão  mm.  ||  97-98    iu reges  corr.  ex  ingrezes 


10   Gonçalo  Monteiro. 


32.  -  SANTOS  22  DE  ABRIL  DE  1560 


181 


que  lhe  avia  dito  hera  o  que  lhe  dezião  os  luteranos.  O  que  no 
parrese  dizer  elle  dito  Monsior  de  Bolés  por  ter  já  noticia 
que  se  enqueria  disto. 

Mais  denuncia  elle  dito  Padre  Luis  da  Graam  a  vosa 
mercê  que  ele  ouvira  dizer  a  Lyador  Heso  que  ouvira  a 
Monsior  de  Bolés  certas  cousas  escandalosas  e  ereticas  que  115 
elle  dirá  por  ho  seu  testemunho. 

Que  Josephe  Adorno  lhe  dise  a  ele  Padre  Luis  da 
Graam,  depois  de  ser  ydo  para  a  Baya  Monsior  de  Bolés, 
que  já  se  dava  por  enganado  acerqua  da  boa  opinião  que 
ele  tinha  pelo  que  depois  ouvyra,  o  que  elle  dirá  em  seu  120 
testemunho  e  ele  dirá  também  os  livros  que  Monsior  de 
Bolés  trouxe,  que  herão  de  doutrina  luterana. 

Ho  Padre  Manoel  da  Nóbrega  dise  a  ele  Padre  Luis  da 
Graam  aver-lhe  ouvido  cousas  por  onde  ho  tinha  por  muito 
sospeito,  que  ele  testemunhará.  125 

Antonio  Teixeira  lhe  contara,  a  ele  Luis  da  Graam, 
diante  de  muitas  pesoas,  cousas  que  lhe  ouvira  dizer  escan- 
dalosas aserqua  da  cruz  e  ymagens,  desculpando  os  Fran- 
sezes  que  estavão  em  ho  Rio  de  Janeiro,  e  louvando-os  de 
boons  cristãos  em  huma  porfia  que  teve  com  Cristóvão  130 
Dinis,  sendo  eles  notoriamente  ereticos  e  o  mesmo  Monsior 
de  Bolés  ho  confesa. 

Item  mais  denuncia  que  esta  dominica  in  Albis n, 
que  agora  pasou,  vindo-se  ele  Monsior  de  Bolés  des- 
culpar de  algumas  cousas  que  dele  deziam,  disera  a  135 
ele  Padre  Luis  da  Graam  que  no  Rio  de  Janeiro  herão 
tres  seitas  de  que  ele  hera  cabeça  de  huma,  e  da  outra 
Monsior  de  Villaganhão12,  e  da  outra  herão  dous  menis- 


128   ymagens]  5Tnagens  ms.  ||  133    ia  Albis]  im  ables  ms. 


11  Dominga  in  Albis,  ou  de  Pascoela,  que  em  1560,  foi  a  21  de 
Abril. 

12  Nicolas  Durand  de  Villegaignon,  cavaleiro  de  Rodes,  chefe  da 
expedição  francesa  que  em  Novembro  de  1555  se  estabeleceu  na  baía 
de  Guanabara,  fortificando-se  numa  pequena  ilha,  depois  conhecida 
pelo  seu  sobrenome.  A  expedição,  embora  não  oficial,  era  patrocinada 


182 


DECLARAÇÕES  DOS  PP.  NO  PROCESSO  DE  JOÃO  DE  BOLÉS 


tros 13  que  mandara  Joam  Calvino  u,  de  Janevra,  e  que  todos 
140  tres  se  chamão  huns  aos  outros  ereges,  por  algumas  dife- 
renças que  antre  eles  avião  nas  opiniões;  e,  perguntando-lhe 
por  elas,  coníesava  aver  consentido  na  comunhão  sub  utra- 
que  specie  ;  e  que  não  se  consertando  eles,  escreverão  todos 
ao  almirante15  e  aleterados  de  França  e  Janevra  pera  que 
145  lhe  mandasem  a  resolução,  a  qual  não  hera  chegada  até  o 
tempo  que  deles  se  apartara;  e,  dyzendo-lhe  ele  Padre 
Luis  da  Graam  como  se  não  comtentavão  hà  detriminação 
da  Igreja,  ele  respondera  que  não  tinhão  comta  com  ella, 
senão  com  ho  que  diserem  leterados;  e  que  o  dito  Monsior 
150  de  Bolés  gabava  de  devota  a  cea16  que  se  fazia  no  Rio  de 


14a    comunhão]  excomunhão  ms.   ||   143    specie]  spexe  ms. 


e  «por  mandadc»  do  rei  de  França,  conforme  diz  o  P.  Nicolas  Liétard, 
com  quem  Villegaignon,  à  data  destes  sucessos  de  S.  Vicente,  já  andava 
em  Paris  a  agenciar  o  envio,  para  a  «Ilha  América»,  de  Padres  fran- 
ceses da  Companhia  de  Jesus,  que  não  chegaram  a  ir,  como  nem  vol- 
tou o  próprio  Villegaignon  (Leite,  História  I  378  380). 

13  Pierre  Richier  e  Guillaume  Chartier,  «ministres»;  mas  os  calvi- 
nistas franceses  (protestantes  huguenotes),  reunidos  em  Genebra  de 
diversas  terras  e  saídos  desta  cidade  a  8  e  9  (não  10)  de  Setembro 
de  1556,  para  a  precária  colónia,  que  intitularam  «França  Antártica», 
com  Bois-le-Comte,  sobrinho  de  Villegaignon,  eram  14  ao  todo,  entre 
os  quais  Jean  de  Lery,  que  iria  ser  o  cronista  da  expedição  (Lery, 
Histoire  d'un  voyage  I  43-44  86.  Richier  tinha  sido  carmelita  descalço, 
cf.  Olivier  Reverdin,  Quatorze  Calvinistes  chez  les  Topinambous.  His- 
toire d'une  mission  gencvoise  au  Brésil,  ijjó-ijjS  [Genebra  1957]  24). 

14  Jean  Calvin  (1509-1564),  heresiarca  francês,  que  se  estabeleceu 
em  Genebra.  Mais  radical  e  mais  violento  que  Lutero,  fez  em  1553  que 
se  queimasse  vivo  Miguel  Servet,  por  este  negar  o  mistério  da  Santís- 
sima Trindade.  Cf.  A.  Baudrillart,  art.  Calvin,  in  Dict.  de  Thèoh 
Cath.  11/2  (Paris  1910)  1377-1397- 

15  O  almirante  Gaspar  de  Coligny  (1519-1572),  chefe  da  reforma 
protestante  em  França. 

16  «Le  dimanche  vingt  &  uniene  de  mars  [1556]  que  la  saincte 
cene  de  Nostre  Seigneur  Iesus  Christ  fut  celebrée  la  primiere  fois, 
au  fort  de  Coligni  en  1'Amerique,  les  ministres  ayans  auparavant  pre- 
paré  &  catechisé  tous  ceux  qui  y  devoyent  communiquer,  parce  qu'ils 
n'avoyent  pas  bonne  opinion  d'un  certain  lean  Cointa,  qui  se  faisoit 


32.  -  SANTOS  22  DE  ABRIL  DE  1560 


183 


Janeiro,  comtando  dela  que  nela  comungão  a  muitos  géne- 
ros de  pesoas  amtre  as  quais  comungão  hos  sacrílegos,  que 
ele  diz  que  entemdem  per  os  papistas;  e  nas  suas  praticas 
parrese  consentir  com  elles  em  se  dizer  ha  misa  e  os  outros 
sacramentos  por  qualquer,  ainda  que  não  íose  ordenado ;  e  155 
isto  ouvio  o  Padre  Manoel  da  Nobrigaa. 

Item  os  dias  passados  ouvio  ele,  Padre  Luis  da  Graam, 
dizer  que  ele  Monsior  de  Bolés  disera  perante  Jorge  Grego 
e  a  Tavares  humas  ystoreas  que  herão  em  desprezo  das 
Cruzadas  e  perguntara  a  Jorge  Grego  por  ho  modo  do  sele-  160 
brar  dos  gregos;  e,  dizendo  que  selebravâo  em  fermentato 
e  que  não  tinhão  ymagens  nem  vulto,  ele  notara  ho  não 
serem  de  vulto  as  ymagens  e  louvara  os  gregos  de  cristia- 
nisimos.  E,  por  tanto,  requeiro  a  vosa  mercê  que  devase 
sobre  tudo  e,  achando  culpado  ao  dito  Monsior  de  Bolés,  o  165 
retenha  que  não  se  vá  para  o  Reino,  porquanto  está  de 
caminho  nesta  naoo,  que  hora  parte  para  o  Reino ;  e  faça 
deligencia  com  brevidade;  e,  porque  todos  /  os  seus  com- 
panheiros, que  com  ele  vierão,  tem  a  mesma  causa,  devase 
também  sobre  eles;  o  que  lhe  asi  requeiro  da  parte  da  170 
Santa  Madre  Igreja  e  da  Santa  Inquisyçâo,  a  quem  requeiro 
que  os  remetta  com  as  culpas  ou  ao  Senhor  Bispo  à  Baya. 
Luis  da  Graam. 

Acoste-se  esta  petição  a  hum  auto  que  mandei  fazer  e 
tirem-se  as  testemunhas  comteudas  neste  auto ;  e,  com  ysto  175 
satisfeito  me  torne  à  mãoo  para  mandar  ho  que  for  justiça. 
Gonsalo  Monteiro. 

2.  E  depois  disto,  vinte  e  dous  dias  do  mes  d'Abrill  de 
mill  e  quinhentos  e  sesenta  anos,  en  esta  villa  de  porto  de 
Santos,  em  as  pousadas  de  Gonsalo  Monteyro,  ouvidor,  180 


151  comungão]  excomungão  ms.  |  151-152  géneros]  greyos  ms.  ||  152  comungão]  exco- 
mungão  ms.  |  sacrílegos]  sacrilégios  ms. 


appeler  monsieur  Hector,  autre  fois  docteur  de  Sorbonne,  lequel  avoit 
passé  la  mer  avec  nous;  il  fut  prié  par  eux  qvTavant  de  se  présenter  il 
fist  confession  publique  de  la  foy',  ce  qu'il  fit:  &  par  mesme  moyen 
devant  tous,  abiura  le  papisme»  (Lery  i  90). 


184         DECLARAÇÕES  DOS  PP.  NO  PROCESSO  DE  JOÃO  DE  BOLÉS 


com  elle  e  comiguo  escrivão,  foram  perguntadas  as  teste- 
munhas abaixo,  pelo  conteúdo  em  a  pitição  atrás ',  e  seus 
ditos  e  testemunhos  são  os  seguintes:  e  eu  Antonio  Rodri- 
gues d'Almeida  escrivão  que  ho  escrevi. 

185  Ho  Padre  Manoel  da  Nóbrega,  Padre  de  misa  da  Com- 
panhia de  Jesus,  testemunha  jurada  aos  Santos  Evangelhos, 
em  que  ele  pôs  a  mão  perante  mim  escrivão,  e  prometeo  a 
dizer  verdade  do  que  lhe  fose  perguntado  pelo  conteúdo 
em  a  pitição  e  artiguos,  a  que  foi  nomeado,  e  prometeo  a 

190  dizer  verdade ;  e,  perguntado  ao  custume  e  cousas  dele, 
dise  nichel 11 . 

Perguntado  ele  testemunha  pelo  quarto  artiguo,  que  lhe 
todo  foy  lydo  e  declarado,  dise  ele  testemunha  que,  por 
cousas  que  ouvira  a  Monsior  de  Bolés,  o  tinha  por  muito 

195  suspeito  na  fee ;  e  as  cousas  mais  substanciais  sam  as 
seguintes,  a  saber: 

Que  em  ele  testemunha,  estando  em  a  sidade  do  Salva- 
dor da  Baya,  em  as  pousadas  do  mesmo  Monsior  de  Bolés, 
lhe  ouvira  dizer  muito  mal  do  Papa  Clemente  Septimo18, 

200  referindo  trovas  e  versos  que  lhe  fizerão. 

E  depois,  lendo  ele  testemunha  em  huma  crónica  que  o 
dito  Papa  fora  muito  justo  e  que  governara  Roma  em  muita 
paaz  e  que  fora  persegidor  de  Martim  Lutero19;  e,  dahi  a 
dias,  estando  ele  testemunha  com  ho  dito  Monsior  de  Bolés 

205  no  estudo  do  Colégio,  ele  testemunha  lhe  mostrara  a  cró- 
nica, à  qual  dera  resposta  que  aquilo  se  escrevera  que  hé 
pera  comtentar;  donde  ele  testemunha  notou  que,  por 
aquele  Papa  Clemente  ser  contra  os  lutaros  [sic],  o  pode- 
ria ter  aquela  má  vontade. 


301    crónica]  caroniqua  »is.  \\  305-206  crónica]  caronica  ms.  \[  308  Papa]  papel  tns. 


17  Nichel,  isto  é,  nada.  Nichel,  forma  tabelioa  do  latim  nihil,  apa- 
rece mais  vezes  neste  documento. 

18  Clemente  VII  (Júlio  de  Médicis)  foi  Papa  de  1523  a  1534. 

19  Martim  Lutero  (1483-1546),  alemão,  frade  católico  que  depois  se 
tornou  chefe  da  reforma  protestante.  Cf.  J.  Paquier,  art.  Luther,  in 
Dict.  de  Théol.  Cath.  ix/i  (Paris  1926)  1146-1335. 


52.  -  SANTOS  22  DE  ABRIL  DE  1560 


185 


E  asirn  mais  dise  ele  testemunha  que  perante  ele  o  dito  210 
Monsior  de  Bolés  lera,  em  hum  seu  cartapasio,  sertã  ley- 
tura,  que  tresladara  de  hum  livro  do  Lutaro,  dizendo-lhe 
que  não  achara  nele  outra  cousa  boa;  dizendo-lhe  ele  tes- 
temunha que  como  lyo  o  tal  livro,  pois  hera  defeso  sob 
pena  de  excomunhão?  A  que  ele  deu  em  reposta  que  na  215 
sua  terra  hera  licito  ler  todos  os  livros.  E  asim  dise  ele 
testemunha  que,  segundo  sua  lembrança,  lhe  parese  que 
ouvira  dizer  ao  dito  Monsior  de  Bolés  que  na  sua  terra 
não  reseberão  a  bula  do  Papa20  que  defende  ler  os  tais 
livros.  220 

E  asim  dise  mais  ele  testemunha  que  em  /  todas  as  pra- 
ticas ou  as  mais  delas,  que  com  o  dito  Monsior  de  Bolés 
tivera  sobre  as  aresias  d'Alemanha,  sempre  escuzava  e  des- 
culpava e  louvava  os  ireges  de  retos  e  ables  e  de  boons 
leterados ;  e,  na  maneira  de  referir  as  erezias,  parrecia  225 
querê-las  persuadir21;  e  que  um  dia,  dizendo-lhe  a  teste- 
munha que  o  Lutero  tivera  molher  sendo  antes  frade  de 
Santo  Agostinho,  o  dito  Monsior  de  Bolés  ho  desculpara  e 
louvara  de  vertuoso,  dizendo  que  lhe  alevãotarão  yso ; 
como,  na  verdade,  elle  testemunha  aja  lydo  em  livros  cato-  230 
licos  ter  o  Lutaro  molher22. 

E  asim  mais  dise  ele  testemunha  que  tratando  com  ho 
dito  Monsior  de  Bolés  sobre  o  sacramento  da  unsão  e,  tra- 
tamdo  da  Epistola  de  Samtiaguo23  que  delle  trata,  elle  dito 
Monsior  de  Bolés  disera  que  folgara  de  saber  o  que  Cal-  235 


324    retos]  retis  ms,  ||  326   persuidir  tns. 


20  A  Bula  Exsurge,  de  15  de  Junho  de  1520,  que  condena  as  obras 
de  Lutero.  Cf.  Heinrich  Reusch,  Der  Index  der  verbotenen  Biicher  1 
(Bonn  1883)  66. 

21  «Esta  observação  [de  Nóbrega]  é  tão  fina  como  exacta»  (Capis- 
trano  de  Abreu,  Ensaios  e  Estudos,  3.a  série  [1938]  20). 

22  Lutero  casou  em  1525  com  Catarina  Bora  (Cf.  Paquier,  op.  cif. 
col.  1165). 

23  Iac.  5,  14. 


186         DECLARAÇÕES  DOS  PP.  NO  PROCESSO  DE  JOÃO  DE  BOLÉS 


vino,  que  hé  um  grande  eretiquo  de  Janevra,  dezia  sobre 
aquilo. 

E  outra  vez,  vindo  ambos  em  a  naoo  à  meza  do  Gover- 
nador Men  de  Saa24,  tratando  das  obras  e  do  que  os  ereges 

240  dezião  sobre  yso,  elle  dito  Monsior  de  Boles  disera  a  ele 
testemunha  perante  o  dito  Governador  e  as  mais  pessoas, 
que  hahi  estavão,  que  folgara  de  saber  ho  que  o  mesmo 
Calvino  dezia  sobre  yso ;  de  que  foi  reprendido  do  dito 
Governador  e  dele  testemunha. 

245  E  asim  mais  ouvira  dizer  ele  testemunha  geralmente 
que  ningem  vira  nunqua  ao  dito  Monsior  de  Bolés  adorar 
ao  Santo  Sacramento,  e  diso  ho  notavão.  E  que  ouvira 
dizer  que  Gaspar  Barbosa 25  lho  reprendera,  estranhando-lho, 
e  que  ho  dito  Monsior  de  Bolés  lhe  respondera  que  Deus 

250  sabia  seu  corração. 

E  asy  dise  mais  ele  testemunha  que,  vindo  em  a  dita 
naoo  ou  carravela  em  que  vinha  o  Governador,  em  tra- 
tando anbos  sobre  a  oração  do  Pater  Noster,  ele  Monsior 
de  Bolés  disera  que  lhe  faltavão  sertas  palavras  que  esta- 

255  vam  no  grego;  elle  com  elas  ho  rezava,  as  quais  palavras 
ele  testemunha  achara  depois  que  estavam  em  huns  livros 
da  doctrina  luterana,  que  agorra  vierão  do  Rio  de  Janeiro 
com  outros  muitos  também  luteranos.  E  do  conteúdo  no 
dito  artigo  mais  não  dise. 

260  E  perguntado  ele  testemunha  pelo  seisto  artigo,  a  que 
foi  dado,  dise  elle  testemunha  que  tudo  o  conteúdo  em  o 
dito  artiguo  hera  verdade,  por  ele  testemunha  estar  de 
presente  quando  ho  dito  Monsior  de  Bolés  estar,  digo,  ho 
dezia  ao  Padre  Luis  da  Graam. 

265  E  decrarou  mais  ele  testemunha  ao  quarto  artiguo,  que 
ho  dito  Monsior  de  Bolés  lhe  disera  que  ho  Livro  dos 
Macabeus  não  hera  autentico. 


345    ele  corr.  ex  a  ele 


24  Por  Janeiro-Fevereiro  de  1560. 

25  Sobre  Gaspar  Barbosa,  cf.  Mon.  Bras.  I  312. 


32.  -  SANTOS  22  DE  ABBIL  DE  1560 


187 


E  asi  mais  sabe  ele  testemunha  que  ho  dito  Monsior  de 
Boles  disera  ao  Bispo20  que  Hisau27  hera  salvo,  de  que  o 
Bispo  o  reprendera;  e  que  ysto  sabia  por  ho  ouvir  dizer  ao  270 
dito  Monsior  de  Bolés,  aqueixando-se  da  reprensão  áspera 
do  Senhor  Bispo,  e  sostentando  ainda  sua  opinião;  e  /  tra- 
tando-se  da  pratica  que  com  ele  testemunha  tivera  à  maté- 
ria da  prestinação,  diguo,  de  predistinação,  ele  Monsior  de 
Bolés  disera  muitos  herrores,  que  ele  testemunha  agora  lhe  275 
não  lembrão.  E  do  conteúdo  em  o  dito  artiguo  e  artiguos 
mais  não  dise,  e  ho  asinou  aquy  com  o  dito  vigairo  e  eu 
Antonio  Rodrigues  d'Almeida,  escrivão  que  ho  escrevi. 
Gonsalo  Monteiro.  Nóbrega. 

3.  O  Irmão  Josee28,  da  Companhia  de  Jesus,  testemu-  280 
nha,  a  quem  o  dito  Vigairo  deu  juramento  sobre  os  santos 
avangelhos,  em  que  pôs  a  mão  perante  mim  escrivão  e  pro- 
meteo  a  dizer  a  verdade  do  que  soubese  pelo  conteúdo  em 
a  dita  pityção  ao  primeiro  artigo,  a  que  foi  dado,  e  prome- 
teo  a  dizer  a  verdade ;  e  perguntado  pelo  custume  e  cousas  285 
delle  dise  nichel. 

Perguntado  ele  testemunha  pelo  primeiro  artiguo  da 
pitição  a  que  foi  dado,  dise  ele  testemunha  que  hé  verdade 
que  as  palavras  que  em  o  primeiro  artigo  se  diz  que  dise 
Pero  de  la  Cruz,  que  ele  testemunha  escrevera  todas  por  290 
mandado  do  Padre  Luis  da  Graam  perante  o  mesmo  Pero 
de  la  Cruz,  dizendo-as  ele  mesmo,  e  que  tanto  que  as  tivera 
escritas  lhas  tornara  a  ler ;  as  quais  palavras  dezia  Pero  de 
la  Cruz  que  lhas  disera  o  Monsior  de  Bolés;  e  que  isto 
disera  o  dito  Pero  de  la  Cruz  como  opinião  do  dito  Monsior  295 
de  Bolés,  e  não  como  referindo  hopinião  de  outros.  E  que 
hé  verdade  que  ho  dito  Pero  de  la  Cruz  dezia  ao  Padre 
Luis  da  Graam  que  se  escondese  e  que  ele  faria  ao  dito 


29a   as']  a  ms. 


26  D.  Pedro  Leitão. 

27  Hisaú  ou  Esaú,  irmão  de  Jacob,  filhos  de  Isac  (Gen.  25,  25). 

28  José  de  Anchieta. 


188         DECLARAÇÕES  DOS  PP.  NO  PROCESSO  DE  JOÃO  DE  BOLÉS 


Monsior  de  Bolés  que  tornase  a  dizer  tudo  o  que  dito 

300  hé  e  outras  muytas  cousas,  de  que  ele  não  hera  lem- 
brado. E  dise  ele  testemunha  que  ouvira  dizer  ao  dito 
Pero  de  la  Cruz  que  dezia  ho  dito  Monsior  de  Bolés  que 
estas  cousas  lhe  tivese  em  muito  segredo,  diguo,  em 
muito  grande  segredo.    E  do  conteúdo  em  o  dito  artigo 

305  mais  não  dise,  e  o  asinou  aqui  com  ho  dito  vigairo  e  eu 
Antonio  Rodrigues  d'Almeida,  que  ho  escrevi.  Josee.  Gon- 
sallo  Monteiro. 

4.  E  depois  disto,  em  os  vinte  e  seis  dias  do  mes 
d'Abrill  de  mill  e  quinhentos  e  sesenta  anos,  em  esta  villa 

310  de  porto  de  Santos,  em  as  pousadas  de  Gonsalo  Monteiro, 
ouvidor  do  eclesiástico,  tiramos  as  testemunhas  abaixo  por 
os  artiguos  a  que  foram  dados  em  a  dita  pitição;  e  seus 
ditos  e  testemunhos  são  os  segintes.  E  eu  Antonio  Rodri- 
gues d'Almeida,  que  ho  escrevi. 

315  Fernão  Luis,  d'alcunha  Carapeta29,  Padre  de  misa  da 
Companhia  de  Jesus,  a  quem  o  dito  ouvidor  deu  juramento 
sobre  os  santos  avangelhos  em  que  ele  pôs  a  mão  perante 
mim  escrivão,  e  prometeu  a  dizer  a  verdade  do  que  sou- 
bese  do  conteúdo  em  o  dito  artiguo  a  que  foi  dado;  e  ao 

320  custume  dise  nichel. 

Perguntado  elle  testemunha  pelo  dito  artiguo,  que  ele 
testemunha  per  si  mesmo  leo,  dise  elle  testemunha  que 
ouvyra  dizer  a  Pero  de  la  Cruz  que  dezia  ho  Monsior  de 
Bolés  que  a  Igreja  de  Roma  não  tem  mais  denidade  que 

325  outra  qualquer,  e  que  tanta  denidade  tinha  um  Bispo  como 
hum  Papa,  e  que  ho  Papa  hera  hum  homem  como  os  outros 
e  bogiarão,  e  que  outrosi  ouvira  dizer  ao  dito  Pero  de  la 
Cruz  que  dezia  ho  dito  Monsior  de  Bolés  que  as  bulas  do 
Papa  hera  huma  falsidade  mui  grande  e  que  ho  fazia  por 


29  P.  Fernão  Luís  Carapeto  tem  o  Catálogo  de  1567  (Bras.f-i,  f.  7V); 
e,  portanto,  Carapeto  não  seria  alcunha.  Carapeto  é  uma  espécie  de 
figueira  brava.  Fernão  Luís  deixou  cair  este  apelido  pelo  costume 
de  se  usar  na  Companhia  apenas  um;  e  também,  cremos  nós,  porque 
Carapeto,  confundido  fàcilmente  com  carapeta,  se  prestaria  a  equívocos 
e  trocadilhos.  Sobre  Fernão  Luís,  cf.  Mon.  Bras.  11  309. 


32.  -  SANTOS  22  DE  ABRIL  DE  1560 


189 


tirar  dinheiros;  e  que  asi  lhe  disera  mais  que  as  excomu-  330 
nhões  do  Vigairo  daqui  de  Santos  que  tanto  valyão  como 
nada ;  e  que  asi  lhe  ouvira  mais  dizer  ao  dito  Pero  de  la 
Cruz  que  dezia  o  dito  Monsior  de  Boles  que  não  avia  mais 
santos  que  os  apóstolos,  e  que  os  outros  se  não  podiam 
chamar  santos ;  e  que  nem  avia  ha  hi  Purgatório,  que  loguo  335 
hião  ao  imferno  ou  parayzo  como  de  quá  deste  mundo  par- 
tião,  que  bastava  a  Paixão  de  Christo  pera  se  salvarem. 
E  que  lhe  disera  o  dito  Pero  de  la  Cruz  a  ele  testemunha 
que  o  dito  Monsyor  de  Boles  lhe  contava  estas  cousas  em 
muito  segredo,  que  fizese  o  Padre  Luis  da  Graam  com  340 
Josephe  Adorno  que  dese  licença  pera  que  estivesem  ser- 
tas  testemunhas  escondidas  em  sua  casa  em  parte  que  os 
podesem  ouvir  e  que  ele  Pero  de  la  Cruz  lhe  tornaria  a 
fazer  que  disese  outra  vez  tudo  o  que  lhe  tinha  dito, 
pedindo  muito  ao  Padre  que  ho  não  descobrise  por  amor  345 
de  Josephe  Adorno  por  ter  muito  boas  obras  resebidas 
e  o  dito  Monsior  de  Bolés  pousar  em  sua  casa.    E  do 
conteúdo  em  o  dito  artiguo  mais  não  dise,  e  o  asinou 
com  ho  dito  Gonsalo  Monteiro  e  eu  Antonio  Rodrigues 
d  Almeida  que  ho  escrevi.  Fernão  Luis  Carrapeta30.  Gon-  35a 
saio  Monteiro. 

5.  E  depois  disto,  aos  vinte  dias  do  mes  de  Janeiro  da 
hera  de  mil  e  quinhentos  e  sesenta  e  hum  anos  foy  o 
Vigairo  Geral31  comiguo  escrivão  à  Aldeã  de  São  Paulo, 


30  Trata-se  de  cópia.  Pelo  exposto  na  nota  precedente,  o  Padre 
teria  assinado  Fernão  Luís  Carapeto.  —  Sobre  o  andamento  da  devassa, 
convém  saber  que  a  14  de  Maio  de  1560  o  Ouvidor  eclesiástico  Gonçalo 
Monteiro  absolveu  o  imputado,  apelando  para  o  Bispo  da  Baía  D.  Pedro 
Leitão.  E,  tendo  de  ir  para  Portugal,  com  Estácio  de  Sá  a  nau  francesa 
tomada  no  Rio  de  Janeiro,  nela  embarcou  também  João  de  Bolés.  Mas 
a  nau  arribou  à  Baía,  e  o  Bispo  mandou-o  prender  e  conduzir  para 
terra,  a  28  de  Dezembro  de  1560,  reabrindo-se  a  devassa.  Foram  ouvi- 
das várias  testemunhas  e  entre  elas  as  da  Companhia,  que  se  seguem 
no  texto,  entre  as  quais  o  P.  Luís  da  Grã,  que  residia  então  na  Aldeia 
de  S.  Paulo  (Brotas). 

31  P.  Silvestre  Lourenço,  que  assina  o  auto  na  sua  qualidade  de 
Mestre-Escola  da  Sé,  função  esta  última  que  já  exercia  em  1555  {Mon. 


190         DECLARAÇÕES  DOS  PP.  NO  PROCESSO  DE  JOÃO  DE  BOLÉS 


355  omde  estava  ho  Padre  Luis  da  Graam  Provinciall  da 
Companhia  de  Jesus,  e  ho  tiramos  por  testemunha  neste 
caso  e  pelo  conteúdo  na  petição  que  ele  dito  Padre 
deu  contra  o  dito  Monsior  de  Boles;  e  ho  seu  dito  e  tes- 
temunho hé  o  seginte,  e  eu  Fernão  Vaaz  escrivão  que  ho 

360  escrevi. 

Ho  Padre  Luis  da  Graam,  Provencial  da  Ordem  de  Jesus, 
testemunha  jurada  aos  santos  avangelhos,  que  pelo  Vigairo 
Geral  lhes  foram  dados  para  que  disese  a  verdade  do  que 
lhe  fose  perguntado,  o  que  ele  prometeo  de  fazer;  e  do  cus- 

365  tume  e  cousas  delle  dise  nichel. 

Perguntado  ele  testemunha  pelo  conteúdo  na  pitição  da 
devasa  que  se  tirou  em  São  Vicente  e  por  a  dita  pitição 
foram  perguntadas  as  testemunhas  atrás,  que  pelo  Vigairo 
Geral  lhe  foy  lyda  e  declarada,  se  elle  testemunha  que 

370  neste  caso  ele  dito  testemunha  tem  já  denunciado  perante 
ho  Vigairo  Gonsalo  Monteiro  da  Capitania  de  Santos,  como 
Pero  de  la  Cruz  disera  na  Borda  do  Campo  perante  muitas 
pessoas  muitas  cousas  escamdelosas  que  ouvira  ao  dito 
Monsior  de  Bolés:  e  dise  elle  testemunha  que  se  reporta 
375  do  mais  à  petição  e  denunciação  que  elle  fez  em  a  villa  de 
Santos  ao  Vigairo  Gonsalo  Monteiro,  a  qual  está  aqui  acos- 
tada à  devasa  que  se  tirou  em  a  vila  de  Santos,  e  que  a  ela 
reporta  tudo  o  conteúdo  na  pitição.  E  al  não  dise  e  ho  asi- 
nou  com  o  dito  Vigairo  Geral  e  eu  Fernão  Vaaz,  escrivão, 

380  que  ho  escrevi.  Luis  da  Graam.  Silvestre  Lourenço  mes- 
tre-escolla. 

6.    E  depois  disto  ao  derradeiro  dia  do  mes  de  Janeiro 
da  hera  de  mil  e  quinhentos  e  sesenta  e  hum  anos,  fuy  eu 
escrivão  com  João  Marante,  escrivão  da  camará  do  dyto 
385  Senhor  Bispo  ao  Colégio  de  Jesus  e  tiramos  por  tes- 


365   nichel  bis 


Bras.  11  215).  Mediante  carta  de  apresentação  de  Mem  de  Sá,  o  Bispo 
D.  Pedro  Leitão  confirmou  Silvestre  Lourenço  Vigário  de  Pernambuco 
a  9  de  Fevereiro  de  1563  {Doe.  Hist.  35  [1937]  180-183). 


52.  -  SANTOS  22  DE  ABRIL  DE  1560 


191 


temunhas  aos  diante  nomeados  e  seus  ditos  e  testemu- 
nhos sam  os  segintes.  Eu  Fernão  Vaaz  escrivão  que  ho 
escrevi. 

Ho  Padre  Adão  Gonsalves32,  da  Companhia  de  Jesus, 
testemunha  jurada  aos  santos  avangelhos  que  pelo  dito  390 
Joam  Marante,  escrivão  da  camará  do  dito  Senhor  lhes 
foram  dados,  em  que  ele  pôs  a  mão  perante  mim  escrivão, 
e  prometeu  de  dizer  a  verdade  do  que  lhe  fose  perguntado; 
e  perguntado  pelo  custume  e  cousas  dele  dise  nichel. 

Perguntado  ele  testemunha  pelo  conteúdo  na  petyçâo  395 
por  que  íorão  perguntadas  as  testemunhas  em  São  Vicente 
que  pelo  dito  Joam  Marante  lhe  foi  todo  lydo  e  declarado, 
dise  ele  testemunha  que  não  sabe  mais  somente  que  ouvir, 
estando  no  Rio  de  Janeiro  quando  se  tomou  ha  fortaleza; 
ouvio  ele  testemunha  humas  porfias  grandes  que  tinhâo  400 
sertos  homens  com  ho  dito  Monsior  de  Bolés,  as  quais  ele 
testemunha  não  ouvio  bem  por  estar  arredado,  e,  imdo  elle 
testemunha  depois  para  onde  tiverão  as  ditas  porfias,  lhe 
contarão  aqueles  homens,  que  /  aly  estavão,  que  as  porfias 
foram  que  ele  dito  Monsior  querya  sostentar  hos  francezes,  405 
que  haly  estavão,  de  boons  cristãos,  dado  caso  que  não 
tivesem  igrejas  nem  cruzes  nem  outras  cousas  que  lhes  os 


32  Adão  Gonçalves,  como  diz  no  seu  depoimento,  esteve  na  Capi- 
tania de  Porto  Seguro  (em  1559),  tomou  parte  na  tomada  da  Fortaleza 
do  Rio  de  Janeiro  (Março  de  1560);  e  tinha  uma  boa  fazenda  na  Capi- 
tania de  S.  Vicente,  como  dirá  Nóbrega  pouco  depois  (carta  de  12  de 
Junho  de  1561  §  1).  Entrou  na  Companhia  na  Baía  em  1561  com  39  anos 
de  idade  e  portanto  poucas  semanas  teria  de  religioso  ao  fazer  este 
depoimento,  e  ainda  não  era  sacerdote.  Mas  a  isso  se  destinava  e 
em  1574  já,  como  tal,  aparece  Superior  de  São  Paulo  de  Piratininga. 
Era  dos  arredores  de  Braga,  sabia  a  língua  tupi,  e  tinha  talento  para 
tratar  com  gente  de  fora.  Faleceu  no  Colégio  do  Rio  de  Janeiro  a  22  de 
Março  de  1593  (Leite,  Cartas  de  Nóbrega  [1955]  379-380).  Deste  Adão 
Gonçalves  há  notícia  de  que  antes  de  entrar  na  Companhia,  sendo 
morador  de  S.  Vicente,  levou  para  Lisboa  metal  recolhido  no  sertãoi 
que  se  averiguou  ser  prata  (Sérgio  Buarque  de  Holanda,  Expansão 
Paulista  18).  Por  1548  teve,  de  uma  índia,  um  filho,  Bartolomeu  Gon- 
çalves (Bras.  j-i  7r),  que  entrou  e  faleceu  na  Companhia  (Leite,  His- 
tória I  576-577)- 


192         DECLARAÇÕES  DOS  PP.  NO  PROCESSO  DE  JOÃO  DE  BOLÉS 

ditos  homes  que  hi  estavão  estranharão:  dizendo  que  a 
santidade  não  estava  nas  igrejas,  nem  nas  cruzes,  nem  nas 

410  contas,  e  outras  palavras  que  davão  escamdalo  às  pesoas 
que  as  ouvião;  e  dizendo  que  os  francezes  que  herão  mais 
santos  que  os  Padres  de  Jesus,  o  que  tudo  ysto  naquele 
fragante  lhos  contarão  a  ele  testemunha  os  que  estavão 
com  ho  dito  Monsior  de  Bolés ;  e  dise  elle  testemunha  que 

415  no  Rio  de  Janeiro  não  se  achou  cousa  que  paresese  synal 
de  christãos,  porque  não  tinhão  cruz  nem  imagem;  e  do 
seisto  artiguo  não  dise  mais  nem  dos  outros  atrás  por  não 
saber  mais  dos  outros  atrás,  senão  deste;  e  dise  mais  ele 
testemunha  que  ao  tempo  que  ho  dito  Monsior  viera  de 

420  São  Vicente  a  primeira  vez  viera  ter  a  Porto  Seguro,  omde 
ele  testemunha  estava,  e  achando-se  elle  testemunha  em 
quasa  de  Felype  Gilhem33,  provedor  da  fazenda  de  Sua 
Alteza,  estando  presentes  Dioguo  Alvares34  e  Gaspar  Bar- 
bosa, ahi  moradores,  vindo  a  falar  com  ho  dito  Monsior 

425  sobre  a  teyma  má  que  tinhão  os  luteranos,  dizendo  eles 
que  tinhão  má  tensão  naquilo  que  sostentavâo  e  o  dito 
Monsior  respondeo,  perante  elle  testemunha  e  das  que  asima 
vão  escritas,  que  não  tinhão  má  opinião  os  luteranos,  mas 
antes  hera  boom  o  que  tinhão  e  gabando-os  que  tinhão  boa 

430  opinião;  e  que  lhe  parese  a  ele  testemunha  que  ho  diria  a 
seu  pareser  deles  luteranos  e  que  também  os  gavava  de 
boons  leterados;  e  que,  segundo  o  pareser  delle  testemu- 


411    e  dizendo  que  os  francezes  bis 


33  Filipe  de  Guillén,  espanhol,  foi  boticário  em  Sevilha  ou  Puerto 
de  Santa  Maria,  e  veio  a  Portugal  oferecer  uns  instrumentos  de  sua 
invenção,  qae  não  aprovaram,  e  lhe  fez  uma  sátira  Gil  Vicente.  Foi 
para  o  Brasil  desterrado,  onde  se  mostrou  útil  colono  e  funcionário 
público.  Ainda  vivia  por  1571,  já  muito  velho  (cf.  notas  de  Capistrano 
de  Abreu  e  Rodolfo  Garcia,  in  HG  336-338;  Carvalho  Franco, 
Dicionário  188). 

34  Diogo  Álvares,  um  dos  capitães  que  em  1558  acompanharam 
Fernão  de  Sá  à  expedição  do  Espírito  Santo  (Carvalho  Franco, 
Dicionário  27). 


32.  -  SANTOS  22  DE  ABRIL  DE  1560 


193 


nha,  o  que  vio  no  dito  Monsior  hera  sostentar  os  ditos  lute- 
ranos ;  do  que  loguo,  sem  ho  aver  nunqua  visto  nem 
conhecido  nem  saber  dele  nada,  teve  muito  roim  sospeita  435 
dele  e  lhe  parreserão  muito  mal  suas  cousas.  E  isto  hé  o 
que  elle  testemunha  dise  que  sabia.  E  mais  não  dise.  E  eu 
escrivão  lhe  ly  seu  testemunho  e  ele  ho  asinou  com  o  dito 
Joam  Marante  e  eu  Fernão  Vaz,  escrivão,  que  ho  escrevi. 
Adão  Gonsalves.  Joam  Marante.  44° 

7.  Ho  Padre  Gaspar  Pinheiro 35,  da  Companhia  de  Jesus, 
testemunha  jurada  aos  santos  avangelhos,  que  pelo  dito 
Joam  Marante  lhes  foram  dados  perante  mim  escrivão,  o 
que  elle  prometeo  de  dizer  a  verdade  do  que  lhe  fose  per- 
guntado, e  perguntado  pelo  custume  e  cousas  dele  dise  445 
nichel. 

Perguntado  elle  testemunha  pelo  conteúdo  na  pitição 
que  forão  perguntadas  às  testemunhas  em  São  Visente, 
que  pelo  dito  Joam  Marante  lhe  foi  toda  lyda  e  declarada, 
dise  ele  testemunha  que  não  sabe  mais;  somente  quanto  45° 
ao  seisto  artiguo  da  pitição,  dise  elle  testemunha  que 
ouvira  ao  dito  Monsior  de  Bolés  que  não  fazia  ao  caso  não 
terem  hos  /  francezes  do  Rio  de  Janeiro  ymages  nem  cru- 
zes para  deixarem  de  ser  por  yso  christâos ;  e  dise  mais  ele 
testemunha  que  segundo  as  palavras  do  dito  Monsior  dava  455 
a  emtender  não  herão  boons  christâos  hos  franceses  do  Rio 
de  Janeiro ;  e,  por  ele  dizer  que  hos  reprendia,  pelejara  com 
Villaganhão  e  fugira  do  Rio  de  Janeiro  por  este  caso, 
segundo  o  dito  Monsior  dezia;  e  dise  mais  ele  testemunha 
que,  vindo  hum  dia  à  pratiqua  com  elle  dito  Monsior,  lhe  460 
disera  elle  dito  Monsior  a  elle  testemunha  que  estivera 
tres  anos  antre  os  Judeus  apremdendo  abraiquo  e  que 
milhor  lhe  paresia  os  custumes  dos  judeus  que  hos  nosos 
em  algumas  partes;  e  dise  ele  testemunha  que,  estamdo 
em  Pernâobuquo  con  sinquo  ou  seis  pessoas,  estamdo  antre  465 


35  Gaspar  Pinheiro  era  clérigo  minorista  em  1555,  residente  na 
Baía,  filho  do  escrivão  da  Provedoria,  António  Pinheiro  (Van  der  Vat, 
Princípios  383).  O  testemunho  de  Gaspar  Pinheiro  é  o  único  documento 
conhecido  em  que  ele  aparece  como  da  Companhia  de  Jesus. 

13 


194 


DECLARAÇÕES  DOS  PP.  NO  PROCESSO  DE  JOÃO  DE  BOLÉS 


ellas  ho  dito  Monsior  de  Bolés  praticamdo,  neste  instante 
derão  as  Ave-Marias  e  todos  se  asentarão  em  giolhos, 
ficando  elle  dito  Monsior  em  pé,  rindo-se,  dizendo  para 
que  servem  Ave-Marias,  e  ysto  rindo-se  com  desprezo,  de 

470  que  ho  Vigairo  de  Pernãobuquo36  mandarra  fazer  hum  auto 
disto  e  doutras  cousas  delle  dito  Monsior  de  Bolés,  segundo 
elle  testemunha  ouvio  dizer;  e  dise  elle  testemunha  que 
ouvira  dizer  que,  estando  na  igreja  em  Pernãobuquo  aos 
officios  divinos,  nunqua  tirava  o  dito  Monsior  de  Bolés  o 

475  barrete  ou  gora ;  nem  quando  alevãotavão  ho  Santo  Sacra- 
mento batia  nos  peitos,  do  que  a  gente  da  dita  villa  o  tinha 
a  mall  e  ho  tachavão;  e  asi  mais  ouvio  elle  testemunha 
dizer  que  ho  mesmo  fazia  em  São  Visente,  e  dise  mais  ele 
testemunha  que  ouvio  dizer  a  Manoel  Ribeiro  que  vindo 

480  na  naoo,  com  ele  Monsior,  de  São  Visente,  ouvira  a  hum 
criado  do  dito  Monsior37  que  hera  muito  grande  parvoyse 
confesar  hum  homem  seus  pecados  a  hum  pecador  como 
elle,  senão  ao  pee  duma  moyta  e  aly  dizer  seus  pecados,  e 
que  ysto  parese  a  ele  testemunha  que  são  doutrinas  do 

485  Monsior.  E  al  não  dise  de  todo  o  conteúdo  na  dita  pitição, 
e  do  mais  que  sabia;  e  eu  escrivão  lhe  ly  seu  testemunho 
e  ele  o  asinou  com  ho  enqueredor  que  o  enquereo  por  man- 
dado do  dito  Senhor  Bispo.  E  ho  asynarão  e  eu  Fernão 
Vaaz  que  ho  escrevi.  Gaspar  Pinheiro.  João  Marante38. 


36  O  P.  Silvestre  Lourenço  foi  nomeado  em  1563  Vigário  de  Per- 
nambuco, «que  vagou  por  fallecimento  de  Pedro  Manso,  último  pos- 
suidor da  dita  Vigairaria»  (Doe.  Hist.  xxxvi  181). 

37  A  14  de  Agosto  de  1591,  na  Bala,  Luís  da  Grã  identifica-o:  «Disse 
que  há  trinta  até  trinta  e  três  annos  que  na  Capitania  de  S.  Vicente 
perguntara  a  hum  francez  por  nome  Villa  Nova,  mancebo  que  então 
poderia  ser  de  vinte  annos  criado  de  Monsior  de  Bulex,  com  quem  se 
confessavão  no  Rio  de  Janeiro,  donde  elle  vinha.  Elle  lhe  respondeo: 
Yo  tio  me  confieso  a  hombre  pecheo  (sic)  como  y o».  [Pero  de]  Villa  Nova 
morava  então  em  Sergipe  do  Conde  (Primeira  Visitação  do  Santo  Offi- 
cio  às  par/es  do  Brasil.  Denunciações  da  Bahia  [São  Paulo  1925]  329). 

38  Foram  ouvidas  outras  pessoas  e  tratou-se  de  enviar  João  de 
Bolés  com  as  devassas  para  a  Inquisição  de  Lisboa,  mas  a  26  de  Agosto 
de  1561  Bolés  escreveu  ao  Bispo  uma  carta  extravagante,  que  deve  ter 


32.  -  SANTOS  22  DE  ABRIL  DE  1560 


195 


8.  Reposta  do  Provimciall  Lluys  da  Graam  :  Os  Juizes  490 
secullares  nom  podem  conhecer  das  cousas  que  tocão  às 
pesoas  eclleziastycas  princypallmente  Rellegyosos,  por  yso 
non  tenho  aqui  mais  que  responder  a  vosa  mercê  que 
pedyr  por  caridade  que  nom  mande  preguntar  por  cousa 
que  a  mym  toque,  que  se  me  fora  llycyto  responder  eu  495 
perante  quem  nom  hé  meu  soprior,  eu  dissera  ho  que  pasa, 
que  hé  mui  deferente  do  que  ho  sopricante  diz,  porque  eu 
amoestey  ho  povo  na  Villa  de  São  Vicente  que  se  gardasem 
dos  Franceses  que  amtam  herão  chegados  do  Ryo  de  Janeiro, 
honde  vivião  lluteramente,  como  elles  mesmos  o  pregavão,  500 
e  se  vya  pellos  llyvros  que  trazião,  e  que  os  que  vyerão  da 
Carioca39  erão  todos  huns ;  ho  que  eu  emtemdia  por  Mon- 
seor  do  Bollés  e  seus  companheyros,  como  cllaramemte  se 
emtemdia,  ainda  que  ho  eu  nom  nomease ;  e  porem  porque 
em  a  villa  de  Samtos  estão  outros  estramgeyros40  moradores,  505 


495    eu]  eu  pe  ms.    |  501    se  post  corr. 


influído  para  se  não  mandar;  até  que  a  9  de  Janeiro  de  1563  o  Cardeal 
Infante  deu  ordem  que  ele  se  remetesse  para  a  Inquisição  de  Lisboa. 
Antes  de  embarcar,  Bolés  requereu  a  juiz  secular  uma  devassa  de  jus- 
tificação, nomeando  várias  pessoas,  entre  elas  o  P.  Grã,  e  outras  sobre 
o  mesmo  Padre,  a  quem  se  deu  vista,  o  qual  respondeu  o  que  se  lê  a 
seguir  no  texto. 

39  Uma  das  etimologias  plausíveis  desta  palavra  é  cari-oca,  casa 
do  branco  (T.  Sampaio,  O  Tupi  na  Geographia  Nacional  183).  Discute 
longamente  esta  e  outras  possíveis  etimologias  Plínio  Ayrosa,  Termos 
tupis  no  português  do  Brasil  121-138.  Há  quem  a  date  já  de  1503-1504, 
tempo  de  Gonçalo  Coelho;  e  outros  brancos  aí  estiveram,  fizeram  casa 
e  se  demoraram  algum  tempo  (Porto  Seguro  HG  1  98;  Max  Fleiuss, 
História  da  Cidade  do  Rio  de  Janeiro  26 ;  Almeida  Prado,  Primeiros 
Povoadores  do  Brasil  128;  J.  Honório  Rodrigues,  Historiografia  dei 
Brasil  75).  O  certo  é  que  pelo  modo  de  falar  de  Luís  da  Grã,  a  designa- 
ção da  «Carioca»  era  corrente  em  1563.  O  nome  tornou-se  famoso, 
aplicado  a  um  «riacho»,  «fonte»  e  «água»  (água  da  «carioca»),  e  os  natu- 
rais do  Rio  de  Janeiro  chamam-se  hoje  (e  não  depreciativamente) 
«cariocas». 

40  Estrangeiros,  isto  é,  os  que  não  eram  filhos  de  Portugal  nem  do 
Brasil. 


196         DECLARAÇÕES  DOS  PP.  NO  PROCESSO  DE  JOÃO  DE  BOLES 


que  ho  tomarão  por  sy  e  se  me  mostrarão  quixosos,  tornei 
noutra  pregação  na  villa  de  Samtos  a  decrar  que  ho  nom 
dysia  senom  pellos  que  vierâo  /  do  Ryo  de  Janeyro,  nem 
jurei  como  ho  sopricante  diz,  nem  pedy  perdão,  que  nom 

510  havya  ahy  de  que  se  houvera,  em  publico ;  e  particular  ho 
pedyra  a  quem  fora  necesaryo.  Fuy  uma  soo  vez  pollo 
caminho  que  ele  diz,  que  hé  atalho;  e  à  vinda  vim  por  a 
casa  de  Joseph  Adorno,  onde  elle  estava,  e  lhe  falley  a 
prymeira  vez;  nom  me  moveo  alguma  invetiva,  que  aquy 

515  a  tenho,  e  bem  se  pode  ver  que  nom  há  nella  cousa  porque 
nenhum  homem  deva  de  ter  odyo,  como  ele  diz.  E  ysto 
decraro  asy,  porque  como  cristão  devo  tyrar  todo  azo  pêra 
que  allgum  fraquo  se  escandallize ;  e  nom  por  perjudycar 
ao   pervillegio   eclleziastyco,   respomdendo  perante  juis 

520  secular.  Lluys  da  Gram41. 


41  Esta  resposta  mandou-a  o  Provincial  entregar,  pelo  P.  Rodrigo 
de  Freitas,  ao  inquiridor,  no  Colégio  da  Baía,  a  24  de  Março  de  1563. 
Em  virtude  dela,  o  juiz  proibiu  que  se  inquirisse  sobre  tal  matéria. 
Concluída  a  devassa  na  Baía,  João  de  Bolés  foi  entregue  ao  mestre  da 
nau  «Barrileira»  a  8  de  Maio  e  deu  entrada  no  cárcere  da  Inquisição 
de  Lisboa  a  28  de  Outubro  de  1563.  E,  por  fim,  publicou-se  a  sentença 
a  12  de  Agosto  de  1564.  Nela  se  declara  que  João  de  Bolés  foi  de-facto 
luterano,  mas  que  confessou  e  se  arrependeu,  e  por  isso,  recebido  de 
novo  na  comunhão  católica,  fez  a  abjuração  em  forma,  do  luteranismo, 
e  se  absolveu.  Dez  dias  depois  deu  entrada  no  Convento  de  S.  Domin- 
gos, de  Lisboa,  onde  frequentou  os  sacramentos,  e  donde  saiu  em  liber- 
dade a  15  de  Novembro  de  1564.  De  certo,  não  lhe  sorriria  voltar  à 
pátria,  onde  lhe  pediriam  talvez  mais  graves  contas  do  modo  como 
procedeu  contra  os  seus  compatriotas  no  Brasil,  onde  o  caso  não  era 
apenas  de  guerras  religiosas  de  carácter  interno  como  em  França,  mas 
de  guerra,  embora  local,  entre  nações  diversas.  Este  «aventureiro 
desiquilibrado»,  como  Capistrano  de  Abreu  o  classifica  (nota  in  HG  1 
455X  passou  de  Portugal  para  a  índia,  onde  se  lhe  perde  o  fio  (Primeira 
Visitação  do  Santo  Officio  às  partes  do  Brasil.  Denunciações  da  Bahia 
1  591- 1593  [São  Paulo  1925]  331;  Cartas  de  Anchieta  312;  Leite,  Histó- 
ria 11  387  ;  Breve  Itinerário  164-165). 


33.  -  SANTOS  26  DE  MAIO  DE  1560 


197 


33 

SESMARIA  DE  GERAIBATIBA 
NO    CAMPO    DE  PIRATININGA 

SANTOS  26  DE  MAIO  DE  1560 

I.  Autores:  Leite,  História  I  257  (com  bibliografia);  Breve  Iti- 
mrário  166. 

II.  Texto:  ARSI,  Bras.  11,  f.  481^481  v.  Título  [482V]:  «Duas 
legoas  de  terra  na  Capitania  de  S.  Vicente  no  Campo  junto  de  Pirati- 
ninga  1560».  Outra  letra  :  «Donatio  terrarum  D.  Alphonsi  de  Souza 
Domui  S.  Vincentii  in  Brasília».  Cópia  em  português. 

III.  Impressão:  Azevedo  Marques,  Apontamentos  II  (Rio  de 
Janeiro  1879)  146;  Leite,  História  1  (1938)  543-544. 

IV.  História  da  Impressão:  A.  MARQUES  imprime  um  documento 
do  «Archivo  da  Camara  de  S.  Paulo,  quaderno  das  vereanças  da  villa 
de  S.  André,  tit.  1555  —  Cartório  da  Thesouraria  de  S.  Paulo,  maço  4  de 
Próprios  Nacionaes», ;  Leite  imprime  o  documento  do  ARSI,  mais 
completo,  pois  contém  a  petição  e  razões  dadas  pelo  Provincial  que  se 
não  lêem  no  outro. 

V.   Edição:    Reimprime-se  o  texto  de  Bras.  11. 

Textus 

1 .  Post  translationem  oppidi  Sancti  Andreae  in  Sanctum  Paulum 
Piratiningae,  Provincialis  postulai  novum  tractum  terrarum  pro  alio 
antea  concesso.  —  2.    Donatio  tractus  terrarum  a  Praefecto. 

+ 

JHS 

Francisco  de  Morais,  Capitão  e  Ouvidor  com  allçada 
em  esta  Capitania  de  Sam  Vicente  pelo  Senhor  Martim 
Afonso  de  Sousa,  Capitão  e  Governador  dela  por  El-Rei 
Nosso  Senhor: 

1.  Faço  saber,  a  quoantos  esta  minha  carta  de  dada  de 
terás  de  sesmarias  virem,  como  a  mim  me  emviarão  diser 


198  SESMARIA  DE  GERAIBATIBA  NO  CAMPO  DE  PIRAT1NINGA 


por  sua  petição  ho  Padre  Luis  da  Grãa,  Provimcial  da  Com- 
panhia de  Jesus  destas  partes  do  Brazill :  faz  a  saber  a 

io  Vossa  Mercê  como  o  Senhor  Martim  Afonso  de  Sousa  fez 
esmola  à  Companhia,  nesta  sua  Capitania  de  Sam  Vicente, 
de  duas  lleguoas  de  terra  ao  longuo  do  Rio  de  Piratininga, 
como  mais  larguamente  se  contem  na  provisão,  que  hé  a 
prezente ;  e  porque  tomãodo-se  ao  longo  do  dito  rio  faz 

15  muito  perjuyzo  à  nova  Villa,  que  aguora  ahi  se  faz  em 
Piratininga  pera  donde  se  muda  a  Villa  de  Santo  André 
da  Borda  do  Campo,  pede  a  Vosa  Mercê  que  avendo  res- 
peito ao  bem  comum  dos  moradores  e  a  dizer  na  provisão 
que  as  ditas  duas  lleguoas  será  em  parte  que  não  fação 

20  perjuizo  aos  moradores  do  Campo  e  ao  supricante  desestir 
das  ditas  duas  lleguoas  alli  ao  longuo  do  rio  contanto  que 
lhas  dem  em  outra  parte,  aja  por  bem  de  lhe  dar  e  mandar 
demarquar  as  ditas  duas  lleguoas,  indo  pera  Piratininga 
pera  o  mar,  pelo  caminho  novo  l,  que  hora  se  abrio,  pasando 


1  Havia  antes  o  caminho  velho  dos  índios,  pré-cabralino  (cf.  carta 
de  Capistrano  de  Abreu  a  Paulo  Prado,  de  13  de  Fevereiro  de  1920, 
in  José  Honório  Rodrigues,  Correspondência  de  Capistrano  de  Abreu  11 
393-394 ;  Leite,  Breve  Itinerário  104).  O  caminho  novo  propunha-se 
abri-lo  João  Pires,  o  Gago,  à  sua  custa,  para  evitar  um  processo-crime, 
segundo  informa  o  Governador  D.  Duarte  da  Costa  a  D.  João  III,  em 
carta  da  Bala,  3  de  Abril  de  1555,  dando  parecer  favorável  à  proposta, 
assim  como  o  deu  o  Ouvidor  Geral  Dr.  Pero  Borges  (História  da  Colo- 
nização Portuguesa  do  Brasil  111  372).  O  caminho  novo,  através  da 
Serra  de  Paranapiacaba,  não  era  empresa  fácil  e  talvez  demorasse  ou 
mesmo  se  protelasse  a  execução  até  à  vinda  de  Mem  de  Sá.  Mas, 
conforme  o  texto  e  a  data  desta  sesmaria,  o  caminho  abriu-se  antes 
de  26  de  Maio  de  1560  ;  e,  segundo  o  P.  Simão  de  Vasconcelos,  depois 
de  Mem  de  Sá  e  Nóbrega  chegarem  a  S.  Vicente  a  31  de  Março  de  1560 
(portanto,  por  Abril-Maio).  Depois  da  chegada,  conta  Vasconcelos  que 
«obrou  o  Padre  Nóbrega  cousas  dignas  do  seu  grande  espirito»:  a  pri- 
meira, foi  prover  a  armada  de  mantimentos  e  tratar  dos  doentes;  a 
segunda,  pedir  (ele  e  o  novo  Provincial  Luís  da  Grã)  ao  Governador 
que  mudasse  a  vila  de  S.  André  para  São  Paulo;  «outra  terceira  obra 
fizeram  os  Padres  Luis  da  Grã  e  Nóbrega  com  o  favor  do  Governador»: 
«ajuntaram  grande  força  de  serviços  e  com  a  agência  de  dois  Irmãos 
da  Companhia,  ingenhosos  e  resolutos,  mandaram  abrir  novo  caminho» 
(Chronica,  liv.  II  nn.  83-86).    Diz  Pero  Rodrigues,  a  propósito  duma 


53.  -  SANTOS  26  DE  MAIO  DE  1560 


199 


o  Campo  por  donde  se  suya  a  ir  ho  caminho  da  borda  do  25 
Campo  pera  Geraibatiba,  as  quoais  duas  lleguoas  começa- 
rão lloguo  pasado  o  Campo,  emtrando  o  mato,  caminho  do 
Rio,  que  se  chama  Geraibatiba-assi 2,  e,  porque  há-de  ser 


37    pasado  corr.  ex  pasando 


informação  de  Afonso  Sardinha,  que  um  desses  Irmãos  era  Anchieta 
{Anais  da  Bibi.  Nac.  do  Rio  de  Janeiro  xxix  270). 

Pero  Rodrigues  e  Simão  de  Vasconcelos  são  autores  já  do  século  xvn 
e  de  segunda  mão.  Os  documentos  coevos  da  Companhia  não  aludem 
a  esta  obra.  A  carta  de  1  de  Junho  de  1560,  escrita  por  Anchieta,  carta 
de  edificação  e  de  noticias,  onde  esta,  portanto,  teria  cabimento,  o  que 
diz  é  que  há  bem  «poucas  coisas  dignas  de  se  escrever»  (doe.  36  §  2). 
Ele  e  outros  da  Companhia  poderiam  ter  ido  a  Piratininga  e  voltado  a 
S.  Vicente,  e  no  caminho  dormir  uma  noite  na  cabana  da  serra,  como 
era  costume,  encontrar-se  e  falar  com  os  que  trabalhavam.  Mas,  de 
positivo,  sabe-se  que  a  22  de  Abril  de  1560,  Anchieta  estava  com 
Nóbrega  em  Santos  na  casa  de  Gonçalo  Monteiro,  a  depor  no  Processo 
de  João  de  Bolés  (doe.  32  §  3),  e  preparava  a  longa  carta  latina  sobre 
as  coisas  naturais  da  Capitania  de  S.  Vicente,  datada  de  31  de  Maio 
de  1560  (doe.  34),  trabalho  que  pela  sua  natureza,  coordenação  de  ele- 
mentos e  escritura  autógrafa,  requeria  assídua  aplicação  à  sua  escriva- 
ninha de  mestre  de  latim,  na  vila  de  S.  Vicente,  onde  então  estavam  os 
estudos  da  Companhia  (62  §  4),  e  em  meses  que  também  eram  de  aulas 
(Abril-Maio).  De  maneira  que  se  Vasconcelos  é  exacto  neste  particular, 
e  se  o  advérbio  «ora»,  do  texto  legal  da  sesmaria,  exprime  coincidência 
rigorosa,  não  será  improcedente  ver  as  coisas  no  seu  âmbito  completo, 
a  saber,  que  estando  a  armada  no  porto,  a  gente  dela,  em  compensação 
dos  mantimentos  recebidos,  colaborasse  na  empresa,  para  se  executar 
com  mais  rapidez  e  ficar  concluída  antes  de  se  retirar  Mem  de  Sá. 
Com  efeito,  Vasconcelos  escreve  que  o  caminho  se  fez  «com  o  favor 
do  Governador»;  e  parece  que  «favor»  significa  mais  do  que  simples 
licença. 

2  Segundo  Azevedo  Marques  há  fundamento  para  se  distinguir 
Geraibatiba-açu  de  Geraibatiba-mirim.  Diz  ele:  «Gerybatiba:  Rio  que 
tem  origem  nas  proximidades  do  Cubatão  e  correndo  no  município  de 
Santo  Amaro  desagua  no  Rio  dos  Pinheiros.  É  o  mesmo  que  na  estrada 
de  S.  Paulo  a  Santos  tem  o  nome  de  Rio  Grande  para  distingui-lo  do 
chamado  Pequeno»  (Apontamentos  i  168-169;  11  135).  Em  conformidade 
com  isto,  o  Rio  Grande  seria  o  de  que  fala  o  texto,  Geraibatiba-assi 
(ou  açu)  e  o  Pequeno,  Geraibatiba-mirim.  Do  contrário  o  texto  deveria 
pontuar-se,  dando  a  «assi»  a  significação  de  «assim»:  «Geraibatiba; 
assi  e  porque»,  etc. 


200         SESMARIA  DE  GERAIBATIBA  NO  CAMPO  DE  PIRATININGA 


tão  llarguo  como  comprido,  ho  comprimento  será  polo 

30  caminho  duas  lleguoas  e  de  llarguo  terá  huma  légua  pera 
huma  parte,  e  a  outra  pera  a  outra  parte;  a  qual  terra 
estará  de  Piratiningua  perto  de  duas  lleguoas  pouco  mais 
ou  menos,  e  se  algua  terra  da  que  íor  já  dada,  que  ao  pre- 
sente ho  supricante  não  sabe,  possão  tomar  e  demarquar 

35  outra  tamta  adiante  até  comprimento  das  ditas  duas 
lleguoas  tão  llarguas  como  compridas,  e  mamde  ao  juiz  e 
oficiais  da  Villa  do  Campo  que  as  demarquem  e  delias  dem 
posse  à  Companhia,  conforme  ao  allvará  do  Senhor  Martim 
Afonso,  no  que  receberaa  muita  charidade. 

4°  2.  Ho  que  visto  por  mim,  ha  petição  do  Provimcial  da 
Ordem  de  Jesu  e  ho  que  nela  pede  ser  justo,  hei  por  bem 
e  serviço  de  Deos  e  d'El-Rei  Nosso  Senhor  de  lhe  dar  as 
ditas  duas  leguoas  de  terra  que  pedem  como  em  sua  peti- 
ção faz  mensão  e  com  as  confrontaçõis  nelas  declaradas  e 

45  mãodo  a  quoalquer  juiz  desta  dita  Capitania  que  com  hun 
escrivão  e  duas  pesoas  ajuramentadas  vão  medir  e  demar- 
car a  dita  terra,  e  os  metão  loguo  de  posse  da  dita  terra, 
como  em  sua  petição  pedem  e  conforme  a  seus  alvarais  e 
provisõis  que  me  tem  aprezentadas  e  a  demarcação  das 

5o  terras  as  que  ora  pedem  em  sua  petição,  e  serão  sem  con- 
disão  da  sesmaria  por  o  aver  assim  por  serviço  do  Senhor 
Deus  ho  Senhor  Martim  Afonso  de  Sousa  por  outra  provi- 
são que  já  vi. 

As  quoais  terras  de  duas  leguoas  lhe  dou  ao  dito  Luis 
55  da  Grãa,  Provimcial  da  Companhia  do  Collegio  de  Jesus 
pera  elles  e  pera  seus  desendentes  e  pera  quem  elles  qui- 
serem, como  cousa  sua,  e  lhas  dou  com  seus  llogradouros, 
fo[r]ras  de  todo  trebuto,  somente  dizimo  a  Deos,  e  lhas  dei- 
xem llograr  e  aproveitar  e  rosar  e  prantar  como  cousa  sua, 
60  que,  polia  sobredita  maneira  sem  lhe  ser  posta  duvida  nem 
embargos  [481V]  alguns  e  por  vertude  desta  minha  carta, 
ho  hei  por  ben  passada  e  dada  da  maneira  que  dito  hé. 
E  esta  será  registada  em  o  livro  do  tombo,  que  hora  o 


33  dada  corr.  ex  da  ||  44  confrontaçõis]  confortaçõis  >«s.  ||  46  ajuramentadas 
corr.  ex  com  juramento  ||  6a   passada]  possado  ms.  |  que  bis 


33.  -  SANTOS  26  DE  MAIO  DE  1560 


201 


dito  Senhor  Guovernador 3  manda  que  aja,  que  está  em 
poder  do  seu  chansarell.   Dada  sob  meu  sinal  e  sellada  do  65 
sello  das  armas  do  dito  Senhor  Guovernador,  que  em  esta 
Capitania  mandei  servir. 

Feita  nesta  villa  do  porto  de  Santos  aos  vimte  e  seis 
dias  do  mes  de  Maio.  A  qual  carta  de  sesmaria,  diguo,  de 
dada,  eu  Antonio  Rodrigues  d'Almeida,  escrivão  delas,  a  7° 
escrevi  por  poder  que  pera  isso  tenho  do  Senhor  Guover- 
nador Geral  Men  de  Saa  em  nome  d'El-Rei  Noso  Senhor. 
E  eu  sobredito,  por  Martim  Afonso  de  Sousaa,  Capitão  e 
Guovernador  desta  Capitania  por  o  dito  Senhor,  (Chança- 
rel  *)  que  ho  escrevi,  ano  do  nacimento  de  Nosso  Senhor  75 
Jesus  Christo  de  mill  e  quinhentos  e  secenta  annos.  Fran- 
cisco de  Morais  5. 

Lançada  por  mim  em  o  livro  do  tonbo  desta  Capitania 
às  folhas  12,  oje  vinte  e  dous  dias  do  mes  de  Janeiro  da 
era  de  mill  e  quinhentos  e  sesenta  e  hum  anos.  Antonio  8o 
Rodrigues  d'Almeida. 


65  sob]  sobre  ms.  ||  68  Prius  vila  ||  70  a]  as  tns.  ||  73  Rei  dei.  e  Governador 
desta  Capitania  |  Noso  Senhor  sup. 


3  Martim  Afonso  de  Sousa. 

4  António  Rodrigues  de  Almeida,  que  fora  nomeado  escrivão  da 
Provedoria,  Almoxarifado  e  Alfândega  da  Capitania  de  S.  Vicente  a  28 
de  Abril  de  1550  {Doe.  Hist.  35  [1937]  68-69),  assina  um  documento 
em  1559  no  qual  se  declara  «chanceller  em  toda  esta  Capitania». 
Cf.  Azevedo  Marques,  Apontamentos  11  112  (título  Piratininga  2). 

5  Capistrano  de  Abreu  desentranhou  duns  apontamentos,  do, 
segundo  ele,  «pouco  fidedigno  Frei  Gaspar  da  Madre  de  Deus»,  uma 
lista  de  Capitães-mores  de  S.  Vicente,  entre  os  quais  «Francisco  de 
Morais  Barreto»,  que  tomou  posse  a  30  de  Abril  de  1558  (nota  a  HG  I 
225).  Se  neste  ponto  é  fidedigno,  convém  não  confundir  com  Francisco 
de  Morais,  escrivão  da  Provedoria  da  Baía,  que  o  Governador  Geral 
Mem  de  Sá  levou  consigo  para  o  sul  em  1560,  e  que  estava  em 
S.  Vicente  à  data  desta  sesmaria;  e  que  voltou  e  retomou  o  cargo 
na  Baía,  onde  já  se  encontrava  a  27  de  Março  de  1561.  Cf.  Doe.  Hist.  35 
(1937)  431-434;  36  (1937)  595  63  (1944)  36. 


202 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


34 

DO  IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA* 

S.  VICENTE  31  DE  MAIO  DE  1560 

1.  Bibliografia:  InocêNCIO-Brito  Aranha  xii  219  n.  7890;  Cata- 
logo dos  Manuscriptos  I  24;  Cimèlios  495;  Sommervogel  I  311  n.  4; 
Streit  11  347  nn.  1269-1270;  Leite,  História  vm  20  n.  15. 

II.  Autores :  Carlos  França,  Os  Portugueses  do  Século  xvi  e  a 
História  Natural  do  Brasil,  in  Revista  de  História  15  (Lisboa  1926)  57; 
Métraux,  La  religion  des  Tupinamba  64-67;  Leite,  História  I  304; 
11  19  63  532  579  581 ;  J.  Honório  Rodrigues,  Bibliografia  dei  Brasil  31. 

ILL  Texto:  1.  ARSI,  Epp.  NN.  çj,  ff.  89r-92v  [antes  ff.  462r-4Ó5v]. 
Endereço  autógrafo  [f.  92V] :  «-f-  Reverendo  in  Christo  Patri  Iacobo 
Laynes,  Praeposito  Generali  Societatis  Iesu.  2.a  via».  À  margem:  «De 
animalibus».  Outra  letra:  «Informazione  delle  cose  dei  Brasil.  1560». 
Outra  letra,  f.  89r:  «S.  Vincentii.  Joseph  1560».  Autógrafo  em  latim. 

2.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  ff.  85r-9ov.  Título:  «Copia  de  numa  carta  que  escreveo  o  Irmão 
Joseph  ao  P.e  Geral,  de  S.  Vicente  ao  ultimo  de  Maio  de  1560».  Apó- 
grafo  coevo  em  latim  (no  aparato  critico:  t2). 

IV.  Impressão:  Xuovi  Avisi  delVIndie  di  Portogallo.  Terza  Parte 
(Veneza  1562)  i5or-i72r ;  Collecção  de  Noticias  para  a  Historia  e  Geo- 
graphia  das  Nações  Ultramarinas  I  (Lisboa  1812)  127-180;  Anais  da 
Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  1  (1876J  275-305 ;  Cartas  Inéditas 
(São  Paulo  1900)  1-50;  Cartas  de  Anchieta  (Rio  de  Janeiro  1933)  103-129. 

V.  História  da  Impressão:  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução  ita- 
liana do  texto  1:  Collecção  de  Noticias  imprime  o  texto  2,  preparado  por 
Diogo  de  Toledo  Lara  Ordônhez,  e  de  que  se  fez  separata  com  uma 
antecipação  de  data  (1799  em  vez  de  1812);  Anais  imprime  a  tradução 
portuguesa  do  texto  2,  feita  por  Teixeira  de  Melo  e  Martinho  Correia 
de  Sá ;  Cartas  Inéditas  nova  tradução  do  texto  2,  por  João  Vieira  de 
Almeida,  aproveitada  com  remodelações  em  Cartas  de  Anchieta. 


*  Na  tiragem  especial  para  o  Brasil  (Cartas  dos  Primeiros  Jesuí- 
tas do  Brasil  111)  sairá,  em  apêndice,  a  tradução  portuguesa  deste 
documento,  feita  expressamente  para  ela. 


34.  -  S.  VICENTE  31  DE  MAIO  DE  1560 


203 


VI.  Comentário:  A.  de  Alcântara  Machado,  ao  publicar  e  comen- 
tar a  tradução  desta  carta  (1933),  recorreu  a  Afrânio  do  Amaral,  Direc- 
tor do  Museu  de  Butantã,  a  Olivério  Mário  de  Oliveira  Pinto,  assistente 
do  mesmo  Instituto,  e  a  Pio  Lourenço  Corrêa,  que  redigiram,  de  propó- 
sito para  essa  edição,  as  notas  correspondentes  às  suas  especialidades 
científicas.  Por  serem  de  tal  natureza  e  competência,  conservam-se  as 
que  pareceram  mais  expressivas  na  edição  presente.  Como  não  se  trata 
de  citação  de  livros,  mas  de  contribuição  particular,  e  coincidem  com 
os  lugares  anotados,  procede-se  como  nas  Cartas  de  Anchieta  130-141, 
indicando  no  comentário  o  que  pertence  a  cada  qual,  com  o  respectivo 
nome.  Sem  mais,  porque  naquelas  páginas  estão  incluídas  todas  essas 
notas.  O  que  vale  também  para  algumas  de  Alcântara  Machado. 

VII.   Edição:    Edita-se  o  texto  I  (autógrafo). 

Textus 

1.  Scribit  de  rebus  terrae  peculiaribus,  iuxta  mandatam  nuper  accep- 
tum.  —  2.  Locus,  têmpora  anni,  venti,  tempestates,  sol,  pluvia  et  dierum 
spatia.  —  3.  Boves  marini.  —  4.  Naufragiitm.  —  5.  Piscatus.  —  6.  Angues 
«sucuriuba».  —  7.  Lacerti.  —  8.  Animal  «capivara»  dictum.  —  9-  Lutrae. 
— 10.  Cancri  (animalia)  et  sanatio  a  cancro  (morbo). —  77.  Colubres 
«iararaca»,  «cascavel»,  aliique.  —  72.  Araneae  et  erucae.  —  13.  Panthe- 
rae.  —  14.  «Tamanduá».  —  75.  «Tapira»  sive  «anta».  —  16.  «Pigritia», 
«sarigué»  et  ericius. —  77.  Simiae.  —  18.  «Tatu»,  cervi,  cati  silvestres 
aliaque  animalia.  —  19.  Vermes  arundinum  et  alii.  —  20.  Formicae.  — 
21.  Apes,  muscae  et  culices.  —  22.  Psittaci,  «guará»  aliaeque  aves.  — 
23.  Herbae  et  plantae  «mandioca»,  aliaeque.  —  24.  Arbores  balsami, 
pinus  et  aliae.  —  25.  Plantae  medicinales.  —  26.  Lapides  et  conchae.  — 
27.  Nocturnae  imagines  et  daemonia.  —  28.  Non  est  deformitas  mem- 
brorum  in  Indis,  quia  filios  deformes  sepeliunt  vivos  et  etiam  adulterino 
sanguine  natos. 

+ 

Iesus  Maria 
Pax  Christi  nobiscum. 

1.  Ex  literis  tuis  1,  quae  nuper  in  manus  nostras  deve- 
nerunt,  perspeximus,  Reverende  in  Christo  Pater,  velle  te 


1  «Ex  literis  tuis»  no  latim  ;  mas  quando  escrevia  em  vernáculo 
o  tratamento  era  «Vossa  Paternidade»  (Mon.  Bras.  II  79),  o  que  dá  a 
norma  para  a  tradução.  Cf.  Mon.  Bras.  I  100. 


204 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


5  (ut  multorum  consuleretur  devotioni  et  desyderiis  2)  ut  ea 
quae  apud  nos  essent,  vel  admiratione  digna,  vel  isti  orbi 
incógnita  scriberentur.  Ad  quod  salutare  mandatura  me 
conformans  exequar,  quoad  potero  diligenter  iniunctum 
múnus. 

io  2.  Ac  primo  quidem  (quod  superioribus  literis  3  leviter 
attigi)  haec  pars  Brasilliae,  quae  S.  Vincentius  dicitur, 
viginti  tribus  gradibus  ac  dimidio  ab  Aquilone  ad  Africum 
dimensuratis,  Austrum  versus  distat  ab  aequinoctiali,  in 
qua  quae  solis  accessus  et  recessus  ratio,  qui  syderum  cur- 

15  sus,  quae  umbrarum  declinationes,  lunae  diminutiones  et 
incrementa  sint,  haud  facile  est  mihi  explicare,  quippe  cum 
nec  ea  unquam  attigerim,  nec  ita  diversam  ab  ea,  quae 
istic  deprehenditur,  in  his  rationem  esse  videam. 

In  dimentione  autem  partium  anni  longe  alia  est,  hae 

20  vero  ita  sunt  confusae,  ut  non  facile  possint  distingui,  nec 
veri  certum  tempus,  nec  hyemi  potest  assignari,  perpetua 
quadam  temperie  conficit  sol  cursus  suos,  ita  nec  írigore 
horret  hyems,  nec  calore  infestatur  aestas,  nullo  anni  tem- 
pore  cessant  imbres,  adeo  ut  quarto,  tertio,  aut  2°  etiam 

25  quoque  die  alternis  vicibus  sibi  pluvia  solque  succedant; 
solet  tamen  aliquibus  annis  intercludi  caelum,  et  suspendi 
pluvia,  ita  ut  agri  non  vehementia  quidem  aestus,  qui 
nimius  non  est,  sed  aquae  penúria  sterilescant,  nec  solitos 
fructus  ferant,  aliquando  etiam  ex  nimia  imbrium  inundan- 

30  tia  radices,  quas  in  cibum  habemus,  computrescunt. 

Tonitrua  vero  tanto  fragore  quatiuntur,  ut  máximo  sint 
terrori,  sed  raro  iaculantur  fulmina,  tanta  etiam  lucis  vehe- 
mentia radiant  fulgura,  ut  omnem  hebetent  et  retundant 
oculorum  aciem,  et  cum  die  quodam  modo  certare  luminis 

35  splendore  videantur:  ad  quod  accedunt  violenti  furiosique 


15   declinationes  curr.  tx  delioationes 


2  Parece  ainda  referência  à  carta  de  13  de  Agosto  de  1553,  porque 
nela  se  lê  que  era  para  satisfazer  «a  muchos  senores  principales  devo- 
tos» (Mon.  Bras.  1  520). 

3  Cf.  ib.  II  96. 


34.  -  S.  VICENTE  31  DE  MAIO  DE  1560 


205 


ventorum  turbines,  quorum  tam  vehementi  impetu  nonnun- 
quam  flatus  commovetur,  ut  aliquando  ad  orationis  arma 
consurgere  intempesta  nocte  cogamur  contra  tempestatis 
immanitatem,  aliquando  etiam  domo  exire  ruinae  periculum 
declinantes.  Nutant  domus  tonitruis  concussae,  sternuntur  4a 
nemora,  et  omnia  conturbantur.  Non  multis  ante  diebus 
cum  essemus  Piratiningae  post  occasum  solis,  caepit  aêr 
commisceri,  súbito  obnubilari  caelum,  tonitruisque  et  íul- 
guribus  crebris  minitari:  tum  ventus  ab  Austro  consurgens 
paulatim  ambire  terram,  donec  ad  corum  4  perveniens  45 
(unde  fere  semper  solet  exoriri  tempestas)  acceptis  viri- 
bus  tantopere  invaluit,  ut  exitium  minari  Dominus  vide- 
retur.  Concussit  domos,  tecta  rapuit,  et  stravit  sylvas, 
arbores  ingentis  magnitudinis  alias  radicitus  eruit,  alias 
medias  confregit,  comminuit  alias,  ita  ut  omnes  obstrue-  50 
rentur  viae,  nullumque  pateret  iter  per  nemora:  mirum  est 
quantas  mediae  horae  spatio  (nec  enim  amplius  duravit) 
arborum  et  tectorum  strages  edidit,  et  quidem  certe  nisi 
Dominus  breviasset 5  tempus  illud,  nihil  tantam  vim  pos- 
set  retorquere,  quin  omnia  funditus  ad  terram  ruerent.  Sed  55 
inter  haec  omnia  illud  magis  mirandum,  quod  Indi,  qui  eo 
tempore  potationibus  indulgebant  et  cantibus  (ut  solent) 
nihil  ad  tantam  rerum  confusionem  exterriti,  nec  saltare 
desierunt,  nec  potare,  perinde  ac  si  omnia  posita  essent  in 
summa  tranquillitate.  60 

Sed  et  aliud  referam,  quod  dolori  ne  potius  an  risui 
esse  debeat,  ipse  iudicabis,  dolebis  forsitan  caecitatem, 
stultitiam  irridebis.   Non  multis  post  diebus  quam  haec 


4  Traduzido  «Nordeste»  em  Cartas  de  Anchieta  104 ;  é  de  supor 
que  os  primeiros  tradutores  paulistas  o  fizeram  coincidir  com  o  que 
realmente  sucede  na  Capitania  de  S.  Vicente,  actual  Estado  de  São  Paulo. 
O  caurus  ou  corus  clássico  (que  tinha  Roma  como  centro  geográfico)  traz 
nos  dicionários  estas  duas  significações:  vento  de  Noroeste;  vento  de 
Sudoeste  (Francisco  Torrinha,  Dicionário  Latino-Português  [Porto 
I937]  J31  '■>  cf-  Forcellini,  Lexicon  totius  latinitatis,  verb.  caurus  vel 
corus). 

5  Mat.  24,  22. 


206 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


acta  sunt,  cum  in  quodam  Indorum  oppidum  cuidam  male 

65  habenti  medicinam  animae  et  corporis  adhibituri  quidam 
ex  sacerdotibus  et  ego  veniremus,  veneficum  celebris  apud 
Indos  nominis  offendimus,  quem  cum  exhortaremur  multis 
desineret  mendaciis  inniti,  et  Deum  unum,  Creatorem 
omnium   Dominumque  cognosceret,  post  longam  (ut  ita 

70  dicam)  disputationem :  Novi,  inquit,  et  ego  Deum  et  Dei 
Filium :  nuper  enim  cum  mihi  canis  meus  morsum  infli- 
xisset,  accersiri  iussi  Dei  Filium,  qui  mihi  afferret  medica- 
mentum;  venit  ille  sine  mora,  et  iratus  cani  ventum  illum 
vehementem  nuper  elapsum  secum  attulit,  qui  sylvas  ster- 

75  neret,  et  damnum  mihi  a  cane  illatum  ulcisceretur.  Haec 
ille,  cui  cum  sacerdos  mentiris  respondisset,  non  potuere 
quae  aderant  faeminae  iam  christianae,  quas  docemus, 
risum  tenere,  venefici  videlicet  stultitiam  irridentes.  Cae- 
tera  omitto,  quia  non  sunt  huius  loci,  illud  solum  non  fue- 

80  rit  ab  re  admonuisse,  ne  verbum  mentiris  insolentius  pro- 
latum  videatur,  nullis  solere  verborum  ambagibus  Brasilles 
uti  in  rebus  explicandis,  itaque  mentiris  et  alia  huiusmodi 
verba  citra  iniuriam  proíeruntur:  imo  etiam  illa,  quibus 
membra  secreta  in  utroque  sexu,  concubitus  et  alia  id 

85  genus  significantur,  pronuntiant  nude  sine  ulla  deformi- 
tate. 

Anni  partium  dimensio  (si  arctius  consyderetur)  ei,  quae 
istic  deprehenditur,  rationi  penitus  est  opposita:  quo  enim 
tempore  istic  ver,  hic  hyems  est  et  contra,  sed  ita  utrum- 

90  que  temperatum  est,  ut  nec  hyberno  tempori  solis  calores 
ad  iniuriam  frigoris  propulsandam,  nec  aestivo  ad  niulcen- 
dos  sensus  Ienes  aurae  et  humentes  imbres  desint :  quanvis 
(ut  iam  dixi)  haec  ad  oram  maris  terra  constituta  omni  fere 
anni   tempore   pluvialibus  aquis  irrigetur.  Piratiningae 

95  autem  (quae  in  mediterrâneo  tricesimo  abhinc  6  milliario 
sita  spatiosis  et  patentibus  decoratur  campis)  et  aliis,  quae 


95  abhic 


6   Daqui,  da  vila  de  S.  Vicente,  onde  escreve. 


34.  -  S.  VICENTE  51  DE  MAIO  DE  1560 


207 


ipsam  versus  occasum  subsequuntur,  locis  ita  a  natura 
comparatura  est,  ut  si  quando  ardentiore  calore  (cuius 
máxima  a  Novembri  ad  Martium  vis  est)  dies  aestuaverit, 
pluviae  infusione  capiat  refrigerium,  quod  et  hic  usu  evenit.  100 
Ut  breviter  ergo  haec  complectar,  verno  et  aestivo  tempore 
ubérrima  est  imbrium  copia,  ílagrantiae  videlicet  solis 
temperandae  praestituta,  ita  ut  aut  mane  aestum  praece- 
dat,  aut  vesperi  subsequatur.  Vere,  quod  a  Septembri 
sumit  initium,  et  aestate,  quae  a  Decembri  vigere  incipit,  105 
largiter  admodum  et  creberrime  magna  cum  tonitruum  et 
fulgurum  tempestate  cadunt  imbres. 

Tunc  et  fluviorum  incrementa,  et  camporum  inundatio- 
nes  maximae,  quo  tempore  egressa  alveo  ad  edenda  ova 
ingens  piscium  multitudo  inter  herbas  parvo  cum  labore  no 
capitur,  quae  anteactae  famis  de  fluviorum  confusione  con- 
tractae  aliquantum  relevat  et  pensat  iniuriam.  Hoc  tem- 
pus  tanquam  superioris  inopiae  levamen  cupide  expectatur, 
quod  Indi  pirâcéma,  id  est,  piscium  exitum  vocant,  bis 
enim  quotannis,  Septembri  íerme  et  Decembri,  et  aliquando  115 
saepius  relictis  amnibus  se  herbis  in  brevi  aqua  ad  emit- 
tenda  et  parienda  ova  iníerunt;  aestate  autem,  cum  maior 
camporum  alluvio  est,  copiosiora  egrediuntur  agmina,  quae 
et  parvis  retibus  et  ipsis  etiam  manibus  sine  ullo  alio  ins- 
trumento capiuntur.  120 

Omnes  itaque  aestivi  calores  imbrium  larga  infusione 
sedantur.  Hyeme  vero  (exacto  autumno,  qui  a  Martio 
incipiens  media  quadam  temperie  conficitur)  suspenduntur 
pluviae,  frigoris  autem  vis  horrescit  máxima  Iunio,  Iulio 
et  Augusto,  quo  tempore  et  sparsas  per  campos  pruinas  125 
omnem  fere  arborem  et  herbam  perurentes,  et  astrictam 
gelu  aquae  superficiem  saepe  vidimus;  tunc  decrescunt 
ilumina  et  in  profundum  desident,  ita  ut  manibus  inter 
herbas  magna  piscium  copia  soleat  capi. 

Idibus  Decembris  suum  cursum  peragens  Piratiningam  130 
sol  pervenit,  quem  diem,  qui  longissimus  est,  et  quo  solum 
nulla  est  umbrarum  declinatio,  quatuordecim  horarum  clau- 


100   hic  usu  evenit  sup.  j    108    incrementum  ti  ||  126   fere  sup. 


208 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


dit  limite,  nec  ulterius  ad  austrum  transit,  sed  inde  remeat 
ad  septentrionem,  in  cuius  recessu  vigere  maxime  solet 

135  aestus  et  acutae  febres  cum  lateris  dolore  corpora  fatigare. 
Undécima  dies  Iunii,  quae  brevíssima  est,  qua  longissime 
sol  distat  a  nobis,  decem  (ut  credo)  horarum  spatio  ab 
exortu  solis  ad  occubitum  conficitur  7. 

3.    Haec  quoad  rationem  temporis,  iam  ad  alia  tran- 

140  seamus.  Piseis  quidam  est  (quem  bovem  marinum  8  dici- 
mus,  Indi  Iguaraguâ  nominant)  frequens  in  oppido  Spiritus 
Sancti,  et  aliis  versus  Boream  habitationibus,  ubi  aut  nulla 
est,  aut  exigua  [8çjv]  admodum  et  minor  quam  apud  nos 
frigoris  iniuria;  hic  ingentis  est  magnitudinis,  herbis  pas- 

145  citur,  quod  ipsa  gramina  depasta  scopulis,  quos  aestuaria 
alluunt,  inhaerentia  indicant.  Bovem  mole  corporis  supe- 
rat,  cute  obtegitur  dura  elephanti  colorem  referenti,  duo 
velut  brachia,  quibus  natat,  habet  ad  pectus,  sub  quibus 
et  ubera  ad  quae  próprios  faetus  nutrit,  os  bovi  per  omnia 

150  similis.  Esui  est  congruentissimus,  ita  ut  discernere  nequeas 
utrumne  carnis,  an  potius  piseis  loco  haberi  debeat;  ex 
cuius  pinguedine,  quae  cuti  et  maxime  circa  caudam  inhae- 
ret,  admoto  igni  íit  liquamen,  quod  iure  butyro  comparari, 
et  haud  seio  an  possit  antecellere,  cuius  ad  omnia  cibaria 

*55  condienda  olei  vice  usus  est;  ossibus  solidis  et  durissimis, 
quae  possint  eboris  vices  gerere,  totum  corpus  est  com- 
pactum. 


140    est  sup. 


7  Os  dias  13  de  Dezembro  e  11  de  Junho,  como  o  maior  e  o  menor 
do  ano  (Solstlcios)  no  Hemisfério  Austral,  entendem-se  na  era  em  que 
se  escrevia  a  carta  (1560),  antes  da  reforma  do  Calendário  Juliano,  feita 
por  Gregório  XIII  em  1582.  Para  que  o  ano  astronómico  coincidisse 
com  mais  exactidão  com  o  ano  civil  e  religioso,  o  Papa  ordenou  que  se 
saltasse  do  dia  4  para  15  de  Outubro  de  1582,  suprimindo-se  assim 
10  dias  (Cappelli,  Cronologia  29).  Segundo  o  actual  calendário  («Calen- 
dário Gregoriano»)  os  Solstlcios  caem  por  22  de  Dezembro  e  por  22  de 
Junho. 

8  Trichechus  manatus  L.  O  peixe-boi  do  Amazonas  é  uma  espécie 
vizinha.  Manatus  inunguis  Matterer  (Olivério  Mário). 


54.  -  S.  VICENTE  31  DE  MAIO  DE  1560 


209 


4.    Libet  hic  pauca,  quae  ad  rem  faciunt,  inserere,  quae 
iam  ante  duos  ferme  annos  9  scripta  incerto  navigationis 
exitu  istuc  credimus  non  pervenisse.    Cum  a  Civitate  Sal-  160 
vatoris  (qui  et  sinus  omnium  Sanctorum)  solventes  quin- 
que 10  Fratres  huc  iter  faceremus,  ducentis  quadraginta 
milliariis  tranquillo  mari  et  secundo  ventorum  flatu  iam 
confectis  in  syrtes  11  pervenimus  (quae  nonaginta  milliari- 
bus  ex  omni  parte  et  recto  cursu,  et  a  crepidine  ad  pelagus  165 
porrectae  difíicilem  reddunt  navigationem)  ubi  per  angus- 
tos  alveos  arenae  tumulis  hinc  inde  vallatos,  quibus  solet 
navigari,  summissa  passim  bólide  diem  confecimus,  et  fun- 
data  nave  quievimus.  Sequenti  vero  die,  cunctis  prospere 
succedentibus,  ad  vesperum  perducto  evasisse  se  periculum  170 
credentes  nautae  remiserunt  animum,  curam  abiecerunt. 
Cum  súbito  praeter  spem  impacta  nave  exiliit  fibulis  cla- 
vus,  accessit  et  rápida  ventorum  imbriumque  procella,  quae 
nos  inter  arctas  constituit  angustias ;  ferebatur  arenas  sul- 
cans  carina,  et  ex  frequenti  percussione,  ne  dissolveretur,  175 
timebamus.   Deducti  ergo  in  locum  brevem,  naveque  in 
alteram  partem  iam  procumbente,  ad  divinam  opem  implo- 
randam,  Sanctorum  reliquiis  quas  nobiscum  ferebamus,  in 
médium  prolatis  convertimur,  iactoque  inter  undas  agno 
Dei,  sedata  tempestate  in  profundiorem  gurgitem  delapsi  180 
sumus,  ubi  iacta  anchora  parvoque  cum  labore,  cunctis 
tamen    admirantibus,   gubernaculo   in   proprium  locum 


166    per  otnit.  Í2  \\  173    accessit  corr.  ex  accedit 


9  Referência  à  carta  perdida  do  fim  de  Maio  de  1558,  a  que  alude 
na  de  1  de  Junho  de  1560  §  1  (carta  36). 

10  Da  Baía  em  1553  saíram  para  S.  Vicente  os'Padres  Leonardo 
Nunes,  Vicente  Rodrigues  e  Brás  Lourenço,  e  os  Irmãos  José  de 
Anchieta,  António  Blázquez  e  Simão  Gonçalves,  ao  todo  seis  da  Com- 
panhia. Em  Porto  Seguro  ficou  António  Blázquez  em  vez  de  Gregório 
Serrão,  que  aí  estava  e  também  seguiu  para  S.  Vicente.  Em  Porto 
Seguro  separou-se  Leonardo  Nunes,  que  tomou  um  navio  de  S.  Vicente: 
e  já  estava  no  Espírito  Santo  quando  aí  chegaram  os  outros  cinco  {Mon, 
Bras.  11  40  41  45). 

11  Baixios  dos  Abrolhos. 


14 


210 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


reducto  ad  ortum  usque  aurorae  tranquille  nos  permansu- 
ros  sperabamus.  Clausus  erat  undique  scopulis  et  tumulis 

185  arenae  locus,  solumque  ad  proram  angustus  patebat  exitus. 
Cum  ergo  quiescere  caeptum  esset  noctis  ingruente  cali- 
gine  turbantur  omnia,  vehementi  impetu  reflantes  austri, 
cadentes  imbres  maximi,  commotum  undique  raare  quas- 
sabant  navem,  cui  iam  vetustate  confectae  parum  ad  resis- 

190  tendum  erat  roboris,  inferius  patebat  fluctibus,  superius 
pluviae,  nullus  vacabat  aqua  locus,  quater  aut  quinquies 
sentina  singulis  horis  et  ut  verius  dicam  nunquam  non 
exhauriebatur ;  nemo  firmo  gradu  valebat  stare,  sed  rep- 
tando manibus  alii  per  foros  cursitare,  alii  maios  excin- 

195  dere,  alii  funes  et  rudentes  parare  ;  inter  haec  scapha,  quae 
ad  oram  navis  ligata  erat,  excisso  fune  arripitur  a  mari. 
Tum  vero  omnes  formidare  et  vehementer  pavere,  obver- 
sabatur  oculis  mors,  omnis  in  uno  rudente  salutis  spes 
posita  erat,  quo  rupto  navem  vadis,  quae  a  puppi  lateri- 

200  busque  circunstabant,  illidi  necesse  erat;  concurritur  ad 
confessionem,  nec  singuli  quidem,  sed  bini,  quo  quisque 
poterat  celerius  accedebant.  Quid  multa?  Longum  esset 
singula  enumerarei  rumpitur  rudens,  actum  est,  conclama- 
tur.  Nec  tamen  interea  tota  mente  niti  ad  Deum  cessaba- 

205  mus,  quanvis  enim  certo  sibi  quisque  mortem  promitteret, 
plusque  de  animae  quam  corporis  curaret  salute,  fidebamus 
tamen  et  Sanctorum  relliquiis  et  Sanctissimae  Virginis 
Mariae,  in  cuius  Praesentationem  12  praecedente  nocte  haec 
acciderunt  patrocínio.  Sed  et  illud  saepe,  omnibus  credo, 

210  mini  certe  veniebat  in  mentem,  et  consolationis  plurimum 
afferebat,  esse  eodem  tempore  muitos  ex  Fratribus  nostris 
diversis  in  regionibus,  quorum  mens  intenta  esset  ad  Deum, 
quorum  orationes  ante  divinum  conspectum  ascendentes 
nobis  auxilium  flagitarent,  quorum  denique  suspiriis  et 

215  gemitibus  divina  pietas  pulsata  non  posset  in  nos  consue- 
tae  misericordiae  beneficia  non  conferre.  Itaque  nec  velo- 
rum,  nec  humano  ullo  auxilio  usi  per  medias  syrteis  illaesi, 


12  A  festa  da  Apresentação  de  Nossa  Senhora  celebra-se  a  21  de 
Novembro. 


34.  -  S.  VICENTE  51  DE  MAIO  DE  1560 


211 


quo  unda  rapiebat,  ferebamur,  nihilque  aliud  quam  navis 
illisionem  expectantes,  expositi  pluviae,  gravíssima  iactati 
tempestate,  singulisque  momentis  morientes  totam  noctem  220 
duximus  insomnem.  Orto  die,  resumpto  aliquantum  spiritu, 
velum  utcunque  reparavimus  petentesque  terram  irapin- 
gere  saltem  navem  ad  littus  optabamus,  sed  prosperiore 
quam  sperabamus,  cursu  deducti  portum  satis  tutum  Indis 
habitatum13  appulimus,  ubi  ab  ipsis  benigne  suscepti  et  225 
humaniter  tractati  sumus.  Quanta  vero  haec  fuerit  erga 
nos  Domini  miseratio,  quam  nobis  et  Beatissimae  Virginis, 
et  Sanctorum,  quorum  relliquias  nobiscum  ferebamus,  meri- 
tis  precibusque  propitiam  fuisse  non  dubitamus,  infelix 
cuiusdam  alterius  navis,  quae  nos  praecedebat,  naufragium  230 
satis  declaravit,  quae  cum  iam  vadosa  evasisset  loca,  pros- 
peroque  ferretur  flatu,  arrepta  nihilominus  et  ab  austris,  et 
vi  maris  littori  impacta  et  fracta  est,  cuius  armamentis  et 
utensilibus  iacturam  eorum  quae  amiseramus,  resarsimus, 
refecimusque  laceratam  navem.  235 

Altero  ergo  post  ingressum  nostrum  die,  cum  aliqui  ex 
Fratribus  Indorum  domos  viseremus,  oblata  est  nobis  inían- 
tula  quaedam  extremum  iam  trahens  spiritum,  de  cuius 
baptismo  cum  parentes  alloqueremur,  annuerunt  libenter; 
baptizata  ergo  et  post  aliquot  horarum  spatium  in  caelum  240 
deportata  est.  Felix  naufragium,  quod  talis  consecutus  est 
exitus!  Hic  octo  diebus  ventis  reflantibus  commorati 
sumus,  cumque  ad  reliquum  viae  conficiendum  parum 
suppeteret  commeatus,  iecerunt  nautae  rete  in  mare,  uno- 
que  iactu  duos  ex  illis  bobus  marinis  ceperunt,  qui  cum  245 
essent  tanti,  non  est  scissum  rete14,  cum  unus  ex  illis  mul- 
tis  retibus  scindendis  lacerandisque  sufficeret;  et  ita  largi- 
tate  divina  nobis  abunde  providente  residuum  viae  confe- 


332    reparavimus  corr.  ex  reparamus  ||  223    ad  littus  ia  tnarg. 


13  Rio  das  Caravelas.  Cf.  narrativa  deste  naufrágio  pelo  P.  Brás 
Lourenço  {Mon.  Bras.  II  43). 

14  Cf.  loan.  21,  11. 


212 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


cimus.  Sed  haec  obiter,  nunc  ad  rem  redeo,  et  quia  piscium 

250  caepi  mentionem  facere,  prosequar. 

5.  Quodam  anni  tempore  infinita  propemodum  capitur 
piscium  multitudo,  quod  ab  Indis  pirâiquê,  id  est,  piscium 
ingressus  dicitur15;  conveniunt  enim  innumeri  ex  diversis 
maris  partibus,  ingrediunturque  angusta  quaedam  et  bre- 

255  via  aestuaria  ad  edenda  ova.  Sed  hoc  mirum,  et  omnium 
consensu  comprobatum,  manifestoque  compertum  experi- 
mento, praecedunt  ad  superficiem  aquae  decem  aut  duo- 
decim  ex  grandioribus  velut  exploratores,  omnemque  cir- 
cueuntes  et  consyderantes  locum,  si  quid  forte  acceperint 

260  iniuriae,  quasi  insidias  praesentientes  regrediuntur,  alio 
agmen  suum  deducturi.  Si  autem  (quod  iam  cautum  est, 
ne  scilicet  ingredientibus  quid  irrogetur  molestiae)  omnia 
in  tuto,  locumque  aptum  esse  viderint,  regressi  innumeram 
piscium  multitudinem  per  angusta  ostia  introducunt  (totus 

265  enim  iam  septus  est  relicto  solum  arcto  ingressu  locus, 
quod  facile  propter  aquae  brevitatem  potest  fieri)  ubi  con- 
clusi,  et  sueco  cuiusdam  ligni,  quod  timbô  16  Indi  vocant 
inebriati,  nullo  labore  capiuntur,  frequenter  plusquam  duo- 
decim  millia  piscium  magnorum;  et  hoc  quidem  multis 

270  locis  commune  est,  ita  ut  aliquando,  cunctis  abunde  capien- 
tibus,  in  littore  relinquantur  expositi.  Saluberrimi  sunt  in 
hac  regione  pisces,  possuntque  toto  anno  sine  detrimento 
valetudinis,  sine  metu  scabiei,  quae  hic  nusquam  est,  etiam 
in  infirmitate  comedi. 


15  Pirâiquê.  Cf.  Mon.  Bras.  II  321,  onde  Nóbrega  se  refere  às 
«tainhas  do  Piralqué». 

16  «De  Portugal  muitos  colonos  já  viriam  aptos  a  aceitar  sem  relu- 
tância os  rudes  métodos  de  pescaria,  que  encontraram  praticados  entre 
os  gentios.  O  próprio  costume  de  intoxicar  peixes,  sem  prejuízo  de 
quem  os  consome,  não  teria  para  eles  o  sabor  de  uma  novidade. 
O  tingui  e  o  timbó  eram  simples  réplicas  americanas  do  barbasco,  do 
trovisco,  da  coca,  da  cal,  e  tantas  outras  substâncias  peçonhentas  de 
que  no  Reino  se  fazia  largo  uso»  (Sérgio  Buarque  de  Holanda, 
índios  e  mamelucos  na  expansão  paulista,  in  Anais  do  Museu  Pau- 
lista 13  [São  Paulo  1949]  229) ;  Friederici,  Amerikanistisches  Wòrter- 
buch  610. 


54. -S.  VICENTE  51  DE  MAIO  DE  1560 


215 


6.  Inveniuntur   in   mediterrâneo  angues  admirabilis  275 
magnitudinis,  quos  çncurijúba  Indi  vocant,  et  hi  quidem 
fere  semper  in  fluviis  vivunt,  ubi  animalia  terrestria  fre- 
quenter  tranantia  capiunt  ad  escam,  sed  et  aliquando  etiam 
exeunt  ad  terram,  adoriunturque  ea  in  semitis,  qua  solent 
huc  illuc  discurrere.   Horum  quanta  sit  corporis  moles,  280 
haud  facile  est  creditu;  cervum  solidum  deglutiunt  et  alia 
etiam  maiora  animalia.   Probata  res  est  omnium  consensu, 
aliqui  ex  Fratribus  nostris  viderunt  cum  stupore  adeo  ut 
unus  ex  eis  cum  anguem  aliquando  íluvio  natantem  vide- 
ret,  malum  navis  esse  existimaverit.  Hi,  ut  aiunt17,  carent  285 
dentibus,  solumque  animalia  spiris  involvunt,  caudaque 
per  podicem  adacta  necant,  vi  oris  commacerant  et  integra 
deglutiunt.  De  his  mira  referam,  sed  néscio  an  credibilia, 

ea  tamen,  quae  omnes  tum  Indi,  tum  [çor]  Lusitani,  qui 
muitos  aetatis  suae  annos  in  hoc  orbe  transegerunt,  uno  290 
ore  affirmant.  Deglutiunt  hi  (ut  dixi)  animalia  quaedam 
grandia,  quae  tapiira  Indi  vocant  (de  quibus  paulo  post) 
quae  cum  non  possit  stomachus  digerere,  iacent  humi  velut 
exânimes,  non  valentes  se  movere,  donec  venter  simul  cum 
cibo  computruerit ;  tum  aves  quae  laniatu  vivunt,  uterum  295 
dilaniant  et  totum  cum  pabulo  absumunt;  deinde  informis 
et  semivoratus  anguis  incipit  reformari,  succrescunt  carnes, 
superextenditur  cútis,  et  in  pristinam  formam  restituitur 18. 

7.  Sunt  et  lacerti  itidem  fluviatiles,  qui  jacaré™  d icun- 


17  Observe-se  que  o  autor  escreve  «dizem»  e  portanto  não  se  trata 
de  exame  pessoal. 

18  A  sucuriuba  ou  sucuri  tem  ao  todo  102  dentes,  e  mata  as  vítimas 
«por  enroscamento  e  constrição  progressiva»,  e  não  se  refaz  a  si  mesma 
voltando  à  antiga  forma  (Afrânio  do  Amaral).  Eunectes  murinus  L. 
ÍFriederici,  o.  c.  574). 

19  Friederici,  o.  c.  660.  «Jacaré,  réptil  emydosáurio  da  família  dos 
Crocodilos,  representada  no  Brasil  pelos  géneros  Caiman  e  Jacaretinga. 
O  jacaré  do  papo  amarelo  é  o  mais  comum  da  Bahia  para  o  Sul.  Deve 
ter  sido  esse  que  o  autor  mais  particularmente  conheceu»  (R.  Garcia, 
in  Cardim,  Tratados  143).  O  autor,  a  que  se  refere  Garcia,  é  Cardim, 
mas  aplica-se  também  a  Anchieta,  que  à  data  desta  carta  ainda  não 
íinha  passado  da  Baía  para  o  norte. 


214 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


300  tur,  magna  etiam  corporis  vastitate,  ut  possint  hominem 
deglutire,  durissimis  obtecti  conchis,  et  acutissimis  den- 
tibus  armati;  degunt  in  aqua  nonnunquam  ad  crepi- 
dinem  egrediuntur,  ubi  contingit  ipsos  somno  gravatos 
interfici,  non  tamen  sine  magno  labore  et  periculo,  ut 

305  tantae  beluae  par  est,  cuius  carnes  quae  esui  aptae  sunt, 
redolent  moschum,  praecipue  testiculi,  quibus  máxima  vis 
odoris  inest. 

8.  Sunt  et  alia  animalia  ex  genere  amphibio,  quae 
capiívára,  hoc  est,  herbas  pascentia  nominantur,  suibus  non 

310  multum  dissimilia,  colore  subrufo,  dentibus  cum  lepore 
conveniunt,  praeter  molares,  quorum  alios  mandibulis, 
alios  ipsi  palato20  in  médio  ore  fixos  habent;  cauda  carent, 
pascuntur  herbis,  unde  et  nomen  accepere ;  esui  sunt  accom- 
modata,  mansuefiunt  haec,  et  ut  catuli  aluntur  domi,  exeunt 

315  ad  pastum,  et  redeunt  domum  sine  duce. 

9.  Lutrae21  sunt  multae,  quae  vivunt  in  fluviis;  ex 
earum  pellibus,  quarum  pili  mollissimi  sunt,  fiunt  cingula. 
Sunt  et  alia  animalia  fere  eiusdem  generis M,  diversae 
tamen  apud  Indos  appellationis,  quae  praebent  eundem 

320  usum.  Nuper  cum  unum  eorum  quidam  indus  sagitta 
fixisset,  et  in  aquam  prosiliens  vellet  capere,  concurrit 
aliorum  turba  quae  aderat  sub  aqua,  invadunt  hominem, 
impetunt  morsibus,  exarant  unguibus,  ita  ut  difficulter  eo, 
quod  occiderat,  extracto  totus  discerptus  evaderet,  muitos- 

325  que  dies  ageret,  antequam  vulnera  coirent.  Sunt  haec  ani- 


20  «As  descrições  de  Anchieta,  nada  há  a  estranhar,  amiúde  encer- 
ram verdadeiras  enormidades  em  matéria  de  zoologia.  Escusa  criticar 
a  asserção  de  que  a  capivara  apresenta,  afora  as  séries  laterais  de  den- 
tes, alguns  outros  no  meio  do  céu  da  boca,  disposição  esta  que  não  existe 
em  nenhum  mamífero,  e  apenas  encontradiça  nos  vertebrados  poecilo- 
térmicos.  Sem  serem  pròpriamente  do  mesmo  feitio,  os  molares  da 
capivara  assemelham-se  perfeitamente  aos  das  lebres  e  aos  da  maior 
parte  dos  roedores»  (O.  Mário)  ;  Friederici,  o.  c.  130. 

21  Lontra  paranensis  Rengger,  própria  do  Brasil  meridional  (O. 
Mário). 

22  «Provavelmente  o  ratão  do  banhado  ou  nutria  (Myocastor  coy- 
ptis),  às  vezes  chamado  impròpriamente  lontra»  (Id.). 


34. -S.  VICENTE  31  DE  MAIO  DE  1560 


215 


malia  nigro  fere  colore,  catis  paulo  maiora,  acutissimis 
dentibus  unguibusque  munita. 

10.  Cancrorum  genera  quot  sint,  quot  varietates,  quam 
diversae  formae,  longum  esset  recensere.  Omitto  illos,  qui 
terrestres  sunt,  in  antris  subterraneis,  quae  sibi  effodiunt,  330 
viventes,  ubique  praeterquam  apud  nos  frequentissimi, 
colore  talassico  aquatilibus  multo  maiores.  Aquatilium 
alii  sub  aqua  semper  sunt,  quibus  natura  ultima  brachia 
plana  effinxit  ad  natandum  apta,  in  aestuariis  reliqui  sibi 
cavernas  excavant,  quorum  alii  rubris  cruribus,  nigro  cor-  335 
pore,  alii  subcaerulei  sunt  et  pilosi,  alii,  quorum  caput 
unum  (cum  alterum  sit  ad  corporis  proportionem  factum) 
toti  corpori  íere  est  aequale. 

Cancro  vero  (cuius  istic  tam  difficilis  curatio  est)  facile 
ab  Indis  medetur23.  Eum  morbum  eodem,  quo  et  nos,  appel-  340 
lant  nomine24  ;  sic  autem  curant.  Argillae  ex  qua 

íiunt  vasa,  frustulum  bene  subactum  calefaciunt  igni,  cali- 
dumque,  quantum  caro  possit  ferre,  adhibent  cancri  bra- 
chiis,  quae  paulatim  moriuntur ;  totiesque  id  repetunt, 
donec  enectis  cruribus  et  corpore  solvitur,  et  per  se  cadit.  345 
Id  nuper  in  quadam  Lusitanorum  ancilla  (quae  morbum 
cum  patiebatur)  experimento  probatum  est. 

11.  Haec  quoad  ea,  quae  in  aquis  degunt.  Quoad  ter- 
restrium  autem  rationem,  nonnulla  sunt  animalia  isti  orbi 
incógnita,  ac  primo  quidem  colubrorum  diversa  genera  350 
venenosa. 

Alii  vocantur  jararaca25,  qui  frequentissimi  sunt  in 


341    nomine]  spatiutn  álbum  omit.  t2  ||  349    animalia  bis  priore  dei. 


23  «É  quasi  certo  que  Anchieta,  como  ainda  hoje  o  fazem  os  menos 
entendidos  em  coisas  de  medicina,  confundia  o  câncer  da  patologia, 
isto  é,  os  diferentes  neoplasmas  malignos,  que  a  tecnologia  médica 
especifica  sob  os  nomes  de  epiteliomas,  sarcomas,  etc ,  com  afecções 
outras  de  natureza  inteiramente  diversa,  muitas  delas  perfeitamente 
curáveis,  como  as  neoformações  sifilíticas,  etc.»  (Id.). 

24  Espaço  em  branco  no  tns. 

25  Bothrops  jararaca  Wied ;  B.  atrox  L. ;  B.  Neuwiedii  Wagl. 
(A.  Machado)  ;  Friederici,  o.  c.  328-329. 


216 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


campis,  nemoribus  et  ipsis  etiam  aedibus,  in  quibus  saepe 
eos  invenimus,  quorum  morsura  intra  viginti  quatuor  hora- 

355  rum  spatium  mors  subsequitur,  quanvis  aliquando  possit 
ei  adhiberi  medicina,  et  mors  evadi.  Porro  id  apud  Indos 
sic  habet,  ut  si  semel  icti  a  colubro  mortem  evadant,  per- 
cussi  deinceps  non  solum  in  discrimen  vitae  non  veniant, 
sed  multo  etiam  minus  sentiant  doloris,  quod  non  semel 

360  experti  sumus. 

Aliud  genus  dicitur  bóicinínga,  id  est,  coluber  tinniens, 
habet  enim  in  cauda  crepitaculum  quoddam,  quo  sonat 
aliquid  invasurus.  Hi  vivunt  in  campis,  in  cavernis  sub- 
terraneis,   invadunt   homines  quo  tempore  procreandae 

365  soboli  dant  operam,  citissimis  saltibus  labuntur  per  gra- 
mina  adeo  ut  ab  Indis  dicantur  volare 26 :  cum  semel  momor- 
derint,  actum  est,  impediunt  auditum,  visum,  gressum, 
omnesque  corporis  actus,  solus  remanet  veneni  per  totum 
corpus  diffusi  dolor  et  sensus,  donec  post  viginti  quatuor 

370  horarum  intervallum  exhaletur  anima.  Hos  tamen  et  reli- 
quos  fere  omnes  Indi  detracto  capite  torrent  igni  et  come- 
dunt,  sicut  et  bufonibus,  lacertis,  muribus,  aliisque  id  genus 
animalibus  minime  parcunt. 

Sunt  et  alii  mira  pictura  decorati,  nigro,  albo  et  rubro 

375  coraliis  simili  distincti  colore,  qui  ibibobóca-1 ,  id  est,  terra 
fossa  dicuntur,  quod  repentes  talparum  more  terram  fin- 
dant,  qui  omnium  venenosissimi  sunt,  et  ideo  rariores. 
Sunt  et  alii  qui  ab  Indis  propter  diversam  picturae  varie- 
tatem  bóiquatiára23,  id  est,  colubri  picti  dicuntur,  itidem 


365-366    gramina  dei.  ut 


26  Crotalus  terrificus  Laur.  Ao  contrário  do  texto,  «a  reptação  da 
cascavel  é  das  mais  lerdas  que  se  conhecem,  em  virtude  de  lhe  ser 
pequena  a  força  muscular  em  relação  ao  volume  do  corpo»  (A.  do 
Amaral). 

27  Micrurus  leniscatus  L. ;  Elaps  Marcgravii  Wied.  «As  corais 
verdadeiras  são  chamadas  de  ibiboboca,  porque  furam  a  terra  e  pene- 
tram em  galerias,  onde  encontram  pequenos  lagartos  ápodos,  vermes 
e  larvas  de  insetos,  de  que  se  nutrem»  (Id.).  Friederici  o.  c.  307. 

28  Bothrops  cotiara  Gomes  (A.  do  Amaral). 


34.  -  S.  VICENTE  31  DE  MAIO  DE  1560 


217 


mortiferi.  Sunt  et  alii  fere  iidem  qui  jararaca,  qui  òóipéba29,  380 
hoc  est,  colubri  plani  appellantur,  eo  quod  percussi  con- 
trahant  se  et  latiores  íiant,  itidem  mortiferi.  Sunt  et  alii 
qui  bóiroiçánga,  id  est,  colubri  frigidi  vocantur,  quod  ictu 
suo  corpori  magnura  frigus  inducant  et  hi  quidem  caeteris 
maiores  sunt,  licet  minus  virosi  (neque  enim  necant),  acutis  385 
dentibus  totum  os  armati,  quod  in  reliquis  aliter  se  habet, 
quatuor  enim  duntaxat  caeteri  habent  dentes  recurvos, 
adeo  subtiles  et  absconditos,  ut  nisi  diligenter  inspexeris, 
credas  eis  carere;  in  quibus  et  venenum. 

Hi  autem  omnes  (praeter  eos,  qui  veneno  carent,  quorum  390 
magna  est  et  copia  et  diversitas)  ita  frequentes  sunt,  ut  non 
sine  magno  periculo  possit  iter  fieri:  vidimus  canes,  sues, 
et  alia  animalia  sex  aut  septem  horis  tantummodo  eorum 
morsui  supervixisse.  Non  raro  in  similia  incidimus  peri- 
cula,  qui  huc  illuc  per  aliqua  oppida  (quod  nobis  ex  officio  395 
incumbit)  discurrentes  saepe  illos  in  viis  offendimus.  Cum 
semel  a  quadam  Lusitanorum  30  mansione  quo  me  cum  alio 
Fratre  doctrinae  gratia  obedientia  miserat,  Piratiningam 
remearem,  inveni  colubrum  iuxta  viam  iacentem  in  spiras 
collectum,  quem  signo  crucis  prius  munitus,  percussi  báculo  400 
et  interfeci.  Post  paululum  morae  caeperunt  tres  aut  qua- 
tuor parvuli  repere  in  terra,  cumque  miraremur  unde  ii, 
qui  antea  non  parebant,  tam  súbito  affuissent,  ecce  materno 
ex  útero  caeperunt  alii  erumpere;  cumque  cadáver  excute- 
rem,  prodierunt  reliqui  faetus  ad  undenum  numerum,  omnes  405 
iam  animati  et  perfecti,  praeter  duos.  Sed  et  de  alio  audivi 
a  fide  dignis,  in  cuius  ventre  plusquam  quadraginta  reperti 
sunt.  In  tanta  autem  et  tam  frequenti  multitudine  nos 
Dominus  servat  incólumes,  et  eo  magis  quo  minus  antí- 
doto aut  virtuti  ullae  humanae  fidimus,  sed  soli  Domino  410 


409    minus  dei.  vir 


29  Xenodom  merreri  Wagl.  (Id.). 

30  S.  André  da  Borda  do  Campo.  A  carta,  redigida  numa  vila  do 
litoral  (S.Vicente),  exclui  por  esse  facto  as  outras  vilas  de  Portugueses, 
da  costa,  donde  a  volta  seria  a  S.  Vicente,  não  a  Piratininga. 


218 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


Iesu,  qui  solus  praestare  potest,  ne  quid  supra  colubros 
ambulantes  capiamus  detrimenti31. 

Sunt  et  alii  velut  scorpiunculi  sub  quibusdam  terrae 
tumulis,  quos  formicae  congerunt,  habitantes,  quos  lndi 

415  bóiquiba,  hoc  est,  colubri  pediculos  appellant,  coloris  rubri, 
araneolis  paulo  maiores,  duo  habent  capita  sicut  cancri, 
recurvam  caudam,  in  qua  et  aduncum  unguem,  quo  per- 
cutiunt.  Non  quidem  necant,  sed  cruciant  vehementissime, 
ita  ut  non  minori,  quam  viginti  quatuor  horarum  ductu 

420  mitigetur  dolor32. 

12.  Quid  de  araneis,  quorum  innumera  est  multitudo? 
Subrufi  sunt  alii,  alii  terrei  coloris,  alii  picei33,  pilosi  toti ; 
cancros  credas,  tanta  est  corporis  magnitudo;  visu  faedi, 
ut  solus  ipse  aspectus  venenum  prae  se  ferre  videatur34. 

425  [90V]  Horum  hostis  bestiola  quaedam  ex  crabronum  genere, 
insectatur  eos  crudelissime,  infixoque  aculeo  necat,  trahens- 
que  inducit  in  parva,  quae  sibi  excavat  foramina,  eisque 
pascitur35.  Sunt  quidam  alii  diversi  generis  aranei,  diver- 
sum  etiam  ab  his  nomen  sortiti,  qui  magnum  ex  se  faeto- 

430  rem  emittunt,  natura  frigidissimi  sunt,  non  nisi  flagrante 
sole  tectis  exeunt;  quapropter  et  qui  eis  potantur  (solent 
autem  brasilles  faeminae  venenata  pocula  saepe  miscere) 
nimio  frigore  et  tremore  corripiuntur.  Praesentissimum 
remedium  vinum  est. 


31  Cf.  Luc.  10,  19  ;  Mare.  16,  18. 

32  A  descrição  aplica-se  aos  escorpiões,  e  as  duas  cabeças  seriam 
as  pinças  ou  tentáculos  usados  na  apreensão  das  vítimas;  todavia  os 
«pés  pequenos  de  cobra  parecem  indicar  as  lacraias  ou  escolopen- 
dras» ;  mas  os  «pés  pequenos  de  cobra»  ou  «piolhos  de  cobra»  «os 
indígenas  costumavam  distinguir  pelo  nome  de  boissó»  (A.  do  Amaral). 

33  «Picei»  no  ms.,  não  «picti»,  como  leu  Ordônhez,  e  traduziram, 
em  concordância  com  essa  leitura,  «pintadas». 

34  Aranhas  caranguejeiras  (A.  Machado). 

35  «À  família  dos  Pompilídeos  (ordem  dos  Himnópteros,  snper- 
família  Vespoidea)  pertencem  os  mais  notáveis  caçadores  de  aranhas 
existentes  no  Brasil».  Nem  sempre  o  vespão  leva  a  melhor  e  é  ele  que 
é  comido  pela  aranha.  E,  quando  vence,  não  come  a  aranha:  esta  e 
sempre  destinada  a  alimento  da  larva  do  vespão»  (Pio  Lourenço 
Corrêa). 


34. -  S.  VICENTE  31  DE  MAIO  DE  1560 


219 


Est  alius  vermiculus  scolopendrae  fere  similis,  pilis  435 
totus  obsitus,  deformis  visu,  cuius  varia  sunt  genera ; 
colore  inter  se  differunt  et  nomine,  eadem  forma  omnibus. 
Horum  alii  si  corpus  tangant,  magnum  inferunt  dolorem36, 
qui  multis  horis  perseverat,  aliorum  vero  (qui  oblongi  sunt 
et  nigri,  rubro  capite)  pili  venenosi  sunt,  et  ad  libidinem  440 
incendunt37,  quos  solent  Indi  genitalibus  imponere,  quae 
in  vehementem  excitantur  libidinis  ardorem,  intument  et 
post  triduum  computrescunt,  unde  saepe  fit,  ut  praeputium 
multifariam  perforetur,  aliquando  etiam  ipsa  virilia  corrup- 
tionem  contrahant  insanabilem ;  nec  se  solum  ea  morbi  445 
faeditate  deturpant,  sed  et  ipsas  etiam  faeminas,  quibus  se 
immiscuerint,  conspurcant  et  iníiciunt. 

13.    Inveniuntur  etiam  apud  nos  pantherae,  quarum  duo 
sunt  genera,  aliae  cervini38  coloris,  minores  hae  et  crude- 
liores,  allae  maculosae  sunt  et  diversis  coloribus  resper- 450 
sae39,  et  hae  quidem  frequentes  ubique  locorum,  arietem 
quantumvis  magnum  corporis  mensura  superant,  saltem 
mares,  nam  faeminae  minores  sunt,  catis  per  omnia  símiles, 
esui,  quod  aliquoties  experti  sumus,  aptae.  Plerumque 
timidae  sunt  et  a  tergo  invadunt,  sed  magno  valent  robore,  455 
uno  ictu  unguium,  aut  dentium  morsu  quicquid  apprehen- 
derint,  dilacerant;  praedas,  ut  affirmant  Indi,  condunt  sub 
terra,  ibique  eis  pascuntur,  donec  absumant;  eximiae  sunt 
crudelitatis,  quod  etsi  multis  exemplis,  quae  subinde  acci- 
dunt,  possit  comprobari,  sufficiet  tamen  Ínterim  duo  vel  460 
tria  in  médium  proferre. 


453-453    saltem  —  sunt  sup. 


36  Lagarta  tatarana,  «semelhante  a  fogo»:  «lagarta  de  fogo»  (T.  Sam- 
paio, O  Tupi  na  Geographia  Nacional  321). 

37  Lagarta  socaúna,  como  declara  Soares  de  Sousa,  descrevendo 
os  seus  efeitos  {Tratado  315-316  373). 

38  Onça  parda  ou  suçuarana  (Felis  concolor  L.). 

39  Onça  pintada,  canguçu,  jaguar,  jaguareté  {Felis  onça  L.).  Esta  é 
maior  que  a  parda  (Melo  Leitão,  Zoo-Geografia  do  Brasil  254;  Jácome 
Monteiro,  Relação  418-419). 


220 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


Ad  oram  cuiusdam  fluminis  quibusdam  christianis  in 
parvis  tuguriolis  quadam  nocte  quiescentibus,  dormiebat 
sub  unius  lecto,  vel  potius  reti,  quod  hinc  inde  extentum 

465  duobus  sustinetur  funibus,  quidam  indus:  ecce  venit  tygris 
intempesta  nocte,  et  per  crus,  quod  forte  extenderat,  ipsum 
arripiens  abstraxit,  non  valente,  quae  ibi  convenerat,  mul- 
titudine,  ex  eius  unguibus  ac  dentibus  illum  eripere;  quod 
multis  aliis  saepe  accidit,  quos  ipsae  tygres  primo  concubio 

470  ex  multorum  médio  et  rapiunt  et  devorandos  ferunt;  cuius 
rei  possent  multa  aferri  testimonia. 

Aliam,  quae  nimia  ferocitate  muitos  perimendo  et 
vorando  magnas  ediderat  strages,  quadraginta  homines 
esclopetis,  ballistis  et  spiculis  armati  cum  conarentur  occi- 

475  dere,  nihil  ad  tantam  armatorum  manum  belua  expaves- 
cens  unum  invasit,  unguibusque  per  caput  et  pectus  infixis 
necasset,  nisi  dirigente  Domino  sagitta  per  cor  aducta 
occubuisset. 

Duobus  indis  prope  Piratiningam  per  viam,  qua  saepe 

480  imus  et  redimus,  iter  agentibus  processit  obviam  panthera 
invadit  homines,  fugit  alter,  alter  pugnat  strenue  et  sagit- 
tis  et  corporis  velocitate  bestiae  impetus  propulsans  donec 
arborem  conscendit.  Sed  ne  ea  quidem  satis  tuta  arx 
adversus  has  feras,  magna  enim  vigent  pernicitate.  Instat 

485  illa  ad  radicem  arboris,  quaerens  si  qua  pateat  ascensus, 
tota  nocte  (hoc  enim  ad  occasum  fere  solis  actum  est)  labo- 
rat,  fremit,  donec  ascendens  hominem  aut  deturbavit,  aut 
ipse  certe  et  longo  labore  fatigatus,  et  pavore  concussus 
cecidit.   Suberat  ei  quidam  velut  stagnans  aqua  et  luto 

490  redundans  locus,  in  quem  ille  decidens  submersus  est,  ita 
ut  a  fera  non  posset  educi,  quae  residuum  noctis  in  ipso 
extrahendo  cum  frustra  consumpsisset,  tandem  lassata 
humi  se  stravit.  Orto  mane  quidam  venientes  (qui  iam 
praecedente  die  in  auxilium  hominis  frustra  venerant) 

495  bestiam  non  valentem  ultra  prae  nimio  labore  se  movere, 
occiderunt;  in  cuius  ventre  pollex  ipsius  indi  repertus  est, 


473    homines  dei.  cum 


34.  -  S.  VICENTE  31  DE  MAIO  DE  1560 


221 


quem  ascendens  creditur  devorasse:  visuntur  adhuc  ves- 
tigia  unguium  in  arbore. 

Sunt  et  alia  animalia  (leonês  esse  volunt)  ferocia  item, 
sed  rariora.  500 

14.  Est  et  aliud  animal  deforme  visu,  Indi  tamanduá™ 
vocant;  canem  quantumvis  magnum  corporis  mole  excedit, 
sed  cruribus  breve  est,  parumque  a  terra  surgit,  et  propte- 
rea  tardum,  quod  possit  ab  homine  cursu  praeverti.  Seta- 
rum  (quae  nigrae  sunt  cinericiis  intermistis)  horrore  et  505 
prolixitate  sues  longe  superat,  praecipue  in  cauda,  quae 
setis  oblongis,  aliis  a  summo  ad  deorsum,  aliis  ex  tran- 
verso  dispositis  munita  est,  qua  ictus  armorum  et  excipit 
et  propulsat ;  cute  dura  obtegitur  non  facile  sagittis  pervia, 
quae  in  alvo  mollior  est.  Collo  est  producto  et  tenui,  capite  510 
exiguo  corporis  magnitudini  longe  dispari,  ore  rotundo, 
unius  aut  ad  summum  duorum  annulorum  mensuram  con- 
tinenti,  lingua  protensa,  tres  palmos  longa,  ea  solum  parte, 
quae  per  os  educta  potest  extendi,  praeter  eam  quae  intus 
manet  (quod  ego  mensus  sum),  quam  emittens  solet  ad  515 
formicarum  cavernas  protendere,  quam  cum  undique  ipsae 
repleverint,  intra  os  recipit,  et  haec  est  com  munis  ipsius 
esca;  mirum  tantum  animal  tam  parvo  cibo  ali.  Brachia 
habet  robustíssima  magnae  crassitudinis,  hominis  femori 
fere  aequalia,  quae  armata  sunt  unguibus  durissimis,  quo-  520 
rum  unus  maxime  omnes  omnium  bestiarum  ungues  magni- 
tudine  longe  vincit;  nemini  nisi  in  sui  defensione  nocet; 
cum  ab  aliis  bestiis  impugnatur,  sedet  clunibus,  sublatis- 
que  brachiis  expectat  incursum,  et  uno  ictu  penetrat  vís- 
cera et  necat.  Esui  est  convenientissimum,  bovinam  carnem  525 
credas,  nisi  quod  eius  carnes  languidiores  sunt41. 


508    quae  Í2 


40  «De  ta,  contração  de  tacy,  formiga,  e  monduar,  caçador :  caça- 
dor de  formigas»  (R.  Garcia,  in  Cardim,  Tratados  113). 

41  «Não  comem  os  índios  estes  animais,  porque  não  correm,  e  eles 
têm  pêra  si  que  as  naturezas  e  condições  daquilo  que  comem  se  muda 
nelas»  (Jácome  Monteiro,  Relação  419).  «Na  realidade  é  péssima  a 
carne»  (A.  Machado).  Friederici,  o.  c.  585. 


222 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


15.  Est  aliud  animal,  satis  frequens,  esui  aptum,  ab 
Indis  tapiira43,  ab  Hispanis  vero  anta  dicitur,  ea  credo, 
quae  Latinis  alce43  nominatur.   Mulae  similis  bestia,  cru- 

530  ribus  aliquanto  brevior,  pedes  habet  trifidos,  superius 
labrum  prominentissimum,  colore  est  inter  camelum  et 
cervum  médio  in  nigrum  declinante ;  erigit  se  iubarum 
loco  per  cervicem  torus  ab  armis  ad  caput,  in  quo  erectior 
aliquantulo  totam  frontem  armat,  et  viam  sibi  per  nemo- 

535  rum  condensa  discretis  hinc  inde  lignis  aperit;  brevissima 
est  cauda  nullis  munita  iubis,  sibilum  ingentem  vice  voeis 
emittit,  die  dormit  et  quiescit,  nocte  huc  illuc  discurrens 
diversos  arborum  fructus  pascit,  et  cum  hi  defuerint,  cor- 
tices.  Cum  a  canibus  lacessitur,  morsibus  resistit  et  calci- 

540  bus,  aut  in  ilumina  prosilit,  diuque  latitat  sub  aqua,  quamo- 
brem  iuxta  fluvios  frequentius  versatur;  ad  quorum  oras 
solet  etiam  terram  effodere  et  argillam  mandere.  Huius  ex 
tergore  faciunt  Indi  cetras44  duratas  solummodo  ad  solem 
sagittis  omnino  impervias45. 

545  16.  Est  aliud  animal  (quod  Indi  aig,  nos  propter  nimiam 
tarditatem  pigritiam  40  dicimus)  vere  pigrum  et  quod  tardi- 
tudine  cochleam  vincat,  grandi  corpore,  colore  cinericio, 
eius  fácies  mulieris  formam  videtur  aliquantulum  referre ; 
oblonga  sunt  brachia,  unguibus  etiam  longis  et  recurvis 

550  munita,  quorum  usus  ei  a  natura  ad  quarumdam  arborum, 
quarum  foliis  et  germinibus  teneris  pascitur,  ascensum 
concessus  est,  in  quo  bonam  diei  partem  consumit;  exprimi 


537    quievit  Í2\  quescit  ti  ||  546    pigritiam  fiost  corr.  ||  55a    bonam  d»l.  tep 


42  Tapirus  americamis  Briss.  «O  maior  animal  terrestre  da  nossa 
fauna»  (R.  Garcia,  in  Cardim,  Tratados  in).  Friederici,  o.  c.  235  592. 

43  Os  latinos  designavam  por  alces  os  veados  maiores  do  norte  da 
Europa,  o  que  não  coincide  com  a  suposição  do  texto  (A.  Machado). 

44  «De  cuja  pele  se  fazem  as  adargas»  (Cardim,  Tratados  37). 

45  «A  carne  difere  pouco  da  nossa  vaca  no  sabor,  posto  que  me 
pareceu  de  ventagem  uma  vez  que  dela,  no  mato,  nos  fizeram  seu  pre- 
sente os  Aimurés,  trazendo-no-la  já  assada,  a  seu  modo,  de  moquém» 
(Jácome  Monteiro,  Relação  417). 

46  Preguiça  (cf.  Friederici,  o.  c.  527). 


54.  -  S.  VICENTE  51  DE  MAIO  DE  1560 


225 


enim  satis  non  potest  quantum  in  unius  brachii  motione 
faciat  morae;  ascendens  autem  tandiu  ibi  immoratur,  donec 
totam  absumat  arborem,  deinde  ad  aliam  transit,  aliquando  555 
etiam  antequam  ad  cacumen  perveniat,  mediae  arbori  tam 
tenaciter  unguibus  inhaeret,  ut  inde,  nisi  brachia  exscin- 
dantur,  evelli  nequeat. 

Est  et  aliud  vulpeculae  fere  simile  (quod  Indi  sariguéa*1 
dicunt)  quod  magnura  ex  se  emittit  faetorem  et  gallinarum  56° 
esu  maxime  delectatur.  Hoc  habet  in  iníeriore  parte  alvi 
folliculum  quendam  a  summo  ad  deorsum  divisum,  quo 
ubera  operiuntur;  in  quem,  cum  primum  editi  sunt,  ingressi 
íaetus,  singuli  singulis  [9ir]  uberibus  adhaerent,  nec  inde 
exeunt,  donec  matris  auxilio  minime  indigentes  per  se  iam  565 
stare  et  gradi  valeant,  imo  et  post  matris  occisionem  incó- 
lumes vix  possunt  ab  eius  uberibus  divelli.  Occidimus 
iam  multa,  inter  quae  unum  cum  septem  filiis  illo  folliculo 
inclusis. 

Sunt  etiam  quaedam  párvula  animalia  ex  hericiorum  57° 
genere  obtecta  setis  longis  et  acutissimis,  máxima  ex  parte 
subpallidis,  nigris  in  acumine,  quae  quicquid  attigerint, 
maxime  carnem  per  se  nullo  impellente  paulatim  ingre- 
diuntur;  quibus  ad  aurículas  perforandas,  ut  sensum  dolo- 
ris  redimant,  brasilles  faeminae  solent  uti48.  Vidi  ego  575 
corium  duplex  non  parvae  crassitudinis  unius  noctis  spa- 
tio  una  huiusmodi  seta  per  se  ingressa  utrinque  traiec- 
tum. 

17.    Simiarum  infinita  est  multitudo,  quarum  quatuor 
sunt  genera49,  unumquodque  esui  aptissimum,  quod  saepe  58° 


47  Sariguea  ou  sarigué,  marsúpio,  conhecido  já  desde  o  começo 
da  colonização  da  América  (A.  Machado)  ;  Friederici,  o.  c.  559-560 ; 
J.  P.  Machado,  Dicionário  Etimológico  p.  1952. 

48  É  o  cuanducoim,  que  descreve  Jácome  Monteiro,  Relação  420. 
Fala  ainda  do  coanduguaçu,  e  coandumirim,  e  que  o  maior  (guaçu)  é  o 
verdadeiro  porco  espinho  e  só  vive  no  sertão.  Destes  ouriços  cachei- 
ros ou  porcos  espinhos,  há  nove  espécies  no  Brasil  (A.  Machado). 

49  «Como  é  sabido,  orçam  por  cerca  de  cinquenta  as  espécies  de 
símios  brasileiros,  das  quais  a  maioria  habita  o  Norte»  (Id.).  Cf.  Car- 


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IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


experimur,  imo  et  infirmis  saluberrimus  cibus  est.  In  syl- 
vis  semper  vivunt,  catervatim  fere  per  arborum  cacumina 
salientes  ;  ubi  si  quae  propter  corporis  parvitatem  ab  hac 
arbore  in  illam  nequeunt  se  saltu  proiicere,  quae  máxima 

585  est,  et  veluti  dux  agminis  curvato  hinc  ramo,  quem  cauda 
tenet  ac  pedibus,  alteroque  inde  manibus  apprehenso  se 
reliquis  viam  et  velut  pontem  facit,  et  sic  facile  omnes 
transiliunt;  faeminae  mammas  habent  ad  pectus  sicut 
mulieres,  faetus  parvi   matrum   costis  et  armis  semper 

590  adhaerentes  huc  illuc  discurrunt,  donec  per  se  gradi 
valeant.  Mira  de  his  referuntur,  sed  incredibilia,  et  ideo 
omitto. 

18.    Est  et  aliud  animal  satis  frequens  apud  nos  (tatú 
vocant)  in  cavernis  subterraneis  per  campos  habitans,  cauda 

595  et  capite  lacertis  fere  simile;  duríssima  concha  sagittis  imper- 
via  armaturae  equi  persimili  totum  desuper  corpus  contec- 
tum :  velocissime  terram  efíodit  ut  se  protegat;  cum  vero 
se  intra  sua  tecta  receperit,  nisi  crus  arripias,  frustra  in 
ipso  extrahendo  fatigaberis,  tam  pertinaciter  enin  conchis 

600  ac  pedibus  adhaeret  terrae,  ut  etsi  caudam  apprehendas, 
eam  potius  a  corpore,  quam  ipsum  ab  antro  possis  divellere. 
Gustui  est  satis  delectabile  õ0. 

Cervorum  duo  sunt  genera,  quorum  alii  armati  corni- 
bus  B1,  ut  nostrates,  et  hi  quidem  rari,  alii  colore  albo  caren- 

605  tes  cornibus  52,  qui  numquam  intrant  in  sylvas,  sed  semper 
in  campis  patentibus  catervatim  pascuntur.  Catorum  item 


dim,  Tratados  41-43;  Soares  de  Sousa,  Tratado  297-299;  Jácome  Mon- 
teiro, Relação  421. 

50  «Querem  os  moradores  destas  partes  que  seja  a  melhor  carne 
que  cá  se  come;  é  alva  e  como  titelas  de  galinhas,  das  quais  não  difere 
no  gosto;  e  destas  se  faz  bom  manjar  branco»  (Jácome  Monteiro, 
Relação  420);  Friederici,  o.  c.  596. 

51  «Suaçupara,  quer  dizer  veado  torto,  o  qual  nome  lhe  deram 
respeitando  a  armação  muito  grande,  que  tem,  e  cheia  de  galhos,  por- 
que em  cada  uma  das  pontas  tem  mais  de  15»  (JAcome  Monteiro, 
Relação  416). 

52  «Suaçupitanga,  veado  pardo;  são  prezados  dos  Índios  e  comem- 
-nos,  porque  não  têm  cornos»  (Id.,  ib.  416). 


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sylvestrium  rapidissimorum,  damarum  53,  aprorum  54,  quo- 
rum variae  species  copiosa  multitudo. 

Sunt  hinc  procul  in  regione  mediterrânea  versus  Peru, 
quam  Novam  Hispaniam  dicunt,  oves  sylvestres,  vaccis  610 
aequales  magnitudine,  cândida  ac  pulchra  lana  coopertae, 
quibus  Indi  in  portandis  ac  vehendis  sarcinis,  ut  iumentis 
utuntur55;  has  quidam  Frater  noster56  qui  in  illis  partibus 
diu  versatus  est  et  vidisse  se,  et  earum  carnes  comedisse 
affirmat.  De  quibus  multa  in  chronicis  Peru,  quae  sermone  615 
hispano  vulgo  circumferuntur. 

19.  Gignuntur  in  arundinibus  vermes 57  quidam  teretes 
et  oblongi,  albi  toti,  unius  digiti  crassitudine,  quos  rahú 
appellant  Indi;  hos  igni  assos  et  tostos  solent  comedere. 
Tanta  vero  est  eorum  multi[tu]do  acervatim  congesta,  ut  620 
ex  eis  fiat  liquamen,  quod  liquato  ex  sue  non  est  dissimile, 
cuius  et  ad  emollienda  coria  et  ad  vescendum  usus  est. 
Ex  his  alii  papiliones  íiunt,  alii  exeunt  in  mures,  qui  sub 
ipsis  arundinibus  sibi  domos  construunt,  alii  autem  in 
erucas,  quae  corrodunt  herbas,  convertuntur.    Multa  alia  625 


607    sylvestrium  corr.  «x  sylvstrium 


53  «Há  também  gamos,  a  que  chamam  suaçutinga,  veado  branco, 
não  porque  sejam  brancos,  mas  por  terem  a  barriga  e  rabo  branco» 
(Id.,  ib.  416-417). 

54  Porcos  bravos  ou  «porcos  monteses»,  como  os  chama  e  descreve 
Jácome  Monteiro,  ib.  417. 

55  Lamas.  Cita-as  Gonzalo  Fernandez  de  Oviedo  y  Valdês, 
Historia  General  y  Natural  de  las  índias  IV  (Madrid  1855)  604.  A  pri- 
meira edição  data  de  1535  (ib.  1  p.  vn).  «Desde  las  minas  se  llevan 
estos  metales  en  recuas  de  llamas  (son  los  que  liam  amos  carneros  de 
la  tierra)  al  lugar  donde  se  han  de  beneficiar»  (Bernabé  Cobo,  Histo- 
ria dei  Nuevo  Mundo  1  [Madrid  1956]  144).  Cf.  Friederici,  o.  c.  351. 
O  Peru  não  se  dizia  Nova  Espanha,  denominação  que  se  aplicava 
ao  México  (e  regiões  vizinhas). 

56  Irmão  (depois  Padre)  António  Rodrigues  :  ele  mesmo  narra  a 
sua  estada  no  Rio  da  Prata,  Paraguai,  Chaco,  etc,  até  aos  confins  do 
Peru  (Mon.  Bras.  I  468-481 ;  cf.  II  116-117). 

57  «Por  bichos  de  taquara  são  conhecidas  as  formas  imaturas  da 
mariposa  Pyralidae-Myelobia  amerintha»  (A.  Machado). 

'5 


226 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


diversorum  generum  animalia  inveniuntur,  quae  quia  non 
ita  sunt  scitu  aut  relatu  digna,  omittenda  duxi. 

20.    Formicarum   diversas  species  difficillimum  esset 
verbis  exprimere,  quarura  variae  sunt  naturae  et  nomina; 

630  quod  (ut  obiter  dicam)  brasillico  sermone  valde  usitatum 
est,  diversis  enim  speciebus  diversa  indita  sunt  nomina, 
genera  raro  própria  appellatione  censentur;  itaque  formicae, 
cancri,  muris,  multorumque  aliorum  nulla  est  appellatio 
genérica,  specierum  autem  (quae  infinitae  sunt  propemo- 

635  dum)  nulla  caret  próprio  nomine,  ut  mirari  iure  possis 
tantam  sermonis  copiam  et  varietatem.  Formicarum  ergo 
solum  illae  videntur  commemoratione  dignae,  quae  arbores 
demoliuntur :  içá  58  illis  nomen,  subruíae  sunt,  contritae 
citrum  redolent,  ingentes  sibi  excavant  domos  sub  terra. 

640  Verno  tempore,  Septembri  scilicet,  et  deinceps  examina 
faetuum  59  emittunt  fere  semper  pluviam  et  tonitrua  sub- 
sequente die,  si  sol  viget:  praecedunt  parentes,  et  ore 
inhianti  huc  illuc  discurrentes  omnes  implent  vias,  et  cru- 
deliores  quam  ullo  alio  tempore  morsus  iníigunt  usque  ad 

645  sanguinis  etiam  effusionem ',  subsequuntur  faetus  alati, 
grandiori  corpore,  statimque  evolant  domos  sibi  novas 
conquirentes,  tam  multi  saepenumero,  ut  densam  faciant 
super  aera  nubem;  quocunque  autem  deciderint,  continuo 
terram  effodiunt  singuli  singulas  habitationes  construentes, 

650  post  parvum  autem  intervallum  emoriuntur,  et  ex  cuius- 


633    cancri  ti ;  charla  lacerata  ti 


58  «A  raiva  e  grande  que  come  as  plantas,  igçauba;  as  que  delia 
nascem  com  azas  que  depois  enxameão  e  se  comem  ygçá»  (Leonardo 
do  Vale,  Vocabulário,  verb.  formiga). 

59  «A  descrição  de  Anchieta  é  neste  ponto  sobremodo  imprópria. 
Com  chamar  de  filhos  os  indivíduos  alados  da  saúva,  nada  informa 
com  respeito  à  sua  verdadeira  significação  de  indivíduos  reprodutores, 
machos  (bitús  ou  vitús)  e  fêmeas  (içás),  enquanto  que  os  outros  desti- 
tuídos de  asas  (saúva  no  sentido  restrito),  cuja  qualidade  de  pais  é 
virtualmente  insinuada,  não  passam  de  operários,  isto  é,  indivíduos 
inférteis,  de  sexualidade  abortada»  (O.  Mário). 


54.  -  S.  VICENTE  51  DE  MAIO  DE  1560 


227 


que  ventre  innuraeri  alii  generantur  filii,  ut  mirum  non  sit 
tantam  esse  formicarum  multitudinem,  cum  ex  una  tam 
multae  procreentur. 

Ad  harum  ergo  ex  cavernis  exitura  conveniunt  Indi, 
conveniunt  aves:  conveniunt  Indi,  qui  percupide  hoc  tem-  655 
pus  expectant,  tam  viri,  quam  faeminae ;  deserunt  domos, 
properant,  currunt  magna  cum  laetitia  et  exultatione  ad 
novos  fructus  percipiendos,  accedunt  ad  ostia  cavernarum, 
et  parvas  fossas,  quas  íaciunt,  aqua  implent,  ubi  stantes 
contra  parentum  rabiem  se  tutantur  et  faetus  ex  specubus  660 
exeuntes  capiunt,  implentesque  vasa  sua,  magnas  videlicet 
quasdam  cucurbitas,  redeunt  domum,  torrent  igni  in  testis 
fictilibus,  et  comedunt;  tosti  autem  multis  diebus  servan- 
tur  incorrupti.  Quam  hic  cibus  gustatu  delectabilis,  quam 
saluber  sit,  novimus  hi  qui  experimur.  At  vero  aves  simi-  665 
les  hirundinibus  60,  quarum  tria  sunt  genera,  conglomeran- 
tur  in  aere  prope  innumerae,  easque  íormicas  quae  volatu 
in  altum  evasere,  mira  celeritate  secant  medias,  ventres 
vorant,  caput  cum  alis  et  cruribus  relinquunt;  et  ita  fit  ut 
paucae  admodum  evadant.  670 

21.  Apum  fere  viginti  reperiuntur  genera  diversa,  qua- 
rum aliae  in  arborum  truncis,  aliae  inter  ramos  constructis 
alvearibus,  aliae  subter  humum  mel  generant,  unde  etiam 
fit  ut  caerae  magna  sit  abundantia.  In  vulneribus  curandis 
solo  melle  utimur,  quae  facile  divino  munere  coeunt.  Cum  675 
autem  (ut  dixi)  mellis  multa  sint  genera,  unius  tantum 
meminero,  quod  Indi  eiraaquãyetá,  hoc  est  mel  foraminum 
multorum  dicunt,  quia  muitos  in  alveari  apes  habent 
ingressus.  Hoc  simul  ac  potatur,  omnes  iuncturas  cor- 
poris  occupat,  contrahit  nervos,  dolorem  et  tremorem  680 
immittit,  excitat  vomitum  et  solvit  alvum. 


60  «.Suiriri  são  uns  passarinhos  como  chamarizes,  que  criam  em 
ninhos  nas  árvores,  as  quaes  se  mantêm  com  bichinhos  e  formigas,  das 
que  têm  azas,  a  que  em  Portugal  chamam  agudes»  (Soares  de  Sousa, 
Tratado  275).  O  suiriri  é  o  «nome  indígena  do  nosso  bem-te-vi»  (T.  Sam- 
paio, O  Tupi  na  Geographia  Nacional  309). 


228 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


Muscarum  et  culicum,  qui  sanguinem  sugentes  accer- 
rime  pungunt,  plurima  copia  in  sylvis,  maxime  estivo  tem- 
pore  cum  exundant  campi;  os  habent  alii  et  crura  oblonga 

685  et  subtilissima,  perforant  pellem  et  sanguinem  exugunt, 
donec  toto  corpore  referto  ac  distento  vix  possint  avo- 
lare01.  Adversum  hos  remedium  íumus  est,  quo  dissipan- 
tur.  Alii  qui  marina  aestuaria  incolunt,  marigui  vocitati, 
dira  lues;  modici  sunt  admodum,  vix  possis  visu  perci- 

690  pere ;  pungeris,  nec  pungentem  vides ;  ureris,  nec  usquam 
est  ignis,  unde  tibi  id  molestiae  tam  súbito  illatum  sit, 
ignoras;  si  scalpas  unguibus,  maius  damnum  contrahis, 
per  duos  aut  tres  dies  ardor  ille,  quem  intulerunt  corpori, 
subinde  reviviscit  et  excitatur. 

695  22.  Avium  vero  quanta  sit  diversitas  variis  coloribus 
decorata,  non  facile  est  explicare.  Psittaci  frequentiores, 
quam  istic  corvi,  et  hi  quidem  diversorum  generum,  omnes 
esui  apti,  quorum  alii  sistendae  conducunt  alvo;  alii  huma- 
nas vocês  imitantur;  alii,  qui  comedendo  millio,  cum  iam 

700  granatum  est,  operam  impendentes  catervatim  volitant,  ita 
se  gerunt,  cum  ad  pastum  descendunt,  ut  semper  unus  aut 
duo  in  summo  arboris  cacumine,  velut  in  specula,  rema- 
neant;  qui  omnem  speculantes  quoquo  vefsus  locum,  si 
quem  appropinquare  cernunt,  receptui  canunt,  et  aufugiunt 

705  omnes;  [91V]  si  vero  nihil  imminet  periculi,  cum  illi  satu- 
rati  fuerint,  ascendunt,  et  descendunt  ad  pastum  specula- 
tores. 

Sunt  et  struthiocameli G2,  quibus  mira  corporis  magni- 
tudo  volatum  negat. 


61  «Pernilongas  (moriçocas  na  Baía,  carapanãs  na  Amazónia),  dfpte- 
ros  da  família  dos  Culicídeos,  representada  no  Brasil  por  grande  cópia 
de  géneros  e  numerosíssimas  espécies.  A  ação  maléfica  destes  hema- 
tófagos  junto  à  espécie  humana,  a  que  transmitem,  entre  outras  molés- 
tias, o  paludismo  (as  sezões,  as  maleitas,  as  intermitentes  da  língua 
popular)  e  a  febre  amarela,  era  então,  e  durante  ainda  mais  de  três 
séculos,  completamente  insuspeita»  (O.  Mário).   Friederici,  o.  c.  395. 

62  Cardim  dá-lhes  o  nome  tupi  de  nhanduguaçu  ( Tratados  56) ; 
Soares  de  Sousa  nhandu  {Tratado  260). 


34.  -  S.  VICENTE  51  DE  MAIO  DE  1560 


229 


Sunt  et  alii  passerculi,  guainumbi^  appellati,  omnium  710 
minimi;   rore  64   solum   pascuntur;   quorum   cura  varia 
sint  genera,  unum  afíirmant  oranes  ex  papilione  pro- 
creari 65. 

Est  alia  avis  corvo  similis,  rostro  tamen  cum  ansere 
communis,  quae  se  fluminibus  immergens  multo  tempore  715 
versatur  sub  aqua  pisces  vorans. 

Est  et  alia  parva  quidem  corpore,  sed  cum  alas  quatit, 
tam  vehementera  facit  strepitum,  ut  ad  terram  arbores 
ruere  videantur. 


71a   affirmant  omnes  bis  postei iore  dei. 


63  <<É  o  chupa-flor,  pica-flor  ou  beija-flor,  nome  genérico  da  famí- 
lia dos  Troquilídeos»  (A.  Machado). 

64  «É  das  afirmações  mais  pitorescas  esta  de  que  os  beija-flores 
vivem  à  custa  do  orvalho,  isto  é,  da  água,  tanto  mais  pura  quanto  é  ela, 
no  caso,  o  fruto  da  condensação  recente  da  humidade  atmosférica,  sob 
a  baixa  temperatura  da  manhã.  Em  verdade,  mau  grado  não  despra- 
zerem  eventualmente  o  mel  das  flores,  como  querem  os  poetas,  os 
beija-flores  alimentam-se  principalmente  de  pequenos  insetos,  que 
sabem  procurar  também  em  outros  sítios,  como  nas  teias  de  ara- 
nha, etc.»  (O.  MÁRIO).  A  esta  nota  acrescenta  A.  Machado:  «G.  Soares, 
observador  admirável,  afirma  isso  mesmo...  comem  [os  beija-flores] 
aranhas  pequenas  e  /asem  os  seus  ninhos  das  suas  teias;  têm  as  asas 
pequenas  e  andam  sempre  bailando  no  ar  espreitando  as  aranhas-»  (o.  c. 
p.  216).  A  citação  de  Soares  de  Sousa  acha-se  p.  274  da  3.*  edição 
(a  de  que  aqui  nos  servimos)  do  Tratado. 

65  «Era  essa  a  crença  do  tempo  (cf.  F.  Cardim,  o.  c.  p.  52),  assim 
explica  em  Wappaeus  (o.  c.  p.  383):  É  interessante  observação  de  Bates 
de  que  ao  lado  das  maiores  borboletas  esfíngides,  a  Macraglossa  annu- 
losa  esvoace  o  pequeno  beija-flor,  Lophornis  Gouldii,  em  busca  das 
mesmas  flores.  Por  tal  forma  se  iludiu  este  observador,  que  algumas 
vezes  em  sua  caçada  atirava  sobre  uma  borboleta,  supondo  apontar 
para  um  pequeno  pássaro:  É  deste  facto  que  resulta  a  crença  dos  indí- 
genas de  que  as  borboletas  se  transformam  em  pássaros»  (A.  Machado). 
O  anotador  refere-se  à  tradução  portuguesa  feita  no  Brasil,  em  1884, 
do  livro:  J.  C.  Wappâus,  Handbuch  der  Geographie  und  Geschichie  des 
Kaiserreichs  Brasilien.  Leipzig  1871.  Cf.  Manual  Bibliográfico  de  Estu- 
dos Brasileiros  (Rio  de  Janeiro  1949)  342. 


250 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


720  Est  et  alius  passer  marinus,  guará66  nomine,  mergo 
aequalis,  sed  tibiis  longioribus,  collo  itidem  producto,  pro- 
tento  et  adunco  rostro;  cancris  pascitur,  voracissiraus  est. 
Hic  perpetuam  quandam  in  se  metamorphosim  experiturl 
in  prima  enim  aetate  pinnis  albis  induitur,  quae  deinde  in 

725  cinericium  colorem  mutantur,  post  aliquod  tempus  albes- 
cunt  iterum,  minore  tamen,  quam  in  prima  aetate,  candore, 
purpúreo  demum  ac  pulcherrimo  colore  decorantur ;  quae 
apud  Brasilles  in  magno  sunt  pretio,  illis  enim  ad  capillos 
ornandos  et  brachia  in  suis  utuntur  solennitatibus. 

730  Est  et  alius  marinus  anati07  similis,  cui  alarum  loco  sunt 
párvula  membra  molli  vestita  lanugine ;  pedes  fere  ad  cau- 
dam,  ita  ut  corpus  sustinere  nequeant,  qui  ei  natandi  solum, 
cum  nec  volare  possit,  nec  ambulare,  usum  praebent. 

Rapacium  volucrum  multa  sunt  genera,  quarum  aliquae 

735  tanta  sunt  corporis  magnitudine,  ut  cervos  etiam  occidant 
et  discerpant;  maxime  una,  cui  cum  est  in  nido,  non  solum 
parentes,  qui  peculiarem  eius  curam  gerunt,  sed  omnes 
etiam  aliae  aves,  quae  raptu  vivunt,  tanquam  principi  ali- 
menta convehunt ;  habet  etiam  hoc,  quod  multis  diebus 

740  inediam  patiens  nihil  detrimenti  capit68.  De  alia,  ex  rapa- 
cium etiam  genere,  accepi  quae  nuper,  cum  in  arboris 
cacumine  constructo  nido  foveret  pullos,  ascendente  aucupe, 
ut  eos  raperet,  non  avolavit,  sed  expansis  alis  faetus  suos 


734    quae  sup. 


66  Guará,  da  família  dos  Ibibídeos  (Eudocimus  ruber  L.).  (A. 
Machado).  «Este  é  o  mais  maravilhoso  pássaro  desta  Província» 
(JAcome  Monteiro,  Relação  425) ;  Friederici,  o.  c.  277. 

67  «Visivelmente  um  Podicipedídeo,  provavelmente  Podilimbus 
podiceps  L.,  conhecido,  como  os  seus  afins,  pelo  nome  de  mergulhão 
na  onomástica  popular»  (O.  Mário). 

68  «Refere-se  Anchieta  aos  gaviões  de  penacho  ou  reais,  Morphnus 
guyanensis  Daud.  ou  Trasaè/us  harpya  L.  Nada  há  a  acrescentar  quanto 
à  valentia  da  ave;  mas  na  observação  biológica  há  preconceito  absurdo 
e  evidente»  (O.  Mário).  Sobre  o  gavião  real,  cf.  Melo-Leitão,  Zoo- 
-geografia  do  Brasil  264-265. 


34.  -  S.  VICENTE  31  DE  MAIO  DE  1560 


251 


protegens  mansit  immobilis,  patiens  se  capi  potius  quam 
illos  derelinquere.  745 

Est  alia,  quae  anhima^  dicitur,  ingenti  corpore ;  cum 
emittit  vocem,  asinum  rudere  credas;  habet  in  singulis 
alis  tria  velut  comua70,  unum  item  in  capite,  qualia  galli- 
naceorum  calcaria,  multo  tamen  durioraj  impugnantes  se 
canes  non  íugit,  licet  ei  corporis  magnitudo  volatum  non  750 
impediat,  sed  eos  armatis  alis  graviter  vulnerans  a  se 
abigit. 

Sunt  item  gallinae  sylvestres,  quarum  tria  genera71, 
perdices,  phasiani,  necnon  aliae  aves  totae  purpureae,  viri- 
des  aliae,  aliae  pallidae,  multiplicique  colorum  varietate  755 
conspicuae.  Haec  quoad  animalia. 

23.  De  herbarum  autem  arborumque  ratione  illud  nolui 
non  attingere,  quod  hae,  quibus  ad  victum  utimur,  radices, 
quae  dicuntur  mandioca™,  venenosae  sunt,  et  ex  natura  sua 
nocent,  nisi  ad  vescendum  industria  aptentur  humana:  760 
homines  necant,  si  crudae,  assae,  aut  coctae  comedantur; 
eas  tamen  sues  et  boves  etiam  crudas  edunt  impune,  at 
succum,  qui  ab  eis  exprimitur,  si  potaverint,  continuo  in 
tumorem  conversi  pereunt.  Sunt  aliae  radices  yeticopê  73 
nomine,  rapis  similes,  gustu  suaves,  tussi  mitigandae,  765 
pectorique  emoliendo  satis  congruae,  quarum  sémen,  quod 
fabis  est  simile,  praesentissimum  venenum  est. 


75a    abigit]  Haec  quoad  animalia  dei. 


69  Anhima.  Cf.  Friederici,  o.  c.  52. 

70  «Engana-se  Anchieta  em  dar  a  estas  aves  três  esporões  em  cada 
asa:  só  têm  dois  em  cada  uma»  (Lara  Ordõnhez,  Collecção  de  Noti- 
cias 1  176). 

71  «Faz-se  aqui  alusão  às  aves  Tinamiformes  (perdis,  codornas, 
inambús,  jaós,  macucos)  e  Galiformes  (urús,  jacils,  jacutingas,  mutunsj» 
(O.  Mário). 

72  Manhiot  utilíssima  Pohl.  Cf.  Friederici,  o.  c.  380;  Mon.  Bras.  I 
529;  «  477 

73  «Yeticopê,  que  não  deixa  dúvida  quanto  à  sua  identidade  com  o 
Jacatupé  (Pachyrhizus  bulbosus  (L.)  Britton»  (Hoehne,  Botânica  99). 


252 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


Inter  alias  herba  quaedam  est  frequens  ubique  (quam 
saepe  vidimus  et  tetigimus)  quam  vivam  dicimus,  quod 

770  velut  sensu  aliquo  vigere  videatur;  eam  enim  sive  levis- 
sime  sive  manu,  sive  quovis  alio  contingas  corpore,  conti- 
nuo in  sese  recepta  folia  se  copulant,  et  velut  conglutinant, 
deinde  post  aliquantulum  morae  se  iterum  explicant74. 
24.    Arborum  una  videtur  relatu  digna  (licet  aliae  sint 

775  humore  resinae  simili  ad  medicamenta  utili  distillantes) 
quae  suavissimo  quodam  stillat  sueco,  quem  balsamum 
esse  volunt;  qui  principio  quidem  per  párvula  foramina, 
quae  fiunt  a  teredine,  vel  cultrorum  etiam  aut  securium 
incisuras  velut  oleum  effluit,  deinde  in  se  concretus  bal- 

780  sami  videtur  speciem  referre;  odorem  emittit  non  nimium, 
sed  suavissimum;  et  vulneribus  curandis  est  congruentissi- 
mus,  ita  ut  ne  cicatricis  quidem  intra  breve  spatium  (quod 
iam  experimento  comprobatum  ferunt)  remaneat  vesti- 
gium 75 . 

785  Sunt  et  aliae  arbores,  quae  marina  aestuaria,  in  quibus 
producuntur,  replent  undequaque;  quarum  radices  aliae  a 
médio  fere  stipite,  aliae  ab  eo  loco,  unde  rami  erumpentes 
sursum  tendunt,  productae,  lanceae  fere  longitudine,  ver- 
gunt  ad  terram  paulatim,  donec  post  muitos  dies  eo  per- 

790  veniant76. 

In  habitatione,  quae  dicitur  Spiritus  Sanctus,  est  quae- 
dam arbor77  satis  frequens,  et  procera  valde,  cuius  fructus 
mirabilis.  Is  est  ollae  similis,  cui  operculum  velut  torno 
elaboratum,  quo  pendet  ex  arbore,  aperit  sese,  cum  matu- 
795  ruerit,  tum  apparent  intus  fructus  multi  castaneis  persimi- 
les,  tenuibus  telis,  velut  septis  interpositis  discreti,  gustatu 
admodum   iucundi.   Vas,  seu  olla,  ubi  clauduntur,  non 


74  Sensitiva  (Mimosa  pudica  L.  ou  M.  sensitiva  L.).  Conhecida  por 
«dormideira»  (Id.,  ib.  100). 

75  Copaiba.  Dão  o  nome  Cardim  {Tratados  62)  e  Soares  de  Sousa 
(Tratado  227).   Cofiai/era  officinalis  L.  (HOEHNE,  Botânica  100). 

76  Mangue,  segundo  Hoehne,  ib.  101.  Cf.  supra,  o  vocábulo  «man- 
gues», usado  por  António  de  Sá,  p.  40. 

77  Sapucaia  (Lecythis  Pisonis  Camb.).  (Id.,  ib.  101). 


34.  -  S.  VICENTE  51  DE  MAIO  DE  1560 


255 


minore,  quam  lapidis  duritia,  cuius  magnitudinem,  ex  cas- 
taneis,  quas  continet,  quae  quinquagesimum  numerum  exce- 
dunt,  facile  poteris  coniicere.  800 

Sunt  praeterea  pinus 78  stupendae  proceritatis,  quae  longe 
lateque  propagantur,  sex  aut  septem  milliarium  spatium 
complentes;  quarum  fructus  Indi  peculiari  nomine  (quod 
alioqui  cunctis  fructibus  commune  est)  ibâ,  id  est,  fructus 
antonomastice  vocant.  Sunt  ii  ad  similitudinem  nostratium  805 
oblongi,  sed  multo  grandiores,  molli  cortice,  castanearum 
nuco  simili;  has  arbores  caetera,  quae  versus  septentrio- 
nem  sunt,  loca  non  ferunt. 

Arborei  fructus  diversi  sunt,  erratici,  ad  esum,  apti, 
multi  suavissimi  odoris,  valdeque  gustatu  delectabiles.  810 

25.  Ad  medicinam  utiles  sunt  multae  tum  arbores,  tum 
herbarum  radices ;  sed  de  iis  maxime,  quae  ad  purgationes 
faciendas  prosunt,  pauca  referam.  Arbor  quaedam  est,  ex 
cuius  cortice  cultris  inciso,  aut  ramo  fracto  liquor  emanat 
albus  lacti  similis,  sed  densior,  qui  si  modice  bibatur,  alvum  815 
citat,  et  stomachum  purgat  per  vomitum  cum  máxima  vio- 
lentia ;  si  autem  modus  vel  minimum  excedatur,  occidit. 
Tantum  vero  ex  eo  bibere  oportet,  quantum  ungue  capia- 
tur,  idque  multa  aqua  dilutum;  quod  ni  fiat  vehementer 
excruciat,  fauces  urit  et  necat79.  820 

Est  et  radix  quaedam  ad  idem  utilíssima,  frequens  in 
campis;  raditur  et  aqua  diluta  bibitur ;  haec  licet  vomitum 
excitet  satis  violenter,  tamen  sine  vitae  discrimine  potatur. 
Est  item  alia,  radix  barbara  vulgo  appellata,  an  autem  ea 
sit,  iudicent  qui  norunt80;  Marareçô  Indi  vocant,  folia  aco-  825 


823    tamen  sup. 


78  «Araucária  angustifolia  (Berti.)  O.  Kuntz,  e  que  até  poucos 
annos  vigorava  como  A.  Brasiliana  Lamb.»  (Id.,  ib.  ior). 

79  Gandavo  chama-lhe  obirá  paramaçaci  {História  da  Província 
Santa  Cruz  100).  «Indubitavelmente  se  trata  de  uma  Apocynacea, 
provavelmente  Aila  manda  Blanchetii  A.  D.  C.»  (Hoehne,  Botânica  172). 

80  Deste  período,  as  palavras  correspondentes  a  «vulgo  appellata 
—  norunt» :  «chamada  vulgarmente  raiz  bárbara,  se  é  ela  realmente 
julguem  os  que  o  sabem»,  não  vêm  nas  Cartas  de  Anchieta  (1933). 


234 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


ris  sunt  similia,  radix  parva  et  rotunda,  quae  aut  comeditur 
assa,  aut  contrita  ex  aqua  et  nocte  una  sub  dio  exposita 
potatur81. 

Alia  inventa  est  nuper,  quae  in  máximo  pretio  habetur, 
nec  immerito;  ea  oblonga  est  et  tenuis,  macerata  et  aqua 
diluta  servatur  unius  noctis  spatio,  mane  hauritur  sine  diffi- 
cultate,  nec  nauseam  movet,  nec  gignit  fastidium  ;  solvit 
autem  alvum  cura  abundanti  profluvio,  quae  sumpto  cibo 
statim  sistitur82;  quod  et  his  quae  proxime  retuli  commune 
est.  Multa  sunt  alia  praeter  haec,  quae  ad  solvendam  alvum 
valent  plurimum,  cum  ad  stringendam  (praeter  quarundam 
arborum  fructus)  nullum  fere  remedium  efficax  reperiatur. 

26.  In  lapidibus  etiam,  quod  mireris,  et  unde  Maximi 
Optimique  Dei  omnipotentiam  extollas,  invenies,  maxime 
in  uno  qui  acuendis  gladiis  utilis  est;  sed  hoc  habet 
mirum,  quod  tractabilem  se  manibus,  velut  corium  prae- 
bet  [92r]  quamcumque  eius  partem  tetigeris,  velut  quodam 
nexu  haerentem  moves,  ita  ut  non  unus  lápis,  sed  multi 
diversis  iuncturis  compacti  esse  videantur. 

Sunt  in  quodam  ilumine  ab  hostibus  habitato  30  fere  a 
Piratininga  milliaribus  conchae  plurimae,  in  quibus  gignun- 
tur  lapilli  quidam  pellucidi,  quos  uniones  esse  volunt; 
magnitudo  eorum  ut  ciceris,  nonnulli  etiam  grandiores. 

27.  Haec  habui,  quae  de  arboribus,  herbis  ac  lapidibus 
dicerem.  De  iis  autem,  quae  Indos  terrere  solent,  noctur- 
nis  occursaculis,  seu  potius  daemonibus  pauca  subinferam. 
Notum  est  et  in  omnium  ore  versatur,  esse  quosdam  dae- 
mones,  quos  Brasilles  vocant  corupira,  qui  saepe  in  sylvis 
adoriuntur  Indos,  flagris  caedunt,  macerant  et  necant 83. 


81  Hoehne  identifica  a  «raiz  bárbara»  e  o  «marareçô»  com  o  «rui- 
barbo do  campo»  e  o  «barririçô»,  plantas  comuns  nos  campos  dos 
arredores  de  São  Paulo  (Botânica  102). 

82  Cardim  descreve  a  «ipecacoya»  (que  depois  se  grafou  «ipeca- 
cuanha») com  aplicação  e  efeitos  semelhantes  aos  da  planta  que  no 
texto  se  aponta  (Tratados  73-74)- 

83  Espirito,  génio,  gnomo  ou  «diabo  do  mato»,  que  se  descreve 
como  malfazejo  ao  homem  e  ainda  hoje  é  temido  pelos  caboclos  e 


34.  -  S.  VICENTE  31  DE  MAIO  DE  1560 


235 


Huius  rei  Fratres  nostri,  qui  aliquoties  ab  eis  interfectos  855 
viderunt,  testes  sunt.  Solent  propterea  Indi  in  quadam 
via,  quae  per  ásperas  sylvas  et  acclives  montes  in  medi- 
terraneum  ducit,  in  altissimi  omnium  montis  vértice,  cum 
ea  transeunt,  avium  pennas,  flabella,  sagittas  et  alia  huius- 
modi  quasi  oblationis  nomine  relinquere  corupíra,  ne  sibi  860 
noceant,  suramopere  deprecantes. 

Sunt  et  alii  in  fluminibus,  quos  igpupidra8*,  id  est 
aquam  incolentes  dicunt,  qui  similiter  Indos  perimunt. 
Non  longe  a  nobis  íluvius  est,  quem  christiani  habitant, 
quem  tranantes  olim  Indi  parvis  lintribus,  quas  ex  uno  865 
ligno  aut  cortice  conficiunt,  antequam  eo  christiani  con- 
venirent,  saepe  ab  his  summergebantur.  Sunt  et  alii  in 
littoribus  maxime,  secus  mare  et  ilumina  versantes,  qui 
baè  tatá,  hoc  est  res  ignis  appellantur,  quod  idem  est  ac  si 
dicas  aliquid  quod  totum  est  ignis.  Apparet  noctu  nihil  870 
aliud,  quam  ignis  scintillans  huc  illuc  discurrens  celer- 
rime  85,  invadit  Indos  et  necat,  sicut  et  corupíra;  quid  hoc 
sit  adhuc  non  constat.  Sunt  et  alia  huiusmodi  terricula- 
menta,  quae  Indis  non  solum  terrori,  sed  damno  etiam 
sunt;  nec  mirum,  cum  his  et  similibus,  quae  longum  esset  875 
recensere,  velit  Daemon  his  Brasillibus,  qui  Deum  ignorant, 
se  reddere  formidabilem,  saevissimanque  in  eos  tyrannidem 
exercere. 

28.    De  his  Brasillibus  ultimo  loco  referam,  quod  nullum 
fere  inter  eos  invenies  deformitate  aliqua  affectum  naturali,  880 
raro  caecum,  surdum,  mutilum,  aut  claudum,  reperies,  nul- 


858  altissimi  corr.  ex  altíssimo  ||  865  quem  corr.  ex  quod  ||  870  ignis  ta;  charla 
laceraía  ti 


índios  de  língua  geral.  Conhecemos  pessoalmente  um  desses  ambien- 
tes (o  do  Rio  Negro)  na  nossa  juventude  amazónica.  Sobre  este  ente 
fantástico  e  as  diversas  interpretações  da  lenda,  há  bastante  literatura. 
Cf.  Métraux,  La  religion  des  Tupinamba  64-66;  Friederici,  o.  c.  230. 

84  Cf.  Métraux,  o.  c.  66. 

85  É  o  fogo-fátuo. 


236 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


lum  prodigiose  genitum.  Nuper  tamen  in  quodam  Indorum 
oppido,  uno  aut  altero  a  Piratininga  milliario,  nata  est 
infantula,  vel  potius  monstrum,  cui  nasus  ad  mentum 

885  usque  deductus,  sub  mento  os,  pectora  cum  tergo  lacerto 
fluviatili86  similia,  horrendis  squamis  obsita,  genitale  mem- 
brum  fere  ad  renes;  quam  pater  suus,  ut  primurn  est  edita, 
humari  fecit  vivam ;  qua  etiam  morte  multant  eos,  quos 
adultério  conceptos  suspicantur.  Non  minus  íortasse  mirum, 

890  quod  nuper  Piratiningae  sus,  qui  adhuc  vivit,  ut  credo, 
androgynus  natus  est. 

Haec  brevibus,  ut  potui,  quanvis  multa  alia  notatu 
digna,  quae  nobis  adhuc  ut  parum  expertis  incógnita  sunt, 
esse  non  dubitem.  Rogamus  Ínterim  eos,  qui  in  his  legen- 

895  dis  aut  audiendis,  capient  voluptatem,  nonnihil  velint  pro 
nobis,  et  huius  regionis  conversione  orantes  capere  laboris. 

Exaratum  Sancti  Vincentii  (quae  ultima  est  in  índia  Bra- 
sillica  vergens  ad  austrum  Lusitanorum  habitatio)  anno 
Domini  1560  sub  finem  mensis  Maii. 

900      Minimus  Societatis  Iesu, 

Ioseph. 

[92V,  Endereço  autógrafo:}  +  Reverendo  in  Christo  Patri 
Iacobo  Laynez,  Praeposito  Generali  Societatis  Iesu.  2.a  via. 


899    1560  bis  priore  dei. 

86   «Lagarto  do  rio»,  a  saber,  «o  jacaré»  (cf.  supra  §  7). 


55.  -  S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1560 


237 


35 

DO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
AO  CARDEAL  INFANTE  D.  HENRIQUE 
DE  PORTUGAL 

S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1560 

I.  Bibliografia:  B.  Machado  III  319;  Catalogo  dos  Manuscrip- 
tos  1  23;  Cimélios  495;  Inocêncio-Brito  Aranha  xvi  (1893)  414;  Som- 
mervogel  v  1782  n.  21 ;  Streit  11  347  n.  1272 ;  Leite,  História  ix  10 
n.  30. 

II.  Autores:  Leite,  História  I  193  214  377  378  381;  II  151  466; 
Mariz  161  164-169 ;  Tito  Lívio  Ferreira  191. 

III.  Texto:  1.  ARSI,  Bras.  j-i,  ff.  I53r-i54v  [antes  47or-47iv]. 
No  cimo,  à  margem,  «Copia»;  e  no  fim,  cota,  tudo  da  mesma  letra  do 
texto:  «Brasil  —  1560.  Copia  de  numa  do  Padre  Manoel  da  Nóbrega 
para  o  Cardeal  Infante  de  Portugal,  do  i.°  de  Junho  de  560»  [f.  154V]. 
Bela  letra  caligráfica.    Apógrafo  em  português. 

2-  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  ff.  Ó7r-69v.  Título:  «Copia  de  numa  do  P.e  Manoel  da  Nóbrega 
que  escreveo  ao. . .  o  primeiro  de  Junho. . .».  O  códice  está  lacerado, 
principalmente  a  f.  õ^t-ô^v,  a  que  falta  já  toda  a  parte  central;  também 
a  f.  68r-68v  está  em  partes  ilegível.   Apógrafo  coevo  em  português. 

IV.  Impressão:  Julii  Gabrielii  Eugubini,  Orationum  et  episto- 
larum  Libri  duo  (Venetiis  1569)  ff.  44b-52b;  Silva  Lisboa,  Annaes  do  Rio 
de  Janeiro  vi  (Rio  de  Janeiro  1835)  102-111;  Revista  do  Instituto  Histó- 
rico e  Geográfico  Brasileiro  V  (Rio  de  Janeiro  1843)  328-334;  INOCÊNCIO, 
in  Chronica  de  Vasconcelos  11  (Lisboa  1865)  312-317 ;  Melo  Morais, 
O  Brasil  Histórico  1  2.a  série  (1866)  115-118;  Vale  Cabral  (1886)  169-176 ; 
(1831)  220-228;  Leite,  Cartas  de  Nóbrega  (Coimbra  1955)  360-370. 

V.  História  da  Impressão :  Julio  Gabrielli  [de  Gubbio]  dá  a  tra- 
dução latina  [Streit]  ;  Melo  Morais  transcreve-a  do  ms.  dos  Annaes 
de  Silva  Lisboa,  existente  na  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro 
com  este  título,  «Como  Mem  de  Sá  foi  mandado  a  lançar  fora  os  Fran- 
cezes  do  Rio  de  Janeiro;  tomou  a  fortaleza  de  Villegaignon  e  voltou 
para  a  Bahia»  [Catalogo  dos  Manuscriptos  1  23];  Leite  imprime  o 
texto  1,  tendo  presente  o  texto  2;  os  mais  tiveram  conhecimento  do 


238 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  D.  HENRIQUE  DE  PORTUGAL 


texto  do  Rio  de  Janeiro  (2),  que  aliás  não  difere  do  texto  de  Roma  (1) 
senão  nalguma  variante  sem  significação;  mas  na  impressão  de  1931 
houve  salto  de  uma  ou  outra  palavra. 

VI.   Edição:  Reimprime-se  o  texto  1  (Brás.  j-zj. 

Textus 

1.  Respondei  Principi  et  enumerai  quae  Mendus  de  Sá  peregit  in 
favorem  gentilium  conversionis.  —  2.  Gubernator  superavit  contradictio- 
nes  et  omnibus  imposuit  et  ordinem  et  legem  christianum.  —  3.  Quare 
muitos  sibi  fecit  inimicos.  —  4.  Bellum  apud  «Ilhéus»  et  Gubernatoris 
Victoria.  —  5.  Bellum  apud  «.Paraguaçu»  quo  gentiles  império  Lusitano- 
rum  subiecit.  —  6.  Gentiles  iam  catechisari  possent  si  adessent  Paires.  — 
7.  Gubernator  parabat  vindicare  necem  Episcopi  quum  e  Portugália  per- 
venit  classis.  —  8.  Cum  qua  statuit  et  gallos  Flumine  Ianuario  expellere 
et  in  Praefectura  Spiritus  Sancti  ânimos  erigere.  —  9.  Consilium  erat 
arcem  Fluminis  Ianuarii  oppugnare  noctu  sed,  decepto  navis  duce,  classis 
procul  ancoras  gessit.  —  10.  Capta  esl  navis  gallica,  sed  oppugnatio 
areis  videbatur  impossibilis.  —  11.  Duces  classis  non  bene  coniuncti  erant 
cum  Gubernatore,  scientes  eum  inimicos  habere  in  Portugália.  —  12.  Sed 
prudens  Gubernator  sibi  conciliavit  omnium  ânimos,  quod  Nóbrega 
cognovit  quia  res  per  suas  ipsius  manus  deferebantur.  —  13.  Expugnatur 
insula  et  arx  fugamque  capiunt  Galli  et  Indi.  —  14.  Galli  sequebantur 
haereses  Germaniae  et  pueros  gentilium  Genevam  ad  Calvinum  mittebant 
et  etiam  Villegaignon  aliquos  secum  duxerat.  —  15.  Vox  erat,  si  Gallia 
eos  non  foveret,  foedus  eos  esse  icturos  cum  Turcis  ad  oppugnandas  tum 
Indiae  naves  tum  ipsam  Indiam.  —  16.  Galli  inter  Indos  manent  auxi- 
liumque  e  Gallia  exspectant  et  metalla  intendunt  invenire.  —  17.  Necesse 
est  ut  Flumine  Ianuario  urbs  lusitana  aedificetur  sicut  Bahiae  ad  omnia 
custodienda.  —  18.  Opus  est  ut  in  Brasiliam  plures  mittantur  viri  ad 
habitandum  quam  ad  militiam.  —  19.  Post  expugnationem  areis  profecta 
est  classis  S.  Vincentium  ubi  Nóbrega  remanet. 


Jesus 
Senhor 

A  paz  de  Christo  Noso  Senhor  seja  sempre  em  contino 
favor  e  ajuda  de  Vossa  Alteza. 
5      1.    O  anno  passado  de  1559  me  derão  huma  de  Vossa 
Alteza  em  que  me  manda  que  lhe  escreva  e  avise  das  cou- 


35.  -  S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1560 


259 


sas  desta  terra  que  elle  deve  saber  1.  E  pois  assi  mo  manda 
lhe  darei  conta  do  que  V.  A.  mais  folgará  de  saber  que  hé 
da  conversão  do  gentio,  a  qual,  depois  da  vinda  deste  Gover- 
nador Men  de  Saa,  creceo  tanto  que,  por  falta  de  operários 
muytos,  deixamos  de  fazer  muyto  fruyto.  E  todavia  com 
esses  poucos  que  somos  se  fizerão  quatro  igrejas  em  povoa- 
ções grandes2,  onde  se  ajuntou  muyto  numero  de  gentio 
pola  boa  ordem  que  a  isso  deu  Men  de  Saa  com  os  quais 
se  faz  muyto  fruyto,  pola  sogeição  e  obediência  que  tem  ao 
Governador;  e  emmentes  durar  o  zelo  delle  se  irão  ganhando 
muytos,  mas,  cessando,  em  breve  se  acabará  tudo,  ao  menos 
entretanto  que  não  tem  ainda  lançadas  boas  raizes  na  fee 
e  bons  custumes. 

2.  A  causa  porque  no  tempo  deste  Governador  se  faz 
isto  e  não  antes,  não  hé  por  agora  aver  mais  gente  na  Bahia, 
mas  porque  pode  vencer  Men  de  Saa  a  contradição  de  todos 
os  Christãos  desta  terra,  que  era  quererem  que  os  índios  se 
comessem,  porque  nisso  punhâo  a  segurança  da  terra  e  que- 
rerem que  os  índios  se  furtassem  huns  aos  outros  pera  elles 
terem  escravos  e  quererem  tomar  as  terras  aos  índios  con- 
tra rezão  e  justiça  e  tiranizarem-nos  por  todas  as  vias,  e 
não  que  rerem  que  se  ajuntem  pera  serem  doutrinados  por 
os  terem  mais  a  seu  propósito  e  de  seus  serviços,  e  outros 
inconvenientes  desta  maneira,  os  quais  todos  elle  vence,  a  3 
qual  eu  não  tenho  por  menor  victoria,  que  as  outras  que 
Nosso  Senhor  lhe  deu;  e  defendeo  a  carne  humana  aos 
índios  tão  longe  quanto  seu  poder  se  estendia,  a  qual  antes 
se  comia  ao  redor  da  cidade  e  às  vezes  dentro  nella,  pren- 
dendo os  culpados,  e  tendo-os  presos  até  que  elles  bem  3 
conhecessem  seu  erro,  sem  nunca  mandar  matar  ninguém. 

3.  E  isto  soo  abastou  pera  asogiguar  a  muytos  e  obri- 
guá-los  a  viver  segundo  [a]  ley  de  natureza  como  agora  se 


38    natura  tj 


1  Cf.  supra,  carta  24,  nota  1. 

2  Espírito  Santo,  São  Paulo,  S.  João,  Santiago  (Leite,  História  11 
51-54)- 


240 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  D.  HENRIQUE  DE  PORTUGAL 


obrigão  a  viver,  mas  isto  custou-lhe  descontentar  a  muytos 
40  e  por  isso  ganhar  inimigos.  E  certifico  a  V.  A.  que  nesta 
terra,  mais  que  nenhuma  outra,  não  poderá  hum  Governa- 
dor e  hum  Bispo,  e  otras  pesoas  publicas  contentar  a  Deus 
Noso  Senhor  e  aos  homens,  e  o  mais  certo  sinal  de  não 
contentar  a  Noso  Senhor,  hé  contentar  a  todos,  por  estar  o 
45  mal  muy  introduzido  na  terra  por  custume. 

4.  Depois  socedeo  a  guerra  dos  Ilheos,  a  qual  começou 
por  matarem  hum  índio  no  caminho  de  Porto  Seguro,  e  creo 
que  foy  por  desastre,  ou  por  milhor  dizer  querer  Nosso 
Senhor  castigar  aquelles  Ilheos  e  feri-los  pera  os  curar  e 

50  sarar;  e  foy  assi  que,  estando  os  Engenhos  todos  quatro 
queimados  e  roubados  e  a  gente  recolhida  na  Vila  em  muyto 
aperto,  foy  lá  o  Governador  a  socorrer  com  lho  contradi- 
zerem os  mais  ou  todos  da  Bahia  por  temerem  que  ido  elle 
se  poderião  alevantar  os  da  Bahia.   Mas  com  elle  levar 

55  muytos  índios  da  Bahia  consigo,  cessava  todo  este  incon- 
veniente; e  o  que  hé  muyto  pera  louvar  a  Nosso  Senhor 
hé  que  sendo  isto  no  inverno,  em  tempo  de  monçõis  con- 
trairás pera  ir  aos  Ilheos,  na  hora  que  foy  embarcado  lhe 
concertou  o  tempo  e  lhe  veo  vemto  prospero  tanto  quanto 

60  lhe  era  necessário  e  não  mais  nem  menos ;  e  lá  deu-se  tam 
boa  mão  que  em  menos  de  dous  meses  que  lá  esteve  deixou 
os  índios  sogeitos  e  tributários  e  restituirão  o  mal  todo  que 
tinhão  feito  assi  aquelle  presente  como  todo  o  passado,  e 
obrigados  a  refazerem  os  Engenhos,  e  não  comerem  carne 

65  humana,  e  receberem  a  doutrina  quando  ouvesse  Padres 
pera  lha  dar  3.  De  maneira  que  [153V]  já  agora  a  geração 
dos  Topinaquins,  que  hé  muyto  grande,  poderá  também 
entrar  no  Reyno  dos  Ceos. 

5.  Neste  tempo,  que  o  Governador  era  ido  ao  socorro 
70  dos  Ilheos,  socedeo  que  huns  pescadores  da  Bahia  se  des- 
mandarão e  forão  pescar  à  terra  dos  índios  do  Parauaçu, 


45    muy]  assi  12  \\  71    às  terras  ti 


3   Cf.  carta  a  Tomé  de  Sousa,  de  5  de  Julho  de  1559  §  52  (carta  13). 


35. -S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1560 


241 


os  quais  sempre  forão  inimigos  dos  Christãos  posto  que  a 
este  tempo  alguns  tinhão  feito  pazes  com  o  Governador  e 
lá  forão  tomados  e  mortos  quatro  pesoas.  Depois  tornando 
o  Governador  lhes  mandou  pedir  os  matadores  e  por  lhos  75 
não  quererem  dar  lhes  apregoou  guerra  e  foy  a  elles  com 
toda  a  gente  da  Bahia  que  era  pera  pelejar  e  com  muytos 
índios  e  entrou  polo  Parauaçu  matando  muytos,  queimando 
muytas  Aldeãs,  entrando  muytas  cercas  e  destruindo-lhes 
seus  mantimentos,  cousa  nunca  imaginada  que  podia  ser,  80 
porque  geralmente  quando  niso  se  falava  dizião  que  nem 
todo  Portugal  abastaria  por  ser  terra  muy  fragosa  e  chea 
de  muyta  gente;  e  foy  a  vexação  que  lhes  derão  que  elles 
ganharão  entendimento  pera  pedirem  pazes,  e  derão-lhas 
com  elles  darem  dous  matadores  que  tinhão  e  com  resti-  85 
tuirem  aos  Christãos  quantos  escravos  lhes  tinhão  comido, 
e  com  ficarem  tributários  e  sogeitos  e  obrigados  a  recebe- 
rem a  palavra  de  Noso  Senhor  quando  lha  pregassem  4. 
Esta  gente  está  agora  muy  disposta  pera  nelles  se  frutificar 
muyto.  90 

6.  Disto  poderá  Vosa  Alteza  entender  quantos  operá- 
rios de  nosa  Companhia  há  mister  tão  grande  messe  como 
esta,  e  cada  dia  se  irá  fazendo  mayor  tanto  quanto  a  sogei- 
ção  dos  gentios  se  continuar. 

7.  Depois,  sendo  o  Governador  de  muytos  requerido  95 
que  fossem  vingar  a  morte  do  Bispo  e  dos  que  com  elle 
hião,  por  ser  hum  grande  opprobrio  dos  Christãos  e  ser 
causa  dos  índios  ganharem  muyta  soberba  porque  morreo 
ali  muyta  gente  e  muyto  principal:  elle  se  fazia  prestes 
aparelhando  muytos  índios  da  Bahia,  mas  isto  estorvou  100 
a  vinda  da  armada  que  veyo  5. 


8a   todo]  tcdo  o  poder  de  <a 


4  Cf.  ib  §  50. 

5  A  armada  de  Portugal,  comandada  por  Bartolomeu  de  Vascon- 
celos, enviada  para  guardar  a  costa  do  Brasil,  chegou  à  Baía  a  30  de 
Novembro  de  1559  e  saiu  para  o  Sul,  reforçada,  a  16  de  Janeiro  de  1560, 
(Leite,  História  1  377;  Breve  Itinerário  154  160). 

16 


242 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  D.  HENRIQUE  DE  PORTUGAL 


8.  Com  a  vinda  da  qual  se  determinou  de  ir  livrar  o  Rio 
de  Janeiro  de  poder  de  franceses,  todos  lutheranos;  e  partio, 
visitando  algumas  Capitanias  da  costa  até  chegar  ao  Espí- 

105  rito  Santo,  Capitania  de  Vasco  Fernandez  Coutinho,  onde 
achou  huma  pouca  de  gente  em  grande  perigo  de  serem 
comidos  dos  índios  e  tomados  dos  franceses,  os  quais  todos 
pedirão  que  ou  tomasse  a  terra  por  El-Rey  ou  os  levasse  dali 
por  a  não  poderem  já  mais  sostentar,  e  o  mesmo  requeria 

no  Vasco  Fernandez  Coutinho  por  suas  cartas  ao  Governador. 
Depois  de  tomado  sobre  isso  conselho  a  aceitou,  dando  espe- 
ranças que  da  tornada  a  fortaleceria  e  favoreceria  no  que 
pudesse,  por  não  ter  tempo  pera  mais  e  por  não  se  estrovar 
do  negocio,  a  que  vinha,  do  Rio  de  Janeiro.  Esta  Capitania 

115  se  tem  por  a  milhor  cousa  do  Brasil  depois  do  Rio  de 
Janeiro,  nella  temos  huma  casa,  onde  [se]  faz  fruyto  com 
os  Christãos  e  com  os  escravos  e  com  huma  geração  de 
índios  que  ahi  estaa,  que  se  chamão  do  Gato,  que  ahi 
mandou  vir  Vasco  Fernandez  do  Rio  de  Janeiro;  enten- 

120  de-se  também  com  alguns  Topinaquins;  e  se  Noso  Senhor 
der  tam  boa  mão  ao  Governador  à  tornada,  como  lhe 
deu  em  todas  as  outras  partes,  que  os  ponha  a  todos  em 
sojeição  e  obediência,  poder-se-há  fazer  muyto  fruyto, 
porque  este  hé  o  milhor  meyo  que  pode  aver  pera  sua 

125  conversão. 

9.  Dali  nos  partimos  ao  Rio  de  Janeiro  e  asentou-se 
no  conselho  que  darião  de  supito  no  Rio  de  noite  pera 
tomarem  os  franceses  desapercebidos;  e  mandou  o  Gover- 
nador a  hum,  que  sabia  bem  aquelle  Rio,  que  fosse  diante 

130  guiando  a  armada  e  que  ancorasse  perto  donde  podessem 
os  bateis  deitar  gente  [154T]  em  terra,  a  qual  avia  de  ir 
por  certo  lugar,  mas  isto  aconteceo  de  outra  maneira  do 
que  se  ordenava;  porque  esta  guia,  ou  por  não  saber,  ou 
por  não  querer,  fez  ancorar  a  armada  tam  longe  do  porto 

135  que  não  poderão  os  bateis  chegar  senão  de  dia  com  anda- 
rem muyta  parte  da  noite  e  foy  logo  vista  e  sentida  a 
armada. 


109    a'  sup. 


55.  -  S.  VICENTE  1   DE  JUXHO  DE  1560 


245 


10.  No  mesmo  dia  que  chegamos  u  se  tomou  huma  nao 
que  estava  no  Rio  pera  carreguar  de  brasil,  a  gente  delia 
fugio  pera  terra,  e  recolheo-se  na  fortaleza;  tomou-se  con-  140 
selho  no  que  se  faria  e,  vendo  todos  a  fortaleza  do  sitio 
em  que  estavão  os  franceses  e  que  tinhão  consiguo  os 
índios  da  terra,  temerão  de  a  combaterem  e  mandarão 
pedir  ajuda  de  gente  a  S.  Vicente;  mas  os  de  Sam  Vicente, 
sabendo  primeiro  da  vinda  do  Governador  ao  Rio,  já  vinhão  145 
por  caminho7;  e  como  chegarão  determinou-se  o  Governa- 
dor de  os  combater,  mas  toda  a  sua  gente  lho  contradizia 
porque  tinha  já  bem  espiado  tudo  e  parecia-lhes  cousa 
imposivel  entrar  cousa  tam  forte;  e  sobre  isso  lhe  fizerão 
muytos  desacatamentos  e  desobediências.  150 

11.  Mas  eu,  sobre  isto  tudo,  a  mayor  dificuldade  que 
lhe  achava  era  ver  aos  capitães  da  armada  tam  pouco 
unidos  com  o  Governador,  e  ver  tam  pouca  obediência 
em  muytos  toda  aquella  viagem  em  que  me  achey  pre- 
sente. E  isto  naceo  de  se  dizer  publicamente  e  saberem  155 
que  o  Governador  estava  mal  acreditado  no  Reyno  com 

V.  A.  e  que  se  avião  lá  dado  capítulos  delle  por  pesoas 
que  com  paixão  emformarão  lá  mal  a  V.  A ,  e  parece  que 
com  pouca  rezão,  porque  as  mais  das  cousas  me  passavão 
pola  mão,  como  terceiro  que  era  nellas,  pera  as  remediar.  160 
E  por  isso  quem  quer  se  lhe  atrevia  e  por  dizer  que  tinha 
lá  imigos  no  Reyno  e  poucos  que  favorecessem  sua  causa, 
o  que  lhe  tirou  muyto  a  liberdade  de  bem  governar;  mas 
agora  ouça  V.  A.  as  grandezas  de  Nosso  Senhor. 

12.  E  a  primeira  me  parece  que  foy  dar  Nosso  Senhor  165 
graça  ao  Governador  pera  saber  sofrer  tudo  e  dar-lhe  pru- 
dência pera  em  tal  tempo  saber  trazer  as  vontades  de  todos, 
tam  contrairás  à  sua,  a  condescenderem  com  aquillo  que 
elle  entendia  e  Nosso  Senhor  lhe  inspirava,  e  foy  assi  que 


6  A  armada  chegou  ao  Rio  a  18  de  Fevereiro  (ib.  160). 

7  Entre  os  de  São  Vicente,  mandou  o  Superior  P.  Luís  da  Grã  ao 
P.  Fernão  Luís  e  Ir.  estudante  Gaspar  Lourenço  para  confessar  os 
soldados  e  ensinar  os  índios  (Leite,  História  1  377). 


244  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  D.  HENRIQUE  DE  PORTUGAL 


170  a  huns  por  vergonha  a  outros  por  vontade  lhe  pareceo  bem 
de  cometerem  a  fortaleza. 

13.  A  2.a  maravilha  de  Nosso  Senhor  foy  que  depois 
de  combatida  dous  dias  e  não  se  podendo  entrar  e  não 
tendo  já  os  nossos  pólvora  mais  que  a  que  tinhão  nas 

175  camarás  pera  atirar,  e  tratando-se  já  como  se  poderião 
recolher  aos  navios  sem  os  matarem  todos,  e  como  pode- 
rião recolher  a  artelharia  que  avião  posto  em  terra, 
sabendo  que  na  fortaleza  estavão  passante  de  60  france- 
ses de  peleja  e  mais  de  800  índios  e  que  erâo  já  mortos 

180  dos  nossos  10  ou  12  homens  com  bombardas  e  espinguar- 
das:  mostrou  então  Noso  Senhor  sua  misericórdia  e  deu 
tam  grande  medo  nos  franceses  e  nos  índios,  que  com  elles 
estavão,  que  se  acolherão  da  fortaleza  e  fugirão  todos  8, 
deixando  o  que  tinhão  sem  o  poderem  levar. 

185  14.  Estes  franceses  seguião  as  heresias  de  Alemanha, 
principalmente  as  de  Calvino 9  que  está  em  Genevra, 
segundo  soube  delles  mesmos  10,  e  poios  livros  que  lhe 
acharão  muytos,  e  vinhâo  a  esta  terra  a  semear  estas 
heresias  polo  gentio;  e,  segundo  soube,  tinhão  mandados 

190  muitos  meninos  do  gentio  a  aprendê-las  11  ao  mesmo  Cal- 
vino e  outras  partes  pera  depois  serem  mestres,  e  destes 
levou  [154V]  alguns  o  Villagalhão,  que  era  o  que  fizera 
aquella  fortaleza  e  se  intitulara  Rey  do  Brasil 12. 


8  O  ataque  aos  Franceses  e  Índios  Tamoios  começou  no  dia  15 
de  Março,  uma  sexta-feira  «depois  do  meio  dia  em  diante  e  toda  a 
noite  seguinte,  e  ao  sábado  todo  dia,  e  à  noite  fugiram  e  se  foram  em 
almadias  e  outras  embarcações  pera  a  terra  firme»,  testemunhou  Sebas- 
tião Álvares  {Instrumento  152;  cf.  Capistrano  de  Abreu,  nota  a  HG  1 
386;  Leite  História  1  377). 

9  Calvino  (1509-1564).  As  heresias  da  Alemanha  eram  o  lutera- 
nismo; as  de  Calvino,  o  calvinismo.  Diferiam  entre  si,  mas  coincidiam 
em  ser  heresias,  isto  é,  opiniões  contra  a  fé  católica. 

10  Cf.  supra,  doe.  32  §  2. 

11  Cf.  infra,  carta  52  §  15. 

12  Conserva-se  na  Biblioteca  Pública  de  Genebra  uma  carta  latina 
de  Villegaignon  a  Calvino,  traduzida  em  francês  com  o  titulo:  «Exploits 
du  Roy  de  1'Amérique  Villegaignon»  (cf.  Gaffarel,  Histoire  du  Brèsil 
Français  242). 


55.  -  S.  VICENTE  1   DE  JUNHO  DE  1560 


245 


15.  Deste  se  conta  que  dizia  que,  quando  El-Rey  de 
França13  o  não  quisesse  favorecer  pera  poder  ganhar  esta  195 
terra,  que  se  avia  de  ir  confederar  com  o  Turco,  prome- 
tendo-lhe  de  lhe  dar  por  esta  parte  a  conquista  da  índia  e 

as  naos  dos  Portugueses  que  de  lá  viessem,  porque  poderia 
aqui  fazer  o  Turco  suas  armadas  com  a  muyta  madeira  da 
terra;  mas  o  Senhor  olhou  do  alto  tanta  maldade,  e  o  uve  200 
misericórdia  da  terra  e  de  tanta  perdição  de  almas  et  men- 
tita  est  iniquitas  sibi14,  e  desfez-lhe  o  ninho  e  deu  sua  for- 
taleza em  mãos  dos  Portugueses,  a  qual  se  destruyo  o  que 
delia  se  podia  derubar,  por  não  ter  o  Governador  gente 
pera  logo  povoar  e  fortificar  como  convinha.  205 

16.  Esta  gente  ficou  antre  os  índios  e  esperão  gente  e 
socorro  de  França,  mayormente  que  dizem  que,  por  El-Rey 
de  França  o  mandar,  estavão  ali  pera  descobrirem  os  metais 
que  ouvesse  na  terra:  assi  há  muytos  franceses  espalhados 
por  diversas,  pera  milhor  buscarem.  210 

17.  Parece  muyto  necessário  povoar-se  o  Rio  de  Janeiro 
e  fazer-se  nelle  outra  cidade  como  a  da  Bahia,  porque  com 
ella  ficará  tudo  guardado,  assi  esta  Capitania  de  Sam  Vicente 
como  a  do  Spirito  Santo,  que  agora  estão  bem  fracas,  e  os 
franceses  lançados  de  todo  fora  e  os  índios  se  poderem  215 
milhor  sojeitar. 

18.  E,  pera  isso,  mandar  mais  moradores  que  soldados, 
porque  doutra  maneira  pode-sse  temer  com  rezâo,  ne  redeat 
immundus  spiritus  cum  aliis  septem  nequioribus  se,  et  sint 
novissima  peiora  prioribus 15,  porque  a  fortaleza,  que  se  des-  220 
manchou,  como  era  de  pedras  e  rocha  que  cavarão  ao  picão, 
facilmente  se  pode  tornar  a  reedificar,  e  fortalecer  muyto 
milhor. 

19.  Depois  de  tomada  a  fortaleza,  deu  o  Governador 
em  huma  Aldeia  de  índios  e  matou  muytos,  e  não  pode  225 


aao    que]  como  »is. 


13  Henrique  II  (^T*^^- 

14  Ps.  26,  12. 

15  Cf.  Mat.  12,  45;  Luc.  ir,  26. 


246 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


fazer  mais  porque  tinha  necessidade  de  concertar  os  navios, 
que  das  bombardadas  ficarão  mal  aviados  e  fazê-los  pres- 
tes pera  se  tornarem  ;  o  que  veo  fazer  a  esta  Capitania  de 
S.  Vicente,  onde  eu  fico  por  assi  o  ordenar  a  obediência. 
230  O  que  mais  ouver  pera  escrever,  o  Provincial,  que  agora 
hé,  o  Padre  Luis  da  Grã,  o  fará  da  Bahia16.  Nosso  Senhor 
Jesu  Christo  dê  a  V.  A.  sempre  a  sua  graça.  Amen. 
De  Sam  Vicente,  o  primeiro  de  Junho  de  1560. 

Manoel  da  Nóbrega. 

36 

DO  IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1560 

I.    Bibliografia:    Catalogo  dos  Manuscriptos  I  24;  Çimèlios  495; 
Leite,  História  vm  20  n.  16. 

II.  Autores:  VASCONCELOS,  Chronica,  liv.  11  no.  67-6986;  A.  DE 
Alcântara  Machado,  Anchieta  na  Capitania  de  S.  Vicente  (Rio  de 
Janeiro  1929)  83-86;  Leite,  História  1  280  304  308-309  311  343  377  402; 
11  9  39  322  376  463  571  581  589;  Tito  Lívio  Ferreira  192;  J.  Honório 
Rodrigues,  Bibliografia  dei  Brasil  31. 

III.  Texto  :  1.  ARSI,  Epp.  NN.pj,  ff.  io8r-inv  [antes  ff.  508^511  v, 
mais  antigo  riscado  ff.  432r-435v].  Endereço  autógrafo  [f.  inv].  Outra 
letra:  «1560  S.  Vincenzo,  prima  Junii».  Outra  letra  [f.  io8r]  em  cima: 
«Est  altera  notata»;  em  baixo:  «S.  Vincentii.  Ioseph.  1560».  Autógrafo 
em  espanhol. 

2.  Epp.  NN.  pj,  ff.  ii2r-n6v.  Apógrafo  em  espaDhol. 

3.  Epp.  NN  95,  ff.  93r-96v.  Tradução  latina  em  letra  diferente  da 
do  autógrafo,  mas  tradução  que  deve  ter  sido  feita  pelo  autor,  porque 
o  endereço  também  é  autógrafo  de  Anchieta  [g6v]:  «+  Reverendo  in 


aa8    a  esta  dei.  fortaleza 


16   Não  consta  que  tivesse  escrito. 


56.  -  S.  VICENTE  1  UE  .JUNHO  DE  15(30 


247 


Christo  Patri  Iacobo  Laynez  Praeposito  Generali  Societatis  Iesu  2.a  via». 
Outra  letra:  «1560».  Outra  letra  ao  pé  do  fólio  93r;  «S.  Vincentio 
Nóbrega»  [sic]. 

4.  Bras.  j-i,  ff.  i55r-i6or.  Tradução  italiana. 

5.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  ff.  79r-84v.  Apógrafo  em  espanhol. 

IV.  Impressão :  Nuovi  Avisi  deWIndic  di  Portogallo.  Terza  parte 
(Veneza  1562)  ii9r-i36r ;  Silva  Lisboa,  Annaes  do  Rio  de  Janeiro  vi 
(Rio  de  Janeiro  1835)  113-139;  Cartas  de  Anchieta  (Rio  de  Janeiro  1933) 
144-160. 

V.  História  da  Impressão:  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução  ita- 
liana (4);  Silva  Lisboa  traduz  em  português  o  texto  5,  reproduzido  em 
Cartas. 

VI.    Edição:   Edita-se  o  texto  1  (autógrafo). 

Textus 

1.  Commercium  litterarum.  —  2.  Indi  adulti  inale  dispositi  sunt  ad 
conversionem,  et  baptismum  recusant.  —  3.  Sed  infirmi  medicantur  a 
Patribus,  baptismum  accipiunt  et  vel  sanantur  vel  bene  moriuntur.  — 
4.  Labores  in  itinere  ad  visitandos  pagos  et  infirmos.  —  5.  Baptismus 
infantulorum  qui  semianimes  vel  ex  abortu  nascuntur.  —  6.  Ministério 
et  administratio  sacramentorum.  —  7.  Et  amplius  fieri  potuisset  si  lndi 
iam  redacti  essent  in  magnos  pagos,  sicut  fit  Bahiae  iubente  Guberna- 
lore.  —  8.  Dies  festi  Natalis  et  hebdomadae  maioris.  —  9.  Rosaria  a 
Fr.  Didaco  Jácome  aliisque  Fratribus  confecta.  —  10.  Opera  manu  /acta 
a  Fratribus.  —  11.  Domus  ad  Indos  Piratiningae  cum  sudore  P.  Alphonsi 
Brás  aedificatae.  —  12.  Libido  lndos  dominatur,  sed  iam  sunt  servae 
castae.  —  13.  Doctrina  Christiana  et  frequentia  sacramentorum  in  oppi- 
dis  S.  Vincentii  et  Piratiningae.  —  14.  Tempestas  venti  et  grandinis.  — 
15.  Nex  pueri  captivi  in  platea  nemine  impediente.  —  16.  Altera  nex 
iuvenis  ij  annorum,  ambo  tamen  baptizati  et  christiane  sepulti  sunt.  — 
17.  Pueri,  qui  antea  educa  ti  fuerant  Piratiningae,  sunt  parentibus  peio- 
res,  sed  Paires  nunc  eos  recuperare  curant.  —  18.  Indorum  bella  tum  in 
interiore  terrarum  tum  prope  oppidum  S.  Vincentii.  —  19.  De  Gallis  Flu- 
mine  I anuário  degentibus  et  de  haereticis  calvinistis.  —  20.  Gallus  aliquis 
[Bolés]  profugus,  qui  laesit  P.  Ludovicum  da  Grã  et  religionem  catholi- 
cam,  captus  et  Bahiam  missus.  —  21.  Ab  illo  gallo  cognovit  Gubernator 
res  Fluminis  Ianuarii  cuius  arcem  comparata  classi  expugnavit.  —  22.  In 
arce  gallorum  nulla  crux  nec  signum  doctrinae  catholicae  sed  complures 
libri  haeretici  inventi  sunt.  —  23.  Cum  Gubernatore  advectus  est  P.  Emma- 


248 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


nuel  da  Nóbrega  infirma  valetudine  utens,  sed  iam  incipit  convalescere. 
—  24.  Máxima  pars  Fratrum  S.  I.  Piratiningae  degit  et  grammaticam 
docentur  aliqui  Lusitanorum  filii.  —  25-  P  Ludovicus  da  Grã  officium 
coepit  Provincialis,  quo  die  publice  se  accusavit  F ratrumque  pedes  oscula- 
tus  est. 

+ 

Jesús  Maria 
Pax  Christi  nobiscum. 

1.  El  ano  de  1558,  en  la  fin  dei  mes  de  Maio  escrevi  *, 
Reverendo  em  Christo  Padre,  lo  que  se  passava  assí  acerca 
de  nosotros,  como  de  la  conversión  y  doctrina  de  los  índios. 
De  entonces  hasta  agora  nunca  hallamos  occasión  para  poder 
escrevir,  porque  ni  aporto  acá  ni  partió  daqui  navio  alguno, 
por  lo  qual  más  es  para  se  compadecer  de  nosotros  que 
para  se  irar,  que  tanto  tiempo  carecemos  de  las  cartas  de 
nuestros  Hermanos,  y  venimos  a  tanta  falta  que  aún  para 
dezir  missa  nos  falte  vino  por  algunos  dias.  Daré  agora 
cuenta  de  lo  que  después  succedió,  y  primeramente  que 
recebimos  grande  alegria  con  las  cartas  que  agora  reci- 
bimos,  maxime  con  las  de  V.  P.  en  las  quales  se  mos- 
trava el  paternal  amor  y  singular  cuidado  que  tiene  de 
nosotros,  porque  allende  de  V.  P.  nunca  cessar  de  nos 
offrecer  a  la  divina  Magestad  em  sus  orationes,  ordeno 
que  todos  nuestros  Hermanos  nos  encommiendem  parti- 
cularmente a  N.  Senor  2,  de  lo  qual  está  claro  que  nos  a 
de  venir  mucha  aiuda  y  provecho.  Porque  como  era  pos- 
sible  que  pudiéssemos  sufrir  tanto  tiempo  y  con  tanta 
alegria  tanta  dureza  de  coraçón  de  los  Brasilles  que  ense- 
namos,  tam  cerradas  orejas  a  la  palabra  divina,  tam  fácil 
renuntiatión  de  buenas  costumbres  si  algunas  an  depren- 


17   orationes  dil.  h 


1  Carta  perdida  (Mon.  Bras.  11  459). 

2  Supra,  carta  2  §  1. 


36.  -  S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1580 


249 


dido,  tam  prompto  relapso  a  las  costumbres  y  peccados  de  25 
sus  maiores,  y  finalmente  tam  poco  o  ningún  cuidado  de 
su  própria  salud,  si  las  continuas  orationes  de  la  Compafiía 
no  nos  diessen  muy  grande  ayuda? 

2.    Ay  tan  poças  cosas  dignas  de  se  escrivir  que  no  sé 
que  escrivã,  porque  si  espera  V.  P.  que  aya  muchos  de  los  3° 
Brasilles  convertidos  enganarse  a  su  esperança,  porque  los 
ya  adultos,  a  los  quales  la  mala  costumbre  de  sus  padres 
se  les  a  quasi  convertido  en  naturaleza,  cierran  las  orejas 
para  no  oir  la  palabra  de  salud  y  converterse  al  verdadero 
culto  de  Dios;  con  los  quales,  aunque  continuamente  tra-  35 
bajamos  por  los  traer  a  la  fee,  todavia,  quando  caen  en 
alguna  enfermedad  de  que  parece  morirán,  procuramos  de 
los  mover  a  que  quieran  recibir  el  baptismo  porque  enton- 
ces  commúnmente  están  más  aparejados.  Mas  quantos  son 
los  que  cognoscan  o  quieran  estimar  tan  grande  beneficio?  4° 
Porné  dos  o  tres  exemplos  por  los  quales  se  pueda  esto 
entender. 

Adoleció  uno  de  los  catechúminos  en  una  Aldeã  no 
lexos  de  Piratininga,  fuemos  allá  para  le  dar  algún  remé- 
dio, principalmente  para  su  ániraa.  Hablámosle  que  mirasse  45 
por  su  ánima,  y  dexando  las  costumbres  passadas  se  apa- 
rejasse  para  el  baptismo.  Respondió  él  que  lo  dexássemos 
sanar  primero,  y  esta  repuesta  solamente  nos  dava  a  todo 
lo  que  le  dezíamos.  Nosotros  declarávamosle  brevemente 
los  artículos  de  la  fee  y  los  mandamientos  de  Dios  que  5o 
muchas  vezes  de  nosotros  avia  oído,  a  lo  qual  respondia  él 
como  enojado  que  ya  tenía  las  orejas  cerradas  y  no  oya  lo 
que  dezíamos;  y  con  todo  a  otras  cosas  fuera  deste  propó- 
sito respondia  tam  promptamente  que  bien  parecia  no  tener 
cerradas  las  orejas  dei  cuerpo  sino  dei  coraçón.  55 

Adoleció  otro  en  otro  lugar,  al  qual  como  muchas  vezes 
amonestássemos  lo  mesmo,  diffiriólo  él  creyendo  que  sana- 
ria, mas  creciendo  cada  dia  más  la  enfermedad  visitélo  yo 
yendo  a  otra  parte  estando  ya  in  extremis.  Comencé  con 
blandas  palabras  alagarle  y  adhortarlo  al  baptismo,  él  muy  6o 


31    enganarse  corr.  ex  eDganarses    I  6o    alagarle  corr.  ex  alargarle 


2.50 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


indignado  con  essa  voz  que  aún  podia  gritava  que  no  lo 
molestasse  que  estava  sano.  Trabajé  con  todo  por  todas 
vias  (lo  qual  ya  algunos  Hermanos  por  demás  avían  ten- 
tado) de  ganarle  al  Senor,  y  trabajando  en  esto  con  muchas 

65  palabras,  parecia  que  ya  dava  consentimiento,  al  qual  dixe: 
pues  que  assí  es,  baptizarte  é  y  alcansarás  la  eterna  salud. 
El  no  solamente  no  consintió,  mas  antes  cubriendo  la  cara 
me  echó  de  sy,  sin  responder  más  palabra  alguna,  y  al  otro 
dia,  permaneciendo  en  la  mesma  obstinatión,  murió. 

70  Que  diré  de  otro,  el  qual  tornando  de  la  guerra  con  dos 
flechadas  y  quasi  para  morir,  curámosle  con  toda  diligen- 
tia,  lo  qual  solemos  hazer  a  todos,  hasta  que  cobro  salud, 
mas  aquel  que  con  el  dolor  de  las  llagas  prometia  de  reci- 
bir  el  baptismo  y  vivir  bien  conforme  a  los  mandamientos 

75  de  Dios,  cessando  él,  no  menos  se  torno  a  las  costumbres 
antiguas  que  si  ningún  mal  oviera  padecido?  Dexo  otros 
que  hazen  de  la  mesma  manera,  para  los  quales  avia  menes- 
ter  luenga  oratión,  los  quales  ningún  cuidado  tienen  de  las 
cosas  futuras,  porque  no  den  nuestras  cartas  a  V.  P.  más 

80  occasión  de  dolor  que  de  alegria. 

3.  Vengo  a  aquellos,  que  el  piadoso  Senor  de  tan  innu- 
merable  multitud  subiecta  al  jugo  dei  demónio,  no  dexa  de 
traer  a  su  Iglesia  y  vestir  de  gloria  im mortal  en  los  cielos. 
Y,  callando  de  los  innocentes,  de  los  quales  mueren  muchos 

85  baptizados  y  van  a  gozar  de  la  eterna  vida,  en  los  mesmos 
adultos  ay  mucha  occasión  de  loar  al  Senor  y  recibir  grande 
consolatión. 

A  uno  ya.  christiano  y  casado  legitimamente,  que  avia 
mucho  tiempo  que  era  enfermo,  fuemos  a  visitar  a  un  lugar 

90  cinco  millas  de  Piratininga.  Consolóse  él  mucho  y  confes- 
sóse  con  mucho  dolor  y  contritión.  Tornados  nosotros  para 
casa,  llegó  ay  un  hechisero  dei  sartón ;  el  enfermo  assí  por 
liviandad  de  coraçón,  como  por  desseo  de  salud,  dexóse 
esfregar  dél  y  chupar,  según  el  rito  de  los  gentiles,  mas 

95  como  no  se  viesse  senal  alguna  de  la  salud  que  esperava, 
arrepentido  con  gran  dolor  vínose  a  nosotros  a  confessar 


73    el  corr.  tx  elo 


36-  -  s.  VICENTE  1  DK  JUNHO  DE  1561) 


251 


su  peccado  y  estar  junto  de  Ia  Iglesia,  onde  con  frequentes 
confessiones  pudiesse  limpiar  su  ánima  de  los  peccados. 
Curámosle  y  day  a  algunos  dias  hallándose  mejor  se  torno 
para  su  casa,  onde  cayó  en  una  enfermedad  incurable,  por  ioo 
lo  qual  se  hizo  traer  a  Piratininga  para  ay  acabar  de  espi- 
rar. Los  dias  que  ay  vivió  no  los  gasto  otiosamente,  mas 
antes  confortado  con  assíduas  confissiones  y  amonestatio- 
nes  saludables  de  los  Herraanos  se  aparejava  para  passar 
lo  restante  de  la  vida.  Llegándosele  pues  el  término  de  la  105 
vida,  mandó  llamar  los  Hermanos  y,  viniendo  un  sacerdote 
con  un  intérprete,  díxoles  él:  «Sentaos  un  poco,  y  en  quanto 
me  dura  el  uso  de  la  razón  procuraré  lo  que  pertenece  a 
la  salud  de  mi  ánima.  Encommendadme  a  Dios  quando 
oviere  fallecido,  y  enterradme  en  la  Iglesia.  Mi  muger  y  no 
hijos  moren  aqui  para  deprender  las  cosas  de  la  fee  y  bue- 
nas  costumbres».  Y  diziendo  estas  y  otras  muchas  cosas 
semejantes  con  mucha  devotión,  day  a  poco  se  partió  desta 
vida  para  la  eterna,  según  creemos. 

Una  catechúmina,  que  avia  dos  anos  que  estava  enferma  115 
de  calenturas,  hízose  traer  a  Piratininga  por  sus  parientes 
para  que  la  curássemos.  Hizímosle  los  remédios  que  pudi- 
mos,  mas  como  quier  que  la  fiebre  estava  ya  arraigada, 
curamos  más  de  la  salud  de  su  ánima,  incitávamosla  al 
desseo  de  la  eterna  vida,  lo  qual  ella  abraçand  o  con  todo  120 
affecto  dei  [io8v]  coraçón  desseava  y  pedia  mucho  el  bap- 
tismo.  Day  a  algunos  dias  fuesse  a  una  Aldeã  vezina 
haziéndonoslo  saber  primero,  para  que  ay  una  su  hermana 
tuviesse  cuidado  delia.  Allí  la  visitávamos  muchas  vezes 
y,  perseverando  en  el  mismo  buen  propósito  de  su  coraçón,  125 
después  de  muy  larga  dolentia  estuvo  quasi  médio  dia  fuera 
de  sy,  y  tornando  en  sy  ya  tarde,  como  que  espertava  de 
algún  sueno,  mandó  luego  unos  mochachos  que  nos  11a- 
massen.  Fuemos  allá  sin  tardança  siendo  ya  el  sol  puesto 
y  hallámosla  ya  in  extremis,  y  dándole  de  comer  la  amo-  130 
nestamos  que  se  aparejasse  para  el  baptismo.  Respondió 
ella  que  estava  aparejada  y  que  lo  desseava  mucho.  Luego 


103   Prius  confortando 


252 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


en  essa  hora  la  truximos  a  Piratininga  de  noche,  aunque  un 
su  hermano  y  otro  que  la  avían  de  traer  dezían  que  se  dif- 

135  firiesse  para  el  otro  dia.  Instruímosla  más  cumplidamente 
en  la  fee,  lo  qual  otras  muchas  vezes  aviamos  hecho,  y 
baptizámosla.  Luego  parece  que  se  le  mudó  el  rostro  y  se 
torno  más  alegre,  y  la  que  antes  por  las  angustias  dei  dolor 
era  affligida  sin  ningún  sociego,  começo  luego  a  reposar  y 

140  day  a  dos  o  tres  horas  se  passó  a  la  vida. 

No  después  de  muchos  dias,  dos  sus  hermanas  cayeron 
en  una  grave  enfermedad.  A  una  delias  que  morava  em 
Piratininga  ya  Christiana  y  casada  sangré  dos  vezes  y 
hallóse  mejor;  la  otra  que  aún  era  catechúmina  y  morava 

145  en  otro  lugar  bien  instruída  en  las  cosas  de  la  fe,  y  que  en 
bondad  natural  parecia  exceder  todas  las  otras,  adoleciendo 
de  fiebre  no  nos  lo  hizo  saber  hasta  que  passarão  405  dias. 
Fuemos  a  visitaria,  sangrámosla  y  juntamente  la  ensena- 
mos,  y  después  de  la  sangria  hallóse  mejor.    Después  de 

150  algunos  dias,  estando  muy  agraviada  de  la  dolência,  man- 
dóme  llamar  para  que  la  tornasse  a  sangrar.  Fué  yo  bien 
de  priessa,  mas  quando  llegué  ya  no  tenía  sentido,  ni  serial 
alguna  de  vida;  todo  el  cuerpo  estava  ya  frio  de  manera 
que  parescía  muerta,  mas  como  le  echasse  agua  en  la  cara, 

155  començó  a  mover  los  ojos  y  en  fin  tornando  en  sí,  le  pre- 
gunté  si  queria  que  la  baptizasse?  Mas  porque  no  querría 
la  que  toda  su  vida  ninguna  otra  cosa  más  desseava  ?  Assí 
que  baptizéla  y  bivió  aún  dos  horas  llamando  el  sacratís. 
simo  nombre  de  Jesú,  y  confessando  la  verdadera  fe,  hasta 

160  que  dió  el  spíritu  a  su  Criador  para  a  ver  de  recebir  el  pre- 
mio eterno.  Después  de  algunos  meses  la  siguió  la  otra  su 
hermana,  que  acima  dixe  que  sano,  muy  firme  en  la  fe  y 
confessada  muchas  vezes. 

Un  solo  exemplo  aún  contaré  por  no  me  detener  en  cada 

165  cosa  particular,  el  qual  no  será  causa  de  menor  alegria. 
Fallesció  poco  a  una  vieja,  la  qual  avia  sido  manceba  de 
un  português  quasi  quarenta  anos,  y  avia  engendrado 
muchos  hijos.  Esta,  como  nuestros  Hermanos  avrá  nueve 


150    dias  sup. 


56.  -  S.  VICENTE  1   DE  JUNHO  DE  1560 


255 


anos  la  amonestassen  que  mirasse  por  sy  y  no  quisiesse 
yrse  al  infierno  por  aquel  peccado,  luego  arrepentida  y  170 
conosciendo  la  maldad  en  que  avia  vivido  aborresció  el 
peccado  y  perseverando  en  castidad  trabajava  de  purgar 
sus  peccados  con  muchas  limosnas  que  nos  hazía.  Agora 
herida  de  una  luenga  y  incurable  enfermedad  fuese  a 
Piratininga  onde  hecha  una  casa  por  sus  hijos  y  esclavos  175 
entendia  solamente  en  cosas  tocantes  a  la  salud  de  su 
ánima;  confessávase  y  comulgava  muchas  vezes  y  dándo- 
nos  muchas  lymosnas  aparejava  eternos  tabernáculos  en 
el  cielo.  Visitávanla  muchas  vezes  los  Hermanos  y  con- 
fortávanla  con  divinas  palabras,  principalmente  quando  ya  180 
en  lo  último  teniendo  corruptos  los  miembros  secretos 
(esta  era  su  enfermedad,  la  qual  es  muy  commún  en  estas 
mugeres  dei  Brasil,  aún  en  las  vírgines)  echava  de  sy 
tanto  hedor  que  los  suyos  mesmos  la  desamparavan.  Mas 
el  P.  Alfonso  Blas  y  el  Hermano  Gaspar  Lorenço,  intér-  185 
prete,  teniendo  más  ojo  al  olor  que  day  a  poco  su  ánima 
avia  de  dar,  vencían  el  hedor  que  a  los  otros  era  intolera- 
ble,  y  estavan  toda  la  noche  sin  dormir  esforçándola  con 
divinas  palavras  en  que  ella  mucho  se  delectava,  hasta  que 
espiro  con  dichoso  fin,  como  es  de  crer.  190 

4.  De  otros  muchos  podría  contar,  maxime  esclavos,  de 
los  quales  unos  mueren  baptizados  de  poco,  otros  que  a  ya 
dias  que  lo  son,  echa  su  confissión  se  van  para  el  Senor. 
Por  lo  qual  quasi  sin  cessar  andamos  visitando  varias  pobla- 
tiones  assí  de  índios  como  de  Portugueses,  sin  tener  cuenta  i95 
con  calmas,  lluvias  o  grandes  inchientes  de  rios,  y  muchas 
vezes  de  noche  por  bosques  muy  escuros  soccorremos  a  los 
enfermos  no  sin  gran  trabajo,  assí  por  la  aspereza  de  los 
caminos,  como  por  la  incommodidad  dei  tiempo,  maxime 
siendo  tantas  estas  poblationes  y  tan  lexos  unas  de  otras,  200 
que  ni  nosotros  abastamos  a  acudir  a  tam  varias  necessi- 
dades, como  occurren,  ni  aunque  fuéramos  muchos  más 
pudiéramos  abastar.  Ajúntase  a  esto  que  nosotros,  que 
soccorremos  a  las  necessidades  de  los  otros,  muchas  vezes 
somos  mal  dispuestos  y,  fatigados  de  dolores,  desfallece-  205 
mos  en  el  camino,  de  manera  que  apenas  lo  podemos  aca- 


254 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  I.AYNES 


bar;  assí  que  no  menos  parecen  tener  necessidad  de  ayuda 
los  médicos  que  los  mesmos  enfermos.  Mas  nada  es  árduo 
a  los  que  tienen  por  fin  solamente  la  honrra  de  Dios  y  la 

210  salud  de  las  almas,  por  las  quales  no  dudarán  poner  la  vida. 
Muchas  vezes  nos  alevantamos  dei  suefio  aora  para  los 
enfermos  y  los  que  mueren,  aora  para  las  mugeres  de  parto, 
a  las  quales  echamos  al  cuello  las  relliquias  de  los  Sanctos 
y  luego  paren,  lo  qual  no  ignorando  ellas,  en  començando 

215  a  sentir  los  dolores,  luego  las  mandan  pedir  aviéndose  pri- 
mero  confessado. 

5.  Entre  estas  cosas  acontece  que  se  baptizan  y  mandan 
al  cielo  algunos  nifios  que  nacen  médio  muertos  y  otros 
movidos,  lo  qual  acontece  muchas  vezes  más  por  la  humana 

220  malitia  que  por  desastre,  porque  estas  mugeres  brasilles 
muy  facilmente  mueven,  o  iradas  contra  sus  maridos  o,  las 
que  no  los  tienen,  por  miedo  o  por  otra  qualquier  occasión 
muy  liviana,  matan  los  hijos  o  beviendo  para  esso  algunas 
brevajes  o  apretando  la  barriga,  o  tomando  alguna  carga 

225  grande,  y  con  otras  muchas  maneras  que  la  crueldad  inhu- 
raana  haze  inventar. 

6.  Eme  detenido  en  contar  los  que  mueren,  porque 
aquel  se  a  de  juzgar  verdadero  fructo  que  permanece  hasta 
la  fin,  porque  de  los  vivos  no  osaré  contar  nada,  aunque 

230  aya  que,  por  ser  tanta  la  inconstantia  en  muchos,  que  no 
se  puede  hombre  ni  deve  prometer  dellos  cosa  que  aya 
mucho  de  durar.  Mas  bienaventurados  los  muertos  que 
mueren  en  el  Senor3,  los  quales  libres  de  las  peligrosas 
aguas  deste  mudable  mar,  abraçada  la  fe  y  mandamientos 

235  dei  Senor,  son  transladados  a  la  vida  sueltos  de  las  prisio- 
nes  de  la  muerte  4,  y  assí  los  bienaventurados  êxitos  destos 
nos  da  tanta  consolatión  que  puede  mitigar  el  dolor  que 
recibimos  de  la  malitia  de  los  vivos.  Y  con  todo  trabaja- 


312    aora  corr.  su/i,  cx  como 


3  Apoc.  14,  13. 

4  Cf.  Ps.  23,  7. 


36.  -  S.  VICENTE  1  UE  JUNHO  UE  1560 


255 


mos  con  mucha  diligentia  en  su  doctrina,  araonestámoslo[s] 
cora  públicas  praedicationes  y  particulares  pláticas  que  per-  240 
severen  en  lo  que  an  aprendido.  Confiéssanse  y  commul- 
gan  muchos  cada  domingo;  vienen  también  de  los  otros 
lugares  onde  están  dispergidos  a  oir  las  missas  y  confes- 
sarse,  maxime  quando  quieren  yr  a  la  guerra.  A  la  confes- 
sión  y  los  más  sacramentos  tienen  mucha  reverentia,  en  245 
tanto  que  muchas  vezes  affirraan  los  enfermos  que  se  les 
ablandan  los  dolores  después  de  la  confessión. 

7.  Assí  que  no  es  de  dudar,  sino  que  se  haría  mucho 
fructo  en  ellos  si  estuviessen  juntos  onde  se  pudiessen 
doctrinar,  de  lo  qual  se  tiene  agora  experientia  en  la  Baya,  250 
onde  ajuntados  en  unas  grandes  Aldeãs  por  mandado  dei 
Governador  5  aprienden  muy  de  gana  la  doctrina  y  rudi- 
mentos de  la  fe,  y  dan  mucho  fructo;  lo  qual  durará  en 
quanto  oviere  quien  los  haga  vivir  en  aquella  subiectión 

y  temor.  255 

8.  En  las  fiestas  principales,  maxime  quando  se  celebra 
el  Nascimiento  y  Passión  dei  Senor  concorren  a  Piratininga 
de  tódolos  [ioçjr]  lugares  comarcanos  quasi  todos  muchos 
dias  antes.  Están  presentes  a  los  divinos  officios  y  proces- 
siones,  disciplinándose  hasta  derramar  sangre,  para  lo  qual  260 
mucho  antes  aparejan  disciplinas  con  mucha  diligentia.  Lo 
mesmo  hazen  en  otros  tiempos,  quando  por  alguna  neces- 
sidad  se  hazen  processiones.  El  officio  de  las  tinieblas 
hazemos  en  la  Iglesia  sin  canto,  el  qual  concluímos  tomando 
una  disciplina  con  tres  Miserere.  También  les  predicamos  265 
la  Passión  en  su  lengua  no  sin  gran  devotión  y  muchas 
lágrimas  de  los  oyentes,  las  quales  también  derraman  en 
abundantia  en  las  confessiones  y  communiones. 

9.  También  se  les  ensena  a  rezar  particularmente,  y 
para  esto  les  damos  rosários  para  que,  diziendo  muchas  270 
vezes  la  Ave  Maria,  tengan  principal  amor  y  devotión  a 


248    de  sup. 


5   Mem  de  Sá. 


256 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


N.  Seiiora.  Estos  rosários  haze  el  Hermano  Diego  Jácome  6 
al  torno  mui  polidos,  aunque  él  nunca  aprendió  ni  exercito 
esta  arte,  mas  constrenido  por  la  obedientia  y  charidad 

275  tento  esta  obra  nunca  antes  dél  usada,  y  no  solo  él  salió 
maestro  mas  también  algunos  Hermanos,  los  quales  gas- 
tan  en  ello  algunas  horas,  maxime  en  hazer  rosários,  los 
quales  distribuidos  assí  a  los  portugueses  como  a  nuestros 
nuevos  christianos  no  son  pequenos  incitamentos  de  devo- 

280  tión. 

10.  No  dexaré  de  dezir,  pues  que  vino  a  propósito,  que 
quasi  ninguna  arte  ay  de  las  necessárias  para  el  commún 
uso  de  la  vida  que  los  Hermanos  no  sepan  hazer.  Haze- 
mos  vestidos,  çapatos,  principalmente  alpargates  de  un  hilo 

285  como  cánamo,  que  nosotros  tiramos  de  unos  cardos  7  echa- 
dos  en  el  agua  y  curtidos,  los  quales  alpargates  son  mui 
necessários  por  la  aspereza  de  las  selvas,  y  las  grandes 
inchientes  de  las  aguas,  las  quales  es  necessário  passar 
muchas  vezes  por  grande  spatio  hasta  la  cinta  y  aún  hasta 

290  los  pechos',  barbear,  curar  heridas,  sangrar,  hazer  casas  y 
cosas  de  barro,  y  otras  semejantes  cosas  no  se  busca 
íuera,  de  manera  que  la  otiosidad  no  tiene  lugar  alguno 
en  casa. 

11.  Prosiguiendo  pues  mi  propósito,  proceden  los  índios 
295  en  la  doctrina  de  la  íee,  y  en  lugar  de  los  catechúminos 

que  de  Piratininga  se  fueron,  vienen  otros  de  diversos 
lugares  queriendo  vivir  según  la  vida  Christiana;  hizieron 
casas  de  tapias  para  ay  siempre  morar,  para  lo  qual  les  dió 
grande  ayuda  el  P.  Alfonso  Blas  8  con  incansable  trabajo. 
300  12.  Vense  em  muchos,  maxime  en  las  mugeres  assí 
libres  como  esclavas,  muy  maniíiestos  senales  de  virtud, 


aoo    pechos  dei.  trasqui 


6  Cf.  Teles,  Chronica  1  479 ;  Leite,  Artes  e  Ofícios  dos  Jesuítas  no 
Brasil  199. 

7  «Certos  cardos  ou  caragoatás  bravos»  (Vasconcelos,  Chronica, 
liv.  1  §  72)  ou  seja  Neog  asiovia  variegata  Mez.  (Hoehne  Botânica  326). 

8  Cf.  Leite,  Artes  e  Ofícios  135-136. 


36.  -  S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1560 


257 


principalmente  en  huir  y  detestar  la  luxuria,  la  qual  como 
sea  commún  pernicie  dei  género  humano,  en  esta  gente 
parece  que  tuvo  siempre  no  solamente  imperioso  senorío 
mas  aún  tyrannía  mui  cruel,  lo  qual,  como  sea  verdad,  es  305 
mucho  para  espantar  y  digno  de  grande  lor  quantas  victo- 
rias  y  triumphos  alcansen  delia.  Sufren  las  esclavas  que 
sus  senores  las  maltraten  con  bofetadas,  punadas  y  açotes 
por  no  consentir  al  peccado ;  otras  despretian  los  dones  que 
les  offrecen  los  mancebos  deshonestos;  otras  a  quien  por  310 
fuerça  les  quieren  robar  su  castidad  defiéndense  no  sola- 
mente repugnando  con  la  voluntad,  mas  aún  con  clamores, 
manos  y  dientes,  hazen  huir  los  que  las  quieren  forçar.  Una 
acometida  por  uno  y  preguntada  cuya  esclava  fuesse,  res- 
pondió:  «De  Dios  soy,  Dios  es  mi  Senor,  a  él  te  conviene  315 
hablar  si  quieres  alguna  cosa  de  mí».  Con  las  quales  pala- 
bras  se  fué  él  vencido  y  confuso,  y  contávalo  después  a 
otros  con  grande  admiratión. 

Yendo  otras  a  trabajar  por  mandado  de  su  senor,  seguió- 
las  un  mancebo  desvergonçado,  y  como  quisiesse  hazer  320 
fuerça  a  una  delias,  corrieron  las  otras  de  priessa  exhor- 
tándose  a  propulsar  aquella  injuria,  y  librando  su  consierva 
echaron  al  hombre  a  empuxones  enchiéndolo  de  lodo  y 
polvo,  de  lo  qual  bien  pudiera  él  consyderar  la  fealdad  y 
torpeza  de  la  maldad  que  queria  cometer.  325 

Podría  ayuntar  a  estos  otros  muchos  exemplos  que  cada 
dia  hallamos,  de  los  quales  se  podría  claramente  ver  quanto 
valen  acerca  de  muchos  por  la  divina  bondad  las  continuas 
exhortationes  de  los  Hermanos,  mas  destos  fácil  cosa  será 
cognoscer  quánta  sea  la  fuerça  y  virtud  de  la  palabra  330 
divina  que  puede  hazer  correr  de  las  piedras  copiosos 
arroyos  de  agua  que  alegren  la  soberana  ciudad  de  Dios. 

13.    Assí  que  en  las  cosas  de  la  doctrina  se  trabaja  con 
mucho  studio  y  cuydado,  assí  em  Piratininga,  onde  ultra 
dei  commún  orden  en  que  cada  dia  dos  vezes  son  llaraados  335 
a  la  Yglesia,  de  noche  se  ajuntan  muchos  de  los  hombres 
en  casa  dándoles  sehal  para  ello,  para  ser  ensenados  parti- 


336   hombres  sup. 
»7 


258 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  p.  DIEGO  LAYNES 


cularmente,  como  aqui 9  entre  los  Portugueses,  cujas  muge- 
res,  esclavos  y  esclavas  trabajan  con  mucha  diligentia  en 

34°  aprender  lo  que  les  conviene  para  su  salud,  confessándose 
muchos  y  commulgando  tódolos  domingos,  viniendo  a  las 
predicationes  y  oííicios  divinos.  En  lo  qual  trabajan  los 
Hermanos  que  tienen  esso  a  cargo,  y  principalmente  el 
P.  Luís  da  Grãa,  con  un  trabajo  incansable  y  continuo, 

345  procura  la  salud  de  las  animas;  tres,  quatro  y  cinco  vezes 
cada  dia  reparte  el  pan  de  la  doctrina  a  los  hambrientos; 
tan  alegremente  se  occupa  en  ensefiar  dos  o  tres,  como  si 
estuviesse  la  Iglesia  llena ;  pone  gran  cuidado  en  visitar 
los  enfermos,  amonestar  particularmente  a  unos  y  a  otros, 

35°  y  oir  confessiones. 

14.  Los  dias  passados  después  dei  sol  puesto  vino  un 
vehementíssimo  viento  con  lluvia  y  granizo  que  hizo  tem- 
blar  las  casas,  arrebato  los  tejados  y  hizo  grande  estrago 
en  los  bosques.  Mandó  el  Padre  que  se  juntassen  los  Her- 

355  manos  al  sólito  confugio  de  la  oratión,  y  él  tomando  con- 
sigo al  Hermano  Manuel  de  Chavez,  intérprete,  andava  de 
casa  en  casa  visitando  a  todos,  para  que,  si  a  alguno  oviesse 
acaecido  algún  desastre  de  la  caída  de  las  casas,  le  acudiese 
con  medicina  corporal  y  spiritual.  Quasi  todos  hizo  ayun- 

360  tar  en  la  Iglesia,  que  parecia  lugar  más  seguro,  amonestán- 
dolos  que  pidiessen  la  divina  ayuda;  algunos  viejos,  dolien- 
tes  y  ninos,  hizo  traer  a  casa  hasta  el  otro  dia:  finalmente 
en  todo  se  uvo  tam  bien,  ensenado  de  la  divina  Sabiduría, 
que  parece  que  ninguna  cosa  se  podia  o  devia  hazer  mejor 

365  de  lo  que  se  hizo.  Por  lo  qual  no  sin  razón  lo  tienen  todos 
como  padre  assí  los  Índios  como  los  Portugueses,  a  los 
quales  también  predica  mui  a  menudo  aqui  y  en  otras 
poblationes  con  grande  edificatión  de  los  oyentes. 

15.  Muchas  cosas  parece  que  hee  contado  de  los  índios, 
370  a  las  quales  ajuntaré  algunas  de  sus  guerras,  en  las  quales 


364    cosa  sup. 


9   Em  S.  Vicente,  onde  escreve. 


36.  -  S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1560 


259 


como  tengan  puesto  quasi  todo  su  pensamiento  y  cuidado 
en  ellas,  se  suele  ver  quanto  valga  con  ellos  la  virtud  y 
doctrina  de  la  vida  Christiana.  Los  dias  passados  yendo 
contra  los  enemigos  vencieron  un  lugar  y  tomaron  capti- 
vos  muchos,  uno  de  los  quales  se  dezía  averse  de  matar  375 
en  una  poblatión  cerca  de  Piratininga  con  sus  cantos, 
vinos  y  fiestas,  como  es  costumbre.  Sabiéndolo  el  Padre 
Luís  de  Grana,  íué  allá  para  lo  prohibir;  rogó  a  los  mora- 
dores que  no  quisiessen  cometer  aquella  maldad ;  prome- 
tieron  ellos  que  no  avían  de  dexar  suziar  su  lugar  en  que  380 
avia  tantos  christianos  con  derramamiento  de  sangre  inno- 
cente.  Mas  como  después  oviesse  fama  que  se  aparejava 
todo  lo  necessário  para  la  muerte,  torno  allá  una  y  otra 
vez,  estando  aquella  Aldeã  quatro  millas  de  Piratininga. 
Y  aunque  los  que  ya  eran  baptizados  prometiessen  que  no  385 
se  haría,  todavia  su  sefior  que  lo  cativo,  iníiel,  que  avia 
allí  venido  de  otra  parte,  por  ganar  aquella  misérrima  y 
turpíssima  honrra,  y  induzido  por  consejo  de  algunas  vie- 
jas,  determino  de  matarle  y  tomar  su  nombre  en  insígnias 
de  honrra.  Sabiendo  nosotros  que  assí  estava  determinado,  390 
fuémonos  allá  como  que  yvamos  a  negotiar  otras  cosas 
(porque  no  nos  lo  escondiessen  como  suelen)  para  que  lo 
baptizássemos  y  su  ánima  innocente  íuesse  participante 
de  los  gozos  eternos.  Era  él  nino  innocente  de  dos  hasta 
tres  anos  muy  elegante  y  hermoso,  al  qual  hizimos  traer  395 
delante  de  nosotros  y  baptizámosle,  pezándonos  por  una 
parte  por  se  aver  de  matar  un  nino  innocente  y  hermoso 
con  tanta  crueldad,  en  cuya  muerte  tantos  aún  de  los  ya 
baptizados  avían  gravemente  de  peccar,  y  por  otra  parte 
alegrándonos  [109V]  mucho  porque  luego  su  innocente  400 
ánima  avia  de  yr  a  posseer  la  vida  eterna.  Esto  acabado, 
porque  ya  la  cosa  estava  segura  y  no  avia  peligro  de  lo 
esconder,  començamos  delante  de  muchos  a  detestar  aquella 
maldad  y  notários  de  covardes  y  iloxos,  que  querían  en 
ninos  pequenos  vengar  las  injurias  y  muertes  que  recebían  405 
de  los  enemigos,  y  amenazarles  con  el  divino  juizio  y  la 


376   poblatión  dei.  aqui  ||  401-405    en  ninos  pequefios  sup. 


260 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


muerte  si  osassen  comer  el  nino  ya  baptizado.  Después  de 
algunos  dias  siendo  nosotros  absentes  lo  matarão  con  las 
acostumbradas  solennidades  (mas  no  lo  comieron),  siendo 

410  presentes  algunos  de  los  moradores;  mas  otros,  que  ya 
avían  echado  más  altas  raízes  en  la  fe,  fuéronse  a  otros 
lugares  no  queriendo  ni  aún  macular  los  ojos  con  tal 
spectáculo.  Es  también  mucho  para  espantar  y  dar  muchas 
gratias  al  todo  poderoso  Dios  que  ni  estes  ni  los  otros  de 

415  los  lugares  vezinos  que  ya  algún  tiempo  oyeron  de  noso- 
tros y  aún  agora  muchas  vezes  oyen  la  palabra  de  Dios  no 
comen  carne  humana,  no  teniendo  ellos  subiectión  alguna 
ni  miedo  de  los  christianos. 

16.    Aún  contaré  otro  exemplo  que  dará  mucha  alegria. 

420  Poco  ha  captivarão  otro,  al  qual  a  un  otro  lugar  llevavan 
a  matar,  y  deteniéndose  una  noche  en  Piratininga,  fueron 
los  Hermanos  a  combaterlo  con  las  armas  de  la  palabra 
divina  a  ver  si  podían  tomar  por  fuerça  d'armas  aquella 
fortaleza,  que  tanto  tiempo  avia  estava  occupada  de  Satha- 

425  nás,  y  convertirla  al  sefiorío  de  nuestro  Salvador.  Luego 
al  primer  combate  huyó  el  demónio,  que  estava  en  su 
ánima,  queriéndose  él  converter  a  la  fe.  Era  él  aún  mocha- 
cho,  al  parecer  de  quinze  anos  y  de  muy  buen  natural. 
Respondia  con  tanta  promptitud  y  fervor  de  coraçón  a  las 

430  cosas  de  la  fe  que  le  preguntavan  que  parecia  que  avia 
dias  que  las  avia  deprendido.  Instruído  pues  por  los  Her- 
manos y  avisado  que  sufriese  con  buen  coraçón  las  inju- 
rias que  los  índios  le  hiziessen,  al  siguiente  dia  fué  llevado 
a  otro  lugar,  al  qual  siguió  el  Padre  Alfonso  Blas  a  la  tarde 

435  con  el  Hermano  Manuel  de  Chaves  y  Gonsalo  dOlivera, 
intérpretes.  Preguntándole  pues  el  Hermano  Gonsalo,  que 
tenía  especial  cuidado  de  lo  instruir,  como  lo  avían  tratado, 
respondió:  «Una  vieja  solamente  me  dió  una  punada,  mas 
yo  acordándome  de  sus  palavras  no  lo  senti».  Tomáronlo 

440  entonces  los  Hermanos  a  su  cargo  para  lo  instruir  más 
enteramente  en  la  fe  y  defenderlo  de  los  que  le  quisiessen 
hazer  algunas  injurias  que  en  aquel  tiempo  acostumbran 


415   oyeron  dei.  y  ||  ^ao   llevavan  sup.      493    si  corr,  tx  te  1!  435   el  dtl.  Pad 


36.  -S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1560 


261 


a  hazerles  muchas.  Dávanle  también  una  moça  (como  es 
su  costumbre)  para  manceba  y  guardadora,  mas  los  Her- 
manos  no  lo  consintieron  y  él  mismo  lo  aborresció  mucho,  445 
diziendo  que  nunca  él  fuera  ensuziado  en  aquel  peccado. 
No  falto  de  los  índios  quien  quisiesse  que  lo  sacassen  de 
poder  a  los  Hermanos,  y  lo  llevassen  por  las  casas  a  bailar 
toda  la  noche,  y,  como  no  quisiessen  los  Hermanos,  habló- 
les  palavras  insolentes  y  injuriosas.  Otros  passando  por  450 
junto  dei  moço  dezíanle:  «Morirás»,  que  es  palabra  solenne 
d'aquel  tiempo,  lo  qual  él  no  sentia:  y  como  los  Hermanos 
lo  quisiessen  prohibir,  dezíales  que  los  dexassen,  que  já  él 
no  sentia  aquellas  cosas.  A  la  media  noche  lo  baptizaron 
aviéndolo  muy  bien  instruído  en  la  fe,  y  amonestáronle  455 
que  se  entregasse  todo  a  Dios  y  se  olvidasse  desta  vida, 
en  la  qual  tan  poco  tiempo  avia  de  estar.  Mas  el  Sefior, 
que  lo  avia  praedestinado  ab  aeterno 10,  estava  ya  tam 
apoderado  de  su  ánima,  que  no  lo  dexava  pensar  ni  dessear 
otra  cosa:  porque  como  el  Hermano  Manuel  de  Chavez  le  460 
preguntasse  que  determinavan  los  enemigos  si  nos  querían 
hazer  guerra,  como  suelen,  respondióle  él:  «Mi  abuelo,  dexa 
agora  esso  que  me  quiero  yr  para  Dios».  Un  poco  antes 
de  la  mariana  en  que  lo  avían  de  matar,  un  indio  de  Pira- 
tininga  christiano  muy  estimado  entre  todos  hizo  una  habla  465 
al  derredor  de  las  casas  (como  es  su  costumbre)  amones- 
tando  a  los  suyos  que  dexassem  a  los  Hermanos  hazer  con 
el  enemigo  todo  lo  que  juzgassen  serie  necessário  para  su 
ánima,  sino  que  lo  ternían  a  él  por  cruel  enemigo  y  des- 
truidor. Venida  el  alva,  quando  su  ánima  avia  de  ser  ves-  470 
tida  dei  resplandor  dei  sol  de  justitia11,  sacáronle  al  ter- 
rero  estando  presente  una  grande  multitud,  atado  por  la 
cinta  con  cuerdas  luengas,  las  quales  tienen  muchos  de  una 


459   de  sup.  ||  467    hazer  sup.  ||  472   atado  dei.  con 


10  Cf.  Eph.  1,  5  (Rom.  8,  29). 

11  «Splendor  lucis  aeternae  et  sol  Iustitiae»  (Antífona  «O»,  de  21 
de  Dez.). 


262 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


parte  y  dotra,  todo  lo  demás  suelto.  Llégase  el  que  lo  avia 

475  de  matar,  usando  primero  de  sus  ceremonias  y  ritos;  dízele 
la  solenne  palabra:  «morirás»!  Gritáronle  entonces  los  Her- 
manos  que  se  pusiesse  de  rodilhas,  lo  qual  él  luego  cumplió, 
alevantando  los  ojos  y  manos  al  cielo  y  llamando  el  sacra- 
tíssimo nombre  de  Jesu.   Le  quebro  la  cabeça  con  un  paio 

480  y  voló  su  ánima  dichosa  para  gozar  de  gloria  im mortal  en 
los  cielos.  Plega  a  el  Senor  que  tal  muerte  nos  dé  siéndo- 
nos  quebrada  la  cabeça  por  amor  de  Christo.  Él  muerto, 
quitáronle  las  cuerdas  y  dexáronle  sin  le  hazer  más  cosa 
alguna,  el  qual  los  Hermanos  enbolvieron  en  una  red  y 

485  trayéndolo  a  cuestas  a  Piratininga  lo  enterraron  en  la 
Iglesia  para  se  levantar  con  los  justos  en  la  venida  dei 
Senor12.  Bendito  sea  Dios,  cuya  infinita  sabiduría  recoge 
de  diversas  partes  sus  escogidos  para  que  se  cumpla  el 
número  de  aquellos  que  an  de  ser  admittidos  en  la  suerte 

49°  de  los  hijos  de  Dios. 

17.  De  los  mochachos,  que  luego  en  el  principio  fueron 
ensenados  en  la  escuela  en  christianas  costumbres,  cuya 
vida  quanto  era  más  diíferente  de  la  de  sus  padres,  tanto 
maior  occasión  dava  de  loar  a  Dios  y  recibir  consolatión, 

495  no  querría  hazer  mentión  por  no  refrescar  las  llagas  que 
parece  algún  tanto  estar  ya  curadas.  De  los  quales  diré 
solamente  que  como  llegaron  a  los  anos  de  pubertad  y 
comiençaron  a  poder  consigo,  vinieron  a  tanta  corruptión 
que  tanto  sobrepujan  agora  a  sus  padres  en  maldad  quanto 

5°°  antes  en  bondad,  con  tanto  maior  desverguença  y  desen- 
frenamiento  se  dan  a  las  borracherías  y  luxurias  quanto 
con  maior  modéstia  y  obedientia  se  entregavan  dantes  a 
las  costumbres  christianas  y  divinas  ensenanças.  Trabaja- 
mos  mucho  con  ellos  por  los  reduzir  al  camino  derecho,  ni 

5°5  nos  espanta  esta  mudança  pues  vemos  que  los  mesmos 
christianos  hazen  de  la  mesma  manera. 


496   diré  sup. 


12    1  Cor.  1,  8. 


56. -S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1560 


265 


18.  De  los  índios  dei  sartón13  muchas  vezes  estamos 
con  receios  de  guerra,  sus  amenazas  siempre  las  padecemos. 
Mataron  a  poços  dias  algunos  portugueses  que  venían  dei 
Paraguai,  donde  eran  idos,  y  ensoberbecidos  con  esta  mal-  510 
dad  amenázannos  con  la  muerte.  También  los  enemigos 
con  contínuos  saltos  dan  en  los  lugares,  destruyen  los  man- 
tenimientos  y  llevan  a  muchos  cativos.  El  ano  passado 
dieron  en  una  casa  aqui  junto  de  la  Villa  y  captivaron 
muchas  mugeres  que  se  avían  salido  de  casa  e  yvan  515 
huyendo,  y  embarcándolas  en  canoas  las  llevaron.  Mas  una 
delias,  mestiza,  que  era  aqui  continua  en  la  doctrina  y  con- 
fessiones,  con  ânimo  varonil  resistió  a  los  enemigos  porque 

no  la  llevassen,  los  quales  como  trabajassen  mucho  por  la 
embarcar  y  no  pudiessen  matáronla  con  feas  heridas.  Lo  520 
qual  es  de  crer  que  ella  haría  con  aquella  intentión  que 
ella  muchas  vezes  dezía  a  las  otras  que  andavan  en  la 
misma  doctrina,  principalmente  un  dia  antes  que  la  matas- 
sen  dispidiéndose  delias:  acostumbrávales  ella  a  dezir  que 
si  los  contrários  diessen  en  casa  de  su  padre  y  la  cativas-  525 
sen,  que  no  se  avia  de  dexar  llevar  viva  porque  no  la  tuvies- 
sen  allá  por  manceba,  como  hazen  a  todas  las  otras,  y  por 
esso  que  se  avia  antes  de  dexar  matar  que  ir  con  ellos,  onde 
sabia  cierto  que  avia  de  correr  peligro  y  padecer  íuerça  su 
castidad.  53o 

19.  Antes  destos  avían  venido  otros,  con  los  quales 
vinieron  quatro  franceses,  los  quales,  con  pretexto  de  ayu- 
dar  a  los  enemigos 14  en  la  guerra,  se  querían  passar  a  noso- 
tros,  lo  qual  no  pudieron  hazer  sin  mucho  peligro.  Estos, 
como  después  se  supo,  apartáronse  de  los  suyos,  que  están  535 
entre  los  enemigos,  en  una  poblatión,  que  nosotros  llama- 
mos  Rio  de  Henero  daqui  a  cinquenta  léguas,  y  tienen  trato 


507    sartón  dei.  sie  ||  513   cativos  dei.  no  ||  533    un  corr.  ex  hun 


13  «Sartón»,  por  sertão.  Portuguesismo:  terras  do  interior,  longe 
da  costa. 

14  Índios  Tamoios. 


264 


IR.  JOSÉ  DEjANCHlETA  -  P.  DIEGO  LAYXtS 


con  ellos.  Ay  hizieron  casas  y  edificaron  [nor]  una  torre 
muy  proveída  de  artilhería  y  fuerte  de  todas  partes,  onde 

540  se  dezía  ser  mandados  por  el  Rey  de  Francia15  a  se  enseno- 
rear  de  aquella  tierra.  Todos  estos  eran  herejes,  a  los  qua- 
les  mando  Juan  Calvino  dos,  a  que  ellos  llaman  ministros16, 
para  que  les  ensenassen  lo  que  se  avia  de  tener  y  creer. 
Day  a  poco  tiempo  (como  es  costumbre  de  los  herejes) 

545  començaron  a  tener  diversas  opiniones  unos  de  los  otros, 
mas  concordaron  en  esto  que  escreviessen  a  Calvino  y  a 
otros  letrados  y  lo  que  ellos  respondiessen  esso  ternían 
todos. 

20.  En  este  médio  tiempo  uno  dellos,  ensenado  en  las 
55°  artes  liberales,  griego  y  hebraico,  y  muy  versado  en  la 
Sagrada  Escriptura,  o  por  miedo  de  su  capitán17  que  tenía 
diversa  opinión,  o  por  querer  sembrar  sus  errores  entre  los 
Portugueses,  vínose  aqui  con  otros  tres  companeros  idio- 
tas18, los  quales  como  huéspedes  y  peregrinos  íueron  rece- 
555  bidos  y  tratados  mui  benignamente.  Este  que  sabe  bien 
la  lengua  espanol 19  começo  luego  a  blasonar  que  era  hidalgo 


15  Henrique  II  (i547-*559)- 

16  Cf.  supra,  doe.  32,  p.  182. 

17  Villegaignon,  cf.  supra,  doe.  32  §  1. 

18  Destes  três  franceses  «idiotas»,  isto  é,  sem  instrução  ou  de 
pouca  instrução,  um  era  «Pero  de  Vila  Nova»,  criado  de  Bolés,  que 
passou  para  a  Baía  e  morava  em  Sergipe  do  Conde,  casado  com  Leonor 
Marques  de  Mendonça,  quando  depôs  na  Baía  a  17  de  Janeiro  de  1592. 
Disse  que  viera  para  o  Brasil  com  Bois-le-Comte  e  Boles,  e  fugira  do 
Rio  de  Janeiro  para  S.  Vicente.  «Perguntado  se  sabe  alguns  dos  ditos 
luteranos  que  ficassem  e  estejão  neste  Brasil,  repondeo  que  não  sabe 
luteranos  senão  dous  catholicos  que  também  fugirão  pera  os  cristãos, 
a  saber,  Marim  Paris,  que  ora  dizem  estar  casado  em  o  Rio  de  Janeiro, 
e  André  de  Fontes  também  ora  casado  em  San  Vicente»  {Primeira 
Visitação  do  Santo  officio.  Confissões  da  Bahia  ifçi-92  [Rio  de 
Janeiro  1935]  9r-93)- 

19  Além  do  espanhol  e  do  italiano  {Anais  da  Bibi.  Nac.  do  Rio  de 
Janeiro  xxv  270),  João  de  Bolés  não  tardou  a  aprender  o  português, 
língua  em  que  faz  um  requerimento  para  lhe  ser  dada  vista  do  auto  de 
justificação,  que  se  conserva  com  anotações  suas  autografas  em  portu- 
guês (ib.  297). 


36. -S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1560 


265 


y  letrado,  y  con  esta  opinión  y  una  fácil  y  alegre  conver- 
satión  que  él  tiene,  hazía  espantar  los  hombres  y  que  lo 
estimassen.   Escrivió  también  una  breve  carta20  al  Padre 
Luís  de  Grana,  que  entonces  estava  en  Piratininga,  en  la  56° 
qual  le  dava  cuenta  de  quien  fuesse  y  de  lo  que  avia  apren- 
dido: diziendo  que  después  que  el  moderador  de  su  ado- 
lescentia,  varón  singular,  lo  avia  metido  en  las  cuevas  de 
las  Piérides21,  y  oviesse  bebido  de  la  fuente  caballina  ame- 
níssimos arroyos  de  sabiduría,  se  avia  passado  al  studio  de  565 
la  Sacra  Theología  y  Divina  Scriptura ;  lo  qual  para  más 
facilmente  poder  alcansar  avia  aprendido  la  lengua  sacra, 
esta  es  la  hebrea,  de  los  mesmos  Rabbis,  de  los  quales  avia 
oydo  muchos  secretos,  los  quales  platicaría  con  el  Padre 
quando  se  viessen.  Estas  cosas  quasi  comprehendía  él  en  57° 
su  epístola,  la  qual  concluyó  con  un  dísticho. 

No  se  passaron  muchos  dias  quando  él  començó  a  regol- 
dar  de  su  estômago  lleno  el  hedor  de  sus  errores,  diziendo 
muchas  cosas  de  las  imágines  de  los  Sanctos  que  aprueva 
la  Sancta  Iglesia,  dei  Sacratíssimo  Cuerpo  de  Christo,  dei  575 
Romano  Pontífice,  de  las  indulgentias  y  outras  muchas 
cosas,  las  quales  él  adobava  con  un  cierto  sal  de  gratias, 
de  manera  que  al  paladar  dei  pueblo  ignorante  no  sola- 
mente  no  parecían  amargas,  mas  aún  muy  dulces.  Sabiendo 
esto,  el  Padre  Luís  de  Grana  vínose  luego  de  Piratininga  58° 
a  se  opponer  a  la  pestilência,  y  arrancar  las  raízes  aún  tier- 
nas  deste  mal  que  començava  a  brotar.  Teniendo  él  receio 
desto  y  no  sin  favorecedor  fortasse  para  indignar  el  Padre 
contra  sy  y  hazerle  sospecho22  si  por  ventura  denuntiasse 


583   fortasse  sup. 


20  Carta  perdida. 

21  Nove  filhas  de  Pierus,  rei  da  Macedónia,  vencidas  pelas  Musas, 
que  por  isso  também  às  vezes  se  chamavam  Piérides. 

22  Assim  era,  de-facto.  Mais  tarde,  em  1563,  João  de  Bolés  alegará 
que  o  Provincial  movera  a  devassa  por  causa  da  invectiva,  que  lhe 
mandara,  e  por  isso  lhe  ganhara  «ódio»  e  era  seu  «inimigo  capital» 
(ib.  301-302). 


266  IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 

585  dél,  mandóle  luego  una  invectiva23,  cuyo  principio  era  este: 
Adeste  mihi  caelites,  afferte  gládios  ancipites  ad  faciendam 
vindictam24  in  Ludovicum  Dei  osorem,  etc.  En  la  qual  lo 
accusava  y  reprehendía  muy  agramente  porque  no  partia 
el  pan  de  la  doctrina  a  los  Portugueses  por  trabajar  en  la 

59°  conversión  de  los  infieles,  y  deste  tenor  amontonó  otras 
muchas  cosas  con  las  quales  le  parecia  que  se  exasperaria 
el  Padre.  Mas  el  Padre  que  tratava  la  causa  de  Dios  y  no 
la  suya,  teniendo  más  respecto  a  la  commún  salud  de  todos 
que  a  su  própria  gloria,  fuesse  a  el  Vicario25  requiriéndole 

595  que  no  dexasse  ir  por  delante  esta  ponçonha  lutherana,  y 
en  los  sermones  públicos  amonestava  al  pueblo  que  se 
guardasse  destos  hombres  y  de  los  libros,  que  truxeron,  que 
eran  llenos  de  herejías.  Mas  el  vulgo  imperito  en  frequen- 
tes pláticas  loavan  a  el  francês,  maravillávanse  de  su  sabi- 

600  duría  y  eloquentia,  y  predicavan  el  conoscimiento  que  tenía 
de  las  artes  liberales,  y  por  el  contrario  calumniavan  al 
Padre  Luís  de  Grana,  diziendo  que  enojado  por  la  invec- 
tiva, que  le  mandara,  lo  persiguía.  Para  que  es  más?  Yvase 
ya  la  pestilentia  poco  a  poco  encaxando  en  los  coraçones 

605  incautos  de  la  imperita  multitud,  que  no  ay  duda  sino 
que  se  ovieran  de  inficionar  muchos  con  esta  ponçonha 
mortal  si  no  oviera  quien  le  resistiera.  Tanto  valió  de 
repente  su  authoridad  para  con  todos,  que  muy  facilmente 
diminuyó  la  opinión  dei  Padre,  a  quien  todos  tenían  en 

610  mucha  reputatión  por  su  exemplo  de  vida  y  doctrina  sin- 
gular. Después  desto,  lo  mandaron  a  la  Baya  para  que  allá 
se  conosciesse  de  su  causa  más  largamente.  Lo  que  allá  y 
acá  se  hizo  acerca  dél,  porque  por  cartas  particulares  se 
sabrá  y  no  es  cosa  que  convenga  para  carta  general,  lo 


598    de  dei.  henii 


23  Perdida. 

24  Cf.  Ps.  149,  6-7. 

25  Gonçalo  Monteiro. 


36.  -  S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  DE  1560 


267 


callaré20.  Solamente  diré  que  se  trató  la  cosa  de  manera  615 
que  terná  V.  P.  occasión  de  gran  dolor  considerando  quam 
poco  caso  se  hizo  entre  los  christianos  íieles  de  la  causa 
de  la  fe. 

21.  Deste  supo  el  Governador  la  determinatión  de  los 
Franceses  y  con  naos  armadas  vino  a  combatir  la  fortaleza.  620 
Daqui  le  fué  soccorro  en  navios  y  canoas;  nosotros  dímosle 
el  acostumbrado  soccorro  de  orationes  y  ultra  de  las  par- 
ticulares que  hazía  cada  uno,  se  dezían  cada  dia  unas  lita- 
nias en  la  Iglesia,  acabada  la  missa.  También  se  mandó 
daqui  un  Padre  con  un  Hermano27  intérprete,  a  ruegos  dei  625 
Governador,  para  que  se  occupassen  en  confessar  los  sol- 
dados, y  ensenar  los  índios  que  con  él  avían  venido.  D'allá 
torno  el  Hermano  muy  doliente  de  fiebres  y  câmaras  de 
sangre  por  el  mucho  trabajo  y  frio  que  allá  passó,  mas  en 
breve  por  la  divina  bondad  sanó.  630 

Era  la  fortaleza  muy  fuerte  assí  por  la  naturaleza  y  sitio 
dei  lugar,  toda  cercada  de  penas,  a  la  qual  no  se  podia  ir 
sino  por  una  subida  muy  estrecha  y  alta  por  rochas,  como 
por  la  mucha  artilhería,  armas,  alimentos  y  grande  muche- 
dumbre  de  bárbaros  que  tenía,  de  manera  que  a  juízio  de  635 
todos  era  inexpugnable.  Acometiéronla  con  todo  esto  por 
tierra  y  por  mar,  confiados  más  en  el  poder  divino  que  en 
el  suyo  próprio;  defendíanse  los  franceses  con  los  enemi- 
gos.  Fué  una  grande  y  cruel  pelea.  De  ámbalas  partes 
murieron  muchos,  y  más  de  los  nuestros.  Vino  la  cosa  a  640 
tanto  que  ya  tenían  perdida  la  esperança  de  victoria,  y 
tomavan  consejo  como  se  podrían  embarcar  a  sy  y  a  los 
tiros,  que  tenían  en  tierra,  sin  peligro,  lo  qual  cierto  ellos 


637    y  enseãar  6ís  ||  633    rochas  dei.  ultra 


26  Refere-se  a  uma  primeira  devassa,  «que  se  escondeu».  Tam- 
bém alguns  dias  antes  desta  carta,  a  14  de  Maio  de  1560,  já  tinha  o 
ouvidor  eclesiástico  de  S.  Vicente,  Gonçalo  Monteiro,  absolvido  João 
de  Bolés  {Anais  xxv  235). 

27  P.  Fernão  Luis  e  Ir.  Gaspar  Lourenço  (cf.  carta  35  §  10). 


268 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


no  pudieran  hazer  sin  morir  muchos.   Mas,  aviendo  ellos 

645  acometido  esta  cosa  tam  árdua  y  al  parecer  quasi  de  todos 
temerária,  por  la  justitia  y  fe,  ayudólos  el  Senor  de  los 
exércitos,  y,  quando  ya  en  las  naos  no  avia  pólvora  y  los 
que  peleavan  en  tierra  desfallecían  ya  por  el  mucho  tra- 
bajo,  huyeron  los  franceses,  desamparando  la  torre  y  reco- 

650  giéronse  a  las  poblationes  de  los  bárbaros  en  canoas,  de 
manera  que  es  de  crer  que  más  huyeron  con  el  espanto  que 
les  puso  el  Senor  que  con  las  fuerças  humanas. 

22.  Tomóse  pues  la  fortaleza,  en  la  qual  se  halló  grande 
copia  de  cosas  de  guerra  y  mantenimientos  —  mas  Crux  o 

655  alguna  imagen  de  Sancto  o  senal  alguna  de  cathólica  doc- 
trina  no  se  halló  — grande  muchedumbre  de  libros  heré- 
ticos, entre  los  quales  (si  por  ventura  esto  es  senal  de  su 
recta  fe)  se  halló  un  missal  con  las  imágines  raídas.  Soc- 
corra  el  Senor  a  sus  ovejas. 

660  23.  Con  el  Governador  vino  el  Padre  Manuel  de 
Nóbrega  muy  doliente  y  magro,  con  los  pies  y  cara  inchada, 
las  piernas  llenas  de  postemas,  y  con  otras  muchas  enfer- 
medades,  de  las  quales  como  aqui  llegó  se  començó  a  hallar 
mejor;  esperamos  en  la  bondad  dei  Senor  que  poco  a  poco 

665  le  irá  dando  salud. 

24.  Los  Hermanos  también  adolecen  a  las  vezes,  mas 
en  breve  tiempo  convalescen,  los  quales  con  entender  con 
la  salud  de  los  próximos,  mucho  más  trabajan  por  la  suya, 
sirviendo  al  Senor  en  alegria,  dándose  a  los  sólitos  exerci- 

670  tios  de  oratión,  obedientia  e  humildad,  y  exhortándose  con 
mutuas  pláticas  a  la  virtud.  La  maior  parte  está  siempre 
en  Piratininga  onde  algunos  hijos  de  los  Portugueses 
aprenden  grammática;  aqui,  están  siempre  dos  sacerdotes. 

25.  El  Padre  Luís  da  Grãa  no  tiene  assiento  firme  por 
675  mejor  acudir  a  todos,  aora  está  en  Piratininga  onde  [nov] 

ay  muchos  Portugueses  con  toda  su  familia  y  ay  y  en  otros 
lugares  vezinos  trabaja  en  la  doctrina  de  los  índios,  aora 
aqui  y  en  otros  lugares  al  derredor  procurando  el  provecho 


661    Nóbrega  corr.  tx  Nobrgi 


36.  -  S.  VICENTE  1  DE  JUNHO  UE  1560 


269 


spiritual  de  los  Portugueses  y  sus  esclavos.  Poco  a2s  que 
recibió  cartas29  en  que  se  le  encommendava  el  cargo  desta  68o 
Província,  lo  qual  él  dixo  a  los  Hermanos  llamándolos  todos 
a  la  Iglesia  y,  mandándolos  sentar,  él  puesto  de  rodillas 
accusándose  gravemente,  affirmando  no  ser  apto  para  tal 
cargo,  y  después  prostrado  por  tierra  bezando  los  pies  a 
tódolos  Hermanos.  685 

Esto  es,  Reverendo  en  Christo  Padre,  lo  que  querrá  saber 
de  acá.  Resta  que  con  assiduos  ruegos  encommiende  a  nues- 
tro  Senor  estos  mínimos  hijos  de  la  Compariía  para  que 
podamos  conoscer  y  períectamente  cumplir  su  sanctíssima 
voluntad.  690 

Del  Collegio  de  Jesú  de  S.  Vicente  afio  de  1560,  al  pri- 
mero  de  Junio. 

Mínimo  de  la  Compariía  de  Jesú, 

Joseph. 

[iiiv.  Endereço  autógrafo :]  +  Al  muy  Reverendo  en  695 
Christo  Padre,  el  P.  Maestro  Jacobo  Laynez,  Prepósito 
General  de  la  Compahía  de  Jesú.  2.a  via. 


28  A  carta  de  Mem  de  Sá  a  El-Rei  ainda  é  datada  do  Rio  de  Janeiro, 
31  de  Março;  e  parece  que  nesse  mesmo  dia  a  armada,  com  Nóbrega, 
entrou  no  porto  de  Santos  (cf.  Vasconcelos,  Vida  de  Anchieta  67).  Não 
deve  ter  demorado  a  posse  do  cargo  do  novo  Provincial,  porque  Luís 
da  Grã,  já  o  era  a  22  de  Abril  (doe.  32).  Quer  dizer,  já  o  seria  há  cerca 
de  mês  e  meio,  quando  Anchieta  escrevia  (t  de  Junho),  mas  ainda 
se  compagina  bem  com  o  que  diz:  «pouco  há». 

29  Cartas  perdidas. 


270 


POSSE  DA  SESMARIA  DE  GERAIBATIBA 


37 

POSSE  DA  SESMARIA  DE  GERAIBATIBA 
NO  CAMPO  DE  PIRAT1NINGA 

[CAMPO  DE  PIRATININGA]  12  DE  AGOSTO  DE  1560 

I.   Autores:  Leite,  História  i  257;  Breve  Itinerário  167. 

II.  Texto:  Câmara  Municipal  de  São  Paulo,  Cartório  da  Tesoura- 
ria da  Fazenda,  maço  3  de  Próprios  Nacionais  (segundo  Azevedo 
Marques).  Em  português. 

III.  Impressão:  Azevedo  Marques,  Apontamentos  II  (Rio  de 
Janeiro  1879)  145-146. 

IV.  Edição:  Reimprime-se  de  Azevedo  Marques. 

Textus 

7.  Fr.  Gregorius  Serrão,  minister  Collegii  S.  Pauli,  iubente  Nóbrega, 
litteras  donationis  terrarum  affert  [  Geraibatiba].  —  2.  In  possessionem 
venit  terrae  et  dumeti  in  ilinere  orae  campi.  —  3.  Iudex  iubet  duos  eives 
oppidi  S.  Pauli  huius  tractus  terrarum  fines  terminosque  constituere. 

1.  Saibam  quantos  este  estromento  de  posse  de  numas 
terras  de  dadas,  mandada  dar  por  auturydade  de  justiça 
com  ho  teor  do  auto  da  pose  vyrera: 

Como,  no  anno  do  nacimento  de  Nosso  Senhor  Jesu 
5  Christo  de  mil  e  quynhentos  e  sesenta  1  anos,  haos  dose 
dias  do  mes  d'Aguosto  do  dyto  ano,  no  campo  e  termo  da 
Vila  de  Sam  Paulo  de  Pyratyny,  de  que  hé  Capitam  e 
Governador  ho  Senhor  Martym  Aífonso  de  Souza,  do  Con- 
selho d'El-Rey  nosso  Senhor;  y  estãodo  ahy,  no  dyto 


i  Impresso  setenta  em  vez  de  sessenta.  Em  1570  o  Irmão  Gre- 
gório Serrão  já  era  Padre  e  Reitor  do  Colégio  da  Bala  (Leite,  Histó- 
ria I  63).  Trata-se  da  posse  das  duas  léguas  de  terra  doadas  a  26  de 
Maio  de  1560  (doe.  33). 


fIRATININGA  12  DE  AGOSTO  DE  1560 


271 


campo  e  borda  do  matto,  Fernão  Jorge2,  juiz  hordinario  10 
da  dyta  vila  e  campo,  ante  my  apareceu  ho  Irmão  Gre- 
guorio  Serrão  da  Companhia  de  Jesus,  mynistro  3  do  Mos- 
teiro de  S.  Paulo  de  Pyratyny,  e  por  ele  foy  apresentada 
huma  carta  de  dada  de  terras,  que  o  Capitam  Francisco 
de  Moraes  deu  ao  Padre  Luiz  da  Grã,  Provincial  destas  15 
partes  do  Brasil;  e  por  ele  dyto  Irmão  foy  dyto  hao  dyto 
juiz,  em  presença  de  my  tabalião,  que  lhe  mandasse  dar 
pose  da  terra  conteuda  na  dita  carta,  por  quanto  ele  era 
mandado  pelo  Padre  Nobregua,  Prepozito  4  nesta  Capyta- 
nia,  e  mandou  dar  pose  da  dyta  terra  per  my  tabalião.  20 

2.  E  loguo,  por  my  tabalião,  foy  dado  pose  da  dyta 
terra  e  mato,  que  parte  de  huma  banda  por  huns  pynhei- 
ros  perto  de  Bertolameu  Carasco 5,  parte  com  ha  outra 
parte  vyndo  pelo  camynho  hao  longo  do  mato,  camynho 
da  Borda  do  Campo,  vyla  que  foy  de  Santo  André,  até  25 
intestar  com  o  pao  de  canoa,  que  está  no  dito,  diguo,  no 
meo  do  dyto  camynho  velho,  e  asy  vay  para  a  Borda  do 
Campo. 

3.  E  logo  polo  dyto  juiz  foy  dado  juramento  a  Fran- 
cisco Pires  6  e  Fernão  d'Albernaz  7,  ambos  moradores  em  30 
Pyratyny,  villa  de  San  Paulo,  para  que  demarcasen  a  dyta 
terra  haos  dytos  Padres,  etc. 

Eu  Pedro  Dias  8,  tabalião  do  pubricuo  judicial,  que  o 
escrevy. 


2  Fernão  Jorge,  cf.  A.  de  Moura,  Os  povoadores  do  Campo  de 
Piratininga  100. 

3  Cargo,  nas  Casas  da  Companhia,  subordinado  ao  Reitor  ou 
Superior  dela,  para  as  coisas  de  ofícios  e  assuntos  materiais,  segundo 
as  indicações  do  Superior  (cf.  Constitutiones,  Pars  IV,  cap  X  §§  7-8). 

4  Prepósito,  isto  é,  tinha  sob  a  sua  jurisdição  imediata  as  Casas  e 
Aldeias  da  Capitania  de  S.  Vicente,  nas  quais  poderia  haver  Superior 
local  ou  Ministro,  que  fizesse  as  vezes  de  Superior  na  sua  ausência. 

5  Bartolomeu  Carrasco,  cf.  A.  DE  Moura,  Os  povoadores  36. 

6  Francisco  Pires,  cf.  ib.  142. 

7  Impresso  Abbernaz.    Sobre  Fernão  de  Albernaz,  cf.  ib.  13. 

8  Pedro  Dias,  cf.  ib.  61 ;  Mon.  Bras.  11  104. 


272 


P.  MANUEL  ÁLVARES  -  PP.  E  II.  DE  COIMBRA 


38 

DO  P.  MANUEL  ÁLVARES 
AOS  PADRES  E  IRMÃOS  [DE  COIMBRA] 

BAÍA  4  DE  SETEMBRO  DE  1560 

I.  Bibliografia:  B.  MACHADO  III  170;  SOMMERVOGEL  I  219A ; 
STREIT  IV  301  n.  1. 

II.  Autores :  Henrique  Dias,  Relação  da  viagem  e  naufrágio  da 
nao  S.  Paulo,  in  B.  Gomes  de  Brito,  Historia  Trágico- Marítima  m 
(Lisboa  1904)  7-26;  Diogo  do  Couto,  Década  vn,  lib.  9,  c.  5;  Leite, 
História  11  334  428;  S.  Gonçalves,  História  da  Comp.  de  Jesus  no 
Oriente,  lib.  9,  cap.  19. 

III.  Texto:  1.  Lisboa,  Biblioteca  da  Ajuda,  49-IV-50,  ff.  339r-347r 
[antes  ff.  34or-348r].  Título:  «Copia  de  huma  do  Padre  Manoel  Alvarez 
que  foy  pera  a  índia  que  escreveo  da  Baia  de  Todos  o[s]  Santos  onde 
foy  ter  por  a  nao  em  que  hia  arribar  à  Baia,  4  de  Setembro  de  1560». 
Apógrafo  em  português. 

2.  Academia  das  Ciências  de  Lisboa,  Cód.  12  azul,  depois  da  f.  320V. 
Apógrafo  em  português. 

3.  Biblioteca  Nacional  de  Lisboa,  Fundo  Geral  4534,  ff.  I74r-i79v. 
Apógrafo  em  português. 

IV.  Impressão :  Josef  Wicki,  Documenta  Indica  iv  (Roma  1956) 
605-631. 

V.  Lugar:  Como  diz  o  título  (texto  1),  trata-se  duma  arribada  à 
Baía,  donde  escreve  o  autor,  que  se  destinava  à  índia,  e  para  onde  de 
facto  seguiu;  por  isso  Wicki  a  publicou  em  DI,  com  o  devido  comen- 
tário e  aparato  crítico.  Mas  a  arribada  e  contacto  com  os  Padres  e  a 
terra  baiana  tornam-na,  neste  particular,  documento  também  brasileiro. 

VI.   Edição :  Reimprime-se,  por  Wicki,  o  que  toca  ao  Brasil. 

Textus 

1.  Scribet  de  itinere  navis  «S.  Paulo*  inter  alias  rationes  quia  id 
iussit  Provincialis.  —  2.  Simul  ac  aliae  naves  ad  Indiam  directae,  una 
Brasiliam  petebat  qua  vehebantur  Fratres  Antonius  Gonçalves  et  Lu  do- 
vicus  Rodrigues.  —  3.    Post  tres  menses,  navis  «S.  Paulo»  aliam  invenit 


58.  -  BAÍA  4  DE  SETEMBRO  DE  1560 


275 


quae  S.  Vincentium  petebat,  nautae  inter  se  locuti  sunt.  —  4.  E  navi 
Indiae  recepit  navis  S.  Vincentii  aquam,  panem,  aliasque  res  ad  aegro- 
tantes.  —  5.  Statutum  es/  ut  navis  Indiae  appelleret  Bahiam.  —  6.  Lae- 
titia  Patris  quum  vidit  terram  Brasiliae,  et  caritas  qua  receptas  est  a 
Patribus  S.  I.,  veris  apostolis.  —  7.  E  partibus  verstts  meridiem  cum 
Gubernatore  Mendo  de  Sá  Bahiam  pervenit  Provincialis  Ludovicus  da 
Grã,  qui  statim  concilium  fecit  omnium  Patrum  Fratrumque  pagorum. 
—  8.  Si  res  Brasiliae  omnes  narrarei,  aliam  longam  epistolam  scribe- 
ret.  —  9.    Se  Patribus  Fratribusque  Portugaliae  commendat. 

+ 

Jesus 

Gratia  et  pax  Domini  Nostri  lesu  Christi  sit  semper  in 
cordibus  nostris.  Araen. 

1.  Antes  que  me  embarcasse,  dilectissimos  Padres  e 
Irmãos,  vos  escrevi  de  Lixboa  \  de  nossa  chegada  ahy  de  5 
Coimbra  e  até  nossa  embarcação,  [339V]  aonde  vos  prometi 
de  vos  escrever  muy  largamente  de  toda  a  viagem,  se  o 
Senhor  nos  trouxesse  à  índia.  E  não  somente  polia  obri- 
gação que  tenho  de  o  fazer  por  muytas  vias,  e  também  por 

o  Padre  Doctor  mo  mandar2,  mas  pello  grande  gosto  que  10 
eu  nisso  levo  me  faz  promptissimo  pera  o  fazer.  E  porque 
sei  quanto  contentamento  tendes  de  saber  todas  as  miude- 
zas que  passão  vossos  Irmãos  (maxime  por  esta  navegação), 
o  farey,  trabalhando  de  me  lembrar  por  ordem  de  tudo, 
favorecendo-me  o  Senhor  por  cuja  gloria  e  homrra  fazemos  15 
este  tão  longo  apartamento. 

2.  Començando  per  ordem  o  sucesso  desd'o  principio 
de  nossa  navegação,  saberão  que,  cuidando  nós  que  pouco 
mais  que  a  15  dias  de  Março  partíssemos  de  Lixboa,  não 
podemos  por  sucederem  os  ventos  contrários  à  navegação,  2o 
e  assy  estivemos  esperando  até  que  o  Senhor  nos  trouve 
ventos,  com  os  quaes  nos  pareceo  que  podíamos  navegar. 


1  Carta  perdida.  Cf.  Wicki,  DI  iv  607. 

2  Cf.  ib.  551. 
18 


274 


P.  MANUEL  ÁLVARES -PP.  E  II.  DE  COIMBRA 


E  estando  com  estes  desejos  de  nos  partir,  assy  porque  o 
tempo  se  hia  gastando,  como  porque  desejávamos  yá  de  ter 

25  passado  este  transito  de  ser  de  todo  despedidos  da  suavís- 
sima converçasão  dos  da  Companhia  de  Portugal,  final- 
mente que,  cuydando  yá  os  navegantes  e  armadores  que 
tinhão  yá  tempo,  mandarão  tocar  as  trombetas  e  atambor 
pera  fazer  o  alardo,  e  pello  tempo  se  tornar  logo  a  mudar 

30  o  não  fizerão,  que  foy  a  tres  d'Abril  [de]  1560,  dia  de  Santo 
Isidro  3.  Depois,  a  seis  dias  do  dito  mes,  bespora  de  Ramos, 
parecendo  que  yá  poderião  partir,  tocarão  outra  vez  ao  lardo, 
o  qual  fizerão  dia  de  Ramos,  no  qual  dia  nos  viemos  embar- 
car, trazendo  juntamente  ao  navio,  que  avia  d'ir  pera  o 

35  Brazil,  os  charissimos  Antonio  Gonçalves  e  o  Irmão  Luis 
Rodriguez 4,  que  avião  também  de  partir  pera  o  Brazil, 
acompanhando-nos  muytos  devotos  e  amigos  de  nossa  Com- 
panhia, com  alguns  Padres  e  Irmãos,  até  nos  deixarem  cada 
hum  em  sua  nao,  despedindo-sse  de  nós  com  o  solito  amor 

40  e  charidade  acostumada. 
[...] 

3.  Nos  mesmos  dezasete  dias  de  Julho,  sendo  já  perto 
da  noite,  vimos  huma  vella  por  proa  que  vinha  direita  a 
nós,  e  foi  mui  grande  o  alvoroço  que  foi  na  nossa  nao,  por 

45  aver  muito  tempo  que  andávamos  por  essa  costa  de  Guiné 
de  huma  parte  pera  a  outra,  morrendo  e  asando-nos  com 
quentura.  Em  parte  se  arreceava  a  nao  ser  de  franceses, 
em  parte  se  alegravão  muito  por  parecer  que  seria  alguma 
nao  das  da  nossa  companhia,  porque  também  andávamos 

50  muito  pensativos  por  nos  parecer  que  já  todas  as  naos 
avião  passado  a  Linha  e  nós  que  andávamos  por  hi,  en  vol- 
tas, da  terra  pera  o  mar  e  do  mar  pera  a  terra.  Este  temor 
tinhamos  por  a  nossa  nao  gilaventear  muito,  segundo  elles 
dizem,  porque  o  outro  ano  tornou  arribar  a  Portugal,  segundo 


3  A  festa  de  S.  Isidro  celebra-se  hoje  a  4  de  Abril. 

4  O  navio,  que  levava  os  Irmãos  (depois  Padres)  Antonio  Gon- 
çalves e  Luís  Rodrigues,  chegou  à  Baía  «ao  fim  de  Julho»,  como  diz  o 
mesmo  Luís  Rodrigues,  carta  de  11  de  Março  de  1563  §  2  (carta  72); 
cf.  Leite,  História  1  562. 


58.-  BAÍA  4  DE  SETEMBRO  DE  1560 


275 


elles  dizem  por  esta  falta  e  não  poderem  dobrar  o  cabo  de  55 
Santo  Agostinho;  e  portanto  andávamos  muito  juntos  à 
costa  de  Guiné.  E  ainda  que  a  nossa  nao  e  a  outra  corrião 
com  todas  as  vellas  pera  se  ajuntarem,  não  nos  pudemos 
ajuntar  senão  à  noite,  e,  chegando  à  fala,  pareceo  òs  da 
nossa  [346V]  nao  que  a  outra  era  francesa,  e  de  feito  que  a  60 
nao  o  era,  ainda  que  pusuida  de  portuguezes.   E  raan- 
dando-lhe  da  nossa  nao  que  amainasse,  que  parecia  que  se 
hia  acolhendo  e  não  querendo  amainar,  se  persuadirão  mais 
que  erão  francezes.  E  tornando-lhe  outra  vez  a  dizer  que 
amainasem,  lhe  tirarão  com  hum  tiro  d'artilharia  e  então  65 
espantados  elles  falarão,  e,  conhecidos  por  portuguezes, 
nos  alegramos  em  grande  maneira.  E  chegados  bem  à  fala, 
soubemos  delles  quem  erão  e  pera  onde  hião,  os  quaes  erão 
dos  que  partirão  com  a  armada  da  Índia  pera  o  Brazil,  e  esta 
nao  hia  pera  São  Vicente.  Começarão  a  dar  novas  das  7° 
outras  naos  da  índia,  ao  menos  dalgumas  delias,  especial- 
mente da  nao  São  Vicente,  que  parecia  aver  já  passado  pri- 
meiro que  todas,  e  da  nao  Drago,  que  parecia  que  a  vião 
de  avoar',  e  nos  diserão  que  nem  estas  avião  podido  passar, 
porque  nem  pera  o  mar  mui  largo  nem  pera  junto  da  costa  75 
de  Guiné  avia  vento  pera  poder  passar  a  Linha  por  ser  sul 
por  proa,  e  que  andou  com  estas  naos  algum  tempo  até  as 
deixar,  e  de  outras  dixe  que  ouvera  vista. 

4.    Fiquamos  todos  mui  alegres,  asi  de  huma  parte  como 
da  outra,  e  concertarão-se  que  irião  de  companhia,  a  qual  80 
nao  por  falta  de  mantimentos  e  agoa  queriâo  também  tomar 
a  Baia,  e  da  nossa  nao  lhes  prometerão  agoa  e  pão  e  algu- 
mas cousas  pera  doentes  e  as[si]  fomos  alguns  dias  acom- 
panhados, vindo  elles  cada  menhã  dar  salva  com  grandes 
vozes  de  bom  viagem.  E  asi  chegando  huma  vez  muito  a  85 
nós  deu  a  sua  nao  pella  nossa  e  quebrou-lhe  a  verga  do 
traquete,  e  logo  se  ordenou  de  lhe  dar  outra  da  nossa  nao, 
e  asi  deitando  o  batel  ao  mar  vierâo  a  nós  e  forão  providos 
de  tudo  o  que  tenho  dito.  E  asi  caminhando  com  elles 
alguns  dias,  afraquou  o  vento,  [e]  se  forão  saindo  de  nós,  90 
que  os  não  podiamos  aturar  por  a  nossa  nao  querer  mais 
vento,  nos  desapareceo.  E  nós  caminhando  como  podiamos, 


276 


P.  MANUEL  ÁLVARES  -  PP.  E  II.  DE  COIMBRA 


pasamos  a  Linha  tão  desejada  de  todos  aos  26  de  Julho, 
dia  de  Santa  Ana  à  noite,  e  pusemos  de  Lixboa  a  ella  tres 

95  mezes  e  sete  dias.  Depois  de  passada  a  Linha,  a  nove  dias 
passamos  o  cabo  de  Santo  Agostinho  sem  aver  vista  de 
terra,  porque  hiamos  tanto  ao  mar  por  medo  de  não  ficar 
daquem,  que  depois  de  postos  na  altura  da  Baia  pusemos 
muitos  dias  em  achegar  a  ella,  donde  parecia  que  estava- 

100  mos  ao  mar  mais  de  duzentas  legoas. 

5.  Pasando  o  cabo  de  Sant  Agostinho  se  fez  hum  reque- 
rimento aos  governadores  da  nao,  que  —  porquanto  a  nao 
hia  tão  desbaratada  asi  de  agoa  e  mantimentos,  como  a 
gente  muito  fraqua  — nos  fossemos  fazer  aguada  e  tomar 

io5  algum  pouquo  de  refresquo  ao  Brazil,  e  a  refazer  a  nao  que 
disso  tinha  também  muita  necessidade.  Derão  todos  os 
chamados  pera  isso  suas  vozes  e  todos  dixerão  que  em  toda 
a  maneira  se  avia  de  tomar  a  Baia,  senão  que  nos  púnha- 
mos em  ventura  de  nos  perder  à  necessidade.  E  na  verdade 

no  ahi  não  avia  outro  remédio,  a  gente  hera  huma  piedade  de 
ver,  que  parecião  aver  sido  sepultados.  Eu  neste  tempo 
estava  de  maneira  que  não  me  pudia  ter  nem  sostentar,  por 
estar  todo  gastado.  Finalmente,  que  depois  que  passamos 
o  cabo  de  Sant  Agostinho,  trabalhamos  de  nos  pôr  na 

115  altura  da  Baia,  que  está  a  13  grãos  e  meio  pera  o  sul,  e 
postos  nella  caminhamos  muitos  dias  sem  poder  ver  terra. 
E  espantando-nos  muito,  [347r]  dezia  eu  que  a  causa  avia 
de  ser  que,  tendo  o  piloto  que  com  aquella  nao  não  pudés- 
semos passar  o  cabo,  herão  com  isto  lançados  muito  ao 

120  mar  e  assi  estando  muitas  legoas  da  banda  de  Guiné  não 
podemos  tão  azinha  tomar  terra. 

6.  Todavia  caminhando  alguns  dias,  depois  de  posto  na 
altura,  começarão  hum  dia  à  tarde  a  ver  terra.  Foi  tanta 
alegria  e  alvoroço,  que  bem  pareceo  o  muito  tempo  que 

125  avia  que  andavão  pelo  mar  e  tão  trabalhados.  Ao  outro 
dia  pella  menhã  começarão  a  ver  terra  mais  claramente  e 
forâo  conhecendo  que  era  a  Baia.  Hiâo  todos  mui  alegres 
e  eu  não  menos  que  elles,  tanto  que  de  contentamento  de 
poder  ver  os  Hirmãos  destas  partes  o  não  podia  crer.  Final- 

130  mente,  que,  surgindo  ainda  aquelle  dia  dentro  na  Baia,  nos 


38.  -  BAlA  4  DE  SETEMBRO  DE  1560 


277 


saimos  eu  e  meu  companheiro  e,  desembarquados  em  terra, 
eu  não  estava  pera  poder  andar,  e  pera  avermos  de  chegar 
a  este  Collegio  aviamos  de  subir  huma  grande  costa  asima. 
E  mandando  a  casa  viesse  alguém  por  mim  e  não  me  encon- 
trando os  que  vinhão  por  mim,  me  forçarão  que  fossemos  135 
pouquo  e  pouquo  caminhando;  e  asi,  tomando-me  dous  sol- 
dados da  nossa  nao,  que  comnosquo  sairão,  sobraçado,  me 
ajudavão  a  ir  quasi  levando-me,  indo  eu  tão  fraquo  que 
com  tudo  isto  me  deitava  por  esse  chão.  E  antes  que  che- 
gássemos a  casa,  sairão-me  a  receber  ao  caminho  o  P.e  Fran-  140 
cisco  Pirez  5,  reitor  deste  Collegio,  e  o  P.e  Rui  Pereira  6  e  o 
Irmão  Rodrigo  de  Freitas  7,  que  creo  será  o  portador  desta; 
e  asi  me  trouxerão  ao  Collegio,  aonde  fui  recebido  e  agasa- 
lhado com  a  charidade  e  amor  que  os  da  Companhia  acos- 
tumão  a  receber  seus  Irmãos  e  mais  de  tal  maneira,  e  145 
espantando-se  muito  como  eu  vinha  tão  desfeito  e  doente. 
Trabalharão  muito  de  me  convalescer  e  ajudar,  ainda  que 
devagar  fui  convalescendo,  porque  ainda  me  vinhão  algu- 
mas febrizinhas  de  que  me  sangrarão  outra  vez,  com  se 
comprirem  as  dez  vezes.  Agora  ao  prezente  ainda  não  estou  150 
muito  forte  e  a  nao  se  daa  muita  presa.  Dominus  ipse  dabit 
virtutem  et  fortitudinem  8.  Visto[s]  os  Irmãos  e  Padres  do 
Brazil,  me  parecia  verdadeiramente  ver  huns  apóstolos,  tão 
edificativos  que  me  espantarão,  tão  pobres  que  me  confun- 
diâo,  tão  humildes  e  zelosos  da  honrra  de  Deus  e  do  pro-  155 
veito  destas  almas,  que  hé  cousa  pera  dar  a  Nosso  Senhor 
infinitas  graças. 


5  Reitor  do  Colégio  da  Baía  de  1560  a  1562,  Leite,  ib.  11  61-62. 

6  Chegado  recentemente  ao  Brasil,  a  9  de  Dezembro  de  1559 
{ib.  I  561). 

7  O  antigo  Escrivão  do  Tesoiro,  de  quem  fala  Nóbrega  na  carta 
de  8  de  Maio  de  1558  {Mon.  Bras.  11  458).  A  4  de  Outubro  de  1560, 
Sebastião  Álvares  tomou  posse  deste  ofício,  dado  por  Mem  de  Sá, 
pelo  facto  de  Rodrigo  de  Freitas  «se  meter  na  Ordem  dos  Padres  da 
Companhia  de  Jesus  e  não  poder  servir  o  dito  officio  conforme  a 
Direito»  {Doe.  Hist.  36  [1937]  132-133). 

8  Cf.  Ps.  67,  36. 


278 


P.  MANUEL  ÁLVARES  -  PP.  E  II.  DE  COIMBRA 


7.  Esperava-sse  neste  tempo  o  P.e  Luis  da  Grãa,  que 
vinha  em  huma  armada  com  ho  Governador  Men  de  Saa, 

160  que  vinha  de  huma  guerra  que  teve  com  os  franceses  que 
nestas  partes  tinhão  feita  huma  fortaleza,  dos  quaes  ouve- 
rão  victoria  como  lá  mais  largo  saberão.  E  assi  esperando 
alguns  dias,  chegou  o  Padre;  o  qual  com  sua  chegada  nos 
deu  tanto  alvoroço  e  alegria,  como  já  sabeis  de  Luis  da 

J65  Grãa  e  da  sua  benignidade  se  podia  esperar  (com  os  que 
o  conheceis  falo),  o  qual  vinha  com  o  cargo  de  Provincial. 
Começou  logo  a  juntar  todos  os  Padres  e  Irmãos  que  por 
esta  Baya  estavão  derramados  polas  Aldeãs,  os  quais  com 
os  que  elle  trouxe  se  ajuntou  aqui  hum  bom  numero;  e, 

170  tratado  com  elles  o  que  cada  hum  avia  de  fazer  singular- 
mente e  consolados  alguns  dias  em  o  Senhor  aqui  todos, 
despedio  os  que  avião  d'ir. 

8.  Não  me  quero  mais  alargar  porque  vou  sendo  muito 
comprido,  e  mais  porque,  se  das  cousas  do  Brasil  vos  ouvesse 

175  de  escrever,  averia  mister  outra  tamanha  carta  como  esta  e 
não  acabaria.  Deixo  também  porque  lá  vai  a  carta  geral 9 
que  suprirá  tudo,  somente  quero  que  saibais  que  vivem 
quá  estes  nossos  Irmãos  apostolicamente,  e  o  P.e  Luis  da 
Grãa  hé  cousa  espantosa  vê-lo  que  parece  incansável  nesta 

180  terra  com  tantos  trabalhos,  sendo  nessa  tão  fraco  como 
sabeis. 

9.  Pera  fazer  particular  lembrança  de  todos  os  aman- 
tíssimos Padres  e  Irmãos,  que  nesse  Reino  me  ficarão, 
seria  nunca  acabar,  e  assim  em  geral  me  encomendo  muy 

185  muito  em  seus  santos  sacrificios  e  orações;  e  ayâo  todos 
esta  por  sua  como  particular,  porque  a  doença  e  negócios 
me  não  d[e]ixão  fazê-lo  particular.  Se  Nosso  Senhor  me 
levar  à  índia  de  lá  o  farei 10.   Valete,  Fratres  charissimi. 


9  Infra,  carta  de  Rui  Pereira  de  15  de  Setembro  de  1560  (carta  40). 
10  Fê-lo,  de  facto,  em  carta  de  5  de  Janeiro  de  1562,  na  qual  ainda 
se  refere  a  esta  estada  no  Brasil  em  1560:  «Chegamos  à  Baia  a  17  do 
mes  de  Agosto,  a  hum  sabbado.  Vimos  a  terra  pola  menham  muito 
cedo  e  às  duas  horas  do  dia  pouco  mais  ou  menos  estaríamos  ya  den- 
tro anchorados ;  aonde  estivemos  47  dias  convalescendo;  e,  aviando- 


39.  -  BAÍA  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


279 


Desta  Baia  de  Todos  os  Santos,  oje  4  de  Setembro 
de  1560.  190 
Servus  inutilis, 

Manoel  Alvarez. 

39 

DO  P.  JOÃO  DE  MELO 
AO  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO,  LISBOA 


BAÍA  13  DE  SETEMBRO  DE  1560 


I.  Bibliografia:  Catalogo  dos  Manuscriptos  I  27;  Cimélios  496: 
Leite,  História  vm  373  n.  r. 

II.    Autores :    LEITE,  História  II  53  274  316  338  561. 


-nos,  nos  partimos  day,  a  dous  de  Outubro,  era  de  1560.  O  Padre  Luis 
da  Grãa  com  muito  amor  e  charidade  foi  comnosco  até  à  nao,  e  dando 
à  vela  foy  ainda  hum  bom  pedaço,  e  não  podendo  yá  aturar  com  a  nao 
huma  barqua  em  que  se  avia  de  tornar,  se  despedio  de  nós  com  a  sua 
acustumada  charidade  ;  e,  deitando-nos  a  sua  benção,  se  tornou  elle  e 
o  Padre  Pereira,  que  também  com  sua  charidade  veo  também  com 
elle.  E  da  nossa  nao  lhe  deixamos  tres  mancebos,  já  na  Companhia, 
homens  de  muita  maneira»  (Bras.  ij,  f.  i55r)  —  Esta  carta  de  Manuel 
Álvares  contém  a  narração  da  viagem  da  Baía  em  diante,  a  caminho 
da  índia,  e  tres  desenhos  à  pena  pelo  mesmo  autor  da  carta,  excelente 
pintor,  um  dos  quais  a  nau  «S.  Paulo»  no  lugar  em  que  naufragou. 
A  4  de  Março  de  1943  no  Instituto  Português  de  Arqueologia,  História 
e  Etnografia,  de  Lisboa,  fizemos  uma  comunicação  sobre  esta  segunda 
carta  (5  de  Janeiro  de  1562);  e  publicou-a,  com  Prefácio  e  Notas, 
Frazão  de  Vasconcelos  :  Naufrágio  da  Nau  «S.  Paulo*  em  um 
ilhéu  próximo  de  Samatra,  no  ano  de  ijói.  Narração  inédita,  escrita 
em  Goa  em  1562  pelo  Padre  Manuel  Alvares  S.  J„  Lisboa  1948;  e,  depois, 
Artur  de  Sá,  lnsulindia  11  381-429;  Wicki,  DI  v,  doe.  67.  Também 
escreveu  toda  esta  viagem  e  naufrágio  Henrique  Dias  :  Relação  da 
viagem,  e  naufrágio  da  Nao  S.  Paulo  que  foy  para  a  índia  no  anno 
de  ijóo.  De  que  era  capitão  Ruy  de  Mello  da  Camera,  Mestre  Joaõ 
Luis,  e  Piloto  Antonio  Dias,  impressa  a  primeira  vez  por  Bernardo 
Gomes  de  Brito,  Historia  Trágico- Marítima  I  (Lisboa  1735)  351-442; 
443-479  (na  reedição  da  História  Trágico  -  Marítima  por  António 
Sérgio  11  [Lisboa  1956]  9-108). 


280 


P.  JOÃO  DE  MELO  -  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO 


III.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lis- 
boa] 1-5,  2,  38,  ff.  98v-ioor.  Título:  «Copia  de  numa  carta  que  escreveo 
o  P.e  Joam  de  Melo  para  o  Padre  Gonçalo  Vaz  de  Melo  Propósito  da 
Casa  de  São  Roche  da  Companhia  de  Jesus  em  Lisboa,  do  Brasil  aos  13 
de  Setembro  de  1560».  O  manuscrito  tem  duas  partes  destruídas,  uma 
de  maior  extensão  no  fim  da  carta.   Apógrafo  em  português. 

IV.  Impressão :   Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  250-253. 

V.  Edição:  Reimprime-se  o  texto  único,  valendo-nos  de  Cartas 
Avulsas,  nos  pontos  lacerados  do  ms. 

Textus 

1.  Patri  Torres  scripsit  de  his  quae  in  itinere  marítimo  acciderunt . 
—  2.  P.  Nóbrega  S.  Vincentium  cum  Cubernatore  profectus  est  et  reliquit 
Pagum  Spiritus  Sancti  iam  joo  pueros  scholae  habentem,  fere  omnes 
christianos.  —  3.  Ministério  in  hoc  pago.  —  4.  Baptismus  in  articulo 
mortis.  —  5.  Pompa  diebus  veneris  Quadragesimae.  —  6.  Ipse  aegrotavit 
et  in  Collegium  bahiense  rediit.  —  7.  Adventus  P.  Ludovici  da  Grã  qui 
iussit  domi  legi  artem  linguae  brasilicae  Fratris  Iosephi.  —  8.  Ipse  e 
morbo  convaluit  et  exspectat  ut  ilerum  mittatur  in  vineam  Dotnini. 

+ 

Jesus 

Muyto  Reverendo  em  Christo  Padre 
Pax  Christi. 

A  graça  e  amor  de  Jesu  faça  continua  morada  em  nossas 
almas.  Amen. 

1.  Por  aqui  verá  V.  R.a  como  nam  sou  esquecido  do 
que  à  minha  partida  me  pedio  e  eu  lhe  promety,  posto 
que,  sem  esta  obrigação,  muytas  outras  avia  para  que 
desta  terra  lhe  escrevesse  e  de  mi  lhe  desse  particular 
conta;  e,  porque  na  carta  que  escrevy  ao  Padre  Doutor1 
lhe  dou  conta  do  sucesso  da  nossa  viagem,  nesta  somente 


1    Miguel  de  Torres:  carta  perdida. 


59.  -  BAÍA  13  DE  SETEMBRO  DE  1560 


281 


direy  em  que  daí  por  diante  a  obediência  me  pôs  e  asi 
algumas  cousas  de  edificação  que  adonde  residi  aconte- 
cerão. 

2.  Em  o  mes  de  Janeiro,  embarcando-se  para  S.  Vicente  15 
com  o  Governador  2,  o  P.e  Manoel  da  Nóbrega  me  deixou 
em  huma  povoação  de  gentios,  que  estaa  desta  cidade  do 
Salvador  seis  legoas  polo  sertão  dentro,  a  qual  dantes  se 
chamava  Rio  de  Joane  e  agora  se  chama  Sancti  Spiritus. 
Hé  esta  Aldeã  a  mayor  e  mais  principal  que  nestas  partes  20 
do  Brasil  doutrynamos  [ggr];  no  tempo  que  nella  estava 
averá  perto  de  300  moços  d'eschola,  os  quais  quasi  todos 
são  christãos. 

3.  O  meu  exercitio  nesta  povoação  era  bautizar  os 
ynocentes  e  enterrar  os  mortos  e  ensinar  a  doutryna  a  25 
este  gentio,  casando  os  amancebados  in  lege  naturae 3, 
porque  há  entre  estes  índios  hum  custume,  que  os  mais 
delles  tem  duas  e  tres  molheres  ou  pera  milhor  dizer 
mancebas,  porque  nenhuma  delas  hé  molher  verdadeira. 
No  tempo  que  aquy  estive  faria  mais  de  cem  casais,  afora  30 
outros  que  se  fizeram  antes  de  mym.  Também  me  occupava 
em  visitar  polas  aldeias  os  doentes  com  os  quais  avya  bem 
em  [que  exercjitar  a  charydade,  porque  assi  no  temporal 
como  no  es[piritual]  eram  bem  necessitados:  todo  o  tempo 
que  aquy  estive  [ouve  grande]  numero  de  doentes  e  muy-  35 
tos  delles  morriam.  Traba[lhava  por  aparelhar]  os  velhos 

e  adultos  pera  receberem  o  bautis[mo,  e  os  bautisados] 
ensinava-os  e  doutrynava-os  nas  cousas  [da  Fé,  aparelhan- 
do-os  huns  e  os  outros  a  bem  morrer. 

4.  A  primeira  pessoa,  que  nesta  po]voaçâo  bautisey,  40 
[foy  a  hum  yndio  casado,  estando  em  artigo  de]  morte,  o 
qual  ninguém  julgava  à  vida  e  logo  que  [foy  b]autisado 
sentio  em  si  melhorya  e  asi  sarou  de  todo.  Dizia  ele  que, 
como  o  bautisara,  que  logo  Deos  lhe  dera  saúde.  Este 


2  Mem  de  Sá. 

3  Casamento  «in  lege  naturae»  ou  lei  da  natureza,  antes  do  bap 
tismo,  cf.  Mon.  Bras.  11  277-278  293. 


282  P.  JOÃO  DE  MELO  -  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO 

45  mesmo  yndio  dahy  a  cinco  ou  seis  meses  adoeceo  de 
huma  enfermidade  de  que  morreo,  e  em  sua  morte  deo 
mostras  de  hum  bom  christão.  Por  outra  vez  fuy  a  visi- 
tar a  hum  yndio  Principal,  que  estava  in  extremis,  e  por 
não  estar  já  en  si  lhe  deixamos  de  dar  o  bautismo,  e  indo 

50  adiante  a  visitar  outro  enfermo,  ouvymos  em  casa  do  pri- 
meiro grandes  gritos  e  choros  e  prantearem-no  como  a 
morto,  o  que  ouvydo  me  deo  não  pequena  pena  em  cuidar 
que  d'antre  as  mãos  o  demónio  me  levara  aquella  alma. 
Com  esta  magoa,  a  grande  pressa,  com  hum  Irmão  lingoa, 

55  me  torney  a  casa  do  que  tinhamos  por  morto  e,  chegando  ao 
lugar  donde  o  estavâo  chorando,  o  achamos  ainda  vivo  e  lhe 
demos  o  bautismo  por  responder  a  preposito  e  satisfazer  às 
perguntas  que  lhe  fizemos.  Logo  que  foy  bautisado,  se 
achou  bem,  e  assi  dezia  elle  que  como  o  bautisarão  que  logo 

60  Deos  lhe  dera  saúde.  Cuydavamos  todos  que  desta  esca- 
passe; assi  passado  este  dia  a  outro  de  madrugada  faleceo. 

Da  maneira  que  N.  Senhor  se  ouve  com  estes  se  há 
tãobem  com  alguns  outros,  [99V]  tirando  por  sua  bondade 
aos  gentios  por  huma  e  outra  vya  de  dous  abusos  que 

65  entre  elles  há;  hum  dos  quais  hé  cuydarem  os  doentes 
que  com  os  bautisarem  morrerão  e  por  esta  resão  não  se 
ousão  bautisar;  o  outro  hé  polo  contrario,  como  estão  mal 
quererem-se  bautisar  não  por  amor  de  Deos  e  de  sua 
gloria  senão  por  receberem  a  saúde  corporal.    Já  agora 

70  pola  misericórdia  do  Senhor,  asi  polo  que  vem  como  polo 
maior  lume  e  conhecimento  que  tem  das  cousas  de  Deos, 
vão  conhecendo  os  enganos  do  demónio  e  puri[ficandol 
suas  intenções. 

5.    Fizemos  nesta  povoação  algumas  [sextas-feiras]  da 

75  coresma  procissões,  yndo  huma  somana  ao  cabo  da  al[dea 
onde]  está  huma  cruz,  e  a  outra  somana  a  outra  parte  donde 
está  [outra],  e,  pola  parte  por  donde  avia  de  passar  a  pro- 
cissão, tinhão  [muyto  bem  limpa  e]  varrida  a  rua.  Acom- 
panhavam-na  quasi  [todos  os  da  aldeã,  que]  hera  huma 

80  gram  copia  de  gente;  quando  volviafmos  pera  a  Igreja, 


56    o1  sup.  II  76    huma  cotr.  sup.  tx  « 


39. -BAÍA  13  DE  SETEMBRO  DE  1560 


283 


hera  era  se  querendo]  cerrar  a  noyte  e  depois  de  [dito  o 
«Senhor  Deus  misericórdia»,  deitadas  as  molheres  fora  e] 
encerradas  as  portas,  avia  [huma  disciplina  por  espaço  de 
hum  «Miserere  mei  Deus»  com  hum  «Respice»,  na  qual 
sempre]  avia  muytos  disciplinantes  de  catechuminos  e  85 
christãos.  Tãobem  quinta-feira  de  Endoenças  ordenamos 
huma  procissão  em  a  qual  ouve  muytos  disciplinantes  e 
ferirão-se  tanto  que  foy  necessário  muytos  delles  cura- 
rem-se  em  casa.  Nesta  procissam  me  não  achey  presente 
por  estar  doente  de  febres.  Todas  estas  cousas,  antes  de  90 
se  fazerem,  mandava  ao  Irmão  lingoa  que  lhas  declarasse, 
o  porque  se  faziam  e  o  modo  e  atençam  que  avyam  de  ter 
nellas.  Paço  por  outras  muytas  particularidades  de  edifi- 
cação que  aqui  aconteceram,  porque  pola  carta  geral 4  as 
saberá  V.  R.a  mais  por  extenço.  95 

6.  Crecendo  mais  minha  enfermidade  me  mandou  o 
Padre  Vice-Provincial 5  me  partisse  para  este  Collegio  e  vim 
aquy  ter  a  Paschoa  6,  adonde  todo  o  mais  tempo  residi.  Nas 
cousas  em  que  aquy  a  obediência  me  ocupava  eram  em  ouvir 
confissões,  ter  cargo  da  ygreja  e  estudo,  confessar  os  estu-  100 
dantes,  e  soprir  polo  mestre  de  latim  quando  não  podia  ler. 

7.  Com  a  vinda  do  P.e  Luis  da  Grãa  todos  os  Padres 
e  Irmãos  foram  muy  consolados  em  o  Senhor,  e  assi  com 
seu  bom  exemplo  de  vida  e  afabilidade  todos  crecem  em  a 
virtude  e  devação,  e  asi  em  os  fer-[ioor]vores  e  acesos  105 
desejos  da  salvação  das  almas  e  conversam  do  gentio. 
Logo  que  o  Padre  aquy  chegou,  ordenou  que  em  casa  se 
lesse  a  arte  da  lingoa  brasilica,  que  compôs  o  Irmão 
Joseph 7,  e  o  mesmo  Padre 8  hé  o  mestre  e  estaa  tam 
exercitado  e  instruído  nella  que  leva  avantajem  nas  cou-  no 
sas  da  arte  aos  mesmos  lingoas.  Desta  liçam  nem  Reytor  9, 


4  Carta  40. 

5  António  Pires. 

6  14  de  Abril  de  1560. 

7  José  de  Anchieta. 

8  Luis  da  Grã. 

9  Francisco  Pires. 


284 


P.  JOÃO  DE  MELO  -  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO 


nem  pregador 10,  nem  nenhuma  outra  pessoa  hé  isenta. 
Vay  a  cousa  tam  deveras  que  há  quem  diga  que  dentro 
de  hum  anno  se  obriga,  de  s'ocupando,  falar  a  lingoa;  nem 

115  eu,  com  ser  dos  mais  inábeis,  perco  a  esperança  de  sabê-lo. 
8.    Vindo  já  ao  que  V.  R.a  me  pedio,  que  de  mym  lhe 
escrevesse  o  como  quá  me  acho,  saiba  que  até  agora  pouca 
melhorya  tive,  e  isto  não  hé  pola  terra  ser  má,  senão  pola 
falta  que  quá  há  das  cousas  necessárias  pera  mynhas  enfer- 

120  midades,  porque  emquanto  tinha  alguma  provisam  das  cou- 
sas que  trouxemos  do  Reyno,  estive  com  mediocre  dispo- 
siçam,  mas  logo  [que11  faltarão  me  faltou  também  a  saúde 
e  mynhas  eivas  antigas  se  renovaram  em  tanto  que  por  esta 
resão  até  à  vinda  do  P.e  Luis  da  Grãa  me  não  mudou  daquy 

125  o  Padre  Vice-Provincial.  Depois  da  vinda  do  Padre  cum 
quodam  genere  potionis,  que  me  ordenou,  me  vou  achando 
bem,  e  já  agora  cada  dia  estou  esperando  quando  virá  a 
minha  hora  ut  mittar  ad  laborandum  in  vinea  Domini 12, 
para  o  qual  officio  quanto  sabe  ser  eu  mays  indigno,  tanto 

130  peço  com  mays  efficacia  nas  devotas  orações  e  sacrifícios 
de  V.  R.a  ser  encommendado  e  asi  nas  dos  Padres  e  Irmãos 
dessa  Casa.  Não  me  alargo  mays  por  resão  de  tempo,  por- 
que estando  notando  esta,  mandou  o  Padre  que  déssemos 
as  cartas  para  fazermos  o  maço. 

135  Deste  Collegio  da  cidade  do  Salvador  aos  r3  de  Setem- 
bro de  1560  annos. 

Inútil  filho  de  V.a  R.a]. 

CARTA  PERDIDA 

39a.  Do  Ir.  Luis  Rodrigues  para  o  Provincial  de  Portugal  (Baía, 
Agosto  [?]  de  1560).  «Chegamos  a  estas  partes  ao  fim  de  Julho  [de  1560], 
sahimos  de  Lisboa  aos  20  de  Abril;  as  cousas  da  viagem  eu  as  escrevi 
largas»,  —  diz  Luis  Rodrigues  ao  P.  Gonçalo  Vaz  de  Melo  na  carta 
de  11  de  Março  de  1563  (carta  72). 


10  Rui  Pereira  (diz  o  mesmo,  Rui  Pereira,  carta  40  §§  4  e  10). 

11  Ms.  lacerado  em  parte  ;  e,  no  fim,  totalmente. 

12  Cf.  Mat.  20,  4-7. 


40.  -  BAÍA  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


285 


40 

DO  P.  RUI  PEREIRA 
AOS  PADRES  E  IRMÃOS  DE  PORTUGAL 

[BAÍA]  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 

I.  Bibliografia:  B.  Machado  III  651;  Catalogo  dos  Manuscrip- 
tos  1  27 ;  Cimèlios  495 ;  Sommervogel  vi  519  n.  t]  Streit  ii  348  n.  1273 ; 
Leite,  História  íx  43  n.  1. 

II.  Autores  :  R.  Ricard,  Les  Jésuites  au  Brésil  340  461  ;  LEITE, 
História  I  63  402  478;  11  25  32  45  51  53  58  97  111  151  297  298  317  334  338 
340  402  425  426  473  476  532  561  574- 

III.  Texto:  1.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque, 
Lisboa]  1-5,  2,  38,  ff.  90V-98V.  Título:  «De  o  P.e  Ruy  Pereyra  para  os 
Padres  e  Irmãos  da  Companhia  da  Província  de  Portugal,  da  Bahia 
a  15  de  Setembro  de  1560».  Apógrafo  em  português. 

2.  ARSI,  Goa  10-2,  ff.  481T-483V  [antes  n.  184].  No  fim,  depois  da 
data,  com  letra  do  P.  Polanco :  «dei  Spiritu  Santo».  Com  esta  indica- 
ção [f.  484V] :  «Lettere  dell'Indie  Occidental  di  1557  1558.  59  et  60». 
O  organizador  do  códice,  não  reparando  na  palavra  Occidental,  meteu-a 
fora  de  lugar,  na  índia  Oriental  (Goa).  Tradução  espanhola. 

IV.  Lugar  :  A  indicação  de  Polanco,  aposta  à  tradução  espanhola, 
«dei  Spiritu  Santo»,  parece  ter  sido  sugerida  pelo  que  se  lê  no  corpo 
da  carta:  «Por  este  Espirito  Santo  começou  aqui,  como  ramo  de 
peste»  (§  8).  Mas  tal  expressão  refere-se  a  tempo,  não  a  lugar.  Rui 
Pereira  escreve  da  cidade  da  Baía:  «aqui  na  cidade»  (§  22),  e  data  a 
carta  «deste  Collegio»  (§  24),  que  é  o  da  mesma  cidade  da  Baía. 

V.  Impressão :  Nuovi  Avisi  deli'  Indie  di  Portogallo.  Terza  Parte 
(Veneza  1562)  136V-150V;  Silva  Lisboa,  Annaes  do  Rio  de  Janeiro  vi  (Rio 
de  Janeiro  1835)  139-165;  Accioli,  Memorias  Históricas  111  (Baía  1836) 
235-253 :  \ib.,  ed.  de  B  do  Amaral  v  (Baia  1937)  44-57] ;  Cartas  Avul- 
sas (Rio  de  Janeiro  1931)  255-271. 

VI.  História  da  Impressão:  Nuovi  Avisi  imprime  a  versão  ita- 
liana do  texto  2,  e,  por  isso,  com  a  incorrecta  indicação  de  ser  do  Espí- 
rito Santo;  os  mais  imprimem  o  texto  1. 

VII.  Edição:    Reimprime-se  o  apógrafo  em  português  (texto  1). 


286 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


Textus 

1.  Commercium  litterarum  utile  est  ad  opiniomm  corrigendam  circa 
Brasiliam.  —  2.  Nóbrega  profectus  est  in  classi  Gubernatoris  qui  Ga/los 
Flumine  Ianuario  expulit  et  nutic  exspectatur  ut  Bahiam  veniant  Pater 
Grã  aliique.  —  3.  Absente  Nóbrega  mansit  P.  Antonius  Pires  Vice-Pro- 
vincialis  et  Franciscus  Pires  Rector.  —  4.  Contiones  quadragesimales 
Bahiae.  —  5.  Domus  bene  pergit  et  ipse  melius  se  habet  qttia  terra  salu- 
ber  est.  —  6.  Alumni  quorum  unus  ingressus  est  Societatem.  —  7.  Pagus 
S.  Pauli.  —  8.  Pes tile n tia  et  strages.  —  9.  Zelus  Gubernatoris  Mendi  de 
Sá  et  favor  in  Societatem  et  Indos  christianos.  —  10.  Ordo  doctrinae  et 
ministeria  in  Pago  S.  Pauli.  —  11.  Salutatio  Christiana  et  ludi  lusitano 
more.  —  12.  Comparado  inter  Portugaliam  et  Brasiliam  paradisum  ter- 
restre. —  13.  Pagus  Spiritus  Sancti.  —  14.  Pagus  S  loannis  e  quo 
effugerunt  Indi.  —  15.  Pagus  S.  Iacobi  eiusque  schola  et  ministeria. 
—  16.  Oboedientia  Indorum  erga  Patres  S.  I.  —  17.  Alii  pagi  Patres 
exspectant  ut  erigantur  ecclesiae.  —  18.  Navis  «S.  Paulo»  cum  duo- 
bus  S.  I.  ad  Indiam  destinatis.  —  19.  Altera  navis  exspectatur  cum 
duobus  ad  Brasiliam.  —  20.  Cum  Gubernatore  Bahiam  pervenerunt 
P.  Ludovicus  da  Grã  et  aliqui  Fratres.  —  21.  Provincialis  Bahiam  con- 
vocai omnes  Patres  et  Indos  principales  pagorum.  —  22.  Ministeria  in 
urbe.  —  23.  Lectio  linguae  brasilicae,  quae  hic  dicitur  «graeca*.  —  24.  De 
Patribus  mittendis  in  Praefecturas  «.Ilhéus-»,  Portus  Securi  et  Pernambuci. 

Charissimos  Padres  e  Irmãos  em  Christo 

1.  Posto  que  a  sancta  obediência  me  não  obriga  a  lhes 
escrever,  abastara  e  sobejara  para  o  aver  de  fazer  os  gran- 
des deseios  que  tenho  de  os  comunicar  como  de  cá  me  hé 
5  possível,  maxime  sabendo  eu  quanto  em  ho  Senhor  se  ani- 
mão  e  alegrão  para  o  serviço  de  seu  Criador  com  as  boas 
novas,  que  destas  e  doutras  semelhantes  partes  lhes  escre- 
vem, das  cousas  que  Deos  tem  por  bem  de  obrar  em  suas 
criaturas.  E  creo  que  em  especial  causarão  estes  effectos 

io  em  suas  almas  as  que  destas  partes  lhe  forem :  à  huma,  por 
a  gente  ser  tão  fora  de  maneira  e  rezâo  para  seguir  o  cami- 
nho do  ceo,  e  também  por  verem  que  avendo  tanto  tempo 
que  com  eles  se  trabalha  quasi  sem  fructo,  agora,  pola  bon- 
dade de  Deos,  vay  em  tanto  crecimento  que  se  o  vissem 

i5  com  os  olhos  os  que  cuydavão  que  esta  gente  era  yncapaz 


40.  -  BAÍA  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


287 


da  Fee,  terião  muyta  occasião  de  louvarem  a  Deos,  pois  que 
ouve  por  bem  de  lapidibus  istis  suscitare  íilios  Abrahae  *. 
E,  posto  que  da  carta,  que  escrevi 2  ao  Padre  Doutor  Tor- 
res por  via  da  nao  Sant  Lourenço,  podião  ter  alguma  noti- 
cia do  que  quá  se  passa,  agora  por  ter  mais  hum  pouco  de  20 
conhecimento  da  terra  lhes  escrevirey  [içjir]  mais  em  parti- 
cular, notando  algumas  cousas  das  muytas  que  Nosso  Senhor 
por  sua  misericórdia  quá  obra,  porque  deseio  que  a  má 
opinião,  que  lá  avia  do  Brasil  em  cuydarem  que  vir  ao 
Brasil  era  vir  a  perder  o  tempo,  se  apague  em  seus  cora-  25 
ções. 

2.    Primeyramente,  o  Padre  Nóbrega  se  partio  daqui 
para  Sant  Vicente  na  armada  com  o  Senhor  Governador 
Men  de  Sá  (tal  que  praza  a  Deos  que  daqui  a  muytos  annos 
mande  Sua  Alteza  hum  Governador  ao  Brasil  que  tão  zeloso  30 
seia  do  augmento  da  Fee  como  elle,  e  tão  pacifiqua  e  tão 
segura  tenha  a  terra  como  elle);  o  qual,  com  os  navios,  que 
trouxemos,  e  com  outros  que  quá  ajuntou,  se  foy  ao  Ryo  de 
Janeyro,  que  está  no  caminho  de  Sant  Vicente,  para  deitar 
dahí  os  Franceses,  onde  estavâo  muy  fortes  em  huma  íor-  35 
taleza  que  tinhão  feita  com  muita  munição  de  artelharia 
para  se  defender;  he  hé  já  vinda  parte  da  armada,  da  qual 
soubemos  como  os  Franceses,  mais  milagrosa  que  humana- 
mente, forão  lançados  da  terra  e  a  fortaleza  posta  por  terra 
e  tomados  muytos  despojos  he  huma  nao  que  tinhão  no  40 
porto,  e  elle  partido  para  Sant  Vicente. 

Disto  não  escrevo  mais  em  particular,  porque  por  outra 
via  3  o  poderão  saber  mais  largamente.  Estamos  cada  dia 
esperãodo  por  sua  vinda,  espantados  de  sua  tardança 
temendo  não  se  lhe  acabem  as  monções,  à  huma,  por  sua  45 
vinda  ser  muy  necessária  por  bem  e  paz  de  toda  a  terra, 


19   da  nao]  da  não  ms.  ||  40    despojos  ta;  despois  ms. 


1  Mat.  3,  9  ;  Luc.  3,  8. 

2  Carta  perdida. 

3  Pela  via  de  S.  Vicente :  cartas  31  35  36. 


288 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


raaxime  da  conversão,  como  também  por  esperáremos  que 
em  sua  companhia  viria  o  Padre  Luis  da  Grãa  e  outros 
muytos  da  Companhia,  que  lá  estão,  asy  para  se  orde- 
50  narem  como  para  os  ajudarem  a  dilatar  a  vinha  do 
Senhor. 

3.  Neste  meo  tempo  ficou  por  Vice-Provincial  o  P.e  Anto- 
nio Perez  e  por  Reytor  deste  Collegio  o  Padre  Francisco 
Perez,  no  qual  residem  ordinariamente  dous  até  quatro 

55  Padres  e  às  vezes  hum  para  as  confissões  asi  dos  nossos 
estudantes  como  das  mais  pessoas  devotas  e  para  as  mais 
necessidades  de  casa  e  de  fora  e  negócios  das  igrejas,  que 
estão  nas  aldeãs  ;  e  outros  quatro  Irmãos  para  lerem  e  faze- 
rem os  mais  serviços  de  casa. 

60  4.  Esta  quaresma  passada  ouve  pregações,  que  para  a 
terra  dezião  os  de  fora  que  com  isso  yrião  perdendo  a  sau- 
dade de  Portugal.  O  Senhor  Bispo  4  pregava  os  domingos 
pola  raenhã,  eu  às  sextas-feiras  acabada  a  porcissão  na  Sé, 
onde  tornava  a  gente;  e  aos  domingos  à  tarde,  na  nossa 

65  [91V]  capella5,  por  modo  de  doutrina,  lhes  tratava  as  duas 
primeiras  partes  De  Penitencia 6,  louvado  o  Senhor,  cora 
boa  satisfação  da  gente  ao  que  mostravão,  especialmente  da 
doutrina,  por  serem  cousas  mais  acomodadas  ao  tempo  e 
custume  ouvir  algumas  confissões  gerais  de  pessoas  de  fora 

70  de  casa.  Afora  estas  pregações  ordinárias  fiz  outras  em 
diversos  dias  sanctos,  e,  vistas  as  ocupações  dos  homens 
desta  terra,  concurriam  bem  às  preguações.  E  pola  bondade 
de  Deos,  tenho  experimentado  fazer-se  fructo  em  pessoas 
particulares  polas  cousas  que  comigo  tratavão  em  confissão 

75  e  fora  dela,  em  especial  em  confissões  gerais. 


,(8    e]  em  tns. 


4  D.  Pedro  Leitão. 

5  Cf.  Mon.  Bras.  n  408. 

6  «As  duas  primeiras  partes  De  Penitencia».  Não  diz  que  autor 
seguiu.  Mas  pelo  contexto  parece  tratar-se  da  contrição  e  confissão, 
as  duas  primeiras  partes  do  «Sacramento  de  Poenitentia  in  speciali», 
segundo  S.  Tomás.   Cf.  Summa  Theologiae  IH/a  (Taurini  1956)  36-38. 


40.  -  BAÍA  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


289 


5.  Quanto  ao  spiritual  de  casa,  procede-sse  conforme 
as  regras.  Não  faltam  as  ajudas  dos  capellos  e  outras  peni- 
tencias quando  convém. 

Quanto  ao  corporal,  ordinariamente  hé  boa  a  disposição, 
se  não  a  de  o  Padre  Ditio,  que  hé  como  lá  ou  pior,  e  está  8o 
desenganado  do  medico  que,  por  ser  já  de  dias  e  a  doença 
antiga,  não  sarará.  Quanto  a  my,  posso  dizer  que  nunc  7 
vivo,  porque,  laus  Deo,  estou  rijo  e  são,  e  quando  olho  para 
mim  parece  que  não  posso  ymaginar  que  sou  o  que  era;  e 
isto  com  comer  tudo  o  que  há  na  terra,  e  com  continua-  85 
mente  beber  agoa  sem  me  fazer  mal,  e  quanto  mais  me 
ponho  no  modo  de  viver  de  quá,  tanto  parece  que  milhor 
me  acho.  Digo  isto,  Charissimos,  porque  estando  lá  me  não 
faltavão  rezões  para  me  persuadir  que  esta  terra  era  muy 
contrayria  à  minha  saúde,  por  que  se  lá  ouver  quem  tenha  90 
semelhantes  imaginações  as  deixe  e  tenha  por  falsas  e  venha 
ajudar  seus  Charissimos  que  tanto  os  deseiâo,  se  pola  obe- 
diência lhe  for  licito,  para  se  dilatar  nossa  santa  Fee  nes- 
tes desertos  tão  espaçosos,  porque  centuplum  accipietis  8 
etiam  in  hac  vita,  como  o  eu  tenho  recebido,  posto  que  sem  95 
trabalhar. 

6.  Quanto  aos  estudantes,  se  faz  muito  fruito  no  spiri- 
tual e  muitos  andavão  movidos  para  a  Companhia  e  fre- 
quentavão  muyto  as  confissões,  mas  por  justos  respeitos 
não  se  recebeo  mais  que  hum  criado  do  Senhor  Bispo,  que  100 
chamão  Antonio  Leitão  9,  dos"milhores  cantores  e  falas  que 
tinha.  Será  de  idade  até  dezoito  annos,  tem  bom  yngenho  e 
outras  muytas  boas  partes  para  a  Companhia.  Dá  ategora 
sinais  de  ser  hum  grã  servo  do  Senhor. 


99    cofissOis  ws. 


7  Agora. 

8  Cf.  Mat.  19,  29. 

9  De  António  Leitão  é  a  única  referência;  e  não  se  identifica 
com  o  Ir.  (e  depois  Padre)  Pero  Leitão,  pois  este  entrou  na  Companhia 
em  1573  (Leite,  História  11  80). 

>9 


290 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


105  7.  l921"]  Quanto  às  igrejas,  que  estão  entre  o  gentio,  o 
qual  hé  nosso  intento  principal,  não  são  mais  edificadas 
que  as  quatro  que  já  escrevi10,  por  causa  do  Senhor  Gover- 
nador não  estar  na  terra.  Com  sua  vinda11  se  acrecentará 
o  numero  delas,  porquanto  se  faz  quanto  elle  favorece,  e 

no  estando  elle  presente  tanto  se  estende  seu  favor  quanto 
nossas  forças  abranjem. 

A  que  primeiro  se  edificou  á  tres  annos  se  chama 
Sam  Paulo,  porque  o  lugar  se  chama  asy  aonde  ela  está 
edificada,  posto  que  a  vocação  seja  de  Nossa  Senhora. 

115  Está  huma  legoa  desta  cidade,  aonde  se  ajuntarão  em 
huma  povoação  tres  Aldeãs  e  parte  de  outra.  Tem  esta 
povoação,  com  estes  e  com  outros  que  a  derredor  de  sy 
tem  anexos,  dozentos  e  cincoenta  vezinhos  antes  mais  que 
menos,  dos  quais  os  cincoenta  são  de  christãos  casados 

120  em  a  Igreja.  Se  não  há  mais  christãos  casados  é  porque 
não  baptizamos  os  grandes  senão  em  artigo  de  morte;  e 
ainda  aver  aqui  tantos  hé  por  se  ajuntarem  alguns  dos 
que  antigamente  fizerão  christãos  e  por  aver  já  bom  qui- 
nhão casados  dos  moços  da  escola  e  das  moças  da  dou- 

125  trina,  dos  quais  temos  mais  esperança  por  irem  bem  fun- 
dados na  doutrina  e  fora  de  seus  custumes;  e  asi  nos 
raostrâo  muyto  amor  com  respeito,  como  a  pais,  e  há 
deles  que  os  mais  dos  dias  nos  vem  a  visitar  por  folga- 
rem de  falar  comnosco. 

130  São  por  todos  os  christãos  que  se  fizerão,  des  que  esta 
ygreja  aqui  está,  setecentos  e  tantos,  e,  tirando  os  casados 
que  dise,  os  outros  são  moços  da  escola,  moças  de  dou- 
trina e  lactantes.  Ynocentes  baptizados  morrerão  trinta 
e  tantos,  baptizados  no  artigo  da  morte  até  quarenta,  os 

135  mais  ou  muytos  deles  muy  velhos,  haonde  se  veem  às 


ião    chistãos  ms.  ||   135    ou]  bou  tns. 


10  Carta  perdida. 

11  Fala  aqui  na  vinda  do  Governador  no  futuro,  mas  à  data  da 
carta  já  Mem  de  Sá  e  o  P.  Luis  da  Grã  tinham  chegado  à  Bala  a  29  de 
Agosto  —  e  nesta  mesma  carta  se  dirá,  adiante,  §  20. 


40. -BAÍA  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


291 


vezes  estranhas  conversões  e  claros  sinaes  da  predestina- 
ção destes  pola  grande  efficacia  com  que  pedem  o  baptismo. 

8.  Por  este  Espirito  Santo  12  começou  aqui,  como  ramo 
de  peste,  entre  estes  índios  desta  ygreja,  que  morrerão  asy 

de  grandes  como  de  pequenos  em  breve  tempo  até  sesenta  140 
ou  mais;  e,  afora  os  que  deles  erão  christãos,  vinte  e  tantos 
dos  que  acima  disse  forão  baptizados  no  artigo  da  morte. 
Era  cousa  para  aver  piadade  vê-los  morrer  sem  lhe  poder 
dar  remédio,  porque  posto  que  trabalhamos  todo  o  pos- 
sivel  com  sangrias,  com  mandar  pedir  muytas  laranjas,  145 
a  quem  sabíamos  que  as  tinha,  e  açuquar  por  esses  ynge- 
nhos,  e  posto  [92V]  que  nos  proviâo  de  tudo  com  muytacha- 
ridade,  todavia  as  doenças  yão  por  diante  e  tomavão-os  tam 
rijo  com  pontadas  e  dores13  que  posto  que  fosse  hum  man- 
cebo muyto  robusto,  em  quatro  ou  oito  dias  lhe  tirava  a  150 
vida.  Finalmente,  em  quanto  isto  durou  não  avia  certo 
tempo  de  repousar,  porque  de  noite  estando  durmindo  nos 
chamavão  muitas  vezes  para  yrmos  acudir  os  que  querião 
morrer  e  baptizá-los.  O  ordinário  era  enterrar,  cada  dia, 
ora  hum,  ora  dous,  ora  tres,  ora  quatro;  e  às  vezes  levava-  155 
mos  dous  de  hum  caminho,  e  erão  as  covas  dos  defuntos 
tantas  que  para  não  desacoroçoarem  dezia  o  Padre  Vice- 
-Provincial  que  as  arrasasemos  com  a  terra.  Dia  foy  em 
que  baptizamos  tres,  quatro,  e  enterrávamos  outros  tantos, 
e  às  vezes  era  a  pressa  tanta  que,  por  poder  acudira  todos,  160 
baptizava  sem  ceremonias.  E  posto  que  o  mais  do  tempo 
andávamos  antre  elles,  quis  Nosso  Senhor  que  nunca  se 
nos  apegou  a  doença. 

9.  Todos,  asy  gentios  como  christãos,  guardão  a  ley  de 
christãos,  huns  por  serem  obrigados  e  outros  por  se  apare-  165 


138   este  dei.  respeito  j  |  143   aver  corr,  tx  ver 


12  Em  1560,  o  Espirito  Santo  (Pentecostes)  foi  a  2  de  Junho. 

13  Nota  de  Afrânio  Peixoto  (1931):  «Pontadas  e  dores  que  em 
quatro  dias  ou  oito  tiravam  a  vida...  Será  a  pneumonia  epidémica? 
Gorgas  no  Panamá  e,  no  Amazonas,  Oswaldo  Cruz,  chamaram,  recen- 
temente, a  atenção  para  esse  andaço  gravíssimo»  (Cartas  Avulsas  272). 


292 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


lharem  para  baptizar  e  se  afazerem  ao  jugo  do  Senhor;  e, 
por  não  darem  mao  exemplo  a  seus  filhos  que  já  são  chris- 
tãos,  estão  muy  emendados  de  seus  custumes. 

E  isto,  despois  de  Deos,  deve-se  ao  Senhor  Governador 

170  e  à  sua  prudência  e  zelo,  porque  ainda  que  elle  professara 
a  vida  da  Companhia,  não  sei  que  mais  pudera  fazer  na 
conversão,  e  tanto  fazia  que  por  nos  acreditar  com  os  índios, 
dum  certo  modo  se  desacreditava  a  si,  dizendo,  aos  que 
deles  lhe  vinhão  falar  sobre  cousas  que  tocavão  à  conver- 

175  são,  que  os  Padres  erão  os  que  fazião  essas  cousas,  que  com 
eles  fossem  tratar,  e  o  que  eles  lhe  determinassem  isso 
siguissem.  E  fazendo  hum  yndio  principal  huma  cousa  que 
merecia  castigo  e  pedindo-lhe  disso  perdão,  elle  ho  mandou 
por  dous  seus  escravos  trazer  a  nossa  casa,  dizendo-lhe  que 

180  lá  se  aviesse  com  os  Padres,  que  se  deles  alcançasse  perdão 
que  ele  também  lhe  perdoaria.  E  asi  veo  o  indio  com  muyta 
humildade  a  pedir  perdão  de  giolhos  e  o  alcançou.  Hé  elle 
tão  temido  de  todos  que  mea  palavra  sua  abasta  para  isto 
e  todo  o  mais  que  elle  quiser  fazer.  E  cada  vez  ho  hé  mais, 

185  especialmente  com  esta  victoria  que  ouve  dos  Franceses. 
Esperamos  que  se  quá  está  outros  três  annos  se  esten-[93r]- 
derá  o  nome  de  christão  latissimamente  se  não  faltarem 
ministros,  porque  está  a  terra  tão  pacifiqua  que  não  somente 
os  brancos  vão  muytas  legoas  por  ela  adentro,  seguros,  mas 

190  hum  yndio  daqui,  indo  por  dentro  dos  contrários,  se  tornou 
sem  lhe  fazerem  mal.  E  elle  diz  que  dizião:  «este  hé  amigo 
dos  Brancos,  se  lhe  fizéremos  mal  matar-nos-ão». 

Ajudou  grandemente  a  esta  conversão  cayr  o  Senhor 
Governador  na  conta  e  assentar  que  sem  temor  não  se 

195  podia  fazer  fructo',  e,  alem  do  que  por  sy  fazia,  ordenou 
que  ouvesse,  em  cada  povoação  destas,  hum  dos  mesmos 
Yndios  que  tivessem  carrego  de  prender  em  hum  tronquo 
os  que  fizessem  cousa  que  podesse  estrovar  a  conversão,  e 
isto  quando  nós  lho  dizemos  u.  E  hão  tanto  medo  a  estes 

200  tronquos  que,  despois  de  Deos,  são  eles  causa  de  anda- 


14    Cf.  supra,  carta  31  §  10. 


40.  -  BAÍA   15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


295 


rem  no  caminho  e  custumes  que  lhes  pomos,  e  pretende- 
mos que  já  que  não  forem  bons  os  grandes  ao  menos  não 
estorvem  aos  pequenos  nem  os  metam  em  seus  maos 
custumes,  e  com  virem  à  doutrina  e  viverem  como  chris- 
tãos  e  não  se  permittirem  feiticeiros  entre  elles  nem  outros  205 
peccados  perniciosos,  vem  à  ora  da  morte  a  pedirem  o  bap- 
tismo e  morrerem  christãos  ;  e  alguns,  se  escapâo  da  doença 
(posto  que  são  muy  raros),  dizem  maravilhas  do  baptismo. 

E  quererá  Deos  que  se  apagará  de  todo  a  opinião,  que 
entre  o  gentio  avia,  scilicet,  que  o  baptismo  matava.  E  já  210 
agora  muy  tas  vezes  parece  que  caem  no  vicio  contrairo, 
porque  há  muytos,  preguntando-lhe  quando  nos  pedem  o 
baptismo  qual  hé  a  causa  porque  no-lo  pedem,  dizem  que 
para  viverem  muyto  e  sararem ;  e  estes,  que  sarão  despois 
do  baptismo,  vivem  tam  bem  que  parece  ver-se  em  sua  215 
conversasão  a  obra  que  Deos  mediante  o  baptismo  neles 
obrou.  E  para  que  algum  destes  não  nos  morra  sem  bap- 
tismo, nem  ynocentes,  temos  mandado  aos  moços  da  escola 
(além  de  nós  visitarmos  muytas  vezes  as  casas)  que  nos 
digão  os  que  adoecem  e  nacem  de  novo,  porque,  se  tem  220 
cura,  os  sangramos  até  que  lhe  darmos  do  que  temos  da 
nossa  pobreza,  o  que  ajuda  para  nos  terem  amor;  e  confes- 
são  que  despois  que  os  sangramos  morrem  muyto  menos 
do  que  soyão;  e  estes  mesmos  moços  da  escola  nos  des- 
cobrem os  feiticeyros.  225 

Finalmente,  enquanto  durar  nesta  terra  o  Senhor  Gover- 
nador ou  quem  conserve  seos  meos  com  tanto  [93V]  zelo 
como  ele  faz,  yrá  a  conversão  vento  à  popa.  E  esperamos 
que  Sua  Alteza,  pois  desta  terra  não  espera  eses  proveitos 
temporais,  e  o  que  nella  gasta  hé  por  ajudar  a  salvar  estas  230 
almas,  proverá  de  modo  que  não  se  sinta  falta  no  serviço 
de  Deos,  mas  de  dia  em  dia  se  augmente. 

10.    A  ordem  da  doutrina  hé  esta  nesta  igreja 15 :  Em 


306  peraiculosos  ms. ;  perniciosos  ts  \\  217  destes]  deste  >»s.  j|  333  muyto]  muytos  ms 


15  Cf.  supra,  carta  12  §§  3-4 ;  Cartas  de  Nóbrega  (1955)  295-297  ; 
Breve  Itinerário  135-136. 


294 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


amanhecendo  tangem  todos  os  dias  e  vem  as  moças  soltei- 

235  ras,  posto  que  muytas  das  casadas  vem  com  elas,  sem  as 
constrangerem.  Acabada  sua  doutrina,  vem  os  moços  da 
escola,  aonde  estão,  em  ler  e  escrever  e  doutrina,  duas  horas 
pouco  mais  ou  menos.  E  as  moças,  com  as  mais  molheres, 
se  vão  despois  de  sua  doutrina  a  fazer  seus  serviços  e  a 

340  fiar  para  terem  pano  com  que  se  cubrão,  das  quais  muytas 
andão  já  cubertas.  E  os  moços,  acabada  a  escola,  se  vão  a 
pescar  para  se  manterem,  porque  hé  esta  gente  tão  pouco 
solicita  do  crastino  que  o  dia,  que  o  não  cação,  não  o  tem 
ordinariamente.    À  tarde,  antes  do  sol  posto,  porque  os 

245  homens  e  molheres  já  tem  vindo  de  seus  trabalhos  ou  pes- 
caria, tangem-lhes,  e  vem  à  doutrina  os  que  no  lugar  se 
achão  posto  que  nisso  não  púnhamos  rigor,  antes  vem  os 
que  querem,  e  com  eles  vem  também  as  moças,  por  sua 
vontade,  à  doutrina.  Esta  divisão  se  fez  por  que  os  gran- 

250  des  estivessem  pola  menhâa  mais  desocupados  para  seus 
trabalhos  (os  quais  são  até  o  meo  dia,  huma  ou  duas  oras 
despois),  e,  porque  como  são  mais  rudes,  se  tratasse  com 
elles  mais  em  especial. 

Esta  parrochia  me  cayo  em  sorte,  por  estar  perto  da 

255  cidade  e  se  compadecer  estar  lá  e  vir  pregar,  o  que  eu  ao 
presente  faço.  Estão  mais  comigo  dous  Irmãos,  hum  lingoa 
e  o  que  disse  acima  ser  novamente  recebido16.  Esta  qua- 
resma passada,  porque  pregava  mais  amiúde  na  cidade, 
residio  aqui  o  Padre  Antonio  Rodrigues,  porque,  por  ser 

a6o  lingoa,  confessou  os  christãos.  Como  vin  a  ella,  porque 
nós  averiguamos,  he  o  Senhor  Bispo  foy  também  neste  pare- 
cer, que  os  casamentos  destes  gentios  não  erão  verdadeiros 
casamentos  nem  ainda  in  lege  naturae,  e  por  o  P.e  Antonio 
Rodrigues  dizer  que  asy  se  tinha  determinado  nas  Antilhas 

265  ou  Peru17,  e  vi  que  alguns  gentios  estavão  com  cristâas,  ou 
[941*]  christãos  com  gentias  como  casados,  determiney  de 


16  António  Leitão. 

17  António  Rodrigues  tinha  estado  no  Rio  da  Prata  e  no  Paraguai 
(Mon.  Bras.  I  468-481),  donde  deve  ter  trazido  aquela  informação  não 
bem  determinada  quanto  ao  lugar. 


40. -BAIA  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


295 


pô-los  en  estado  de  salvação  ",  e  asi  os  casamos  todos  cada 
hum  com  sua  molher,  com  todas  as  condições  requisitas 
para  serem  matrimónios  in  lege  naturae,  perante  testemu- 
nhas, e  feito  disso  assento  em  hum  livro.  E  com  isto  os  270 
que  estavão  com  duas  ou  tres  deixavão  as  sobejas  e  toma- 
vão  huma  somente,  e  o  gentio  que  estava  com  christã  o  fiz 
apartar  ou  lhe  baptizei  o  companheiro.  Achey  também  que 
isto  ajudava  ao  diante,  porque  se  em  articulo  mortis  bapti- 
zasemos  alguns  e  vivessem,  como  aconteceo  algumas  vezes,  275 
ou  por  qualquer  via  outra  se  fizesse  hum  deles  christão, 
podesse  fazer  vida  com  o  outro,  aynda  que  fossem  parentes 
e  aynda  que  se  baptizassem  ambos.  Despois  que  isto  aqui 
se  começou,  pareceo  bem  aos  Padres  fazer-se  polas  outras 
igrejas,  e  assi  se  começou  a  fazer;  e  custumão  já  primeiro  280 
que  casem  vir-nos  a  pedir  as  molheres,  posto  que  nas  outras 
igrejas  não  os  constrangerão  a  viver  só  com  huma  molher 
ao  menos  ao  presente,  por  não  serem  tão  domésticos  como 
estes. 

Depois  que  a  armada  partio  para  o  Ryo  de  Janeiro 18  se  285 
fez  cada  somana  procissão  por  esa  yntenção.   E  quando 
não  podiâo  sayr  se  dezião  as  ledainhas  na  igreja,  e  às  sex- 
tas-feiras  da  quaresma  yão-se  os  meninos  diciprinando. 
E  em  todas  estas  procissões  avia  muyto  concurso  de  gente, 
e  vindo  à  igreja  se  sayão  as  molheres  e  se  começava  uma  290 
rija  deciprina  às  portas  fechadas,  emquanto  o  Padre  Anto- 
nio Rodrigues  dezia  o  Miserere,  e  dando-se  de  modo  que, 
estando  hum  Irmão  junto  de  hum,  sentio  tanto  sangue  que 
lhe  tomou  as  disciplinas,  as  quais  estavão  bem  ensanguen- 
tadas. Quinta-feira  de  endoenças19  se  forão  daqui  em  pro-  295 
cissão  à  cidade,  aonde  ya  grande  soma  de  diciprinantes,  e 
lá  forão  na  dianteira  da  procissão  cantando  sua  ladainha, 
que  dous  deles  acustumão  dizer  respondendo  os  outros,  que 
foy  cousa  de  muyta  edificação. 

Tem  grande  attenção  nas  pregações,  tem  tão  differentes  300 
custumes  entre  si  e  em  saudar  os  Brancos,  quando  se  com 


18  Partiu  a  16  de  Janeiro  de  1560  (Leite,  Breve  Itinerário  155). 

19  11  de  Abril. 


296 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


eles  encontrão,  e  sabem  tam  bem  a  doutrina  asi  na  lingoa 
como  no  português,  dizem  com  tanta  devação  e  concerto 
huma  Salve  todos  os  sábados,  e  o  rosairo  do  Nome  de  Jesu 

305  todos  os  domingos  e  santos  antes  da  missa,  [94.V]  que  quem 
os  vê  tem  muy  grande  motivo  para  dar  muytas  graças 
aaquele  que  tais  cousas  obra  em  suas  criaturas. 

11.    Edificão-se  muyto  os  Brancos  que  aqui  vem  e  os 
encontrão  por  esses  caminhos,  porque  os  saudão  dizendo: 

310  «Louvado  seja  Jesu  Christo»,  fazendo  mesuras  com  as  mãos 
alevantadas.  Em  a  verdade,  a  cousa  hé  tal  que  quem  entre 
eles  anda  não  sei  como  pode  ter  tristeza.  E  isto  vejo-o  por 
mim,  porque  des  que  huma  vez  vim  aqui  não  pude  deixar 
de  fazer  todo  o  possivel  para  vir  viver  antre  eles,  e  quando 

315  vou  à  cidade,  huma  tarde  que  lá  estou  me  parece  estar  em 
deserto.  E,  pois  eu  isto  sinto  em  mym,  qual  de  meus  Cha- 
rissimos  em  Christo,  não  estaria  em  continuo  jubilo  vendo 
estas  cousas?  Se  venho  de  fora,  vem-me  os  meninos  sayr 
à  dianteira,  dizendo:  «Louvado  seja  Jesu  Christo»! 

320  Porque  se  mais  esqueção  de  seus  custumes  e  modos  de 
folgar,  ensinamos-lhe  joguos  que  usão  lá  os  meninos  no 
Reyno,  e  tomão-nos  tam  bem  e  folgão  tanto  com  eles  que 
parece  que  toda  sua  vida  se  criarão  em  isso;  denique  esta 
nova  criação,  que  quá  se  começa,  está  tão  aparelhada,  para 

325  nela  se  ymprimir  tudo  o  que  quisermos  (se  ouver  quem 
favoreça  o  serviço  de  Deos)  como  huma  cera  branda  para 
receber  qualquer  figura  que  lhe  ymprimirem.  Não  falta 
mais  que  virem,  meus  Charissimos  em  Christo,  a  dilatar  e 
estender  a  vinha  do  Senhor. 

330  12.  E  por  amor  de  Christo  lhes  peço  que  percão  a  maa 
opinião  que  até  aqui  do  Brasil  tinhão,  porque  lhes  falo  ver- 
dade que,  se  ouvesse  paraizo  na  terra,  eu  diria  que  agora  o 
avia  no  Brasil.  E  se  eu  isto  sinto,  não  sei  quem  ho  não  sin- 
tira,  porque  se  olhamos  ao  spiritual  e  serviço  de  Deos,  vay 

335  deste  modo  que  lhes  digo.  Pois,  se  olhamos  para  o  corpo- 
ral, não  há  mais  que  pedir.  Porque  malencolia  não  ha  tem 
quá  senão  quem  a  quiser  cavar  e  descobrir  de  mais  alto 


303    concerto  na  tns. 


40.  -  BAÍA  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


297 


que  foy  o  poço  de  Sam  Roque20:  saúde  não  há  mais  no 
mundo;  ares  frescos,  terra  alegre,  não  se  vio  outra;  os  man- 
timentos eu  os  tenho  por  milhores,  ao  menos  para  mim,  340 
que  os  de  lá,  e  de  verdade  que  nenhuma  lembrança  tenho 
deles  para  os  desejar.  Se  tem  em  Portugal  galinhas,  quá 
has  há  muytas  e  muy  baratas.  Se  tem  carneiros,  [95r]  quá 
há  tantos  animais  que  cação  nos  matos,  e  de  tão  boa  carne 
que  me  rio  muyto  de  Portugal  em  essa  parte.  Se  tem  vinho,  345 
há  tantas  agoas  que  a  olhos  vistos  me  acho  milhor  com 
ellas  que  com  os  vinhos  de  lá.  Se  tem  pão,  quá  o  tive  eu 
por  vezes  e  fresco,  e  comia  antes  do  mantimento  da  terra 
que  delle;  e  está  claro  ser  mais  sam  a  farinha  da  terra  que 
o  pão  de  lá.  Pois  as  fructas,  coma  quem  quiser  as  de  lá,  350 
das  quais  quá  temos  muytas,  que  eu  com  as  de  quá  me 
quero.  E,  alem  disto,  há  quá  estas  cousas  em  tanta  abun- 
dância que  alem  de  se  darem  em  todo  o  anno,  dan-se  tão 
facilmente  e  sem  as  plantarem  que  não  há  pobre  que  não 
seja  farto  com  muy  pouco  trabalho.  Pois,  se  falarem  nas  355 
recreações,  comparando  as  de  quá  com  as  de  llá,  não  se 
podem  comparar;  e  estas  deixo  eu  para  os  que  quá  as  qui- 
serem vir  a  experimentar.  Finalmente,  quanto  ao  de  den- 
tro e  de  fora,  não  se  pode  viver  senão  no  Brasil  quem  quiser 
viver  no  paraisso  terreal21.  Ao  menos  eu  sou  desta  opinião.  360 
E  quem  me  não  quiser  crer  venha-o  experimentar.  Dir- 
-me-hão :  que  vida  pode  ter  hum  homem  durmindo  em 
huma  rede  pindurada  no  ar  como  rédea  de  uvas?  Digo 
que  hé  isso  quá  tão  grande  cousa  que  tendo  eu  cama  de 
colchões,  aconselhando-me  o  medico  que  durmisse  na  rede,  365 
eu  a  achey  tal  que  nunca  mais  pude  ver  cama  nem  descan- 
sar noite  que  nela  durmisse  em  comparaçam  do  descanso 

360    sou]  são  tus.  1 1  363    uvas]  vas  ws, 


20  Alusão  à  Casa  de  S.  Roque,  de  Lisboa. 

21  Comenta  Afrânio  Peixoto  que  esta  página  do  Jesuíta  português 
se  lerá  amanhã  em  todas  as  antologias  do  Brasil  (Carias  Avulsas  272). 
Além  dos  autores  que  Afrânio  cita,  Fr.  Vicente  do  Salvadar  e  Ves- 
púcio,  cf.  a  questão  do  «Paraíso  na  América»  de  Simão  de  Vascon- 
celos, Leite,  História  ix  178. 


298 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


que  nas  redes  acho.  Outros  terão  outros  pareceres,  mas  a 
experiência  me  constrange  a  ser  desta  opinião. 

370  13.  Mas  deixando  isto  e  tornando  a  nosso  propósito, 
está  da  cidade  até  seis  legoas,  pouco  mais  ou  menos,  outra 
igreja,  que  se  chama  Sant  Spiritus.  Averá  dous  annos, 
pouco  mais  ou  menos,  que  nesta  povoação  andão  Padres, 
na  qual  se  ajuntarão  sete  aldeãs,  e  hé  a  mor  povoação  de 

375  todas.  Há  nela  mil  almas  christãs,  das  quais  sós  sete 
casais  á-hi  de  christãos  adultos,  e  daqui  collegirão  quão 
poucos  dos  grandes  se  fazem  christãos.  Todavia,  à  ora  da 
morte  se  fazem  christãos  se  vem  nelles  os  devidos  sinaes 
de  fé  e  contrição.  Destes  averá  até  agora,  nesta  igreja,  até 

380  vinte  pouco  mais  ou  menos",  e  alguns,  que  tornarão  a  con- 
valecer,  ficão  con  grande  credito  do  baptismo.  [95V]  Que- 
rerá Deos  que  pouco  a  pouco  se  apagará  a  opinião  que 
andava  por  esta  terra,  que  o  baptismo  mata.  Ynnocentes 
morrerão  aqui,  baptizados,  até  quarenta;  e  aynda  que  todos 

385  os  que  estamos  no  Brasil  não  ouveramos  de  fazer  mais  em 
toda  nossa  vida  que  ajudar  a  salvar  quarenta  anjos  destes 
jmnocentes,  bem  empregado  fora  nosso  trabalho,  pois  que 
tantos  ão  por  tam  bem  empregada  sua  vida  se  despois  de 
muytos  annos  gastados  em  trabalhos  he  perigos  de  morte 

390  se  vão  para  o  Reyno  com  quatro  desaventuras ;  e  por  ven- 
tura que,  em  as  ganhar,  alguns  deitarão  a  perder  suas 
almas.  E  se  isto  assi  hé,  quanta  rezão  temos  de  nos 
alegrar,  vendo  que  alem  do  fructo  de  nossos  trabalhos, 
que  em  gloria  esperamos,  vemos  na  terra  criarem-se  tantas 

395  plantas  para  a  ceo,  e  que  gosta  Deos  delas  tanto,  que 
parece  que  antes  de  serem  de  vez  as  colhe,  e  que  não  pode 
esperar  delação.  Venite  igitur,  Fratres,  pois  que  à  mingoa 
de  obreiros  se  deixão  de  fazer  tantas  povoações  quantos 
pares  22  de  lá  não  vem. 


368    mas]  mais  tus 


22  «Pares»:  assim  no  ms.  português  e  também  Da  versão  espa- 
nhola. Condiz  com  o  estilo  de  Rui  Pereira;  e,  neste  passo,  ele 
dirige-se  aos  Irmãos  («Fratres»)  e  não  aos  Padres. 


40.  -  BAÍA  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


299 


14.  A  terceira  igreja  se  chama  Sant  Joam,  digo,  se  400 
chamava,  proh  dolor!  porque  já  não  há  dela  mais  que  as 
taipas.  Porque  despois  da  partida  do  Senhor  Governa- 
dor, despois  de  fazerem  huma  solene  procissão  em  Dia  de 
Ramos  23  (deixo  as  causas  de  sua  fugida)  se  forâo  fugindo 
todos  pelo  sartâo  tão  secretamente  que  estando  com  elles  405 
o  Padre  Leonardo  do  Vale  24  nunca  sintio  a  cousa  senão 
despois  de  serem  quasi  todos  ydos,  e  huns  poucos  se  puse- 
rão  a  falar  com  elle  com  seus  arcos  e  frechas,  como  homens 
determinados;  e,  segundo  depois  se  colligio,  parece  que  fica- 
vão  para  o  matarem  e  não  ousarão,  ou  para  o  deterem  que  410 
não  desse  rebate  aos  da  cidade  até  serem  acolhidos;  e  dei- 
xavão  o  caminho  com  estrepes  parece  que  para  ympidirem 
os  que  viessem  em  seu  alcance.  E,  finalmente,  estes  se 
despidirão  do  Padre,  dizendo-lhe  que  levavão  grande  sau- 
dade dele,  e  que  se  forão  molheres  que  o  chorarão.  415 

Segundo  o  que  soube,  dous  yndios  ou  tres  principais 
forão  a  total  ou  a  mor  causa  desta  yda.  Com  ho  abalo 
destes  ou  com  suas  persuassões,  se  levantavão  muytas 
aldeãs  do  sertão,  e  dezia-sse  que  fugião  com  medo  dos 
Brancos.  Mandarão-nos  segurar  25  e  muytos  tornarão,  e  420 
outros  não  se  abalarão  de  suas  povoações  [g6r],  mas  os  da 
nossa  povoação  de  San  João  foram  avante  sem  quererem 
dar  volta  por  mais  seguros  que  lhe  mandarão,  e,  segundo 
temos  por  novas,  estão  perto.  Alguns  da  escola  fugirão 
para  nós  do  caminho,  outros  muytos  se  tornarão  com  425 
molheres  e  filhos.  Esperamos  que  todos  cedo  tornem  por 
sua  vontade  ou  em  que  lhes  pese  como  o  Senhor  Gover- 
nador vier,  porque  o  temem  como  huma  ovelha  ao  lião. 
E  esperamos  que  se  faça  justiça  das  cabeças  da  amotinação 
para  aviso  dos  mais;  e  não  se  pode  esperar  dele  outra  430 


437    pese]  pes  i»s. 


23  7  (não  8)  de  Abril  de  1560. 

24  Cf.  Mon.  Bras.  11  347,  e  neste  vol.  «Introdução  Geral»,  Cap.  11 
art.  16. 

25  Segurar,  isto  é,  dar  caução,  seguro,  como  logo  a  seguir  se  explica. 


300 


P.  RUI  PEREIRA  -'PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


cousa,  olhando  para  o  sancto  zelo,  que  tem  da  christan- 
dade,  e  que  há-de  ver  trezentas  e  setenta  almas  christãs 
(porque  tantas  avia  nesta  ygreja)  andar  na  boca  do  lobo. 
E  posto  que  isto  a  todos  deve  causar  grande  magoa, 

435  parece  que  não  tanta  como  a  my,  porque  aqui  estavão  as 
primicias  de  minha  alegria,  porque,  como  tenho  escrito  por 
outra  via  26,  nesta  ygreja  foy  haonde,  dous  dias  depois  de 
dizer  missa  nova,  íuy  baptizar  dia  de  San  Joan  27  nas  oita- 
vas do  Natal,  até  cento  e  vinte  ou  cento  e  trinta,  e  fazer 

440  cathecuminos  boa  soma.  E,  porem,  espero  em  Deos  que  se 
me  há-de  tornar  muy  cedo  a  renovar  minha  alegria  com  a 
restauração  das  ovelhas  e  castigo  dos  lobos.  Estava  esta 
ygreja  da  cidade  quatro  legoas. 

15.    A  quarta  igreja  se  chama  Santiago.   Esta  se  fun- 

445  dou  pouco  antes  que  o  Senhor  Governador  se  partisse 
para  abaixo,  e  por  as  terras  serem  poucas,  onde  estava,  se 
passou  alem  hum  pedaço  junto  da  de  Sam  Joam.  Destes 
forão  os  Padres  muy  bem  recebidos  porque,  em  sabendo 
que  hião,  se  poserão  a  limpar  o  terreiro  para  a  casa,  em 

450  que  avião  de  pousar,  e  igreja.  E  quiserão  logo  fazê-la  de 
taypa,  mas  por  ser  a  cousa  de  presa  diseran-lhes  os  Padres 
que  as  fizessem  de  palma  como  fizerão.  A  ygreja  se  fez 
grande  e  muy  ayrosa,  e  a  que  agora  fizerão  nesta  mudança 
o  hé  aynda  mais.   E  quando  fuy  aonde  estava  a  primeira, 

455  nos  receberão  como  nas  outras  ygrejas  com  grande  festa, 
maxime  dos  moços  da  escola,  e  enrramarâo  a  casa  de  pal- 
mas frescas.  E  emquanto  comi  para  me  partir  (porque  o 
outro  companheiro  avia  ahy  de  ficar)  esteve  a  casa  chea 
asi  de  grandes  [96V]  como  de  pequenos. 

460  Quando  os  primeiros  Padres  forão  a  fundar  a  casa,  alem 
da  alegria  que  mostrarão  com  sua  vinda  trouxerâo-lhes 
galinhas  e  outros  mantimentos  para  comerem,  e  foy  tanta 


46a   galiahas]  das  galiahas  mi, 


26  Carta  perdida.  Cf.  supra,  §  1. 

27  Dia  de  S.  João  Apóstolo  e  Evangelista,  27  de  Dezembro  de  1559. 


40. -BAÍA  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


301 


a  deligencia  que  puserão  em  fazer  a  ygreja  que  em  quatro 
dias  a  acabarão,  desocupando-se  de  todo  o  mais;  até  as 
molheres  alim pavão  os  terreiros.  E  no  meo  do  terreyro  465 
arvorarão  numa  cruz,  a  mayor  que  em  minha  vida  vi. 
Isto  acabado,  ajuntarão  os  meninos  e  meninas  em  casa  dos 
Padres  para  os  assentarem  em  rol,  sem  lhe  ser  feita  força 
alguma,  mas  de  suas  próprias  vontades;  e,  mandando  seus 
principais,  ajuntarâo-se  logo  para  a  escola  cento  e  cin-  470 
coenta  moços.  Há  aqui  christãos  ynnocentes  cento  e  qua- 
renta pouco  mais  ou  menos. 

Alguns  yndios,  moradores  em  outras  partes,  trouxerão 
aqui  aos  Padres  dous  ynnocentes  seus  filhos,  muyto  doen- 
tes, e  despois  de  baptizados  morrerão  ambos.  Afora  estes,  475 
outros  morrerão  dos  baptizados.  Alem  destes  ynnocentes 
christãos  que  se  baptizarão  este  ano,  tinhão  já  os  Padres 
bautizado  os  dias  passados  setenta  e  tantos  ynnocentes. 

16.    Posto  que  conto  as  coisas  era  geral,  não  deixarei  de 
contar  hum  caso  que  aconteceo,  por  ser  cousa  que  nestes  480 
hé  digna  de  se  notar  para  louvor  do  Senhor.  Aconteceo 
que  hum  dia  sahio  hum  Principal  muyto  antigo  fazendo 
numa  fala  pola  povoação,  como  hé  seu  custume.  E  o  que 
nesta  dezia  era  em  desfavor  do  que  o  Padre  lhes  ensinava; 
e  porque  o  Padre  lhe  mandou  fazer  por  isso  numa  peniten-  485 
cia  e  elle  não  a  fez,  não  o  quis  deixar  entrar  na  ygreja,  o 
qual  ele  sentio  tanto  que,  depois  de  ver  muytas  vezes  se  o 
admitia  e  vendo  que  não,  lhe  mandou  rogar  por  seus  filhos 
que  o  não  deitasse  da  igreja;  e  quando  nem  com  isto  aca- 
bou com  o  Padre  o  que  querria,  fez  ajuntar  os  mais  prin-  490 
cipais  de  sua  povoação  e  vierão  todos  à  igreja  e  postos  em 
giolhos  pediam-no  a  Nosso  Senhor  primeiro,  e  dispois  se 
forão  ao  Padre  tantos  que  inchiâo  a  casa,  pedindo-lhe  que 
deixasse  já  entrar  seu  Principal  e  pai  de  todos  elles  na 
igreja,  que  era  já  velho  e  sem  sentido,  que  não  olhase  polo  495 
que  elle  dezia,  que  elles  o  reprenderião,  e  com  outras  rezões 
muyto  boas.  E  tanto  que  o  Padre  lhes  concedeo  sua  piti- 
ção,  forão  logo  por  elle  e  outros,  a  chamar  a  gente  para  a 


465   E]  Em  ms.  \\  471   Há]  A  tus. 


302 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


doutrina.  E  o  outro  [97 r]  dia  sairão  pola  menhã  dous  Prin- 

500  cipais  pola  povoação  a  fazer  suas  falas,  dizendo  que  todos 
viessem  à  doutrina  e  aprendessem  as  cousas  de  Deos  e  as 
soubessem  estimar.  E  o  velho,  que  disse,  perseverou  tanto 
dahi  por  diante,  que  vindo  [a]  adoecer  o  trazião  numas 
velhas  sobraçado  à  igreja. 

505  Desta  e  doutras  reprensões  que  lhes  derão,  amostrarão 
muyta  brandura  e  tirou  Nosso  Senhor  muyto  fructo,  dizendo 
elles  que  o  pay  castigava  os  filhos  e  que  o  Padre,  como 
pay,  lhes  dezia  aquelas  cousas;  e  se  hé  necessário  chamar 
o  Padre  alguns  para  castigarem  algum,  eles  o  fazem  com 

510  muyta  diligencia,  posto  que  são  seus  parentes.  E  posto 
que  os  que  estão  nestas  ygrejas  se  mantenhão  ordinaria- 
mente do  que  os  Yndios  lhe  dão  por  amor  de  Deos,  tinhão 
estes  hum  particular  modo,  scilicet,  ao  domingo,  despois  da 
missa,  vinhão  as  molheres  com  suas  esmollas  de  farinha  e 

515  peixe,  e  offerecian-as  diante  do  altar,  e  às  vezes  em  tanta 
quantidade  que  não  tinhão  os  nossos,  que  ahi  residião,  em 
que  as  recolher,  até  que  o  Padre  lho  veo  a  defender.  E  isto, 
afora  as  esmolas  que  cada  dia  trazião  a  casa  ora  huns  ora 
outros. 

520  17.  Alem  destas  igrejas,  desta  cidade  a  oyto  ou  dez 
legoas,  está  outra  povoação  esperando  por  Padres,  os  quais, 
posto  que  lá  não  estejão  de  asento,  vão  visitá-los  muytas 
vezes,  e  porque  os  ynnocentes  podem  lá  ficar  sem  perigo 
da  doutrina  e  da  fee,  tem  lá  já  feito  duzentos  e  cincoenta 

525  christãos.  Com  a  vinda  do  P.e  Luys  da  Grãa  e  do  Senhor 
Governador,  creo  que  será  a  primeira  em  a  qual  se  edifi- 
cará ygreja  de  assento. 

Da  banda  dalém  da  Baya  estão  em  outra  povoação,  que 
chamâo  os  Reys28,  até  setenta  ynnocentes  baptizados;  e 

530  porque  não  estando  aqui  o  Senhor  Governador  pareceo 


537   yglesia  ms. 


28  A  povoação  dos  Reis  [Reis  Magos],  de  qne  é  esta  a  única  refe- 
rência, em  documentos  da  Companhia,  não  vingou  como  Aldeia  de 
Índios  (cf.  Leite,  História  11  58). 


40.  -  BAÍA  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


303 


estarem  lá  os  Padres  em  perigo  não  se  edificou  ategora 
igreja. 

Isto  hé  o  que  ao  presente  se  me  oferece  para  lhe  escre- 
ver das  igrejas  e  do  fructo  que  o  Senhor  nesta  terra  come- 
çou a  plantar.  O  que  agora  desejamos  hé  que  em  suas  535 
orações  todos  peção  a  Nosso  Senhor,  primeiramente:  que 
nos  faça  verdadeiros  e  fieis  ministros  e  solícitos  em  culti- 
var esta  nova  planta;  o  que,  segundo,  lhe  ão-de  pedir:  que 
ao  menos  por  alguns  anos  nos  conceda  nesta  terra  o  Senhor 
Governador,  porque  como  a  cousa  hé  aynda  fresca  se  vier  540 
outro,  que  tenha  outro  zelo  ou  outras  opiniões,  muy  facil- 
mente se  tornará  a  perder  o  que  se  começava  a  ganhar;  o 
terceiro  he  ultimo  [97 v]  hé:  que  mova  aos  Superiores  da 
Companhia  a  que  mandem  muytos  obreiros  a  nos  ajudar, 
porque  se  nesta  vida  fôremos  participantes  de  seus  traba-  545 
lhos,  na  outra  o  seremos  de  sua  gloria. 

18.  A  dezasete  d'Agosto29,  chegou  a  esta  Bahia  a  nao 
Sant  Paulo,  a  qual,  não  podendo  levar  sua  rota  caminho  da 
Índia,  achou  por  milhor  conselho  vir-se  aqui  refazer,  asi  do 
material  da  nao  como  dos  mais  mantimentos  antes  que  tor-  550 
nar  aribar  ao  Reyno.  E  estando  nós  bem  fora  de  cuydar- 
mos  que  veriamos  gente  nossa  de  Portugal,  soubemos  como 
dous  dos  nossos  vinhão  nella.  E  não  sabendo  nós  quem 
erão  fomos  alguns  de  casa  a  buscá-los  já  noite  e  topamo-los 
no  caminho:  o  Padre  Manuel  Alvarez,  que  já  não  trazia  555 
fôlego  e  menos  o  trouxera  se  não  foram  os  lascarins30  que 
o  ajudavão  a  subir  a  costa,  e  o  Irmão  Joan  Roxo31,  muy 


545    se  sup. 


29  Cf.  supra,  carta  de  Manuel  Álvares,  de  4  de  Setembro  (carta  38, 
nota  10). 

30  Lascarim :  «soldado  indígena,  na  Índia,  agora  designado  por 
sipai ;  às  vezes  soldado  europeu.  Do  persa  lashkarl,  derivado  de 
lashkar,  exército»  (Dalgado,  Glossário  Luso- Asiático  1  515). 

31  Juan  Rojo  nasceu  em  Valência  por  1529,  entrou  na  Companhia 
por  1549,  passou  de  Castela  a  Évora  em  1559  com  destino  a  Angola, 
mas  pediu  a  índia  para  onde  agora  navega.  Saiu  da  Companhia  na 
Índia  em  Dezembro  de  1564  (Wicki,  DI  iv  6*). 


304 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


bem  desposto.  Deles  soubemos  os  muytos  trabalhos  que  o 
Padre  Manuel  Alvarez  passara  com  ynfirmidades  na  costa 

560  de  Guiné,  as  quais  o  poserão  nos  ossos  e  quasi  no  cabo  da 
vida,  e  vinha  ainda  ao  presente  muy  fraco;  mas  vê-sse  nelle 
notável  melhoria  despois  que  sayo  em  terra. 

Soubemos  tãobem  como  as  ynfermidades  na  nao  forão 
tão  gerais  que  adoecerão  mais  de  quatrocentas  pessoas,  das 

565  quais  algumas  morrerão.  Disto  não  dou  mais  particular 
conta  porque  elle  ho  á-de  escrever32.  Soubemos  também 
como  partira  huma  nao  para  San  Vicente  na  qual  ya  pro- 
visão para  os  nossos,  que  lá  andão,  a  qual  vindo  determi- 
nada, por  falta  de  mantimentos  e  agoa,  de  tomar  este  porto, 

570  por  eles  os  proverem  no  mar33,  levarão  sua  rota  adiante,  e, 
segundo  a  altura  em  que  a  deixarão,  será  já  em  San  Vicente. 

19.  Também  nos  disserão  como  outro  navio  partira  para 
esta  Bahia,  em  o  qual  vinhâo  o  Irmão  Antonio  Gonçalves 
e  o  Charissimo  Luis  Rodrigues34:  estamos  solicitos  por  não 

575  termos  até  agora  novas  deles,  esperamos  comtudo  em  Deos 
que  os  trará  a  salvamento. 

20.  Aos  29  de  Agosto  chegou  a  esta  Bahia  o  P.e  Luys 
da  Grâa  em  companhia  do  Senhor  Governador35,  con  cuya 
vinda  fomos  tão  consolados  que  não  sey  com  que  palavras 

580  o  posa  explicar.  Trouxe  consigo  quatro  Irmãos  lingoas, 
scilicet,  Gonçalo  de  Oliveyra,  Gaspar  Lourenço,  António 
de  Sá  e  outro  Irmão  noviço,  que  se  chama  Baltesar  Gon- 
çalves30, dos  quais  os  tres  primeiros  estão  agora  para  se 
ordenar,  para  que  cora  ambos  os  talentos  aproveitem  milhor 

585  ao  próximo.  Trouxe  mais  outros  dous  noviços  recebidos, 
scilicet,  Antonio  de  Melo  e  Pero  Peneda ;  e  outro  moço,  que 


586    moço]  mamaluco  ti 


32  Cf.  supra,  carta  38. 

33  Cf.  ib.  §  4. 

34  Cf.  ib.  §  2. 

35  Mem  de  Sá. 

36  Baltasar  Gonçalves,  que  não  aparece  nos  Catálogos  do  Brasil, 
como  nem  os  dois  seguintes,  António  de  Melo  e  Pero  Peneda  (Leite, 
História  I  576). 


40.  -  BAÍA  15  DE  SETEMBRO  DE  1560 


305 


por  ser  pequeno  não  hé  aynda  recebido.  Todos  estes,  lin- 
goas. 

21.  Despois  de  sua  chegada  [98r]  se  ajuntarão  os  Padres 

e  Irmãos,  que  estavâo  polas  Igrejas  entre  o  gentio,  para  con  590 
todos  tratar  algumas  cousas  necessárias  acerca  do  modo  de 
tratar  com  os  índios;  e  tãobem  para  se  ynformar,  e  fazer 
ynformar  ao  Senhor  Governador  dalguma  frieza  e  desor- 
dens, que  acontecerão  em  sua  absencia  entre  ho  gentio, 
por  causa  dos  que  ficarão  em  seu  lugar,  governando  a  terra,  595 
não  guardarem  ho  estilo  e  orden  que  tinha  dado,  acerca  de 
como  se  avia  de  proceder  com  os  índios.    Fê-lo  elle  com 
tanta  diligencia  que  logo  tornou  a  pôr  tudo  na  orden  em 
que  o  leixou,  dizendo  que  fizéssemos  o  que  fazíamos  sem 
ter  conta  com  ninguém.  E  para  se  milhor  poder  fazer,  man-  600 
dou  chamar  os  Principais  das  povoações,  donde  estão  as 
Igrejas,  e  de  palavra  lhes  disse  todo  o  necessário  para  isso, 
dizendo-lhes  que  elle  iria  cedo  a  visitar  suas  povoações. 
E  assi  o  determina  fazer.  E  tem  nesta  parte  tanto  zelo  que 
parecendo-lhe  que  nós  queríamos  diminuir  hum  pouco  do  605 
modo  que  levávamos,  nos  tirava  disso  com  rezões  que  para 
isso  dava,  dizendo  que  pois  tínhamos  experimentado  quanto 
fructo  daquela  maneira  se  fazia,  pera  que  era,  senão  proce- 
der dese  modo?  Também  começou  a  procurar  como  se  tor- 
nassem a  recobrar  os  da  igreja  de  San  Joam,  que  acima  610 
disse  37  averem  fugido. 

22.  O  Padre  Luis  da  Grâa,  em  vindo,  começou  logo  [a] 
pôr  fogo  à  cidade  por  sua  via,  fazendo  com  ho  Senhor 
Bispo  38  fezesse  vir  a  esta  casa  todos  os  dias  à  tarde  a 
escravaria  para  a  ensinarem.    E  asi  se  faz  com  os  que  615 
vem,  ensinando-os  ele  mesmo  e  movendo-os  a  frequentar 

a  confissão,  como  já  algumas  das  escravas  começão.  E  o 
mesmo  faz  com  as  brancas ;  e  para  ter  ocasião  de  isso  lhes 
falar  por  via  de  hospede  as  vay  visitar  a  suas  casas,  e  não 


587    não  bis  priore  dei  ||  616    -os]  -as  »«s.  ||  619    casas]  casa 


37  Cf.  §  14. 

38  D.  Pedro  LeitSo. 


306 


P.  RUI  PEREIRA  -PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


620  somente  aqui  na  cidade,  mas  tãobem  na  Vila  Velha,  que 
hé  huma  povoação  que  está  daqui  hum  pedaço.  Espero 
que  em  muy  breve  tempo  se  há-de  fazer  muy  grande 
fructo  nesta  terra  e  de  verdade  que  quando  me  lembro 
das  maas  disposições  que  o  P.e  Luis  da  Grãa  no  Reyno 

625  tinha  e  quanto  bem  desposto  está  e  de  quão  incansável  hé 
nestes  trabalhos,  que  me  espanto. 

23.  Alem  disto,  ordenou  em  casa  que  ouvesse  cada  dia 
huma  hora  de  lição  da  lingoa  brasilica,  que  quá  chamamos 
grego;  e  elle  hé  o  mestre  dela  pola  saber  entender  e  expli- 
co car  suas  regras  milhor  que  todos,  posto  que  sejão  muy  boas 

lingoas. 

24.  Deixou  mais  ordenado,  nos  Ilheos,  como  se  faça 
huma  casa,  dando  os  moradores  logo  muytas  esmolas  para 
isso,  e  achando-sse  ahi  o  Senhor  Governador  deu  quarenta 

635  arobas  de  açuquar  de  sua  parte,  e  os  pobres,  que  não  tinhão 
possibilidade,  davão  tantos  dias  de  seus  officios,  e  outros 
[98V]  o  trabalho  de  suas  peças  por  alguns  dias.  Agora  lhe 
mandarão  a  traça  da  casa,  para  se  logo  começar  em  hum 
bom  sitio  que  para  isso  fica  tomado,  e  creo  que  cedo  será 

640  provida  dalguns  dos  nossos. 

E,  segundo  dele  tenho  entendido,  determina  tãobem  de 
prover  a  Capitania  de  Porto  Seguro  e  Pernanbuco,  aonde 
sabemos  que  muyto  desejão  a  ida  dos  Padres  da  Compa- 
nhia, mas  isto  será  quando  for  possível,  porque  ao  presente 

645  não  sey  quanto  disto  se  poderá  fazer,  por  a  necessidade  que 
há  de  gente  para  as  povoações  de  índios,  feitas  e  por  fazer. 

Isto  hé,  Charissimos  Padres  e  Irmãos  meus,  o  que  ho 
Senhor  Deos  se  tem  dignado  de  fazer  despois  que  a  esta 
terra  viemos.    O  que  agora  lhes  peço  hé  que  roguem  ao 

65°  Senhor  leve  esta  sua  obra  adiante.   Não  mais  senão  que 
nos  encommendamos  todos  os  deste  Collegio  em  seus 
sanctos  sacrifícios  e  orações. 
Aos  15  de  Setembro  de  1560. 

Ruy  Pereira. 


620   cidade]  cidades  Ml.  |  oa'J  aoa  tus.  ||  648    fazer]  faz  ms.  ||  654    Perera  ms. 


41.  -  BAÍA  22  DE  OUTUBRO  DE  1560 


307 


41 

DO  P.  ANTÓNIO  PIRES 
AOS  PADRES  E  IRMÃOS  DE  PORTUGAL 

[ALDEIA  DE  SANTIAGO]  BAÍA  22  DE  OUTUBRO  DE  1560 

I.  Bibliografia:  B.  Machado  i  352;  Catalogo  dos  Manuscrip- 
tos  1  27 ;  Chnêlios  496 ;  Sommervogel  vi  847  A ;  Leite,  História  ix 
59  4- 

II.    Autores :  Leite,  História  II 54  55  96  178  334  425  473  556  561  564. 

III.  Texto:  1.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque, 
Lisboa]  1-5,  2,  38,  ff.  100V-102V.  Título :  «Copia  de  numa  carta  que  escre- 
veo  o  P.e  Antonio  Pires,  do  Brasil,  para  os  Padres  e  Irmãos  da  Com- 
panhia de  Jesus  em  o  mes  de  Outubro  de  1560».  Manuscrito  já  com 
algumas  partes  laceradas  e  delidas.  Apógrafo  em  português. 

2.  Varia  Historia  II  (Intra  Europam)  pp.  48-51  n.  11.  Título:  «El 
P.  Garcia,  de  Braganza,  al  Provincial  de  Portugal,  i.°  de  Marzo  1561, 
con  copia  de  otra  dei  P.  Antonio  Pérez,  dei  Brasil,  de  22  Octubre  1560, 
exponiendo  la  necessidad  que  habla  de  operários».  Tradução  espa- 
nhola. [O  P.  Garcia  Simões,  de  Alenquer  (Lisboa)  entrou  na  Com- 
panhia em  1556  (Lus.  43-2,  f.  398r).  Sobre  a  sua  actividade  em  Bra- 
gança, cf.  F.  Rodrigues,  História  1/2  428-429]. 

IV.  Destinatários:  Os  Padres  e  Irmãos  de  Portugal  (no  título),  e 
ao  que  parece  mais  directamente  os  do  Colégio  de  Coimbra,  donde  ele 
tinha  vindo  e  onde  estivera  o  P.  Luís  da  Grã,  pois  a  ele  se  refere :  «não 
faltará  nesse  Collegio  algum  que  o  conheça»  (fim  do  §  4).  Mas  o 
P.  Luís  Gonçalves  da  Câmara  diz  que  era  para  «esta  Casa  de  Sam 
Roque»  (carta  de  4  de  Maio  de  1561 :  carta  47  §  1).  Explica-se  bem,  se 
a  mesma  carta  fosse  enviada  em  duas  vias,  uma  para  cada  casa. 

V.  Lugar:  O  autor  data  a  carta  da  Baía,  mas  escreveu-a  numa 
Aldeia  dos  arredores,  como  diz:  «esta  acabo  de  escrever  nesta  povoa- 
ção de  Santiago»  (§  9). 

VI.  Impressão :  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  274-280 
(pelo  texto  1). 

VII.  Edição:  Reimprime-se  o  apógrafo  (1),  tendo  presente  a  edi- 
ção das  Cartas  Avulsas  nos  passos  deteriorados  do  ms. 


308 


P.  ANTÓNIO  PIRES  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


Tcxtus 

7.  Parati  sunt  gentiles  ad  doctrinam  christianam  ediscendam  sct 
desuni  Patres.  —  2.  Ne  qui  istic  student  moras  interponant:  iam  hic 
doctrina  ad  docendam  fidem  /acta  est  a  P.  Ludovico  da  Grã.  —  3.  Qui 
istic  ante  missam  frequenter  confitentur,  forsan  scrupulum  non  habeant 
de  animis  quae  hic  pereunt  deficientibus  i/lis.  —  4.  Pervenit  P.  Grã 
iussitque  Patres  ediscere  linguam  brasilicam  et  ipse  doctrinam  docet  foe- 
mitias  servas.  —  5.  Grã  visitai  pagos  Indorum,  primum  S.  Paulum 
deinde  Spiritum  Sanctum.  —  6.  Et  alter  um  in  quo  receptas  est  ab  Indis 
modo  olim  habito  in  receptione  veneficorum.  —  7.  Iterum  :  gentiles  parati 
sunt  ad  doctrinam  christianam  ediscendam  sed  desunt  Patres.  —  8.  Visi- 
tat  Pagum  S.  Jacobi  ubi  magnum  baptismum  fecit  et  sacramenta  matri- 
monii.  —  9.  Haec  omnia  ipse  P.  Antonius  Pires  testatur  quia  socius  fuit 
Provincialis  et  scribit  ex  Pago  S.  Jacobi. 


Jesus 

Charissimos  Padres  e  Irmãos 

A  graça  e  amor  de  Christo  Nosso  Senhor  seja  sempre 
em  nossas  almas,  amen,  para  que  sempre  façamos  sua  santa 
5  vontade. 

1.  Eu,  o  menor  da  Companhia  de  Jesus,  depois  de  par- 
tir a  armada,  que  para  esses  reynos  vay,  colhy  algumas 
migalhas,  que  de  continuo  sobram  das  [coisas  que  Deos 
obra  por  seus  mini]stros  antre  o  gentio,  para  com  ellas  vos 

io  es[pertar  a  que  desejeis  de  partir  aquellas,  que]  Christo 
Nosso  Senhor  vos  manda  recolher  do  muyto  que  sobra  da 
sua  mesa,  com  este  gentio,  que  tanta  necessidade  tem 
a[gora  mais  que  nunca,  polo  muyto  aparelho  que  tem] 
para  ser  doutrynado;  ]o  que  se  deixa  de  fazer  por  falta  de 

15  obreiros. 

2.  E]  porque  não  aja  quem  se  escuse  [com  dizer  que 
anda  cumprindo  curso  de  seus  estudos],  aviso-vos  aos  que 
para  quá  [desejais  vir  que  não  são  necessárias  quá]  vossas 
letras,  porque  não  há  [quá  questões  que  disputar  nem 

ao  duvidas  sobre]  a  Fee.   O  comer  estaa  já  [feito,  hoc  est:  a 


41. -BAÍA  22  DE  OUTUBRO  DE  1560 


309 


doutrina  1  e  o  necessário,  que  se  po]de  pregar,  passado 
huma  [e  muytas  vezes  pola  lima  dos  letrados  de  quá],  por- 
que sobre  ysto  se  des[velou  assás  o  P.e  Luis  da  Grãa,  até 
que  a  pôs  na  melhor]  maneyra,  que  pôde,  [para  se  poder 
ensinar  e  aprender:  somente  falta  quem  o  reparta,  que]  25 
sondes  [vós,  meus  Irmãos.  Deixai,  Charissimos,  esses  chris- 
tãos,  nossos  irmãos.  Fazei  o  que  íizerão  os  Apóstolos, 
passai- vos  aos  gentios,  que  a  esses  não  lhes  falta  tanto 
género  de  religiosos  e  tantos  que  lhe  repartam  o  comer: 
estes  morrem  à  fome,  e  hé  piadade  ver  que  o  pedem  e  que  30 
não  há  quem  lho  dê,  nem  quem  lho  possa  dar,  porque 
nosso  cabedal  hé  pouco,  portanto  suprimos  pouco. 

3.  Vossos  escrúpulos  queria  que  se  convertessem  todos 
nysto.  Porque  ouço  dizer  que  se  confessam  muytas  vezes 
antes  que  digam  missa,  e  pode  ser  que  quá  nos  chegam  35 
semelhantes:  e  hé  de  crer  que  não  se  confessam  da  perda 
que,  à  sua  mingoa,  se  perdem  tantas  almas  como  quá  se 
perdem.  Não  cuideis,  Charissimos  que  gracejo,  porque 
não  falo  senão  em  todo  meu  siso:  vos  videritis!  Se  tendes 
boa  escusa,  dir-me-eis:  a  obediência  não  nos  manda.  Se  40 
vós  tendes  boa  vontade,  tal  que  a  obediência  vo-la  entende, 
abasta-vos]. 

4.  O  P.e  Luis  da  Grãa  chegou  a  esta  Baya  2  em  tempo 
de  tantos  negócios  que  não  pôde  logo  visitar  as  casas,  que 
estão  antre  o  gentio,  para  que  pola  armada  podesse  dar  45 
relação  da  cousa  como  quem  a  avia  visto,  porque  por 
huma  parte  se  ofereceo  estar  a  armada  para  partir  em 
que  lhe  foy  forçado  escrever  o  que  o  tempo  lhe  deo  lugar 
que  escrevesse3,  e  assim  averen-sse  de  partir  os  Irmãos 
da  índia4,  que  aquy  tivemos  por  hospedes  obra  de  mes  50 


46    quem  sup. 


1  Doutrina.  Cf.  Leite,  História  n  556-557 ;  vm  285 ;  e  infra,  nota  6. 

2  A  29  de  Agosto  de  1560,  cf.  supra,  carta  40  §  20. 

3  Carta  ou  cartas  perdidas. 

4  P.  Manuel  Álvares  e  Ir.  Juan  Rojo. 


310 


P.  ANTÓNIO  PIRES  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


&  raeo,  ou  mais.  Offereceo-se  tãobem  despachar  dous 
Padres  5  para  Pernambuco,  e  porque  se  dilatou  sua  embar- 
cação tres  ou  quatro  dias  mais  do  que  cuidava,  não  teve 
patientia  para  deixar  de  hir,  despedindo-sse  delles  para 

55  que  se  fossem  quando  tivessem  tempo. 

No  tempo  que  o  Padre  chegou  a  esta  Bahia  estavão  as 
cousas  algum  tanto  feas,  as  quaes  logo  com  a  sua  vinda  se 
aquietarão  assim  en  casa  como  fora,  porque  en  casa  logo 
deo  ordem  a  que  todos  os  Irmãos  se  dessem  [a]  aprender 

6o  a  lingoa,  cousa  que  até  aly  ninguém  avya  feyto,  tirando 
alguns  que  andavão  fora;  e  assi  deo  hordem  que  viesse 
a  escravaria  [a]  aprender  a  doutrjma  na  nossa  igreja,  cousa 
que  avya  muyto  tempo  que  se  não  fazia.  E  elle  mesmo  a 
ensina  e  as  cousas  da  Fee  na  lingoa  6  às  escravas  e  no  por- 

65  tuges  a  muytas  molheres  que  folgâo  de  saber  cousa  que 
nunca  lhes  foy  ensinada.  É  elle  tão  sôfrego  nisto  que  assi 
en  casa  como  nas  aldeãs  não  consinte  a  ninguém  ensinar. 
Não  deixo  eu  de  entender  que  elle  nam  queria  que  os 
outros  insinassem,  mas  creo  que  o  faz  para  nos  envergo- 

70  nhar  e  para  nos  fazer  enveja,  como  na  verdade  a  mym  me 
envergonha,  que  há  xn  ri2  annos  que  quá  ando  e  não  sey 


55   se  sup.  ||  56   Bahia  post  corr.  |    66    ensinado  nu. 


5  Rui  Pereira  e  Gonçalo  de  Oliveira. 

6  «Cousas  da  Fé  na  língua  [tupi]  e  em  português».  Cf.  nota  i. 
Entre  as  ordens  da  visita  de  Portugal,  que  o  Comissário  Jerónimo 
Nadal  mandara  este  ano  que  se  seguissem,  está  a  Doutrina  de  D.  João 
Soares,  Bispo  de  Coimbra:  «Doctrina  christâa  do  Bispo  de  Coimbra, 
que  deixou  ordenado  o  P  e  Nadal  que  se  ensinasse  publicamente».  Em 
português,  e  não  em  forma  de  diálogo.  Dela  são  estas  duas  fórmulas, 
Benser-se:  «Polo  sinal  da  Sancta  Cruz,  livra-nos,  Senhor  Deos  nosso, 
de  nossos  immigos.  Em  nome  do  Padre,  e  do  Filho  e  do  Spirito  Santo. 
Amen  Jesus».  Ave  Maria:  «Ave  Maria,  chea  de  graça,  ho  Senhor  hé 
comtigo.  Benta  és  tu  em  as  molheres,  e  bento  hé  ho  fruito  do  teu  ven- 
tre Iesus.  Sancta  Maria,  Madre  de  Deos,  roga  por  nós  peccadores. 
Amen»  {Inst.  206,  ff.  io3v-io6r).  D.  Fr.  João  Soares,  confessor  e  pre- 
gador de  D.  João  III,  nasceu  em  S.  Miguel  de  Urró  (Penafiel)  e  faleceu 
com  65  anos  a  26  de  Novembro  de  1572  (Inocêncio  iv  38). 


41. -BAÍA  22  DE  OUTUBRO  DE  1560 


311 


nada.   Agora  começo  poios  nominativos  por  a  arte  7  para 
poder  aprender. 

Depois  de  sua  vinda  acodem  à  nossa  casa  confissões 
principalmente  da  escravarya,  e  creo  que  na  coresma  virão  75 
os  senhores,  porque  amostrão  elles  muyta  afeição  ao  Padre 
e  elle  muytos  desejos  de  lhes  dar  remédios  a  suas  cousas 
e  busca  todos  os  meos  para  isso.   Finalmente,  hé  muyto 
solicito  da  saúde  das  almas,  precipue  das  de  seus  Irmãos, 
porque  como  sabe  que  os  principaes  meos  são  os  bons  ins-  80 
trumentos,  tem  grande  cuydado  que  seus  Irmãos  se  dem 
muyto  à  virtude  e  para  ysto  quando  está  em  casa  faz 
comummente  à  noyte  praticas,  como  acustuma  a  fazer 
nesse  Collegio  8.    E  enfim,  quer  estê  quer  não,  tem  orde- 
nado que  sempre  se  fação,  e  escusado  hé  particularizar  85 
mais  isto,  pois  não  faltará  nesse  Collegio  algum  que  o 
conheça  para  poder  conjecturar  o  que  elle  pode  fazer. 

5.  Comessou  o  Padre  a  visitar,  pola  primeira  povoa- 
ção 9,  que  estará  huma  legoa  da  cidade,  onde  há  muytos 
christãos  casados,  como  verão  pola  geral 10,  dos  quais  ficou  90 
tão  satisfeyto  que  lhe  pareceo  que  não  avya  mais  que  dese- 
jar, e  determinou  de  fazer  logo  a  todos  christãos,  por 
lhe  parecer  que  todos  o  merecião,  porque  não  há  nenhum 
que  não  peça  que  o  fação  christão,  e  muytos  per-[ioiv]gun- 
tados  polo  Padre  se  heram  christãos  respondiam  :  «Muyto  há  95 
que  o  eu  peço,  mas  não  me  querem  fazer».  E  dizendo-lhes  o 
Padre  que  os  bautizaria,  fiquão  tão  contentes  que  mostravão 
bem  que  lhe  davâo  a  cousa  mais  desejada.  Aquy  bautisou 
muytos  e  casou  e  creo  que  presto  os  fará  a  todos  christãos. 

Daqui  se  foi  a  Sancti  Spiritus,  que  está  a  seis  legoas  100 
desta  cidade,  onde  o  receberão  os  Principais  com  muyta 


76  ao  Padre  corr.  ex  aos  Padres  l|  88-89  povoação]  visitação  ms.  |  oa  determi- 
nou tns. 


7  De  Anchieta. 

8  Colégio  de  Coimbra,  de  que  Luís  da  Grã  tinha  sido  Reitor. 

9  Aldeia  de  S.  Paulo. 
10  Supra,  carta  40. 


512 


P.  ANTÓNIO  PIRES  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


gente  e  com  íolia  de  tamboris  e  com  lhe  dizerem  todos, 
grandes  e  pequenos:  «Louvado  seja  Jesu  Christo!»  E  vie- 
ram-no  a  receber  com  esta  festa  hum  grande  pedaço  do 

105  caminho,  e  assi  o  foram  festejando  até  à  casa.  Chegou  à 
quinta-feira  e  logo  ao  dominguo  bautisou  alguns  sesenta 
ou  mais,  entre  grandes  e  pequenos,  e  fez  8  ou  nove  casa- 
mentos, porque,  como  disse,  hé  tão  sofreguo  que  nâo  deixa 
a  ninguém  fazer  nada.  Parece  incansável.  Os  que  o  conhe- 

110  cem  pasmão,  porque  prega  duas  horas  aos  Branquos,  e  logo 
no  mesmo  dia  prega  às  molheres  e  no  mesmo  à  escravarya, 
e  gasta  nisto  muyto  tempo  que  lhe  não  alembra  comer,  e 
muytas  vezes  reza  a  terça  lá  muyto  de  noyte,  finalmente  a 
todos  nos  envergonha. 

115  6.  Desta  casa  se  foi  a  huma  povoação,  que  está  tres 
legoas  mais  adiante11,  ao  longo  do  mar,  que  há  muytos 
dias  que  esperão  que  os  vão  ensinar,  a  quem  visitamos 
algumas  vezes  e  bautisamos  nella  alguns  meninos  peque- 
nos e  demos-lhe  sempre  esperanças  que  como  viesse  o 

120  Padre  de  S.  Vicente  que  logo  os  hirião  a  ensinar;  e  com 
esta  esperança  viverão  até  sua  vinda,  os  quais  como  sou- 
berão  que  era  vindo  logo  o  forão  visitar  a  casa,  e  não 
somente  estes,  mas  de  todas  as  outras  povoações  fizerão  o 
mesmo. 

125  Quando  desta  povoação  de  Sancti  Spiritus  partio  para 
esta  que  diguo,  o  acompanhou  muyta  gente,  a  qual,  junta 
com  a  que  o  estava  esperando  no  caminho  da  outra,  fazia 
grande  somma.  Fizerão-lhe  hum  recebimento  como  custu- 
mavão  fazer  em  outro  tempo  a  seus  feiticeyros,  porque 

130  huma  legoa  fizerão  de  caminho  bem  larguo  até  à  povoação. 
Em  hum  rio,  que  sempre  passarão  em  suas  jangadas 12,  fize- 
rão huma  boa  ponte  bem  comprida.  Tinham  na  entrada  da 
legoa  huma  ramada  com  sua  rede  para  o  Padre  descansar 
e  comer.  Hia  hum  Principal  dizendo  palavras  de  muyto 


11  Aldeia  de  S.  António,  no  Arembé  (Rembé  ou  Rembepé),  de 
que  falava  António  Rodrigues,  carta  de  9  de  Setembro  de  1559  §  4 
(carta  20).   Cf.  Leite,  História  11  55. 

12  Cf.  Mon.  Bras.  11  245. 


41.  -  BAÍA  22  DE  OUTUBRO  DE  1560 


315 


amor,  e,  para  que  as  saibaes,  referir- vos-las-ey  como  as  elles  135 
dezião:  «Vinde,  muyto  folgo  com  vossa  vinda,  alegro-me 
muyto  com  isto;  os  caminhos  folgão,  as  hervas,  os  ramos, 
os  pássaros,  as  velhas,  as  moças,  os  meninos,  as  agoas,  tudo 
se  alegra,  tudo  ama  a  Deos». 

Chegando  à  casa,  que  já  nos  tinhão  feyta,  o  vierão  a  140 
visitar  grandes  e  pequenos,  e  mostraram  com  sinaes  exte- 
riores o  amor  que  tinhão,  porque  trasião  presentes  conforme 
a  sua  possibilidade,  com  outras  muytas  [io2r]  cousas,  como 
agoar  a  casa  e  ir  buscar  agoa  para  beber  de  fontes  mais 
afastadas  da  povoação.  Muytas  outras  poderia  dizer,  mas  145 
poque  sey  que  destas  poderão  collegir  o  mais,  o  não  faço, 
porque  não  sey  engrandecer  as  cousas  como  ellas  merecem, 
antes  sempre  fico  hum  pouco  atrás. 

7.    Nesta  povoação  dormymos  huma  noite  e  nella  ensi- 
nou o  Padre  a  doutryna,  à  qual  veo  quasi  toda  a  gente.  150 
Ally  lhes  mandou  pregar  e  perguntar  se  erão  todos  con- 
tentes com  sua  vinda  e  de  lhe  deixar  aly  quem  os  doutry- 
nasse:  e  todos  responderão  com  eficazes  palavras  que  sy. 
Depois  tratou  com  os  Principais  os  pontos  mais  essentiais 
que  avião  de  goardar,  a  que  responderão  com  alegria  que  155 
jurariam  tudo,  cousa  de  que  os  Christãos  pasmâo,  porque 
por  tão  inpossivel  tinhão  podermos  nunqua  acabar  com 
elles  semelhantes  cousas  como  a  mayor  impossibilidade  do 
mundo:  e  hum  era  que  ninguém  avya  de  ter  mais  [de  huma 
molher],  e  outro  que  não  avião  de  beber  até  se  embebedar  160 
[como  cusjtumavão,  e  que  não  avião  de  consentir  os  feiti- 
ceyros,  e  que  avião  todos  de  aprender,  e  que  não  avião  de 
matar  nem  comer  carne  humana:  isto  foy  supérfluo  porque 
já  o  eles  agora  não  fazem.    Finalmente,  querem  comprir 
toda  a  ley  que  lhe  puserem  e  querem  que  aja  tronquo  para  165 
castiguo  dos  roins.  E  Hogo  forão  à  cidade  certos  Principaes 
por  meirinhos  para  terem  cuydado  de  prenderem  os  roins. 

Aqui,  Charissimos  Irmãos,  se  põe  marquo  até  que  vós 
venhaes,  não  porque  não  aja  adiante  desta  povoação  tão 


135  saibaes]  sabaes  ms.  ||  14a  presentes]  presente  ms.  ||  158  impossibilidade] 
impossibidade  ms. 


314 


P.  ANTÓNIO  PIRES  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


170  boas  vontades  para  o  mesmo  como  nesta,  mas  porque  não 
há  quem  lhe  possão  dar.  Não  sei  eu  com  que  mais  vos 
possa  encarecer  a  falta  de  obreyros  senão  com  vos  fazer  a 
saber  que  o  Irmão  António  Gonçalves,  asi  doente  como 
chegou,  o  poserão  em  huma  destas  povoações,  o  qual  se 

175  ouvera  muyta  gente,  creo  eu  que  o  deixarão  descanssar 
alguns  dias  primeyro  que  nisto  o  meterão,  posto  que  creo 
eu  que  nisto  descansa  elle  mais. 

8.    Logo  que  deu  a  volta  atraz,  se  foi  a  visitar  outra 
povoação,  em  a  qual  temos  huma  casa,  que  se  chama  São 

180  Tiaguo,  que  foi  a  derradeyra  de  4  que  se  avião  feyto  antes 
que  o  Governador  fose  ao  Rio  de  Janeiro,  onde  o  Padre 
fez  mais  obra  que  nas  outras,  porque  até  aly  se  não  avya 
feyto  o  que  nas  outras,  porque  se  não  bautizavão  senão 
os  innocentes,  e  com  sua  yda  se  bautizarão  entre  moços 

185  d'eschola  e  alguns  dos  mayores,  que  parecia  que  o  mere- 
cião,  assi  por  saberem  o  necessário  como  por  mostrarem 
boa  vontade  para  isso,  260  pouco  mais  ou  menos,  dos 
quais  fez  loguo  43  casamentos  [102V]  da  ley  da  graça. 
O  que  tudo  fez  era  hum  dominguo  muyto  solennemente 

190  com  todas  as  cerymonias  de  chatecismos  e  óleos,  no  qual 
officio,  com  sua  missa  e  bênçãos,  gastou  até  duas  horas 
depois  do  meio  dia  pouco  mais  ou  menos. 

Muytos  outros  desejavão  que  os  fizessem  christãos  e  os 
casassem,  a  quem  o  Padre  dilatou  para  que  aprendessem 

195  primeiro.  A  todos  estes  novos  casados  deu  de  comer  hum 
Principal,  que  a  seu  modo  e  conforme  ao  que  possuem,  não 
creo  que  fez  menos  cousa  do  que  poderá  fazer  hum  grande 
senhor  nesse  Reyno.  O  Padre  lhe  foi  benzer  a  mesa.  Logo 
que  os  novos  casados  comerão  vierão  visitar  o  Padre,  tra- 

200  zendo-lhe  cada  hum  dos  novos  casados  seu  presente  e  vindo 
a  saber  o  modo  de  sua  vida,  o  qual  o  Padre  lhe  ordenou 
e  elles  o  aceitarão.  Finalmente,  em  tudo  amostrarão  amor 
de  filhos  porque  tãobem  o  Padre  lhe  amostra  amor  de  pay. 
Se  me  atrevera  a  ordenar  bem  as  cousas,  dissera-vos 

205  aquy,  Charissimos,  as  artes  e  manhas  que  o  Padre  tem  com 


181    Janeiro  ,/,/.  ad    |   193    desejavlo  corr.  MC  dexsejavao  ||  aoi    vida  torr.  tx  vinda 


41. -BAÍA  22  DE  OUTUBRO  DE  1560 


315 


a  gente  e  folgareis  cada  hum  de  as  ouvyr  e  saber  para  de 
laa  comesardes  [a]  aprender,  [mas  porque  meu  estijlo  vos 
enfadará,  trabalho  por  incurtar. 

Fez  tãobem  [nesta  povoação]  n  casamentos  de  ley  de 
naturaleza.  Nisto  só  pode  quem  souber  destes  índios  conhe-  210 
cer  o  muyto  que  Deos  obra  entre  elles",  porque,  tendo  elles 
por  huma  das  mayores  cousas  ter  muytas  molheres,  porque 
toda  a  sua  honrra  hé  ter  muytos  filhos,  se  contentão  já 
com  huma;  e  nas  povoações  onde  residimos  estão  com  huma 
só  casados  em  ley  de  naturaleza,  e  correm-se  já,  quando  lhe  215 
perguntão  quantas  tem,  de  dizerem  que  tem  mays  de  huma. 

9.  De  toda  esta  perigrinaçâo,  que  o  Padre  fez,  sou  eu 
testemunha,  porque  andey  com  elle,  e  agora,  que  esta  acabo 
de  escrever  nesta  povoação  de  Santiaguo,  por  nos  manda- 
rem dizer  da  cidade  que  se  quer  partir  o  navyo,  estamos  de  220 
camynho  para  Sancti  Spiritus,  onde  há-de  dizer  hum  Padre 
missa  nova,  o  qual  há-de  ficar  aly  por  capellão  por  ser  lin- 
goa.  Este  hé  hum  moço  dos  primeyros  órfãos,  que  quaa  nos 
mandarão13,  muyto  boa  cousa. 

Daly  se  tornará  o  Padre  à  cidade  para  laa  ordenar  as  225 
cousas  de  casa,  porque  a  brevydade  do  tempo  e  os  muytos 
negotios  lhe  não  derâo  lugar  a  o  fazer  antes ;  e  tãobem  para 
continuar  suas  pregações  e  praticas. 

Estas  são  as  cousas,  Charissimos,  que  se  me  oferecerão 
para  vos  escrever,  as  quais  se  por  vos  parecerem  tão  peque-  230 
nas  em  comparação  das  que  laa  Deos  obra  que  vos  alvoro- 
cem para  desejardes  de  vir  quá,  ao  menos  não  espero  que 
meu  trabalho  seja  em  balde,  porque  espero  servyrá  de  cada 
hum  de  vós  se  alembrar  de  hum  homem  esquecido  de  todos 
para  me  encommendardes  a  Deos  muy  particularmente.  235 
Gratia  Domini  nostri  Iesu  Christi  vobiscum 14.  Amen. 
Valete  et  orate  pro  me. 

Desta  Baya,  a  22  d'Outubro  de  1560. 

Vosso  indigno  irmão,  .        .  0. 

Antonio  Pires.  24Q 


13  Os  primeiros  órfãos  sairam  de  Lisboa  para  o  Brasil  a  7  de 
Janeiro  de  1550  (Mon.  Bras.  I  173). 

14  Cf.  2  Cor.  13,  13. 


316 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  DIEGO  LAYNES 


CARTAS  PERDIDAS 

4ia-b.  Do  P.  Luis  da  Grã  a  Padres  de  Portugal  (Bala,  Setembro 
de  1560).  «O  P.eLuis  da  Grãa  chegou  a  esta  Baya  em  tempo  [...]  que 
lhe  foy  forçado  escrever  o  que  o  tempo  lhe  deo  lugar  que  escrevesse», 
—  diz  o  P.  António  Pires  a  22  de  Outubro  de  1560  §  4.  Deste  período 
(Setembro-Outubro  de  1560)  não  se  conhece  nenhuma  carta  de  Luís 
da  Grã. 

42 

DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROxMA 

LISBOA  24  DE  JAXEIRO  DE  1561 

I.  Texto:  ARSI,  Lus.  61,  f.  ir  [antes  f.  3r].  Original  em  espanhol. 

II.  Impressão:   Lainii  Mon.  V  (Matriti  1915)  376. 

III.   Edição:    Reimprime-se  por  Lus.  61,  o  que  toca  ao  Brasil. 

Textus 

1.  Excusat  se  quod  fiou  miserit  plures  Patres  in  Brasiliattt  aliasque 
missiones. 

[...] 

1.  [ti-]  Con  la  esperança  que  V.  P.  nos  da  de  embiar 
algunos  buenos  subjetos  para  la  índia,  empeçamos  a  enten- 
der em  aparejar  lo  necessário  para  seis,  y  bien  conocemos 
la  obligación  que  ay  de  proveer,  desta  Provincia,  la  índia 
5  y  Brasil,  de  subjectos  idóneos.  Y  así  estos  dos  anos  passa- 
dos se  embiaron  a  estas  partes  y  a  Angola  los  que  V.  P. 
sabe  l,  por  lo  qual  ay  agora  poca  commodidade  para  embiar 


6    a*  sufi. 


1    Cf.  supra,  «Introdução  Geral»,  cap.  1,  art.  2. 


45.  -  ROMA  28  DE  JANEIRO  DE  1561 


517 


otros;  y  ayuda  a  ello  la  casa  dei  Porto  y  el  Collegio  de 
Braga2,  que  se  acceptaron  de  nuevo,  como  V.  P.  tiene 
entendido.  Y  en  esto  de  nuevas  obligaciones  tiengo  yo 
siempre  mano  quanto  licitamente  puedo,  porque  siento 
bien  que  hasta  cumplir,  como  es  razón,  con  las  que  ya 
tenemos,  no  convernía  aceptar  otras  de  nuevo;  ni  quando 
escrivo  de  las  que  se  offrecen  es  con  deliberación  alguna 
mas  sólo  para  informar  a  V.  P. 
[...] 

De  Lisboa  a  24  dc  Henero  de  1561. 

CARTA  PERDIDA 

42a.  Carta  do  Rei  dc  Portugal  a  Man  dc  Sá  Governador  do  Brasil 
(Lisboa  princípios  de  1561).  «Su  Alteza  escrevió  los  d.  s  passados  al 
Governador  sobre  ello  pediendo  su  parecer  acerca  de  lugares 
adonde  se  ordenarían  collegios  y  quantas  personas  de  la  Coiupanfa 
avría  menester»,  —  escreve  o  P.  Miguel  de  Torres  ao  P.  Diego  La)nes, 
Março  de  1561  §  6  (carta  44). 

43 

FACULDADES  CONCEDIDAS 
PELO  PAPA  PIO  IV  AO  BISPO  DO  BRASIL 

ROMA  28  DE  JANEIRO  DE  1561 
I.    Bibliografia:    STREIT  II  348  nn.  1275-1276. 

II.  Autores:  FORTUNATO  DE  ALMEIDA,  História  da  Igreja  em 
Portugal  iii/i,  652-653;  Leite,  História  n  295-296. 

III.  Texto:  1.  ARSI,  Bras.  2,  ff.  I20v-i2ir.  Titulo:  «Faculdades 
concedidas  ao  Bispo  do  Brasil  polo  Papa  Pio  4.0  a  28  de  Janeiro  de  1561». 
Tradução  portuguesa  coeva  não  de  todo  o  Breve  «In  supereminenti», 
mas  das  faculdades  que  nele  se  contêm,  com  algumas  notas  à  margem 
pelo  Provincial  do  Brasil  Pero  Rodrigues. 


2   Porto  e  Braga :  cf.  Rodrigues  História,  1/2  404-424. 


318 


FACULDADES  PONTIFÍCIAS 


2.  Lisboa,  Bibi.  da  Ajuda  46-XI-7,  pp.  65-73.  Título:  «Facultates 
concessae  [a  Pio  IV]  Archiepiscopis  et  Episcopis  aliisque  locorum 
Ordinariis  praesentibus  et  futuris  Conquistarum  Portugalliae  in  parti- 
bus  Brasiliae  et  Indiarum  Orientalium.  28  Januar.  1561».  Cópia  latina. 

3.  Lisboa,  Arq.  Nac.  da  Torre  do  Tombo,  maço  28,  Bulas,  n.  50 
(cópia).  No  texto  completo  lê-se  que  as  graças  foram  pedidas  por 
D.  Sebastião,  Rei  de  Portugal. 

IV.  Impressão:  Bullarium  Patronatos  1  (1868)  200-201;  Corpo 
Diplomático  (1886)  ix  168-170. 

V.  Posição  do  documento:  Os  Padres  do  Brasil  usaram  ao  prin- 
cípio, no  foro  interno,  das  faculdades  concedidas  aos  Bispos  do  Brasil 
e  de  Goa,  uso  confirmado  pelo  Papa  Gregório  XIII  (Bras.  2,  f.  i29r). 
Reunindo-se  depois  em  compêndios  próprios  as  faculdades  e  graças, 
de  que  usufruíam  os  Padres  da  Companhia  e  os  seus  Missionários,  não 
se  achando  neles  este  documento,  levantou-se  dúvida  sobre  a  sua  vali- 
dade em  1583,  por  ocasião  da  visita  do  Brasil  pelo  P.  Cristóvão  de 
Gouveia;  e,  consultada  Roma,  determinou-se  em  1594,  que  até  novo 
exame  da  matéria,  só  se  usassem  as  faculdades  comuns  a  toda  a  Com- 
panhia e  as  do  Compêndio  Índico,  com  as  quais  aliás  coincidem  muitas 
das  deste  Breve  de  1561.  Em  vista  disso,  o  P.  Pero  Rodrigues,  Pro- 
vincial do  Brasil  de  1594  a  1603,  escreveu  por  sua  mão  à  margem  do 
presente  documento  :  «Non  licet  his  uti»  (Bras.  2,  f.  i2ov). 

VI.  Edição:  Imprime-se  o  texto,  tal  qual  se  encontra  no  códice 
brasileiro  (Bras.  2). 

Textus 

1.  De  absolutione  in  foro  conscientiae  ab  cxcommunicationibus,  sus- 
pensionibus  aliisque  poenis  ecclesiasticis.  —  2.  De  irregularitatibus  ad 
ordines  sacros.  —  3.    De  dispensationibus  matrinwnialibus. 

Faculdades  concedidas  ao  Bispo  do  Brasil  polo  Papa 
Pio  4.0  a  28  de  Janeiro  de  1561. 

1.  Poderá  elle  e  os  mais  ordinários  da  dita  terra,  per 
si  e  por  deputados  absolver,  no  foro  da  consciência,  quaes- 
quer  pessoas  de  qualquer  Ordem  regular  ou  secular  das 
ditas  partes,  de  toda  a  excomunhão,  suspenção  e  outras 
penas  ecclesiasticas  e  de  quaesquer  peccados  por  graves 
e  enormes  que  seiâo,  ainda  conteúdos  na  Bulla  da  Cea, 
tirando  a  conspiração  contra  o  Papa  ou  seu  estado  ou 


45.  -  ROMA  2K  DE  JANEIRO  DE  1561 


519 


contra  algum  Cardeal  da  Igreja  Romana  e  o  pôr  mãos  10 
violentas  em  Bispos  e  outros  Prelados,  morte  de  Sacer- 
dote, levar  armas  e  outras  couzas  prohibidas  aos  infiéis, 
e  falsificar  Letras  Apostólicas,  dos  delictos  conteúdos  na 
Bulla  da  Cea  semel  in  vita  et  semel  in  morte,  e  os  demais 
casos  reservados  todas  as  vezes  que  lhe  parecer,  dando  *5 
sempre  sua  penitencia  saudável. 

2.  Poderá  dispensar  com  os  ditos  em  toda  irregulari- 
dade contrahida  por  qualquer  caso,  tirando  bigamia  e 
homicídio  voluntário  ainda  cometido  em  guerra  contra 
infiéis.  20 

Poderá  dispensar  que  os  ditos  possão  receber  quaes- 
quer  ordens  sacras  ainda  de  missa,  e  de  usar  das  recebi- 
das ainda  no  ministério  do  altar,  e  que  possão  receber  e 
reter  quaesquer  benefícios,  curados  ou  simplex,  sendo 
compatíveis,  ainda  que  seiâo  conezias,  praebendas,  digni-  25 
dades,  personados,  administrações  ou  dignidades  maiores 
depois  de  Bispo  nas  Igreias  metropolitanas,  ou  principaes 
nas  Collegiadas,  ainda  que  aya  costume  de  ser  elegidos 
pera  as  ditas  dignidades,  ou  tenhão  cargo  d'almas  com 
tanto  que  seião  eleitos,  presentados  e  constituídos  nos  3° 
taes  cargos  canonicamente. 

3.  Poderá  dispensar  (sem  por  isso  levar  algum  preço) 
nos  matrimónios  contrahidos  scienter  vel  ignoranter  por- 
los  moradores  daquellas  partes  sendo  consumados  por 
copula,  ainda  que  seião  entre  pessoas  no  4.0  grao  simple  35 
ou  3.0  e  4.0  mixtos,  coniunctas  ou  variamente  travadas  por 
consanguinidade  e  affinidade,  ou  empedidas  por  publica 
honestidade  e  ainda  que  antes  se  ouvesem  suiado  por 
adultério,  não  tendo  dado  nenhum  delles  causa  aa  morte 
do  consorte  defuncto.  E  também  poderá  dispensar  pera  4o 
que  de  novo  se  fação  e  solennizen  em  face  da  Igreja ;  e 
declarar  os  filhos  dos  taes  por  legitimos  e  tirar  toda  a 
macula  de  infâmia  encorrida  por  pessoas  ecclesiasticas 
com  occasiâo  das  couzas  ditas. 


320 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  DIEGO  LAYNES 


44 

DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

[LISBOA  MARÇO  (?)  DE  1561] 

I.  Texto:  ARSI,  Lus.  6i,  ff.  63r-64v  [antes  n.  5].  Endereço 
por  mão  de  amanuense:  «-(-  Al  muy  Reverendo  Padre  nuestro  en 
Christo,  el  P.  Maestro  Diego  Laynez,  Propósito  General  de  la  Compa- 
ôía  de  Jesus,  en  Roma».  Outra  letra:  «1561  Lisbona  P.e  D.  Torres 
Benza  data».    Cláusula  e  assinatura  autografa.    Original  em  espanhol. 

II.  Data  e  lugar:  A  carta  não  traz  estas  indicações.  Torres  resi- 
dia em  Lisboa  e  refere-se  à  Quadrimestre  de  Paris,  do  ano  prece- 
dente, 6  de  Março  de  1560,  chegada  a  Lisboa  por  via  de  Roma  (§  1). 
A  esta  carta  de  Torres  há  uma  resposta  de  Roma,  de  18  de  Abril  de  1561, 
como  se  verá  na  nota  4.  A  presente  carta  deveria  ser  escrita  antes  do 
fim  de  Março  de  1561. 

III.  Impressão:    Epp.  Nadal  I  (Matriti  1915)  397-400. 

IV.  Edição :    Reimprime-se,  por  Lus.  6i,  o  que  toca  ao  Brasil. 

Textus 

I.  De  equite  rhodiensi  [  Villegaiguon],  qui  e  Ga/lia  cupiebat  secuin 
ducere  Paires  S.  I.  in  Brasiliam.  —  2.  Sed  quia  tyrannice  agebat  Flu- 
mine  Januário  et  secum  homines  habebat  lutheranos,  Rex  Portugaliae 
curavit  ut  illinc  expelleretur.  —  3.  Brasiliae  res  prospere  procedunt. 
4.  Gubernator  Mendus  de  Sá  valde  est  amicus,  et  Episcopus  Dominus 
Petrus  Leitão  antea  dolo  capins  iam  Socictatem  secundai.  —  5.  Rex  Portu- 
galiae Ioannes  III  elegit  Societatem  ad  Brasiliam,  et  Lusitaui  undiquc 
Pa t res  postulant  et  Collegia  cupiunt  habere.  —  6.  Rex  scribit  Gubenm- 
tori  circa  Collegia  et  terras  ad  eas  cole nd as  servis. 

[...] 

1.  Entre  las  cartas  de  nuevas  de  Paris,  que  acá  emos 
recibido  por  via  de  Roma  l,  se  hazía  meneiem  en  una  de 


1  Quadrimestre  de  Paris,  de  Nicolau  Liétard,  6  de  Março  de  1560, 
cujo  texto  latino  se  imprimiu  em  LU.  Quadr.  VI  545-549,  e  o  texto 


44.  -  LISBOA  FINS  DE  MARÇO  DE  1561 


321 


un  Cavallero  de  Rhodis 2  que  avia  estado  en  América, 
que  es  el  Brasil,  tierras  deste  Reino  de  Portugal,  adonde 
andan  los  nuestros,  e  querria  bolver  allá  y  llevar  gente  de  5 
nuestra  Compartia.  Acá  sabíamos  ya  deste  hombre  y  como 
él  y  todos  los  que  consigo  tenía  eran  lutheranos,  y  occupava 
una  parte  que  se  dize  el  Rio  de  Henero. 

2.  Y  porque  se  sabia  que  era  herege  e  assí  con  sus 
heregías  como  con  otros  modos  podia  hazer  mucho  dano  10 
en  lo  spiritual  y  temporal,  en  demás  de  estar  allí  tiranica- 
mente,  ordeno  El  Rei  de  Portugal  de  proveer  como  le 
hechassen  íuera.  Y  lo  que  succedió  podrá  V.  P.  entender 
por  la  copia  de  algunas  daquellas  partes,  que  con  esta 
yrán  3.  Dimos  este  aviso  a  nuestros  Padres  que  están  en  15 
Paris,  escriviéndole  em  summa  la  cosa;  si  a  V.  P.  le  pare- 
ciere,  de  allá  se  les  puede  embiar  todo  más  extenso  *. 

3.  De  las  mismas  cartas  se  entiende  el  estado  de  las 
cosas  de  nuestra  Companía  en  aquella  tierra  y  de  lo  que 
ella  pretende  en  el  servicio  divino,  que  por  la  bondad  de  20 
Nuestro  Senor  agora  va  todo  con  prosperidad,  aviendo 
precedido  trabajos  de  desconsolación  porque  redundavan 
en  pérdida  de  ánimas.    De  aqui  trabajamos  de  ayudarlos 

y  animarlos,  y  es  muy  bien  empleado  todo  el  soccorro  que 
se  les  daa,  porque  tienen  mucho  trabajo  y  grande  pobreza,  25 
y  llévanlo  todo  com  grande  alegria. 


17    embiar  sup. 


português  (Bibi.  de  Évora,  côd.  cvm/2-2,  ff.  4v-5r)  em  Leite,  Histó- 
ria I  378-379. 

2  Villegaignon,  também  chamado  cavaleiro  de  Malta,  por  nesta 
ilha  se  fixarem  os  cavaleiros  de  S.  João  de  Jerusalém  (Hospitalários), 
depois  que  os  Turcos  tomaram  Rodes  em  1522. 

3  Cf.  carta  de  Nóbrega  ao  Cardeal  Infante,  de  1  de  Junho  de  1560, 
e  outra  de  Anchieta  da  mesma  data  ao  P.  Laynes  (cartas  35  36). 

4  Resposta  do  P.  Polanco  por  comissão  do  P.  Geral,  de  Roma  18 
de  Abril  de  1561:  «En  lo  de  aquel  Cavallero  de  Rodas  y  la  empresa 
de  América,  no  ay  más  que  pensar.  Émonos  consolado  no  poco  con 
lo  que  scriven  dei  Brasil  acerca  de  aquella  gente  que  tenía  tomada  la 
fortaleza»  (ARSI,  Hisp.  66,  f.  ióqt;  cf.  Leite,  Breve  Itinerário  160). 

31 


322 


P.  MIGUEL  DE  TORRES  -  P.  DIEGO  LAYNES 


4.  Uno  que  les  rebolvía  allá  es  venido  5.  El  Governa- 
dor 6  es  mui  amigo  y  favorable.  El  Obispo  7,  enganado  al 
princípio8,  llevava  camino  adverso,  agora  se  muestra  ya 

30  mui  conforme  en  todo.  Nuestro  Seíior  lo  lleve  adelante. 
Estos,  con  lo  que  Sus  Altezas  a  ellos  y  a  los  más  princi- 
pales  escriven  siempre  en  favor  de  nuestro  ministério, 
parece,  favente  Deo,  que  quitarán  las  dificultades  más 
importantes  y  impeditivas  de  la  conversión  y  bien  spiri- 

35  tual  de  todos. 

5.  Aunque  aquella  tierra  es  inculta,  por  que  El  Rei9, 
que  esté  en  gloria,  escogió  la  Compafiía  por  instrumento 
de  las  cosas  de  la  fe  cathólica  y  religión  Christiana,  que 
desseava  plantar  en  ella,  y  hastagora  no  an  aportado  allá 

40  ningunos  religiosos  otros  10,  y  los  Portugeses  en  todas  las 
partes,  ya  pobladas,  dessean  mucho  e  piden  con  eficácia 
los  nuestros,  nos  parece  que  se  devia  hazer  fundamento  de 
fundar  tantos  collegios  quantas  fuesen  las  poblaciones  fir- 
mes, y  assí  se  les  ha  [63 v]  escrito;  el  modo  de  las  funda- 

45  ciones  no  se  puede  facilmente  effectuar. 

6.  Su  Alteza  escrevió  los  dias  passados  al  Governa- 
dor 11  sobre  ello  pidiendo  su  parecer  acerca  de  los  lugares 
adonde  se  ordenarían  collegios  y  quántas  personas  de  la 
Compafiía  avría  menester  cada  uno  y  de  que  manera  se  les 

50  podría  assentar  renta  firme.    Esperamos  respuesta  y  paré- 


5  O  Vigário  Geral  Francisco  Fernandes:  «Las  alteraciones  que 
se  sienten  él  las  mueve»  (cf.  supra,  carta  7  §  2;  Mon.  Bras.  II  456). 
Ainda  foi  Vigário  Geral  algum  tempo  do  novo  Bispo  D.  Pedro  Leitão 
até  1  de  Agosto  de  1560,  embarcando  pouco  depois  para  Portugal 
(Capistrano  de  Abreu,  in  HG  1  367).  A  4  de  Fevereiro  de  1557 
tinha-lhe  encomendado  D.  João  III  que  ajudasse  e  favorecesse  os 
Padres  da  Companhia  de  Jesus  {Mon.  Bras.  II  356-357). 

6  Mem  de  Sá. 

7  D.  Pedro  Leitão. 

8  «Enganado  al  principio»:  cf.  carta  de  16  de  Maio  de  1559  §§  2-3 
(carta  10). 

9  D.  João  III. 

10  Cf.  carta  de  12  de  Maio  de  1559  §  1  (carta  8). 

11  Carta  Régia  perdida  ou  de  paradeiro  desconhecido. 


45.  -  PERNAMBUCO  6  DE  ABRIL  DE  1561 


323 


cenos,  según  la  disposición  de  la  tierra  y  de  la  hazienda 
dei  Rei  allá  y  acá,  que  se  darán  tierras  a  cada  Collegio  en 
que  puedan  labrar  sus  mantinimientos  y  ayuda  de  sclavos 
para  ello.  En  la  ciudad  dei  Salvador  tiene  ya  aquel  Col- 
legio algunas  legoas  de  tierra,  aunque  en  algunas  delias  le 
ponen  algún  embaraço  otras  personas.  Y  en  San  Vicente, 
que  es  otra  Capitania,  ay  dos  legoas  o  más  de  tierra  en 
quadra. 
[•..] 

45 

DO  P.  RUI  PEREIRA 
AOS  PADRES  E  IRMÃOS  DE  PORTUGAL 

PERNAMBUCO  6  DE  ABRIL  DE  1561 

I.    Bibliografia:   B.  Machado  III  651 ;  Catalogo  dos  Manuscri- 
ptos  1  27 ;  Cimélios  496;  Sommer vogel  vi  519  n.  2 ;  Leite,  História  43  n.  2. 

II.  Autores:  Vasconcelos,  Chronica,  liv.  11  nn.  91-92;  Capis- 
trano  de  Abreu,  in  HG  1  373;  Leite,  História  1  80  194  454  478  486; 
11  39  41  133. 

III.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lis- 
boa] 1-5,  2,  38,  ff.  io3r-io5r.  Título:  «Copia  de  numa  carta  que  escre- 
veo  o  P.e  Rui  Pireira,  do  Brasil,  para  os  Padres  e  Irmãos  da  Compa- 
nhia de  Jesus  em  Portugal  no  anno  de  1561  a  6  de  Abril  que  foy  dia  da 
Paschoa».  De  todo  o  códice  é  esta  uma  das  partes  mais  deterioradas, 
sem  uma  folha  sã.   Apógrafo  em  português. 

IV.  Impressão:   Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  28^290. 

V.  Edição:  Reimprime-se  o  texto  único,  valendo-nos  das  Cartas 
Avulsas  nos  diversos  e  às  vezes  longos  trechos  lacerados  do  ms. 

Textus 

1.  Commercium  litterarum.  —  2.  Adest  Pernambuci  quia  Guberna- 
trix  instanter  petiit  ut  Patres  reverterentur  in  ecclesiam  et  domum  S.  1. 
iam  ibi  olim  inchoatas.  —  3.  Iter  maritimum  inter  Bahiam  et  Pernam- 
bucum  in  humili  navi  adversus  ventos  et  magno  cum  periculo.  —  4.  Navis 
appulit  «Ilhéus*  ubi  bene  recepti  omnes  a  Praefecto  fuerunt.  —  5.  Pergit 
navigatio  sed  navis  ventoso  mari  appulit  Camamum  et  iterum  «Ilhéus». 


324 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


—  6.  Cursum  tenens  navis,  post  muitos  labores  et  /amem  ancoras  iecit 
in  Portu  Gallorum  ubi  duae  stabant  naves  gallicae.  —  7.  Discessit  navis 
lusitana  sed,  alia  navi  gallica  prospecta,  iterum  ancoras  iecit  in  «Ponta 
de  Jaraguá»,  ubi  transiit  diem  Natalis  Domini.  —  8.  Denique,  navi  ibi 
pernambucana  inventa,  in  eam  Paires  conscendunt  et  Pernambucum  per- 
veniunt.  —  9.  Gubernatrix,  valde  Societa/i  devinda,  lacrimas  propter  gau- 
dium  effudit. —  10.  Ministério  cum  civibus,  servis  et  indis.—  11.  Adiu- 
inentum  populi  in  augmentum  domus  et  ecclesiae.  —  12.  P.  Dictius  in 
Europam  reversurus  erit.  —  13.  Locus  et  abundantia  Pernambuci  ubi 
ipsi  gentiles  videntur  ditiores  quam  in  aliis  Praefecturis. —  14.  Hebdo- 
mada  maior  et  festum  Paschae.  —  75.    Nova  Lusitânia. 

+ 

Jesus 

Charissimos  em  Christo  Padres  e  Irmãos 
Pax  Christi. 

1.  Non  habemus  hic  civitatem  permanentem,  sed  futu- 
5  ram  inquirimus  l.   O  anno  passado  lhes  escrevi,  ou  ao 

P.e  Doutor  Torres,  pedindo-lhe  que  os  fizesse  participantes 
das  novas,  pola  nao  S.  Lourenço,  aserqua  da  nossa  chegada 
e  da  disposição  da  terra  ;  depois,  da  mesma  Baya,  em  que 
esta  escrevy,  lhes  torney  a  escrever  por  duas  vias 2  pola 

io  nao  capitanea  he  a  caravela  S.  Joam  em  a  qual  eu  vim  com 
o  Bispo,  adonde  lhes  dava  conta  e  em  particular  das  cousas 
da  conversão,  etc.  Agora,  posto  que  de  terra  diferente,  não 
todavia  com  vontade  diferente,  por  não  perder  o  bom  e 
santo  custume  que  em  a  Companhia  se  goarda  e  lhes  amos- 

15  trar  hum  pouco  do  muyto  amor  que  em  Christo  lhes  tenho, 
não  deixarey  de  fazer  o  mesmo. 

2.  Ao  presente  residimos  o  P.e  Gonçalo  de  Oliveira,  o 
Padre  Ditio  e  eu  nesta  Capitania  de  Pernambuco.  A  causa 


1  Hebr.  13,  14. 

2  Das  cartas,  aqui  mencionadas,  só  se  conhece  a  de  15  de  Setem- 
bro de  1560  (carta  40). 


45.  -  PERNAMBUCO  6  DE  ABRIL  DE  1561 


325 


de  nossa  vinda  a  esta  terra  foi  escreverem  a  Senhora  D.  Brea- 
tis  3,  Guovernadora  desta  Capitania,  e  o  mais  povo,  ao  Reyno,  20 
estando  nós  ainda  lá,  e  pedirem  com  muyta  instantia  que 
para  sua  consolação  e  doutrina,  da  qual  carecião  avia  dias, 
lhes  mandassem  alguns  da  Companhia,  e  porque  o  P.  Luis 
da  Grãa  detriminou  de  prover  todas  as  Capitanias,  detry- 
minou  de  prover  primeiro  a  esta,  pois  com  mais  instantia  25 
o  pedio,  e  porque  já  avia  nella  principio  de  casa  e  igreja, 
por  nella  averem  algum  tempo  residido  o  Padre  Nobregua 
e  em  especial  o  [P.e  Antonio  Pires]  4. 

3.  E  primeiramente,  começando  de  nossa  viagem,  sabe- 
rão que  desta  Ca[pitania  à  Baya]  há  pouco  mais  de  cem  30 
legoas,  he  por  virmos  contra  monção,  partindo  da  Baya  a 
14  de  Outubro  à  tarde,  não  chegamos  aqui  senão  a  19  de 
Janeiro,  o  qual  caminho,  diguo  daqui  para  laa,  com  a  mon- 
ção dos  Nordestes,  se  anda  em  tres  ou  4  dias,  e  de  laa  para 
quá,  com  a  do  Sul,  em  pouco  mais.  35 

Saydos  da  barra,  porque,  por  têremos  os  Nordestes  por 
proa,  não  podiamos  vir  ao  longuo  da  costa,  íizemo-nos  na 
volta  do  mar,  para  que,  empegando-nos  sesenta  ou  80  legoas, 
podessemos  navegar  com  os  Lestes  he  vir  demandar  a  costa 
na  altura  do  Cabo  de  Santo  Agustinho.  E  nós,  que  esta-  4o 
riamos  ao  mar  60  legoas  em  huma  naveta  rasteyra  de  proa 
e  mal  lastrada  segundo  diziâo,  dá-nos  huma  tormenta  de 
Lés-Nordeste,  que  durou  6  dias,  tão  furiosa,  que  com  terem 
levado  debaixo  da  cuberta  a  caixarya  e  tudo  o  que  podia 
servyr  de  lastro,  hum  sábado  pola  manhã  nos  acometeo  45 
com  tanta  fúria  que  soçobrou  o  navio,  de  modo  que  hia 
correndo  com  o  bordo  por  debaixo  da  agoa  tanto  que,  creo 


3  D.  Brites  de  Albuquerque,  viúva  de  Duarte  Coelho,  primeiro 
Donatário  e  Governador  da  Capitania  de  Pernambuco,  da  qual  ele 
tomara  posse  a  9  de  Março  de  1535  (Leite,  História  1  473). 

4  O  P.  Nóbrega  e  o  P.  António  Pires  chegaram  a  Pernambuco 
pelo  dia  26  ou  27  de  Julho  de  1551.  Nóbrega  demorou-se  coisa  de  meio 
ano,  voltando  à  Baía  por  obrigação  do  seu  ofício  de  Superior  Maior,  e 
deixou  em  Pernambuco  o  P.  Pires,  que  ainda  aí  ficou  até  o  Advento 
de  1553  (cf.  Mon.  Bras.  1  565). 


526 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


[103V]  que  hia  a  aguoa  por  cima  do  convés,  entrava  cor- 
rente, até  entrar  pola  escotilha  com  quanto  o  outro  bordo 

50  hia  no  ar.  Emquanto  a  gente  andava  acodindo  às  obras  do 
navyo  nós  estávamos  a  confessar-nos  e  a  confessar  outros, 
e  a  deytar  Agnus  Dei  e  relíquias  ao  mar  (o  que  nos  deu  o 
Irmão  Segurado  5  e  vay  en  tres  pedaços  à  honrra  da  Trin- 
dade: se  outro  tem  e  mo  quiser  6  mandar,  receberei  por 

55  charidade  para  estas  e  semelhantes  preças). 

4.  Finalmente,  chegou  a  cousa  a  tanto  que  não  fazia 
conta  mais  que  da  outra  vida.  Todavia,  Deos,  que  mais  nos 
quis  ameaçar  que  castigar  ou  que  quis  que  não  acabásse- 
mos em  tão  poucos  trabalhos  nosso  cursso,  amansou  a  fúria 

60  do  vento  e  mar,  que  a  olhos  vistos  de  hum  bocado  nos  que- 
ria engulir;  e  tomando  o  vento  en  popa  derão  volta  e  fomos 
tomar  a  Capitania  dos  Ilheos,  que  hé  abaixo  da  Baya 
30  legoas,  aonde  en  saindo  en  terra  fomos  todos  descalssos 
em  romaria  a  huma  ermida  que  está  fora  da  ilha.  Como 

65  souberão  que  estávamos  no  porto,  logo  o  Capitão  mandou 
offerecer  pousada  ao  senhorio  do  navio  e  a  todos  nos  veo 
receber  ao  caminho  e  foi  comnosco  à  romarya  e  nos  levou 
a  sua  casa,  aonde  todos  tres  com  outros  pousamos  e  fomos 
muyto  bem  agasalhados  até  dar  sua  cama  ao  P.e  Ditio  e 

70  ele  dormir  em  huma  rede.  Este  Capitão  se  chama  Antonio 
Ribeyro 7,  morador  he  casado  em  a  Baia,  grande  nosso 


50   a  sup.  ||  59   amansou]  amassou  ms. 


5  Luís  Segurado,  de  Évora,  estudante  recebido  na  Companhia 
a  23  de  Maio  de  1551  (Lus.  431,  f.  I3r).  Chegara  de  Lisboa  ao  Noviciado 
de  Coimbra  a  8  de  Abril  de  1555.  Filho  de  Marcos  Gil  Segurado,  criado 
de  El-Rei,  contador  da  Casa  da  Suplicação,  e  de  sua  mulher  Margarida 
Coelha  {Lus.  4J-2,  f.  387V).  Faleceu  com  18  anos,  por  fins  de  1560. 
Ambrósio  Pires,  em  carta  de  Lisboa,  de  16  de  Janeiro  de  1561,  conta  a 
sua  vida  e  santa  morte  {Litt.  Quadr.  vil  [1932]  94-95;  Lus.  43-1,  f.  26v). 

6  Embora  a  carta  apareça  dirigida  aos  Padres  e  Irmãos,  aqui  há 
um  endereço  pessoal,  quem  quer  que  fosse  (Provincial,  Secretário  ou 
outro). 

7  Cf.  Leite,  História  1  189;  11  131. 


45.  -  PERNAMBUCO  6  DE  ABRIL  DE  1561 


527 


amiguo;  he  porque  o  fez  rauy  bem  em  o  Rio  de  Janeiro,  o 
deixou  aqui  o  Guovernador  8  por  Capitão  quando  de  llá 
veo.  Os  dias  que  aqui  nos  [detivemos]  ocuparão-se  em  con- 
certar o  navio  e  alevantar-lhe  os  bordos  e  pôr-lhe  lastro.  75 
Toma[rão  mantimentos,  dos  quais  os  da  terra  nos  proverão 
por  amor  de  Deos. 

5.  Tudo  aparelhado,  mu[dando-se]  o  tempo  do  Sul,  fize- 
mo-nos  à  vela  outra  vez,  e  porque  o  tempo  loguo  nos  deixou, 
e  por  o  navio  hir  muyto  empado,  a  cabo  de  dous  ou  tres  dias  8o 
tornamos  a  arribar  a  hum  porto  que  se  chama  Camamum, 
12  legoas  acima  dos  Ilheos,  e  não  no  podendo  tomar  pelo 
mao  governo  que  ouve,  fomos  forçados  tornar  aos  Ilheos, 
adonde  o  mesmo  Capitão  loguo  nos  tornou  a  buscar  e  nos 
levou  para  casa  como  dantes,  aonde  estivemos,  esperando  85 
tempo, alguns  quinze  dias  ou  mais.  Neste  tempo  preguei-lhes 
algumas  vezes,  no  que  amostravão  levar  muyta  consolação 
por  não  terem  quem  lhes  pregasse  avia  muyto  tempo. 

Nesta  Capitania  está  hum  homem,  que  chamão  Anr- 
rique  Luis,  feitor  de  Lucas9.  Está  em  hum  engenho  de  9o 
Lucas.  Com  este  10  estivemos  alguns  dias  no  engenho,  o 
qual  nos  agasalhava  e  sua  molher  com  tanto  amor  que 
em  nenhum  modo  nos  queria  alargar.  E  vindo  nós  de  laa 
(porque  está  fora  da  villa)  para  nos  embarcar,  porque  fal- 
tou o  tempo,  o  não  fizemos.  Como  ysto  vio,  loguo  nos  mandou  95 
pedir  que  nos  tornássemos  para  laa,  amostrando  sentir  nisso 
grande  consolação.  Sua  molher  hé  huma  Martha  n,  he  amiga 


8  Mem  de  Sá. 

9  «A.  Capitania  dos  Ilhéus  passou  a  Lucas  Giraldes,  que  a  com- 
prou (6  de  Novembro  de  1560)  ao  3.0  donatário  Jerónimo  de  Alarcão,  a 
quem  fora  cedida  por  seu  irmão  Jorge  de  Figueiredo,  primogénito  do 
i.°  donatário.  A  confirmação  régia  foi  dada  a  20  de  Fevereiro  de  1561» 
(Porto  Seguro,  HG  1  388). 

10  Henrique  Luís:  15  anos  antes  vivia  na  Capitania  do  Espírito 
Santo  um  homem  do  mesmo  nome,  envolvido  nas  lutas  da  Capitania 
de  Pero  de  Góis.  Pergunta  Pedro  Calmon  (História  do  Brasil  I  198) 
se  não  será  o  mesmo  que  se  encontra  agora  em  Ilhéus. 

11  Quer  dizer:  activa  e  solícita  como  a  Marta  do  Evangelho,  irmã 
de  Lázaro  e  Maria. 


528 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


de  Deos,  e  muyto  nossa  devota  e  em  nos  laa  colhendo,  logo 
se  coníessou  e  commungou  a  numa  missa  que  laa  lhe  dis- 

ioo  semos.  Quando  nos  ouveramos  de  partir  proverão-nos  de 
açúcar  he  muyta  conserva  e  outras  cousas  [de  açúcar  e 
a]dens,  e  ainda  dezia  que  estava  corrido  de  híremos  tão 
mal  providos.  A  [outro  e[ngenho  nos  levou  hum  Tomás 
Alegre,  criado  que  foi  de  Lucas,  aonde  nos  mostrou  muyto 

I05  gasalhado  e  nos  proveo  de  algumas  cousas. 

Do  sitio  desta  Capitania  e  frescura  da  terra,  fermosura 
de  tres  braços  de  hum  grande  rio,  que  tem,  por  cada  hum 
dos  quais  navegão  caravelões,  etc,  deixo  para  o  P.e  João 
de  Mello,  que  ficava  destinado  para  com  outro  Padre  hir 

no  residir  laa. 

Huma  cousa  me  esquecia  e  hé  que  estando  nós  huma 
noite  ceando  en  casa  do  Capitão,  entrou  pola  porta  o  Irmão 
Luis  Rodrigues,  que  vinha  em  hum  caravellão  de  Pernam- 
buco, aonde  ficou  por  desastre,  indo-se  o  navio  em  que 

"5  vinha  sem  esperar  por  elle,  como  creo  já  terão  sabido  por 
via  da  Baia.  Quanta  consolação  com  elle  recebemos  já  o 
podem  imaginar,  maxime  porque  se  o  aqui  não  viramos, 
por  ventura  que  passarão  annos  sem  nos  vermos,  porque 
antes  que  elle  chegasse  já  quasi  estava  destinado  para 

120  huma  das  Capitanias  de  baixo.  Elle  logo  se  partio  para  a 
Baya  por  estar  embarcação  de  caminho.    Ainda  para  o 
temporal]  nos  foi  boa  a  sua  vinda,  porque  ainda  nos  apro- 
veitarão bem  para  a  viagem  os  man[timen[tos,  que  nos 
deo,  de  carne  e  arrôs. 

I25  6.  Vindo-nos  tempo,  nos  fizemos  à  [vela  na  volta  do 
mar],  e  erão  tão  grandes  as  correntes  contra  nós  que 
quando  fomos  demandar  a  costa  [acha]mo-nos  algumas 
12  legoas  acima  da  Baya,  aonde  chamão  Tatuapara;  dali 
nos  fo[mos]  bordejando  ao  longo  da  costa  até  chegar- 

130  [i04r]mos  perto  do  Rio  Real  M,  que  será  30  ou  40  legoas 


110    laa]  alia  nts.  I1  135    nos  fizemos  bis 


12   Rio  Rea),  limite  hoje  dos  dois  Estados,  Bala  e  Sergipe. 


45.  -  PERNAMBUCO  6  DE  ABRIL  DE  1561 


529 


acima  da  Baya.  E,  polo  periguo  em  que  andávamos  de  dar 
à  costa,  e,  porque  começávamos  a  entrar  na  costa  da  gente 
suspeitosa,  que  era  do  Rio  de  S.  Francisco,  e  na  enseada  de 
Vasabarris,  e  aonde  se  perdeo  o  Bispo  velho  13  e  os  que  em 
sua  companhia  vinhâo,  nos  tornamos  a  íazer  na  volta  do  135 
mar  para  nos  ajudarmos  dos  Lestes  e  Lesuestes,  e  já  que 
estávamos  empegados,  [que  era  tempo  de  virar,  e  não  com 
muyta  agoa  nem  mantimentos,  antes  começando  já  a  fome 
e  sede  a  apertar  comnosco,  salta-nos  o  vento  em  calmarya, 
e,  como  as  correntes  erão  contra  nós,  o  vento  nem  pola  140 
bolina  nos  ajudava:  de  modo  que  nos  determinamos  de  hir 
buscar  a  costa  de  Tatuapara  perto  da  Baya  para  dahy  se 
tornarem  por  terra  os  que  quisessem  e  os  outros  buscas- 
sem alguns  mantimentos  e  agoa  para  fazerem  sua  viagem, 
porque  o  senhorio  do  navio  detriminou  de  não  arribar  à  145 
Baya. 

Indo  na  volta  da  terra,  quis  Nosso  Senhor  dar-nos  huma 
borriscada  de  Sul,  com  a  qual  pondo  a  proa  ao  caminho 
fomos  anchorar  no  porto  dos  Franceses  14,  aonde  estavão 
duas  naos  à  nossa  vista,  alguma  legoa  ou  legoa  e  mea  de  150 
nós,  e  outra  mais  dentro,  segundo  os  índios,  que  vierão  a 
bordo,  nos  disserão.  Fazendo-nos  à  vela  na  volta  do  mar, 
não  podemos  mais  fazer  que  à  noyte  tornar  a  tomar  o 
mesmo  porto  mais  avante  hum  pouco,  aonde  nos  me]temos 
dentro  de  hum  arrecife  mais  segu[ros  do  que  dantes  esta-  155 
vamos  do  mar;  e  isto  de  não  hir"  avante  causavão-no  as 
grandes  correntes. 

7.  [Huma  cousa  dina  de  notar  nos  aconteceu  aqui,  e] 
para  louvar  muyto  a  Nosso  Senhor  e  a  tivemos  por  [mila- 
gre. Querendo  nós  anchorar,  deitarão  o  prumo"  e  acharão  160 
bom  fundo  e  tendo  já  a  vela  [grande  tomada  antes  do  sol 
posto  para  já  alar[gar  a  anchora,  tornarão  a  rondar  e  a"cha- 
rão  pedra:  indo  assi  com  o  traquete  sondando  acharão 
roim  o  fundo  e  entretanto,  como  ["levava  o  navio  pouca 


13  D.  Pedro  Fernandes. 

14  Porto  dos  Franceses,  hoje  Porto  Francês,  assinalado  por  Homem 
de  Melo  ao  sul  de  Maceió,  Estado  de  Alagoas  {Atlas,  n.  10). 


530 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


165  vela  e  a  corrente  era  grande,  foi-nos  afastando]  da  costa,  de 
modo  que  já  [daquelle  bordo  não  podíamos  anchorar;  e 
assi,  bem  desgostosa  toda]  a  gente,  nos  fazíamos  na  [volta 
do  mar,  porque  daqui  a  Pernambuco  já  não  tinha]mos  mais 
que  de  40  legoas.    Em  [começando  de  hir  para  o  mar  vem 

170  huma  vela,  que  vinha  no  longo]  da  costa  para  onde  nós  [qui- 
séramos sorgir,  e  vindo-se  chegando  a  nós,  soubemos  que 
era]  huma  nao  francesa,  [e  vendo  os  nossos  que  ora  arribava 
ora  metia  de  ló,  parecendo-lhes  que  se]  querya  vira  nós  se 
fizerão  na  volta  do  mar  e  largarão  [a  vela  grande  e  tra- 

175  quete]  da  gávea,  porque  isto  era  na  enseada  do  Porto  dos 
Franceses,  [aonde  afora  esta  que  vinha],  estavão  as  duas 
que  disse.  Passou  ella  então  e  foi-sse  [ao  longo  da  costa 
e  foi-se  meter  no  por]to  à  nossa  vista ;  e  se  tivéramos 
anchorado,  ella  [vinha  direita  a  proa  em  nós  e  primeiro]  que 

180  levarão  as  vergas  acima,  ainda  que  cortarão  [a  amarra, 
ouvera  de  ser  comnosco]  ou  nos  ouvera  de  meter  em  grande 
pressa.  E  segundo  [depois  soubemos,  se  nos  tomarão 
parece]  estar  claro  averem-nos  de  matar  ou  dar  aos  [Negros 
em  resgate  do  brasil.    Porque,  alem]  de  se  dizer  que  dão 

185  elles  os  homens  a  comer  aos  [índios  para  lhe  darem  carga, 
pouco  avia]  que  alguns  Portugeses  lhes  avião  preso  [em 
terra,  aonde  sahirão,  o  mestre  do  navio  e  mais  o  lingoa]  e 
creo  que  foi  o  mestre  tão  maltratado  que  morreo. 

Aqui  neste  porto,  detrás  da  Ponta  de  Jeragoay  15,  tivemos 

190  o  Natal.  [Estando  aqui  hiâo  cada  dia  a  terra  buscar  agoada 
e  fruitas  e]  vinhão  os  índios  aa  [bordo  trasê-las,  e  uma  vez 
que  foi  a  terra  o  P.e  Gonçalo  de  Oliveira]  e  outros,  segundo 
[os  signaes  que  vião  ou  verão  de  ser  presos  ou  frechados  dos 
Índios.]    Louvado  seja  o  Senhor  [que  os  livrou! 

195  8.  Estando  aqui  soubemos  que  den]tro  desta  enseada 
em  hum  rio  estava  um  barco  de  Per[nambuco  ao  resgate, 
aos  qua]is  mandamos  dizer  o  aperto  em  que  esta[vamos  de 
mantimentos.  Os  quaes  nos  mandarão]  refresco  de  farinha, 


15  O  porto  detrás  da  Ponta  de  Jeraguá  (Jaraguá)  é  o  da  actual 
capital  de  Alagoas  (Maceió). 


45.  -  PERNAMBUCO  6  DE  ABRIL  DE  1561 


551 


de  peixe- boi  fresco,  [e  dahy  a  poucos  dias  vierão  em  o 
barco  ter  comnosco,  aonde  proverão  o  navio  de  mantimen-  200 
tos.    De  modo  que,  com  o  que  estes  homens  derão  e  ven- 
derão e  com  a  pescarya,  que  aly  íazião  os  do  navio,  torna- 
mos a  abrir  os  olhos.    O  lingoa  do  barco,  como  soube  que 
no  navio  vinhão  Padres,  porque  sabia  quanto  os  desejavão 
em  Pernambuco,  disse  que  se  não  fizesse  tempo  que  por  205 
terra  nos  levariâo.  E,  como  o  barco  veio  a  nós  huma  tarde 
e  nos  salvou  e  nós  a  elle  e  lhe  fizemos  festa  com  a  arti- 
lharia, nos  embarcamos  nelle  nós  todos  tres  e  outros  dous 
homens  da  companhia  da  navetaj  porque  o  barco,  como  era 
pequeno,  podia  vir  ao  longo  da  costa  por  entre  os  arrecifes  210 
e  por  cima  delles  com  prea-mar. 

E  logo  aquella  tarde  dobramos  a  Ponta  de  Jeragoay  e 
anchoramos  em  a  outra  enseada,  e  presto  chegamos  a  hum 
porto  que  chamão  Camaragibe 16,  aonde  estavâo  muytos 
Portugeses  resgatando  com  os  índios  já  nossos  amigos.  215 
Aqui  saymos  em  terra  e  fomos  muy  bem  agasalhados  delles 
e,  depois  de  cearmos,  nos  partimos  por  terra  pola  praia  até 
hum  porto,  que  chamão  das  Pedras  ,T,  aonde  o  barco  nos 
avia  de  hir  tomar.  Aqui  chegamos  ante-manhâ  pouco,  bem 
cansados,  porque  alem  do  caminho  ser  longuo  e  de  noite],  220 
passamos  hum  rio  trabalhoso.  Neste  porto  [104.V]  achamos 
dous  barcos  de  homens  de  Pernambuco  e  da  Ilha  de  Tama- 
raquá  18,  com  os  quais  estivemos  todo  aquelle  dia  seguinte 
até  o  outro  à  tarde,  aonde  nos  fizerão  tanto  agasalhado, 
que  ainda  que  eu  chegara  a  casa  de  meu  pay,  não  me  fize-  225 
rão  mais  gasalhado;  e  alem  de  nos  darem  o  seu,  no-lo 
davão  com  tanta  alegria,  que  parecia  que  Deos  lhe  viera 
pela  porta.  Partidos  daquy  bem  providos  para  o  camynho, 
saimos  em  terra  de  índios  amigos,  que  se  chama  o  Porto 
do  Calvo,  [e  andamos  por  terra  até  junto  dos  contrários,  230 


16  Na  foz  do  Rio  Camaragibe,  Alagoas,  mas  já,  como  se  vê,  índios 
amigos. 

17  Hoje  Porto  de  Pedras,  ainda  em  Alagoas,  na  costa,  um  pouco  ao 
sul  da  foz  do  Rio  Porto  Calvo. 

18  Hoje  Itamaracá. 


352 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


de  modo  que  vínhamos  como  de  quinta  em  quinta,  e  se 
trabalho  tínhamos  levado  bem  nos  pagava  Deos  ainda  tem- 
poralmente. 

Desta  derradeira  vez  que  embarcamos,  em  hum  dia  e 

235  noite  aprouve  a  Nosso  Senhor,  por  sua  infinita  misericór- 
dia, de  nos  trazer  a  este  porto  de  Nova  Lusitânia,  hoc  est, 
Pernambuco,  de  nós  tão  desejado.  E  assi  como  desembar- 
camos pola  manhã  nos  viemos  antes  do  dia  à  villa  19f  a 
nossa  casa,  porque  o  porto  20  está  huma  legoa  delia;  aonde 

240  como  fomos  sentidos  logo  pola  manhã,  forão  tantas  as  visi- 
tações e  presentes  e  alegria  com  que  nos  recebião  que  era 
muyto  para  louvar  a  Nosso  Senhor,  e  parecia  que  recebião 
a  salvação.    Deus  seja  louvado  por  tudo! 

9.    A  Senhora  Governadora,  que  se  chama  D.  Breatiz 

245  hé  por  estremo  devota  da  Companhia.  Quando  achegamos 
acertou  de  estar  em  hum  seu  engenho,  fora  da  villa  huma 
legoa,  e  como  o  soube  à  tarde,  com  ter  huma  sobrinha 
muyto  doente,  diz  que  toda  aquella  noite  não  pôde  dormir 
com  alvoroço,  e  como  foi  manhã,  sem  sabermos  nada], 

250  já  estava  na  nossa  igreja.  Era  sua  alegria  [tamanha  em 
nos  ver  que  não  fazia  senão  chorar  e  dizer  cousas  de  pes- 
soa que  amostrava  ter  quanto  o  seu  coração  desejava. 
Esta  Senhora,  como  disse,  hé  grande  devota  da  Companhia, 
e  as  suas  esmolas  forão  continuas  em  casa  emquanto  aqui 

255  esti verão  Padres  da  Companhia,  e  asi  o  são  agora.  Seus 
exercicios  são  yr  à  igreja  e  ouvir  missa  e  encommendar-se 
a  Deos,  visitar  quantos  enfermos  há  na  villa  e  consolá-los. 
Seu  gosto  hé  falar  de  Deos  e  ler  por  livros  spirituais,  e 
agora  que  vierão  os  filhos  21  não  cabe  de  alegria  por  ver 


19  Vila  de  Olinda. 

20  Recife,  «que  dista  da  villa  uma  boa  légua»  (Cardim,  Trata- 
dos 327). 

21  Vieram  em  1560  (Bento  Teixeira  Pinto,  Naufrágio  [Porto  1938] 
35):  Duarte  Coelho  de  Albuquerque  e  Jorge  Coelho  de  Albuquerque. 
Voltaram  para  Portugal  e  assistiram  à  batalha  de  Alcácer-Quibir,  onde 
Jorge  ofereceu  o  seu  cavalo  a  D.  Sebastião,  foi  ferido,  prisioneiro  e 
resgatado,  voltando  mais  tarde  a  Pernambuco.  O  seu  irmão  D.  Duarte 
também  foi  um  dos  oitenta  fidalgos  resgatados,  mas  faleceu  antes  de 


45.  -  PERNAMBUCO  6  DE  ABRIL  DE  1561 


533 


que  a  descarregarão  da  governança  e  que  tem  tempo  para  260 
se  dar  a  Deos. 

10.  A  gente  da  terra  hé  a  mais  tratavel  que  eu  quá 
tenho  visto.  Usão  de  muyta  caridade  comnosco,  e  pola 
bondade  de  Deos  sey  que  se  faz  muyto  fruito  nelles,  por- 
que confessão  que  está  a  terra  tão  diferente  do  que  já  fora  265 
como  de  branco  a  preto.  Há  gente  tãobem  que  se  confessa 
e  communga  a  miúdo.  Depois  que  viemos  começamos  a 
chamar  a  escravarya  à  doutrina,  aonde  acodem  muytos, 
maxime  aos  domingos  e  dias  santos,  nos  quais  dias  se  enche 
a  igreja  até  à  porta  e  apenas  cabem  os  escravos  machos.  270 
Vem  huma  mea  hora  andada  de  noite,  sem  os  chamarem 
com  campainha  nem  com  outras  cousas,  senão  por  sua  von- 
tade ou  seus  senhores  os  mandarem,  aos  quais  o  Padre  Oli- 
veira faz  outra  vez  a  doutrina,  porque  elle  hé  o  doutor  das 
gentes.  Alguns  bautisamos  e  casamos  depois  que  viemos,  275 
se  confessarão  muytas  das  escravas,  e  são  já  tão  ladinas 
que  tomavão  em  caso  de  honrra  ensinarem-nas  na  lingoa, 
nem  querião  se]  não  que  lhes  falassem  em  portugês. 

Porque  nosso  intento  hé  não  somente  entender  com  os 
Brancos  e  seus  escravos  senão  tãobem  com  o  Gentio  (e  por  280 
essa  causa  veio  quá  o  P.e  Gonçalo  de  Oliveira,  lingoa)  22 
sabendo  nós  os  dias  passados  como  em  huma  aldeã  de 
índios,  nossos  amigos,  querião  matar  e  comer  hum  contra- 
rio, me  fuy  lá  com  tres  lingoas  dos  milhores  da  terra  e  com 
outros  (por  o  Padre  Oliveira  nam  poder  lá  yr  por  estar  285 
doente  dos  olhos),  os  quais  forão  commiguo  de  boa  von- 
tade', e  quis  Nosso  Senhor  ajudar-nos  tanto  que,  tendo  já 
a  louça  feyta  e  o  gasto  feyto,  mo  venderão.   E  vindo  o 


voltar  a  Portugal.  D.  Brites  de  Albuquerque  teve  vida  lorjga,  faleceu 
em  1584,  estando  presente  em  Pernambuco  o  Bispo  D.  António  Barrei- 
ros, o  Visitador  Cristóvão  de  Gouveia  e  o  seu  secretário  Fernão  Car- 
dim, e  teve  exéquias  soleníssimas  na  Igreja  do  Colégio  de  Olinda 
(Braancamp  Freire,  Brasões  11  215;  Rodolfo  Garcia,  in  HG  1  373; 
Leite,  História  1  487). 

22  Cf.  Historia  de  la  fundaciòn  dei  Collegio  de  la  Capitania  de  Per- 
nambuco, in  Anais  da  Biblioteca  Nacional  49  (1936)  13. 


334 


P.  RUI  PEREIRA  -  PP.  E  II.  DE  PORTUGAL 


senhor  commiguo  para  lhe  dar  a  paga,  viemos  ter  no  campo 

290  a  casa  de  hum  homem  nosso  devoto,  o  qual  sem  lhe  eu 
pedir  me  deo  logo  o  resgate  com  que  o  paguei;  e  tenho-o 
para  ajuda  de  casamento  de  huma  orfã.  Dizem-me  todos 
que  hé  muy  fácil  acabarmos  com  elles  que  não  comão 
carne  humana.   Agora  aperto  rijamente  com  o  Governador 

295  novo  Duarte  Coelho  que  o  ponha  [por  obra,  para  logo  enten- 
dermos com  o  Gentio.  Elles,  des  que  souberão  que  eu  lá 
fuy,  não  matarão  nenhum  dos  que  tinhão  cativos,  antes 
duas  que  tinhão  em  ferro,  loguo  as  soltarão  e  as  venderão 
aos  Brancos.  Orate  pro  nobis,  porque,  se  se  abre  este  cami- 

300  nho,  temos  um  amplissimo  campo  para  trabalhar. 

Des  que  viemos  (tirando  o  primeyro  dominguo  que  vim 
muyto  fraquo)  comecey  a  pregar.  Creo  que  estão  medio- 
cremente  satisfeitos:  aguora  na  coresma  prego  tres,  quatro 
vezes  na  somana.  Ainda  que  não  faley  nos  exercícios,  que 

3°5  tivemos  na  navegação,  forão  os  acustumados,  com  ladainhas 
e  Salve  cada  dia,  etc. 

11.  E-nos  a  gente  tão  favorável  que  querendo  eu  acres- 
centar um  par  de  camarás  à  nossa  casa,  por  não  ter  mais 
que  huma  assobradada,  como  o  souberão  hum  me  deo  as 

310  traves,  outro  as  tavoas,  outro  os  pregos,  outro  os  cravos, 
os  carpinteyros  se  ajuntarão  de  modo  que  o  mais  da  obra 
fizerão  em  hum  dia,  e  dous  a  acabarão  dentro  da  mesma 
somana.  Querendo  tãobem  acrescentar  a  egreja,  me  man- 
dou logo  outro  8  ou  10  carros  de  traves,  etc,  de  modo  que 

315  como  sentem  termos  alguma  nece]-[i05r]cidade  loguo  somos 
providos.  E  assi  no  que  toca  às  suas  conscientias,  nos  tem 
tanto  credito  e  se  nos  sojeitão  tanto  que  me  espanto,  tendo 
nós,  antes  que  viéssemos  a  esta  terra,  muyto  arreceo  de 
fazermos  muy  pouco  com  esta  gente,  e  achamos  tudo  pelo 

320  contrario  pola  bondade  de  Nosso  Senhor. 

12.  Posto  que  do  P.e  Ditio  se  poderão  enformar  da  terra, 
não  deixarey  de  lhe  dar  alguma  noticia  delia. 

13.  Estaa  esta  terra  [era  oito  grãos  da  banda  do  Sul,  à 
vista  do  cabo  de  S.  Agostinho,  sete  legoas  delle ;  estaa 

325  situada  em  huma  ponta  que  entra  no  mar  mais  que  o 
mesmo  cabo,  porque  ficando-lhe  o  cabo  da  banda  do  Sul, 


45.  -  PERNAMBUCO  6  DE  ABRIL  DE  1561 


335 


desta  ponta,  com  o  Norte,  dobrão  o  cabo,  e  do  cabo,  com  o 
Sul,  não  podem  dobrar:  estaa  em  o  mais  alto  desta  ponta 
sobre  o  mar. 

Estaa  a  nossa  casa  situada  com  a  mayor  vista  e  viração  330 
assi  para  o  mar  como  para  a  terra  que  em  nenhuma  nossa 
casa  vy.  Hé  tão  fresco  o  sitio  que  andando  o  sol  sobre  nós 
em  nenhum  modo  sentimos  o  verão,  antes  muytas  vezes  hé 
necessário  fogir  da  viração,  sendo  a  terra  geralmente  mais 
quente  que  a  das  outras  Capitanyas.  E  com  ysto  hé  terra  335 
sadia  por  estremo,  de  muyto  milhores]  mantimentos  e  em 
abundância  que  as  outras.  Hé  muy  provida  das  cousas  do 
Reyno  poios  muytos  navios  que  a  eila  vem  todos  os  annos, 
de  modo  que  nas  provisões  quem  tiver  com  que  as  compre 
não  há  quá  diferença  do  Reyno.   Continuamente  se  vende  34o 
pão  de  triguo,  vinho,  azeyte,  etc,  e  a  terra  em  si  hé  muy 
farta  e  de  muyto  gado;  até  o  Gentio  daqui  hé  mais  riquo 
que  o  das  outras  Capitanias. 

14.  Isto  hé,  Charissimos  en  Christo,  o  que  ao  presente 

se  me  offerece  para  lhes  escrever:  espero  que  não  será  esta  345 
a  derradeira  que  o  farey.  Quanto  aos  officios  da  Somana 
[Santa  e  a  solennidade  com  que]  fizemos  a  Resureição  com 
todo  o  estrondo  d'artilha[ria,  frautas  e  musica],  e  quanto 
com  estas  cousas  o  povo  se  consola  e  se  nos  afeiçoa, 
reme[to-me  ao  P.e]  Ditio23,  porque  vou  sendo  comprido.  350 
Encomendamo-nos  em  os  Santos  Sacrifícios  e  orações. 

15.  De  este  Pernambuco  (vel  próprio  vocábulo  Per- 
nambuc24  [que  quer  dizer]  «mar  furado»  na  lingoa  do  gen- 
tio), Olinda,  Nova  Lusitanya,  a  6  d'Abril,  dia  da  Paschoa 

de  1561  annos.  Pus  todos  estes  nomes,  por[que  se  em  as]  355 


23  O  P.  João  Ditio,  ou  na  leitura  portuguesa,  Dício,  voltou  para  a 
Europa  e  veio  a  falecer  em  Coimbra  a  8  de  Agosto  de  1569  (Leite  His- 
tória I  479). 

24  «Paranã-mbuca,  o  furo  ou  entrada  do  lagamar:  Allusão  à  brecha 
natural  do  recife  por  onde  o  lagamar  se  comunica  com  o  mar»  (T.  Sam- 
paio, O  Tupi  na  Geographia  Nacional  286;  cf.  Afrânio  Peixoto,  Car- 
tas Avulsas  290).  Recife  veio  a  ser  o  próprio  nome  da  actual  capital  do 
Estado  de  Pernambuco. 


336 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


cartas  particulares  acharem  ora  huns  ora  outros  saibão  que 
a  terra  hé  a  mesma,  porque  todos  estes  nomes  tem.  Amen. 
Todo  de  todos  em  o  Senhor, 

[Rui]  Pereyra. 

CARTA  PERDIDA 

45a.  Do  P.  Gaspar  Lourenço  ao  P.  António  Blásques,  Baia  (Aldeia 
de  S.  João,  Abril  [?J  de  1561).  «El  Padre  [Gaspar  Lourenço]  lo  baptizó, 
y  según  me  escrivió»,  —  diz  o  P.  António  Blázquez,  carta  de  1  de 
Setembro  de  1561  (carta  58). 

46 

DO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
AO  P.  MIGUEL  DE  TORRES,  LISBOA 

S.  VICENTE  14  DE  ABRIL  DE  1561 

I.   Bibliografia:    Leite,  História  IX  n  n.  31. 
II.    Autores  :    LEITE,  História  I  576 ;  II  431  435. 

III.  Texto:  ARSI,  Bras.  15,  fí.  H4v-ii5r  [antigo  202v-203r;  mais 
antigo  riscado:  io6V-io7r].  Titulo  :  «Copia  de  hum  capitolo  d'outra  carta 
do  mesmo  Padre  [Nóbrega]  pera  o  Padre  Migel  de  Torres  14  d'Abril 
de  1560».  O  copista  escreveu  antes  Junho,  riscou  e  escreveu  por 
cima  Abril.  Junto  com  os  capítulos  de  cartas  de  Nóbrega  ao  P.  Fran- 
cisco Henriques  e  por  fora  esta  anotação  por  outra  letra  (f.  115V):  «r56r. 
San  Vincenzo.  P.e  Emanuel  di  Nobriga  22  Giugno».  Apógrafo  em  por- 
tuguês. 

IV.  Impressão  :  Leite,  Novas  Cartas  Jesuíticas  —  de  Nóbrega  a 
Vieira  (São  Paulo  1940)  93-95;  Cartas  de  Nóbrega  (Coimbra  1955)  370- 
-373- 

V.  História  da  Impressão :  Publicou-se  primeiro  em  ortografia 
moderna,  por  ser  esta  a  índole  de  Novas  Cartas;  em  Cartas  de  Nóbrega 
(1955)  o  apógrafo. 


VI.   Edição:    Reimprime-se  o  texto  (Bras.  /jj. 


46.  -  S.  VICENTE  14  DE  ABRIL  DE  1561 


357 


Textus 

7.  Epistolae  Patris  Nóbrega  et  Fratris  Anchieta.  —  2.  In  Societa- 
tem  accepit  Simonem  Jorge  matrimonio  non  consummato  coniunctum, 
cuius  casum  exponit. — 3.  Etiam  duos  iuvenes  mixtae  originis  recepit 
qui  Eboram  ad  studia  adire  possunt. 

1.  Este  navio  que  leva  a  2.a  via  arribou.  O  que  des- 
pois  avia  que  escrever  a  V.  R.  se  escreve  ao  Padre  Fran- 
cisco Anrriquez,  o  que  toca  aos  negotios,  porque  do  mais 
o  Irmão  Jozeph  dará  larga  enformação  *. 

2.  O  que  resta  pera  nesta  dar  conta  a  V.  R.  hee  5 
fazer-lhe  saber  como  neste  ano  entrou  na  Companhia 
nesta  Capitania  de  São  Vicente  hum  homem  de  medio- 
cres  partes  pera  nosso  Instituto  por  nome  Simão  Jorge  2 

o  qual,  tendo  voto  de  religião  se  casou  com  huma  viuva, 
e  foy  dispensado  huma  vez  para  pedir  o  debito.  10 

Falecendo  esta  primeira  molher  casa-se  a  segunda  vez; 
mas  antes  de  consumar  o  matrimonio,  por  ella  ser  ainda 
de  pouca  idade  e  não  consentir,  movido  de  contrição,  pedio 
ser  recebido  na  Conpanhia.  Mas  como  se  temese  escan- 
dolo  do  sogro  e  dos  parentes  não  se  quis  aceitar,  mas  antes  15 
se  tornava  a  dispensar  com  elle  circa  petitionem  debiti 
para  maior  abastança. 


1  Cartas  49  50  51  53. 

2  Este  Simão  Jorge  consta  do  Catálogo  da  Companhia  de  1562 
(infra,  doe.  63)  e  em  mais  nenhum ;  e  não  vimos  elementos  suficientes 
para  o  identificar.  Segundo  A.  de  Moura,  havia  em  São  Paulo  neste 
mesmo  ano  de  1562  um  Simão  Jorge,  de  Viana  do  Minho,  encarregado 
das  fortificações,  e  que  em  1563  foi  juiz  ordinário,  cargos  em  exercício, 
incompatíveis  com  a  sua  estada  na  Companhia;  o  qual  teve  um  filho  de 
igual  nome.  Mas,  segundo  o  mesmo  autor  (Os  povoadores  do  Campo  de 
Piratininga  100),  este  Simão  Jorge,  filho,  esteve  na  bandeira  do  Guairá 
em  1628,  circunstância,  de  tempo  ou  de  idade,  que  também  parece 
excluir  a  sua  identificação  com  o  Simão  Jorge  de  1562,  que  já  então 
(66  anos  antes)  se  tinha  casado  duas  vezes.  O  P.  Geral  Diogo  Laynes 
responde  a  esta  proposta,  carta  de  16  de  Dezembro  de  1562  §  9 
(carta  68). 

23 


338 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  - P.  MIGUEL  DE  TORRES 


Mas  como  quisesse  fazer  vida  com  sua  molher,  seu  sogro 
e  parentes  e  ela  não  consentirão,  antes  lhe  ganharão  tão 

20  grande  odio  que  se  temião  mortes  e  grandes  escandolos,  o 
que  elles  fazião  por  saberem  não  aver  ele  consumado  o 
matrimonio  nem  ela  o  concentisse,  ora  fose  por  ella  não 
ser  para  isso  pola  pouca  idade  que  tinha,  ora  por  nunca 
consentir  no  casamento  de  que  aa  algumas  presunçõis,  por- 

25  que  naquelle  tenpo  nunca  falou  as  palavras  senão  inportu- 
nada  e  forçada  do  pay  e  da  may,  como  ela  mesma  o  disse 
senpre. 

Estas  cousas  acrecentarão  tanto  os  desejos  de  este 
homem  de  servir  a  Nosso  Senhor  e  deixar  o  mundo  que 

30  muito  tenpo  inportunou  e  pedio  receição  e  isso  mesmo 
desejava  o  sogro  e  parentes  por  ver  sua  filha  livre  dele. 
Paresce-nos  a  todos  ou  aos  mais  que  devia  ser  recebido, 
assi  por  nos  parecer  que  será  bom  operário,  como  por 
aquietar  muitos  alvoroços.  Faz  agora  sua  provação  e  daa 

35  boas  mostras  fundando-se  na  humildade,  obediência  e  des- 
prezo do  mundo.  Sabe  a  lingoa  da  terra  honestamente  e 
sabe  pera  se  poder  ordenar,  e  ser  clérigo  que  abaste  pera 
esta  terra.  Se  a  V.  R.  parecer  bem  recebê-lo,  devia  de 
fazer  profisão  de  tres  votos,  pera  a  molher  se  poder  casar 

40  sem  scrupolo  posto  que  ella  dizia  que  nunca  concentio 
nelle,  porque  ao  menos  para  o  foro  exterior  hee  neces- 
sário; e  porque  os  sete  annos  que  as  nossas  Constituiçõis 
dão  pera  os  tais  votos  solemnes  hé  muito  tenpo  pera  ella 
aguardar  sem  se  casar:  lá  o  verão  se  convém  dispensar-se 

45  ao  menos  en  tantos;  e  tãobem  averão  a  dispensaçâo  da 
bigamia  3  que  incurreo  pera  não  se  poder  ordenar. 

3.  Tãobem  recebi  por  concelho  a  dous  mestiços  4  da 
terra  que  tem  boas  partes,  asi  de  criação  como  de  boa 


19    ganharão  corr.  ex  chegarão    |  47    mestiços  corr.  ex  mistiços 


3  Como  se  infere  do  contexto,  trata-se  de  bigamia  no  sentido  canó- 
nico, de  irregularidade  para  o  sacerdócio:  o  que,  válida  e  sucessivamente, 
foi  casado  duas  vezes  ou  mais  {Código  de  Direito  Canónico,  can.  984  n.  4). 

4  Cf.  infra,  Catálogo  de  1562  (doe.  63). 


47. -LISBOA  4  DE  MAIO  DE  1561 


339 


habilidade  pera  estudar,  esperãodo  por  reposta  do  Padre 
Geral  se  quer  que  os  mande  lá  a  Évora  a  elles  e  a  alguns  5o 
outros  que  pera  iso  parecerem  aptos,  como  me  ele  quá 
escreveo  5.  E  quando  laa  não  aprovarem  isto,  facilmente 
se  poderão  quá  despidir  sem  escandolo,  porque  por  entre 
tanto  fazem  sua  provação  e  estudão. 

CARTAS  PERDIDAS 

4Óa-b.  Do  P.  Luís  da  Grã  ao  P.  Miguel  de  Torres,  Lisboa  (Baía 
Abril  [?]  1561).  «Pela  armada  e  depois  polia  caravella  que  veo  a  este 
Engenho  d'Antonio  Cardoso  que  Deus  haja,  escrevemos  [...];  espera- 
mos por  resposta  na  armada  que  se  espera»,  —  escreve  Grã  ao  mesmo 
Torres,  carta  de  22  de  Setembro  de  1561  §  1  (carta  59). 

47 

DO  P.  LUÍS  GONÇALVES  DA  CÂMARA 
AO  P.  JERÓNIMO  NADAL,  COIMBRA 

LISBOA  4  DE  MAIO  DE  1561 

L  Texto:  ARSI,  Lus.  61,  f.  r$r  [antes  57r].  Endereço  [f.  15V]: 
«Al  muy  Reverendo  en  Christo  Padre,  el  P.  Maestro  Nadal,  Comissário 
de  la  Companla  de  Jesus,  en  Coimbra».    Original  em  espanhol. 

II.  Lugar:  Com  a  mesma  data  de  4  de  Maio,  o  P.  Nadal  escrevia 
de  Monterrey  (Orense)  para  o  Padre  Geral  {Epp.  Nadal  1  454) ;  mas  já 
era  esperado  em  Portugal;  e  a  carta,  enviada  para  Coimbra  como  se  vê 
do  endereço,  deve  ter  ficado  ali  à  sua  espera. 

III.  Impressão :   Epp.  Nadal  1  (Matriti  1898)  449-441. 

IV.  Edição :   Reimprime-se  de  Lus.  61,  o  que  toca  ao  Brasil. 

Textus 

1.  Epistolae  e  Brasília  missae  quae  solacio  sunt  ac  simul  confusioni 
ostenduntque  quantum  urgeat  ut  Patres  in  Brasiliatn  mittantur.  —  2.  Pro- 
vinciae  transmarinae,  quamvis  ab  aliis  iuvari  possunt,  omnes  tandem  a 
Portugália  pendent. 


5   Carta  perdida. 


540  P.  LUÍS  GONÇALVES  DA  CÂMARA  -  P.  JERÓNIMO  NADAL 


+ 

Jesús 

Muy  Reverendo  en  Christo  Padre 
Pax  Christi. 

1.  Aora  avemos  recebido  cartas  dei  Brasil  y  son  cierto 
5  de  grande  Consolación  y  confusión;  y  aunque  V.  R.a  no 

suele  ver  carta  de  nuevas,  le  pido  mucho  que  oya  estas  *. 
Poderse  ha  hazer  a  la  mesa  sin  perder  tiempo. 

Yo  no  he  leído  sino  una  de  Antonio  Pirez  pera  esta 
Casa  de  Sam  Roque,  de  veinte  y  dos  d'Otubro  2,  y  cierto 
io  me  ha  rebuelto  las  entrarias  y  abivado  los  deseos  de  que 
se  crie  acá  mucha  gente  para  aquellas  empresas  y  que  se 
tenga  mucho  especial  cuidado  delias. 

2.  Acuerdo  a  V.  R*  lo  que  en  la  otra  3  le  he  dicho, 
que  todas  las  Províncias  de  la  índia,  Maluco,  Japón,  China, 

15  y  mil  legoas  de  costa  en  el  Brasil  y  ochocientas  de  Medi- 
terrâneo, y  Mina,  y  Guinea  y  aun  Affrica 4,  se  Nuestro 
Senor  ayudar  esta  tierra  como  se  espera,  pende  el  negocio 
de  su  salvación,  quanto  a  los  instrumentos  de  la  Compa- 


1  Pela  alusão  directa  à  de  António  Pires,  refere-se  às  cartas  de 
Setembro  e  Outubro  de  1560,  da  Baía  (cartas  38-41). 

2  Supra,  carta  41. 

3  Ao  mesmo  P.  Nadal  tinha  Luís  Gonçalves  da  Câmara  escrito 
a  29  de  Abril  de  156 1,  dando-lhe  as  razões  porque  o  Comissário  se 
deveria  demorar  em  Lisboa:  «La  5."  razón,  porque  V.a  R.a  se  deve 
detener  aqui  macho,  es  porque  deve  de  hazer  cuenta  que  aqui  ha  de 
pagar  el  tiempo  que  devia  a  la  visitatión  dei  Brasil,  índia,  Japón  e 
Preste,  y  todas  las  más  partes  de  la  Compafíia,  porque  daqui  dependen 
sus  negócios  y  cosas  todas»  (Lus.  61,  f.  12V.  Cf.  Mon.  Bras.  I  27;  Silva 
Rego,  Le  Patronage  Portugais  12- 13). 

4  Mina  e  Guiné  também  são  África,  mas  este  último  vocábulo 
aplicava-se  então  mais  a  praças  do  norte  dela.  Cf.  carta  do  Ir.  Pero 
Correia  «para  os  Irmãos  que  estão  em  África»  {Mon.  Bras.  1  225):  e  o 
lugar,  em  que  estavam,  era  Tetuão  (Marrocos). 


48. -SÃO  PAULO  20  DE  MAIO  DE  1561 


341 


nía,  desta  Província.  Porque,  aunque  de  todas  las  otras 
acudan,  no  ay  ninguna  a  que  tanto  toque  como  a  esta. 

Por  amor  de  N.  Senor  que  quiera  V.  R.a  estar  mucho 
tiempo  acá  pera  prover  estas  cosas. 


DA  CÂMARA  DE  SÃO  PAULO  DE  PIRATININGA 
A  D.  CATARINA  RAINHA  DE  PORTUGAL 


I.  Autores :  Porto  Seguro,  HG  i  385  ;  Leite,  História,  1  284 
288 ;  Taunay,  João  Ramalho  e  Santo  André  195. 

II.  Texto:  Lisboa.  Arquivo  Nacional  da  Torre  do  Tombo,  Corpo 
Cronológico,  Parte  i.a,  maço  104,  doe.  ioj  [antes,  riscado,  Armário  15, 
maço  104,  n.  130 ;  outro  número  riscado  ilegível  e  mais  dois,  não  risca- 
dos, n.  31,  n.  13880].  Título:  «1561  Da  Vila  de  Sam  Paulo  Brasil». 
Outro  título  menos  antigo:  «Carta  dos  officiaes  da  Camara  da  Vila  de 
São  Paulo  em  que  dão  noticia  do  estado  em  que  se  acha  a  terra,  e  lhe 
pedem  socorro  de  armas.  Escrita  em  20  de  Mayo  de  1561».  Endereço: 
«À  Rainha  nosa  Senhora».  Assinaturas  autógrafas.  Original  em  por- 
tuguês. 

III.  Impressão:  Porto  Seguro  [Varnhagen],  História  Geral  do 
Brasil  1  (Rio  de  Janeiro  1854)  464  ss. ;  ib.  4-a  ed.  (São  Paulo  sem 
data)  400-402;  J.  Cortesão,  Pauliceae  Lusitana  Monumento  Histó- 
rica I  (Lisboa  1956)  35I"355- 

IV.  Edição :  Reimprime-se  o  original  (Torre  do  Tombo). 


/.  Scribent  quia  bene  cognoscunt  reginae  selum  pró  conversione 
gentilium.  —  2.  Indi  contrarii  bellum  gerunt  et  arripiunt  uxores  et  filios 
christianorum.  —  3.    Christiani  vicissim  lndos  capiunt.  —  4.  Periculum 


48 


SÃO  PAULO  DE  PIRATININGA  20  DE  MAIO  DE  1561 


Textus 


a3   tiempo  sup. 


542 


CÂMARA  DE  SÃO  PAULO  -  RAINHA  D.  CATARINA 


esí  ne  indi  contrarii  indos  amicos  moveant;  iam  inter fecerunt  lusitanos  e 
Paraquaria  venientes  et  in  aliquod  oppidum  irruperunt.  —  5.  Cubernator 
Mendus  de  Sá  anno  1360  iussit  eis  bellum  gerere.  —  6.  Et  ut  fortiores 
essemus  et  ob  alias  rationes,  iussit  oppidum  S.  Andreae  transferri  ad 
Domum  S.  Pauli  quae  est  Patrum  Iesu.  —  7.  Sed  ad  indictum  bellum 
oppida  Sanctorum  et  S.  Vincentii  paucos  homines  dederunt.  —  8.  Prae- 
sertim  oppidum  S.  Pauli  bellum  fecit  Jndis  contrariis  qui  scopleta,  pulve- 
rem  sulphuratum  et  gládios  receperant  a  Gallis.  —  9.  Sed  Deus  nobis 
dedit  victoriam.  —  10.  Et  quia  hoc  oppidum  causa  fuit  lucrandi  terram, 
haec  sequentia  postulamus: —  11.  Ut  nobis  det  res  ad  bellum  gerendum 
necessárias  quae  a  senatu  servarentur.  —  12.  Decimas  per  decennium 
ad  muniendum  oppidum  saeptis  et  propugnaculis.  —  13.  Huc  deportati 
mittantur,  exceptis  furibus ;  hic  ducere  possunt  multas  foeminas  mix- 
tas,  et  sic  terra  multitudine  replebitur.  —  14.  Confirmetur  mutatio  oppidi 
S.  Andreae  in  pagum  S.  Pauli. 

+ 

Senhora 

1.  Sabemdo  nós,  os  da  Camara  e  mays  moradores 
desta  vyla  de  Sam  Paulo  de  Pyratinymga,  Capytanya  de 
Sam  Vicente,  ho  zelo  e  deseyos  tam  samtos  de  Vossa 

5  Alteza  de  povoar  esta  tera  e  prantar  nela  boa  semente 
da  fee  de  Noso  Senhor  Jhesu  Christo  nos  coraçõyes  do 
geratyo,  de  seu  Cryador  tam  alomgados,  e  quamta  vom- 
tade  tem  de  íavorecer  os  sãos  preposytos,  tomamos  ousa- 
dya  pêra  lhe  escrever  esta  e  dar-lhe  comta  brevemente 

10  do  que  hagora  se  pasa  na  tera  e  a  rezão  que  temos  de  lhe 
pydir  socorro  e  mercês. 

2.  Saberá  Vossa  Alteza  como  há  muytos  amnos  que  a 
gemte  desta  Capytanya  está  muy  atrebulada  por  causa 
das  gueras  e  apresõies,  que  lhe  dam  os  comtrayros  nosos 

15  vyzynhos  e  fromteyros,  e  polo  prygo  de  se  alevantarem  os 
nosos  Imdios,  o  que  muytas  vezes  tentarão  e  tentão  cada 
dia  matamdo  cada  dia  christãos,  e  fazemdo  cada  dia  muy- 
tos males,  o  que  tudo  hé  porque  desne  o  tempo  que  com 
eles  temos  guera,  que  hé  pouquo  menos  des  que  se  esta 

20  Capytanya  povoou,  não  deyxão  de  vyr  ha  nós  e  tem  morto 
muytos  christãos  e  levadas  suas  molheres  e  filhos  e  muy- 


48.  -  SÃO  PAULO  20  DE  MAIO  DE  1561 


345 


tos  escravos  l;  e  achegou  agora  ha  tamto  que  por  todas  as 
partes  vynhão  a  nós  e  abryão  camynhos  novos  por  serás  e 
matos  bravyos,  que  numqua  se  maginou,  pera  vyrem  às 
povoaçõys  e  fazendas  de  todos  os  moradores  domde  toma-  25 
vão  seus  escravos  e  quamtos  achavão;  polo  mar  também 
vyerão  a  esperar  os  pescadores  e  tomarão  muytos. 

3.  De  maneyra  que  por  mar  e  por  tera  punhão  cerquo 
e  fazyâo  muito  mall,  ha  que  os  moradores  do  mar  não 
fazyâo  mayes  que  defender-se  em  suas  povoaçõys  e  espe-  3° 
rar-los,  se  a  elas  vyesem,  sem  numqua  ousarem  a  os  hyr 
acometer  e  castigar  às  suas  aldeãs,  por  lhes  aver  sucydido 
mall  huma  gera  que  há  muytos  amnos  fizerão,  omde  os 
comtrayros  matarão  a  muytos  christãos  e  os  prymcypays 
da  tera,  somente  usavaam  mamdar  fazer  saltos  neles,  35 
enganando-os  com  tytolo  de  paz.  E  desta  maneyra  os 
indinavão  mayes. 

4.  Mas  nam  hé  este  só  ho  mall  que  padece  esta  Capy- 
tyanya,  porque  além  deste  é  outro,  não  menos,  que  hé  o 
prygo  deste  alevamtarem  estes  nosos  Imdios  ho  que  muy-  40 
tas  vezes  temtarão  matamdo  muytos  christãos  he  fazem- 
do-lhe  muytas  vexaçõys ;  e  há  pouquos  dias  que  matarão 
muytos  purtugueses  que  vynham  do  Paraguay,  neste  Campo, 

e  despoys  vyerão  sobre  huma  povoação  de  christãos  que  se 
chama  Itanhem  e  levarão  alguns  escravos  e  fazyâo  mayor  45 
mall  se  outros  Imdios  nosos  amyguos  lho  nam  estrovarão. 
Tudo  ysto  se  dysymula  por  não  estar  em  guera  com  tamtos. 

5.  Este  anno  passado  de  1560  veo  a  esta  Capytanya 
Mem  de  Sá,  Guovernador  Gerall,  e  sabemdo  o  estado  da 
tera  mamdou,  de  comselho  de  todos,  apregoar  guera  haos  5o 
comtrayros  e  mamdou  apelydar  todos  os  Imdios  nosos 


36    enganando-os]  engananando-os  ms. 


1  «Ha  quinze  anos  a  esta  parte  que  sempre  matão  no  sertão 
omens  brãoquos,  como  matarão  a  Geraldo  e  a  Francisco  de  Sarzedo 
e  a  João  Fernandes  e  a  outros  muitos»  (Actas  da  Camara  da  Villa  de 
São  Paulo  1  42). 


344 


CÂMARA  DE  SÃO  PAULO  -  RAINHA  D.  CATARINA 


hamygos  pera  o  ajudarem,  fazendo  comta  que  castygamdo 
os  comtrayros  avyryão  os  nosos  Imdios  também  medo,  e 
parecendo-lhe  fazê-lo  de  camynho  quando  se  tornase,  mas 

55  hos  Imdios  não  vyerão  a  tempo  nem  ouve  aparelho  nem 
vagar  pera  o  poder  fazer;  mas  deixou  mandado  que  vymdo 
os  Imdios  fosem  alguns  christãos  ajudá-los  à  guera. 

6.    E  asy  mandou  que  a  vyla  de  Samto  Amdré,  omde 
amtes  estávamos,  se  pasase  pera  jumto  da  Casa  de  Sam 

6o  Paulo,  que  hé  dos  Padres  de  Jhesu,  porque  nós  todos  2  lho 
pedymos  por  huma  pytição,  asy  por  ser  lugar  mayes  forte 
e  mayes  defemsavell  e  mayes  seguro  asy  dos  comtrayros 
como  dos  nosos  Imdios,  como  por  outras  muytas  causas, 
que  a  ele  he  ha  nós  moverão. 

65  7.  Despoyes  dele  partido,  se  ajumtarão  muytos  Imdios 
do  Campo  dos  nosos  amyguos,  que  vynhâo  pera  yrem  à 
guera  dos  comtrayros  com  os  christãos,  os  quayes  estavão 
ya  tam  ffora  dyso,  que  não  ouve  da  gemte  do  mar,  que 
povoa  ha  vyla  de  Samtos  e  de  Sam  Vicente,  em  toda 

70  mayes,  que  podesem,  mayes  de  trezemtos  homens  pera 
poderem  pelejar,  que  quysesem  ir  com  eles,  somente 
alguns  mamcebos,  filhos  da  tera,  do  que  os  nosos  Imdios 
muyto  se  escamdalyzarão  e  começarão  a  falar  mall  comtra 
os  christãos,  que  de  tam  lomge  os  fazyão  vyr,  e  aguora 

75  fazyão  escarneo  deles,  temdo  os  christãos  em  comta  de 
fraquos  e  medrosos  por  não  risystyrem  aos  comtrayros,  de 
quem  tamto  mall  recebião,  e  ameaçamdo  males,  que  avyão 
de  fazer,  se  com  eles  não  fosem  à  guera. 


58    Samto  corr.  ex  Samtos 

2  A  12  de  Maio  de  1564,  a  Câmara  de  São  Paulo  fez  um  requeri- 
mento a  Estácio  de  Sá,  Capitão-mor  da  armada:  «Agora  fez  quatro 
anos  que  a  esta  Quapitania  veo  ho  Governador  Mem  de  Sá,  per  lhe  ser 
requerido  por  o  povo  de  São  Visente,  Sãotos  e  Padres  da  Companhia, 
de  que  provese  e  fortalezase  esta  vila  pelas  rezões  acima  ditas,  has 
quais  vistas  por  ele  o  fez  com  despovoamento  da  vila  de  Sãoto  André 
e  hos  moradores  dela  recolher  e  fazer  viver  nesta  dita  vila».  (Assinam 
António  de  Mariz  juiz  ordinário,  Lopo  Dias  e  Diogo  Vaz  vereadores,  e 
Baltasar  Rodrigues  procurador  do  Conselho,  Actas  da  Camara  da  Villa 
de  S.  Paulo,  1  42). 


48.  •  SÃO  PAULO  20  DE  MAIO  DE  1561 


545 


8.  E  verado  nós,  os  moradores  desta  vyla,  que  todos 
estes  males  prymcypallmente  toquavão  a  nós,  porque  somos  8o 
fromteyros  destes  nosos  Imdios  e  também  dos  contrayros, 
qu'á  polo  Campo,  nos  detrymynamos  a  ir  todos  à  guera  nam 
chegando  aimda  a  trymta  homens  bramquos,  e  comnosquo 
yryão  outros  trymta  mamcebos  mestyços  da  tera,  e  asy,  cora- 
fesados  e  comungados  e  muy  comfyados  em  Noso  Senhor,  85 
nos  fomos  em  companhia  dos  Imdios ;  e  já  a  este  tempo 
os  comtrayros  sabyão  de  nosa  ida,  por  escravos  de  chris- 
tãos  que  avyão  tomado,  e  se  avyão  feyto  tão  fortes  que  hé 
cousa  d'espamto,  e  se  avyão  ajumtado  na  fromteyra  a  mayes 
escolhyda  gemte  que  avyaa,  porque  tynhão  muytas  casas  for-  90 
tes  com  quatro  cerquas  muito  fortes  ao  redor,  à  maneyra  de 
muros  como  se  forão  bramquos;  e,  jumto  com  ysto,  muytos 
arcabuzes,  he  pólvora,  e  espadas,  que  lhe  dam  os  framceses  3. 

9.  Mas  Noso  Senhor  por  sua  mysyricordia  nos  deu 
vytorya  e  as  cerquas  forão  entradas  e  eles  todos  mortos  he  95 
presos  sem  escapar  mayes  que  hum  só  que  pôde  fugyr ; 


3  Em  duas  expedições  contra  estes  índios  contrários  (Tamoios) 
foram  um  Padre  e  um  Irmão  da  Companhia  (infra,  carta  53  §  17): 
o  Ir.  Gregório  Serrão,  que  então  tinha  a  cargo  os  Índios  de  Pirati- 
ninga  (ib.  §  12),  e  o  P.  Manuel  de  Paiva  para  atender  aos  Brancos. 
Esta  expedição  deve  ser  uma  delas:  «Ordenaram  os  capitães  de 
S.  Vicente  duas  guerras  contra  os  Tamoios.  Foi  necessário  mandar  o 
Padre  Nóbrega  em  sua  companhia  ao  Padre  Paiva,  o  qual  todo  o  cami- 
nho, que  foi  largo,  lhes  disse  missa  e  pregou  sempre,  esforçando  os 
Portugueses  e  confessando-os  e  acudindo  juntamente  aos  índios  cris- 
tãos, com  o  Irmão  Gregório  Serrão,  que  era  o  língua  que  levava.  Em 
uma  guerra  e  outra  foi  sempre  o  Padre  Paiva,  sem  medo,  com  a  cruz 
na  mão,  diante,  até  à  cerca  das  Aldeias,  uma  das  quais  foi  rendida  de 
todo,  e  com  o  esforço  do  Padre  se  salvaram  muitos  dos  nossos,  que 
estavam  a  ponto  de  fugir  com  perigo  certo  das  vidas.  Os  quais  o 
Padre  Paiva  fez  esperar  até  que  de  todo  se  renderam  os  inimigos,  de 
que  havia  ainda  boa  cópia  recolhidos  em  casa  forte;  e,  se  sentiram 
covardia  dos  nossos,  houveram  de  sair  e  matar  muitos  nas  canoas,  em 
que  se  queriam  ir  com  pouca  ordem  e  com  muitos  já  frechados.  Pelo 
grande  perigo,  em  que  estavam,  se  pôs  o  Padre  Paiva,  sem  medo  algum, 
defronte  daquela  casa,  donde  se  tiravam  muitas  frechadas,  até  que  se 
tomaram  os  inimigos  às  mãos  e  os  nossos  ficaram  salvos»  {Cartas  de 
Anchieta  [1933]  486-487). 


546 


CÂMARA  DE  SÃO  PAULO  -  RAINHA  D.  CATARINA 


mas  custou-nos  matarem-nos  dous  boons  moradores,  he 
hum  dos  mamcebos  da  tera,  e  quayse  todos  vyemos  fery- 
dos  e  afrechados,  e  dos  nosos  Imdios  alguns  mortos;  do 
ioo  quall  íeyto,  asy  comtrayros  como  os  nosos  Imdios  fiquarão 
muy  espamtados.  Esperamos  em  Noso  Senhor  que  seya 
isto  prymcypyo  pera  se  esta  tera  se  guyear  he  ho  gemtyo 
se  sojeytar  pera  que  salvem  suas  almas. 

10.  He  poyes  esta  só  vyla  foy  causa  de  a  tera  se  gua- 
105  nhar  e  lybertar  em  alguma  maneyra,  hé  rezão  que  Vossa 

Alteza  favoreça  esta  vyla  e  os  boons  deseyos  dos  moradores 
dela,  e  nos  faça  mercês.  E  comfiamdo  no  anymo  liberall  e 
magnyfiquo  de  Vossa  Alteza  pedymos  o  seguymte : 

11.  Prymeyra mente,  nos  faça  mercê  de  nos  mamdar 
no  prover  de  armas,  a  saber,  duas  duzyas  de  espymgardas,  he 

huma  duzya  de  bestas,  e  dous  pares  de  berços  com  a  pól- 
vora necesarya,  e  outrosy  duas  dúzias  de  espadas  que 
seyão  boas;  e  estas  armas  serão  entregues  a  esta  Camara, 
porque  ela  dará  comta  delas  ao  Provedor  de  Vossa  Alteza 
115  a  todo  tempo. 

12.  Pydimos  mayes  que  faça  Vossa  Alteza  mercê  que 
os  dyzymos,  que  aguora  remde  esta  vyla,  se  gastem  por 
dez  annos  em  fortalecer  esta  vyla  de  cerquas  e  baluartes 
he  o  que  mayes  for  necesaryo. 

120  13.  Houtrosy  mamde  que  os  degradados,  que  não  seyão 
ladrõys,  seyão  trazidos  a  esta  vyla  pera  ajudarem  a  povoar, 
porque  há  quy  muytas  molheres  da  tera  mystyças,  com 
quem  casarão  e  povoarão  a  tera. 

14.    Outrosy  comfyrme  Vossa  Alteza  a  mudação  e  tres- 

125  pação  da  vyla,  que  fez  Mem  de  Saa,  com  todos  os  mayes 
capytolos  e  liberdades  4,  que  lhe  deu,  dos  quayes  mamda- 
mos  hum  trelado  a  Vossa  Alteza. 


100    nosos]  nosso  mm.  ||  na   dúzias]  duzas  ma. 


4  Com  esta  mudança,  PiratiniDga  deixou  de  ser  Aldeia  de  Índios 
e  assim  se  consolidou.  Cf.  Leite,  História  l  280-285;  Breve  Itinerário 
para  uma  biografia  do  P.  Manuel  da  Nóbrega  165-167.  Frei  Gaspar  da 
Madre  de  Deus,  depois  de  se  referir  aos  motivos  e  debates,  que  vinham 


49.  -S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 


547 


E  nós  rogaremos  sempre  a  Deos  Noso  Senhor  por 
vyda  he  prospero  estado  de  Vossa  Alteza  em  serviço  de 
Noso  Senhor.  130 

Desta  Vyla  de  Sam  Paulo  de  Pyratynymgua,  oye,  vymte 
dias  do  mês  de  Mayo  de  1561  annos. 

Joane  -f  Annes  5 
Jorge  Moreira  6  Antonio  Cubas  7 

49 

DO   P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
AO  P.  FRANCISCO  HENRIQUES,  LISBOA 

S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 

I.  Bibliografia:  LEITE,  História  IX  u  n.  32. 

II.  Autores :  LEITE,  História  I  174-175. 

III.  Texto:  Bras.  zf,  i.  u^r  [antes  f.  202r,  mais  antigo,  riscado,  ioôr]. 

Título:  «Copia  dum  capitolo  de  huma  carta  que  ho  P.e  Manoel  da 


128   vyda]  vyla  ma. 


dalguns  anos  antes,  conta  assim  o  facto :  «Achando-se  em  S.  Vicente  o 
Governador  Geral  Mem  de  Sá  em  1560,  taes  razões  lhe  propoz  o 
P.  Nóbrega,  a  quem  elle  muito  venerava,  que  persuadido  d'ellas,  man- 
dou extinguir  a  Villa  de  Santo  André,  e  mudar  o  Pellourinho  para 
defronte  do  Collegio :  executou-se  a  ordem  no  mesmo  anno,  e  d'ahi  por 
diante  ficou  a  povoação  na  classe  das  villas  com  o  titulo  de  S.  Paulo  de 
Piratininga»  {Memorias  para  historia  da  Capitania  de  S.  Vicente  [São 
Paulo  1920]  223). 

5  Português.  Faleceu  por  1590  (A.  de  Moura,  Os  Povoadores  do 
Campo  de  Piratininga  176-177). 

6  Jorge  Moreira,  de  Rio  Tinto  (Porto).  Ainda  vivia  em  1600: 
«O  mais  notável  homem  de  governo  entre  os  colonos  de  Piratininga» 
(ib.  118-119). 

7  Do  Porto.  Irmão  de  Brás  Cubas.  Ainda  vivia  em  1579  (ib.  58  ; 
Leite  Cordeiro,  Bras  Cubas  e  a  Capitania  de  São  Vicente  17-19). 


348 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  FRANCISCO  HENRIQUES 


Nóbrega  escreveo  de  São  Vicente  do  Brasil  ao  P.e  Francisco  Anrri- 
ques  a  12  de  Junho  de  1561».  Tanto  este  Capítulo  como  os  dois  seguin- 
tes, da  mesma  data  ao  mesmo  Padre,  e  a  Carta  de  Nóbrega  ao  P.  Miguel 
de  Torres  de  14  de  Abril  de  1561  (esta  data,  de  Abril,  talvez  da  i.»  via), 
estão  copiados  juntos  e  da  mesma  letra  e  com  esta  notação  fora,  de  outra 
mão:  «156L  San  VinceDZo  P.e  Emanuel  di  Nobriga  22  Giugno».  A  data 
dos  Capítulos  não  é  22,  mas  em  todos  12  de  Junho,  e  parece  tratar-se  de 
Capítulos  de  mais  de  uma  carta,  porque  o  segundo  diz  «doutra  carta». 
Apógrafo  em  português. 

IV.  Impressão :  Leite,  Novas  Cartas  Jesuíticas  —  de  Nóbrega  a 
Vieira  (São  Paulo  1940)  96-97;  Cartas  de  Nóbrega  (Coimbra  1955)  374-376. 

V.  História  da  Impressão:  Publicou-se  primeiro  em  ortogra- 
fia moderna  por  ser  essa  a  índole  de  Novas  Cartas;  em  Cartas  dt 
Nóbrega  (1955)  o  apógrafo. 

VI.   Edição :  Reimprime-se  o  texto  único  (Bras.  zjj. 

Textus 

1.  Ad  sustentationem  Collegii  melior  dotatio  in  arménio  sistit. 
—  2.  E  vaccis  obtinentur  caro,  corium,  lac  et  caseum.  —  3.  Idem  fieri 
potest  Bahiae,  sed  ibi  maior  est  difficultas.  —  4.  In  Praefectura  S.  Vin- 
centii  solvere  dotem  Collegio  in  decimis  ar  menti  gratum  erit  his  qui  deci- 
mas regis  cogunt. 

1.    Esqueceo-me  de  avisar  a  V.  R.  1  que  me  parecia  que 
o  milhor  dote  que  se  pode  ajuntar  nestas  partes  para  os 
Collegios  hé  grande  criação  de  vaquas,  porque  nesta  terra 
custa  pouco  criá-las  e  multiplicão  muito.  Este  Collegio  tem 
5  cem  cabeças  agora,  de  sete  ou  oito  que  ouve  8,  e  muitas 


I    Esqueceo-me  corr.  ex  esqueço-me  ||  a    dote  sup.  ||  3    hé  sup. 


1  O  P.  Francisco  Henriques  era  neste  ano  de  1561  em  Lisboa, 
Procurador  Geral  da  Província  de  Portugal  e  das  três  ultramarinas 
índia,  Etiópia  e  Brasil  «inclui-se  Angola»;  e  explica  ele  próprio  quais 
eram  as  suas  atribuições  (Leite  História  1  132 ;  infra,  doe.  54). 

2  Doação  do  Irmão  Pero  Correia,  depois  da  composição  amigável 
com  Brás  Cubas,  que  entregou  «dez  vacas»  para  os  Meninos  do  Colégio 
de  São  Vicente  em  1553,  diz  Nóbrega  na  carta  de  15  de  Junho  desse 
ano  {Mon.  Bras.  1  501). 


49. -S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 


349 


mais  poderá  aver  se  ho  Padre  Luis  da  Grãa  me  não  fora 
sempre  à  mão  a  iso.  Ho  Collegio  da  Baya  terá  outras  tan- 
tas de  seis  novillas  que  lá  tomey  das  que  El-Rey  mandou  3. 

2.  Esta  hé  a  milhor  fazenda  sem  trabalho  que  cá  há; 

e  dam  carnes  e  couros  e  leite  e  queijos  que,  sendo  muitas,  10 
poderão  abastar  a  muita  gente.  Se  me  a  mim  derem  licença 
que  tome  a  esmola  d'El-Rey  en  gado,  estes  annos  que  se 
dará,  ellas  multiplicarão  tamto  que  abaste  a  prover  ho  Col- 
legio, ainda  que  não  aja  outra  cousa  d'Ei-Rey;  mas  eu  não 
sey  ho  que  faça  porque  conheço  da  vontade  de  meu  Supe-  15 
rior,  o  Padre  Luis  da  Grãa,  não  ser  esta,  posto  que  tâobem 
me  parece  que  lá  Vossas  R.  R.  serão  diso  contentes.  En 
tudo  proverão,  e  declarem  de  lá  com  suavidade. 

3.  He  o  mesmo  se  pode  fazer  na  Baya,  posto  que  lá  não 
has  darão  de  tam  boa  vontade;  mas,  podem  pera  lá  aver  20 
provisão  pera  que  se  page  a  esmola  dos  dizimos  das 
vaquas,  posto  que  também  isto  não  sey  se  pode  ser,  por- 
que o  Bispo  he  cabido  tem  os  dizimos  da  Baya,  de  que  se 
pagam  seus  ordenados. 

4.  Os  rendeiros  4  de  quá  folgarão  de  nos  pagarem  niso,  25 
porque  vay  multiplicando  o  gado  muito  nesta  Capitania; 
mas  abastará  lenbrar  ao  Padre  Luis  da  Grãafque  deve  de 
se  pagar  niso  se  for  pocivel,  ou  avê-lo  por  todas  as  vias 
licitas  que  se  ofrecerem. 


8  novillas  corr.  ex  novilas  |  das  que  dei.  a  ||  9  que  cá  hi  sup.  ||  28  ou  avê-lo 
bis  dei. 


3  A  esmola  de  El-Rei  foram  12,  segando  diz  na  carta  de  10  de 
Jalho  de  1552  §  5  (ib.  I  351).  Destinando  seis  à  reprodução  dá  a  enten- 
der que  as  outras  foram  abatidas  para  efeito  de  alimentação  ou  doen- 
ças dos  Padres  e  Meninos. 

4  Arrematante  ou  funcionário  encarregado  de  cobrar  os  dízimos 
ou  rendas  da  fazenda  pública. 


350  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  FRANCISCO  HENRIQUES 


50 

DO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
AO  P.  FRANCISCO  HENRIQUES,  LISBOA 

S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 

I.  Bibliografia  :    LEITE,  História  IX  li  n.  34. 

II.  Autores:    Leite,  História  I  181 ;  II  581 ;  IX  427. 

III.  Texto:  Bras.  ij,  ff.  H4r-H4v  [antes  202r-202v,  mais  antigo, 
riscado  io6r].  Título:  «Capitolo  doutra  do  mesmo  Padre  [Nóbrega],  de 
São  Vicente  do  Brasil  pera  o  P.e  Francisco  Anrriques  12  de  Junho 
de  1561».  Apógrafo  em  português. 

IV.  Impressão :  Leite,  Novas  Cartas  Jesuíticas  —  de  Nóbrega  a 
Vieira  (São  Paulo  1940)  98-99 ;  Cartas  de  Nóbrega  (Coimbra  1955) 
376-378. 

V.  História  da  Impressão:  Publicou-se  primeiro  em  ortografia 
moderna  por  ser  essa  a  Índole  de  Novas  Cartas  ;  em  Cartas  de  Nóbrega 
(1955)  o  apógrafo. 

VI.   Edição:    Reimprime-se  o  texto  único  (Bras.  1$). 

Textus 

1.  Mittit  condituram  variorum  fructuum  ad  usum  infirmorum.  — 
2.  Non  mittit  saccharum  prohibente  Patre  Grã,  sed  ipsc  nullum  habet 
scrupulum  quia  in  Portugália  etiam  sunt  infirmi  et  in  Brasília  saccha- 
rum moneta  est  currens  qua  solvitur  stips  regia. 

1.  Ho  mestre  leva  estas  conservas  pera  os  emfermos, 
scilicet,  os  ananazes  1  pera  dor  de  pedra,  os  quais  posto  que 
não  tenhão  tanta  vertude  como  verdes,  todavia  fazem  pro- 


s    ananazes]  anazes  tns.  corr.  tx  arana/cs 


i  Ananás  :  Ananás  sativus  Shults  ;  mas  talvez  se  trate  da  espécie 
abacaxi  (bromelia  ananás,  L.);  cf.  Friederici,  Amerikanistisches  IVòr- 
terbuch  51. 


50. -S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 


351 


veito.  Os  Irmãos,  que  lá  ouvese  desta  enfermedade,  deviam 
vir  pera  quá,  porque  se  achariam  quá  bem,  como  se  tem  5 
por  experiência.  Vão  tãobem  marmeladas  de  ibás  2,  camu- 
cis  3,  e  arasazes  4  para  as  camarás ;  huma  pouca  de  abobara. 
Disto  podemos  cada  ano  de  quáa  prover  a  nossos  Irmãos, 
se  for  cousa  que  lá  queirão. 

2.  Asuquere  poderamos  mandar  tãobem,  mas  não  ho  io 
pormeteo  o  Padre  Luis  da  Grâa,  porque  lhe  parece  que 
será  tratar;  a  mim  me  parece  que  até  dous  pares  de  caxas 
que  vão  pera  nossos  Irmãos,  que  não  averá  escandolo,  pois 
sabem  todos  que  estão  lá  muitas  cassas  em  que  á-de  aver 
enfermos,  que  ho  ão  lá  mister.  Disto  nos  avisse  ho  que  se  15 
fará. 

3.  Eu,  segundo  sou  pouco  escropuloso  nisto,  não  tivera 
de  ver  com  ho  escandolo,  se  algem  ho  tomara,  por  mandar 
de  quá  não  somente  para  os  Irmãos  emfermos  de  lá,  mas 
tãobem  pera  com  ele  se  mercar  lá  coussas  pera  os  emfer-  20 
mos  de  quá,  maiormente  que  ha  moeda  que  nesta  Capitania 
corre  não  hé  senão  asuquere,  e  nelle  nos  pagão  ha  esmola 


7    e  arasazes]  carasazes  ms. 


2  Ibá,  pinhão  do  pinheiro  ou  araucária  do  planalto  paulista.  Igbá 
significa  fruta  (v.  «fruita»,  Vocabulário  de  Leonardo  do  Vale)  e  estes 
pinhões,  pela  sua  utilidade  eram  para  os  índios,  por  antonomásia,  o 
fruto  :  ibá  (cf.  supra,  carta  34  §  24). 

3  Camuci.  Ao  descrever  o  vocábulo  «cambucy»  (pote),  Teodoro 
Sampaio  inclui  o  termo  «camucy»  e  acrescenta:  «pode  proceder  ainda 
de  caá-mbocy,  significando  fruto  de  duas  partes  juntas»  (O  Tupi  na  Geo- 
graphia  Nacional  177). 

4  No  ms.  carasazes.  Parece  que  no  original  estaria  earasazes 
e  o  copista  em  vez  de  separar  o  e  (e  arasazes)  manteve-o  junto  lendo  c. 
O  cará  no  plural  daria  carás  ou  carazes  e  não  carasazes.  Os  «arasazes», 
fruto  do  araçazeiro,  «são  de  feição  das  nésperas,  mas  alguns  muito 
maiores»,  diz  Soares  de  Sousa,  que  lhe  atribui  a  mesma  qualidade 
terapêutica  que  lhe  dava  Nóbrega :  «Esta  fruta  se  come  toda,  e  tem 
ponta  de  azedo  mui  saboroso,  da  qual  se  faz  marmelada,  que  é  muito 
boa  e  melhor  para  os  doentes  de  cambras»  {Tratado  Descriptivo,  216-217); 
cf.  Friederici,  o.  c.  57. 


552 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  FRANCISCO  HENRIQUES 


d'El-Rey.  Se  isto  lá  aprovarem,  podê-lo-emos  mandar  desta 
Capitania  de  São  Vicente. 

E  com  isto  cesso,  encomendando-me  muito  nos  santos 
sacrifícios  e  oraçõis  de  V.  R.  e  de  todolos  nossos  Irmãos. 
Deste  São  Vicente  a  12  dias  de  Junho  de  1561  annos. 

51 

DO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
AO  P.  FRANCISCO  HENRIQUES,  LISBOA 

S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 
I.    Bibliografia:    Leite,  História  IX  11  n.  33. 
II.   Autores :    Leite,  História  1  318. 

III.  Texto:  ARSI,  Bras.  ij,  f.  1T4V  [antes  f.  202V,  mais  antigo,  ris- 
cado ioôv].  Titulo:  «Copia  doutro  capitolo  do  mesmo  Padre  [Nóbrega] 
de  São  Vicente  do  Brasil  pera  o  Padre  Francisco  Anrriques  12  de  Junho 
de  1561».  Apógrafo  em  português. 

IV.  Impressão:  Leite,  História  1  318-319;  Novas  Cartas  Jesuíticas 
—  de  Nóbrega  a  Vieira  (São  Paulo  1940)  98-99  ;  Cartas  de  Nóbrega  (Coim- 
bra 1955)  379-381. 

V.  História  da  Impressão:  Publicou-se  em  ortografia  moderna 
em  História,  por  ser  no  texto  e  não  na  secção  documental,  e  em  Novas 
Cartas,  dada  a  índole  dessa  publicação  ;  em  Cartas  de  Nóbrega  (1955) 
o  apógrafo. 

VI.   Edição:    Reimprime-se  o  texto  único  (Bras.  15). 

Textus 

1.  Frater  aliquis  noster  antequam  ingrederetur  Societatem  petivit 
tractum  terrarum  a  quo  exspoliatus  fuit  ab  ipsius  procuratore.  —  2.  Si 
Donatarius  nobis  adhuc  hunc  tractum  cottcedere  potest,  hoc  faciat. — 
3.  Jnserviet  ad  armentum  quod  melior  est  sustenta  tio  Collegii.  —  4.  Etiam 
monenda  est  Do/nus  Bahiensis  ne  minuat  armentum.  —  5.  Tractus  ter- 
rarum petendus  a  Donatário  Martino  Alphonso  de  Sousa  iuxta  flumen 
«Iguapé». 


51.  -S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 


555 


1.  Hum  Irmão  1  novo  entrou  agora  na  Baya  que  tem 
nesta  Capitania  boa  fazenda  e  não  tem  mais  que  hum 
filho  2,  que  lhe  aqui  temos,  o  qual  elle  deseja  que  também 
sirva  a  Noso  Senhor,  e  que  fique  tudo  a  este  Collegio  de 
São  Vicente.  Este  deixou  emcomendado  aqui  ao  seu  pro-  5 
curador  que  lhe  pedise  huma  terra  pera  trazer  seu  gado, 
mas,  como  são  amigos  do  mundo,  pedio-a  pera  si.  Aquei- 
xando-me  eu  disto  ao  Capitão  3,  ho  qual  nos  hé  afeiçoado 

e  devoto,  me  aconcelhou  que  a  mandase  pedir  a  Martim 
Afonso  nesta  forma:  10 

2.  Que  a  dese,  se  a  podia  dar  por  dereito,  e  que  este 
que  a  tem  não  a  pode  agora  nem  dentro  do  tempo  da  ses- 
maria aproveitar  por  estar  longe  daquy,  adonde  se  não 
permite  ninguém  morar,  por  temor  dos  índios. 

3.  Mas  se  for  nosa,  asi  por  rezão  que  não  se  perderá  15 
por  não  fazer  bem  feitura,  pois  temos  alvará  pera  iso,  como 
porque  poderemos  lá  logo  trazer  o  gado,  pois  nos  hé  licito 
andar  antre  os  índios,  nos  ficará  esta  terra  pera  as  criaçõis 
do  gado  do  Collegio,  porque  a  milhor  cousa  de  que  quá  se 
pode  fazer  conta  pera  renda  dos  Colégios,  hé  criaçõis  de  20 
vaquas 4,  que  multiplicão  muito  e  dão  pouco  trabalho ; 
porque  ater-sse  tudo  a  El-Rey  não  sey  quanto  durará  ou 
se  bastará  pera  mãoter  tanta  gente,  como  a  conversão  de 
tanta  gentelidade  requere. 


7    pedio-a  corr.  cx  pedio  ||  13    se  nao  prius  e  não  ||  15    que  bis  ||  23    de]  da  ms. 


1  Irmão  (depois  Padre)  Adão  Gonçalves,  cf.  supra,  doe.  32  §  6. 

2  Bartolomeu  Gonçalves.  Diz  o  Catálogo  de  1567:  «Bartholomee, 
de  19  anos,  mistizo,  hijo  de  portugés  y  india,  vaa  ja  al  cabo  dei  novi- 
ciado, recibido  en  el  Brasil  (Bras.  $-1,  f.  7r).  E  o  de  1574  [no  Colégio 
da  Baía] :  «Oie  el  curso  de  Artes,  tiene  abilidad,  es  lengua,  entró 
ano  de  64  siendo  de  14  anos.  Nació  en  el  Brasil  en  la  Capitania  de 
S.  Vicente.  Es  mixto»  (ibv  f.  nr).  Faleceu  na  Baía  a  8  de  Março 
de  1576  {Lus.  j8  [  =  Menologio  1],  f.  içr). 

3  Não  já  Francisco  de  Morais,  também  afeiçoado  (Leite,  Histó- 
ria I,  319),  mas  Pedro  Colaço  Vieira,  eleito  Capitão-mor  de  São  Vicente 
no  dia  1  de  Maio  de  1561  (Leite,  ib.  1  261;  Breve  Itinerário  171; 
A.  Machado,  in  Cartas  de  Anchieta  175). 

4  Cf.  carta  49  §§  1-2. 

=3 


354 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


25  4.  E  o  mesmo  aviso  se  devia  dar  hà  Baya  ao  Padre 
Luis  da  Grãa  para  que  acrecente  e  não  demenua  ha  criação 
do  gado  que  lá  deixey. 

5.  E  ha  terra  que  á-de  pedir  a  Martim  Afonso  hé  esta: 
scilicet,  ao  longo  do  mar  do  Rio  de  Yguape  5  até  o  Rio  de 

30  Ubay,  legoa  e  meia  pouco  mais  ou  menos  de  costa,  e  pera 
o  sertão  3  ou  4  legoas ;  e  se  Martim  Afonso  for  propicio 
podem  pedir  mais,  scilicet,  do  Rio  de  Iguapé  tres  ou  quatro 
legoas  ao  longo  do  mar,  e  outras  tantas  pera  o  sertão  de 
largura.   E  se  for  caso  que  esta  seja  dada,  que  nos  enchão 

35  esta  dada  ao  diante  donde  não  istiver  dado. 

52 

DO   P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 

L    Bibliografia :    Leite,  História  IX  n  n.  35. 

II.   Autores :  Leite,  História  11  243  349  370 ;  ix  427. 

III.  Texto:  ARSI,  Bras.  1;,  ff.  nór-ngv  [antes  ff.  io8r-mv].  Ende- 
reço [f.  119V] :  «-(-  Al  muy  Reverendo  en  Christo  Padre,  el  P.  Maestro 
Diego  Laynez,  Praepósito  General  de  la  Companía  de  Jesus,  en  Roma. 
Del  Brasil.  ia  via».  Notação  do  arquivista:  «-}-  S.  Vicente  1561  [outra 
letra,  por  cima :  1562].  Del  P.e  Manuel  de  Nóbrega  para  el  Padre  Lai- 
nez,  de  12  dejunio.  Recebida  a  diezocho  de  Setiembre  de  1562».  Letra 
do  P.  Polanco:  «Ynbíese  al  P.e  Maestro  Nadal».  Toda  a  carta  e  ende- 
reço por  letra  do  amanuense  Anchieta.  Cláusula  e  assinatura  autografa 
de  Nóbrega.  Original  em  espanhol. 


35    devia]  daevia  ms. 


5  Na  Capitania  de  São  Vicente  na  costa  do  mar,  como  diz  o  texto, 
e  da  parte  Sul,  como  todos  os  mapas  indicam  a  posição  de  Iguapé. 


52.  -  S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 


555 


IV.  Impressão :  Leite,  Novas  Cartas  Jesuíticas  —  de  Nóbrega  a 
Vieira  (São  Paulo  1940)  102-112;  Cartas  de  Nóbrega  (Coimbra  1955) 
381-394 ;  493-5QI- 

V.  História  da  Impressão :  Em  Novas  Cartas,  tradução  portu- 
guesa ;  em  Cartas  de  Nóbrega  tradução  e  original. 

VI.   Edição:  Reimprime-se  o  original  (Bras.  if). 

Textus 

1.  Dum  fuit  Provincialis,  agebat  secundum  mandata  a  Portugália 
st  Roma  accepta.  —  2.  Haec  displicebant  et  displicent  Patri  Grã,  quare 
convenit  ut  veniat  Visitator  vel  Commissarius.  —  3.  Sed  sibi  videtur 
Pairem   Generalem  amaturum  cognoscere  quidquid  acciderit  ab  initio. 

—  4.  Atino  49  missus  est  a  P.  Magistro  Simone  qui  sibi  significavit 
bonum  esse  instituere  Collegium  vel  Domum  ad  filios  gentilium  et  terras 
acquirere.  —  5.  Anno  /o  venerunt  Paires  et  orphani,  et  ipse  se  confirma- 
vit  in  opinione  Deum  domos  velle  puerorum  incepitque  eos  congregare. 

—  6.  Anno  ji  alii  orphani  pervenerunt  et  bullae  ad  instituendas  soda- 
litates  quas  statim  fecit  Bahiae,  Spiritu  Saneio  et  Sancto  Vincentio. 

—  7.  Adventu  Patris  Grã  cognovit  non  probari  domos  haberi  puerorum 
et  Provincialis  Portugaliae  [P.  lacobus  Mirón]  eum  monuit  nihil  ad pue- 
ros  acceptandum,  reverá  nihil  pro  eis  solis  a  Societate  seiunctis  intendit 
acquirere.  —  8.  Opinio  est  Patris  Nóbrega  rationes  in  Portugália  alla- 
tas  non  valere  in  Brasília;  nihilominus  coepit  retro  agere.  —  9.  In  Prae- 
fectura  S.  Vincentii  plures  erant  pueri  Indorum  et  ad  eos  Domum  fecit 
Piratiningae,  sed  pueri  adoleverunt  discesseruntque  et  finitae  sunt  sodali- 
tates,  Spiritus  Sancti  excepta  quae  aliquo  tempore  perduravit.  —  10.  Cum 
reversus  est  Bahiam  invenit  alios  orphanos  in  Portugália  et  Brasília 
ortos  et  litteras  Roma  missas;  ex  quibus  credit  iam  consilium  mutatum 
esse,  quare  iterum  congregavit  pueros  et  domum  fecit  a  domo  Patrum 
seiunctam. —  77.  Anno  60 profectus  est  S.  Vincentium  ubi  cognovit  Pairem 
Grã  non  probare  expensas  ad  sustentationem  puerorum.  —  72.  Rationes 
dat  Patris  Grã.  —  / 3.  Cui  respondet  in  educatione  puerorum  non  teri 
tempus,  quoad  humanitatem  et  religionem.  —  14.  Et  difficultas  expensa- 
rum  vinci  potest.  —  75.  Pueri  aptiores  poterant  mitti  in  Europam,  unde 
reverterentur  efformati  et  firmi.  —  16.  Et  Patres  habere  secum  pueros 
Indorum  idem  est  ac  terram  habere  in  manibus  securam.  —  77.  Loco 
eorum  qui  mitterentur,  alii  ab  Europa  venire  poterant  ad  discendam  lin- 
guam,  aliter  nimis  retardata  erit  conversio  gentilium.  —  18.  Pater  Grã 
vult  aedificare  gentem  lusitanam  ostendendo  talem  paupertatem  ut  res 
omnes  imminuerit  —  19.  Nóbrega  opinionem  habet  oppositam  :  omnia 
quae  congruunt  Constitutionibus  S.  I.  acquirenda  sunt  ut  operarii  cres- 
cant  nedum  minuant.  —  20.    Etiam  promovendae  sunt  domus  puellarum 


356 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


ad  matrimonia  contrahenda  cum  iuvenibus  iam  christianis.  —  21.  Omnis 
populus  Brasiliae  non  potens  est  ad  faciettdunt  Collegium,  semper  satis 
remanet  paupertatis  Patribus  et  Fratribus  nec  sufficiunt  eleemosynae  nec 
in  periculo  ponenda  est  valetudo  eorum  qui  Deo  serviunt.  —  22.  Pervene- 
runt  gratiae  et  facultates  pontificiae  sed  adhuc  dubium  aliquod  perstat 
circa  matrimonium  mixtorum. 

+ 

Jesús 

La  summa  gratia  y  amor  de  Jesú  Christo  N.  Senor  sea 
siempre  en  nuestro  continuo  favor.  Amén. 

1.  El  modo  de  proceder  el  tiempo  que  yo  fui  Provin- 
cial en  esta  Provincia  dei  Brasil,  se  haa  variado  de  muchas 
maneras  quanto  a  su  govierno,  porque  yo  seguia  um  camino 
y  después,  por  cartas  y  avisos  que  tuve  de  Portugal,  y 
mucho  más  después  de  la  venida  dei  P.  Luís  de  Grãa  *, 
por  su  consejo  caminava  por  otro  en  algunas  cosas  y  en 
otras  dudava  y  las  communicava  a  Portugal,  y  dava  la 
informatión  que  avia,  y  respondíanme  assí  de  Roma  como 
de  Portugal  y  aquel  camino  seguia  después. 

2.  Aora  que  el  P.  Luís  da  Grãa  tiene  el  cargo  de  Pro- 
vincial no  se  satisfaze  con  las  determinationes  que  vinie- 
ron,  y  es  de  opinión  que  no  se  pueden  de  acá  dar  informa- 
tiones  bastantes  por  cartas,  y  desseava  que  viniesse  un 
Visitador  2  o  Commissario  para  que  de  más  cerca  pudiesse 
juzgar  las  cosas  que  tienen  duda,  y  llevava  propósito  de 
escrivir  de  la  Baya  largo  a  V.  P. 3 

3.  Parecióme  a  mi  también  que  dessearía  V.  P.  tener 
también  de  mi  informatión  como  de  persona  por  quien 
todas  passaron  por  la  mano  y  a  más  tiempo  que  con  ellas 


1  Luis  da  Grã  chegou  ao  Brasil  em  1553  e  a  S.  Vicente  em  1555 ; 
e  sucedeu  a  Nóbrega  no  cargo  de  Provincial  em  1560. 

2  O  primeiro  Visitador  do  Brasil  foi  o  P.  Inácio  de  Azevedo: 
Patente  de  24  de  Fevereiro  de  1566  (Leite,  História  II  244). 

3  Não  deve  ter  escrito,  porque  Laynes,  respondendo  a  esta  carta 
de  Nóbrega,  diz  não  ter  nenhuma  do  P.  Grã  (infra,  carta  68  §  1). 


52  -  S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 


357 


trato,  assí  en  el  entendimiento  como  en  la  executión  delias, 
y  assí  en  esta  daré  cuenta  de  lo  que  se  duda,  aunque  sean 
cosas  antiguas  y  que  ya  por  vezes  se  an  escrito,  para  que  25 
no  faltando  iníormationes  de  todas  partes,  pueda  escoger  y 
proveer  como  in  Domino  le  paresciere. 

4.  El  afio  de  49  fui  embiado  por  el  P.  Maestro  Simon  4 
a  estas  partes  con  mis  cinco  compafieros  5,  el  qual  me  dió 
entre  otros  avisos  este,  que  si  en  estas  partes  oviesse  30 
dispositión  para  aver  collegios  de  nuestra  Compafiía,  o 
recogimiento  para  hijos  de  los  gentiles,  que  yo  pidiesse 
tierras  al  Governador  y  escogiesse  sitios  y  que  de  todo  le 
avisasse.  El  primer  ano  no  me  pude  resolver  en  nada, 
mas  solamente  corri  la  costa  y  tomé  los  pulsos  a  la  tierra.  35 

5.  Luego  en  el  siguiente  ano  mandaron  quatro  Padres  6 
con  algunos  mochachos  huérfanos,  y  esto  me  hizo  creer 
mi  opinión,  y  que  N.  Senor  era  servido  de  aver  casa  para 
mochachos  de  los  gentiles,  y  aquellos  veníam  para  dar 
principio  a  otros  muchos  de  acá  de  la  tierra  que  se  recoge-  40 
riam  con  ellos.  Y  comencé  de  acquirir  algunos  con  mucho 
trabajo,  por  estar  en  aquel  tiempo  muy  indómitos,  y  pedi 
sitios  para  casas  y  tierras  al  Governador,  y  uve  algunos 
esclavos  y  entreguélos  a  un  secular  para  con  ellos  hazer 
mantenimientos  a  esta  gente.  45 

6.  Luego  en  el  siguiente  ano  vinieron  más  huérfanos 
con  bulias  para  se  ordenar  cofradía,  lo  que  luego  se  hizo 
en  la  Baya  y  en  la  Capitania  dei  Spíritu  Sancto  y  en  esta 
de  S.  Vicente,  repartiendo  los  mochachos  por  las  casas,  los 
quales  eran  acceptos  en  la  tierra  a  la  gente  portoguesa  por  50 
causa  de  los  officios  divinos  y  doctrina  que  dezían.  Y  con 
estos  se  ayuntaran  otros  de  los  gentiles  y  huérfanos  de  la 
tierra,  mestizos,  para  a  todos  remediar  y  dar  vida. 


4  P.  Simão  Rodrigues,  então  Provincial  de  Portugal. 

5  António  Pires,  Leonardo  Nunes,  João  de  Azpilcueta  Navarro, 
Vicente  Rodrigues  e  Diogo  Jácome  (Leite,  História  I  560;  Mon.  Bras. 
x  109). 

6  Afonso  Brás,  Francisco  Pires,  Manuel  de  Paiva  e  Salvador 
Rodrigues  (Leite,  História  1  560 :  Mon.  Bras.  1  171). 


358 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


7.  Y  desta  manera  caminamos  hasta  la  venida  dei 
55  P.  Luís  de  Grãa,  dei  qual  supe  como  en  Portogal  no  se 
aprovava  tener  nosotros  el  assumto  destos  mochachos,  y 
menos  ordenar  sus  cofradías.  Y  con  esto  me  vino  una 
carta  de  Antonio  de  Quadros 7,  escrita  por  commissión 
dei  Provincial,  que  en  aquel  tiempo  era  en  Portogal8,  en 
6o  que  me  avisava  no  se  dever  acquirir  nada  para  mocha- 
chos, ni  hazer  dellos  tanto  caso,  como  en  la  verdad  lo 
que  se  acquirió,  assi  de  tierras  como  de  vaccas,  no  fué 
mi  intentión  ser  solamente  para  mochachos,  mas  para  lo 
que  [n6v]  la  Compaíiía  dello  dispusiesse  como  le  pare- 
65  ciesse  más  gloria  dei  Senor,  aora  fuesse  en  nuestros  Colle- 
gios,  aora  en  Casas  de  Mochachos,  aora  en  todo  junto9; 
y  por  no  aver  estudiantes  nuestros  se  gastava  con  los 
mochachos  assí  de  la  tierra  como  con  los  que  embiaron 
de  Portogal. 

70  8.  Y  puesto  que  yo  tenía  contraria  opinión,  y  me 
parescía  que  las  causas  por  donde  en  Portogal  se  dexavan 
los  mochachos  no  avían  acá  tanto  lugar,  con  todo  comencé 
a  desandar  la  rueda  que  tenía  andado,  y  a  poquentar  los 
nihos  y  quitar  cofradías,  quanto  pude  sin  scándalo,  maior- 

75  mente  después  que  vinieron  las  Constitutiones  10,  las  quales 
en  las  regias  dei  Rector  dezían  que  no  se  recibiessen  en 
casa,  ni  aún  iníieles  para  doctrinar,  e  paresció  al  Padre 
Luís  de  Grãa,  que  en  aquel  tiempo  era  mi  collateral  n,  y  a 
todos  los  más  Padres,  que  avia  aquello  acá  lugar  también. 

80  9.  En  esta  Capitania  de  S.  Vicente  acquirió  el  P.  Leo- 
nardo Nunez  en  aquel  tiempo  los  más  moços  de  los  índios 
por  mi  mandado  que  en  ninguna  parte.  Estos  puse  en  casa 


7  António  de  Quadros,  secretário  da  Província  de  Portugal  e  futnro 
Provincial  da  índia  (cf.  Mon.  Bras.  II  59*)- 

8  Diego  Mirón  (cf.  ib.  11  57*-58*). 

9  Cf.  caso  análogo  com  os  bens  do  Colégio  de  Goa  (Wicki,  DI  11 
189-193). 

10  As  Constituições  chegaram  ao  Brasil  em  1556  {Mon.  Bras.  n 
282-283). 

11  Colateral  (Mon.  Bras.  I  510). 


52.  -  S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 


359 


de  sus  padres  en  Piratininga,  onde  por  su  contemplatión 
principalmente  hize  aquella  Casa12,  para  que  nosotros  los 
doctrinássemos  y  sus  padres  los  sustentassen,  y  con  ellos  85 
ganássemos  a  todos  los  más.  Mas  succedió  que  suspad  res 
como  tienen  de  costumbre  no  vivir  en  una  parte  más  de 
4  ó  cinco  anos,  y  ellos  crescieron,  y  ni  estos  ni  otros  se 
acquirieron,  y  assí  se  perdió  todo13.  Y  acontesció  a  uno 
destos  pedimos  con  palabras  de  piedad  no  le  apartássemos  90 
de  nosotros,  y  todavia  se  aparto  por  obedescer,  puesto  que 
con  assaz  compassión  mia  y  dolor,  porque  muchos  hijos  de 
los  índios  sabían  leer  y  escrivir,  y  officiavan  las  missas  14, 
que  era  mucha  edificatión  para  todos,  assí  Portogueses 
como  índios.  95 

Lo  mismo  se  hizo  en  las  otras  partes,  y  se  quitaron  las 
cofradías,  sino  fué  en  el  Spíritu  Santo,  onde  por  devotión  de 
la  gente  la  sustentaron,  diziendo  las  missas  su  vicário,  hom- 
bre  devoto,  y  los  moradores  los  sustentaron  con  limosnas, 
dando  dellos  cargo  a  un  hombre,  mas  esto  también  duró  poco.  100 

10.  En  la  Baya  también  se  diminuió  todo.  Los  mocha- 
chos  que  dexé,  se  dierón  a  officios,  y  no  se  recogeron  otros, 
assí  por  esto,  como  por  no  aver  sustentatión  para  ellos, 
porque  los  esclavos  que  yo  dexé  y  mantenimientos,  todo 
fenesció  y  no  se  procuraron  otros.  Y  quando  bolví  allá  iOS 
desta  Capitania  de  S.  Vicente,  onde  residi  por  tres  o  quatro 
anos  15,  hallé  que  de  Portogal  avían  embiado  algunos  veinte 
huéríanos  16,  y  con  ellos  recogió  el  P.  Ambrósio  Perez  a 


12  Casa  de  São  Paulo  de  Piratininga  (cf.  Leite,  Posição  histórica  de 
Nóbrega  na  fundação  de  São  Paulo,  in  Brotéria  65  [1957]  289). 

13  «Assim  se  perdeu  tudo» :  tudo,  isto  é,  a  criação  de  meninos  sob 
a  obediência  da  Companhia  (cf.  infra  §  15),  ou  Casas  de  Rapazes,  que  é 
o  nome  que  também  nesta  carta  se  lhes  dá  nos  §§  7  12  e  19  (cf.  Leite, 
Cartas  de  Nóbrega  [1955]  532). 

14  Cf.  Leite,  Nóbrega  e  a  Fundação  de  São  Paulo  46. 

15  Residiu  na  Vila  de  S.  Vicente  e  na  Aldeia  e  Colégio  de  São  Paulo 
de  Piratininga,  que  fundou;  e,  exactamente,  desde  meados  de  Janeiro 
(antes  do  dia  17)  de  1553  até  23  de  Maio  de  1556  (Leite,  Breve  Itinerá- 
rio 86  120). 

16  Cf.  Mon.  Bras.  II  281. 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


otros  de  la  tierra;  y  quedé  perplexo  por  parescer  que 
no  tenían  ya  otro  consejo,  y  por  esso  lo  conserve  hasta  que 
tuve  carta  17  dei  P.  Maestro  Polanco,  escrita  por  commissión 
de  V.  P.,  en  que  parescía  aprovar  la  obra,  y  pedia  que  lo 
avisassen  si  se  podrían  criar  hijos  desta  tierra  en  la  Europa, 
lo  que  concordava  con  lo  que  de  Portogal  después  me  res- 
115  pondieron  a  mis  cartas.  Y  con  esto  entré  más  de  propósito 
y  díme  priessa  a  recoger  mochachos,  de  buenas  habilidades, 
de  los  índios,  y  dí  orden  a  se  hazer  mantenimientos  assí 
para  nuestro  Collegio  como  para  la  Casa  de  los  Mochachos, 
a  los  quales  hize  hazer  un  aposentamiento  apartado  de  la 
120  habitatión  tanto  quanto  la  pobresa  de  la  tierra  dava  lugar. 

11.  Este  afio  de  60,  siéndome  mandado  de  Portogal 18 
que  residiesse  en  este  S.  Vicente,  onde  estava  el  P.  Luís 
de  Grãa,  y  communicándolo  todo  no  le  paresce  bien  lo  que 
se  gasta  con  mochachos,  ni  la  occupatión  de  mirar  por  ellos, 

125  y  algunas  razones  que  dél  pude  colligir  porné  aqui,  él 
escrivirá  las  más. 

12.  La  priraera.  Estos  mochachos  después  que  crescen, 
buelven  a  la  misma  vida  de  sus  padres  que  antes  tenían, 
en  partes  donde  no  tienen  subjectión,  ni  ay  possibilidad 

130  en  la  tierra  para  se  le  dar,  como  es  esta  Capitania  de 
S.  Vicente;  y  adonde  tienen  subjectión  abasta  ensenarlos 
en  sus  próprias  poblationes,  adonde  tenemos  yglesias, 
como  se  haze,  y  assí  en  ninguna  parte  paresce  ser  conve- 
nientes Casas  de  Mochachos. 

135  Item.  Estos  mochachos,  maxime  los  de  los  índios,  no 
son  acceptos  a  la  gente  portoguesa,  que  mucho  los  quer- 
rían  para  sus  esclavos;  y  si  nosotros  no  los  sustentamos 
y  miramos  por  ellos,  assí  en  lo  temporal  como  en  lo  spi- 
ritual,  se  pierde  la  obra,  y  hazer  esto  nosotros  es  mucha 


133    paresce]  parescen  ms. 


17  Carta  perdida  (cf.  supra,  ic-d). 

18  Pelo  Provincial  Miguel  de  Torres  (Leite,  História  II  465-466; 
e,  supra,  carta  9). 


52.  -  S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 


361 


inquietatión,  y  se  haze  injuria  a  la  sancta  pobreza,  porque  140 
se  requiere  buscar  esclavos  y  tener  hazienda,  la  qual  aun- 
que  se  gaste  con  ellos  el  nombre  que  tiene  es  ser  nuestra. 

13.  Estas  razones  y  todas  las  más  no  me  concluyen 
mi  entendimiento,  porque  aunque  muchos  mochachos  buel- 
ven  atraz  a  seguir  las  costumbres  de  sus  padres  adonde  145 
no  tienen  subjectión,  a  lo  menos  esto  se  gana,  que  no 
buelven  a  comer  carne  humana,  antes  lo  [ii7r]  estranan  a 
sus  padres,  y  en  el  entendimiento  salen  capazes  y  alum- 
brados  para  poder  recibir  la  gratia  y  tener  contritión  de 
sus  peccados  estando  en  peligro  de  muerte,  y  saben  pro-  150 
curar  mejor  su  salvatión,  como  la  experientia  a  mostrado 

en  algunos,  que  es  tener  grande  camino  andado.  Porque, 
según  estos  son  brutales,  si  no  van  doctrinados  quando 
pequenos,  de  los  grandes  nunca  hombre  se  satisfaze  de  su 
íe,  ni  de  su  contritión  para  los  baptizar  aún  en  la  hora  de  155 
la  muerte,  ni  tienen  capacidad  para  entender  lo  que  se  les 
predica.  En  tanto  que  alguno  de  nosotros,  por  su  bruteza, 
fué  de  opinión  no  se  dever  baptizar  ninguno  de  los  grandes, 
por  no  ser  capazes  para  el  baptismo,  si  no  se  doctrinan  y 
crían  de  pequenos,  que  es  otro  extremo;  la  qual  opinión  160 
aunque  yo  dei  todo  no  la  apruevo,  la  reíiero  a  V.  P.  por- 
que sepa  que  alguna  razón  tiene  esta  opinión.  Y  todo  su 
bolver  atraz,  es  seguir  el  camino  de  la  carne  y  andar  des- 
nudos, y  por  esso  con  verguença  no  venir  a  la  iglesia  : 
como  hijos  de  Adam  huyen  de  la  iglesia  porque  solían  165 
andar  vestidos  quando  los  teníamos  y  después  no  tienen 
industria  para  haver  otros  vestidos,  y  los  que  la  tienen 
andan  vestidos.   Y  de  los  que  se  an  recogido  no  se  per- 
dieron  todos,  porque  algunos  morieron  durando  la  inno- 
centia,  otros  se  an  dado  a  officios  19,  otros  se  passaron  a  170 
otras  partes  adonde  perseveran  en  la  fe  recibida. 

14.  Ni  tanpoco  se  deve  tener  por  mal  empleado  el 
trabajo  que  se  toma  por  librar  ánimas  de  perditión  20  de 


19  Cf.  Leite,  Aries  e  Ofícios  dos  Jesuítas  no  Brasil  23. 

20  Cf.  2  Thess.  2,  3. 


362 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


todo  perdidas  y  que  otro  remédio  no  tienen,  y  están  en 

175  extrema  necessidad  deste.  Ni  su  assumpto  es  tan  difficul- 
toso,  porque  como  audan  desnudos  y  en  pequenos  no  se 
estrafia  tanto,  escusan  muchos  dellos  vestidos.  Su  conducto 
también  lo  escusan  porque  ellos  tienen  tiempo,  después  de 
su  lectión,  para  ir  a  pescar  su  comida  a  los  rios,  que  tienen 

180  mucho  pescado,  y  a  la  mar.  La  harina  de  la  tierra  les  an 
de  dar,  la  qual  pueden  hazer  poços  esclavos  para  muchos 
dellos,  si  oviere  un  hotnbre  que  por  su  devotión  o  sala- 
riado  desto  tenga  cargo.  En  esta  Capitania  de  S.  Vicente 
las  redes,  que  son  sus  camas,  es  más  difficultoso  por  ser 

185  caras,  mas  estas  podían  venir  de  otras  Capitanias  adonde 
son  muy  baratas,  mas  al  P.  Luís  da  Grãa  paresce  esto 
specie  de  mercantía. 

También  podríamos  dar  a  estos  lo  que  sobrasse  de 
nuestros  collegios,  como  las  Constitutiones  21  permitten 

190  darse  a  estudiantes  pobres.  Yo  quisiera  suscitar  esta 
obra  en  esta  Capitania,  onde  se  podieron  sustentar  con 
lo  que  nos  sobra  de  la  limosna  dei  Rey  y  otras  ayudas, 
a  quantos  yo  pudiera  ayuntar,  mas  a  el  Padre  no  le  a 
parescido  bien. 

195  15.  Lo  mesmo  se  devia  hazer  en  partes  onde  tienen 
los  índios  subjectión,  como  es  aora  en  la  Baya  y  otras 
partes,  porque  mucha  differentia  ay  de  doctrinarlos  en 
sus  poblationes,  estando  conversando  con  sus  padres,  a 
doctrinarlos  estando  ellos  en  todo  a  nuestra  obedientia. 

200  Quanto  más  que  allende  destos  ay  otros  muchos  a  que 
no  es  possible  acudir,  ni  hazerles  allá  casas  y  iglesias, 
que  seria  mucho  servitio  de  N.  Sehor  entre  tanto  averles 
los  hijos;  maiormente  que  yo  no  pretendia  recoger  en  las 
casas  sino  los  de  mejores  habilidades  para  les  ensenar 

205  también  latín  y  después,  de  acá  algo  desbastados,  poder 
en  Hespana  22  aprender  letras  y  virtud,  para  que  buelvan 


21  Constitutiones,  P.  4,  C.  3B. 

22  Espanha  no  sentido  de  região  (Península  Ibérica)  não  de  nação, 
como  hoje  se  entende;  e  na  resposta  do  P.  Geral  a  Nóbrega  o  nome 
concreto,  que  usa,  é  o  de  Portugal  (infra,  carta  68  §  7). 


52.  -  S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 


563 


después  hombres  de  confiança,  lo  que  paresce  rauy  conforme 
al  spíritu  de  V.  P.  Y  si  unos  herejes  franceses  23  que  pobla- 
van  cierta  tierra  deste  Brasil  usavan  desto,  y  erabiavan 
muchos  nifios  a  Calvino  y  a  otras  partes  para  que  ense-  aio 
fiados  en  sus  errores  bolviessen  a  la  tierra,  quanto  más 
razón  será  hazer  nosotros  lo  mismo? 

16.  Este  modo  seria  también  útil  para  seguridad  de 
la  tierra,  porque  si  los  índios  tuviessen  esta  prenda  de 
sus  hijos  en  nuestro  poder,  no  se  temerían  tanto  los  chris-  215 
tianos  dellos  quando  algunos  se  arruinassen,  como  acon- 
tesció  este  afio  en  esta  Capitania  de  S.  Vicente,  que  pares- 
cía  que  querían  los  índios  dar  guerra  a  los  Portogueses. 

17.  En  esta  tierra,  Padre,  tenemos  por  delante  mucho 
número  de  gentiles  y  gran  falta  de  operários,  dévense  220 
abraçar  todos  los  modos  possibles  de  los  buscar  y  per- 
petuar la  Compafiía  en  estas  partes  para  remediar  tanta 
perditión  de  animas.  Y  si  acá  es  peligroso  criarlos  porque 
tienen  más  occasiones  para  no  guardar  la  castidad  después 
que  se  hazen  grandes,  mándense  antes  deste  tiempo  a  la  225 
Europa  assí  de  los  mestizos  como  de  los  hijos  de  los  gen- 
tiles, y  de  allá  nos  embíen  quantos  estudiantes  moços 
pudieren  para  acá  estudiar  en  nuestros  collegios,  porque 

en  estos  no  ay  tanto  peligro,  y  estos  juntamente  van 
deprendiendo  la  lengua  de  la  tierra,  que  es  la  más  230 
principal  scientia  para  acá  más  necessária.  Y  la  experien- 
tia  a  mostrado  ser  este  útil  médio,  porque  algunos  de  los 
huérfanos  que  de  Portogal  embiaron,  que  después  acá 
admittimos  a  la  Compariía,  son  aora  muy  útiles  operá- 
rios24. Esta  trueca  queria  yo  hazer  al  principio  y  embié  235 
algunos  mestizos,  y  dellos  uno  está  agora  en  Coimbra  25, 
mas  fui  avisado  que  no  mandasse  más  26.    Si  no  se  a  de 


23  Cf.  supra,  carta  35  §  14. 

24  Entre  eles:  P.  Simeão  Gonçalves,  que  foi  Mestre  de  Noviços; 
P.  Manuel  Viegas,  «Apóstolo  dos  Miramomins»;  P.  João  Pereira,  o  da 
«entrada  a  Minas» ;  e  António  de  Pina  (Leite,  História,  1  45-46). 

25  Cipriano  do  Brasil  (cf.  infra,  doe.  57  e  Introdução,  Cap.  11  art.  7). 

26  Carta  perdida. 


364 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


hazer  cuenta  sino  de  los  operários  que  se  embían  de  Hes- 
pana,  según  vienen  poços  y  se  acaban  los  que  acá  están, 

240  muy  de  spatio  yrá  la  conversión  desta  gentilidad. 

18.  [117V]  El  P.  Luís  de  Grãa  paresce  querer  llevar  esto 
por  otro  spíritu  muy  differente,  e  quiere  edificar  a  la  gente 
portoguesa  destas  partes  por  via  de  pobreza,  y  converter 
esta  gente  de  la  misma  manera  que  S.  Pedro  y  los  Após- 

245  toles  hizieron,  y  como  S.  Francisco  27  ganó  a  muchos  por 
penitencia  y  exemplo  de  pobreza.  Y  esta  opinión  me  per- 
suadia siempre  quando  yo  tenía  el  cargo,  y  aún  aora  des- 
seava  introduzirlo  quanto  fuesse  possible,  y  siempre  a 
tenido  escrúpulos,  porque  es  él  muy  zelador  de  la  sancta 

250  pobreza,  la  qual  queria  ver  en  no  posseer  nosotros  nada, 
ni  aver  grangeerías,  ni  esclavos,  pues  éramos  poços,  y  sin 
esso,  con  las  limosnas  mendigadas,  nos  podíamos  sustentar 
repartidos  por  muchas  partes,  y  desseava  casas  pobre- 
zitas. 

255  Y  esto  fué  causa  que,  partiéndome  yo  desta  Capitania 
para  la  Baya  y  dexando  esclavos  y  esclavas  entregados  a 
un  hombre  con  mantenimientos  para  los  Hermanos,  alcan- 
sando  de  mi  licencia  para  hazer  lo  que  le  paresciesse,  se 
concerto  con  aquel  hombre  dexándole  todo  con  le  dar 

260  cierto  mantenimiento,  sacando  los  esclavos  muy  necessá- 
rios para  él  servitio  de  casa,  el  qual  acabado,  quedasse  la 
Casa  sin  esclavos  y  sin  mantenimiento  y  sin  la  criatión, 
excepto  de  las  vaccas.  El  mismo  propósito  llevava  para 
hazer  aora  en  la  Baya,  adonde  quedó  mucho  manteni- 

265  miento  hecho  assí  para  los  nuestros  como  para  los  ninos, 
y  algunos  esclavos  de  que  un  hombre  tenía  cargo,  por- 
que tiene  él  por  mejor  mercar  el  mantenimiento  que 
tener  quien  lo  haga.  Bien  creo  que  los  Padres  de  la  Baya 
le  irán  a  la  mano,  si  no  mudaren  su  opinión  conformán- 

270  dose  con  la  de  su  Provincial. 

También  me  dexó  mandado  aora,  partiéndose  para  la 
Baya,  que  3  0  no  mercasse  esclavos  ni  aún  para  trabajar 


27   S.  Francisco  de  Assis. 


52. -S.  VICENTE  12  DE  JUNHO  DE  1561 


365 


en  las  obras  dei  Collegio  que  él  dexava  mandado  que  se 
hiziesse,  mas  que  se  alquilassen,  que  es  cosa  muy  cos- 
tosa  y  requiere  mucha  renta,  y  no  ay  cosa  dessa  manera  275 
que  baste.  Tiene  también  el  Padre  por  grande  inconve- 
niente tener  muchos  esclavos,  los  quales  aunque  sean 
todos  casados  multiplicarán  tanto,  que  será  cosa  vergon- 
çosa  para  religiosos  multiplicando  mucho  su  generatión, 
ultra  de  la  poca  ediíicatión  de  los  christianos.  Esta  razón  280 
no  me  concluye  mucho,  porque  como  un  hombre  lego  los 
tiene  a  cargo  sin  nosotros  entender  con  ellos,  por  más 
inconveniente  tengo  tener  dos  o  tres  necessários  para  el 
servitio  de  la  Casa,  de  que  la  Casa  tenga  cuidado,  que 
tener  muchos  más  sin  nosotros  entender  con  ellos,  porque  285 
todos  confessamos  no  se  poder  vivir  sin  algunos  que  bus- 
quen  la  lefia  y  agua,  y  hagan  cada  dia  el  pan  que  se  come, 
y  otros  servidos  que  no  es  possible  poderse  hazer  por  los 
Hermanos,  maxime  siendo  tan  poços,  que  seria  necessário 
dexar  las  confessiones  y  todo  lo  demás.  290 

19.  Esta  opinión  dei  Padre  me  hizo  mucho  tiempo  no 
firmar  bien  el  pie  en  estas  cosas,  hasta  que  me  resolvi  y 
soy  de  opinión  (salva  sierapre  la  determinatión  de  la  sancta 
obedientia)  de  todo  lo  contrario,  y  me  paresce  que  la  Com- 
panía  deve  tener  y  acquirir  justamente,  por  médios  que  las  295 
Constitutiones  permitten,  quanto  pudiere  para  nuestros  Col- 
legios  y  Casas  de  Mochachos,  y,  por  mucho  que  tengan, 
harta  pobreza  quedará  a  los  que  discorrieren  por  diversas 
partes,  y  no  devemos  de  querer  que  siempre  el  Rey  nos 
provea,  que  no  sabemos  quanto  esto  durará,  mas  por  todas  300 
vias  se  perpetue  la  Companía  en  estas  partes,  de  tal  manera 
que  los  operários  crescan  y  no  menguen. 

20.  Y  aún  si  fuesse  tanto,  no  temia  por  desacertado 
acquirirse  para  casa  de  ninas  de  los  gen tiles,  de  que 
tuviessen  cargo  mugeres  virtuosas,  con  las  quales  después  305 
casassen  estos  moços  que  doctrinássemos.  Y  temo  que 
fuesse  esta  grande  inventión  dei  enemigo  vestirse  de  la 
sancta  pobreza  para  impedir  la  salvatión  de  muchas  ánimas. 

21.  Estamos  en  tierra  tan  pobre  y  miserable  que  nada 

se  gana  con  ella,  porque  es  la  gente  tan  pobre,  que  por  310 


366 


P.  MANUEL  DA  NÓBREGA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


más  pobres  que  seamos,  somos  más  ricos  que  ellos.  No  es 
poderosa  toda  la  gente  dei  Brasil  a  sustentamos,  a  los  de 
la  Companía,  de  vestido,  aunque  sea  más  vil  que  de  Fray- 
les  de  S.  Francisco.  Y  si  enferma  uno  de  la  Companía,  si 

315  no  tiene  remédio  de  Portogal,  en  la  tierra  no  ay  quien  se 
lo  dé,  antes  lo  esperan  todos  de  nosotros,  y  estos  no  sola- 
mente  gentiles,  sino  también  christianos.  Acá  no  ay  trigo, 
ni  vino,  ni  azeite,  ni  vinagre,  ni  carnes,  sino  por  milagro ; 
lo  que  ay  por  la  tierra,  que  es  pescado  y  mantenimiento 

320  de  raízes,  por  mucho  que  se  tenga,  no  dexaremos  de  ser 
pobres,  y  aún  esto  no  lo  tememos  si  no  se  trabaja,  porque 
ni  desto  ay  limosnas  que  basten.  Quien  acá  a  de  trabajar  en 
la  vina  dei  Seíior  a  menester  sustentar  el  subjecto,  porque 
los  trabajos  son  muy  maiores  que  en  otras  partes  y  los 

325  mantenimientos  son  muy  flacos.  Y  puesto  que  la  charidad 
y  juventud  hagan  no  sentirse  tanto,  todavia  dévese  tener 
respecto  a  les  conservar  la  salud,  y  es  grande  pérdida  per- 
der uno  de  la  Companía  la  vida  y  salud  con  que  mucho  se 
sirve  N.  Sefior  28. 

330  22.  [n8r]  Las  gratias  y  facultades  recebimos,  de  que 
usamos.  Una  duda  nos  quedo,  y  es  si  avrán  también  las 
dispensationes  circa  matrimonia  contrahenda  con  los  hijos 
de  los  christianos  mestizos  29,  porque  algunos  dellos  son 
tales  que  dellos  a  los  mismos  gentiles  ay  poca  differentia. 

335  N.  S.  Jesú  Christo  nos  dé  su  copiosa  gratia  para  conoscer 
su  sanctíssima  voluntad  y  aquella  perfectamente  cumplir. 

Deste  Collegio  de  Jesú  de  S.  Vicente  a  12  de  Junho 
de  1561  annos. 

[Mão  própria:]  Hijo  de  V.  P.  indigníssimo, 

34°  +  Nóbrega  M. 


28  Cf.  carta  de  Laynes,  de  i  de  Dezembro  de  1558  (carta  2  §  6). 

29  À  margem  esquerda  desta  frase  escreveu  o  Secretário  da  Com- 
panhia (Polanco):  «Eadem  ratio  videtur  ;  pero  pídase  en  Roma  que  se 
estienda  a  los  mestizos»  (f.  n8r). 

30  O  Padre  Geral  aprova  a  orientação  de  Nóbrega  e  responde  aos 
pontos  particulares  desta  carta,  na  sua,  de  Trento,  16  de  Dezembro 
de  1562,  que  adiante  se  verá  (carta  68). 


53  -S.  VICENTE  30  DE  JULHO  DE  1561 


367 


CARTAS  PERDIDAS 

52a-b.  Do  P.  Manuel  da  Nóbrega  ao  Provincial  e  Procurador  em 
Lisboa  (de  S.  Vicente  ou  Piratininga,  Abril-Julho  de  1561).  A  carta  do 
P.  Polanco,  por  comissão  do  P.  Geral  Laynes,  ao  Provincial  de  Portu- 
gal P.  Gonçalo  Vaz  de  Melo,  escrita  em  Trento  25  de  Março  de  1563, 
refere-se  a  cartas  de  Nóbrega,  todas  de  1561,  nas  seguintes  datas :  24  de 
Abril,  12  de  Junho,  30  de  Junho,  2  de  Julho,  15  de  Julho  e  30  de  Julho 
(Cartas  de  Nóbrega  [1955]  519-521).  Destas  só  são  conhecidas  quatro 
cartas,  ou  capítulos  de  cartas,  de  Nóbrega,  todas  com  a  data  de  12  de 
Junho  de  1561.  Também  é  conhecida  uma  de  14  de  Abril  de  1561,  mas 
sobre  assunto  diferente  do  que  tratava  a  carta  de  24  de  Abril,  apontado 
na  de  25  de  Março  de  1563  §  5. 

53 

DO  IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA 
AO   P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

S.  VICENTE  30  DE  JULHO  DE  1561 

I.  Bibliografia:  Catalogo  dos  Manuscriptos  I  29;  Cimélios  496; 
Sommervogel  1  311  n.  4 ;  Streit  ii  349  n.  1278 ;  Leite,  História  vm  21 
n.  17. 

II.  Autores :  Vasconcelos,  Chronica,  liv.  11  n.  124 ;  Leite,  His- 
tória I  261  262  286-288  300  303  315 ;  11  39  192  339  394  414  466  574 ;  Breve 
Itinerário  171 ;  F.  Florestan  98. 

III.  Texto :  1.  ARSI,  Epp.  NN.  95,  ff.  97r-ioov  [antes  io5r-io8v, 
mais  antigo  riscado  ff.  I02r-i05v,  moderno  n.  23].  Endereço  autógrafo 
[f.  ioov].  Outra  letra  :  «De  S.  Vicente  1561».  Outra  letra  :  «Esta  devia 
seguir  y  porse  [sic]  successive,  después  de  la  que  se  escrive  de  la  Baya; 
y  etiam  advertirse  que  en  la  impresión  o  estampa,  las  letras  dei  Brasil 
devían  porse  [sic]  sobre  sy  y  separadas  de  las  letras  de  las  índias,  por 
ser  tierra  mui  distante  y  diversa  delia,  y  otra  impresa  mui  diferente». 
No  fim,  depois  da  data,  por  letra  de  Polanco  [f.  99V]:  «Y  es  copia  de 
otra  de  12  de  Junio  dei  mismo  ano».   Autógrafo  em  espanhol. 

2.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa  1-5,  2, 
38,  ff.  I25r-i28r.  Título  :  Copia  de  huma  do  Irmão  Joseph  que  escreveo 
de  S.  Vicente  ao  Padre  General  Maestro  Diogo  Lainez  de  12  de  Junio 
de  1561».  Apógrafo  coevo  em  espanhol. 


368 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


IV.  Data :  Pode  supor-se  qne  a  i.a  via  tivesse  a  data  de  12  de 
Junho  e  que  o  apógrafo  fosse  cópia  dessa  i.a  via;  mas  sendo  autógrafa 
a  carta  de  30  de  Julho,  esta  data  prevalece,  e  assim  está  na  versão  ita- 
liana;  todavia  convém  notar  que  a  data  de  12  de  Junho  poderia  ter 
correspoDdido  à  i.a  via,  circunstância  talvez  útil  como  indicação  da 
saída  de  navios  de  S.  Vicente. 

V.  Impressão :  Nuovi  Avisi  delle  Indie  di  Poríogallo.  Quarta 
Parte  (Veneza  1565)  182V-189V;  Silva  Lisboa,  Annaes  do  Rio  de 
Janeiro  vi  (Rio  de  Janeiro  1835)  46-63;  Cartas  de  Anchieta  (Rio  de 
Janeiro  1933)  165-175. 

VI.  História  da  Impressão  :  Nuovi  Avisi  imprime  a  versão  italiana 
do  autógrafo  (1):  traz  a  data  de  30  de  Julho;  Silva  Lisboa  e  Cartas  a 
tradução  portuguesa  do  apógrafo  (2). 

VII.   Edição:  Edita-se  o  autógrafo  (1). 

Textus 

1.  Commercium  litterarum.  —  2.  Mense  Iunio  anni  ijóo  Nóbrega 
S.  Vincentio  pergit  Piratiningain  cuius  itineris  labores  innuuntur.  — 
3.  Nóbrega  iussit  Fratres  visitare  pagos  Indorum  olim  discipulorum 
Societatis,  qui  dispersi  ad  veteres  mores  redierunt,  manducatione  carnis 
humanae  excepta.  —  4.  Ratio  est  quia  non  subiiciuntur:  utinam  subii- 
cionis  perveniat  tempus  sicut  iam  Bahiae  evenit.  —  5.  Tamen  aliqui  indi 
confitentur  et  novi  baptisantur,  Fratres  merita  his  visitationibus  acqui- 
runt.  —  6.  Mors  Christiana  indi  principalis  centum  annos  nati,  qui 
primus  adivit  Piratiningain.  —  7.  De  servis  et  uxoribus  lusitanorutn 
alia  dici  possent.  —  8.  Ministério  in  oppido  S.  Vincentii  aliisque  oppidis 
et  in  molis  sacchareis.  —  9.  Electio  novi  Praefecti  praescnte  Nóbrega  ad 
vitandum  tumultum  populi.  —  10.  Etsi  Indi  Piratiningam  deseruerunt, 
aliqui  tamen  remanent  e  progénie  illius  senis  de  quo  supra  locutus 
est. —  //.  In  Piratiningam  translatum  est  oppidum  Lusitanorum,  iubentt 
Gubernatore  et  instantibus  Patribus  S.  I.,  ut  propinquiores  sisterenl  et 
spiritualiter  iuvarentur.  —  12.  Fr.  Gregorius  Serrão  lingua  callens  bra- 
sílica curam  habet  Indorum  Piratiningae.  —  13.  Oppidum  Piratininga 
obiacet  Indis  :  ii  aliquando  se  perdunt  quia  christianos  non  timent. — 
14.  Etiam  obiacet  Indis  contrariis,  qui  distant  quattitor  vel  quinque  dies 
itineris.  —  15.  Contra  quos  bellum  inductum  est,  quod  et  aliis  utile  erit 
nam  expericntia  ostendit  Indos  tnagis  timore  quam  amore  convertendos 
esse. —  16.  Ad  bellum  etiam  duo  ex  S.  I.  alios  comitati  sunt.  — 17.  Iter 
et  Victoria.  —  18.  Perdurante  bello  domi  fiebant  oratio  et  pacnitentia.  — 
19.    Christiani  hoc  bello  incensi  sunt  ad  subiiciendos  Indos,  sicitt  factum 


55.  -  S.  VICENTE  50  DE  JULHO  DE  1561 


369 


est  Bahiae.  —  20.  Pestileníiae.  —  21.  Obitus  Fr.  Mathaei  Nogueira  fer- 
rarii.  —  22.  Nóbrega  meliorem  habet  valetudinem,  contionibus  et  con- 
fessionibus  tradiiur,  omnesque  visitai  ubicumquc  vivant.  —  23.  Pirati- 
ningae  domus  ad  recollectionum  Fratrum  aedificata  est.  —  24.  Lectio 
grammaticae  quam  domi  discunt  Fratres  et  aliqiti  externi. 

+ 

Jesus  Maria 

Pax  Christi. 

1.  El  ano  passado  escrevi  por  dos  vias  1  lo  que  el  Senor 
tuvo  por  bien  de  obrar  en  estas  partes  onde  andamos  en 
salud  de  las  animas.  Agora  daré  cuenta  de  lo  que  querrá  5 
saber  V.  P.  para  consolatión  de  los  Hermanos  que  dessean 
saber  nuevas  de  nosotros,  como  nosotros  las  desseamos 
dellos. 

2.  Después  de  partido  el  P.  Luís  da  Grãa  para  la  Baya 
de  Todos  los  Sanctos  con  el  Governador  2,  en  el  mes  de  io 
Junio,  un  dia  después  de  S.  Juan  Baptista  3,  se  fué  el 
P.  Manoel  da  Nóbrega  a  Piratininga  a  visitar  los  Hermanos, 
los  quales  él,  después  que  llegó  de  la  Baya,  aún  no  avia 
visitado  por  sus  muchas  enfermedades,  de  que  se  estuvo 
curando:  de  las  quales,  después  que  un  poco  convalesció,  15 
se  partió  luego  passando  assaz  de  trabajo,  por  él  tener  las 
piernas  todas  llagadas,  y  aún  escarrar  sangre,  y  los  cami- 
nos  ser  muy  ásperos  y  despoblados,  onde  no  ay  conversa- 
tión  sino  de  tygres,  cuias  pisadas  hallamos  muchas  vezes 
frescas  por  onde  passamos.  Y  es  necessário,  onde  se  a  de  20 
posar,  hazerse  la  casa  o  (por  mejor  dezir)  la  cabana,  de 
nuevo,  de  paios  y  hojas  de  palmas,  y  buscar  leria  para  hazer 
fuego  de  noche,  porque  no  ay  otras  mantas  para  contra  el 


1 1    se  corr.  ex  nose 


1  Cartas  de  31  de  Maio  e  1  de  Junho  de  1560  (cartas  34  e  36). 

2  Mem  de  Sá. 

3  25  de  Junho  de  1560. 


24 


370 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


frio,  el  qual  es  tan  grande  que  a  las  vezes  somos  forçados 

25  atizar  el  fuego  más  de  doze  vezes,  y  assí  se  passa  lo  más 
de  la  noche  en  ello  sin  poder  dormir.  Y  lo  que  es  mejor, 
que  acaesce  a  vezes  no  tener  fuego,  ni  cabana,  y  passar 
toda  la  noche  en  el  bosque  al  frio  y  lluvia  cubiertos  sola- 
mente  con  el  divino  amparo,  por  cuio  amor  esto  se  padesce; 

30  ayúntase  a  esto  la  hambre  que  por  estos  caminos  desiertos 
suele  siempre  acompanar  los  caminantes. 

3.  Después  de  estar  en  Piratininga  algunos  dias,  nos 
mandó  el  Padre  visitar  las  poblationes  de  los  índios  nues- 
tros  antiguos  discípulos,  los  quales  como  quiera  que  a 

35  mucho  tiempo  que  aprienden  las  costumbres  dei  demónio 
están  ya  tan  afficionados  a  este  ruín  maestro  que  muy 
poco  quieren  aprender  de  nosotros.  Porque,  aunque  al 
principio,  quando  estavan  todos  juntos,  algún  fructo  se 
hazía  en  ellos,  maxime  en  las  mugeres  y  niiios,  después 

40  que  se  dispargieron  por  diversas  partes  (como  por  las  letras 
passadas  consta) 4  ni  se  les  puede  acudir  con  doctrina,  ni 
(lo  que  es  peor)  ellos  la  quieren.  Y  assí  quando  los  visi- 
tamos por  sus  Aldeãs,  parte  por  rios,  parte  por  tierra,  con 
no  pequeno  trabajo,  recíbennos  como  a  los  otros  christianos 

45  portogueses,  que  suelen  tratar  y  rescatar  con  ellos,  como 
amigos,  sin  tener  ningún  respecto  a  la  salvatión  de  sus 
animas  o  doctrina  de  sus  hijos,  totalmente  metidos  en  sus 
antiguas  y  diabólicas  costumbres,  excepto  el  comer  carne 
humana,  lo  qual,  por  la  bondad  dei  Senor,  paresce  que  está 

50  algo  desarraigado  entre  estos  que  ya  ensenamos.  Verdad 
es  que  aún  hazen  grandes  fiestas  en  la  matança  de  sus 
enemigos  ellos  y  sus  hijos,  etiam  los  que  sabían  leer  y 
escrivir,  bebiendo  grandes  vinos  como  antes  acostumbra- 
van  y,  si  no  los  comen,  danlos  a  comer  a  otros  sus  parientes 


40   se  corr.  ex  de 


4  Cf.  cartas  de  Grã,  de  7  de  Abril  de  1557,  e  Anchieta,  do  fim  de 
Abril  do  mesmo  ano  (Mon.  Bras.  II  360-361 ;  365-366),  e,  supra,  de  1 
de  Junho  de  1560  §§  2-7  (carta  36). 


55.  -  S.  VICENTE  50  DE  JULHO  DE  1561 


371 


que  de  diversas  partes  vienen  y  son  convocados  para  las  55 
fiestas. 

4.  Todo  esto  viene  de  ellos  no  estar  subiectos,  y  en 
quanto  assí  estuvieren,  diffícil  cosa  será  quitarlos  dei  jugo 
de  Sathanás  que  tan  ensefíoreados  los  tiene.  Plega  al  Senor 
que  llegue  ya  este  tiempo  tan  desseado,  como  llegó  a  los  6o 
de  la  Baya,  con  cuya  conversión  se  pueden  nuestros  Her- 
manos  consolar  entre  tanto,  y  rogar  al  Senor  por  la  con- 
versión destos. 

5.  No  dexa  empero  el  Senor  de  llamar  a  sy  algunos 
dellos  que  tiene  electos  para  su  reyno,  y  assí  aora  de  una  65 
Aldeã,  aora  de  otra  vienen  aqui  algunos  a  se  confessar, 
otros  a  baptizar  y  morir  bien,  y  otros,  que  no  pueden 
venir,  mandan  a  pedir  remédio  de  confessión,  otros  traen 
sus  hijos  innocentes,  de  manera  que  siempre  se  [97 v]  cogen 
algunos  manípulos  sembrados  cum  fietu  et  labore  5,  assí  7o 
en  Piratininga,  como  quando  los  vamos  a  visitar  por  sus 
Aldeãs,  de  las  quales  visitationes,  quando  otro  no,  a  lo 
menos  se  saca  este  provecho,  que  se  padesce  alguna  ham- 
bre,  cansancio  y  trabajo  por  amor  de  N.  Senor.  Una  vez, 
después  que  ovimos  corrido  todas  estas  Aldeãs,  partimos  75 
de  la  postrera  muy  de   mariana  por  poder  venir  a  la 
missa,  que  era  domingo,  y  un  Hermano  salióse  delante,  el 
qual  assí  por  saber  mal  el  camino,  como  por  la  grande 
escuridad  de  las   nieblas,  que  mucho  tiempo  dei  ano 
duran  quasi  hasta  las  diez  horas,  y  son  frigidíssimas,  pen-  80 
sando  que  encaminava  para  casa,  tomó  el  camino  en  con- 
trario y  perdióse,  y  andó  de  campo  en  campo,  de  valle  en 
valle,  y  de  monte  en  monte,  sin  hallar  camino  hasta  quasi 

el  médio  dia,  que  se  deshizo  dei  todo  la  niebla,  y  N.  Senor 
le  encaminó  sin  él  saber  la  via  que  llevava  derecho  a  casa,  85 
bien  mojado  dei  roscío  frio,  y  assaz  sudado  dei  trabajo,  y 
muy  alegre  en  el  Senor  6. 

6.  Contaré  aqui  de  un  manipulo  que  poços  día[s]  a 
(según  confiamos)  se  recogió  en  el  granel  celestial.  Este 


5  Cf.  2  Cor.  11,  27. 

6  Cf.  Ps.  63,  11. 


372 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


90  era  un  viejo  de  más  de  cien  anos,  el  qual  siendo  morador 
en  un  otro  lugar  dos  léguas  de  Piratininga,  como  le  dixeron 
los  Padres  que  se  viniesse  a  Piratininga  a  aprender  las 
cosas  de  Dios,  luego  dexó  quanto  tenía  y  fué  el  primero 
que  començó  a  poblarla  7,  yendo  de  ciertos  en  ciertos  dias 

95  a  buscar  de  comer  con  su  gente  al  otro  lugar  que  por  amor 
de  Dios  avia  dexado,  onde  tenía  sus  roças  y  hazienda. 
Y  quando  avia  de  partir,  yvase  primero  a  la  iglesia  a  dar 
cuenta  a  N.  Sefior  de  su  partida,  diziéndole  en  su  lengua 
puesto  de  rodillas:  «Sefior,  yo  voy  a  buscar  de  comer; 

100  é  de  tardar  tantos  dias:  guardadme  que  no  me  acontesca 
algún  mal»,  y  otras  muchas  cosas  desta  manera,  las  quales 
hablava  con  tanta  simplicidad  y  fe  con  Dios,  como  las 
hablava  con  nosotros,  a  quien  siempre  pedia  licencia  quando 
avia  de  yr.  A  la  tornada  entrava  primero  que  todo  en  la 

105  yglesia  a  dar  gratias  a  N.  Senor,  y  a  le  dezir  que  ya  era 
venido  como  prometiera.  En  esta  fe  y  simplicidad  perse- 
vero siempre,  oyendo  cada  dia  missa  y  predicando  conti- 
nuamente a  sus  hijos  y  nietos,  que  tenía  muchos,  que 
fuessen  buenos  y  creyessen  en  Dios,  y  guardassen  lo  que 

no  les  ensefiássemos.  Traya  un  bordón  con  una  cruz  que 
nosotros  le  dimos,  en  la  qual  tenía  mucha  fe  y  esperança, 
y  quando  yva  fuera  aquel  era  su  arco  y  flechas  que  llevava, 
y  por  aquel  dezía  que  le  guardava  Dios  de  mal  y  le  dava 
luenga  vida.    Y  cierto  que  era  para  maravillar,  ver  un 

115  hombre  de  tanta  edad,  que  se  espantavan  todos  de  como 
tanto  vivia,  ser  tan  rezio  y  sano  que  parescía  cada  vez 
hazerse  más  mancebo,  lo  qual  todo  (como  era  verdad)  él 
attribuya  a  N.  Sefior,  y  sus  desseos  no  eran  otros,  sino  de 
estar  ya  con  su  Padre,  que  assí  llamava  él  a  Dios.  Llegán- 

120  dosele  pues  su  última  enfermedad,  recibióla  como  dada  de 
mano  dei  Sefior,  poniendo  en  él  toda  su  esperança  y  desseo, 
y  siempre  estuvo  llamando  el  sacratíssimo  nombre  de  Jesú, 
hasta  que  ya  no  podiendo  hablar,  la  boca  y  ojos  alevantó 


7  Costuma-se  identificar  este  índio  com  João  Caiubi,  Principal  de 
Jaraibatiba  (A.  Machado,  nota  a  este  passo,  Cartas  de  Anchieta  175 ; 
Leite,  História  I  270). 


53.  -  S.  VICENTE  30  DE  JULHO  DE  1561 


373 


al  cielo  nom brando  con  el  coraçón  el  que  con  la  boca  ya 
no  podia,  y  assí  se  fué  para  el  que  tanto  su  ánima  desseava.  125 
Dexó  en  testamento  a  sus  hijos,  que  con  él  estavan,  que 
nunca  se  apartassen  de  la  iglesia  y  doctrina  de  los  nues- 
tros  Herraanos,  como  él  avia  hecho.  Lo  qual  curaplió 
muy  bien  un  su  hijo  que  desde  nino  se  avia  criado  con  la 
doctrina  de  los  Padres  8,  el  qual  enfermando  de  una  luenga  130 
enfermedad,  a  la  postre  después  de  muchas  vezes  se  aver 
confessado,  nos  encommendó  su  muger  y  hijo  para  que 
viviessen  y  muriessen  en  Piratininga  junto  de  la  iglesia, 
como  él  avia  vivido,  y  pidió  el  sacramento  de  la  Extrema 
Unctión.  Y  porque  se  hizo  algún  poco  de  tardança  en  lo  135 
traer,  tornóme  a  dar  priessa,  diziendo  que  viniesse  luego 
porque  no  muriesse  sin  él.  Y  acabando  de  lo  recibir  con 
mucha  fe  y  devotión,  rogó  a  los  circunstantes  que  lo  encom- 
mendassen  a  Dios,  y  day  a  una  o  dos  horas  dió  el  spíritu 
al  Senor.  140 

7.  Destos  podría  contar  otros  muchos,  maxime  de  los 
esclavos,  los  quales,  por  ser  de  generatión  tan  bestial, 
paresce  que  dan  maior  occasión  de  loar  a  Dios  con  su 
mucha  fe  y  grande  conoscimiento  que  muestran  y  amor 
de  N.  Senor.  Plega  a  él  por  su  divina  bondad  de  llegarlos  145 
todos  a  tiempo  en  que  no  de  dos  o  tres,  mas  de  todos  se 
dé  grande  gloria  a  su  Majestad,  y  nosotros  recibamos 
consolatión.  Dexo  de  contar  de  muchos  que  N.  Senor 
en  el  stado  de  la  innocentia  lleva  a  su  reyno  cada  dia. 
[ç8r]  Con  las  mugeres  y  esclavos  de  los  Portogueses  se  150 
haze  mucho  fructo,  y  en  esto  nos  occupamos  principal- 
mente, porque  les  es  tan  necessária  la  doctrina  de  las 
cosas  de  la  fe,  a  lo  menos  a  los  esclavos,  como  a  los 


132    y  dei.  hy  ||  14a   bestial  post  corr. 


8  Os  Padres  estabeleceram-se  em  Piratininga  em  1553  e  o  Colégio 
de  S.  Vicente  principiou  em  1550,  datas  limites  antes  das  quais  o  filho 
do  «velho  de  mais  de  cem  anos»  não  podia  começar  a  ser  educado  por 
Padres  da  Companhia. 


374 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


mesmos  índios.    Destos  se  baptizan  y  confiessan  muchos, 
155  y  se  les  da  stado  de  vida,  casándolos,  porque  es  quasi  gene- 
ral costumbre  de  la  tierra,  no  se  dar  nada  a  los  sefiores  que 
estén  sus  esclavos  amancebados:  y  queriendo  más  el  servi- 
cio  dellos  que  su  salvatión,  no  tienen  cuenta  con  su  doc- 
trina, y  assí  los  tienen  por  sus  haziendas  espargidos  sin 
160  los  hazer  venir  a  la  iglesia,  sino  es  de  maravilla;  y  assí  la 
maior  parte  dellos  es  tan  rude  en  las  cosas  de  la  íe,  que  ni 
aún  saben  si  ay  Dios.  De  manera  que  es  tanta  la  negligen- 
tia  de  los  sefiores  en  esto,  y  tanta  la  perditión  de  los  escla- 
vos, que  tenemos  por  muy  grande  provecho  occuparnos  en 
165  su  doctrina,  maxime  como  no  aya  índios  que  quieran 
aprender. 

8.  Aqui  en  S.  Vicente  ay  siempre  concurso  dellos  a  la 
doctrina  y  confessiones,  como  por  las  otras  ternán  sabido. 
En  otra  Villa  se  an  puesto  un  Padre  y  un  Hermano  intér- 

170  prete,  en  la  qual  se  haze  mucho  íructo  en  doctrinas  y  con- 
fessiones. Es  muy  grande  el  concurso  de  los  esclavos  assí 
hombres  como  mugeres  de  noche  y  de  dia  a  aprender,  y  se 
confessar,  de  manera  que  quasi  todo  el  dia  se  gasta  en  con- 
fessiones, y  si  más  intérpretes  oviera,  muchos  más  se  con- 

175  fessaran:  y  no  es  pequena  desconsolatión  verlos  estar  todo 
el  dia  esperando  en  la  iglesia,  y  yrse  muchos  sin  se  poder 
confessar  por  no  aver  quien  les  entienda  su  lengua. 

A  otro  lugar  de  Portugueses  daqui  seis  o  siete  léguas 
por  la  playa  9  se  açude  algunas  vezes,  onde  se  muestra 

180  mucho  el  gran  desseo  que  tienen  de  la  salud  de  sus  áni- 
mas,  porque  quasi  todos  se  confiessan  y  commulgan  quando 
allá  vamos;  y  los  esclavos  no  nos  dan  vagar  ni  aún  de 
reposar  de  noche,  porque  mucho  ante  manana  nos  vienen 
a  pedir  confessión  y  desde  entonces  hasta  la  noche  no  ces- 

185  samos.  Sea  el  Sefior  por  todo  loado.  También  de  ida  y 
venida  siempre  se  coge  algun  fructo,  porque  por  toda 
aquella  playa  están  haziendas  de  los  portugueses  y  siem- 
pre se  hallan  por  ellas  algunos  esclavos  enfermos  a  la 


9    Vila  de  Itanhaém. 


53.  -  S.  VICENTE  30  DE  JULHO  DE  1561 


375 


muerte  que  se  coníiessan  y  aparejan  a  bien  morir.  Aqui 
se  ordena  otra  casa  10  para  quando  los  Padres  allá  fueren,  190 
y  para  quando  oviere  algún  enfermo,  por  ser  lugar  muy 
aplazible. 

A  los  ingenios  de  açúcar  se  provee  también  con  doc- 
trina  y  confessiones,  quanto  es  possible,  de  manera  que 
toda  la  gente  de  la  Capitania  recibe  servitio  de  nosotros,  195 
a  que  todos  corresponden  con  amor  y  crédito  que  nos  tie- 
nen,  lo  que  mucho  se  mostro  en  este  caso  que  diré. 

9.  Aviendo  los  dias  passados  vacado  el  cargo  de  Capi- 
tán  y  Oidor  en  esta  Capitania,  por  se  acabar  el  tiempo  dei 
que  lo  era,  y  no  proveer  el  Rey  ni  el  senor  de  la  tierra,  fué  200 
necessário  que  el  pueblo  los  eligiesse.   Y  como  en  estos 
casos  suelen  aver  partialidades  y  bandos,  y  desassossiego 

en  la  tiérra,  y  en  este  también  se  commençava,  porque  uno 
lo  pretendia  ser  com  poca  razón,  sin  ser  canonicamente 
electo,  por  evitar  lo  que  se  temia,  juntos  todos  los  princi-  205 
pales  de  la  tierra,  en  que  está  el  govierno,  acordaron  de 
conmún  consentimiento  que  un  Padre  de  la  Compafiía  se 
hallasse  presente  al  tomar  de  los  votos,  porque  cessasse 
toda  suspición  porque  dél  solo  coníiavan  no  permittiría 
hazerse  cosa  injusta.  Y  pidiendo  esto  todos  al  P.  Nóbrega,  210 
se  halló  él  presente  11,  de  lo  que  la  tierra  quedo  quieta  y 
contenta,  creyendo  que  el  que  salía,  vénia  por  voluntad 
dei  Senor,  como  es  de  creer,  porque  le  fué  pedido  con  mis- 
sas, oraciones,  ayunos  y  disciplinas. 

10.  En  Piratininga,  aunque  se  apartaron  delia  los  índios  215 
por  poder  vivir  más  libremente  a  su  voluntad,  todavia 


10  Outra  casa,  fora  as  já  existentes  na  Capitania  de  S.  Vicente. 
Com  o  tempo  além  dessa  casa  na  Vila  de  Itanhaém  fez-se  outra,  mais 
abaixo  na  Aldeia  de  Iperuíbe  (Leite,  História  vi  434-435). 

11  1  de  Maio  de  1561.  Terminara  o  mandato  o  Capitão-mor  Fran- 
cisco de  Morais  e  foi  eleito  Capitão-mor  Pedro  Colaço  Vieira  (Leite, 
Breve  Itinerário  171).  A.  de  Moura  chama-lhe  Pedro  Colaço  Vilela,  de 
Viana  do  Minho,  e  ao  Capitão-mor  cessante  Francisco  de  Morais  Bar- 
reto {Povoadores  39).  Mas  ao  dar  a  sesmaria  de  Jaraibatiba,  a  26  de 
Maio  de  1560,  o  Capitão-mor  assinou  só  Francisco  de  Morais  (cf.  supra, 
doe.  33  §  2). 


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IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


quedaron  algunos,  maxime  de  los  de  la  generatión  de 
aquel  viejo  que  arriba  dixe  12,  los  quales  perseveran  en  la 
fe  firmes,  y  confessándose  a  menudo,  de  los  quales  creo 
220  que  muchos  son  salvos  y  se  salvarán. 

11.  Ultra  desto  una  poblatión  de  Portugueses  13,  que 
estava  tres  léguas  apartada,  se  mudó  para  Piratininga  por 
mandado  dei  Governador  14  a  instantia  de  los  Padres  15,  por 
estar  en  muy  grande  peligro  de  los  enemigos  corporales, 

225  de  los  quales  estava  ya  espiada  por  caminos  que  avían 
abierto  por  los  matos  dende  su  tierra,  y  temíase  cada  dia 
venirla  a  destruir  [98V]  o  a  lo  menos  saltear  y  matar  algu- 
nos de  los  christianos  y  esclavos,  como  acostumbran;  y 
mucho  más  por  el  grandíssimo  peligro  en  que  estava  de 

230  los  enemigos  spirituales,  de  los  quales  no  solo  espiada, 
mas  salteada  y  robada  estava  muchas  vezes,  porque  no 
tenía  sacerdote  que  les  dixesse  missa  y  administrasse  los 
sacramentos,  y  aunque  en  sus  enfermedades  les  soccorría- 
mos,  etiam  de  noche  por  selvas  muy  espantosas,  todavia 

235  siempre  el  diablo  se  llevava  muchos  de  sus  esclavos,  a  los 
quales  no  se  podia  muchas  vezes  remediar  que  primero  no 
muriessen.  Por  estas  causas  trabajaron  mucho  los  Padres 
que  se  passassen  a  Piratininga,  onde  agora  están,  y  muchos 
dellos  quasi  subiectos  a  la  voluntad  y  dispositión  de  los 

240  Padres  en  lo  que  toca  a  sus  ánimas,  confessándose  y  com- 
mulgando  las  más  fiestas  y  domingos  dei  ano. 

12.  En  sus  mugeres  y  esclavos  es  para  loar  a  Dios  ver 
el  desseo  y  fervor  que  tienen  en  deprender;  dos  vezes  cada 
dia  son  ensefiados  en  su  lengua,  onde  se  les  declaran  las 

245  cosas  importantes  a  su  salvatión  por  el  Hermano  Gregorio 


317    los  dei.  q 


12  Caiubi. 

13  S.  André  da  Borda  do  Campo. 

14  Mem  de  Sá. 

15  Anchieta  atribue  a  mudança  só  aos  Padres  da  Companhia  de 
Jesus ;  mas  cf.  supra,  carta  da  Câmara  de  São  Paulo  de  20  de  Maio 
de  1561  §  6  (carta  48). 


s 

53.  -  S.  VICENTE  '50  DE  JULHO  DE  1561 


377 


Serrano,  que  al  presente  tiene  a  cargo  aquella  Villa  16  y 
sabe  ya  la  lengua  de  los  índios.  El  confessar  de  muchos 
es  muy  a  menudo,  y  tanto  que  no  se  les  pueden  a  las  vezes 
satisfazer  sus  desseos. 

13.  Está  Piratininga  puesta  en  frontera  destos  nuestros  250 
índios,  los  quales  muchas  vezes  se  arruinan,  por  el  poco 
temor  que  tienen  de  los  christianos.    En  tanto  que  poços 
dias  a  vinieron  unos  poços  a  una  hazienda  de  los  Porto- 
gueses  y  le  llevaron  y  mataron  quatro  o  cinco  esclavos,  y 

de  muy  mejor  voluntad  lo  hizieran  a  los  sefiores,  si  los  255 
ayudaran  a  esso  los  otros  sus  parientes,  los  quales  no  qui- 
sieron  consentir  porque  paresce,  según  muestran,  que  esti- 
man  la  amistad  y  trato  que  tienen  con  los  Portogueses,  y 
esta  es  la  causa  porque  no  se  puede  en  ellos  hazer  fructo. 

14.  Por  otra  parte  tiene  los  contrários,  los  quales  están  260 
tan  cerca  que  en  quatro  o  cinco  dias  se  puede  venir  de  sus 
tierras.  Estos  nunca  cessan  por  mar  y  por  tierra  persiguir 

a  los  christianos  llevándoles  sus  esclavos  y  matándolos,  y 
aún  a  ellos  mismos,  de  manera  que  siempre  se  vive  en 
continua  inquietatión  con  ellos,  maxime  agora  que  por  los  265 
matos  muy  bravos  y  montanas  muy  espantosas  y  desiertas 
an  abierto  caminos  por  diversas  partes,  por  los  quales  vienen 
de  sus  tierras  a  saltear  las  haziendas  de  los  Portogueses  sin 
aver  quien  se  lo  impida. 

15.  Por  esta  causa  determinaron  los  moradores  de  Pira-  270 
tininga  con  algunos  mestizos,  viendo  que  nadie  acudia  a 
estos  males,  hazer  guerra  a  un  lugar  de  los  enemigos  fron- 
teros  para  que  pudiessen  vivir  en  alguna  paz  y  sossiego, 

y  juntamente  començassen  a  abrir  algún  camino  para  se 
poder  predicar  el  Evangelio  assí  a  los  enemigos  11 ,  como  a  275 


275    a}  sup. 


16  Gregório  Serrão  já  era  Ministro  da  Casa  de  São  Paulo  quando 
a  12  de  Agosto  de  1560  tomou  posse  da  Sesmaria  de  Jaraibatiba  em 
nome  de  Nóbrega  (doe  37  §  1). 

17  Tamoios. 


378 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


estos  índios  18,  los  quales  ya  tenemos  sabido  que  por  temor 
se  an  de  converter  más  que  por  amor;  y  para  esto  se  apare- 
jaron  todos  confessándose  y  commulgando,  más  zelosos  de 
la  honrra  de  Dios  y  dilatatión  de  la  fe  que  amigos  de  sus 
280  próprios  interesses. 

16.  Fué  con  ellos  un  Sacerdote  para  les  dezir  missa  y  pre- 
dicar, y  llevar  delante  la  vandera  de  la  Cruz,  y  un  Hermano 
intérprete  para  los  índios  baptizados  que  con  ellos  yvan  19. 

17.  Su  camino  es  desta  manera.  Van  primero  por  un 
285  rio20  algunas  jornadas  en  almadías,  las  quales  no  son 

más  cada  una  que  una  corteza  de  un  árbol,  mas  tan 
grande  que  caben  veinte,  y  veinte  y  cinco  personas  en 
ella  con  su  mantenimiento  y  armas.  Llegados  al  puerto 
dei  primer  rio  por  onde  van,  las  sacan  fuera  dél  y  las 

290  llevan  a  cuestas  por  quatro  o  cinco  léguas  de  bosques 
de  muy  maios  caminos,  que  a  yr  descargados  ay  bien 
que  hazer,  hasta  las  tornar  a  echar  en  otro  rio  21  que  está 
ya  en  la  tierra  de  los  enemigos.  Partiéronse  pues  de  Pira- 
tininga,  onde  entonces  estávamos,  esta  Quaresma  passada, 

295  diziéndoles  el  Padre  cada  dia  missa  y  predicándoles,  y 
antes  de  llegar  a  los  enemigos  se  tornaron  a  confessar  y 
commulgar  muchos  dellos,  haziendo  yglesia  daquellos  bra- 
vos y  espantosos  matos.  Y  con  estas  ayudas  les  dió 
N.  Senor  grande  victoria  destruyendo  el  lugar  sin  escapar 

300  más  que  uno  solo,  siendo  la  cosa  más  fuerte  que  hasta  oy 
se  a  visto  de  enemigos  en  esta  tierra;  y  bien  se  paresció 
en  los  muchos  destos  indios  que  murieron  e  fueron  flecha- 
dos,  y  de  los  portogueses  que  luego  al  entrar  los  hirieron 
quasi  todos  y  mataron  tres.    De  manera  que  solos  diez  o 


289    fuera]  fucran  ins. 


18  Tupis. 

19  Foram  o  P.  Manuel  de  Paiva  e  o  Ir.  Gregório  Serrão  (cf.  supra, 
carta  48  §§  8-9). 

20  Rio  Tietê  (subindo  a  corrente). 

21  Rio  Paraibuna,  um  dos  dois  em  que  se  bifurca  o  Rio  Paraíba. 


55.  -  S.  VICENTE  50  DE  JULHO  DE  1561 


579 


doze  hombres  con  ayuda  de  la  real  vandera  de  la  Cruz,  que  3°5 
el  [99r]  Padre  les  traya  delante  animándolos,  quemaron  y 
assolaron  el  lugar,  dei  qual  se  ovieron  muchos  innocentes 
que  ya  son  metidos  en  el  grémio  de  la  Sancta  Yglesia  por 
el  baptismo. 

18.  En  quanto  ellos  andavan  en  la  guerra,  nuestro  310 
ofíicio  era  ayudarlos  con  orationes  públicas  y  particulares, 
repartiendo  la  noche  de  manera  que  siempre  avia  oratión 
hasta  la  mafiana,  y  al  cabo  de  la  oratión  cada  uno  tomava 

su  disciplina.  Lo  mesmo  hazían  muchas  mugeres  devotas 
de  las  mestizas  teniendo  su  disciplina,  vigilia  y  oratión.  3T5 
Y  ordeno  N.  Sefior  que  la  batalla  se  diesse  en  los  dias  de 
su  Passión  en  los  quales  eran  tantos  los  gemidos,  lloros 
y  disciplinas  al  fin  de  los  officios  de  las  tinieblas,  assí  de 
los  de  casa,  como  de  los  de  fuera  que  toda  la  iglesia  era 
una  voz  y  plancto,  que  no  podia  dexar  de  penetrar  los  320 
cielos  y  mover  el  Sefior  a  aver  misericórdia  de  nosotros 
y  de  los  guerreros  que  entonces  peleavan  por  su  amor, 
aviendo  padescido  assaz  trabajo  de  hambres  y  cansancio 
por  los  caminhos  ser  desiertos. 

19.  Después  desta  guerra  an  tomado  los  christianos  325 
tan  grande  ânimo  que  están  determinados  de  darse  a  la 
guerra  a  estos  enemigos,  hasta  tanto  que  ellos  vencidos  se 
subiecten,  como  se  hizo  en  la  Baya;  y  está  aora  pregonada 
guerra  en  que  va  el  Capitán  con  toda  la  más  gente  de  la 
Capitania.  Esperamos  en  N.  Sefior  que,  pues  este  es  el  33° 
médio  con  que  esta  brava  generatión  se  quiere,  favores- 
cerá  a  los  christianos  para  que  no  tengamos  embidia  a  los 

de  la  Baya. 

20.  Este  ano  nos  castigo  la  divina  justitia  con  muchas 
enfermedades,  principalmente  con  câmaras  de  sangre,  las  335 
quales  díeron  maxime  por  los  esclavos  de  que  murieron 
muchos,  en  tanto  que  parescía  pestilentia;  dos,  tres,  quando 
mucho  quatro  dias  duravan  con  ellas  que  no  muriessen, 


22  Em  1561  a  Páscoa  foi  a  6  de  Abril,  e  portanto  a  batalha,  em  dias 
da  Paixão  (Semana  Santa),  nos  primeiros  de  Abril. 


380 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


aunque  otros  an  escapado.  Esto  nos  a  dado  mucho  trabajo, 

340  porque  de  dia  y  de  noche  no  cessávamos  de  les  confessar 
y  acudir  con  los  remédios  que  podíamos,  maxime  en  Pira- 
tininga,  onde  los  Hermanos  son  médicos  spirituales  y  cor- 
porales,  y  todo  pende  dellos,  onde  no  avia  casa  sin  dolien- 
tes,  y  en  algunas  avia  tres,  quatro,  de  manera  que  bien  se 

345  avia  menester  el  dia  y  parte  de  la  noche  para  los  sangrar, 
curar  y  confessar.  Y  por  la  mucha  diligentia  que  los  Her- 
manos en  esto  ponían,  no  murieron  allí  tantos  como  en 
otros  lugares  onde  esto  les  faltava,  en  los  quales  murieron 
muchos  sin  confessión  por  las  poblationes  ser  muchas  y 

350  nosotros  poços  y  no  poder  soccorrer  a  todas. 

Después  que  ovimos  curado  a  todos,  quiso  el  Senor 
començarnos  a  dar  el  galardón  de  los  trabajos,  y  esto  fué 
haziéndonos  participantes  de  la  mesma  enfermedad  de 
câmaras  de  sangre,  mas  con  ellas  y  con  fiebre,  que  siempre 

355  las  acompana,  fué  necessário  acudir  una  noche  a  confessar 
una  india  que  delias  estava  quasi  a  la  fin.  Dieron  primero 
en  un  Hermano,  y,  como  delias  convalesció,  dieron  luego 
en  otro  muy  más  rezias  y  de  que  pensamos  no  escapasse, 
mas  ya  por  la  bondad  dei  Senor  se  halla  bien.  Esperá- 

360  vamos  que,  como  él  sanasse,  diessen  en  otro  y  assí  los 
corriesse  todos,  mas  el  Senor  no  nos  tuvo  por  dignos  de 
tanto  bien,  como  lo  es  la  enfermedad,  maxime  en  esta 
tierra  onde  tan  poços  remédios  y  consolationes  ay  para 
ella. 

365  De  caetero  23,  los  Hermanos  se  hallan  bien  por  la  bondad 
dei  Senor,  aunque  frequentemente  son  vexados  con  diver- 
sas enfermedades,  qual  de  cabeça,  qual  de  estômago,  qual 
de  fiebres  y  otros  dolores  que  de  las  muchas  aguas  que 
passan  frequentemente  se  engendran,  mas  andan  ya  tan 

370  acostumbrados  a  sufrirlas  y  dissimularias  (paresce  que  por 
no  aver  médico  que  las  sepa  encarescer)  que  ni  por  esso 
dexan  de  hazer  su  officio  de  ayudar  a  los  próximos  con 
doctrinas  y  confessiones,  aunque  con  assaz  trabajo.  De  lo 


23    De  caetero,  isto  é,  quanto  ao  mais. 


53.  -  S.  VICENTE  30  DE  JULHO  DE  1561 


381 


qual  no  poco  se  edifican  los  próximos,  maxime  aquellos 
que  son  assíduos  en  la  frequentatión  de  los  sacramentos,  375 
los  quales  nos  tienen  grande  amor  y  crédito. 

Y  daqui  es,  que  sabiendo  estas  mugeres  mestizas  de 
S.  Vicente  que  un  Hermano  que  aqui  las  solía  ensenar, 
estava  en  Piratininga  muy  mal  de  câmaras,  no  se  pudieron 
contener  que  en  la  yglesia  no  hiziessen  un  grande  plancto,  380 
y  toda  la  semana  de  Pascua,  que  aliás  solían  gastar  en  sus 
honestas  recreationes  y  salidas,  no  quisieron  recibir  nin- 
guna  consolatión,  antes  en  ayunos,  orationes  y  tristezas  la 
passaron,  continuándola  con  los  dias  llorosos  de  la  Semana 
Sancta  pidiendo  al  Senor  les  [99V]  emprestasse  aún  aquel  385 
Hermano  por  un  poco  de  tiempo  para  provecho  y  salud  de 
sus  animas.  Y  bien  creo  que  sus  orationes,  juntas  con  las 
de  nuestros  Charíssimos  que  allá  en  essas  partes  tienen 
particular  memoria  de  nosotros,  le  alcansaron  muy  presto 
dei  Senor  la  sanidad.  39° 

21.  En  el  mes  de  Henero,  dia  de  S.  Pablo  eremita  24, 
quiso  el  Senor  llevar  para  sy  nuestro  Hermano  Matheus 
Nogueira,  herrero,  el  qual  era  ya  hombre  de  edad  y  muy 
más  viejo  por  las  continuas  enfermedades  que  padescía, 
con  las  quales  nunca  dexava  de  trabajar  y  ser  muy  con-  395 
tinuo  en  la  oratión,  y  tenía  muy  special  zelo  de  la  conver- 
sión  destos  brasilles,  por  los  quales  continuamente  rogava 
a  Dios,  porque  no  sabia  su  lengua  para  les  predicar. 
Murió  de  un  dolor  como  de  cólica  y  piedra  que  él  muchas 
vezes  padescía,  con  el  qual  estuvo  trabajando  cinco  dias»  400 


378    solía  eorr.  ex  colia 


24  29  de  Janeiro  de  1561.  Tem  variado  a  celebração  da  festa  deste 
Santo  :  10,  15  e  29  de  Janeiro.  Actualmente  celebra-se  a  15  de  Janeiro, 
mas  em  1561  S.  Paulo  Eremita  celebrava-se  nalgumas  terras,  entre  as 
quais  as  portuguesas,  a  29  de  Janeiro,  segundo  esta  informação  dos 
Bolandistas :  «Alii  denique  29  Ianuarii  eum  colunt,  ut  videre  est  in 
Martyrologio  Praedicatorum,  Breviário  Eborensi  et  Romano  Pauli  III 
auctoritate  edito»  (Acta  Sanctorum  1  [Veneza  1734]  602).  Mateus  Nogueira 
é  o  «Ferreiro  de  Jesus  Cristo»  do  Diálogo  de  Nóbrega  (Mon.  Bras.  H  319). 


582 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


hasta  que  dió  el  ánima  al  Senor,  conosciendo  su  muerte  un 
dia  antes  que  fallesciesse.  No  es  necessário  acordar  a  la 
charidad  de  los  Hermanos  que  rueguen  a  Dios  por  él,  pues 
lo  tienen  tanto  a  cargo  assí  por  los  vivos  como  por  los 
405  muertos. 

22.  El  P.  Nóbrega  por  la  misericórdia  de  Dios  se  halla 
mejor,  y  puede  acudir  a  los  sermones  y  confessiones  adonde 
se  halla,  como  otro  qualquiera,  y  andar  los  caminos  visi- 
tando a  todos,  y  con  esto  se  halla  más  sano  que  quando 

4to  reposa,  salvo  que  las  aguas  le  tratan  mal  los  corrimientos. 

23.  En  los  trabajos  y  occupationes  no  se  olvida  el 
exercitio  de  la  oratión,  adonde  el  Senor  communica  las  fuer- 
ças  para  ellos.  Ase  hecho  una  casita  en  Piratininga  muy 
al  propósito  adonde  se  recogen  todos  los  Hermanos  por  su 

4T5  orden  y  cada  uno  tiene  allí  sus  dias  de  recogimiento  en 
que  se  renueven  en  nuevo  fervor  y  conoscan  sus  faltas  y 
las  castiguen  25. 

24.  El  studio  de  grammática  se  continua  con  dos  Her- 
manos de  casa,  y  quatro  de  que  tenemos  buena  expectatión 

420  que  agora  se  recibieron  para  ello,  y  algunos  de  f  uera.  Dénos 
N.  Senor  Jesú  Christo  su  copiosa  gratia  para  conoscer  su 
sanctíssima  voluntad  y  aquella  perfectamente  cumplir. 
Deste  Collegio  de  Jesú  de  S.  Vicente  a  30  de  Julio  1561. 
Minimus  Societatis  Iesu, 
425  Joseph. 

[ioov.  Endereço  autógrafo:}  +  Al  muy  Reverendo  en 
Christo  Padre,  el  P.  Maestro  Diego  Laynez,  Praepósito 
General  de  la  Companía  de  Jesú,  en  Roma.  2.a  via  [à  mar- 
gem :}  de  novas. 


||8    quatro  corr.  sup.  ex  tres 


25  Cf.  supra,  carta  de  Laynes  de  1  de  Dezembro  de  1558  §  8  (carta  2) ; 
Leite,  Breve  Itinerário  168-169. 


54.  -  LISBOA  8  DE  AGOSTO  DE  1561 


383 


54 

INFORMAÇÃO  DOS  OFÍCIOS  DO  P.  FRANCISCO 
HENRIQUES 

LISBOA  8  DE  AGOSTO  DE  1561 
I.    Autores :  LEITE,  História  l  132. 

II.  Texto:  ARSI,  Lus.6i,i.  tfr-tfv  [antes  n.  73].  Título:  «-(-IHS. 
Francisco  Anriques  a  VIII  d'Agosto  de  1561».  Outra  letra  [f.  48V]  : 
«Información  de  los  ofícios  de  Francisco  Anriques».  Autógrafo  em 
espanhol 

III.  Data:  É  8  de  Agosto,  não  Novembro,  como  escreveu,  a  tintaj 
no  próprio  documento  a  anotação  arquivística  moderna,  reproduzida 
depois  por  nós  no  lugar,  supra  indicado,  da  História. 

IV.  Edição:    Edita-se  o  texto  único. 

Textus 

7.  Jpse  Secretarius  est  Provinciae  Portugaliae  et  Procura  for  Brasi- 
liae  aliarumque  Provinciarum  transmarinarum.  —  2.  Quid  attiuet  ad 
officium  Procura/oris.  —  3.    Quid  ad  officium  Secretarii.  —  4.  Adiuiores. 

1.  Tengo,  por  orden  de  Roma,  el  officio  de  Procurador 
General  desta  Província  y  de  las  tres  transraarinas,  scili- 
cet,  índia,  Ethiopia  y  Brasil,  incluyesse  Angolla.  Tengo 
más  el  officio  de  Consultor,  Secretario  y  hazer  los  recuer- 
dos  necessários  al  P.e  Provincial. 

2.  Al  de  Procurador  tocan  los  negócios  assí  de  pleytos 
como  despachos  dei  Rey  y  espediciones  dellos  y  de  otros 
que  ay  con  otras  personas,  como  Cardenal,  Núncio,  Ciu- 
dad,  etc.  También  le  tocan  las  provisiones  de  los  colle- 
gios  y  casas  desta  Provincia  y  de  las  otras  tres,  que  se 
hazen  por  via  desta  Ciudad,  algunas  que  aqui  se  negocían 
y  conpran,  otras  que  se  embían  a  traer  de  Flandes,  Fran- 
cia, Castilha,  África,  Algarves,  etc.   Cóbranse  también  los 


384  INFORMAÇÃO  DOS  OFÍCIOS  DO  P.  FRANCISCO  HENRIQUES 


dineros  que  se  dan  de  la  hazienda  dei  Rey,  açúcar,  espe- 

15  ciaria  y  otras  limosnas  que  ordinariamente  se  le  piden,  así 
para  los  collegios  e  casas  de  la  Província  como  para  los 
otros  fuera  delia.  Házense  algunos  negócios  de  personas 
de  fuera  de  la  Compafiía  a  que  ay  obligación.  Tiénese 
cuenta  con  tomar  las  iníormaciones  de  los  negócios,  refe- 

20  rirlos  al  Superior  y  aver  su  resolución  en  ellos,  y  tratarlos 
para  mejor  guiarlos  con  personas  de  fuera  de  la  Compafiía, 
los  de  letras  con  letrados,  y  los  más  con  officiales  y  pláti- 
cos,  etc.  Házense  también  las  suplicaciones  y  apuntamen- 
tos  necessários,  escrívesse  de  los  negócios,  dando  razón, 

25  pidiendo  información  a  las  partes  a  que  pertenecen  y  res- 
pondesse a  las  cartas  que  delias  sobre  lo  mismo  se  escri- 
ven,  copíanse  en  los  libros  todos  los  albalás  y  cartas  que 
El  Rey  concede,  y  las  dei  Cardenal  y  algunas  de  otras  per- 
sonas que  son  de  importância.  Tiénesse  cuenta  de  los  dine- 

30  ros  que  pertenecen  a  cada  collegio,  etc.  y  a  lo  menos  se 
embia  hecha  y  cerrada,  una  vez  en  el  ano,  a  cada  uno  la 
suya. 

3.  Al  officio  de  Secretario  pertenece  escrivir  todas  las 
cartas  dei  P.e  Provincial  así  para  personas  de  la  Compafiía, 

35  como  otras  de  fuera  delia,  respondiendo  o  de  otra  manera', 
sacar  extratos  de  las  que  vienen,  copiar  en  libros  las  que 
se  embían.  Acordar  lo  que  se  ha  de  consultar,  embiar  las 
que  se  escriven,  cobrar  las  que  vienen,  leer  al  Padre  las 
suyas  y  las  más  que  él  quiere,  destribuir  las  de  casa,  hazer 

40  que  se  embíen  las  que  son  para  personas  de  fuera.  Ver  las 
quadrimestres  y  cartas  de  nuevas  y  las  ordinárias  de  los 
collegios  y  Províncias,  quitar  y  afiadir  lo  que  parece l, 


1  Sobre  este  trabalho  de  correspondência  concentrada  em  Lisboa, 
escrevera  pouco  antes  de  Roma,  a  12  de  Março  de  1561,  o  P.  Polanco 
por  comissão  do  P.  Geral  Laynes  ao  P.  Comissário  Jerónimo  Nadal  : 
que  das  cartas  quadrimestres  se  enviasse  «una  copia  a  Portugal  para 
la  índia  y  otra  para  el  Brasil  y  podrán  escusar  la  latina  para  Roma. 
porque  acá  se  lerá  la  espanola  o  una  de  las  latinas  que  van  para  otras 
partes.  Y  assí,  sin  aumentar  el  número  de  las  copias,  se  dará  esta  Con- 
solación aquellos  nuestros  Hermanos  de  la  índia  y  Brasil,  que  es  razón 


54.  -  LISBOA  8  DE  AGOSTO  DE  1561 


385 


copiar  y  embiar  las  que  vienen  de  fuera,  scilicet:  a  Roma 
a  lo  menos  una  via,  cada  Provincia  de  Europa  otra,  a  la 
índia  tres  o  quatro,  al  Brasil  otras  tantas,  a  Angola  dos.  45 
Hazer  instructiones  y  patentes  a  los  que  se  embían  fuera, 
copiar  todo  esto  en  libros. 

Del  oííicio  de  Consultor  y  hazer  los  recuerdos  parece 
que  no  ay  que  explicar. 

4.    Los  ayudadores  que  para  esto  avia,  estavan  en  todo  5° 
subiectos  al  Superior,  regias  y  orden  de  casa,  como  los 
demás,  sino  que  no  les  podían  ocupar  en  detrimento  de 
las  ocupaciones  de  sus  officios  para  lo  qual  quando  quer- 
rían  alguna  cosa  de  alguno  avían  de  saber  de  mí  si  lo 
podría  hazer,  salvo  en  ciertas  cosas,  que  ya  estavan  deter-  55 
minadas  en  tiempo  cierto,  para  más  unirlos  con  la  obediên- 
cia y  variarles  los  exercicios  por  no  poderse  continuar  siem- 
pre  el  escrivir.  En  esto  se  hallavan  inconvenientes  de  una 
parte  y  otra.   El  P.e  Prepósito  de  la  Casa  dizia  que  aquel- 
los  quedavan  muy  libres  y  isentos  de  la  obediência,  y,  o  60 
por  remediar  esto,  o  por  necessidades  que  avría,  él  y  el 
P.e  Ministro  y  Sotoministro  los  ocupavan  en  lo  que  les 
parecya  con  notable  y  ordinário  detrimento  de  los  negócios 
y  escritura;  y  los  mismos  Hermanos  tenían  ocasión  de  poco 
sosiego,  viendo  que  uno  por  una  parte  y  otros  por  otra  les  65 
mandavan  diversas  cosas  que  no  se  compadecían,  empero 
como  les  era  más  fácil  las  de  casa  que  la  escritura  y  negó- 
cios, siempre  se  inclinavan  y  aplicavan  más  a  aquellas 
ocupaciones  que  a  estotras. 


56    en  tiempo  cierto  sup. 


dársela  para  algún  alivio  de  los  machos  trabajos  que  padeceu.  Porque 
no  se  reverán  en  Roma  agora  como  solían  estas  letras  quadrimestres, 
es  bien  se  revean  allá,  antes  de  embiarse,  quanto  a  las  cosas  y  las  pala- 
bras  y  escriptura,  porque  se  embían  como  vienen :  y  todavia  se  nota 
que  de  algunas  partes  vienen  hartas  faltas».  —  Desta  carta  deixou  o 
P.  Nadal  cópia  em  Portugal  durante  a  sua  visita  (ARSI,  Inst.  206,  f.  83V). 

s5 


386 


P.  ANTÓNIO  RODRIGUES  -  P.  LUÍS  DA  GRÃ 


55 

DO   P.  ANTÓNIO  RODRIGUES 
AO  P.  LUÍS  DA  GRÃ,  BAÍA 

[aldeia  do  bom  jesus  (baía)  agosto  de  1561] 

1.  Bibliografia:  Sommervogel  VI  1939  n.  1;  Leite,  Histó- 
ria IX  83  n.  7. 

II.   Autores  :  Leite,  História  11  26. 

III.  Texto:  1.  ARSI,  Bras.  ij,  f.  io6v  [antes  f.  207V,  mais  antigo, 
riscado  90V].  Titulo:  «De  una  suia  al  P.e  Provincial».  «Suia»,  do 
P.e  António  Rodrigues,  como  escreve  Blázqnez,  carta  de  1  de  Setem- 
bro de  1561  §  16.  Tradução  espanhola  autografa,  de  Blázquez,  feita 
pelo  original  português  perdido. 

2.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  f.  icKjr.  Cópia  da  tradução  espanhola  de  Blázquez. 

IV.  Lugar:  Vem  expresso  na  referida  carta  de  Blázquez,  de  1  de 
Setembro  de  1561  §  16  (carta  58). 

V.  Data:  Alguns  dias  depois  da  festa  de  S.  António  na  Aldeia 
do  mesmo  nome  (13  de  Junho  de  1561),  Luis  da  Grã  e  António  Rodri- 
gues seguiram  para  o  sítio  da  futura  Aldeia  do  Bom  Jesus,  onde  ficou 
sòzinho  o  P.  Rodrigues  (cf.  carta  de  1  de  Setembro  de  1561  §  16).  Esco- 
lhido o  sítio,  Rodrigues  tratou  de  juntar  os  índios  das  redondezas, 
ajuntamento  ou  povoamento  que  se  concluiu  em  Agosto  (carta  de  Leo- 
nardo do  Vale  de  26  de  Junho  de  1562,  fim  do  §  4  —  carta  66)  e  deste 
povoamento  dá  notícia  a  presente  carta  ao  Provincial. 

VI.  Impressão :  Nuovi  Avisi  delle  Indie  di  Portogallo.  Quarta  Parte 
(Veneza  1565)  i7or-i7ov ;  Revista  do  Instituto  Histórico  c  Geográfico 
Brasileiro  49  i.a  P.  (1886)  64;  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  295. 

VII.  História  da  Impressão :  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução  ita- 
liana do  texto  1;  Revista  e  Cartas  a  retroversão  portuguesa  moderna 
do  texto  2. 

VIII.    Edição  :    Edita-se  o  texto  1  (Bras.  ijj. 

Textus 

1.  Iter  prospere  fecit  cum  pluribus  indis  principalibus.  —  2.  Triginta 
leucas  per  valles,  montes  et  silvas.  —  3.   Pulchrum  auditorium  in  ecclesia. 


56.  -  ALDEIA  DO  BOM  JESUS  AGOSTO  DE  1561 


387 


1.  Nuestra  yornada,  R.do  en  Christo  Padre,  ha  succedido 
bien  por  la  bondad  dei  Senor.  Vinieron  muchos  Principa- 
les  con  nosotros  como  verá  por  esta  carta  que  mando  al 
Guovernador  *.  Asta  el  gran  Caquiriacum,  comedor  de 
carnes  humanas,  vino  con  nosotros  mui  contento  i  alegre. 

2.  Andaríamos  bien  xxx  legoas,  haziendo  nuestro  camino 
por  vales,  sierras  y  matos,  haziendo  aquella  diligencia  que 
convenía  al  servicio  dei  Senor  y  zelo  de  las  ánimas,  porque 
me  parece  que  en  estas  xxx  legoas  no  queda  casa  ni  aldeã, 
porque  los  Principales  delias  se  vinieron  con  nosotros,  por 
onde  baptisé  algunos  inocentes  in  extremis,  y  una  muger; 
oi  baptize  dos  i  luego  se  fueron  a  la  otra  vida. 

3.  Oi,  domingo,  tuvimos  mui  hermoso  auditoryo  de  gen- 
tiles  en  nuestra  iglezia  i  después  de  rezado  el  nuestro  roza- 
rio  dei  Nombre  de  Jesús  le  hablé  un  gran  rato  de  Nuestro 
Senor.  Estando  a  la  missa  me  vinieron  a  dar  rebate  como 
se  finava  uno  que  tenía  aparejado,  fui  corriendo  allá  des- 
pués de  la  missa  y  allélo  que  no  ablava,  plugo  a  el  Senor 
que  después  abló  mui  bien.  Baptizélo  i  quedo  consolado, 
pidiendo,  antes  que  lo  baptizasem,  que  le  puziesen  nombre 
Baltezar. 

56 

DO  P.  ANTÓNIO  RODRIGUES 
AOS  PADRES  E  IRMÃOS  DA  BAÍA 

[aldeia  do  BOM  JESUS  (baía)  agosto  de  1561] 

I.    Bibliografia:    Sommervogel  VI  1939  n.  1 ;  Leite,  História  IX 
83  n.  8. 

II.    Autores :    Leite,  História  II  25  26  56. 

III.  Texto:  1.  ARSI,  Bras.  ij,  ff.  ioôv-rcrçr  [antes  ff.  207v-2o8r, 
mais  antigo,  riscado  9ov-9ir].  Título:  «Outra  suia  para  los  Hermanos». 
A  seguir  à  carta  do  P.  António  Rodrigues  da  Aldeia  do  Bom  Jesus,  de 


1    Mem  de  Sá:  carta  perdida. 


388 


P.  ANTÓNIO  RODRIGUES  -  PP.  E  II.  DA  E  AÍ  A 


Agosto  de  1561.  Tradução  espanhola  autógrafa  do  P.  António  Blázquez, 
feita  pelo  original  português  perdido. 

2.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa]  1-5. 
2,  38,  f.  ioor-ioov.  Cópia  coeva  da  tradução  espanhola  feita  por  Bláz- 
quez. 

IV.  Lugar  e  data:  Escreve  da  Aldeia  do  Bom  Jesus  (§  r),  onde 
residia  há  dois  meses  (§  7).  Começou  a  residir  em  Junho,  poucos  dias 
depois  do  dia  13,  em  que  ainda  esteve  presente  à  festa  deste  dia  na 
Aldeia  de  S.  António  (carta  de  Blázquez  de  1  de  Setembro  de  1561  §  16). 
Não  podia  ser  escrita  depois  de  Agosto,  porque  já  se  inclui  na  referida 
carta  de  Blázquez  de  1  de  Setembro  (carta  58). 

V.  Impressão:  Nuovi  Avisi  delle  Indie  di  Portogallo  Quarta  Parte 
(Veneza  1565)  170V-171V  ;  Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico 
Brasileiro  49  i.a  P.  (1886)  64-66;  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931) 
296- 297. 

VI.  História  da  Impressão :  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução  ita- 
liana do  texto  1 ;  Revista  e  Cartas  a  retroversão  portuguesa  moderna 
do  texto  2. 

VIL   Edição:    Edita-se  o  texto  1  (Brás.  ijj. 

Textus 

1.  Coadunati  sunt  in  pagum  Indi  principales  ex  circuitu  triginta 
Itucarum  qui  omites  oboediunt  P.  Antonio  Rodrigues.  —  2.  Res  ita  pros- 
pere proccdunt  ut  sperent  mox  attingere  Flumen  S.  Francisci.  —  3.  Novus 
pagus  erit  septem  vel  octo  leucas  distans.  —  4.  In  schola  Boni  Iesu  ver- 
santur  400  pueri  qui  christianam  doctrinam  discunt.  —  5.  In  interiore 
terrarum  duodecim  leucas,  pagi  duodecim  in  unum  coadunari  cupiunt. 

—  6.  Primus  ille  pagus  octo  leucas  distans  cum  parvo  labore  fiei.  — 
7.  P.  Antonius  Rodrigues  in  Pago  Boni  Iesu  residet  abhinc  duobus  mett- 
sibus  et  parat  magnum  baptismum  exspectans  visitationem  Provincialis. 

—  8.  Absque  dúbio  misericórdia  Domini  est  in  caelo,  quod  his  nostris 
ditbus  animis  impletur  brasilicis. 

1.    Sabrán,  Reverendos  en  Christo  Padres,  que  Princi- 
pales, de  xxx  legoas  a  la  redonda  desta  nuestra  población 
dei  Buen  Jesus,  se  an  ajuntado  aqui,  los  quales  están  con 
tanta  humildad  que  es  para  loar  al  Sefior.  Está  mui  prós- 
5  pera  esta  nuestra  poblazón,  con  gente  tan  honrrada  y  hidalga. 


46.  -  ALDEIA  DO  BOM  JESUS  AGOSTO  DE  1561 


389 


Serán  yuntas  15  poblaciones  en  una,  a  que  posimos  norabre 
Buen  Jesus.  También  sabrán  como  el  gran  Principal  Caqui- 
riacum,  comedor  de  carnes  humanas,  es  venido  aqui  a  morar 
con  nosotros,  y  haze  su  casa  mui  alegremente;  y  ansí  mismo 
los  otros  Principales  piden  también  sitios  para  hazer  sus  10 
casas.  Mis  cuidados  al  presente  son  grandes,  porque  está 
esta  casa  cada  dia  llena  de  gente,  con  negócios  mui  diver- 
sos unos  de  los  otros.  Tiénenme  mucha  reverencia  y  aca- 
tamiento  y  obediência,  i  son  mui  contínuos  a  traher  los 
enfermos  a  la  iglezia  i  llámanme  que  los  vaia  a  baptizar,  15 
y  por  ser  solo  esme  necessário  algunas  vezes  ir  con  la 
sobrepeliz,  estola  y  libro,  de  casa  en  casa,  a  baptizarlos 
quando  están  enfermos;  y  porque,  como  saben,  soi  mui 
enfermo  y  no  tiengo  las  fuerças  que  tenía  el  tiempo  pas- 
sado, me  asiento  en  una  silla  en  la  iglezia  y  ally  hago  20 
traer  los  dolientes  que  pueden  venir,  i  baptízolos.  Aier 
baptizé  una  vieja  de  100  anos,  i  otra  de  la  mesma  edad 
fue  su  madrina. 

2.  Va  la  cosa  tam  bién  que  no  ha  duda,  charíssimos 
Padres,  sino  que  se  a  de  llegar  al  Rio  de  Sant  Francisco  25 
mui  presto  en  avendo  copia  de  obreros,  los  quales  el  Senor 
de  la  messe  tenga  por  bién  de  mandar,  pues  san  tan  neces- 
sários. Esta  gente  es  mui  simple  i  bién  mandada  i  domés- 
tica, y  quada  vez  lo  será  más.  Aquello  que  le  ensenan, 
eso  toman.  Por  las  tierras,  onde  peregriné,  baptizé  algu-  30 
nas  ánimas  y  luego  fueron  ver  a  Deos. 

3.  La  poblazón,  que  se  hará  agora  delante,  será  siete 
o  ocho  [1071:]  legoas  desta,  en  que  estoi,  i  danme  priesa  y 
hazen  instancia  que  me  vaia  para  ellos  y,  con  ser  el  citio 
de  la  poblazón  mui  bueno  i  grande,  tiengo  por  nuevas  que  35 
no  caben  ja  en  él  los  que  se  ayuntan.  Mandaron  aqui  sus 
hijuelos  para  que  aprendesen  la  doctrina  y  cosas  dei  Senor, 
porque  ansí  lo  avían  prometido. 

4.  Avrá  en  nuestra  escuela  quatrocientos  nihos  que 
aprenden  y  sigen  la  doctrina.  40 


27    de  la  messe  /->    |  32    hará]  hurá  ms.  ||  31    ha/en]  hazer  ms . 


590 


P.  ANTÓNIO  RODRIGUES  -  PP.  E  II.  DA  BAÍA 


5.  De  la  tierra  adentro,  doze  legoas  de  esta  poblazón, 
me  vinieron  a  pedir  para  se  ayuntar  doze  poblazones  en 
una  y  mandaron  en  el  entretanto  aqui  sus  hijos. 

6.  Esta  poblazón,  que  dixe  que  está  de  aqui  ocho  legoas, 
45  será  luego  junta  con  mui  poco  trabajo,  porque  de  aqui  donde 

estoi  tengo  de  hazer  que  se  ajunten,  mandando  llamar  los 
Principales. 

7.  En  estos  dos  meses  que  ha  que  resido  aqui,  tengo 
baptisado  algunos  inocentes  y  adultos  i  quasi  todos  in 

50  extremis,  porque  los  otros  guárdanse  para  los  baptismos 
solemnes,  eccepto  quando  están  en  peligro,  para  quando 
el  Padre  Lois  de  Grana  viniere,  i  tenemos  un  soleníssimo 
baptismo  aparejado  1,  podrá  ser  que  llegue  i  aún  que  passe 
de  quatrocentos  y  cinquoenta. 

55  8.  No  ai  duda  sino  que  las  misericórdias  dei  Sefior 
son  sobre  los  cielos  y  que  ell  paraíso  se  inche  de  almas 
brasílicas  en  estos  nuestros  dias,  gloria  al  Senor.  Pídoles 
por  la  caridad  que  en  sus  devotos  sacreficios  y  oraciones 
me  encomendem  a  Dios,  para  que  cumpra  fielmente. 

60      Ministério  dei  Buen  Yesús. 
Suio  en  Christo, 

Antonyo  Rodriguez. 

CARTA  PERDIDA 

56a.  Do  P.  António  Rodrigues  ao  Governador  Mem  de  Sá,  Baia 
(Aldeia  do  Bom  Jesus,  Agosto  de  1561).  «Como  verá  por  esta  carta  que 
mando  al  Governador»,  —  escreve  António  Rodrigues,  do  Bom  Jesus, 
em  Agosto  de  1561  §  1  (carta  55). 


43    uno  ms.  ||  56    paraíso  post  corr. 


1  O  primeiro  grande  baptismo  solene,  na  Aldeia  do  Bom  Jesus, 
realizou-se  a  12  de  Outubro  de  1561 ;  e  os  índios,  que  se  baptizaram, 
foram  «novecentos  menos  oyto».  Cf.  carta  de  Leonardo  do  Vale  de  26  de 
Junho  de  1562  §  4  (carta  66). 


57.  -  LISBOA  AGOSTO-SETEMBRO  DE  1561 


591 


57 

RESPOSTAS  DO  IR.  CIPRIANO  [DO  BRASIL] 
AO  EXAME  DO  P.  NADAL 

[LISBOA  AGOSTO-SETEMBRO  DE  1561] 

I.  Autores:  Epp.  Nadal  I  693  :  Leite,  História  181;  Cipriano  do 
Brasil,  primeiro  Jesuíta  filho  da  América  zfjo-ijój,  in  Verbum  IX  (Rio 
de  Janeiro  1952)  469-476. 

II.  Texto:  ARSI,  Fondo  Ges.  Ms.  77-/,  f.  35ir-35iv  [antes  f.  5861-- 
-587V].  Autógrafo  em  português. 

III.  Data:  As  respostas  não  estão  assinadas  nem  datadas.  Mas 
algumas  respostas  ao  exame  do  P.  Jerónimo  Nadal,  Comissário  da  Com- 
panhia, contêm  elementos  que  mostram  o  ano  em  que  se  instituiu  o 
inquérito.  O  futuro  Visitador  do  Brasil,  Cristóvão  de  Gouveia,  responde 
assim  ao  2.0  quesito :  «Fiz  este  Janeiro  passado  de  15561  (sic,  mas 
leia-se  1561)  aos  oito  dias  19  anos»  (f.  333r).  Sabe-se,  por  outras  fontes, 
que  o  exame  se  realizou  em  Coimbra  pelos  meados  de  1561  e  que  já 
estava  concluído  a  13  de  Julho,  dia  em  que  Nadal  escreve  ao  P.  Geral 
a  dizer-lhe  que  se  examinaram  todos  «por  un  examen  general  al  qual 
respondia  cada  uno  de  su  mano»  (Epp.  Nadal  1  495).  A  21  de  Agosto 
de  1561,  Nadal  já  estava  em  Lisboa  :  «Hágoles  algunas  pláticas  y  síguense 
los  exámenes.  Querrfa  poder  concluyr  aqui  por  todo  este  mes»  513)  ; 
e  partiu  de  Lisboa  para  Évora  a  10  de  Setembro  (ib.  536).  Donde  se 
conclui  que  Cipriano,  residente  na  Casa  de  S.  Roque,  Lisboa  (n.  23), 
escrevia  por  fins  de  Agosto,  começos  de  Setembro  de  1561. 

IV.  Posição  do  documento :  Não  tem  apenas  interesse  biográfico, 
individual,  mas  também  histórico,  sobretudo  como  exemplo  prático  do 
modo  de  receber  meninos  na  Companhia  de  Jesus,  antes  de  chegarem 
ao  Brasil  as  Constituições,  que  foi  no  ano  de  1556  (Mon.  Bras.  II 282-283). 

V.   Edição :    Edita-se  o  texto  único. 


Textus 

1.    Ortus  in  Brasília,  família,  ingressus  et  vita  in  Societate. 


392  RESPOSTAS  DO  IR.  CIPRIANO 

1.    i.°  Chamo-me  Cypriano  l. 
2.0  Sou  de  vinte  annos. 

3.0  Sou  de  Sam  Vicente  do  Bispado  da  Baya,  do 
Brasil. 

5  4.0  Pay  não  tenho  senão  mãy. 

5.0  Tem  de  renda  novecentos  cruzados  -. 

6.  °  Quero  estar  em  juizo  com  meu  Superior  quanto 

a  esta  pergunta  3. 

7.  °  Não  tenho  senão  hum  irmão,  não  sey  se  será  ya 
10  casado,  irmãs  não  tenho.   A  meu  irmão  ficava 

esta  renda  que  acima  tenho  dito. 

8.  °  Não  tenho  nenhumas  deudas,  etc. 
9.0  Não  tenho  dada  palavra  alguma  i. 

io.°  Naquelle  tempo  não  me  ocupava  en  nada,  tão 
15  somentes  estar  en  casa  de  meu  pay  e  não  estudey 

fora  senão  a  ler  e  escrever. 
11. 0  Não    tenho    nenhuma    emfermidade,  louvado 

Christo,  nem  dor  de  cabeça,  nem  d'estamago, 

nen  outra  alguma  senão  quando  Nosso  Senhor 
20  me  visita.    Nen  tenho  falta  em  minha  pessoa. 

12  o  Estava  en  casa  de  meu  pay  e  aos  dias  sanctos 

ouvya  missa  e  tinha  muyta  devação  às  cousas 

de  Deos  como  às  oraçõis. 


1  Chamo]  chama  ms.  \[  13  alguma  corr.  ex  nenhuma  ||  17  emfermidade  d<tl. 
nenhuma 


1  Ver  supra,  Introdução  geral,  cap.  n,  art.  7,  a  vida  de  Cipriano.— 
Os  30  pontos  ou  30  perguntas  do  exame  comum  do  Comissário  P.  Nadal 
estão  publicadas  em  Epp.  Nadal  I  789-790.  Reproduz-se,  em  nota,  uma 
ou  outra,  quando  da  resposta  não  se  entenda  com  clareza  a  pergunta. 

2  A  pergunta  referia-se  aos  pais:  portanto,  aqui,  a  mãe. 

3  Pergunta:  «Si  en  algún  tiempo  le  viniere  alguna  dubitación  o 
dificultad,  o  en  cosas  espirituales,  o  en  otras  qualesquier,  si  quiere, 
dexando  su  propio  parecer,  estar  a  la  consciência  y  juizio  de  la  Com- 
panía  o  dei  Superior». 

4  Pergunta:  «Si  a  dado  palabra  de  matrimonio,  y  como;  y  si  a 
sido  casado;  y,  siendo  así,  si  tiene  hijos,  y  de  que  manera  proveídos». 


57.  -  LISBOA  AGOSTO -SETEMBRO  DE  1561 


595 


13. °  Não  tinha  obrigação  a  votos  alguns  5. 

14. 0  Pareceu-me  bem  a  maneira  de  servir  a  N.  Senhor,  25 

por  isso,  não  mays,  pidio.  Recebeu-me  o  P.e  Lio- 

nardo  Nunez  em  Sam  Vicente. 
15. 0  Não  fiz  os  votos  senão  depois  destar  tres  annos, 

a  fazenda  toda  leixey  a  meu  irmão  menor,  não 

fiz  distribuição  alguma.  30 
16. 0  Há  nove  annos  6  que  entrey  na  Companhia. 
17. 0  Tenho  votos  da  Companhia,  há  seis  annos  que 

os  fis. 

18. 0  Tenho  feito  os  Exercícios   huma  vez  (fiz  por 

espaço  de  hum  mes  e  meo).  35 
19. 0  Sempre  ando  em  provação  de  oficios  baixos  7. 
20. 0  Tenho-me  comfessado  cinco  vezes  geralmente. 

Tres  vezes  renovey  os  votos  ou  quatro  vezes. 
21.0  Duas  vezes  tenho  dado  conta  8,  scilicet,  ao  Padre 

Jorge  Rijo  9.  40 
22.0  Não  tenho  ordens  10  algumas. 
23. 0  Estive  no  Collegio  do  Brasil  de  Sam  Vicente,  no 

Collegio  de  Coimbra,  Sancto  Antão,  e  aguora 


30  alguma  corr.  .  »•  alguém  36  de  oficios  baixos  add.  postea  ||  41  algumas] 
alguma  ms.  > 


5  Pergunta  :  «Si  a  tenido  obligación  a  votos  algunos  antes  que 
entrase  en  la  Companfa,  y  como  se  los  an  soltado,  y  si  piensa  ser  Obli- 
gado a  ellos». 

6  Portanto,  foi  recebido  com  12-13  anos  de  idade  (cf.  n.  i.°)  ;  por 
isso  não  podia  fazer  os  votos  senão  «depois  d'estar  tres  annos»  (cf.  n.  15.0) 
à  espera  da  idade  canónica  (16  anos). 

7  Pergunta  :  «Quántas  otras  probaciones  a  hecho».  Cipriano  era 
então  um  dos  escreventes  do  Secretário  da  Província  de  Portugal  (Fran- 
cisco Henriques).  «Ofícios  baixos»,  isto  é,  ofícios  de  casa  ;  e  assim  res- 
pondeu o  futuro  visitador  do  Brasil  Cristóvão  de  Gouveia:  «Quanto 
a  19,  digo  que  hum  anno  andei  en  officios  de  casa.  e  outro  estive  doente» 
(ARSI,  FG.,  ms.  77-1,  f.  333r).  Cf.  infra,  resposta  ao  ponto  23. 

8  Pergunta :  «Quántas  vezes  a  dado  razón  de  su  conciencia,  y  a 
quién». 

9  Célebre  Ministro  do  Colégio  de  Coimbra,  irmão  do  P.  Vicente 
Rodrigues  {Mon.  B/as.  l  40). 

10    Ordens  sacras. 


394 


P.  ANTÓNIO  BLÁZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


em  Sam  Roche.  En  todo  este  tempo  sempre  me 
45  ocupei  en  officios  de  casa. 

24.0  Não  tenho  nenhuns  bens,  nen  distribuy  nada, 

tudo  leixey  a  meu  irmão  e  mãy. 
25.0  Deseyo  de  padecer  muito  por  Christo  N.  Senhor. 
26. 0  Deseyo  muito  mortificationes,  algumas  vezes  me 
50  perturbo  quando  me  dão  penitentia,  e  isto  quando 

estou  algumas  vezes  agastado  ou  malincouzado. 
27.0  Aparelhado  estou  para  isso  u. 
28. 0   Por  aguora  não  tenho,  mas  tive  yá  12. 
29.0  Tenho  grandíssimo  deseo  de  perseverar  na  Com- 
55  panhia  y  obedecer. 

30.0  A  isto  farey  o  que  me  mandarem  13. 


58 


DO  P.  ANTÓNIO  BLÁZQUEZ 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 


BAÍA  [1  DE  SETEMBRO]  DE  1561 

I.  Bibliografia:  Catalogo  dos  Manuscriptos  I  28;  Cimêlios  496; 
Sommer vogel  i  1543  n.  3;  Streit  ii  351  n.  1285;  Leite,  História  VIll 
107  n.  6. 

II.  Autores:  Leite,  História  II  5  22  31  45  52  55-57  62  77  96  178 
275  297  300  321  335  473  474  55<5  5?o;  Vasconcelos  Almeida,  Gaspar 
Lourenço  148-154. 


44-45  en  todo  —  do  casa  add.  postca  in  marg.  ||  46  nen  corr.  tx  não  ||  49  muito  sup. 
||  55    obedecer  seqq.  tres  lin.  dei. 


11  Manifestação  dos  defeitos  (Regra  9  do  Sumário  das  Constitui- 
ções). 

12  As  regras  gerais  e  comuns  da  Companhia  e  as  do  próprio  ofício. 

13  Pergunta:  «A  que  se  siente  más  inclinado,  snpuesta  la  indife- 
rencia,  si  a  índia  o  Alemania,  o  qualquier  otra  misión  o  ministério  difí- 
cil y  de  mucho  servido  y  ayuda  suia  y  de  los  próximos».  A  Alemanha, 
assolada  pelas  heresias,  equiparava-se,  no  espírito  desta  pergunta,  a 
terra  de  missão. 


58. -BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


595 


III.  Texto:  1.  ARSI,  Bras.  if,  ff.  io3r-io8v  [antes  ff.  2O4r-209v, 
mais  antigo,  riscado  ff.  87r-92v].  Título:  «-f-  Jesus.  Copia  de  una  dei 
P.e  Antonyo  Blasques,  dei  Brasil,  de  la  ciudad  dei  Salvador  de  Todolos 
Santos,  para  el  P.e  General  Maestro  Diego  Laines  y  a  los  más  Padres 
y  Hermanos  de  la  Compafiía,  de  XXIII  de  Setembro  de  1561.  Recebida 
en  Lisbona  a  ocho  de  Março  de  1562».  Apógrafo  em  espanhol  com 
ortografia  extremamente  irregular,  e  muitas  palavras  portuguesas  e 
portuguesismos. 

2.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque.  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  ff.  I05r-inr.  Com  o  mesmo  título.  Texto  sensivelmente  igual 
ao  primeiro,  mas  aquele  (Bras.  15)  com  uma  ou  outra  palavra  a  mais. 
Apógrafo  em  espanhol. 

IV.  Data:  A  data  de  XXIII  de  Setembro,  indicada  no  texto,  per- 
tence à  carta  de  Leonardo  do  Vale,  incumbido  de  continuar  a  narrativa, 
como  se  adverte  no  fim  da  carta,  por  ter  caído  doente  o  P.  Blázquez;  o 
que  o  Provincial  Grã  confirma  na  carta  de  22  de  Setembro  §  14  (carta  59), 
dizendo  que  Blázquez  ao  presente  está  «muy  ao  cabo».  Donde  se 
segue  que  deixou  de  escrever  algum  tempo  antes.  Por  outro  lado, 
referindo-se  ao  Bispo,  diz  Blázquez  que  ele  ainda  ontem  (ayer)  pregou 
na  nossa  casa  (§  15);  e,  excepto  alguma  festa  extraordinária,  o  dia  pró- 
prio das  pregações  era  o  domingo,  um  dos  quais  em  1561  caiu  a  31  de 
Agosto.  Deste  domingo  se  deve  tratar  porque  acrescenta  Blázquez: 
O  Bispo  «agora  de  aqui  a  diez  dias  está  determinado  a  ir  a  la  Isla  de 
Taparica» ;  e,  de  facto,  saiu  da  Baía  para  Itaparica  dois  dias  antes  da 
festa  da  Exaltação  da  Santa  Cruz  (a  festa  é  a  14),  segundo  informação 
de  Leonardo  do  Vale,  na  carta  de  23  do  mesmo  mês  (§  9).  Dados  estes 
que  conferem  à  carta  de  Blázquez  a  data  de  segunda  feira,  1  de  Setem- 
bro de  1561. 

V.  Impressão :  Nuovi  Avisi  delle  Indie  di  Portogallo.  Quarta 
Parte  (Veneza  1565)  i6iv-i75r  [linha  19] ;  Revista  do  Instituto  Histórico 
e  Geográfico  Brasileiro  49  í.a  P.  (1886)  45-64  66-72;  Cartas  Avulsas  (Rio 
de  Janeiro  1931)  298-322. 

VI.  História  da  Impressão:  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução  ita- 
liana do  texto  1,  inclui  as  três  cartas  de  António  Rodrigues  cada  qual 
sobre  si,  mas  omite  a  advertência  do  ms.  no  que  se  refere  a  Leonardo 
do  Vale,  e  ajunta  a  carta  de  Leonardo  à  precedente  sem  distinção  na 
composição  tipográfica;  e,  supresso  no  fim  o  nome  de  Leonardo,  apa- 
rece tudo  como  de  Blázquez.  Confrontando  com  o  texto  manuscrito,  o 
que  é  de  Blázquez  termina  na  f.  175V,  linha  19;  na  linha  20  começa  a 
carta  de  Leonardo  do  Vale  de  23  de  Setembro  de  156 1.  A  Revista  e 
Cartas  imprimem  a  retroversão  portuguesa  do  texto  2  e  distinguem  os 
três  autores  (Blázquez,  Rodrigues  e  Vale),  publicando  cada  qual  sobre  si. 

VII.   Edição:  Edita-se  o  texto  1  (Bras.  ij),  conferido  com  2  (t2). 


396 


P.  ANTÓNIO  BLÁZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


Textus 

1.  Nuntii  nunc  non  ut  antea  sunt  molesti  sed  boni.  —  2.  Pagus 
novus  S.  Ioannis  a  Patribus  Gaspare  Lourenço  et  Simeone  Gonçalves 
fundatus.  —  3.  Ecclesia  palmis  fit  ad  tempus.  —  4.  In  schola  ioo  pueri 
discunt  doctrinam  ex  «.Fidei  Summa*  Patris  Grã.  —  5.  Casus  aedifi- 
cantes.  —  6.  Provincialis  Grã  visitai  pagunt,  baptismos  facit  et  matri- 
monia.—  7.  Visitai  etiam  Pagum  S.  Antonii. —  <f?.  Fundatur  Pagus 
Sanctae  Crucis,  in  insula  Itaparica;  baptismi  et  matrimonia  in  illo 
et  in  Pago  S.  Pauli.  —  9.  «Dominus  loquellae»,  indus  Itaparicae.  — 
10  Ministeria  in  urbe  Bahia. —  77.  Monumentum  hebdomadae  maioris ; 
P  Emmanuel  Alvares  pictor.  —  12.    Caeremoniae  Passionis  et  Paschae. 

—  13-14.  Provincialis  vicinos  pagos  visitai,  transferi  in  alium  locum 
Pagum  Spiritus  Sancti  et  visitationem  pagorum  absolvit.  —  15.  Episco- 
pus  et  Gubernator  bene  iuvant,  sed  desuni  et  vestes  sacrae  et  Paires  ad 
instituendos  novos  pagos.  —  16.  Provincialis  et  P.  Antonius  Rodrigues 
pergunt  fundar e  Pagum  Boni  lestt.  —  17.  Missa  nova  in  Pago  S.  Iacobi. 

—  18-19.  Episcopus  adit  Pagum  S.  Pauli,  facit  baptismos  et  matrimo- 
nia et  baptisat  indum  principalem  Ludovicum  Henriques  —  20-21 .  Pater 
Grã  in  Pago  «  Tinharc»,  et  seligit  locum  ad  alium  pagum  in  Praefectura 
«Ilhéus». 

+ 

Jesús 

1.  Aunque  de  diversas  partes  tendrá  V.  P.  matéria  de 
mucha  Consolación  considerando  lo  mucho  que  la  piadosa 
clemência  dei  Sefior  se  digna  de  obrar  en  sus  criaturas  por 
médio  de  los  de  la  Companía,  creio  no  la  tendrá  menos  con 
las  nuevas  desta  tiera  por  no  se  esperar  delia  tanto  como 
de  las  otras,  i  ser  enfamada  de  inculta,  i  que  no  produzia 
sino  cardos  y  spinos  l.  Es  verdad  que  si  lo  de  atrás  se  com- 
para con  lo  de  agora,  bien  se  podia  em  parte  vereíicar, 
porque  no  correspondia  el  fructo  al  trabajo  y  diligencia 
que  con  ellos  antigamiente  se  tomava;  pêro  el  Sefior,  con- 
doliéndose  de  tanta  perdición  de  ánimas,  abrió  las  puertas 


Ii-ia    coadolicudose  corr.  tX  coadoleéadose 


i    Cf.  Gen.  3,  18. 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


597 


i  camino  para  su  conversión,  dando  siempre  depués  de 
este  principio  mui  prósperos  successos,  dilatando  el  ânimo 
i  coraçón  de  los  agricultores  con  el  nuevo  fructo  que  cada  15 
dia  cogían  de  la  viria  dei  Sefior.  Y  porque  desto  por  diver- 
sas vias  estará  V.  P.  largamente  iníormado,  en  esta  no  rela- 
taré  sino  lo  que  succedió  después  de  la  partida  de  la  nao 
francesa  2,  adonde  copiosamente  se  escrivió  3  todo  lo  que 
avia  succedido  después  de  la  llegada  dei  P.e  Provincial  20 
Luis  de  Grana. 

2.  De  ay  a  poco  que  la  nao  partió,  determino  el  Padre 
Provincial  (pues  el  Sefior  abria  tan  buena  conjunción  para 
la  converción  de  las  animas)  de  edificar  otra  casa  entre  los 
gentiles  y  para  este  effecto  mandar  allá  ministros  y  opera-  25 
rios  que  les  ensenasen  el  camino  de  la  verdad ;  y  porque 
él  avia  venido  mui  enfermo  de  las  Aldeãs,  y  al  presente 
quedava  quartenaryo  i,  por  ser  quaresma4,  occupado  en 
predicar  a  este  pueblo,  escogió  para  la  fundación  de  la 
casa  de  San  5  Juan  al  P.e  Gaspar  Lorenço  6  y  al  Padre  30 


22    determino]  delterminó  »ts.  ||  25    ministros  corr.  ex  meuistros 


2  Nau  tomada  por  Mem  de  Sá  no  Rio  de  Janeiro,  depois  da  des- 
truição do  íorte  em  1560:  «e  tomara  huma  nao  framceza  que  estava  no 
dito  Rio»  {Instrumento  142).  Ia  de  S.  Vicente  para  Portugal  comandada 
por  Estácio  de  Sá,  mas  arribou  à  Baía  por  28  de  Dezembro  de  1560. 
Pelo  que  diz  no  §  2,  a  nau  francesa  partiria  da  Baía  para  Lisboa  por 
Fevereiro  de  1561. 

3  Talvez  se  refira  às  cartas  de  João  de  Mello,  Rui  Pereira  e  Antó- 
nio Pires,  de  13  e  15  de  Setembro  e  22  de  Outubro  de  1560  (cartas  39 
40  41);  talvez  a  uma  carta  perdida  do  mesmo  Blázquez,  cf.  infra  §  10. 

4  Quaresma  de  1561  (a  Quarta-feira  de  Cinzas  foi  a  19  de  Feve- 
reiro). 

5  Casa  de  S.  João  (S.  João  ante  portam  latinam),  em  lugar  dife- 
rente do  em  que  estivera  antes  outra  Aldeia  de  S.  João  (Leite,  His- 
tória 11  52). 

6  Gaspar  Lourenço,  de  Vila-Real  (Trás-os-Montes  e  Alto  Douro) 
nasceu  por  1539  (entrou  na  Companhia  na  Capitania  de  S.  Vicente 
em  1553,  tendo  14  anos  de  idade).  «Grande  lingua  e  talento  para  pre- 
gar nela»  (Bras.  f-z,  f.  iov).  Um  dos  maiores  missionários  dos  índios, 
do  seu  tempo.  Tirando  os  primeiros  anos,  em  que  trabalhou  no  Campo 


398 


P.  ANTÓNIO  BLÁZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


Simeón  Gonçálvez  7,  ambos  criados  en  la  Companhia  de 
mui  pequena  edad. 

El  P.e  Gaspar  antes  de  ser  sacerdote  servió  siempre  de 
intérpetre  en  las  coníesiones  al  P.e  Lois  de  Grana,  i  en  esto 

35  y  en  predicar  a  los  índios,  traíalo  Su  R.a  tan  exercitado  que 
a  todos  dava  motivo  de  loar  al  Senor  ver  la  gracia  que  el 
Senor  en  esta  parte  le  avia  comunicado.  El  P.e  Simeón 
Gonçálvez  en  edad  mui  terna  conocían  todos  en  él  el  amor 
que  tenía  al  Senor  i  a  las  vertudes  en  las  quales,  dando  de 

40  si  mui  buen  odor  a  los  otros,  fue  siempre  de  dia  en  dia 
cresciendo  asta  que  el  Senor  lo  tomó  para  ministro  de  tan 
grande  oíficio. 

Elegidos  estos  dos,  el  P.e  Provincial  encomendándolos 
a  la  Divina  Providencia,  les  hechó  su  bendición  dándoles 

45  speranças  que  pasada  la  quaresma  seria  luego  con  ellos. 
Partiéronse  estos  Padres  a  Xb  [15]  de  Março  de  1561  con 
mucho  fervor  i  luego  aqel  dia  fueran  a  la  poblazón  de 
S.  Tiago,  donde  reside  el  P.e  Pero  de  a  Costa  8,  el  qual, 
por  saber  la  gracia  que  el  Senor  tiene  communyquado  al 

50  P.e  Gaspar  Lorenço  en  la  lengoa  brasílica,  le  encomendo 


(3    el]  al  ms.  ||  XI    Piius  fervore 


de  Piratininga,  toda  a  sua  actividade  de  1560  se  desenvolveu  nas  Aldeias 
da  Baía  e  de  Sergipe  de  El-Rei.  Faleceu  tuberculoso,  numa  Aldeia  da 
Baía  em  1581,  segundo  os  documentos  da  Companhia,  que  não  dão  o 
dia  nem  o  mês  (Leite,  História  1  446-447;  Aurélio  Vasconcelos  de 
Almeida,  Vida  do  primeiro  apóstolo  de  Sergipe,  Padre  Gaspar  Lourenço, 
in  Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  de  Sergipe  16  [Ara- 
caju 1951-1954]  113-225). 

7  Simeão  Gonçalves:  Diz  o  Catálogo  de  1567  «Sacerdote  escholar, 
de  28  anos,  a  13  que  entró  en  la  Companía  en  el  Brasil.  Fue  de  unos 
niíios  huérfanos  que  allá  fueron  imbiados  de  Portogal.  Studió  poco 
latín.  Sabe  la  lengua  de  los  índios.  Es  Maestro  de  Novicíos»  (Bras.j-i, 
f.  6v).  Estava  então  na  Baía.  Faleceu  em  São  Paulo  de  Piratininga  em 
Julho  de  1572  (Leite,  História  1  45). 

8  Pero  da  Costa,  de  Portela  de  Tamel  (Barcelos),  entrou  na  Com- 
panhia em  1556  com  27  anos  de  idade.  Sabia  a  língua  brasílica  e  foi 
zeloso  Missionário  dos  índios.  Faleceu  na  Baía  em  1616  (cf.  supra, 
p.  53;  Leite,  História  I  240). 


5fci.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  15()1 


399 


que  hiziese  una  prédica  [a]  aquella  gente.  Y  juntos  los  índios 
les  començó  a  hablar  de  Dios,  i  entre  otras  cosas  encomen- 
dándoles  mucho,  a  los  nuevo  casados  en  ley  de  gracia,  la 
preseverancia  y  amor  que  avían  de  tener  unos  con  los  otros. 

De  aqui  hizieron  su  camino  para  la  nueva  poblazón  de  55 
S.  Juan  en  la  qual  començaron  luego  a  exercitar  su  ofiicio, 
porque  aquel  mis  mo  dia  a  las  Ave-Marías,  estando  juntos 
algunos  índios,  ell  P.e  Gaspar  Lorenço  entro  (como  es  cos- 
tumbre)  con  voz  alta  en  la  aldeã  predicando  i  declarándo- 
les  la  causa  de  su  venida.  I  después  de  dicho  lo  que  avían  6o 
de  hazer,  se  querían  que  les  ensenasen  la  doctrina  i  íee  de 
Christo,  ellos,  cada  uno  por  si,  respondian,  a  lo  que  le  pro- 
ponían,  que  eran  mui  contentos  i  satisfechos  i  que  ansí  lo 
harían,  diziendo :   «Agora  estaremos  seguros  y  nuestros 
hijos  serán  otros;  començaremos  a  aprender  i  bibiremos  65 
mejor  de  lo  que  asta  agora  bivimos». 

3.  Començaron  luego  los  índios  a  poner  mano  a  la  igle- 
3Ía,  i,  porque  al  presente  eran  occupados  en  hazer  roças 
i  mantenimiento,  hizieron  una  de  palmas,  asta  que,  como 
ellos  dizen,  hiziesen  la  verdadera.  Acodía  la  gente  a  la  7° 
doctrina  con  tan  buena  voluntad  como  si  uviera  mucho 
tiempo  que  lo  costumbraran.  Una  vez  tocándose  a  la  doc- 
trina un  poco  tarde,  venieron  muchos  hombres  i  mugeres 
i,  porque  no  le  pareció  al  Padre  onesto  ensenarles,  les  dixo 
que  se  íuesen  con  la  paz  de  Dios  que  aqel  tiempo  no  era  75 
para  ellas,  sino  para  los  moços.  Tomáronlo  duramente  i  res- 
pondiéronle:  «Como?  No  qieres  tu  que  aprendamos?  Solos 
los  hombres  quieres  que  sepan?» 

Nesta  poblazón  ai  hi  grande  summa  de  índios,  pero  no 
estan  todos  juntos  i  portanto  no  se  manda  el  número  dei-  80 
los,  pero  son  XIII  o  XIIII  aldeãs  las  que  se  an  daaj untar 
en  una  poblazón.  Es  para  loar  al  Senor  como  se  gozan 
con  la  vida  que  se  le  propone  i  con  la  doctrina  que  se  les 
enseha.  Suelen  ellos  dezir  que  los  de  la  Compahía  son  su 


51  que]  que  hi  tns.  ||  62  ellos]  elhos  ms.  ||  74  enseõarles  post  corr.  \\  79  pobla- 
zón corr.  cx  pobalazón 


400 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


85  poçanga  9,  id  est,  la  verdadera  medicina  para  todos.  Y  en 
esto  dizen  ellos  verdad,  porque  en  sus  enfermedades  no 
tienen  ellos  otros  físicos,  i  en  lo  spiritual  muéstranle  cora- 
çón  y  entrarias  más  que  de  padre.  Ay  entre  ellos  agora  mui 
poços  que  tengan  dos  mugeres,  por  lo  que  parese  que  no 

90  avrá  mucho  trabayo  con  ellos. 

Acostumbraon  [sic]  los  que  an  sido  dolientes  dezir  a  los 
otros,  que  ven  enfermos:  «Va  a  pedir  a  Dios  salud,  porque 
yo  quando  estoi  mal  dispuesto  logo  voi  a  la  iglezia  y  pido 
al  Senor  que  me  cure  y  hállome  bien».  Así  que  provoca- 

95  dos  con  esto,  muchos  corren  a  la  iglezia  y  hincados  de 
rodillas  dizen  a  Dios:  «Padre,  sanadme,  no  me  vaia  mal, 
creo  en  Ti,  créote».  Perguntan  al  Padre  cómo  han  de  ablar 
con  Dios  quando  le  pidieren  alguna  cosa.  Y  él  los  instrúe 
y  ensena.  Tanbién  oiendo  en  la  estación  como  no  an  de 

100  trabajar  a  los  domingos  e  dias  santos,  se  avisan  unos  a 
otros  a  la  santificación  i  guarda  destos  dias.  Acontecióse 
una  vez,  iendo  un  indio  un  dia  santo  fuera,  [103V]  que 
caiese  un  paio  sobre  su  cabesa  i  lo  trato  malamente. 
Luego  començaron  todos  a  dizir:    «Este  no  qiere  tener 

105  oídos.  No  nos  dizen  a  nosotros  que  no  trabajemos  los 
dias  santos?  Pues  porque  ele  fue  fuera  oy,  que  es  dia 
santo,  por  eso  le  hirió  el  paio».  Esto  es,  mui  R.do  en 
Christo  Padre,  lo  que  pasa  antre  la  gente  anciana,  que 
tener  en  estas  cosas  tanto  d'instincto  es  mucho  para  mara- 

110  vilhar,  porque  naturalmente  no  tienen  los  spíritos  y  enten- 
dimientos  tan  delicados  como  las  otras  naciones. 

4.  Los  ninhos  que  continuan  la  doctrina  en  esta  pobla- 
zón  i  andan  en  la  escuela  son  100,  i  más  fueran,  pero  porque 
no  estan  aún  yuntas  todas  las  Aldeãs,  no  andan  más;  como 

115  se  fueren  congregando  irá  tanbién  cresciendo  el  número  de 


89  poços  ti  II  93-94  y  pido  al  post  coit:  ||  103  sobre  corr.  ex  solo  ||  106  es  eorr.  tx 
eu  ||  109    instincto]  cstincto  ms. 


9  «Medicinal  cousa:  Moçanga»  (Leonardo  do  Vale,  Vocabulá- 
rio 291);  «medicina:  Mohanga,  Pohang»  (Montoya,  Vocabulário  366). 
Cf.  Friederici,  Amerikanistisches  Wõrterbuch  422. 


58. -BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


401 


ellos.  Aprenden  mui  bien,  loado  el  Senor,  y  están  mui 
adelante  en  la  doctrina  y  buenos  costumbres.  Vienen  cada 
dia  una  vez  a  la  escuela,  adonde  se  les  ensena  la  doctrina 
y  un  diálogo  do  está  recupilado  la  «Summa  de  la  Fee»,  que 
el  P.'  Provincial 10  ordeno  i  compuso,  para  que  preguntando  120 
e  respondiendo  con  maior  facelidad  se  le  quedasse  en  la 
cabesa.  Ultra  de  la  doctrina  de  la  manana  y  de  la  tarde, 
que  es  a  todos  comúm,  tienen  estos  ninos  en  especial  otra 
a  las  Ave  Marias,  onde  juntos  ensena  uno  dellos  a  los  otros 
las  oraciones  y  diálogo.  Después  de  las  Ave  Marias  se  125 
toca  otra  vez  el  campanilla  para  que  todos  en  sus  casas 
así  hombres  i  mugeres,  ninos  i  viejos,  loen  al  Senor,  i  como 
oien  la  senal  comiesan  todos  a  dezir  las  oraciones  como  le 
está  ordenado,  que  sierto  oírlo  y  verlo  es  matéria  de  grande 
Consolación,  oiendo  al  Senor  en  tantas  partes  y  de  tantos  130 
ser  loado.  De  todo  sea  gloria  y  alabanças  a  su  Divina 
Magestad,  de  qien  como  de  fuente  se  derivan  i  manan 
todos  estos  dones  i  gracias  n. 

5.    Relatadas  algunas  cosas  en  summa,  parecióme  bien 
descender  a  algunas  en  particular  y  oífrescer  a  V.  P.  las  135 
premidas  deste  jardín,  de  qien  creio  holgará  mucho  oir 
contar  la  fructa  nueva  que  dél  se  coje.    Estava  un  indio 
en  esta  poblazón  doliente  y  ailóse  tan  mal  que  a  todos 
parecia  que  morria.  Ablóle  el  P.e  Gaspar  Lorenço  se  que- 
ria ser  christiano:  él  sequamente  respondió  que  no  queria  140 
serio.   Torno  el  Padre  a  riplicar  sobre  esto,  poniéndole 
delante  la  gloria  dei  paraíso  i  penas  dei  iníierno,  y  que 
en  mui  breve  uno:  o  se  hazía  hijo  de  Dios  y  heredero 
de  la  gloria  12  o  siervo  prepetuo  dei  diablo  i  morador  dei 
iníierno.    No  aprovechó  por  entonces  nada  pera  hazerse  145 
christiano,  pareciéndole  por  la  ventura  (cosa  mui  comúm 


iaa    y  ti  ||  133    ninos  post  corr.  ||  134    ensena]  ensenan  ms.  |  uno  corr.  ex  unos 


10  Luís  da  Grã.  Cf.  Leite,  História  11  556;  vm  285F. 

11  Cf.  Rom.  i,  5. 

12  Cf.  Rom.  8,  17. 

26 


402 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


entre  elhos)  que  con  esto  lo  matarían.  Fuese  el  Padre 
desconsolado,  avizando  todavia  a  sus  hijos  (uno  de  los 
quales  es  cathecúmino  i  otro  christiano)  a  que  mirasen 

150  por  él  i  lo  persuadiesen  a  el  baptismo.  No  poco  después 
de  él  ido,  vino  un  su  hiyo  a  llaraar  al  Padre  diziendo: 
«Ven  acudir  a  mi  padre  que  muere,  y  pide  que  lo  bapti- 
ses».  Fue  él  corriendo  i  allólo  con  un  acidiente,  i  después 
de  tornado  en  sí  le  dixo:  Si  era  verdad  que  queria  ser 

155  christiano?  Respondió  que  si  era,  i  que  queria  que  lo  bap- 
tisase.  Pues  (dixo  el  Padre)  como  me  dezías  que  no  que- 
rias? Desculpóse  el  indio  que  no  estava  en  sy,  repitiendo: 
«Si  mis  hijos  son  christianos,  como  no  qieres  tu  que  tam- 
bién  lo  sea?   Por  eso  baptízame  i  as  que  vaia  al  cielo». 

160  «No,  dezía  el  Padre  Gaspar  Lorenço,  que  tu  dizes  agora 
eso  con  el  miedo  que  te  puse  dei  infierno,  adonde  te  avían 
de  llevar  los  demónios  sino  ivas  baptisado;  si  te  viere 
mejores  muestras  y  mejor  voluntad,  io  te  baptizaré,  que 
nosotros  no  costumbramos  a  hazerlo  si  no  a  qien  lo  pide 

165  de  coraçón».  Viéndolo  ansí  el  Padre,  le  declaro  lo  que 
avia  de  crer  i  confesólo  i  moveólo  a  tener  contrición  de  su 
vida  pasada.  Hecho  esto,  tornóle  a  perguntar  el  Padre  si 
queria  que  lo  baptizase.  Díxole  el  indio:  «Já  te  dixe  mucho 
ha  que  si».  Díxole:  «Por  amor  de  qien»?  Diz:  «Por  amor 

170  de  Dios».  «Para  que»?  «Para  yr  al  cielo».  Estando  en  estas 
pláticas,  dixo:  «Baptízame  que  me  qiero  ir  de  esta  vida». 
Y  los  hijos  insta van,  diziendo:  «Padre,  baptízalo,  i  sea  de 
presto,  mira  no  muera  sin  baptismo.  Bien  ves  que  te  lo 
pide  de  buena  voluntad».    El  Padre  lo  baptisó,  y,  según 

175  me  escrivió,  con  le  azer  devoción  la  manera  con  que  pedia 
ell  baptismo,  bivió  aún,  después,  un  dia.  Loores  al  Senor, 
que  de  duros  coraçones  los  torna  blandos  i  muelles.  Murió 
llamando  por  Jesus,  ell  qual  se  enterro  con  gran  solemni- 
dad  i  procición  de  los  ninos  de  la  escuela. 

180  Otro  indio,  venido  de  tierras  mui  longes  já  mui  enfermo, 
tratava  el  Padre  de  lo  convertir  y  hazer  christiano  para 


163  mejores]  megores  ms.  ||  166  coaíesólo  y  mor  colo  corr.  Polanco  in  procuro 
moverlo 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


403 


que,  pues  estava  tan  propinquo  a  la  niuerte  moriendo  en 
Christo  regenerado,  fuese  a  gosar  de  la  vida  eterna;  pero 
aunque  él  en  esto  mucho  trabajava,  no  podia  acabar  nada 
con  él,  dado  que  le  parecia  al  indio  mui  bien  todas  las  185 
razones,  que  le  dava  el  Padre,  sino  que  quando  le  dezía  si 
queria  ir  a  ver  a  Dios,  respondia  que  aún  no,  por  la  ven- 
tura con  miedo  que  ell  baptismo  le  causase  la  muerte,  cosa 
que  los  hechizeros  o  el  diábolo  le  tiene  metido  en  la  cabesa, 
desde  el  principio  que  los  de  la  Companhia  conversan  con  190 
ellos.  No  desestía  el  Padre  de  le  ablar  de  Dios  las  vezes 
que  por  a  par  dél  pasava,  asta  que  un  dia  prepasando  por 
él  le  dixo:  «Pues  aún  no  qieres  ser  christiano?»  Respon- 
dióle  él,  já  mudado  en  otro  hombre:   «Baptísame,  que 
conosco  que  no  tiengo  de  durar  mucho».    Respondióle  él :  195 
«Para  que  te  tengo  de  baptisar?»   Dixo  el  enfermo:  «Para 
yr  al  cielo».   Respondióle  el  Padre:  «Cómo?  No  podrás  ir 
al  cielo  si  no  fueres  baptisado»  ?  «No  van  allá  sino  los  que 
fueren  christianos».  I  pedia  con  gran  instancia  i  efficacia 
que  lo  baptizasen,  diziéndole  al  Padre:  «Siéntate  i  ensé-  200 
nhame  agora  mui  bien,  porque  mi  voluntad  es  que  me 
bap[t]izes».  El  Padre  lo  ensenhó  i  provoco  a  tener  contri- 
ción  de  sus  pecados,  confesándolo 13  en  la  lengoa  brazílica 
que  me  parese  sabe  mejor  que  la  portuguesa.  Hecho  todo 
esto,  qeriéndose  despidir,  le  dixo:  «Mariana,  que  es  domingo,  205 
te  baptisaré,  porque  an  de  vir  aqui  blancos  a  oir  misa,  i 
serán  tus  padrinos.  Dixo  él  entonces:  «Allá  telo  viene  tu». 
Dexávalo  para  otro  dia  que  era  domingo,  mas  él  no  satis- 
fecho  con  [io4r]  esto,  qeriendo  según  pariese  estar  antes 
seguro  que  en  peligro  de  morir  sen  ser  christiano,  a  media  210 
noche  mandó  un  recado  que  se  aliava  mal,  que  lo  bapti- 


•03    confesándolo  en  la  lengoa  brazilica  dei.  a  Polanco 


13  «Confessándolo».  Como  se  vê  pela  narrativa,  o  índio  não  era 
ainda  baptizado  e  portanto  não  podia  haver  confissão  «sacramental». 
Por  isso,  Polanco  riscou  a  frase.  Mas  por  esta  mesma  carta  se  averi- 
gua que  os  Padres  usavam  esta  prática  pia.  E  dá  a  explicação  o  P.  Leo- 
nardo do  Vale,  infra,  carta  61  §  9. 


404 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


zase.  Fue  el  Padre  depriesa  y  allólo  aún  en  todo  su  sizo, 
y  el  indio  le  abló  mui  alegre  mostrándole  grandes  deseos 
dei  baptismo,  el  qual  baptisó  el  Padre;  y,  según  dezía,  dió 

215  el  alma  a  Dios  con  el  nombre  de  Jesus  en  la  boca. 

Adolesció  en  esta  misma  Aldeã  un  hiyo  de  un  principal, 
de  una  fiebre  mui  grande,  por  lo  que  estava  el  padre  i 
madre  mui  tristes,  puesto  que  el  Padre  los  consolava  con 
esperança  que  su  hiyo  sanarya.  Mas  ellos  en  ninguna  cosa 

220  tomavan  alegria  de  modo  que,  viendose  de  remédio  umano 
desemparados,  se  cogieron  al  devino,  levando  sus  padres  al 
hijo  a  la  iglesia  i  pediendo  de  rodillas  al  Sefior  le  desse 
salud.  Un  hermanico  deste  doliente  hablava  con  Dios : 
«Padre,  sanad  a  my  hermano,  mi  Sefior,  sanad  a  mi  her- 

225  mano»  !  Y  no  hazía  sino  importunar  que  le  tomasen  una 
limosna  que  él  traya  a  Dios  por  el  truequo  (como  ellos 
dizen)  de  la  salud  de  su  hermano.  Plugo  al  Sefior  darle  lo 
que  le  pedían,  y  ansí  es  agora  christiano  con  sus  hermanos. 
De  otros  muchos  podiera  dezir,  en  los  quales  muestra  el 

230  Sefior  las  riquesas  de  su  misericórdia,  amollentando  e 
ablandando  los  coraçones  de  aquellos,  que  les  parecia  impo- 
sible  poder  estos  convertirse;  pero  estos  abastarán. 

6.  Avia  en  esta  Aldeã  grandes  deseos  de  la  venida  dei 
P.e  Provincial  y  esperávanlo  con  grande  alvoroço,  y,  como 

235  supieron  que  se  aserquava,  era  tanta  el  alegria  i  plazer  que 
sentían  que  no  ablavan  en  otra  cosa.  Luego  los  principales 
començaron,  como  es  costumbre,  a  predicar  i  convocar  la 
gente  a  que  hiziesen  el  camino  al  Padre,  i  ansí  le  hizieron 
un  camino  de  más  de  una  legoa  y  mui  ancho.   Fueron  a 

240  agardalo  i  ivan  diziendo  por  el  camino,  hombres  que  aún 
eran  gentiles:  «Vamos  a  buscar  nuestro  Padre  que  nos  ha 
de  agora  de  ordenar  nuestras  vidas  i  apartamos  dei  camino 
dei  demónio».  Como  lo  encontraron,  lo  saludaron  con 
summa  alegria,  primeramente  la  gente  anciana,  y  después 

245  venían  los  nifios  con  sus  girnaldas  en  la  cabesa  y,  hecha 
su  reverencia,  lo  saludavan  diziendo  con  las  manos  levan- 
tadas: «Loado  sea  Jesú  Christo»!  y  el  Padre  les  hechava  su 


339    a  sup.  ||  341    nuestro  torr.  ex  nuestros 


58. -BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


405 


bendición.  A  la  entrada  de  la  población  salieron  las  ninas, 
que  sigen  la  doctrina,  para  que  también  le  diesse  su  ben- 
dición. Finalmente,  metiéronlo  en  casa  con  tanto  goso  y  250 
alegria  de  todos,  que  era  para  loar  al  Sefior  ver  tanta  mues- 
tra  de  amor  i  benevolência  en  gente  aún  no  Christiana,  i 
que  tan  poco  tiempo  con  ellos  se  tratara.  En  casa  era  tanta 
la  gente  que  acodía  a  verlo  que  no  dava  lugar  a  que  repo- 
sase.  Aqel  espacio  de  tiempo,  que  estuvo  allí,  el  P.e  Pro-  255 
vincial  se  occupó,  con  dos  Padres  lengoas,  en  examinar  y 
confessar  a  aquellos  que  se  avían  de  casar  y  baptisar,  por- 
que siempre  precede  este  exame  para  estos  sacramentos, 
maxime,  en  los  baptismos  solemnes.  Ansí  que,  aparejados 
i  hechos  los  cathesismos  con  la  solemnidad  i  serimonias  260 
acostum bradas,  baptisó  el  P.e  Provincial  desta  primera  vez 
a  163  almas  y  casó  en  lei  de  gracia  a  doze  casales,  a  los 
quales,  quando  dava  estos  sacramentos,  declarava  la  vida 
que  avían  de  tener,  encareciéndoles  mucho  los  sacramentos, 
que  ricebían,  como  tiene  de  costumbre  en  los  baptismos  265 
solemnes.  Quedaron  todos  mui  contentos  y  nel  estado  i 
orden  de  vida  que  tomaron,  i  en  él,  por  la  bondad  dei 
Sefior,  viven  mui  bien. 

7.  El  P.e  Provincial,  concluído  en  esta  Aldeã  lo  que 
convenia  para  la  salud  de  sus  ánimas,  hizo  su  viage  para  270 
la  poblazón  de  Santo  Antonyo,  y  ellos  quedaron  tan  salu- 
dosos  14  dei  Padre  que  venían  después  a  casa  i  dizían :  «Já 
se  fue!  Já  agora  todo  está  callado.  Quando  estava  aqui 
todo  estava  alegre.»  Loores  a  Christo,  pues  en  braziles  se 
alia  tanta  ternura  de  coraçón  i  tanto  sentimento  por  sus  275 
Padres  Spirituales. 

Después  de  esta  visitación  primera,  de  aí  a  poços  dias 
determino  el  P.e  Provincial  de  ir  otra  vez  a  esta  Aldeã 
para  hazer  otro  baptismo  solemne,  para  cuia  llegada,  los 


249  diesse]  diesser  ms.  ||  257  confessar  dei.  a  Polanco  ||  361  baptisó]  bapatisó 
ms.  ||  26»    163]  ciento  y  setenta  y  tres  t2  ||  264    avían]  ta  ||  379    llegada]  llegados  ms. 


14   Portuguesismo:  tradução  material  de  «saudosos». 


406  P.  ANTÓNIO  BLÁZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 

280  Padres  le  tenían  aparejado  otra  buena  mano  para  que  los 
baptisase  i  casase.  Sabido  pues  en  la  Aldeã  como  si  aser- 
cava,  saliéronlo  a  recebir  al  camino  con  el  alboroso  y  ale- 
gria acostumbrada,  y  por  el  camino  ivan  los  índios  en  su 
lengoa  cantando:  «Vamos  a  recebir  el  Padre  Lois  de  Grana, 

285  que  por  nuestra  causa  (era  entonces  tiempo  de  inverno)  no 
receia  lluvias,  ni  charcos,  ni  maios  caminos.  Holgad  todos 
con  su  venida,  pues  nos  trae  la  vida  buena».  E  neste 
comenos  de  tiempo  el  Padre  se  occupó  en  examinarlos  y 
enstruirlos  para  los  sacramentos,  y  entre  ellos  se  mostra- 

290  ron  algunos  que  con  grande  fervor  lo  desearon.  Así  que 
domingo  de  la  Trinidad  15,  precediendo  primero  los  sóli- 
tos  exercidos  y  exames  16,  baptisó  el  P.c  Provincial  desta 
segunda  vesitación  a  113  y  casó  11  casales  en  lei  de  gra- 
cia,  i  a  xxviii  en  lei  de  natura,  los  quales  por  la  bondad 

295  dei  Sehor  biven  mui  bien  y  esperamos  en  el  Senor  que  con 
su  exemplo  muevan  a  otros  a  hazer  lo  mesmo.  Y  es  cierto, 
para  loor  de  la  divina  bondad,  que  no  aviendo  mais  que 
seis  meses  que  con  ellos  se  trata,  tengan  tanto  fervor  y  se 
afficionen  tanto  a  la  lei  y  costumbres  christianos.  No  dexó 

300  el  Senor  de  dar  que  merecer  a  sus  siervos  quando  vinieron 
a  esta  poblazón,  porque  por  falta  de  harina  comían  nues- 
tros  Padres  bananas  asadas  y  milho  verde,  con  otras  men- 
goas  y  nesecidades  corporales,  las  quales  ellos  an  sufrido 
mui  alegremente. 

305  8.  Y,  porque  Vuestra  Paternidad  tenga  noticia  de  todo 
lo  que  el  Senor  obro  en  esta  coresma  de  1561,  contaré  lo 
que  succedió  en  la  otra  poblazón  que  antonces  también  se 
fundó.  [104V]  Esta  se  fundó  en  una  Isla  1?,  que  está  en 
frente  de  Baía,  serán  seis  legoas  desta  casa  allá.  Los  que 

310  para  ella  se  mandaron  fueron  el  P.e  Antonio  Perez  el 
P.e  Lois  Rodriguez,  el  Hermano  Manoel  d'Andrade  18,  el 


15  1  de  Junho  de  1561. 

16  Exames,  português:  em  espanhol,  exámenes. 

17  Ilha  de  Itaparica. 

18  Catálogo  de  1567  (Bras.  f  i,  f.  71-):  «Manuel  d'Andrade,  Sacer- 
dote escholar,  de  26  anos,  a  8  que  fue  recebido  a  la  Companía  en  el 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


407 


Hermano  Paulo  Rodriguez  19,  que  sirve  de  lengoa,  por  ser 
de  mui  terna  edad  criado  en  esta  tierra.  Luego  al  principio 
se  les  hizo  dificultoso  a  los  índios  mudarse  y  juntarse  en 
una  poblazón,  pero  agora  ya  están  todos  juntos.  Con  los  315 
que  allí  se  allaron  quando  fueran  a  aquella  Isla  se  puso 
grande  diligencia  i  fervor  en  les  ensenhar  la  doctrina,  de 
modo  que  quando  fue  la  primera  vez  el  Padre  Provincial 
a  visitarlos  alló  que  sabían,  algunos  mochachos  y  mocha- 
chas,  quasi  todo  ell  diálogo,  de  coro,  en  que  está  contenido  320 
sumariamente  la  doctrina  Christiana,  y  también  sabían  las 
oraciones  desde  el  Padre  Nuestro,  successivamente,  asta 
los  sacramentos,  que  es  una  grande  lectura,  con  no  aver 
aún  dos  meses  que  con  ellos  se  tratava.  Esta  casa  se 
llama  Santa  +  [Cruz].  El  dia  desta  fiesta,  después  que  el  335 
P.e  Provincial  visito  todas  las  otras  poblaciones  baptisando 
y  casando  mucho  número  de  índios  en  ellas,  fue  también 
allá  y  dei  primer  baptismo  solemne  que  hizo  baptizó  173 
y  caso  12  cazales  en  lei  de  gracia,  precediendo  antes  los 
cathesismos  i  solemnidad  acostumbrada  quanto  la  tierra  i  330 
su  pobresa  lo  sufre.  Andando  ell  tiempo  se  ivan  haziendo 
christianos  de  pequenha  edad  por  el  peligro  que  ai,  y  otros 
de  que  se  temia  que  moriesen  en  sus  enfermedades,  de 
modo  que  allegó  el  número  de  415,  y  muchos  más  si  tuvie- 
ron  hecho,  sino  que  fueron  avisados  que  el  P.e  Provincial  335 
detreminava  de  ir  presto  allá,  como  de  hecho  fue.  Y  están 
al  presente  aparejando  los  que  se  an  de  baptisar  y  casar,  i 
según  tengo  enformación  dei  Hermano  Manoel  d'Andrade, 
que  vino  ha  poco  de  allá  enfermo  a  se  curar,  sean  más 


339    seráu  t2 


Brasil.  Sabe  poco  latín.  Sabe  Ia  lengua  de  los  índios».  Já  não  está 
no  Cat.  de  1574. 

19  Paulo  Rodrigues  não  consta  no  Catálogo  Talvez  desdobramento 
indébito  de  P.°  feito  pelo  copista.  Porque  o  mesmo  Catálogo  de  1567 
traz  esta  indicação,  que  quadra  ao  que  diz  o  texto:  «Pero  Rodrigues, 
lego  scholar,  de  18  anos,  a  7  que  fue  admitido  en  casa,  después  a  la 
Companía.  Studia  latln».  Mas  também  este  já  não  está  no  Catálogo 
de  1574. 


408  P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LATNES 

340  de  400  los  que  entonces  se  an  de  baptizar  por  la  fiesta  de 
la  Exaltación  de  la  +  [Cruz],  que  será  de  aqui  a  Xb  [15]  dias, 
y  para  entonces  an  de  ir  todos  los  Padres  y  Hermanos  y 
también  el  Oidor  General  y  el  Obispo  que  por  su  virtud 
siempre  se  qier  aliar  presente  a  estos  baptismos  solemnes. 

345  Avrá  Xb  [15]  dias  que  fue  a  San  Pablo  i  baptisó  125  índios 
i  casó  29  casales  en  lei  de  gracia  como  en  su  lugar  dixe. 
Tornando  pues  a  propósito,  los  ninhos,  que  en  esta  poblazón 
andan  en  la  escuela,  serán  300  poco  más  o  menos,  y  entre 
ellos  ha  mui  buenas  abilidades  y  que  son  mui  diestros  en 

350  aprender  i  saber  la  doctrina.  Al  Hermano  que  los  ensefia 
tienen  mucha  reverencia  y  acatamiento  y  obediésenle  mui 
promptamente  y  no  solamente  a  los  Padres  y  Hermanos, 
mas  aún  al  merino  que  ellos  tienen,  que  el  Padre  hordenó, 
que  sirve  de  los  hazer  estar  atentos  en  la  iglesia. 

355  9.  Avia  en  esta  poblazón  un  principal  mui  antigo  y  a 
qien  los  de  la  Isla  tienen  grande  crédito,  porque  lie  llaman 
«sefior  de  la  habla»  20.  Este  tiene  un  hijo  Cristiano,  el  qual 
siempre  dió  buenas  muestras  de  si,  i  por  lo  que  un  dia 
destos  se  aconteció  se  verificó  mui  bien.   Tenía  él  una 

360  muger  enferma  a  la  qual  un  echizero  se  atrevió  a  chuparia 
una  noche  quando  todos  dormían,  lo  que  él  viendo,  hizo 
que  dormia  y  estúvolos  asechando,  e  dissimuladamente  lo 
vino  dizir  al  Padre  Antonio  Perez:  «Por  que  no  pienses 
que  hago  poco  caso  de  la  doctrina  que  me  ensenas  y  que 

365  no  soi  bon  christiano,  sabrás  que  tal  ezichero  la  noche  pas- 
sada vino  a  chupar  mi  muger,  y  no  solamente  se  alabó  de 
aver  curado  a  ella,  sino  a  otra,  diziendo:  vosostros  no  vos 
quereis  curar  comigo  sino  con  el  Padre,  pues  moriréis 


345    San]  Santa  »»s    |[  35 1    atentos  ti 


20  Os  índios  «fazem  muito  caso  entre  si,  como  os  Romanos,  de 
bons  línguas  e  lhes  chamam  senhores  da  fala,  e  um  bom  língua  acaba 
com  eles  quanto  quer  e  lhes  fazem  nas  guerras  que  matem  ou  não 
matem  e  que  vão  a  uma  parte  ou  a  outra,  e  é  senhor  da  vida  e  morte» 

(Fernão  Cardim,  Informação  da  Província  do  Brasil  para  Nosso  Padre, 
in  Cartas  de  Anchieta  [1933]  433). 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


409 


todos».  Sabido  por  el  Padre  esto,  por  que  no  se  descubriese 
que  aqel  mancebo  buen  Cristiano  lo  avia  dicho,  le  dixo  el  370 
Padre:  «Yo  haré  dei  agastado  i  te  reprehenderé  delante  de 
tu  muger  i  parientes*,  tu  súírelo  bien  que  io  por  bueno  te 
tiengo».  Quedo  él  contento,  i  fuese  el  Padre  a  sua  casa  y 
començó  a  dizierle :  «Como  en  mi  hijo,  a  que  io  tanto  queria, 
avia  de  aliar  esto  que  su  muger  la  avrán  de  curar  los  hezi-  375 
cheros»?  Y  de  aqui  tomava  occasión  de  reprehender  la  muger 
agramente,  la  qual  quedo  tan  contrita  de  la  fraterna  Bl,  que 
se  confesó,  y  al  echizero,  allándose  un  criado  dei  Governa- 
dor en  la  Isla,  lo  truxo  preso  para  la  ciudad.  Quedaron  los  de 
la  Isla  tan  atemorisados  con  esto  que  perguntando  el  Padre  380 
por  más  hechizeros,  no  ozaron  encobrirlos  i  vinieron  dos, 
uno  de  los  quales  truxo  un  ramal  de  cuentas  las  quales 
dezian  que  le  avían  dado  por  premio  para  que  matase  a 
un  hombre  con  sus  echisos.  Los  más  echizeros  quedaron 
mui  escarmentados  i  corridos  por  ver  quão  despreciados  385 
eran  de  los  Padres  los  que  tales  nombres  tenían.  Los  dos 
echizeros,  que  venieron  a  la  ciudad  presos,  después  de  ser 
sueltos,  vinieron  mui  omildes  a  ponerse  debaxo  de  la  obe- 
diência dei  Padre,  i  después  acá  no  si  ha  sabido  que  aia 
alguno  usado  publicamente  de  echisaría.  En  estremo  le  390 
tienen  acatamiento  y  respecto  al  P.e  Antonio  Perez,  y 
sabendo  que  está  anojado  de  algunas  desordenes  que 
alguna  ora  acaesen  le  vienen  de  rodillas  a  pedir  perdón 
los  que  se  allan  culpados,  cosa  mucho  para  loar  al  Senor 
en  gente  que  siempre  bivió  tan  esentamente.  395 

10.  El  P.e  Provincial  (como  já  escriví  por  otra  via  22), 
acabado  de  visitar  las  Aldeãs  por  la  Navidad,  vino  mui 


370    le]  i  le  »«s.       385    corridos  corr.  cx  coridos 


21  Cf.  Mat.  18,  15. 

22  Não  se  conhece  nenhuma  carta  de  Blázquez  depois  do  Natal 
de  1560  senão  a  presente:  mas  parece  referência  ao  que  já  dissera 
antes  nesta  mesma  carta  sobre  a  doença  do  P.  Grã,  «quartenaryo»  (§2), 
e  aqui  repete  e  explica.  Como  se  observa,  esta  secção  da  carta  é  con- 
sagrada à  actividade  do  Provincial  e  refere-se,  aqui  e  além,  a  pontos 


410 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


quebrantado  dei  trabajo  dei  camino  así  por  ser  el  mui  íra- 
goso,  y  continuando  dos  o  tres  veses  una  luego  tras  la  otra, 

400  como  también  por  ser  tiempo  de  mui  rezios  calores,  por- 
que anda  aquá  entonces  el  sol  mui  serqa  de  nos,  de  lo  que 
succedió  venir  enfermo  y  traer  unas  quartanas,  que  le 
durarón  desde  Nuestra  Sefiora  de  la  O  23  asta  la  Semana 
Santa,  no  sin  gran  pena  suia  i  desconsolación  nuestra,  por 

405  ser  Su  R.a  mui  necessário  a  cosas  y  negócios  que  sin  él  no  se 
podían  bien  efectuar.  En  este  Ínterim,  que  le  duraron  estas 
calenturas,  no  dexava  de  predicar  quando  el  tiempo  lo  rique- 
rya  y  su  enfermidad  le  dava  lugar.  E  ansí  lo  continuo 
siempre,  por  la  coresma,  los  viernes  y  domingos  alterna- 

410  tim  en  la  See  y  nuestra  [io5r]  casa,  con  mucha  satisfación 
y  gusto  de  los  oientes.  Avia  en  ellos  devoción  y  senti- 
miento,  lo  que  vereficava  las  lágrimas  que  lloravan  y 
oiendo  el  sermón  movidos  o  por  el  fervor  dei  Padre  o  por 
el  reraordimento  de  sus  conciencias.  En  esta  mesma  qua- 

415  resma,  ultra  dei  P.e  Leonardo  24,  que  siempre  se  occupava 
en  confesar  los  esclavos  y  esclavas  de  los  cristianos  que 
son  en  número  muchos,  mandava  el  P.e  Provincial,  con 
entérpetres,  a  todos  los  Padres  que  no  sabían  la  lengoa  a 
que  acodisen  a  confesar,  porque  venía  gran  muchedumbre 

420  dellos,  y  entre  ellos  era  Su  R.a  el  primero. 

11.  Llegado  el  tiempo  de  la  Semana  Santa,  determinóse 
que  se  hiziese  el  monimento  lo  más  concertado  y  devoto 
que  ser  pudiese,  y  dello  tomó  el  asumpto  hun  devoto  pla- 
tero,  que  aqel  anno  de  Lixbona  veniera,  mui  aficionado  a 

425  la  Compafiía.  Está  el  cuerpo  de  la  iglezia  cuberto  de  g[u]a- 
demesiles  y  por  encima  dellos  algunos  retablos,  frescos  y 


409  por  la  coresma  in  marg.  sin.  \\  410  See]  Cee  ms.  \\  413  fervor  t]  ;  favor  ms. 
||  414-415    Ba  esta  mesma  quaresma  /.   ||  419    muchedumbre  Í2 


anteriormente  tratados  no  decurso  desta  narrativa,  cuja  irregular  orde- 
nação parece  já  ressentir-se  da  doença  do  próprio  autor  que  a  não  pôde 
concluir. 

23  18  de  Dezembro  de  1560 

24  Leonardo  do  Vale. 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


411 


devotos,  que  hazían  la  iglezia  luzida  i  graciosa.  En  las  gra- 
des de  la  capilla  estava  um  frontespicio,  que  el  P.e  Manoel 
Álvarez  25,  yendo  para  la  índia,  hizo  para  este  effeito;  todo 
el  otro,  asi  entrambolados  como  de  arriba  asta  abaxo,  que  430 
era  una  grande  altura,  cubría  una  canterya  hecha  de  agua- 
das, con  maravilloso  primor,  no  como  lo  que  se  costumbra, 
sino  tiradas  al  próprio,  muchas  pinturas  de  diversas  cosas, 
obra  lustruosa,  e  digna  de  loor  que  le  davan.  Ensima  de 
esta  canterya,  en  lo  más  alto  de  todo,  se  parecia  una  ima-  435 
gen  de  quando  ell  Senor  oró  en  el  uorto,  a  qien  un  Angel 
oífrescía  el  cálix  de  la  Pación  26.  E  ansí  la  una  imagen 
como  la  otra  estava  onesta  y  devotamente  debuxada.  Esto 
era  lo  que  estava  por  de  fuera.  Dentro  de  la  capilla  esta- 
van  unos  arcos  de  tufos  mui  lindos  y  bien  concertados.  440 
De  aí  por  delante  se  segía  un  tabernáculo  en  el  qual 
estava  un  monte  calvaryo,  y  en  él,  hechos  al  próprio,  unos 
como  montes  de  color  de  tierra,  entrexeridas  en  ellas  gote- 
ras  de  sangre.  Corrían  por  médio  de  este  tabernáculo  unas 
figuras  de  quando  el  Senor  llevó  la  Crux  a  cuestas,  paso  445 
que  a  la  gente  movia  a  devoción  i  lágrimas;  más  a  lo  inte- 
rior, sobían  unas  gradas  en  las  quales  de  una  parte  i  otra 
en  qada  escalón  estavan  unos  Angeles  que  tenían  cada 
uno  los  pasos  de  la  Pación.  Encima  de  todo  esto,  estava 
el  Santíssimo  Sacramento  cubierto  de  un  docel  rico  en  una  450 
custodia  cubierta  de  jóias  y  cadenas  de  oro,  que  los  devo- 
tos quizeron  offirescer  para  esto. 

12.  Así  que  concertado  nuestro  monumento,  que  a  todos 
movia  a  devoción,  se  fizeron  los  officios  de  aquellos  tres27 
dias  con  el  mejor  concerto  i  orden  que  nos  supimos  aco-  455 


437  luzida  t> ;  luzidias  ms.  ||  429  yendo  corr.  ex  yndo  j|  431-432  aguadas  ti ;  augua- 
das  ms.  ||  436    uorto  corr.  ex  orto  ||  450    docel  t2  ;  dorcel  ms. 


25  Da  Baía  datou  Manuel  Álvares  a  carta,  supra,  de  4  de  Setembro 
de  1560  (carta  38). 

26  Cf.  Luc.  22,  42-43. 

27  Quarta,  quinta  e  sexta-feira  da  Semana  Santa  (2  3  e  4  de  Abril 
de  1561). 


412 


P.  ANTÓNIO  BLÁZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


raodándose  al  modo  que  se  sole  guardar  en  Portugal  quanto 
acá  se  podia  compadecer.  Siempre,  acabadas  las  tiniebras, 
avia  miserere,  diziéndolo  los  Hermanos  repartidos  en  dos 
coros  mui  pausadamente,  y  puesto  que  movese  mucho  a 

460  lágrimas  a  los  sircunstantes  aquel  roído  y  estruendo  de 
disciplinas,  no  viene  a  cuento  a  las  muchas  que  derrama- 
van  el  Jueves  Santo  en  cujo  dia,  llegada  la  ora  dei  Man- 
dato, antes  de  se  predicar,  salieron  los  Padres  i  Hermanos 
en  orden  de  dos  en  dos  con  una  Crux  delante,  y  un  Padre 

465  revestido  como  diácono,  el  qual  dixo  el  Avangello  de  aquel 
dia ;  y  llegando  a  aquel  paso  de  cepit  lavare  pedes  disci- 
pulorum28,  el  P.e  Provincial  con  mucha  umildade,  arodillado 
ante  los  Hermanos,  les  començó  a  lavar  los  pes.  En  este 
Ínterim  se  dezían  los  versículos  y  antíphonas  que  se  solen 

470  dizir  en  este  ofíicio,  lo  qual  el  uno  y  otro  hazía  mucha 
devoción,  y  religiosos  y  seculares  se  movían  y  lloravan 
muchas  lágrimas  mescladas  con  gemydos  y  soloços  que  no 
podían  ser  encubiertos;  i  no  era  mucho  que  lo  iziesen,  tra- 
ziendo  a  la  memoria  el  mistério  de  aquel  dia.  Acabado 

475  todo  esto,  fue  Su  R.a  al  púlpeto,  y  aunque  cansado,  íueron 
aquel  dia  sus  palavras  tan  dulces,  sus  amonestaciones  tan 
amorosas,  su  doctrina  tan  sobida  que  aunque  por  toda  la 
quaresma  avia  movido  a  devoción  y  lágrimas,  entonces 
eran  tantas  y  tan  descubiertas  que  no  avia  qien  pudiese 

480  repremílas.  Y  puesto  que  en  toda  la  prédica  durase  este 
sentimiento  y  compasión,  en  el  cabo  fue  más  vehemente  y 
causó  tanto  dolor  en  los  oientes  que  iva  pareciendo  aquel 
sermón  el  de  la  Passión,  en  las  lágrimas,  gemidos,  solloços 
y  sospiros,  que  davan. 

485  Con  esta  preparación,  quedo  la  gente  tan  molliíicada 
para  la  Pación  que  no  fue  necessário  preâmbulos  para  tirar 
devoción,  porque  des  que  se  comesó  asta  que  se  acabó  fue 
un  contino  lloro,  un  gimir  y  solloçar  de  modo  que  no  podían 


466    paso  ti 


28    Ioan.  13,  5 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


415 


hazélos  callar,  por  más  que  se  lo  dixessen,  tan  vehemente 
e  grande  era  su  sentimiento  y  compasión.  El  P.e  Provin-  490 
ciai,  viendo  que  unos  se  desmaiavan  y  otros  davan  tan 
grandes  gritos  que  no  avia  qien  se  oiesse,  hizo  senal  al 
Padre  Rector  Francisquo  Pirez,  que  la  predicava,  que  no 
fuese  más  por  delante.  Y  acabo  quando  el  Senor  lleva  la 
Crux  a  cuestas,  aviéndose  detenido  asta  aqel  passo  quasi  495 
tres  oras,  por  ser  necessaryo  aguardar  muchas  veses  a  que 
se  les  dispidissen  aquellos  singultos  y  ímpetos  de  lágrimas 
que  tenían. 

Finalmente,  el  monumento,  los  ofíicios  y  devoción,  con 
que  se  hazían,  yuntamente  con  el  Mandato  y  la  Pación,  fue  500 
todo  de  mucha  ediíicación  al  pueblo  y  estimula  de  devo- 
ción y  sentimiento  para  ellos  y  occasión  de  dar  gracias  al 
Senor.  El  domingo  de  la  Resurrectión,  para  que  todo  que- 
dasse bien  relatado,  hizo  el  Padre  Provincial  una  prédica 
de  suavíssima  doctryna  con  que  consolo  mucho  a  los  oientes.  505 

Acabado  todo  esto  con  tanto  gusto  y  contentamiento  de 
todos,  este  mesmo  dia  de  la  Resurresión  Su  R.a  aunque  no 
dei  todo  sano,  mas  mui  flaco  i  débil,  se  partió  a  visitar  las 
poblaciones  adonde  los  Padres  y  Hermanos  residen  y  tra- 
bajan  en  la  conversión  de  la  gentilidad,  los  quales,  sabiendo  510 
que  Su  R.a  viene  porque  sienten  que  los  índios  le  tienen 
tanta  aíición  [105V]  que  no  qieren  sino  que  él  los  baptise  i 
case,  le  ti[e]nen  aparejado  quantos  más  índios  elhos  pueden 
para  que  les  dé  estos  sacramentos. 

13.  Y  porque  Sant  Pablo  es  la  poblazón  más  cerquana  5T5 
i  más  antigoa,  i  donde  mucha  parte  dellos  son  christianos 
y  muchos  casados  en  lei  de  gracia  y  quasi  todos  en  lei  de 
natura,  íue  allá  ter  con  ellos  la  Páscoa,  adonde  estuvo  algu- 
nos  dias  con  ellos  consolándolos  y  aparejándolos  para  los 
sacramentos  que  avían  de  recebir.  Su  R.a  dió  estos  sacra-  520 
mentos  a  una  buena  summa  d'ellos. 

Concluído  aqui  en  Sant  Pablo  lo  que  era  necessário,  que 
siempre  hai  bien  que  entender  en  nuevos  christianos,  hizo 


501  todo  Is  ||  510  gentilidad  corr.  ex  gentelidad  ||  513  tanta  sup.  |  afición  corr.  ex 
afeción   j  baptise  post  corr. 


414 


P.  ANTÓNIO  BLÁZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


su  camino  para  la  poblazón  de  Santiago,  llevando  un  Padre 
525  lengoa  consigo  y  a  otro  Hermano,  que  agora  já  es  Padre 29,  y 
entonces  servia  de  intérpetre  en  las  confisiones,  y  estos 
traía  consigo  para  que  con  más  facilidad  i  brevedad  con- 
cluisen  con  las  confisiones  avyendo  más  obreros  y  minis- 
tros. En  esta  poblazón,  precediendo  prymero  las  ceremonias 
530  y  solemnidad  acostumbrada,  baptisó  el  Padre. 

De  aqui  se  partió  para  Sant  Juan,  adonde  hizieron  los 
índios  aqel  recebimiento  tan  solemne  que  ariba  dixe30,  i 
baptisó  a  ciento  y  tantos  con  grande  alvoroço  y  alegria  de 
todos. 

535  Luego  se  partió  para  la  poblazón  de  Santo  Antonio  por 
camino  mui  aspérrimo  y  lleno  de  matos,  será  de  S.  Tiago 
yornada  de  un  dia,  mas  el  camino  es  tan  fraguoso  que  bien 
podia  pasar  por  dos.  Fue  aqui  recebido  Su  R.a  con  gran 
regosiyo  de  los  índios,  porque  con  atanbores  lo  salieron  a 

540  recebir  al  camino.  Aqui  baptisó  y  casó  el  P.e  Provincial 
por  esta  vez  a  dezisiete  casales  en  lei  de  gracia,  ultra  otros 
que  se  hizieron  christianos  sin  se  casar.  Hordenó  lo  que 
convenía  en  esta  casa,  se  partió  al  Spíritu  Santo,  que  está 
de  Santo  Antonio  algunas  quatro  legoas,  y  allí  hizo  lo  que 

545  en  las  otras,  scilicet,  baptisar  i  casar  todos  los  que  para 
ello  estavan  aparejados. 

Hecha  esta  visitación  en  la  qual  se  detuvo  algún  tiempo, 
haziendo  en  este  comenos  buen  número  de  índios  christia- 
nos, ser  vicio  mui  accepto  i  agradable31  al  Senor,  se  tornó 

550  a  la  ciudad,  i  luego  en  llegando  se  queria  ambarcar  para  la 
Isla  de  Taparica  sino  se  lo  estorvaron  los  Padres  y  Her- 


526  intérpetre  corr.  ex  entérpetre  ||  527  facilidad  corr.  ex  facelidad  ||  528  avyendo 
eorr.  tx  avendo  1 1  540    y  casó  sup. 


29  O  intérprete  de  Grã  era  Gaspar  Lourenço  (supra  §  2),  mas  a 
expressão  «Irmão,  que  agora  já  é  Padre»,  parece  insinuar  já  o  nome  de 
João  Pereira,  que  se  ordenou  cedo,  antes  de  concluir  os  estudos  (Leite, 
História  11  178),  e  de  quem  fala  adiante  o  §  16. 

3°   §  6. 

31    Cf.  Rom.  12,  1. 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


415 


manos.  Pero  descansando  tres  o  quatro  dias  se  fue  para  la 
Isla  de  Taparica ;  y  la  noche  antes  que  llegasen  él  y  su 
companero  la  tuvieron  en  el  campo  en  un  tixupar32,  i  que 
son  como  allá  ramadas,  bien  desabrigados  de  Consolación  555 
umana,  porque  no  tenían  que  comer  y  el  aposento  estava 
lleno  de  gusanos  y  hormigas  que  no  los  dexavan  reposar; 
hasta  fuego  (si  bien  me  acordo)  no  alharon.  Tornando  pues 
a  my  propósito,  como  llegó  a  la  poblazón  se  occupó  en  sus 
sólitos  exercicios  ;  y  víspera33  de  la  Invención  de  la  +  [Cruz]  560 
(que  así  se  llama  esta  Casa)  hizieron  una  procesión  mui 
solemne,  llevando  los  índios  a  cuestas  una  +  [Cruz]  mui 
hermosa  y  grande  para  arborarla  en  un  monte  adonde  se 
mudó  agora  la  iglesia.  Ivan  ellos  tanendo  i  cantando  una 
folia  a  su  modo  y  de  quando  en  quando  venían  a  hazer  565 
reverencia  a  la  Crux,  que  un  Hermano  llevava.  El  otro  dia 
sigiente  baptisó  el  P.e  Provincial  a  ciento  y  setenta  y  tres, 
guardándose  el  modo  y  horden  acustumbrado. 

14.    Luego  después  de  concluído  lo  que  convenía  en  esta 
población,  se  tornó  para  la  ciudad,  y  essotro  después  que  570 
llegó  se  fue  a  la  población  de  Santiago,  y  de  aí  a  Xb 
[15]  dias  al  Spíritu  Santo  para  que  se  mudase  aquella  pobla- 
ción, porque  con  ser  el  sitio  mui  dolentío  morían  muchos 
i  mui  a  menudo.  Y  porque  en  este  comenos  me  allé  allá 
diré,  como  testigo  de  vista,  que  dia  se  hazía  que  morían  575 
ora  quatro  ora  tres,  y  lo  común  no  passava  dia  que  no 
moriesen,  de  lo  que  ellos  andavan  mui  tristes  i  desconso- 
lados viendo  tanta  mortandad  entre  ellos,  y  no  ai  que  dudar 
sino  que  era  para  quebrar  el  coraçón  de  lástima  ver  tantos 
ninhos  huérfanos,  tantas  mugeres  biudas,  y  la  dolência  y  580 
enfermedad  tan  continoa  en  ellos  que  parescía  pestilência; 
andavan  attónitos  y  como  pasmados  viendo  lo  que  por 


573    con  sup. 


3a   «Tixupar»,  cf.  supra,  carta  de  António  de  Sá,  de  13  de  Junho 
de  1559  §  2  (carta  11). 
33   2  de  Maio  de  1561. 


416 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


ellos  pasava.  No  usavan  de  sus  cantares  y  bailes,  mas  todo 
era  tristeza  y  por  la  Aldeã  no  se  oía  sino  lloros  y  gimidos 

585  por  los  defuntos.  Accodió  el  P.e  Provincial,  i  lo  primero 
que  hizo  fue  trabajar  por  le  hechar  aquella  raalencolía 
íuera,  provocándolos  a  que  holgasen  i  se  reguosijasen, 
porque  son  ellos  dados  tanto  a  imaginar  i  enbebécensse 
tanto  en  esto  que  mueren  de  pura  imaginación34.  Luego 

590  les  fue  a  buscar  sitio,  y  después  de  averse  buscado  muchos, 
se  mudo  la  población  para  uno  que  parecia  más  conveniente 
y  saludable,  adonde  por  la  bondad  dei  Senor  sesó  aquella 
mortandad.  Como  se  mudaron  para  la  poblazón  nueva,  de 
aí  a  poços  dias,  en  la  festa  de  Spíritu  Santo35,  aparejados 

595  primero  y  enstruídos  como  es  costumbre,  baptisó  el  Padre 
algunos.  De  aqui  se  partió  en  tiempo  de  grandes  lluvias 
y  tempestad,  porque  era  entonces  la  fuerça  dei  invierno, 
para  Sant  Juan,  y  ahí,  como  já  tiengo  dicho,  baptisó  desta 
segunda  vesitación  a  ciento  y  treze,  y  casó  onze  casales  en 

600  lei  de  gracia. 

Vino  pues  Su  R.*  para  casa  víspora30  de  Corpus  Christi, 
aviendo  expendido  dos  meses  en  estas  visitaciones  i  puesto 
que  con  alegria  de  spíritu,  todavia  con  trabajo  [io6r]  cor- 
poral, porque  de  quando  en  quando  le  accodía  la  febre,  e 

605  ansí  con  esta  dispociçón  hazía  sus  caminos  por  tiempo  de 
grandes  lluvias  y  rezios  calores,  no  teniendo  en  esta  parte 
quenta  consigo,  por  ser  ansí  necessaryo  para  salud  i  pro- 
vecho  de  las  ánimas  que  el  Senor  le  ha  encargado.  El  comer 
muchas  veses  era  batatas,  millo,  aipines  37,  que  son  raízes 

610  que  nacem  debaxo  de  la  tierra,  porque  en  tiempo  de  invierno 
aprovéchanse  desto  los  índios  para  su  conduto 3S  por  no  aver 


34  Disposição  dos  índios,  assinalada  já  por  Nóbrega  em  1559  (Mon. 
Bras.  1  122)  e  no  Diálogo  (ib.  II  339);  também  por  Grã  (ib.  II  137). 

35  25  de  Maio  de  1561. 

36  4  de  Junho. 

37  Aipines,  em  português  aipins,  espécie  de  mandioca,  cf.  Mon. 
Bras.  11  131. 

38  Portuguesismo:  Conduto,  o  que  habitualmente  se  come  com  pão, 
e  que  para  aqueles  índios  era  peixe;  mas  —  como  explica  —  quando  pas- 
sou o  P.  Grã  o  peixe  era  pouco,  por  ser  verão. 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


417 


entonces  tan  abundante  pesquerya  como  en  el  verano.  Desta 
vez  estuvo  Su  R.a  algunos  dias  en  esta  ciudad  por  aver  enton- 
ces venido  un  jubileo39,  el  qual  le  encomendo  ell  Obispo40 
que  lo  predicase  i  declarase  al  pueblo,  y  en  estos  dos  sema-  615 
nas  se  occupó  Su  R.a  con  los  más  Padres  de  casa  en  oir 
confisiones. 

15.  Neste  ínterim  mandó  el  P.e  Provincial  que  el  P.e  Anto- 
nio de  Sá  fuese  a  residir  en  Sa[n]to  Antonio,  y  Antonio 
Rodriguez  vinese  a  la  Ciudad  para  se  poner  en  orden  como  620 
se  fundase  otra  casa;  i  dado  que  por  una  parte  uviese  buen 
aparejo  de  los  índios  por  ellos  lo  pedir,  por  otra  no  avia 
buen  effecto  por  falta  de  los  ornamentos  y  aparejo  para 
dizir  missa,  porque  como  eran  fundadas  siete  casas  entre 
los  gentiles,  todos  se  avia  con  ellas  expendido.  I  destos  625 
ornamentos,  sepa  Vuestra  Paternidad  que  ahi  aquá  mucha 
pobresa  y  falta  de  esto,  nos  tienen  emprestado  de  la  See 
algunas  cosas,  asta  que  de  Portugal  nos  provean.  Su  Senho- 
ria con  todos  usó  con  nosotros  de  mucha  caridad,  dándonos 
un  frontal  y  una  vestimenta  de  taftá  colorada  y  un  missal  630 
y  un  retablo  mui  fresco  y  mui  rico.  También  el  Senor  Guo- 
vernador41  ajuda  a  prover  lo  que  más  faltava,  offresciéndo- 
nos  unas  cortinas  i  otras  cosas  necessaryas  para  la  funda- 
ción  de  esta  casa. 

A  estas  dos  personas  somos  en  cargo  y  devemos  mucho,  635 
por  el  favor  y  ajuda  que  dan  en  la  conversión  de  las  gentes, 
porque  cada  un  de  su  parte  da  de  si  mui  buen  exemplo  a 
los  presentes  y  a  los  que  después  de  ellos  venieren.  El 
Obispo  predica  y  reprehende  agramente  a  los  que  maltra- 
tan  y  azen  desafueros  a  los  índios,  i,  dado  que  lo  tiene  640 


615  lo  sup.  II  624  Pt  tus  sete  ||  627  See]  Cee  tns.  |]  632-633  Prius  offresceén- 
donos 


39  Cf.  supra,  doe.  43  §  r,  das  faculdades  concedidas  ao  Bispo  do 
Brasil  a  28  de  Janeiro  de  1561,  e  que  deviam  ter  chegado  à  Baía  por  este 
tempo. 

40  D.  Pedro  Leitão. 

41  Mem  de  Sá. 

s7 


418 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


tocado  por  vezes  y  afeado,  aier  42  todavia,  que  predico  en 
nuestra  casa,  se  mostro  aun  más  severo  y  áspero  contra 
estos;  ultra  de  esto  los  íue  a  crismar,  baptisar  y  casar  el 
afino  pasado  con  tiempo  de  mui  rezios  calores  y  aguora  de 

645  aqui  a  diez  dias  43  está  detreminado  de  ir  a  la  Isla  de  Tapa- 
riga  para  baptisar  y  casar  un  gran  número  de  ellos.  Eli 
Guovernador  danos  quanta  authoridade  nos  queremos  con 
los  índios,  no  queriendo  en  este  negocio  sino  lo  que  los 
Padres  quieren.   De  nuestra  parte  no  ai  más  que  apuntar 

650  y  tocar  lo  que  quieremos,  porque  logo  se  eeffectua.  Ben- 
dito sea  el  Seiior  que  después  de  tantos  annos  de  estere- 
lidad  nos  visito  con  tanta  abundância,  que  sierto  hace 
olvidar  el  tiempo  de  tanta  aflición,  y  lo  presente  nos  torna 
más  sabroso  por  aver  experimentado  lo  amargo. 

655  Es  ansí,  mui  R.do  en  Christo  Padre,  que  al  presente 
acerqa  de  la  conversión  se  corre  (como  dizen)  a  velas  des- 
plegadas,  i  no  íaltan  sino  ministros,  porque  dispocición  de 
los  índios  tenemos  quanta  queremos,  no  solo  de  los  que 
están  serqa  de  nos,  que  son  tantos  que  no  se  puede  a 

660  todos  acodir,  mas  aún  de  los  mui  longe  y  apartados  de 
nosotros.  Avrá  un  mes  que  un  índio  Principal  que  vino 
por  tierra  algunas  veiente  y  ocho  legoas  44  en  companhia 
de  un  hombre  christiano  a  esta  Baía  en  busqua  dei  P.e  Pro- 
vincial para  que  fuésemos  allá  a  edificar  casa  do  se  ense- 

665  fiasse  la  doctrina  y  fe  de  Christo.  Y,  porque  desto  diré  en 
su  lugar,  tornaré  a  mi  propósito  començado. 

16.  "Como  se  acabó  el  jubileo,  Su  R.a  torno  a  hazer  su 
camino  para  Santo  Antonio,  que  será  desta  ciudá  algunas 
onze  legoas,  para  fundar  la  otra  casa  de  Buen  Jesús;  i  por- 

670  que  entonces  era  invierno  que  commúmente  llueve,  esta- 
van  los  campos  llenos  de  agoa  y  los  arroios  ívan  mui 


6,(9  al  corr.  cx  a  65a  bace]  as  ws.  |J  653  aflición  corr.  ex  afición  |]  654  más 
corr.  tx  mais 


42  Ontem:  cf.  supra,  introdução  a  esta  carta  (da/a). 

43  Daqui  a  10  dias;  quando  redigia  o  §  6  escreveu :  «daqui  a  15  dias». 

44  Cf.  infra  §§  19  e  22. 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


419 


crecidos,  de  modo  que  mui  deficultosamente  podían  cami- 
nar,  por  ellos.  El  dia  que  partieron  de  Sant  Pablo  hizo  tan 
grande  tempestad  de  viento  y  lluvia  que  nos  pareció  a  los 
que  estávamos  en  la  ciudad  que  no  podia  ser  que  en  tal  675 
tiempo  saliesen  de  casa.  Así  que,  quando  pasaron  un  rio, 
venía  tan  cic^ido  í  pnpptnnso  que  el  indio,  que  pasava  el 
P.e  Provincial,  attoló  en  él  y  ívase  a  lo  hondo  quanto  podia, 
y,  si  no  acodiera  el  P.e  Joán  Perera43  a  Su  R  »,  Que  vi<s«<iQir» 
en  esto  periglo  entró  luego  corriendo  en  el  agoa  a  tirarlo,  680 
oviera  de  pasar  mal,  porque  no  sabia  nadar.  Y  ansín 16 
quando  a  de  pasar  estos  rios,  porque  en  ellos  no  ay  canoas, 
y  él  no  sabe  nadar,  lo  toman  los  índios  sobre  sus  cabesas 
y  desta  manera  lo  pasan.  Como  llegó  a  la  poblazón  de 
Santo  Antonyo,  lo  primero  que  hizo  fue  aparejar  a  los  685 
índios  que  avían  de  ser  baptizados.  Vinieron  a  este  bap- 
tismo muchos  índios  de  otras  partes  que  avían  sido  convi- 
dados dei  Principal  de  esta  Aldeã,  que  es  mui  afamado,  el 
qual  entonces  se  hazía  christiano.  Asta  hombres  blancos 
de  diez  legoas  venieron  con  una  folia  a  riguosijar  esta  690 
festa47.  Finalmente  domingo,  con  mucha  solemnidad,  el 
Padre  Provincial  baptisó  a  47  i  caso  en  lei  de  gracia  a 


673    Prius  para  ||  679    el  corr.  ix  al  ||  686    Prius  Venieron 


45  João  Pereira  nasceu  em  Elvas,  por  1542  e  era  dos  meninos 
órfãos  enviados  ao  Brasil.  Aos  15  anos,  em  1557,  entrou  na  Companhia, 
sabia  com  perfeição  a  língua  brasílica,  tomou  parte  em  1574  na  expedi- 
ção em  busca  de  minas  de  oiro,  levando  por  companheiro  o  Ir.  Jorge 
Velho.  Depois  da  expedição,  completou  os  estudos  e  fez  a  profissão 
solene.  Superior  nalgumas  Capitanias.  Mas  consagrou-se  especial- 
mente à  conversão  dos  índios  com  os  quais  esteve  na  defesa  de  São 
Paulo  de  Piratininga  contra  os  Tupinaquins  em  1590.  Faleceu  no  Colé- 
gio da  Baía  em  Janeiro  de  1616  (Leite,  História  11  176-178). 

46  Ansín,  isto  é,  ansí,  así  (assim). 

47  13  de  Junho  de  1561,  que  caiu  à  sexta-feira;  e  no  domingo 
seguinte  (15)  fez  os  baptismos  e  casamentos,  seguindo  com  o  P.  Antó- 
nio Rodrigues  para  o  lugar  da  futura  Aldeia  do  Bom  Jesus,  pois  este 
já  residia  nela  há  dois  meses,  quando  escreveu  a  segunda  carta  de 
Agosto  de  1561  (carta  56  §  7). 


420 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


XIX  casales,  entre  los  quales  fue  uno  [ioóv]  el  merino  de 
esta  poblazón  que  tuviera  ocho  mugeres,  y  a  todas  aparto 

695  de  sí,  quedando  casado  con  una  en  lei  de  gracia. 

Acabado  este  baptismo,  Su  R.a  se  partió  en  companía 
dei  P.e  Antonio  Rodriguez  a  luengo  de  la  costa,  camino 
mui  fragoso  y  de  matos  mui  espesso,  n«c  no  avia  qien 
buennamiente  por  él  pudiM*  rompir.  Finalmente,  después 

700  de  arer  anH^o  Poi  una  parte  y  otra,  se  asentó,  a  luengo 
de  un  rio,  en  un  sitio  mui  gracioso  y  agradable  por  ser  a 
vista  de  la  mar.  Aqui  se  quedo  el  P.e  Antonio  Rodriguez 
por  entonces  solo  y  algo  mal  dispuesto  y  con  los  pes  incha- 
dos, para  dar  principio  a  esta  casa,  por  tener  él  spicial 

705  talento  i  gracia  para  esto  i  grande  spíritu  i  fervor  para  la 
conversión  de  las  gentes.  Esta  población  está  de  la  Baía 
algunas  15  ó  16  leguoas.  El  P.e  Provincial,  ordenado  lo 
que  convenía  para  esta  casa,  hizo  la  buelta  para  Sant  Spí- 
ritus,  y  de  aí  a  la  población  de  Santiago,  donde  se  començó 

710  aparejar  para  hazer  otro  baptismo  solemne,  porque  avia  de 
dizir  missa  nueva  el  P.e  Vicente  Fernandez  48  por  dia  de 
Santiago.  Y,  porque  desto  diré  en  su  lugar,  solamente 
relataré  agora  lo  que  succedió  en  esta  nueva  poblazón  a 
que  puzieron  nombre  Buen  Jesus,  lo  qual  se  sabrá  por 

715  estas  minutas  dei  Padre  Antonio  Rodriguez  después  de  la 
partida  dei  P.e  Lois  de  Grana. 

[Carias  do  P.  António  Rodrigues:  supra,  cartas  jj  e  j6] 

17.    Después  que  el  P.e  Lois  de  Grana  llegó  a  la  pobla- 
ción de  Santiago,  luego  dió  orden  para  que  se  hiziese  un 


710    Prius  otros  baptismos  solemnes  ||  719    orden  sup.  |  hiziese  post  curr. 


48  Na  expedição  de  1559  entre  os  Irmãos  ia  um  Vicente  Mestre, 
apelido  que  não  consta  no  Catálogo  do  Brasil.  Parece  ser  o  mesmo 
que  se  vai  agora  ordenar  de  sacerdote  com  o  nome  de  Vicente  Fer- 
nandes, e  que  por  não  perseverar  na  Companhia  não  chegou  a  entrar 
no  Cat.  de  1574,  que  daria  as  suas  notas  individuais  (Leite,  Histó- 
ria 1  576). 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


421 


baptismo  solemne  en  la  misa  nueva  dei  P.e  Vicente  Fer-  72° 
nandez,  a  la  qual  se  allaron  presentes  algunos  Padres  y 
Hermanos  de  la  Ciudad  para  oficiaria,  porque  fue  de  canto 
d'órgano  con  algunas  chançonetas  y  motetes  lo  niejor  que 
se  pudo  y  supo.  La  víspera  dei  baptismo,  uno  de  los  más 
grandes  i  afamados  Principales,  que  ahi  en  esta  tierra,  tenía  725 
una  muger  con  qien  estava  casado  en  lei  de  natura;  que- 
ria pues  este  casarse  con  otra  i  dexar  esta  y  ansí  se  lo  con- 
cedían  los  Padres  no  sabiendo  la  trama  que  él  ordía,  por- 
que, como  es  astuto  y  sagás,  encobríalo  i  desimulávalo. 
Enpero,  después  que  se  descobríron  sus  enbustes  i  quedó  73° 
manifiesto  ell  negocio,  dispidiólo  el  Padre  Provincial  y 
díxole  que  no  gastase  tiempo,  porque  no  lo  avia  de  casar, 
pues  él  andava  en  aquellos  enbaraços.  Quedó  el  pobre  las- 
timado con  tan  agra  respuesta  y  vino  luego  a  la  noche  con 
muestras  de  mucha  contrición,  y  hincado  de  rodillas  delante  735 
dei  P.e  Provincial  llorava  muchas  lágrimas,  pidiendo  muy 
ahincadamente  que  lo  hiziesse  christiano  y  casasse  em  ley 
de  gracia.  Dezíale  el  Padre  que  era  un  embaydor,  tram- 
poso,  embruxador,  que  no  tenía  tiento  en  sus  cosas.  Dezía 
él  que  era  verdad  y,  que  puesto  que  tuviesse  todo  esto  y  74° 
fuesse  muy  maio,  que  él  sperava  en  Dios  que  el  baptismo 
le  avia  de  tirar  todo  aquello  y  hazerlo  otro  hombre.  El 
Padre,  viendo  que  en  un  gentil  cabían  tan  buenas  razones, 
le  respondió  que  de  las  cosas  que  una  persona  tenía  suyas 
próprias  podria  ser  liberal  y  hazer  delias  lo  que  quisiesse,  745 
pero  esto,  como  era  cosa  dei  Senor,  que  a  El  se  lo  devían 
de  pedir,  que  él  se  aconsejaría  aquella  noche  con  Dios,  y 
si  sintiesse  que  era  mayor  servicio  suyo  que  se  lo  conse- 
deria,  y  que  él  también  se  encommendasse  a  Dios.  Fuesse 
entonces  metido  aún  entre  sperança  y  temor  y  rogó  a  todos  75° 
los  Christianos,  que  avían  venido  a  esta  fiesta,  que  rogas- 
sen  al  P.e  Provincial  que  lo  hiziessen  christiano,  y  ellos 
mesmos  que  lo  encomraendassen  a  Dios  y  lo  mesmo  encom- 
mendó  el  Padre  a  los  Hermanos;  y  finalmente,  fue  julgado 


729    sagás]  segas  ms.  \\  733    pobre  ti 


422 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


755  por  capaz  de  lo  sacramento,  de  lo  que  quedó  él  en  estremo 
alegre  y  contento. 

Venido  pues  el  dia49  dei  glorioso  Apóstol  Santiago,  lo 
primero  que  se  hizo  íue  una  procissión  luego  por  la  mariana, 
estando  con  palmas  armadas  las  calles,  por  onde  truxieron 

760  el  missa  cantante  con  grande  alegria  y  regozijo  de  todos. 
Iva  una  grande  procissión  de  nifios  Indiosicos  christianos, 
ultra  otros  muchos  casados  en  ley  de  gracia  con  otra  grande 
muchedumbre  de  gentiles.  Disparavan  por  la  procissión 
tiros  despingardas  y  câmaras  por  festejar  esta  íiesta.  El 

765  Padre  missa  cantante  yva  en  médio  de  sus  padrinos,  que 
levavan  revestidas  sus  capas  muy  ricas  con  una  cruz  dorada 
delante,  y  los  Padres  y  Hermanos  cantando  algunos  mote- 
tes  y  hymnos  en  loor  dei  Senor.  Finalmente,  acabada  la 
processión  y  echos  los  cathecismos,  se  commençó  la  missa 

77°  de  canto  de  órgano  con  la  mayor  solemnidad  y  íiesta  que 
ser  pudo;  y,  estando  aparejados  los  que  avían  de  recebir 
los  sacramentos,  el  P.e  Provincial  baptizou  a  60  ou  70,  y 
casó  a  la  ofierta  en  ley  de  gracia  a  28  casales  siendo  de 
algunos  dellos  padrinos  el  Senor  Simón  de  Gama  y  Dona 

775  Lianor  su  muger,  que  comúnmente  em  estos  baptismos 
[107V]  por  su  vertud  y  bondad  se  an  alhado  praesentes, 
los  quales  no  se  artavan  de  loar  al  Senor  viendo  lo  que 
vían  ;  maxime,  quando  vieron  aquel  grande  Principal  casado 
en  ley  de  gracia  y  hecho  christiano,  levantaron  las  manos 

780  al  Cielo  loando  la  piadosa  clementia  dei  Senor.  Este  bap- 
tismo acabado,  el  Padre  con  los  más  Hermanos  se  tornaron 
a  casa  muy  alegres  y  contentes  y  contando  algunas  cosas 
de  ediíicación.  Oy  yo  una  al  P.e  Provincial  en  que  dezía 
que  queriéndose  ynformar  de  lios  nuevamente  casados  en 

785  ley  de  gracia  y,  si  no  me  engano  de  todos  los  más,  alló 
que  entre  tantos  no  avia  ninguno  que  biviesse  mal  ni  que 


760    el]  la  ms.  |  cantante  post  corr.  ||  765    cantante  fost  corr. 


49   25  de  Julho  de  1561. 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


425 


se  le  sintisse  nada  em  esta  parte.  De  todo  sea  gloria  al 
Sefior  y  alabança. 

18.    Estuvo  el  P.e  Provincial,  después  desta  venida,  em 
casa  algunos  dies  o  doze  dias,  y  luego  se  fue  a  la  población  790 
de  Sanct  Pablo  para  aparejar  otra  buena  mano  que  se  avían 
de  casar  y  hazer  christianos,  en  el  qual  baptismo  el  Seiior 
Obispo  se  avia  de  hallar  praesente.  El  qual,  después  que 
tuvo  recado,  nos  fuímos  con  él  un  domingo  por  la  mariana, 
no  queriendo  llevar  consigo  más  de  un  criado  y  dos  ninos  795 
cantores.  Sabido  en  la  población  como  el  venía,  salió  el 
P.e  Provincial  a  recebirlo  con  una  muchedumbre  de  ninos 
christianos  y  otra  mucha  de  la  población,  asím  hombres 
como  mugeres,  mostrando  todos  grande  contentamento  y 
alegria  con  su  venida.  Bezávanle  la  mano,  y,  haziéndole  el  800 
acatamento  y  reverentia  divida,  dezian:  «Loado  sea  Jesú 
Christo».  No  sé  como  encaresca  quám  bien  parecia  este 
recebimento  y  el  alvoroço  que  todos  mostravan  con  su 
venida,  y  la  afabelidad  y  benevolência  que  Su  Sefioría 
usava  con  ellos.  Como  entró  en  nuestra  yglesia  les  hechó  805 
(como  es  costumbre  de  los  Praelados)  su  bendición.  De  ay 
a  poco  se  començó  la  processión  y  el  Senor  Obispo  con  un 
Padre  nuestro  començaron  las  ledanías,  y  ansí  salimos  de 
la  yglesia  en  processión,  ellos  dos  solos  cantando  y  los 
demás  respondiendo,  cosa  que  no  sé  a  que  ojos  no  pare-  810 
ciera  bien,  ir  un  Praelado  entre  sus  ovejas  desta  manera. 
Acabada  la  processión,  Su  Sennoría  les  començó  a  hazer 
los  catecismos,  haziendo  en  pie  todas  las  serimonias  y  cor- 
riéndolos  a  todos  cada  uno  por  sí,  que  todos  estavan  en 
ilera;  ansím  que  hechos  los  cathecismos  el  P.e  Provincial  815 
començó  las  oraciones  en  la  lengua  brazílica  con  aquellos 
que  avían  de  recebir  los  sacramentos.  Hecho  esto,  Su  Sefio- 
ría baptizo  a  ciento  y  veiinte  y  a  la  oferta  casó  en  ley  de 
gracia  a  veinte  y  nueve  casales,  dando  siempre  a  todas 
estas  cosas  expediente  el  P.e  Provincial,  que  como  anda  en  820 
esto  experimentado,  embaraço  avría  se  Su  R.a  praesente  no 


787   em  3up    [|  789-790    em  casa  sup.  \\  8ia   processión  post  corr. 


424 


P.  ANTÓNIO  BLAZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


se  hallasse.  Mandó  al  P.e  Juan50,  que  aquel  dia  praedicó 
en  lengua  brazílica  a  los  índios,  que  les  encareciesse  los 
sacramentos  que  tomavan  y  tuviessen  en  mucho  avérselos 

825  querido  dar  Su  Sefíoria,  que  entre  nosotros  era  persona  de 
gran  dignidad  y  respecto.  Después  de  comer  vinieron  los 
novios  a  besar  la  mano  al  Obispo,  y  allí  les  tornó  a  hazer 
otra  plática  el  Padre51  de  como  se  avían  de  aver  dallí  por 
delante.    En  estes  sacramentos  y  baptismos,  estuvieron 

830  honestamente  vestidos,  porque  como  es  tan  cerca  de  11a 
ciudad,  enprestáronles  sus  amigos  con  que  se  ataviassen 
ellos  y  sus  mugieres.  Hecho  todo  esto,  Su  Sennoría  se  vino 
con  su  bordón  a  pie  a  la  Ciudad  en  companía  dei  P.e  Pro- 
vincial con  los  más  Padres  y  Hermanos,  muy  contentos  y 

835  satisfechos  pello  que  el  Sefíor  se  dignava  obrar  en  sus  crea- 
turas.  Loores  y  gracias  a  Su  Divina  Magestad. 

19.  Los  dias  passados,  quando  estava  el  Obispo  por  la 
coresma52  en  los  Isleos  visitando  aquella  Capitania,  hizo 
un  Principal  christiano  a  quien  puso  nombre  Anrique 

840  Luís53,  el  qual  queriéndose  ir  pera  su  tierra,  que  será  desta 
Capitania  algunas  15  legoas,  rogó  a  un  hombre  christiano, 
muy  buena  lengua  brazílica,  que  estava  casado  con  una 
india  Christiana,  zelloza  de  todos  se  convertir  a  Dios,  que 
se  fuesse  con  él  que  allá  estaria  muy  a  su  voluntad  en  su 

845  población.  Y  como  ellos  tenían  conocimento  con  nosotros 
de  la  Baya,  porque  avían  morado  en  la  población  de  Sanct 
Pablo,  enculcávanle  que  nos  viniesse  a  buscar,  de  modo  que 
un  hermano  de  este  Anrique  Luis,  indio  principal,  vino  con 
aquel  hombre  christiano  XX  y  8  [28]  legoas  a  buscar  a  esta 

850  Baya  Padres  que  íuessen  a  estar  con  ellos,  pera  que  les 


826    y  respecto  sup.  ||  827    les]  la  ms.  j|  830    Ha]  Ue  ms. 


50  João  Pereira. 

51  João  Pereira. 

52  Por  Março  de  1561. 

53  Henrique  Luís,  o  mesmo  nome  do  feitor  do  Engenho  de  Lucas 
Giraldes,  quando  ali  arribou  Rui  Pereira  (carta  45  §5).  Provàvelmente 
o  feitor  foi  o  padrinho  do  índio. 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


425 


ensenasse  la  doctrina  y  fee  de  Christo,  dado  que  por  falta 
de  no  aver  quien  los  instruísse  lo  hazía  aquella  india  Chris- 
tiana e  un  mancebo  que  por  su  devoción  les  ensennavan  la 
doctrina  en  nuestra  lenguaje,  hasta  que  el  Sefíor  mandasse 
otros  menistros.  Quando  este  Principal  vino  a  esta  Baya,  855 
el  Padre  Provincial  avia  ido  de  aqui  algunas  quinze  legoas 
a  fundar  la  población  dei  Buen  Jesus54.  Como  llegó,  jun- 
tándose  su  fervor  y  zello  con  la  voluntad  y  deseos  dei 
Obispo  [io8r]  y  Governador,  que  en  estremo  estavan  muy 
codiciosos  que  se  pusiessen  en  effecto  esta  empressa,  no  860 
uvo  dilación  en  el  negocio,  porque  luego  se  partió  el  P.e  Luís 
da  Grana  en  companía  de  dos  Padres,  uno  dellos  muy  buena 
lengua  brazilica55;  asín  que  partieron  daqui  miércoles,  y 
aquella  noche,  por  no  poder  chegar56  a  la  población  de 
Santa  -f-  [Cruz]  do  residen  los  nuestros,  a  falta  de  mejores  865 
camas,  dormieron  en  el  mato,  en  el  suelo,  con  buena  ham- 
bre  corporal;  essotro  dia  reposando,  con  los  Hermanos,  al 
dia  seguinte  luego  hizo  su  viaje  el  P.e  Provincial,  yendo  él 
a  pee,  y  todos  los  demás  que  yvan  en  su  compania;  y  como 
el  Seííor  es  amigo  de  dar  en  que  merecer  a  los  que  se  870 
occupan  en  su  servicio,  después  dei  cansansio  de  aqueste 
dia  que  lo  anduvieron  por  la  praya,  que  suele  mucho  que- 
brantar el  cuerpo,  no  hallando  donde  se  alvergar,  les  fue 
necessário  dormir  al  sereno  en  el  mato.  Y  a  la  media 
noche,  después  de  vasiar  la  mareya,  passaron  por  un  rio,  875 
que  les  dava  polia  cintura,  y  ansím,  pensando  de  hallar 
algún  gazallado,  anduvieron  mucha  parte  de  la  noche  sin 
poder  hallar  a  do  descansassen,  y  haziendo  muy  escuro 
passaron  aquesta  mesma  una  muy  honda  laguna  y  de 
grande  trecho.  880 
20.    Finalmente,  a  essotro  dia  llegaron  a  una  población 


863    lengua  sup.  ||  875    mareya  coir.  ex  marcna 


54  Cf.  supra  §  16. 

55  João  Pereira,  que  se  declara  nominalmente  no  §  21. 

56  Chegar,  português. 


426 


P.  ANTÓNIO  BLÁZQUEZ  -  P.  DIEGO  LAYNES 


de  índios,  que  se  lhama  Tinharé  5T,  los  quales  sabían  que 
avia  de  venir  el  Padre.  Estos  todos  hizieron  mucho  aco- 
giraento  al  Padre  diziendo  que  donde  quisiesse  Su  R.a 

885  juntar  población  que  allí  muy  promptamente  se  muda- 
rían.  De  aqui  por  delante  halló  el  P.e  Provincial  a  gente 
tam  abalada  que  los  mesmos  Principales  se  yvan  con  él. 
No  avia  en  ellos  contradición  ni  resistência,  porque  luego, 
como  se  les  proponía  lo  que  era  conveniente  para  ellos,  lo 

890  abraçavan  y  mostravan  voluntad  a  ponerlo  por  obra. 
Ensefiava  el  P.e  Provincial  la  doctrina  y  diálogo  en  len- 
gua  brasílica  en  algunas  Aldeãs,  de  lo  que  todos,  asím 
los  que  llevava  en  su  compafiía  como  los  otros,  holgavan 
mucho;  mas  estos  por  la  novedad  de  la  cosa,  quedavan 

895  muy  maravilhados  viendo  en  su  lengua  alabar  y  glorificar 
a  Dios,  cosa  a  ellos  hasta  entonces  insólita  y  no  conocida. 

21.  Llevava  el  P.e  Provincial  un  mancebo  christiano 
de  la  Isla  de  Taparica,  muy  buen  hijo,  y  que  siempre  dió 
muestras  desde  su  conversión  de  muy  buen  christiano. 

900  Este  tema  cuydado,  por  las  Aldeãs  a  do  llegava,  predicar 
y  convocar  a  la  doctrina.  Este  dezía  cosas  tan  santas  y 
tan  buenas  dei  Sefior,  que  el  Spíritu  Sancto  le  ensenava, 
que,  deziendo  el  P.e  Provincial  al  P.e  Juan  Perera  que 
dixesse  a  los  índios  tales  y  tales  cosas,  respondia  él  que 

9°5  no  era  necessário,  porque  Francisco  (assim  se  lhama  este 
índio)  se  lo  tenía  ja  declarado,  y  que  él  no  hazía  mengua. 
Espantávasse  el  Padre  y  dezía,  maravillándose  de  sus 
buenas  costumbres,  que  era  un  sancto.  Entre  otras  cosas, 
que  le  praedicava,  era  que  dexassen  sus  costumbres  y 

910  aborreciessen  los  vicios  de  sus  antepassados,  diziéndoles 
que  por  él  avia  passado  aquellas  vanidades,  y  que  tam- 
bién  se  preciara  de  traher  una  pedra  en  el  beço  58,  y  que 
enfín,  todo  era  borlaría  y  engano  dei  demónio,  sino  ser 


885    promptamente  dei.  que  al II 


57  Aldeia  de  índios  em  frente  da  Ilha  de  Tinharé,  nome  este  que 
se  conserva  na  nomenclatura  moderna  ao  sul  da  Cidade  da  Baía. 

58  Tembetá.  Cf.  Mon.  Bras.  I  140. 


58.  -  BAÍA  1  DE  SETEMBRO  DE  1561 


427 


hijos  de  Dios  y  discípulos  de  los  Padres,  que  ensenavan 
el  camino  verdadero,  con  otras  cosas  en  este  sentido,  que  9*5 
por  evitar  prolexidad  las  dexo,  loando  empero  el  Sefior  que 
siempre  tiene  por  su  Divina  Providentia  guardado  quien 
salga  por  su  honrra  aún  en  aquellos  que  menos  se  spera. 

22.  Tornando  pues  a  mi  propósito,  después  de  aver 
passados  muchos  rios  muy  caudalosos,  y  maxime  uno  de  920 
una  legoa  en  ancho  en  unos  paios,  atados  unos  con  otros, 
que  quá  llaman  janguadas,  llegaron  a  aquella  población  a 
do  yvan  destinados,  que  es  de  esta  Baya  XX  y  8  [28]  legoas, 
y  por  mar  17.  Fue  grande  el  avoroço  que  tuvieron  con  su 
venida,  y  saliéronle  todos  a  recebir  al  camino  con  mues-  925 
tras  de  grande  alegria  y  plazer.  Teníanle  limpio  y  hecho 
el  camino  por  do  avia  de  passar,  y  concertados  con  puen- 
tes  los  maios  passos.  Después  de  el  P.e  Provincial  le  aver 
declarado  la  causa  de  su  venida,  que  no  era  otra  sino  con- 
dolerse  de  tanta  perdición,  y  como  todos  yvan  a  los  infier-  93° 
nos  los  que  no  morían  baptizados,  mandó  llamar  los  Prin- 
cipales,  los  quales  vinieron  y  se  concerto  con  ellos  que  se 
mudasse  la  población  a  otro  citio,  por  aquél  no  ser  tan 
cómmodo,  aviéndose  de  ajuntar  otras  poblaciones. 

Buscando  el  sitio  y  designado  donde  se  avia  de  edificar  935 
la  Yglesia,  el  Padre  se  despidió  de  ellos,  casando  primero 
Anrique  Luiz  en  ley  de  gracia  con  su  muger.  Ellos  viendo 
que  por  entonces  no  quedava  [i8ov]  allá  Padre,  importuna- 
van  mucho  al  Padre  que  les  dexasse  luego  allá  al  P.e  Juan 
Pyre)'ra.  Y  el  Padre  les  dixe  que,  como  ellos  estuviessen  94° 
juntos,  que  nos  desse  aviso  que  logo  seria  con  nosotros. 
Finalmente,  aquel  Principal,  que  vino  en  busca  de  noso- 
tros, se  offreció  de  tornar  otra  vez  en  busca  de  nosotros 
como  fuessen  juntos. 

Esta  carta  de  acima  hé  do  P.e  Antonio  Blasquez  e  non  945 
a  pude  acabar  por  adoecer  y  acaboua  por  elle  o  P.e  Leo- 
nardo, que  hé  a  que  se  segue  nesta  folha  59. 


921    legoa  corr.  ex  lengoa  ||  922    quá  corr.  ex  aquá  ||  928    le]  se  tns. 


59   Infra,  carta  61. 


428 


P.  LUÍS  DA  GRÃ  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


59 

DO  P.  LUÍS  DA  GRÃ 
AO  P.  MIGUEL  DE  TORRES,  LISBOA 

BAlA  22  DE  SETEMBRO  DE  1561 

I.  Bibliografia:  Catalogo  dos  Manuscriptos  I  28;  Cimèlios  496; 
Sommervogel  111  1666  n.  ij  Rivière  487;  Leite,  História  viu  284  n.  6. 

II.    Autores:   Leite,  História  I  26  44;  II  89  153  321  425. 

III.  Texto:  1.  ARSI,  Bras.  ij,  f.  ii2r-ii2v  [antes,  riscados  f.  ior- 
-iov,  96r-96v].  Título:  «-|-  Copia  de  alguns  capítulos  de  huma  carta  do 
P.e  Luis  da  Grãa  pera  o  P.e  Doctor  Torres  de  22  de  Setembro  de  1561. 
Recebida  [em  Lisboa]  a  5  de  Março  de  1562».  Apógrafo  em  português. 

2.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S  Roque,  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  f.  115V.  Apógrafo  em  português. 

IV.  Impressão:  Nuovi  Avisi  delle  Indie  di  Portogallo.  Quarta  Parte 
(Veneza  1565)  i8ov-i82r;  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  291-293. 

V.  História  da  Impressão:  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução  ita- 
liana do  texto  1 ;  Cartas  o  texto  2. 

VI.   Edição:   Edita-se  o  texto  1  (Bras.  ij). 

Textus 

1.  Commercium  litterarum.  —  2.  Pax  regnaf,  fructus  conversionis 
apparet,  et  non  tantum  Paires  S.  I.,  sed  etiam  omnes  Lusitani  petutit  ut 
plures  Patres  veniant  in  Brasiliam.  —  3.  Unusquisque  venturus  Pater 
curam  habebit  mille  animarum.  —  4.  Et  sic  brevi  tempore  ad  Pernambu- 
cum  perveniendum  erit.  —  5.  Idem  fit  in  Praefectura  «Ilhéus»  quae  ad 
Regem  pertinere  debebat.  —  6.  Desuni  supellectilia  ad  novas  ecclesias  eri- 
getidas,  cálices,  arae  petrae,  tabula e  pictae,  vestes  sacrae,  ele.  —  7.  De 
Nóbrega  nihil  scitur,  deficiente  navi;  alii  S.  I.  sunt  in  Praefecturis  Spi- 
ritus  Sancti  et  Peniambuci.  —  8.  In  Collegio  Bahiae  non  sunt  pueri 
externi  nisi  ad  legendum  et  scribendum.  —  9.  E  Portugália  debebant 
mitti  iuvenes  ad  Societatem,  qui  hic,  dum  exspectarent,  linguam  brasili- 
cam  discerent.  —  10.    Hucusque  non  locutus  est  Indis  de  decimis  solveu- 


59. -BAÍA  22  DE  SETEMBRO  DE  1561 


429 


dis.  —  11.  Cives  cuphbant  habere  iuvenes  et  puellas  Indorum  ad  laboran- 
dum  pro  mercede,  sed  Gubernator  negavit.  —  12.  Corruit  ecclesia  Bahiae, 
Gubernaíor  aliam  vult  petra  et  calce  aedificare.  —  13.  Gubernator,  Epis- 
COpUS  et  PraefectUS  luris  Omnes  favcrtt  opei  i  convorsianis.  -  -  14.  Morbi 
Patris  Blásques  aliorumque. 

A  graça  e  amor  de  Christo  Jesu  seja  sempre  em  nossas 
almas. 

1.  Porque  pella  armada,  e  depois  pella  caravella  1  que 
veo  a  este  Engenho  d'Antonio  Cardoso  que  Deos  aja,  escre- 
vemos largamente  o  successo  das  cousas  desta  terra,  e  agora  5 
também  o  escreve  o  P.e  Antonio  Blásquez,  não  farey  nesta 
mais  que  apontar  a  V.  R.a  algumas  cousas,  porque  das  mais 
sobre  que  escrevi 2  esperamos  por  reposta  na  armada  que  se 
espera. 

2.  Esta  terra  está  em  tanta  paz  que  não  se  pode  mais  10 
imaginar,  e  com  isso  enxerga-sse  tanto  o  fruito,  que  se 
nella  faz  acerca  da  conversão,  que,  com  termos  sete  Igrejas 
feitas  em  sete  povoaçõis  muyto  grandes,  hé  tanto  o  reque- 
rimento que  os  índios  fazem  por  Padres  que  os  vão  doctri- 
nar,  que  não  somentes  a  nós  mas  a  todos  os  Portugeses  15 
faz  desejar  e  pedir  ao  Senhor  que  inspire  em  V.  R.a  que 
nos  mande  quem  nos  ajude;  e  assi,  com  os  que  quá  são, 
ando  buscando  todos  os  meios  que  posso  pera  remediar 
tam  santa  fome  como  esta  gente  tem  de  pão  spiritual. 

E,  com  atenças  e  esperanças  de  nos  V.  R.a  soccorrer,  acei-  20 
taremos  agora  4  povoaçõis  que  virão  negoceadas  pera 
quando,  em  boa  hora,  chegarem  os  Padres  e  Yrmâos. 


II    o  sup.  II  aa    em  boa  hora]  embora  ms. 


1  Francisco  Pires  diz  (carta  15  §  5)  que  a  21  de  Julho  desse  ano 
entrou  «numa  caravela,  que  vinha  pera  a  fazenda  de  Antonio  Cardoso 
que  Deus  tem».  A  expressão  idêntica  parece  indicar  que  se  trata  de 
cartas  antigas,  que  se  teriam  perdido;  mas  a  resposta,  que  espera  e  a 
que  alude  no  fim  do  §,  indica  também  que  não  se  tratava  de  meras 
cartas  de  notícias. 

2  Cartas  perdidas. 


430 


P.  LUÍS  DA  GRÃ  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


3.  E  lembro  a  V.  R.a  que  [a]  cada  Padre  e  Yrmão  que  de 
lá  vier,  misturando-os  com  os  que  quá  andão,  se  a-de 

25  entregar  huma  povoação  que  ao  menos  passe  de  mil 
almas,  porque  algumas  chegão  quã  a  duas  mil  almas,  que 
com  a  multiplicação  delias  virão  a  ser  muytas  mais. 

4.  E  se  ahí  ou  vera  Padres  em  abastança,  bem  podera- 
mos  esperar  de  chegar  muy  cedo  a  Pernambuco,  porque 

30  sós  os  que  matarão  o  Bispo  passado  3  estão  no  meio,  que 
muy  facilmente  se  tirarião  dali. 

5.  E  para  a  banda  dos  Ilheos  não  há  duvida,  porque 
eu  venho  agora  de  ver  tres  sitios  pera  3  Igrejas,  que  o  der- 
radeyro  está  30  léguas,  escontra  os  Ilheos,  porque  aynda 

35  que  por  mar  são  30  da  Baya  aos  Ilheos,  por  terra  hé 
dobrado  caminho.  E  assi,  desejão  os  daquella  comarca 
Padres  em  sua  terra  como  se  todo  seu  seguro  tiverão 
posto  nelles:  está  ella  muy  perdida  com  vexaçõis  que  lhe 
fazem  os  que  andão  a  resgatar  que  parece  que  fora  grande 

40  serviço  de  Deos  ser  a  Capitania  dos  Ilheos  também  de 
Sua  Alteza. 

6.  Está  esta  casa  tão  falta  de  cousas  necessárias  pera 
fundar  Igrejas,  que  nem  cálices,  nem  pedras  d'aras,  nem 
retavolos,  nem  missais,  nem  vestimenta  frontal,  toalha,  etc, 

45  temos.  V.  R.a  por  amor  do  Senhor  nos  faça  aver  alguma 
esmola  destas  cousas  4. 

7.  Do  P.c  Nóbrega,  depois  que  me  delle  apartei 5,  não 
tive  mais  novas  nem  ouve  navio.  Os  do  Spiritu  Santo  bem 
estão  e  o  ensino  do  gentio  ali  vay  muy  to  em  crecimento. 

50  Em  Pernambuco  está  o  P.e  Ruy  Pereira  com  outro  Padre6. 

8.  Aqui  na  Baya  estou  sustentando  Collegio  ou  seu 
nome,  pera  que  com  este  titulo  termos  o  que  sem  elle  não 
podiamos  ter,  porque  de  fora  não  há  moços  da  terra  que 
aprendão  senão  hé  a  ler  e  escrever. 


3  D.  Pedro  Fernandes. 

4  Cf.  infra,  carta  69  (envio  de  objectos  de  Portugal  para  o  Brasil). 

5  Nóbrega  residia  na  Capitania  de  S.  Vicente,  da  qual  o  P.  Grã  saiu 
para  a  Bala  no  segundo  trimestre  de  1560. 

6  Gonçalo  de  Oliveira. 


59.  -  BAÍA  22  UE  SETEMBRO  DE  1561 


451 


9.  Esperamos  que  V.  R.*  nos  mande  muytos  moços  de  55 
partes  convenientes  pera  averem  de  ser  da  Companhia  que, 
entretanto  que  o  não  forem,  aprendão  a  lingua  e  sejão  conhe- 
cidos dos  Yndios,  que  íolgão  muyto  com  aquelles  que  com 
elles  se  crião,  e  a  estes  são  afeiçoados  e  lhes  tem  credito. 

10.  Mande-me  V7.  R.*  dizer  como  nos  averemos  com  60 
estes  índios  acerca  dos  dizimos  que  ategora  lhe  não  temos 
dado  disso  noticia,  mas  dizen-me  que  os  rendeiros  lha 
começão  a  dar;  parece  que  Sua  Alteza  lhos  avia  de  dar 
pello  tempo  que  parecesse. 

11.  Estes  dias  passados  tiverão  os  moradores  grande  65 
requerimento  com  o  Governador  sobre  os  índios,  querendo 
que  o  juiz  dos  órfãos  desse  de  soldada  os  moços  e  moças 
orfans  e  outros  pedião  também  os  casados.  O  Governa- 
dor teve  mão  nisso,  porque  o  que  vir  ser  serviço  de  Deos 
[h]á-o  de  sostentar  com  o  zello  que  tem  da  vertude ;  ver-  7° 
dadeyramente  que  hé  muy  fiel  no  serviço  de  Deos  e  gran- 
díssimo atalhador  aos  males  que  se  hordenão  na  terra,  e 
sabido  quão  maos  christãos  são  os  escravos  dos  brancos 

e  a  pouca  doutrina  que  em  sua  casa  tem. 

12.  O  Governador  tomou  por  sua  devação  fazer-nos  a  75 
Igresia,  que  averá  sete  annos  que  hé  começada  sem  nun- 
qua  se  poder  acabar,  até  que  cayó  por  ser  de  taypa  7.  E  a 
que  agora  faz  hé  de  pedra  e  cal,  e  detremina  de  a  fazer 
muy  grande  s. 

13.  Em  tudo  lhe  devemos  muyto  e,  por  bondade  do  80 
Senhor,  o  Governador,  Bispo  9  e  Ouvidor  10  temos  muy  favo- 
ráveis a  tudo  o  que  nos  hé  necessário  pera  favor  da  conversão. 


8a    conversão  dei.  esta 


7  Cf.  Mon.  Bras.  11  144. 

8  Diz  o  Governador  Mem  de  Sá:  «Fiz  a  Igreija  do  Moesteiro  de 
Jhesu,  de  huma  navee,  mas  casi  da  compridão  da  See,  o  quee  fiz  à 
minha  custaa;  hé  de  pedra  e  call  e  forrada»  {Instrumento  132;  cf.  Leite, 
História  I  25-26). 

9  D.  Pedro  Leitão. 
10    Brás  Fragoso. 


432 


P.  LUÍS  DA  GRÃ  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


14.    O  P.  Antonio  Blasques  está  ao  presente  muy  ao 
cabo,  e  temo  que  vá  por  diante  sua  doença.  Outros  tam- 

85  bem  estão  mal  despostos.  Os  demais  estão  bem,  e  certo 
que  com  asaz  de  trabalho,  que  elles  padescem  muy  alegre- 
mente, ajudam  cada  hum  por  sua  parte.  V.  R.a  nos  faça 
encomendar  em  as  oraçõis  dos  Padres  e  Yrmãos  e  nos 
lance  sua  benção. 

90      Deste  Collegio  de  Jesu  da  Cidade  do  Salvador,  Baya 
de  Todolos  Santos,  oje  22  de  Setembro  de  1561. 
Inutilissimo  filho  de  V.  R.a11, 

Luys  de  Grana. 


CARTAS  PERDIDAS 


59a-b  Do  P.  Luis  da  Grã  para  os  Padres  e  Irmãos  de  Portugal  (Bafa, 
22  de  Setembro  de  1561).  «E  pollos  muvtos  negoceos,  que  tinha  estes 
dias,  [Grã]  tomava  a  noite  pera  escrever  as  cartas,  que  esta  nao  avia 
de  levar,  porque  lhe  dava  ella  também  seu  pedaço  de  trabalho  por 
estar  já  de  verga  d'alto,  e  elle  não  poder  satisfazer  com  cartas  aos 
Padres  e  Yrmãos  desse  Reyno»,  —  escreve  Leonardo  do  Vale,  a  23  de 
Setembro  de  T561  §  15  (carta  61).  Só  se  conhece  a  carta  de  22  de 
Setembro.  E  ainda  que  o  P.  Luís  da  Grã  não  pudesse  escrever  todas 
as  que  desejaria,  o  texto  fala  de  «cartas  que  esta  nao  avia  de  levar». 


11  Os  termos  desta  cláusula  («filho»)  e  o  assunto  da  carta  ainda 
supõem  o  P.  Torres  Provincial  de  Portugal,  e,  portanto,  com  alguma 
superintendência  sobre  a  Província  do  Brasil;  mas  por  esse  tempo 
sucedia  ao  P.  Miguel  de  Torres,  como  Provincial  de  Portugal,  o  P.Gon- 
çalo Vaz  de  Melo  {Epp.  Nadal  I  534-535). 


60.  -LISBOA  22  DE  SETEMBRO  DE  1561 


453 


60 

DO  IR.  JOÃO  FERNANDES 
POR  COMISSÃO  DO  P.  MIGUEL  DE  TORRES 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

LISBOA  22  DE  SETEMBRO  DE  1561 

I.  Texto:  ARSI,  Lus.  6i,  ff.  36r-4.1v  [antes  ff.  i6r-2ir].  Endereço: 
«Jesus.  Al  muy  Reverendo  Padre  Nuestro  en  Christo  el  P  e  M.te  Diego 
Laynes  Prepósito  General  de  la  Companía  de  Jesus  en  Roma».  Outra 
letra:  «1561.  De  Lisbona,  volgar,  de  22  Settembre».  Parece  autógrafo. 
Em  espanhol. 

II.    Impressão:   Litt.  Quadr.  VII  (Roma  1932)  559-571. 

III.   Edição:   Reimprime-se,  por  Lus.  61,  o  que  toca  ao  Brasil. 

Textus 

7.  Indi  bene  dispositi  sunt  ad  conversionem  eo  quod  eos  cogant  ad 
pagos  /adendos.  —  2.  Ideo  Rex  Portugaliae  ex  officio  coronae  vult  fun- 
dare  in  Brasília  quattuor  Collegia,  scilicet,  Bahiae,  Pernambuci,  «Ilhéus», 
et,  ut  videtur,  in  Praefectura  S.  Vincentii. 

[...] 

1.  Por  la  disposición  que  el  Guovernador  dei  Brasil  y 
nuestros  Padres  de  alhá  escrevieron  este  anno  l,  paresce 
quizo  N.  Senor  abrir  el  caraino  de  la  converción  de  tanta 
gentilidad  al  conoscimiento  de  su  Criador:  Iam  completis 
iniquitatibus  Amorrhaeorum  2.   Y  ansí  dan  cuenta  dei  apa- 


5    Amorrhaeorum]  Morrahaeorum  tns. 


1  Quer  falar  não  das  cartas  escritas  no  Brasil  este  ano,  mas  rece- 
bidas em  Portugal  neste  ano,  e  mais  particularmente  das  escritas  em 
Setembro  e  Outubro  de  1560,  de  Rui  Pereira  e  António  Pires  (car- 
tas 40  41). 

2  Gen.  15,  16. 

28 


434 


IR.  JOÃO  FERNANDES  -  P.  DIEGO  LAYNES 


rejo  que  para  esso  hay,  como  fue  sujectaren  los  gentiles  y 
hazerlos  vivir  junctos. 

2.    Y  con  estas  buenas  nuevas  quiere  Su  Alteza  fundar 
y  dotar  quatro  Collegios  en  aquellas  partes,  por  ser  tam- 

10  bién  esta  región  de  la  obligación  de  la  Corona,  y  en  esto 
se  muestra  tan  liberal,  quanto  se  huelgua  con  las  buenas 
nuevas  que  de  la  christiandad  le  dizen.  Uno  dellos  en  la 
Baya,  metropolitana  ciudad,  otro  en  Pernambuco,  el  otro 
en  la  Capitania  de  los  Ilheos,  el  quarto  ahún  no  está  deter- 

15  minado  donde  se  hará,  pêro  paresce  se  fundará  en  la  Capi- 
tania de  Sancto  Vincente3.  En  el  primer  quiere  que  esten 
sesienta  personas,  en  los  otros  tres,  treinta  en  cada  uno; 
penssamos  que  se  dotarán  todos  de  las  redízimas  de  aquel- 
las tierras,  y  espérasse  con  la  gratia  dei  Senor  que  se  ha 

20  de  hazer  mui  gran  fructo. 
[...] 

[4ir]    De  Lisbonna  a  los  22  de  Setiembre  de  1561. 
Por  commissión  dei  P.e  Doctor  Torres. 
Hijo  indigno  de  V.  P., 

Joán  Hernandez  4. 


n    huelgua  corr.  tx  huelguan  ||  ia    le  corr.  *x  les 


3  Destes  4  Colégios  anunciados,  fundaram-se,  isto  é,  dotaram-se 
por  El-Rei,  os  dois  primeiros,  o  da  Baía  (1564),  o  de  Pernambuco  (1576), 
e  o  quarto,  que  veio  a  fundar-se  na  Cidade  do  Rio  de  Janeiro  (1568) 
(Leite,  História  1  468  539 -540  545-547)-  O  terceiro,  de  Ilhéus,  não  se 
chegou  a  fundar,  por  a  Capitania  prosperar  menos  do  que  se  esperava 
em  1561,  e  ficar  muito  próxima  da  Baía. 

4  O  Ir.  João  Fernandes  era  sotoministro  na  Casa  de  Lisboa 
em  1559  (Lus.  43-1,  f.  i4r)  e  em  1561 ;  e  nas  respostas  ao  Exame  do 
P.  Nadal  (ill  363  364),  diz  que  é  da  cidade  de  Lamego  (Litt.  Quadr.  vn 
571).  Nadal  mandou  que  se  ocupasse  dos  negócios  de  S.  Fins  (Eftfi. 
Nadal  I  629),  e  deles  de  facto,  depois  de  ordenado  Padre,  se  ocupou 
João  Fernandes  algum  tempo  (ib.  690). 


61.  -  BAÍA  25  DE  SETEMBRO  DE  1561  455 


61 

DO  P.  LEONARDO  DO  VALE 
POR  COMISSÃO  DO  P.  LUÍS  DA  GRÃ 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

BAÍA  25  DE  SETEMBRO  DE  1561 

I.    Bibliografia:    Catalogo  dos  Manuscriptos  I  28;  Cimélios  496; 
Leite,  História  IX  169  n.  1. 

II.  Autores:  Vasconcelos,  Chronica,  liv.  11  d.  105;  Leite,  His- 
tória n  57  58  276. 

III.  Texto:  1.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque, 
Lisboa]  1-5,  2,  38,  ff.  inv-ii5r.  Título:  «Esta  carta  que  se  segue  hé  fim 
da  precedente  que  não  a  pode  acabar  o  Padre  Antonio  Blasquez».  No 
fim  da  precedente  [inr]:  «Esta  carta  de  acima  [supra,  carta  58]  hé  do 
P.e  Antonio  Blázquez  e  non  a  pode  acabar  por  adoecer,  e  acabou-a  por 
elle  o  Padre  Leonardo,  que  hé  a  que  se  segue  nesta  folha».  Apógrafo 
coevo  em  português,  mais  acurado. 

2.  ARSI,  Bras.  ij,  ff.  io8v-niv  [antes,  riscados,  ff.  6V-9V;  92V-95V]. 
Tanto  neste  texto  2,  como  no  texto  1,  vem  no  fim,  expresso,  o  nome  de 
Leonardo.   Apógrafo  coevo  em  português  (no  aparato:  I2). 

IV.  Impressão:  Nuovi  Avisi  delle  Indie  di  Portogallo.  Quarta 
Parte  (Veneza  1565)  i75r[linha  2o]-i8ov;  Revista  do  Instituto  Histórico  e 
Geográfico  Brasileiro  49  i.a  P.  (1886)  72-84 ;  Cartas  Avulsas  (Rio  de 
Janeiro  1931)  323-335. 

V.  História  da  Impressão:  Nuovi  Avisi  imprime  a  tradução  ita- 
liana do  texto  2  (Bras.  ij)  ;  Revista  e  Cartas  o  texto  1.  Em  Nuovi  Avisi, 
a  carta  de  Leonardo  do  Vale  aparece  anexada  à  de  António  Blázquez 
como  se  fosse  este  o  autor  (cf.  supra,  carta  58). 

VI.   Edição:  Reimprime-se  o  texto  1. 


Textus 

1.  Pergit  enucleare  res  itineris  Provincialis  quas  P.  Antonius  Bláz- 
quez aegrotans  concludere  non  potuit.  —  2.  Iter  per  silvas,  montes,  palu- 
des  et  flumina  usque  ad  viginti  leucas  intra  fines  Praefecturae  «Ilhéus-». 


436 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  P.  DIEGO  LAYNES 


—  3.  Indi  tnetu  civium  terram  deseruerant.  —  4.  Adventu  Patris  Grã 
incipiunt  tiunc  congregari,  et  magnits  pagus  erigendus  erit  nomine  Domi- 
nae  Nostrae  Assumptionis  in  loco  quem  ipse  Pater  elegit.  —  5.  Stratagema 
et  dialogus  Patris  Grã  ad  captandum  indum  principalem  displicentem.  — 
6.  Quomodo  alterum  sibi  devinxit  principalem.  —  7.  Adhuc  tertium 
captavit  qui  promisit  aedificare  ecclesiam  in  suo  pago.  —  8.  Grã  reversus 
est  ltaparicam,  ad  Pagam  Sanctae  Crucis,  quem  fundaverat,  et  ibi  man- 
sit.  —  9.  Magnum  festum  Exaltationis  Sanctae  Crucis  praesente  Epis- 
copo.  —  10.  Baptismus  jjo  indorum.  —  //.  Missa  solemnis  pontifica- 
lis.  —  12.  Pompa  solemnis  cuin  musicis  more  lusitano  et  brasílico.  — 
13.  Indus  principalis  Flnminis  «Iaguari»  nuntiavit  etiam  se  e.xspectare 
Provinciale.m. —  14.  Festis  expletis,  Provincialis  reversus  est  Bahiam. — 
15.  Contio  de  Sancto  Matthaeo.  —  16.  Grã  iterum  abiit  in  pagos,  navis 
parata  est  e  portu  exire,  res  narratis  símiles  exspectant  Paires  qui  c 
Portugália  venturi  erunt.  —  17.  In  urbe  Bahia  sacramenta  frequentan- 
tur,  et  ipse  Leonardus  curat  de  servis  infirmis  et  confessiones  audit  eorum 
qui  lusitanice  non  loquuntitr.  —  18.  Haec  omnia  evenerunt  postquam 
navis  gallica  profecia  est;  messis  quidem  multa,  operar ii  autem  pauci. 

Esta  carta  que  se  segue  hé  fim  da  precedente, 
que  não  a  pode  acabar  o  Padre  Antonio  Blasquez 

1.  O  favor  e  bom  successo,  delectissimos  en  Christo 
Padres  e  Irmãos,  que  a  Divina  Bondade  deu  aos  trabalhos 
a  que  o  nosso  Reverendo  Padre  Provincial 1  se  despôs  na 
viagem,  que  pollo  descobrimento  do  fino  ouro  e  riqueza  da 
salvação  das  almas  começou,  como  por  essa  carta  geral 
verão,  requiria  que  como  candea,  que  a  muitos  avia  de  alu- 
miar e  acender  a  devação,  fosse  posta  no  castiçal  e  não 
debaxo  da  medida  do  silencio2;  pollo  que  vendo  elle  que 
o  P.e  Antonio  Blasquez,  a  quem  tinhão  dado  o  cuidado  de 
escrever  as  cousas  que  o  Senhor  há  por  bem  de  nestas 
partes  obrar  poios  da  Companhia,  lhe  faltava  e  não  podia 


4  aos  corr.  ex  os  ||  5  o  sup.  |  Reverendo  posl  corr.  ||  II  cuidado  corr.  cx  cui- 
daado 


1  Luís  da  Grã. 

2  Cf.  Mat.  5,  15;  Mare.  4,  21 ;  Luc.  8,  16;  11,  33. 


61  •  -  BAÍA  25  DE  SETEMBRO  DE  1561 


437 


levar  ao  cabo  o  que  tinha  começado,  por  huma  má  despo- 
cição  que  lhe  sobreveo,  me  encomendou  a  mi,  posto  que  x5 
bem  pouco  idóneo  pera  iso,  que  nesta  breve  carta  o  fizesse, 
continuando  com  o  que  nesoutra  falta.  O  que  certo  me 
dera  grande  trabalho  senão  cuidara  e  vira  que  as  cousas 
são  en  si  tais  que  tem  pouca  necessidade  de  flores  de  pala- 
vras pera  parecerem  obras  de  tal  Senhor  como  são.  20 

2.  Primeiramente,  foy  a  viagem  muy  trabalhosa  e  que 
alem  de  ser  longe  e  o  Padre  muy  continuo  em  más  dispo- 
siçõis,  passava  muitos  matos  e  serras  bravas  e  altas,  lagoas 
e  rios,  o  passar  dos  quais  era  muyto  trabalhoso  por  falta 
de  enbarcação,  porque  como  estavão  em  despovoados  não  25 
avia  outro  remédio  senão  fazer  jangadas  de  pao,  que  muy- 
tas  vezes,  com  pouco  que  se  bula  o  que  vai  nellas,  lhe 
furtão  o  corpo  e  o  deixão  no  meio  da  aguoa;  e  tal  avia 
destes  rios  que  tinhão  huma  legoa  de  largura.  Assi  que, 
com  todos  estes  trabalhos,  teve  o  Senhor  por  bem  de  o  3° 
levar  ao  lugar  do  Principal,  que  o  levava,  de  que  nessa 
carta  se  fez  menção  3,  que  hé  alem  do  termo  desta  Capita- 
nia vinte  legoas  pola  dos  Ilheos,  onde  foy  dos  gentios 
muyto  bem  recebido  e  agasalhado  com  grande  alegria,  assi 
por  os  desejos  que  mostravâo  de  serem  christãos  e  de  aver  35 
Igrejas  entre  elles,  como  por  conhecerem  a  deferença  que 
avia  de  nós  aos  outros  christãos,  que  por  suas  terras  andão 
ao  resgate,  dos  quais  elles  erão  tão  avexados  que  era  cousa 
piadosa. 

3.  Porque,  faltando  as  g[u]erras  e  matanças  que  antiga-  4o 
mente  avia  antre  elles,  não  podião  os  homens  cobiçosos 
dos  bens  deste  mundo  fartar  a  sede  de  peças  e  fazenda 
como  elles  queriâo,  com  a  qual  cede  se  vierão  tanto  apartar 
do  temor  de  Deus  e  someter  à  vontade  do  demónio;  e  de 
tal  maneyra  se  avião  com  os  índios  que  ou  por  força  ou  45 
por  vontade,  lhe  avião  os  pobres  de  dar  as  pessoas  desem- 


37  bula  corr.  ex  bulão  ||  30  teve]  teve-os  /->  1 1  35  e  corr.  ex  d  ||  41  antre  om  ti 
||  42  faltar 


3    Carta  de  i  de  Setembro  de  1561  §  22  (carta  58). 


438 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  P.  DIEGO  LAYNES 


paradas  que  polia  terra  avia.  Mas  veo  a  tanto  que  filhos  e 
filhas,  sobrinhos  e  netos,  lhe  tomavão,  e  deixando-lhe 
alguma  miséria  de  ferramenta  punhão  nome  de  resgate  a 

5°  seu  furtar  e  roubar  manifesto.  E  como  fossen  tão  acosados 
que  já  as  reides  4  e  cabaços  lhe  não  podiâo  defender,  se 
algum  christão  passava  daqui  pera  os  Ilheos  ou  dos  Ilheos 
pera  quá,  despejavâo  a  casa  e  escondião  sua  pobreza  no 
mato.  De  maneira  que  os  bons  perdião  já  pollos  maos, 

55  porque  nem  agua  achavão  os  caminhantes  onde  entravão. 

4.  E,  como  alem  da  fama  que  de  nós  tinhão  do  amor  e 
bom  tratamento  pera  com  elles,  virão  pollo  olho  o  P.e  Pro- 
vincial e  ouvirão  sua  pratica,  que  asi  a  brancos  como  a 
negros  hé  muy  suave,  foy  muy  fácil  hordenar-se  o  que  elle 

6o  desejava  que  hera  huma  grande  povoação  [ii2r]  e  de  muyta 
gente  que  se  começava  a  juntar  em  hum  sitio  muito  bom 
que  o  Padre  escolheo,  a  contentamento  de  todos,  pera  nelle 
fazer  huma  igreja  que  será  da  vocação  de  Nossa  Senhora 
da  Assumpsâo  5.  Esta  hé  a  que  ao  presente  está  mais  longe 

65  desta  cidade,  que  pode  ser  por  terra  caminho  de  trinta 
legoas  pouco  mais  ou  menos.  Nesta,  com  a  ajuda  do  Senhor, 
se  ajuntará  grande  numero  de  gente,  porque  alem  das 
Aldeãs  que  estavâo  ao  redor  dela  esperamos  que  a  gente, 
que  por  causa  destas  persiguições  era  fugida  pera  as  ser- 

70  ras,  se  venha  logo,  assi  polias  boas  novas  que  ão-de  ter  da 
yda  do  Padre  como  por  serem  afeiçoados  ao  viver  ao  longo 
do  mar.  Despedio-se  o  Padre  delles,  dexando-os  asás  con- 
solados com  as  esperanças  que  lhe  dava  de  logo  lhe  aver 
de  mandar  quem  os  ensinasse,  tanto  que  fossem  juntos,  o 

75  que  elles  já  começavão  de  fazer. 

5.  Nesta  viagem  aconteceo  que,  chegando  o  Padre  com 
seus  companheiros  a  hum  lugar  de  muyta  gente,  quis  dar 


49    puohSo  post  corr. 


4  «Redes»  de  dormir. 

5  Aldeia  de  Nossa  Senhora  da  Assunção  de  Tapepigtanga  (Leite, 
História  11  58).  Aldeia  de  Índios,  aos  quais  o  texto  chama  negros, 
como  então  era  frequente. 


61. -BAÍA  23  DE  SETEMBRO  DE  1561 


439 


ordem  como  se  fizesse  ali  outra  casa,  por  a  terra  ser  pera 
yso  aparelhada.  E  como  o  demónio  trabalha  sempre  por 
empedir  as  tais  cousas  pôs  tanta  frieza  no  coração  do  Prin-  8o 
cipal,  que  por  ventura  estava  bem  fora  de  saber  que  cousa 
erão  Padres  nem  bautismo,  que  por  palavras  claras  come- 
çou de  dar  sinal  do  descontentamento  que  tinha  do  que  o 
Padre  pretendia.  Ao  que  elle  respondeo  por  hum  lingua, 
não  com  prolongas  de  palavras  nem  sutis  argumentos,  85 
senão  com  huma  manha  e  poucas  palavras,  conforme  a 
capacidade  delles  como  quem  bem  lhe  tem  tomados  os 
pulsos  e  sabe  seu  modo  e  frases  de  falar,  dizendo:  «Bem 
entendo  eu  que  te  não  queres  tu  ajuntar,  mas  direy  eu,  não 
vim  eu  pera  Foâo  senão  pera  os  outros»,  dando  a  entender  90 
que  tal  era  elle  que  seria  tido  por  indigno  de  tão  boa  cousa 
vir  pera  elle  e  que  não  alcançara  o  que  os  outros.  E  dito 
isto,  sem  mais  gastar  tempo,  mandou  desarmar  as  reydes 
pera  se  yr  pera  outro  lugar.  E  andando  nisto,  já  a  molher 
o  estava  estimulando  e  reprehendendo,  porque  desconten-  95 
tara  o  Padre.  E  dezia :  «Tu  não  sabes  falar,  porque  não 
concertas  bem  a  tua  fala  diante  delle».  E  o  mesmo  fazião 
outros  velhos  e  pessoas  do  mesmo  lugar  que  se  ali  acharão. 
E  partido  o  Padre,  deixou  a  todos  tão  atónitos  que  logo 
alevantarão  hum  espantoso  pranto  que  os  Padres  ouvião  100 
yndo  muyto  longe.  E  querendo  já  chegar  a  outro  lugar, 
este  Principal  que  digo,  muyto  à  pressa  e  quasi  pasmado, 
alcançou  o  Padre.  E,  passando  por  elle,  sem  dizer  nada, 
começou  de  pregar  com  grande  fervor  em  favor  do  Padre 
polia  Aldeã.  E,  depois  de  bem  cansado,  se  foy  a  casa  donde  105 
o  Padre  ia  descansando,  o  qual  como  conhecesse  que  tudo 
o  que  o  Yndio  fazia  era  arrependimento  do  passado,  se  quis 
mostrar  com  elle  piadoso  com  lhe  dizer:  «Vieste?  Que  o 
seu  Deos  venha  comvosco».  E  respondeo  o  índio,  que  sim. 
E,  esforçando-se  a  falar,  disse:  «Des  que  tu  te  vieste,  me  no 
alembrou  que  en  tal  parte  está  hum  bom  sitio  onde  se 
pode  asentar  huma  grande  povoação»,  e  outras  cousas,  de 
que  o  Padre  se  satisfez,  o  que  elle,  sentindo  e  conhecendo 


79    aparelhada  ta;  aparelhado  ms.  ||  83    que'  ti  ||  89    tu  sup. 


440 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  P.  DIEGO  LAYNES 


que  cada  vez  se  applacava  mais,  pollo  que  ouvia,  disse, 

115  como  quem  então  acabava  de  desabafar:  «Toda  a  minha 
alma  se  me  espalhou  que  parece  ser,  como  nós  dizemos, 
todo  o  sangue  se  me  espalhou  pollo  corpo». 

6.    Em  outro  lugar  se  aconteceo  que  pondo  o  Padre 
Provincial  em  pratica  sua  detreminação,  que  era  a  mesma 

120  que  nos  outros  lugares,  o  Principal  dela,  como  homem  de 
pouco  siso  e  pouco  sequioso  da  agua  viva6,  que  o  Senhor 
como  a  outra  Samaritana  lhe  oferecia,  mostrou  hum  desa- 
soseguo  com  meneos  e  palavras,  fazendo  pouco  cazo  do 
que  lhe  dizião,  o  que  per  ventura  lhe  vinha  de  não  ter 

125  noticia  dos  Padres  ou  os  não  conhecer  por  tais,  pera  o  que 
o  Padre  usou  também  de  outra  mesinha,  [ii2v]  que  foy 
dizer:  «Foão,  chamando-o  por  seu  nome,  chega-te  aqui, 
tu  não  me  conheces».  E  em  penitencia  de  sua  dureza  e 
soberba  o  fez  asentar  no  chão,  dizendo-lhe:  «Como  falas 

130  tu  dessa  maneira  e  dás  tal  reposta  sem  primeiro  falares 
com  os  teus?  Ora  ajunten-se  elles  aqui  e  ouvirey  eu  sua 
fala,  porque  indo-me  eu,  não  ey-de  dizer:  Foam  não  quis, 
nomeando-te  a  ti  só,  mas  ey-de  dizer:  todos  não  quiserão». 
E  nisto  vinha  a  outra  gente  e  mancebos  da  Aldeã  con 

135  grandes  alaridos  de  danças  e  tangeres.  E  pôs  o  Senhor 
tanta  virtude  nesta  mesinha  de  simpleces  palavras  e  ditas 
a  seu  modo,  que  de  improviso  ho  Principal  se  mudou  e 
esteve  com  grande  asosego  e  reverencia  ao  que  o  Padre 
dezia.    E  os  seus,  que  como  digo,  vinhão  tão  embebidos 

140  em  suas  danças,  tendo  parece  alguma  noticia  do  que  pas- 
sava, supitamente  se  callarâo  e  ficou  tudo  tam  quieto  que 
parecia  não  aver  gente  na  Aldeã.  Cousa,  certo,  muyto  pera 
louvar  ao  Senhor,  porque  hé  tanto  contra  seu  costume  que 
poucas  cousas  avrá  que  os  tire  daquellas  diabruras  quando 

145  nellas  andão.  E,  juntos  elles,  finalmente  se  fez  o  que  o 
Padre  quis,  mostrando  elles  disso  serem  muyto  contentes. 


121    sequioso]  secioso  ms.  ||  129    asentar  ./.  /.  o  fez 


6    loan.  4,  10. 


61.  -  BAÍA  23  DE  SETEMBRO  DE  1561 


441 


7.  E  andando  asi  o  P.e  Provincial  com  seus  compa- 
nheiros de  lugar  em  lugar,  correo  fama  e  nova  de  sua  yda 
polia  terra;  e  chegando  a  hum  Principal,  que  por  ser  bem 
inclinado  e  afeiçoado  a  nossos  costumes,  dexava  crescer  150 
a  barba  e  a  tinha  grande,  e  bem  posto  se  partio  pera  se 
ver  com  o  Padre.  E  chegando  a  hum  lugar  onde  cuidou 
de  o  achar,  soube  como  já  era  partido  pera  outro;  e  tãotos 
erão  os  dezejos  que  levava  de  o  ver  que  sem  querer  repou- 
sar nem  dormir  ali,  posto  que  avia  andado  15  leguoas,  que  155 
erão  da  sua  terra  ali,  mas  logo  se  partio,  e,  chegando  onde 
o  Padre  estava,  foy  delle  alegremente  recebido.  E  logo  o 
índio  o  começou  a  persuadir  que  quisesse  yr  a  sua  terra 
onde  acharia  muyta  gente  dezejosa  de  ser  christãa ;  e  ysto 
com  tanto  fervor  e  desejos  de  lhe  ser  outorgado  que  movido  160 
o  Padre  pollo  que  nelle  sentia,  se  foy  com  elle.  Mas  achando 
no  caminho  antes  do  seu  lugar  cimquo  léguas,  gente  e  sitio 
pera  outra  Igreja,  determinava  fazê-la  e  persuadio  ao  índio 
que  se  quisese  ajuntar  com  aquelles,  o  que  elle  aceitou  com 
ser  tão  longe  da  sua  terra  pera  mudar  fato  e  tanta  gente  165 
pollos  bons  desejos  que  tinhão;  mas  todavia  instava  que  o 
Padre  chegasse  a  sua  Aldeã,  e  dizendo-lhe  o  Padre:  «Que 
ey  eu  lá  de  ver»?  Lhe  respondeo  sem  a  mais  gavar:  «Já 
não  quero  que  vás  lá  senão  debalde».  E  por  lhe  fazer  a 
vontade  e  lhe  dar  tão  grande  contentamento  como  mos-  170 
trava  aver  de  receber  com  sua  yda,  se  foy  com  elle  e,  asi 
polia  muyta  gente  que  lá  vio  como  pollos  bons  sitios, 
conheceo  o  Padre  aver  o  Yndio  aceitado  mudar-se  pera 
tão  longe,  como  disse,  por  lhe  fazer  a  vontade.  E  avendo 
piedade  de  lhe  dar  tão  grande  trabalho,  detreminou  fazer  175 
ali  outra  casa,  pera  o  que  quis  saber  a  gente  que  ali  se 
poderia  ajuntar.  O  Yndio  lhe  contou  24  Aldeãs,  as  quaes 
podião  ter  tres  mil  pesoas ;  e  juntos  os  Principaes  se  con- 
cluyo  tudo,  ficando  estes  muy  satisfeitos. 

Finalmente,  neste  espaço  que  digo,  assentou  o  Padre  de  180 
fazer  tres  casas  e  escolheo  o  sitio  pera  ellas,  as  quaes  podem 
distar  de  huma  a  outra  nove  ou  dez  léguas  pouco  mais  ou 


173    aceitado  corr.  ex  acertado 


442 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  P.  DIEGO  LAYNES 


menos.  E  isto  feito,  se  partio  o  Padre,  deixando  o  gentio 
muy  consolado  e  desejoso  de  logo  yr  quem  principiasse  as 

l85  Igrejas,  de  que  tudo  seja  gloria  ao  dador  de  todo  o  bem  T. 
8.  Acabados  de  desandar  estes  tão  trabalhosos  cami- 
nhos como  arriba  dixe,  chegou  o  Padre  à  Ilha  de  Tapari- 
qua  que,  como  já  saberão,  está  defronte  desta  cidade  tres 
léguas;  e  a  povoação  de  Santa  Cruz,  que  nella  fundou  o 

r9°  P.e  Luys  da  Gran  des  que  veio  de  São  Vicente,  estará, 
yndo  polia  mesma  barra  fora  quatro,  cinquo  leguoas  da 
cidade,  e  indo  ao  redor  [n3r]  da  Ilha  por  dentro  da  Baya 
oito  léguas,  onde  esteve  esperando  a  festa  daquella  casa, 
que  hé  em  Setembro  8,  pera  no  seu  dia  fazer  hum  solemne 

195  bautismo.  E  este  tempo  ensinava  e  examinava  os  adultos, 
que  se  avião  de  bautizar,  e  concertava  os  casamentos  que 
avião  de  ser,  de  que  parece  ter  special  graça  de  Nosso 
Senhor.  Fez  alguns  bautismos  in  extremis  de  pesoas  anti- 
gas e  envelhecidas  em  seus  ritos,  e  hum  avia  que  tinha 

200  tres  molheres,  scilicet,  duas  antiguas  e  huma  muyto  moça, 
que  parece  que  era  das  sobrinhas,  que  elles  herdão  por 
verdadeiras  molheres.  Esta,  por  lha  tirar  de  poder  antes 
que  o  diabo  o  mais  atasse  em  seu  amor,  lhe  cometeo  o 
Padre  que  quisese  casar  com  hum  mancebo  que  lhe  bus- 

205  cou.  E  trabalhando  polia  afeiçoar  a  elle,  pretendia  que 
com  esta  affeição,  sendo-lhe  perguntado  se  era  contente 
de  ser  molher  do  velho  que  a  tinha,  disesse  que  não,  pera 
que  com  esta  reposta  tivesse  occasiâo  de  persuadir  também 
o  velho  que  a  não  quisesse,  pois  ella  o  engeitava.  E  asi  se 

210  fez,  polia  Bondade  do  Senhor,  como  o  Padre  queria,  e  tão 
suavemente,  que  sendo  despois  o  indio  perguntado  dis- 
simuladamente  quantas  molheres  tinha,  que  era  neces- 
sário sabê-llo,  respondeo  muy  alegre:  «Já  não  tenho  mais 
que  2»!  como  quem  se  alegrava  de  já  ter  menos  impedi- 


189    léguas  corr.  ex  legug 


7  Cf.  Iac.  r,  17. 

8  14  de  Setembro  (de  1561). 


61  -  BAÍA  23  DE  SETEMBRO  DE  1561 


443 


mento  pera  o  bautismo  que  dantes.  E  adoecendo  despois  215 
o  Yndio,  o  visitou  o  Padre,  e  estando  praticando  com  elle 
lhe  começou  a  gavar  huma  das  duas  molheres,  que  lhe 
ficava,  dizendo:  «Com  esta  devias  tu  de  casar  que  hé 
molher  pera  muyto,  etc. ;  e  a  outra  podia-lla  ter  já  por 
yrmãa,  e  não  ter  conta  com  ella,  e  estaria  lá  na  rossa».  220 
E  elle  muyto  ledo  disse  que  assi  se  fizesse,  como  o  Padre 
queria,  e  o  Padre  o  casou  por  então  in  lege  naturae ;  e 
despois,  yndo  a  doença  por  diante,  o  bautizou  e  casou, 
o  que  feito  se  partio  da  vida  presente  pera  a  eterna,  dei- 
xando a  todos  consolados  com  as  boas  mostras  que  deu  de  225 
bom  christão.  E  destes  taes  há  alguns  que,  aynda  que 
vivâo  despois  e  por  velhice  não  saibão  a  doutrina  de  cor, 
todavia  continuam  a  vir  à  Igreja  e  ouvir  doutrina  e  prati- 
cas da  fee.  Assi  que  desta  maneira  se  ganhão  huns  e 
outros.  230 

9.  Chegada  a  festa  qúe  esperávamos,  tivemos  recado 
pera  yrmos  de  este  Collegio  alguns  com  o  Senhor  Bispo  9 
que  se  avia  de  achar  presente  naquelle  bautismo.  Parti- 
mos daqui  2  dias  antes  da  festa,  vindo  o  mesmo  Bispo  por 
nós  ao  Collegio  sem  esperar  que  fossemos  nós  por  elle,  e  235 
que  parece  causa,  alem  de  sua  humildade,  o  amor  e  fiel 
amisade  que  tem  à  Companhia.  E  embarcando-nos  com 
bom  vento  e  muyta  alegria  a  fazer  gerra  ao  demónio, 
como  o  Bispo  dezia,  yamos  deste  Collegio  4  Padres  e  dous 
Irmãos,  afora  outros  tres  Irmãos  que  forão  o  dia  dantes.  240 
E  como  o  bom  vento  costuma  fazer  bom  mar,  começarão 
muytos  de  enjoar;  e  o  Bispo  de  tal  maneyra  o  fez  que  com 
a  muyta  força  que  punha  botava  sangue  polia  boca,  e, 
alastrado  ao  sol  no  convez  como  qualquer  outro,  soomente 
tinha  hum  Padre  nosso  que  naquelle  trabalho  o  ajudava,  245 
o  qual  por  mais  que  se  sofreo  lhe  foy  necessário  yr  a 
bordo  alijar  como  quada  hum  dos  outros;  e  quis  Nosso 


228    a  vir  post  corr.  ||  247    alijar]  a  ligar  vns. 


9   D.  Pedro  Leitão. 


444 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  P.  DIEGO  LAYNES 


Senhor  que  ficasse  eu  sem  enjoar  pera  lhe  servir  de 
encosto,  porque  os  seus  pagens  era  cousa  piadosa  de  ver! 

250  E  com  estes  emfadamentos  chegamos  a  huma  grande 
e  íermosa  praya,  huma  légua  quasi  antes  da  Aldeã,  e, 
repousando  à  sombra  de  muitas  arvores  e  palmeyras  que 
ao  longo  delia  avia,  mandamos  recado  à  Aldeã  que  viessen 
levar  o  pontifical  e  mais  fato.    E  partindo  à  tarde  polia 

255  praya,  com  o  que  boamente  se  pôde  levar,  topamos  hum 
dos  nossos  Padres,  que  nos  vinha  a  receber  com  tantos 
mininos  da  terra,  que  era  cousa  pera  muyto  louvar  a 
Nosso  Senhor.  Todos  se  yão  ao  Bispo  que  [113V]  hya 
em  huma  reyde  que  levavão  dous  Índios,  e  fazendo  suas 

260  reverencias  dezião  por  saudação:  «Louvado  seja  Jesu 
Christo»!  e  despois  a  cada  hum  dos  Padres  que  com  elle 
yamos.  E  passando  o  Padre,  que  os  trazia,  com  elles  pollo 
fatto  que  dexavamos,  viamos  vir  o  P.e  Provincial  com  outra 
grande  soma  muyto  alegres  por  nossa  ida,  tangendo  com 

265  seus  tamboris.  E  chegando  à  Aldeã  se  encheo  a  Igreja  de 
gente,  de  maneira  que  dentro  nem  fora  me  parece  que 
cabião,  onde  o  Bispo  lhe  lançou  a  benção  cantada;  e  asen- 
tado  em  huma  cadeira  junto  do  altar  lhe  yão  todos  assi 
homens  como  molheres  a  bejar  a  mão.  E  com  isto  se  des- 

270  pedirão  [e]  se  forâo  a  suas  casas. 

Ao  outro  dia,  que  foy  sábado  véspera  10  da  festa,  logo 
polia  menhã  nos  mandou  o  Padre  à  Igreja,  os  que  sabia- 
mos  a  lingua,  a  confessar  os  que  se  avião  de  bautisar  ao 
outro  dia.  A  qual  confissão,  como  já  saberão,  não  hé  mais 

275  que  pera  lhe  fazer  detestar  a  vida  passada  e  conhecer  a 
que  querem  tomar;  e  alguns,  que  já  erão  christãos,  se  con- 
fessavão  pera  casarem.  E  com  isto,  e  o  fazer  do  rol,  se 
gastou  o  dia.  E  no  mesmo  dia  chegou,  em  outro  barquo, 
o  Ouvidor  Geral 11  com  gente  da  cidade,  que  também  pollo 


264    Pr i tis  grandes 


10  13  de  Setembro 

11  Brás  Fragoso. 


61.  -  BAÍA  25  DE  SETEMBRO  DE  1561 


445 


conhecerem  por  tal,  foy  delles  e  de  nós  bem  recebido.  E  à  280 
tarde,  junta  a  gente,  se  disserão  as  vesporas  muy  solemnes 
de  canto  d'orgão.    E  ellas  acabadas,  se  fez  polia  Aldeã 
huma  procissão,  onde  hião  duas  cruzes,  scilicet,  huma 
nossa  dourada,  e  outra  de  prata,  grande  e  fermosa,  da  See. 

Ao  domingo,  que  íoy  dia  da  Exaltação  da  Cruz,  se  285 
levantou  o  P.e  Provincial  e  o  P.e  Antonio  Pyrez,  que  hi 
residia,  2  ou  3  oras  antemenhâ ;  e,  mandando  logo  chamar 
a  gente,  se  começou  a  occupar  nos  roes  e  en  concertar  os 
casamentos  que  avião  de  ser,  e  nós  os  linguas  a  confessar 
como  o  dia  dantes.  E  vindo  o  dia  e  horas  pera  dizir  missa,  290 
se  começou,  de  canto  d'orgão  com  diácono  e  subdiacono, 
mas  era  tanto  o  numero  da  gente,  grande  parte  da  qual 
erão  lactantes  e  outros  innocentes,  que,  fazendo  o  possivel 
porque  o  bautismo  se  fizese  despois  do  offertorio,  e  despois 
se  acabasse  a  missa,  por  mais  que  esperamos,  não  pôde  ser|  295 
e  por  não  botar  os  pagãos,  que  estavão  na  Igreja  12,  huns 
com  os  filhos  que  se  avião  de  bautizar,  outros  olhando  o 
que  nunca  virão,  o  fomos  acabar  debaixo  de  huma  ramada, 
que  estava  feita  em  hum  lugar  por  amor  dos  muytos  Padres 
que  avia  para  dizer  missa,  por  na  Igreja  não  poderem,  ficando  300 
o  P.e  Provincial  na  Igreja  com  o  P.e  Antonio  Pirez  e  hum 
Irmão  lingua. 

10.  Era  aqui  muyto  de  notar  o  esforço  que  o  Senhor 
lhe  dava  pera  sofrer  o  grande  trabalho  que  passava,  porque 
verdadeyramente  en  todo  o  dia  me  não  lembra  vê-lo  assen-  305 
tar  mais  de  huma  vez  a  rogo  do  Bispo,  e  duvido  se  se  sofreo 
assi  que  passasse  de  tres  credos,  porque  toda  a  Igreja  cor- 
ria com  o  rol  na  mão,  de  continuo,  falando,  que  a  todos 


284    e'  sup.  ||  285   domingo  dcl.  dia 


12  Uma  das  dúvidas,  que  Nóbrega  perguntava  em  1552,  era  se  se 
havia  de  guardar  o  direito  antigo  de  botar  fora  os  pagãos  ao  ofertório 
ou  deixá-los  ficar  para  se  não  escandalizarem  {Mon.  Bras.  1  407 ;  cf. 
ib.  11  106-107).  Vê-se  que  prevaleceu  o  direito  antigo,  mas  os  Padres 
acharam  aqui  o  recurso  de  dizer  missa  em  recinto  aberto. 


446 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  P.  DIEGO  LAYNES 


punha  espanto.  E  como  elle  andava  tão  occupado  e  sem 

310  comer  por  não  aver  pera  iso  tempo,  parece  que  cuidarão  o 
Bispo  e  Ouvidor  que  seria  crueldade  tomarem  descanso  e 
jantar,  sofrendo  o  P.e  Provincial  tantos  trabalhos  sem  comer 
outra  cousa  que  o  sustentasse  senão  o  que  a  devaçâo  e 
santo  zello  de  tão  heróica  obra  (como  era  a  salvação  daquel- 

315  las  almas)  lhe  ministrava.  E  assi,  aynda  que  o  Padre  qui- 
sera que  elles  jantarão,  o  não  fizerão  e  passarão  com  algum 
bocado  como  por  almorço.  E  porem  o  Padre  continuando 
seu  jejum  acabou  de  pôr  a  gente  em  termos  de  se  poder 
começar  o  officio;  e,  sendo  já  4  ou  5  horas  despois  do  meio 

320  dia,  se  pôs  o  Senhor  Bispo  por  sua  mão  a  fazer  os  cathe- 
cismos  com  a  mayor  diligencia  que  ser  pode.  E  gastando 
quasi  todo  o  tempo  que  [ii4r]  restava  dali  até  à  noyte  nel- 
les,  assentou-se  junto  da  pia  em  huma  cadeira  e  os  come- 
çou a  bautizar,  porque  com  essa  detreminação  fora  logo. 

325  Em  todo  este  dia  já  poderão  ver  o  que  as  crianças  farião, 
de  fome  e  cede,  que  pera  os  contentar  era  necessário  andar 
alguém  com  agua  antre  elles,  e  outros  darmos-lhe  que 
comerem,  se  de  sua  casa  não  avia  quem  lho  levasse  à 
Igreja.  Finalmente,  se  acabarão  os  bautismos  às  dez  oras 

330  de  noyte  pouco  mais  ou  menos;  e  quando  veo  por  derra- 
deiro, tinha  já  o  Bispo  as  mãos  abertas  daguoa,  e  foy  neces- 
sário que  emquanto  elle  tomava  folgo  pera  lhe  pôr  a  estola 
e  candea  lhe  bautizasse  hum  Padre  huns  15  ou  20  que  fica- 
vão.  A  todo  este  officio  se  achou  tanbem  presente  o  Ouvi- 

335  dor  Geral,  que  de  todos  foy  padrinho. 

Acabado  tudo  isto  e  despedidos  os  novos  christãos  com 
a  benção,  que  o  Bispo  lhe  lançou  solennemente,  a  estas 
horas  de  noyte,  que  digo,  se  foy  elle  com  os  Padres  e  mais 
gente  branca  a  cear  o  jantar,  que  ouvera  de  ser,  asás  de 

340  cansados  todos  corporalmente,  mas  muy  alegres  e  conten- 
tes em  o  Senhor  por  verem  a  soma  dos  que  se  avião  rege- 
nerado, que  forão  passante  de  530. 

11.  Ao  outro  dia  se  ajuntou  grande  numero  de  gente 
pera  verem  os  casamentos  que,  por  o  dia  dantes  não  aver 


311    Prius  clueldade  ||  322    o  sufi. 


61. -BAÍA  25  DE  SETEMBRO  DE  1561 


447 


tempo  pera  elles,  se  dexarão  pêra  aquelle,  que  era  a  segunda  345 
feira  depois  da  festa.  A  qual  junta,  se  revestio  Sua  Senho- 
ria pera  dizer  misa  de  pontifical,  servindo-lhe  dous  de  nós 
de  diácono  e  subdiacono,  a  qual  se  começou  muy  solenne 
de  canto  d'orgão  pera  que  elle  levara  a  sua  capella,  aju- 
dando-lhe  alguns  dos  nossos,  que  entendem  delle.  E  aca-  35° 
bado  o  offertorio  se  assentou  elle  em  huma  cadeira  no 
degrao  do  altar  com  a  mitra  de  brocado  na  cabeça,  e  assi 
elle  como  os  dous,  scilicet,  diácono  e  subdiacono,  revestidos 
de  vestimenta  e  dalmaticas  de  veludo  verde  e  sabastros  de 
brocado  muyto  rico,  que  foy  da  capella  d'El-Rey,  afora  355 
outros  4,  que  estavão  ao  redor  delle,  vestidos  com  capas 
novas  de  damasco  branco,  com  os  capellos  e  sabastros  ou 
barras  de  veludo  carmezim.  E  com  este  aparato  começou 
elle  mesmo  a  casar  os  novos  christãos,  que  o  P.e  Provincial 
lhe  apresentava,  dizendo  as  palavras  formais  polia  lingoa  360 
brasílica,  que  pollo  aver  feyto  já  outras  vezes  as  tinha  na 
memoria.  Forão  os  casados  80  menos  hum,  quero  dizer, 
casais. 

12.    E  acabada  a  missa,  se  fez  huma  procissão,  onde  ya 
o  Bispo  debaxo  dum  paleo  vermelho  com  os  mais  ministros,  365 
que  já  dixe,  revestidos,  por  huma  muy  comprida  e  fermosa 
rua;  e  porque  a  festa  não  parecesse  somente  nossa  e  dos 
novos  cristãos,  muytos  dos  gentios,  cheos  de  fervor  e  ata- 
viados à  sua  gisa  com  pena  muyto  louçã  e  seus  maracás13 
nas  mãos  tangendo,  ordenarão  sua  folia  com  que  descorrião  37° 
polia  procissão.  Asi  foy  celebrada  com  motetes  em  canto 
d'orgão  e  psalmos  bem  acompanhados  de  vozes  e  também 
com  os  cantares  e  folia  dos  que,  se  mais  souberão,  mais 
fizerão.  E  logo  aquella  tarde  nos  despedimos  do  P.e  Anto- 
nio Pirez  e  seus  companheyros,  que  ficavão  muyto  conso-  375 
lados  em  o  Senhor,  assi  por  averem  visto  os  que  deste 


349-35°  Prius  ajuntaudo-lhe  [|  352  de  ti  ||  354  dalmaticas]  almaticas  >»s.  ||  367  so- 
mente sup.  ||  372   bem]  bom  ms. 


13   Maracás,  cf.  Mon.  Bras.  i  383. 


448 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  P.  DIEGO  LAYNES 


Collegio  fomos,  a  quem  avia  muyto  que  dezejavão  ver  e 
communicar  (posto  que,  com  estas  occupações,  forão  muy 
poucas  as  praticas  que  entre  si  tiverão),  como  polia  grande 
380  soma  que  se  avia  acrecentado  a  suas  ovelhas,  ainda  que, 
daquelles  que  no  rol  se  avião  apagado  por  se  não  fazer 
detença  em  esperar  por  elles,  lhe  ficarão  bem  hum  cento 
delles  pera  bautizarem  loguo,  se  quiserão,  ao  outro  dia. 

13.  [114V]  No  mesmo  dia  (se  bem  me  alembra)  antes 
385  da  nossa  partida,  chegou  hum  mensagero  mandado  por  hum 

Principal  de  hum  rio,  que  chamão  Jaguarig,  diziendo  que 
tinhão  por  novas  que  o  nosso  Padre  estava  de  camino  pera 
laa  fazer  Igrejas,  do  que  elles  estavão  muy  alegres  e  os 
esperavão  com  detreminação  de  se  ajuntarem  e  fazerem  o 
390  que  o  Padre  ordenasse,  a  cujos  desejos  se  não  pôde  por 
agora  satisfazer,  polia  falta  que  há  de  gente  até  que  desse 
Reino  venha. 

14.  Partidos,  emfim,  da  Ilha  como  disse,  despois  de  aver 
passado  huma  noyte  ou  por  essas  prayas,  onde  sayamos  a 

395  esperar  vento  e  marés,  onde  dormíamos  por  debaxo  das 
arvores,  servindo  as  ervas  ou  ramos  por  camas  asi  a  nós 
como  ao  Bispo,  chegamos  ao  porto  desta  cidade  a  quarta 
feira  das  quatro  têmporas14  sãos  e  sem  algum  enjoar  por  o 
mar  andar  manso  e  bonançoso.  E  tanto  que  chegamos,  veo 

400  logo  recado  ao  P.e  Provincial  de  diversas  partes  dos  fieis 
que  residem  antre  o  gentio,  de  como  estavão  com  muyta 
gente  aparelhada  pera  bautizar  e  casar,  esperando  por  Su 
Reverencia,  porque  nenhum  destes  grandes  bautismos  se 
faz  sem  elle.  E  sempre  os  mesmos  índios  o  esperão  no  tal 

405  tempo  e  tem-lhe  tanto  respeito  que,  por  mais  solennidade 
que  ouvesse  nos  seus  bautismos,  tudo  creo  teriâo  por  pouco, 
se  elle  não  fosse  presente  e  os  fizesse  por  sua  mão  como 
costuma.  E  polia  pressa  que  estes  recados  tam  a  meudo 
lhe  dão,  e  saber  que  elles  tinhão  já  feitos  gastos  há  alguns 


380    a  corr.  tx  as  ||  396    camas  dei.  e  ||  409    já  dei.  gast 


14    17  de  Setembro  de  1561. 


61.  -  BAÍA  25  DE  SETEMBRO  DE  1561 


449 


dias  esperando  por  elle,  cuidando  que  fosse  e  não  foy  por  4xo 
ser  fora  como  já  contey,  lhe  hé  necessário  não  descansar 
neste  Collegio  de  que  tanto  há  anda  fora,  mais  que  seis 
dias,  os  quaes  quanto  ao  corpo  se  não  podem  chamar  des- 
canso, porque  chegando  aqui  a  quarta  feyra  sempre  teve 
em  que  entender,  assi  en  dar  ordem  à  Igreja  nova15  e  outras  4^ 
cousas  do  Collegio,  como  em  negócios  fora  de  casa. 

15.  E  logo  ao  domingo  consolou  a  todos  com  huma 
pregação  que  fez  de  São  Matheus,  cuja  festa  era10.  E  nisto 
hé  tão  continuo,  quando  aqui  está,  que  parece  não  podem 
sofrer  passar-se-lhe  hum  dia  santo  sem  pregar.  E,  vendo  42° 
elle  que  nos  espantamos  ou  avemos  dó  delle,  diz:  «Pois, 
Yrmãos,  que  quereis  que  faça,  vós,  huns  me  tomais  as  con- 
fissõis,  outros  a  doutrina  dos  escravos,  pois  que  ey  eu  de 
fazer,  ou  que  me  fica,  senão  pregar»?  E  pollos  muytos 
negoceos,  que  tinha  estes  dias,  tomava  a  noite  pera  escre-  425 
ver  as  cartas17  que  esta  nao  avia  de  levar,  porque  lhe  dava 
ella  também  seu  pedaço  de  trabalho  por  estar  já  de  verga 
d'alto,  e  elle  não  poder  satisfazer  com  cartas  aos  Padres  e 
Yrmãos  desse  Reyno. 

16.  Mas,  satisfazendo  como  pode,  se  partio  pera  as  43° 
Aldeãs,  oje  23  de  Setembro;  e,  elle  partido,  se  fez  a  nao  à 
vella,  não  tendo  nós  ainda  o  maço  feyto,  do  que  ficamos 
muy  sobresalteados.  E,  de  quão  tristes  estávamos,  tão  ale- 
gres nos  tornamos  quando  soubemos  que  se  não  hia,  mas 
queria  provar  se  estava  pera  navegar  com  a  carga  que  435 
tinha.   Mas,  porque  creio  se  irá  amenhã,  abreviarey  como 
puder  e  acabarey  com  lhe  dar  novas  das  muytas  impresas 
que  se  aparelhão  pera  os  que  de  lá  vierem;  porque  alem 
das  que  contey,  já  de  outras  partes,  donde  ainda  não  che- 
garão nossos  Padres,  ay  novas  estarem  muyto  alvoroçados,  44° 
esperando  serem  cedo  soccoridos  com  o  Pão  de  Vida18,  o 


15  «Igreja  nova»:  a  de  Mem  de  Sá,  cf.  supra,  carta  de  Luís  da  Grã 
de  22  de  Setembro  de  1561  §  12  (carta  59). 

16  21  de  Setembro. 

17  Cartas  perdidas. 

18  Ioan.  6,  35. 
29 


450 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  P.  DIEGO  LAYNES 


que  elles  mesmos  pedem  com  muyta  instancia,  cousa  que 
causa  não  pequena  magoa  [ii5r]  não  só  aos  da  Companhia, 
mas  também  ao  Bispo  e  Governador,  que  certo  mostrão 
445  grandíssimo  zello;  e  esta  magoa  lhe  causa  verem  que  não 
temos  gente,  pollo  que  muytos  perecem,  e  perecerão  mais, 
se  de  lá  se  não  socorrer  a  tantas  necessidades. 

17.  O  que  daqui,  da  mesma  cidade,  há  que  escrever  hé, 
louvores  ao  Senhor,  andar  a  gente  muy  deferente  do  que 

45°  era,  porque  nas  confissõis  e  comungar  se  lhe  acrecenta  cada 
vez  mais  o  fervor.  Eu  acudo  aos  escravos  e  escravas,  em 
suas  doenças,  que  não  sabem  a  nossa  lingua,  e  pera  isto 
sou  chamado  quasi  todolos  dias  e  às  vezes  de  duas,  tres 
partes  em  hum  mesmo  tempo.  Ensino  a  doutrina  à  escra- 

455  varia  e  confesso-a,  e  aproveytão-se  tam  bem  que,  com  ser 
nova  cousa  antre  elles,  há  muy  tas  que  se  confessâo  muytas 
vezes  antre  o  anno. 

18.  Isto  hé,  dilectissimos  Irmãos,  o  que  polia  bondade 
de  Christo  Nosso  Senhor  se  oferece  e  pode  escrever  do 

460  muyto  que  a  Divina  Bondade  teve  por  bem  d'obrar  nestas 
partes  pelos  da  Companhia,  des  que  a  nao  franceza19  partio 
até  agora,  pera  consolação  dos  que  presentialmente  o  vemos, 
e  acrescentamento  de  fervor  dos  que  de  llá  o  veem  com  os 
olhos  dalma  e  corporalmente  se  dezejão  ver  entre  estas 

465  cousas,  aos  quais  muyto  encomendo  que  não  cessem  de 
pedir  em  suas  devações  tão  proveytosa  empresa. 

19.  Porque  a  messe  hé  muyta  e  os  obreiros  poucos20; 
e,  tão  poucos,  que  sayndo  daqui  3  Padres  e  3  Yrmãos,  que 
o  P.e  Provincial  quer  mandar  a  povoar  as  novas  casas  de 

47°  que  acima  faley,  ficará  o  Collegio  da  cidade  do  Salvador 
tão  despovoado  que  náo  será  tão  pouco  os  que  ficarem  bas- 
tarem pera  lhe  limpar  as  teas  d'aranha.  Accudão  pois, 
dilectissimos,  com  grande  charidade,  se  a  obediência  o  orde- 


449    Senhor  dei.  an  ||  463    o  veem]  ouvem  tns. 


19  Cf.  carta  58  §§  1-2. 

20  Mat.  9,  37 ;  Luc.  10,  2. 


62.  -  PIRATINIXGA  MARÇO  DE  1562 


451 


nar,  a  tão  grande  pobreza  e  necessidade,  porque  se  lá  raedi- 
tão  o  que  o  Senhor  com  seus  Apóstolos  andando  pollo  475 
mundo  padecia,  quá  não  tão  soomente  a  meditarão,  mas 
também  com  seu  divino  favor  e  ajuda  pacientemente  o 
imitarão  em  o  padecer  dela,  pera  que  no  cabo,  como  com- 
panheiros da  Cruz,  tenha  Elie  por  bem  de  os  assentar  e 
tomar  por  companheiros  da  mesa  e  descanso,  que  pera  os  48° 
seus  fieis  amigos  tem  aparelhado21.  Amen. 

Deste  Collegio  de  Jesus  da  Cidade  do  Salvador,  Baya 
de  Todolos  Santos,  a  23  de  Setembro  de  156 r. 

Por  comissão  do  P.'  Luys  da  Grã,  Provincial. 

Pobre  e  indigno  Irmão  de  todos  em  o  Senhor  Jesus,  485 

Leonardo. 

62 

DO  IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

PIRATININGA  MARÇO  DE  1562 

I.    Bibliografia :    Catalogo  dos  Manuscriptos  I  29 ;  Cimélios  497 ; 
Leite,  História  VIII  21  n.  18. 

II.    Autores:   Leite,  História  I  262  291;  II  574;  Breve  Itinerário 
170-171. 

III.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lis- 
boa] 1-5,  2,  38,  ff.  129V-130V.  Título:  «Copia  de  huma  do  Irmão  Joseph 
pera  o  P.e  Geral,  de  S.  Vicente,  de  Março  de  1562.  Recebida  a  20  de 
Setembro  do  dito  anno».    Apógrafo  coevo  em  espanhol. 

IV.  Impressão:   Anais  da  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  I 
(1876)  305-308;  Cartas  de  Anchieta  (Rio  de  Janeiro  1933)  177-180. 

V.    História  da  Impressão:   Anais  imprime  o  apógrafo  em  espa- 
nhol; Cartas  a  tradução  portuguesa  feita  do  apógrafo. 

VI.    Edição:   Reedita-se  o  texto  único  (apógrafo). 


21   Cf.  Luc.  22,  28-30. 


452 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


Textii  s 

1.  Comtnercium  litterarum.  —  2.  Ministério  in  oppidis  littoreis.  — 
3.  Pater  Nóbrega  contionatur  in  omuibus  oppidis  sed  aegrotavií  sicut  et 
alii. —  4.  Lectio  grani maticae  in  oppido  S.  Vinceutii,  unde  translata  est 
Piratiningam  victu  abnndantiorem.  —  5.    Ministério  Pirntiningae.  — 

6.  De  Jndis  olim  discipulis  nostris  nulla  habetur  cura,  paneis  exceptis. — ■ 

7.  Lusitani  et  Brasili  sunt  in  dies  peiores. 

Pax  Christi. 

1.  El  ano  passado  de  6i  en  el  mes  de  Julio  se  escrivió 
largamente  por  la  2.a  via  en  este  mesmo  navio,  aviendo  ya 
sido  la  primera  embiada  por  otro  antes  dél l.  Mas  este  no 
pudo  llegar  por  los  vientos  contrários  y  por  esso  torno  a 
arribar.  Lo  que  [i3or]  después  acaesció  escriviré  breve- 
mente, más  por  complir  con  el  mandamiento  de  la  sancta 
obediência  que  por  aver  cosa  digna  de  ser  escrita. 

2.  Nuestra  conversación  con  los  próximos  es  la  acos- 
tumbrada.  Occupámonos  en  la  doctrina  de  lias  cosas  de 
la  fee  y  mandamientos  de  Dios  con  las  mujeres  de  los 
christianos  y  sus  esclavos  y  esclavas  en  estos  lugares  en 
que  están  dispargidos;  siempre  se  coge  algún  fructo  por  la 
bondad  dei  Senhor  asy  en  apartarlos  de  pecados  como  en 
algún  poco  [ablandar]  su  gran  dureza  en  el  conocimento 
de  Dios  Nuestro  Criador  y  Senor,  y  ajudándolos  a  bien 
morir  pera  lo  qual  comúmente  somos  lhamados  assy  para 
los  Biancos  como  para  sus  esclavos,  a  quales  es  necessário 
acudir  a  diversos  lugares  por  mar  y  por  tierra,  onde  hazen 
sus  habitaciones.  En  lo  qual  a  las  vezes  el  trabajo  es 
grande,  que  se  dobla  con  la  poqua  Consolación  que  se 
recibe  dei  poco  fructo  que  dan  campos  labrados  con  tantos 
sudores.  Mas  abástanos  salvar  una  sola  ánima  o  para 
mejor  dizir  ser  cooperadores  de  Dios  2  en  su  salvación. 


14    en '  corr.  ex  por 


1  Carta  de  30  de  Julho  de  1561,  que  é,  de  facto,  a  2/  via  (carta  53). 

2  Cf.  3  Ioan.  i,  8. 


62.  -  PIRATININGA  MARÇO  DE  1562 


453 


Y  quando  ni  esto  oviesse,  sea  el  Senor  servido  en  nuestros  25 
flacos  y  pequenos  trabajos  recebidos  por  su  amor. 

3.  En  Sant  Vicente  se  visitan  los  ingenios  con  doctri- 
nas  y  confessiones  y  tres  poblaciones  3  de  los  Portugueses, 
que  están  cinqo  y  seis  léguas  distantes  antre  sy,  haziendo 
mora  en  cada  una  delias  según  la  necessidad  lo  demanda.  30 
Predica  el  P.e  Manuel  de  Nóbrega  a  menudo  en  todas  ellas 
aunque  con  mucho  trabajo  de  su  persona,  por  sus  muchas 

y  continuas  enfermedades  que  cada  dia  padece,  se  le  van 
acrecentando,  ordenándolo  assy  la  divina  disposición  para 
mayor  merescimiento  suio.  Esta  quaresma4  estuvo  algún  35 
tiempo  en  una  de  las  poblaciones,  que  es  la  principal, 
llamada  Sanctos,  predicando  3  vezes  en  la  semana  y  con- 
fessando muchos  de  los  esclavos  por  intérprete.  E  perse- 
vero en  este  ministério  hasta  que  más  no  pudo,  poniendo 
su  ánima  por  sus  hermanos,  porque  adoleció  tan  grave-  40 
mente  que  fue  necessário  traello  a  cuestas  a  S.  Vicente, 
a  nuestra  casa,  por  él  no  poder  venir  por  sus  pies.  La 
emfermedad  es  peligrosa.  Cúmplase  la  voluntad  de  Christo 
Nuestro  Senor  en  él  y  en  todos  nosotros.  Algunos  otros 
Hermanos  son  también  visitados  dei  Senor  con  enferme-  45 
dades,  como  febres,  prioris  5  y  câmaras,  mas  él  que  las  da 
las  cura  por  su  misericórdia,  que  en  la  tierra  poças  medi- 
cinas ay  pera  ello,  bendito  sea  él  por  todo. 

4.  El  estúdio  de  la  gramática  se  continuo  hasta  el  mes 
de  Noviembre  G  en  Sant  Vicente  con  el  número  de  los  estu-  50 
diantes  de  que  en  las  letras  passadas  hago  mención  7,  mas 
fué  tanta  la  esterelidad  de  los  mantenimientos  que  ni  por 
mucho  trabajo,  que  en  esso  se  puso,  pudo  aver  provisión 


3a    con  for»',  cx  com  |  persona  corr.  cx  perso 


3  Santos,  Bertioga  e  Itanhaém. 

4  Em  1562,  a  Quarta-feira  de  Cinzas  foi  a  11  de  Fevereiro,  e  a 
Páscoa  a  29  de  Março. 

5  Prioris,  português  antigo,  o  mesmo  que  pleuris  ou  pleurisia. 

6  De  1561. 

7  Carta  53  §  25. 


454 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


bastante  de  la  harina  y  pan  de  la  tierra,  ni  los  moradores 
55  la  tenían  para  sy  ni  para  nosotros,  por  lo  qual  fué  neces- 
sário que  nos  viniéssemos  a  esta  Piratininga,  onde  es  la 
abundância  major.  Aquy  se  prosigue  el  estúdio  con  los 
nuestros  que  son  recebidos  para  escolares  y  con  algunos 
de  fuera,  los  quales  continuan  sus  confessiones  (como  es 
6o  costumbre)  cada  15  dias  y  cada  8  dias.  Su  provecho  en 
el  studio  poco  es,  aunque  por  otra  parte  se  puede  dizir 
mucho,  considerada  la  rudeza  de  los  ingenios  brasílicos  y 
criados  en  el  Brasil,  que  tanto  monta  8. 

5.  También  aqui  nos  occupamos  en  la  doctrina  de  los 
65  esclavos  y  mujeres  de  los  Portugeses,  la  qual  siempre  se 

continua  dos  vezes  cada  dia  con  confessiones  a  menudo  y 
comuniones  algunas  vezes.  Acodimos  a  todo  género  de 
persona,  portugés  y  brasil,  siervo  y  libre,  assy  en  las  cosas 
espirituales  como  en  las  corporales,  curándolos  y  sangrán- 

7o  dolos,  porque  no  ay  otro  que  lo  haga  [130V],  y  principal- 
mente las  sangrias  son  aquy  muy  necessárias,  porque  es 
mui  subiecta  esta  tierra  a  prioris,  maxime  en  los  naturales 
delia,  quando  el  sol  torna  a  declinar  hazia  el  norte,  que 
es  en  el  mes  de  Deziembre  y  dally  por  delante;  y  sino 

75  acudiéssemos  con  sangrias  no  ay  dubda  sino  perecerían 
muchos.  Y  asy  con  esto  tenemos  meyor  entrada  con  ellos 
para  les  dar  a  entender  lo  que  toca  a  la  salud  de  sus 
ánimas. 

6.  Con  los  brasiles  nuestros  antiguos  discípulos,  que 
80  con  tanto  afán  y  trabajo  anduvimos  criando,  no  tenemos 

cuenta  alguna,  y  digo  no  tenemos,  porque  ellos  se  han 
echo  indispuestos  para  todo  bien,  indispargiéndose  por 
diversas  partes,  onde  no  pueden  ser  ensenados  y  anssy 
tórnanse  todos  a  las  costumbres  de  sus  padres,  mas  con 
85  todo  no  dexamos  de  visitarlos  de  quando  en  quando,. 


81   tenemos]  teiemos  ms. 


8    Cf.  Leitf,  Breve  Itinerário  170-171. 


62.  -  P1RATININGA  MARÇO  DE  1562 


455 


traéndoles  a  la  memoria  el  baptismo  que  han  recebido  y 
los  mandamientos  de  Dios  y  siempre  se  baptizan  algunos 
de  sus  hijos  innocentes,  que  se  van  al  cielo  en  su  innocen- 
cia;  y  algunos  de  los  grandes  vienen  algunas  fiestas  dei 
afio  a  la  iglesia  y  a  confessarsse  por  la  quaresma  y  quando  90 
van  a  sus  guerras;  mas  los  más  dellos  viven  como  dantes, 
maxime  aquellos  que  tuvieron  meyor  conocimiento  de  las 
cosas  de  la  fee,  como  los  mochachos  y  mochachas,  que  se 
criaron  de  pequefios  en  la  doctrina,  los  quales  todos  son 
perdidos,  mas  Nuestro  Sefior  no  dexa  de  castigarlos  con  95 
dolências  y  muertes;  porque  después  que  se  apartaron  de 
nosotros  no  hazen  sino  murirse  acá  y  acullá  por  sus  mal- 
ditas habitaciones,  sin  confessión,  unos  amancebados,  otros 
con  los  hechizeros  que  piensan  que  les  dan  salud  a  la  cabe- 
cera,  otros  llevados  y  comidos  de  sus  contrários.  100 

7.  No  nos  queda  antre  tantas  [des]consolaciones  otro 
consuelo  sino  tornamos  a  Dios  y  proponerle  delante  esta 
causa  con  oraciones,  encomendándolo  todo  a  su  divina 
magestad  y  piedad;  y  esta  aliamos  que  es  la  más  saluda- 
ble  predicación,  que  podemos  hazer,  trabajar  en  llorar  105 
nuestros  peccados  y  los  suyos,  pediendo  a  Dios  miseri- 
córdia. Porque  a  la  verdad  assy  Portugueses  como  Brasi- 
les  índios  son  peiores,  seguiendo  los  caminos  de  la  carne 
y  dexando  los  de  Dios.  Y  plega  a  la  divina  bondad  no 
nos  vamos  nosotros  por  nuestro  descuido  declinando  como  no 
ellos,  de  lo  qual  nos  guardará  Nuestro  Seííor,  si  Vuestra 
R.  P.  con  contínuos  sacrifícios  y  oraciones  assy  propias 
como  de  todos  nuestros  Charissimos  Padres  y  Hermanos 
rogare  por  nosotros  mínimos  hijos  de  la  Compafiía;  y  creia 
sin  dubda  si  algunos  son  necessitados  mendigos  somos  115 
nosotros,  con  lo  qual  bien  creyo  avrá  dado  Nuestro 
Senor  a  sentir  muy  de  verdad  en  su  ánima  a  V.  R.  P. 
No  se  offresce  otro  al  presente.  Christo  Jesú,  salud  nues- 
tra  nos  de  su  muy  copiosa  gracia  para  perfectamente  cono- 
cer  y  cumplir  su  sanctíssima  voluntad.  120 


96  después  que]  que  tus.  ||  ut  lo]  los  ms.  ||  114  nosotros  corr.  ex  nuestros  otros 
creia  corr.  ex  crea 


456  PP.  E  II.  QUE  ESTÃO  NA  CAPITANIA  DE  S.  VICENTE 


Desta  casa  de  S.  Pablo  de  Piratininga  de  la  Capitania 
de  Sant  Vicente,  desde  el  mes  de  Jullio  de  61  hasta  el  mes 
de  Março  de  62. 

Mínimo  de  la  Compafíía  de  Jesús, 

Joseph. 

CARTAS  PERDIDAS 

Ô2a-c.  Da  Câmara  de  Porto  Seguro  e  outras  pessoas  particulares  ao 
P.  Luis  da  Grã,  Baia  (Porto  Seguro,  Maio  [?]  de  1562).  Pelo  mês  de 
Abril  de  1563  mandou  o  Provincial  para  Porto  Seguro  os  Padres  Fran- 
cisco Viegas  e  António  Gonçalves,  por  não  poder  «deixar  de  condes- 
cender com  os  muitos  rogos  que  por  muitas  vezes  lhe  fizeram,  assim  a 
Câmara,  em  nome  de  toda  a  Capitania,  como  outras  pessoas  honradas 
e  devotas  em  particular»,  —  escreve  Leonardo  do  Vale  a  12  de  Maio 
de  1563  {Cartas  Avulsas  382).  Em  Junho  de  1562  já  o  Provincial  tinha 
dado  palavra  de  enviar  Padres  a  Porto  Seguro  (carta  66  §  25). 


63 

LISTA  DOS  PADRES  E  IRMÃOS 
QUE  ESTÃO  NA  CAPITANIA  DE  S.  VICENTE 
EM  ABRIL  DE  1562 

[S.  VICENTE  ABRIL  DE  1562] 

I.  Texto:  ARSI,  Bras.  /-/,  f.  2r-2v.  Por  mão  de  Anchieta.  Em 
espanhol.  Outra  letra:  «Sant  Vincente  deirindia,  Aprile  62». 

II.  Pessoas  da  Companhia  de  Jesus:  Embora  breve,  esta  lista 
distingue  os  graus  dos  Padres  e  Irmãos  que  vivem  na  Companhia,  e 
cuja  ideia  sumária  é  como  segue: 

Professos:  Padres,  que  fazem  os  três  votos  de  religião  (pobreza, 
castidade  e  obediência),  públicos,  e  em  forma  solene;  e,  excepto  um 
ou  outro,  raro,  todos  os  Professos  da  Companhia,  fazem  um  quarto 
voto  de  obediência  ao  Papa  a  respeito  de  missões  (Professos  de  qua- 
tro votos). 

Coadjutores  Espirituais :  Padres,  que  fazem  os  três  votos,  de  reli- 
gião, simples,  mas  públicos  (Coadjutores  Espirituais  formados). 


133   de  61  sufi. 


65.  -  S.  VICENTE  ABRIL  DE  15(52 


457 


Coadjutores  Temporais :  Irmãos,  que  fazem  os  três  votos  de  reli- 
gião, simples,  mas  públicos  (Coadjutores  Temporais  formados). 

Votos  Simples:  Os  mesmos  três  votos  de  religião,  mas  logo  ao 
fim  do  noviciado  e  em  forma  privada,  perpétuos  da  parte  de  quem  os 
faz,  condicionados  da  parte  da  Companhia.  Como  o  noviciado  dura 
dois  anos,  chamam-se  também  «votos  do  biénio»,  e  ainda  «primeiros 
votos»,  com  referência  aos  «últimos  votos»  públicos  da  formatura,  quer 
venham  a  ser  Professos,  quer  Coadjutores  Espirituais  ou  Temporais 
formados. 

Escolares:  Irmãos  Escolásticos  ou  Estudantes,  que  seguem  a  car- 
reira de  estudos  sacerdotais,  já  com  os  votos  simples  do  biénio. 

Recebidos  para  Escolares:  Irmãos  Noviços,  estudantes,  ainda  sem 
os  votos  do  biénio. 

Recebidos  indifferenter :  Irmãos  Noviços,  que  tanto  poderão  ser 
aplicados  a  estudos  (Escolares),  como  a  serviços  domésticos  (Coadju- 
tores Temporais),  segundo  as  aptidões  que  revelarem  (Const.  Pars  V. 
Cf.  Constitutiones  Societatis  Iesu  latinae  et  hispanicae  [Romae  1937] 
169-183 ;  Epitome  [Roma  1924]  173-175). 

III.  Impressão:  Em  português.  Leite,  História,  VI  (Rio  de  Ja- 
neiro 1945)  404-405. 

IV.  Edição:    Edita-se  o  texto  únJco. 

Textus 

1.  Professus,  Coadiutores  Spirituales  et  Temporales,  Scholastici  et 
indifferenter  recepti. 

I  + 

JHS 

1.  Lista  de  los  Hermanos  que  están  en  la  Capitania 
de  S.  Vicente  dei  mes  de  Abril  de  1562. 

El  P.  Manoel  da  Nóbrega.  Professo  x. 


1  Professo  de  quatro  votos.  Conserva-se  a  fórmula  autografa  de 
Nóbrega  (26  de  Abril  de  1556),  publicada  em  Cartas  de  Nóbrega  (Coim- 
bra 1955)  201-202.  Além  dos  quatro  votos  solenes,  os  Professos  faziam 
mais  cinco  simples,  entre  os  quais  o  da  renúncia  a  dignidades  e  prela- 
turas  eclesiásticas.   Cf.  os  de  Nóbrega,  ib.,  395-396. 


458 


PP.  E  II.  QUE  ESTÃO  NA  CAPITANIA  DE  S.  VICENTE 


5  Coadjutores  Spirituales 

P.  Afonso  Brás. 
P.  Vicente  Rodriguez. 

Coadjutores  Temporales 
Simão  Gonçalvez. 

io  De  votos  simples  2 

P.  Fernán  Luis  3. 

Scholares 
Luis  Valente  4. 
Manoel  Viegas  5. 
15  Joseph  de  Anchieta. 

Recebidos  para  Scholares 
Diogo  Fernandes  6.  Portogués. 


2  Votos  do  biénio,  ao  fim  do  noviciado :  abrange  os  quatro  nomes 
seguintes:  Um  Padre,  e  três  Irmãos  Estudantes.  Esta  designação  de 
«Escolares»  ou  «Escolásticos»  mantém-se,  mesmo  depois  de  Padres, 
até  ao  dia  em  que  se  fazem  os  últimos  votos  (de  Professo  ou  de  Coa- 
djutores Espirituais). 

3  O  Catálogo  de  1567  dá  o  seu  nome  completo:  Fernão  Luís 
Carapeto  {Bras.  j-i,  f.  7V).  Entrou  na  Companhia  já  Padre.  Cf.  Mon. 
Bras.  11  309. 

4  Luís  Valente  era  dos  meninos  órfãos,  natural  de  Serpa.  Enge- 
nhoso para  obras  de  mão.  Entrou  na  Companhia  em  1559  com  21  anos 
de  idade,  sabia  a  lÍDgua  e  em  1567  já  era  Padre  (Bras.  j-i,  ff.  7V  iov). 
Fernão  Cardim  conta  o  seu  falecimento  em  1604  numa  Aldeia  de  Índios, 
de  que  foi  grande  catequista  (Leite,  História  1  497). 

5  Manuel  Viegas,  «Apóstolo  dos  Maramomins»,  natural  de  Marvão 
(Portalegre).  Era  dos  meninos  órfãos.  Entrou  na  Companhia  em  1556, 
ordenou-se  de  Sacerdote,  aprendeu  a  língua  brasílica  e  a  dos  Maramo- 
mins, fundou  a  Aldeia  dos  Guarulhos  e  faleceu  em  São  Paulo  de  Pira- 
tininga  a  17  de  Março  de  1608  (ib.  viu  191). 

6  Diogo  Fernandes.  Aqui  se  lhe  chama  «português»,  que  assim 
se  qualificavam  então  todos  os  que  no  Brasil  nasciam  de  pai  português. 
Mas  nasceu  em  Porto  Seguro  ou  Espírito  Santo.  Entrou  na  Companhia 
em  1560  com  17  anos  de  idade,  sabia  a  língua  brasílica,  ordenou-se  de 
Sacerdote,  foi  grande  missionário  dos  índios,  e  faleceu  na  Aldeia  de 


64.  -  LISBOA  14  DE  MAIO  DE  1562 


459 


Gaspar  da  Mota.  Portogués. 

Antonio  de  Sousa.   Filho  de  Portogués  y  mestiça. 

Recebidos  indifferenter 
Simão  Jorge.  Portogués. 
Antonio  do  Campo.   Portogués  7. 

64 

DO  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO 
AO  P.  JERÓNIMO  NADAL,  [BILLOM] 

LISBOA  14  DE  MAIO  DE  1562 

L    Autores :   Leite,  História  I  562. 

II.  Texto:  ARSI,  Lus.  61,  ff.  9Ór-99v  [antes  ff. 52or-523v].  Endereço 
por  mão  alheia:  «Al  muy  Reverendo  Padre  en  Christo  el  Padre  Maes- 
tro Hierónimo  Nadal  Comissário  General  [de  la  Compan]hía  de  Jesus. 
En  donde  estuviere».  Outra  letra:  «1562  Lisboa  P.  Gonçalo  Vaz».  Cláu- 
sula e  assinatura  autógrafa.  Original  em  espanhol. 

III.  Impressão :   Epp.  Nadal  I  (Matriti  1898)  688-698. 

IV.  Lugar:  O  lugar  «para  onde»  aparece  indeterminado  no  ende- 
reço, porque  o  P.  Nadal  tinha  saído  de  Portugal  a  fazer  a  visita  de  Espa- 
nha, França,  Flandres,  etc.  No  momento  preciso,  em  que  o  Provincial 
de  Portugal  escrevia,  Nadal  achava-se  em  Billom  (Puy-de-Dôme),  onde 
se  fundara  em  1555  o  primeiro  Colégio  da  Companhia  de  Jesus  em 
França  {Epp.  Nadal  1  744-745 ;  Fouqueray,  Histoire  de  la  Compagnie 
de  Jesús  en  France  I  183). 

V.    Edição:  Reimprime-se,  de  Lus.  61,  o  que  toca  ao  Brasil. 


19    Antonio  dei,  a 


Reritiba,  de  que  era  Superior,  a  28  de  Abril  de  1607  (Leite,  Diogo 
Fernandes,  primeiro  Padre  da  Companhia  de  Jesus  nascido  no  Brasil,  in 
Verbum  12  [1955]  17-21). 

7  Os  últimos  quatro,  Gaspar  da  Mota,  António  de  Sousa,  Simão 
Jorge  e  António  do  Campo,  já  não  constam  do  Catálogo  seguinte  (1567). 


460 


P.  BRÁS  LOURENÇO  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


Textus 

1.  Ad  Brasiliam  e  portu  non  solutae  sunt  naves,  in  primis  quae  sol- 
ventur  Paires  mittet.  —  2.  Inter  quos  unum  qui  munere  Provincialis 
/ungi  possit,  gratumquc  sibi  erit  si  eum  indicaverit. 

[...] 

1.  [97 v]  Para  la  parte  dei  Brasil,  adonde  reside  el 
P.e  Luis  da  Grã,  no  partieron  navios  después  de  aquél  en 
que  en  Noviembre  passado  fueron  el  P.e  Francisco  Viegas 
y  el  Hermano  Cypión  K  Con  los  primeros  navios  que  uviere 

5  parece  que  embiaremos,  plaziendo  a  Nuestro  Sefior,  algu- 
nos  que  ayuden  en  aqueila  obra  de  la  conversión  que  Nues- 
tro Sefior  va  prosperando  mucho. 

2.  Y  parecíame  necessário  embiar  una  persona  que 
tenga  bien  entendido  las  cosas  de  la  Companía  y  modo  de 

10  proceder  delia,  y  pueda  ayudar  en  la  falta,  que  desto  ay 
allá  y  soceder  al  P.e  Luis  da  Grã  en  el  officio  de  Provin- 
cial2.  Si  pareciere  assí  bien  a  V.  R.a  consolarme  hia  que 
me  apuntasse  qual  le  parece  que  embíe  para  este  intento. 

[•■■] 

65 

POR  COMISSÃO  DO  P.  BRÁS  LOURENÇO 
AO  P.  MIGUEL  DE  TORRES,  LISBOA 

ESPÍRITO  SANTO  10  DE  JUNHO  DE  1562 

I.  Bibliografia:  Catalogo  dos  Manuscriptos  I  29;  Cimèlios  496- 
-497;  Sommervogel  v  36  n.  1;  Streit  li  350  n.  1282;  Leite,  Histó- 
ria VIII  324. 

II.   Autores:   Leite,  História  I  219  226  236  239  381;  11  39  79  588. 


1  Francisco  Viegas  e  Cipione  Comitoli  chegaram  à  Baía  na  qua- 
resma de  1562,  como  dirá  Leonardo  do  Vale,  carta  de  26  de  Junho 
de  1562  §  20  (carta  66). 

2  O  P.  Jerónimo  Nadal  era  então  Comissário  Geral  com  poderes 
especiais  para  todas  as  Províncias  da  Companhia  excepto  a  Itália. 
O  P.  Geral  Laynes  estava  no  Concílio  de  Trento  (Synopsis  Hist.  S.  1. 43). 


65.  -  ESPÍRITO  SANTO  10  DE  JUNHO  DE  1562 


461 


III.  Texto:  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque, 
Lisboal  1-5,  2,  38,  ff.  I28r-i29v.  Título:  «Copia  de  huma  carta  do  Bra- 
sil do  Spiritu  Santo  para  o  P.e  Doctor  Torres,  do  Pe  Brás  Lourenço, 
de  10  de  Junho  de  1562.  Recebida  [em  Lisboa]  a  20  de  Setembro  do 
mesmo  anno».  No  fim,  com  a  mesma  letra  do  copista:  «Esta  carta  não 
trazia  firma».    Apógrafo  em  português. 

IV.  Autor:  Como  se  diz  (III),  esta  carta  «não  trazia  firma». 
E  nenhum  dos  que  se  nomeiam  nela  e  residiam  no  Espírito  Santo  a 
poderia  escrever,  tal  como  se  apresenta,  porque  todos,  dentro  dela, 
recebem  o  seu  quinhão  de  louvor  em  termos  que  nenhum  de  Casa 
diria  de  si  mesmo.  Se  o  autor  fosse  de  Casa  (só  os  dois  únicos  Padres 
dela,  Brás  Lourenço  e  Fabiano  de  Lucena  estariam  habilitados  a 
escrevê-la),  os  louvores  seriam  acrescentados  por  outrem,  talvez  pelo 
Procurador  das  Missões  e  Secretário  da  Companhia  em  Lisboa,  como 
se  pode  inferir  do  que  o  P.  Francisco  Henriques  informa  sobre  este 
seu  ofício  (carta  54  §  3).  Uma  referência  de  Leonardo  do  Vale  (carta  66 
§  28)  sugere  que  era  o  P.  Brás  Lourenço  que  então  escrevia  as  cartas. 
Contudo,  não  repugna  que  escrevesse  a  carta,  «por  comissão  do  P.  Brás 
Lourenço»,  algum  da  Companhia  não  pertencente  à  Casa  mas  de  passa- 
gem nela  com  demora,  porque  estava  presente  e  se  inclui  (na  i.a  pes- 
soa do  plural)  numa  visita  à  Aldeia  dos  índios:  «Fomos  lá  ver»  (§  n). 
Por  este  tempo  passariam  pelo  Espírito  Santo  o  P.  Manuel  de  Paiva  e 
os  Irmãos  Gregório  Serrão,  Manuel  de  Chaves  e  Diogo  Jácome,  a 
caminho  da  Baía,  aonde  os  três  últimos  se  iam  ordenar;  e  demo- 
rar-se-iam  meses,  pois,  não  constando  já  em  S.  Vicente  no  Catálogo  de 
Abril,  só  chegaram  à  Baía  em  Setembro  deste  ano  (Leite,  Breve  Itine- 
rário 172).  Todavia,  os  elementos  de  individuação  são  insuficientes  e 
deixa-se  como  está  no  título  da  cópia :  «por  comissão  do  P.  Brás  Lou- 
renço». 

V.  Impressão :  Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  Brasi- 
leiro II  (Rio  de  Janeiro  1840)  418-423;  (2.a  ed.  1858)  420-425;  Cartas 
Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  337-342. 

VI.   Edição:   Reedita-se  o  texto  único. 

Textus 

1.  Status  segregatus  et  pauper  huius  Praefecturae.  —  2.  Domus  et 
ecclesia  S.  Iacobi  cum  duobus  Patribus  et  duobus  Fratribus.  —  3.  Et  aliqui 
pueri  qui  linguam  latinam  discunt,  et  alii  qui  remigant,  piscantur  et 
eleemosynas  petunt  ad  manducandum.  —  4.  Ecclesia  pauper  est  vestibus 
sacris  neque  ad  missam  satis  habet  vini  et  farinae.  —  5.    Paires  magna 


462 


P.  BRÁS  LOURENÇO  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


pollent  auctoritate  in  hac  Praefectura.  —  6.  Praefectus  Melchior  de  Aze- 
redo, Societati  devindas,  valet  ad  Indos  subiiciendos  et  Gallos  repellen- 
dos  —  7.  Pugna  contra  Gallos  in  qua  P.  Blasias  Lourenço  vexillum 
Sandi  Iacobi  portabat.  —  8.  Ad  explorandum  portam  advenit  navis 
gallica,  sed  speratur  /ore  ut  haec  etiam  Praefectura  deveniat  regia  at 
commodius  defendatur.  —  9.  Pagas  Dominae  Nostrae  Conceptionis  in 
quo  indae  officiutn  vestificis  et  stamminariae  discunt.  —  10.  Paires  indum 
principalem  Pagi  iudicem  pro  parvis  delictis  designarunt.  —  77.  Pagus 
Conceptionis  constituitur  mille  Indis  ex  eis  qui  e  Flumiue  /anuário  advecti 
erant.  —  72.  Iuvenes  Bahiae,  hic  a  nobis  educa  ti,  uxores  indas  duxerunt; 
illi  textores  sunt,  illae  vesti/ices  et  stammitfjriae,  omnes  quaerentes  vidum 
hominum  alborum  more.  —  73.  7 upinaquini  gens  est  minus  capax,  et 
adhuc  e  bellis  carnem  humanam  manducandam  abducunt. 

Pax  Christi. 

1.  Avendo  de  escrever  a  V.  R.*  o  que  N.  Senhor  poios 
da  nossa  Companhia  obra  nesta  Capitania  do  Spiritu  Sancto, 
me  pareceo  bem  dar-lhe  primeyro  informação  da  mesma 

5  terra  para  que,  sendo  de  tudo  informado,  julg[u]e  in  Domino 
o  socorro  e  ajuda  que  se  lhe  deve. 

Esta  Capitania  está  cento  e  vinte  legoas  de  S.  Vicente 
e  outras  tantas  da  Baya,  onde  os  nossos  Padres  residem,  e 
passa-se  às  vezes  muito  tempo  que  nen  presencialmente 

io  nem  por  cartas  se  podem  comunicar  huns  com  outros,  como 
agora  se  aconteceo  que  há  muito  perto  de  dous  annos  que 
por  aqui  não  passou  algum  dos  nossos,  nen  veo  recado  seu 
por  falta  de  embarcação;  e  assi  por  isto  como  por  também 
não  virem  aqui  navios  do  Rey  no,  por  não  haver  aqui  enge- 

15  nhos  d'açucar,  deixão  os  Padres  muitas  vezes  de  dizer  missa 
por  falta  de  vinho  e  padecem  outras  necessidades  que  seria 
largo  contá-llas. 

2.  Temos  aquy  humas  casinhas  pobres  com  huma 
igreja  da  vocação  de  Santyago,  na  qual  estão  dous  Padres 

20  e  dous  Irmãos.  Hum  hé  o  P.e  Brás  Lourenço,  que  averá 
nove  annos  que  aqui  reside  com  o  carrego  de  Superior. 
Occupa-sse  en  pregar  e  confessar  aos  Brancos  e  en  lhes 
ensinar  seus  filhos  e  en  tudo  o  mais  de  nosso  ministério 
com  muita  edificação  da  gente,  aa  qual  hé  muito  aceito, 

25  porque  conversa  elle  antre  elles  com  aquella  prudência 
e  simplicidade  [i28v],  que  Christo  N.  Senhor  emcomen- 


65.  -  ESPÍRITO  SANTO  10  DE  JUNHO  DE  1562 


463 


dava  a  seus  discípulos  l.  E  faltando  por  tempo  nesta  villa 
Vigário  tem  elle  o  cuidado  de  ministrar  todos  os  sacra- 
mentos a  todo  o  povo. 

O  outro  hé  o  P.e  Fabiano  2,  ao  qual  hé  encomendada  30 
a  conversão  dos  índios,  porque  para  isto  lhe  deu  Nosso 
Senhor  muito  bom  talento.  Tem  também  carrego  de  doc- 
trinar  a  escravaria  dos  christâos,  que  aqui  hé  muita,  e  hé 
ministro  desta  casa,  na  qual  serve  a  Nosso  Senhor  en  seus 
servos  com  muita  diligencia  e  alegria  e  com  muita  ediíica-  35 
ção  de  todos. 

Hum  dos  Irmãos  hé  Coadjutor  temporal,  não  sabe  leer 
nem  escrever,  homem  de  meya  idade,  manso  e  humilde  e 
prompto  na  obediência.  Serve  comummente  de  cosinheiro 
e  ortelão.  Tracta  com  muito  amor  aos  Irmãos.  Tem  mui-  40 
tos  legumes  e  fruitas  em  seu  pomar,  especialmente  a  que 
chamão  bananas,  que  durão  todo  o  anno  e  são  grande  ajuda 
para  sustentação  desta  casa. 

O  outro  hé  hum  mancebo  de  dezoito  até  vinte  annos 
de  bom  engenho  e  abil  para  tudo.  Acaba  agora  sua  pro-  45 
bação.  Sabe  algum  tanto  da  lingoa  destes  índios  e  aprende 
latim.  Hé  manso  e  modesto.  Serve  ao  Senhor  com  muita 
promptidão  e  alegria  na  obediência. 

3.  Alem  deste  está  aquy  outro  moçozinho  seu  irmão, 
puer  bonae  indolis.  Será  de  doze  anos,  ainda  não  hé  admi-  5° 
tido.  Este  também  aprende  latim.  Insina-os  o  P.e  Brás 
Lourenço  e  com  elles  a  hum  indiozinho  da  Baya  que  aqui 
criou.  Será  agora  de  12  até  14  annos,  habilissimo  para 
tudo.  Pregou  este  anno  passado  a  Paixão  em  portuges  à 
gente  de  fora  com  tanto  fervor  e  devação  que  moveo  muito  55 
os  ouvintes;  mas  estes  são  fruita  que  pouquo  dura  sem 
apodrecer  nesta  terra  3. 


43    sustentação  desta  corr.  ex  sustentar  esta 


1  Cf.  Mat.  10,  16. 

2  Fabiano  de  Lucena. 

3  Entre  os  Padres  e  Irmãos  da  Casa  de  S.  Roque,  Lisboa,  em  1562, 
há  esta  notícia:  «Ignacio  de  Mello,  de  17  anos,  português,  hijo  dei  Capi 


464 


P.  BRÁS  LOURENÇO  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


Há  mais  nesta  casa  5  ou  6  meninos  deste  gentio,  yá  chris- 
tãos,  a  quem  os  Padres  ensinão  a  doctrina  e  servem  de  levar 

60  o  Padre  Fabiano  em  huma  almadia  à  Aldeã  dos  índios,  e  vão 
pescar  e  pedem  esmola  para  seu  comer.  Os  nossos  Padres 
se  mantém  do  que  Sua  Alteza  manda  dar4,  ainda  que  aqui 
lhe  não  dão  mais  que  pera  dous,  e  elles  são  os  que  digo,  de 
modo  que  lhe  hé  necessário  viverem  também  do  trabalho 

65  de  suas  mãos  ut  ne minem  gravent 5,  nem  pedem  esmola. 

4.  Sua  igreja  hé  pobre,  a  qual  nen  ornamentos  nem 
retavolos,  nem  humas  galhetas  tem,  como  digo,  mal  provi- 
dos de  vinho  e  farinha  pera  as  missas.  Lembre-se  V.  R.a  por 
amor  de  N.  Senhor  de  lhe  fazer  vir  alguma  esmola  destas 

70  cousas  e  também  dalgum  pano  para  se  vestirem  e  algumas 
outras  cousas  para  remédios  de  suas  necessidades. 

5.  Aqui  nesta  Capitania,  como  disse,  tem  muito  cre- 
dito aos  nossos  Padres  e  devação  à  nossa  Companhia. 
Muita  gente  se  confessa  en  nossa  casa  entre  o  anno  e 

75  muita  mais  se  confessara  senão  fora  estarem  muitos 
embaraçados  com  peças  que  comprão  a  estes  índios,  os 
quaes  lhe  vendem  os  parentes  desamparados,  cousa  que 
os  nossos  Padres  nunqua  poderão  estorvar.  Dizem  estes 
christâos  que  os  não  querem  ter  por  cativos  senão  como 

80  por  soldada.  N.  Senhor  lhe  ordene  com  que  se  ponhão  em 
estado  de  boa  consciência. 

6.  O  Capitão,  a  quem  chamão  Melchior  de  Azeredo 


8a    Azeredo  corr.  ex  Azevedo 


tán  dei  Spíritu  Santo,  dei  Brasil,  tiene  medíocres  partes,  no  sabe  latín, 
pero  la  lengua  brasílica  muy  bien.  Recebiósse  por  indifíerente  a  30  de 
Noviembre  de  1562»  (Lus.  43-1,  f.  i8rv).  Inácio  de  Melo  ainda  está 
entre  os  noviços  em  Maio  de  1563,  não  já  em  Agosto  desse  ano  (ib.  2o6r). 
Nasceria  por  1545,  e  tem  o  mesmo  sobrenome  que  Jorge  de  Melo  e 
Martim  Afonso  de  Melo,  ambos  filhos  do  primeiro  Donatário  Vasco 
Fernandes  Coutinho,  «que  hé  capitão  do  Brasyl  da  Capitanya  do  Espi- 
rito Santo»  {Livro  de  Linhagens  do  Século  X.V1  169). 

4  Cf.  supra,  Carta  Régia  (doe.  24). 

5  Cf  1  Thes.  2,  9;  2  Thes.  3,  8. 

6  Melchior  ou  Belchior  de  Azeredo,  que  Mem  de  Sá  nomeara 
(Porto  Seguro,  HG  1  388).  Belchior  de  Azeredo  era  antigo  morador 


65.  -  ESPÍRITO  SANTO  10  DE  JUNHO  DE  1562 


465 


pessoa  mui  nobre  e  para  este  oííicio  mui  sufíiciente,  assy 
por  sua  virtude  e  saber  como  por  ter  elle  animo  pera 
sojeitar  estes  índios  e  resestir  aos  grandes  combates  dos  85 
Franceses,  hé  muito  nosso  devoto  e  ajuda  e  favorece  en 
todas  as  cousas  tocantes  à  conversão  do  gentio  e  en  tudo 
o  demais  que  cumpre  [i2Ç)r]  a  serviço  de  Nosso  Senhor. 
Todos  os  seus  negócios  e  cousas  de  consciência  comunica 
sempre  com  o  P.e  Brás  Lourenço,  a  quem  elle  tem  muito  90 
credito  e  obediência  in  Domino;  e  hé  muito  nosso  familiar 
e  nos  manda  comumente  ajudar  com  suas  esmolas 

7.  Este  anno  pasado,  despois  que  o  Governador  Men 
de  Saa  destruio  a  fortaleza  no  Rio  de  Janeiro,  foy  esta 
Capitania  mui  combatida  dos  Franceses,  os  quaes  entrando  95 
neste  porto  com  duas  naos  mui  grandes  e  bem  artilhadas 

se  poserão  de  fronte  desta  povoação,  cousa  para  causar 
assaz  terror  por  serem  os  moradores  poucos,  as  casas  cuber- 
tas  de  palha,  e  sem  fortaleza.  Acodio  o  Capitão  com  todos 
os  mais  a  se  encomendar  primeiro  a  São  Tyago  como  sem-  100 
pre  costuma  indo  a  suas  guerras,  nas  quaes  Nosso  Senhor 
o  favorece  com  lhe  dar  sempre  vencimento.  Sayo  o  P.e  Brás 
Lourenço  a  elles  e  tomando  a  bandeira  do  bem-aventurado 
Sam  Tyago  nas  mãos  se  foy  com  elles  até  o  lugar  do  com- 
bate, aonde  ouve  de  huma  parte  e  doutra  muitos  tyros  dos  105 
quaes  nenhum  fez  dano  aos  da  povoação  nen  a  ella,  mas 
antes  hum  dos  nossos  lhe  deu  com  hum  falcão  ao  lume 
dagoa  em  huma  das  suas  naos,  com  o  qual  se  poserão  em 
fogida,  e  os  christãos  seguindo  seu  Capitão  se  forâo  após 
elles  em  almadias  com  muita  escravaria  às  frechadas  até  no 
os  lançarem  fora  do  porto. 

8.  E  ainda  este  anno  veyo  outra  nao  delles  rodear  esta 
barra  e  deitou  huma  chalupa  fora  com  gente  a  explorar  o 


87  do  gentio  corr.  ex  dos  gentios  ||  88  serviço  corr.  ex  serevicio  ||  94  destruio] 
destrio  ms. 


da  Capitania  do  Espírito  Santo,  onde,  a  27  de  Fevereiro  de  1550,  tinha 
sido  nomeado  escrivão  da  Provedoria,  Feitoria,  Almoxarifado  e  Alfân- 
dega (Doe.  Hist.  35  [1937]  62-63). 

30 


466 


P.  BRÁS  LOURENÇO  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


porto,  mas  sentida  dos  christãos  foy  logo  corrida  e  se  aco- 
115  lheo.  De  modo  que  a  gente  desta  Capitania  vive  com  estes 
sobresaltos  esperando  que  seja  de  Sua  Alteza,  para  poderem 
ser  ajudados  com  algum  socorro  pera  sua  defensão,  porque 
emquanto  for  doutrem  nunqua  será  bem  provida,  nen  nós 
poderemos  aproveitar  muito  em  nosso  ministério  pella 
120  inquietação  da  terra. 

9.  Os  índios,  de  quem  o  Padre  Fabiano  tem  carrego, 
estão  em  huma  grande  aldeia,  que  lhe  elle  fez  fazer  aqui, 
arriba  da  povoação  dos  christãos,  em  hum  boom  sitio,  onde 
lhe  fez  fazer  huma  grande  igreja  mui  airosa  e  bem  guarne- 
125  cida,  com  huma  casa  pera  os  nossos  quando  aly  vão.  Esta 
igreja  hé  da  vocação  de  Nossa  Senhora  da  Conceição.  Hé 
muito  pobre,  porque  nen  cálix  tem.  Hum  desses  ornamen- 
tos de  que  lá  não  fazem  muita  conta  lhe  fora  quá  muy  bom 
para  as  festas. 

I3o  Fez  também  fazer  outra  grande  casa,  na  qual  está  hum 
homem  devoto  con  sua  molher,  que  ally  tem  muitas  moças 
daquelles  índios  debaixo  de  sua  disciplina  e  as  ensina  a 
alfayatas  e  a  fiar  et  caet.  Destas  se  casão  com  os  mance- 
bos yá  doctrinados  e  instruídos  nos  boons  costumes. 

I35  10.  A  esta  aldeã  vay  o  mesmo  Padre  Fabiano  todos  os 
dias  averá  dous  annos  7,  partindo  ante-manhã  desta  casa 
em  huma  almadia,  ora  contra  maree,  ora  com  chuiva  e  frio, 
que  hé  hum  trabalho  inconportavel;  aa  qual  chegado  vay 
logo  hum  indio  porteyro  pelas  casas  apregoando  que  se 

I4o  não  vão  fora  antes  de  yrem  aprender  à  igreja,  onde  se 
ajuntão  e  lhe  faz  o  Padre  a  doctrina,  ao  qual  elles  tem 
muita  reverencia  e  hé  temido  e  amado  delles.  Aprendem 
honestamente  as  cousas  da  fee,  vivem  apartados  de  seus 
antigos  costumes,  he  muitos  são  yá  christãos.  O  seu  Prin- 

145  cipal,  a  quem  os  Padres  ordenarão  que  fosse  Ouvidor,  hé 


128    lá  corr.  ex  há  ||  133    com]  cos  ms. 


7  Por  este  prazo,  se  infere  que  a  Aldeia  de  N."  S.a  da  Conceição 
era  a  que  tratava  de  fundar  em  1559  o  P.  António  de  Sá  e  dá  conta  na 
sua  de  13  de  Junho  de  1559  §§  11-12  (carta  11). 


65- -ESPÍRITO  SANTO  10  DE  JUNHO  DE  1562 


467 


temido  e  estimado  delles.  Tem  alcaide  e  porteiro.  Quando 
algum  deve,  hé  trazido  diante  delle  e  não  tendo  com  que 
pague  lhe  limita  tempo  pera  isso,  segundo  o  Ouvidor  aponta. 
Tem  um  tronco  em  que  mandão  meter  os  quebrantadores 
de  suas  leys  e  os  castigão  comforme  a  seus  delictos.  As  150 
leys  ordenarão  elles,  presente  o  P.e  Brás  Lourenço  e  [129V] 
hum  lingoa,  desta  maneira:  o  Principal  preguntava  o  cas- 
tigo que  davão  por  cada  hum  dos  delictos,  dizendo-lho  a 
lingoa.  Elles  o  acceitavão.  Somente  os  casos  em  que 
emcorrião  em  morte  lhe  moderou  o  Padre.  E  assy  vivendo  155 
em  sua  ley  nova,  acertou  huma  india  christãa  casada  de 
íazer  adultério.  Foy  acusado  o  adultero  e  condenado  que 
perdesse  todos  seus  vestidos  para  o  marido  da  adultera  e 
foy  metido  no  tronco.  De  modo  que  ficarão  tam  atemori- 
zados os  outros  que  não  se  achou  dally  por  diante  fazerem  160 
outro  adultério,  mas,  se  algum  pecca,  logo  hé  acusado  ao 
Principal 8,  o  qual  manda  que  o  castigem. 

11.  Averá  nesta  aldeã  mil  almas  e  são  estes  os  índios 
que  para  aquy  vierão  do  Rio  de  Janeiro  estes  annos  passa- 
dos 9,  os  quaes  sempre  forão  amigos  dos  christãos.  Muitos  165 
parentes  destes  estavão  misturados  com  os  Tupinaquins,  que 
aqui  perto  vivem,  os  quais  o  Capitão  Melchior  dAzeredo  fez 
mudar  para  um  boom  sitio  que  está  por  este  ryo  arriba, 
aonde  tem  muitas  e  boas  terras  e  estão  muito  mais  à  mão 
e  milhor  aparelhados,  apartados  dos  Tupinaquins,  para  170 
nelles  podermos  fazer  fruito.  Fomo-los  ver  hum  dia  destes 
e  o  seu  Principal,  que  hé  homem  entendido  e  desejoso  de 
se  fazer  christâo10,  nos  agasalhou  com  das  gallinhas  e  caça 


161    se  sup.  ||  162    Principal  corr.  ex  Padre 


8  No  ms.  P.e  [Padre] :  riscaram  e  escreveram  p.,  que  desdobramos 
em  Principal,  pois,  segundo  o  texto,  era  o  Ouvidor,  e,  portanto,  embora 
sob  a  autoridade  dos  Padres,  pessoa  qualificada  para  mandar  castigar 
o  delinquente. 

9  Os  índios  do  Gato,  que  passaram  do  Rio  de  Janeiro  para  a 
Capitania  do  Espírito  Santo  em  1555  (Mon.  Bras.  11  226-227). 

10  «Desejoso  de  se  fazer  christâo»:  diferente,  portanto,  do  primeiro 
Principal  Maracajaguaçu  ou  Gato  Grande,  que  já  se  tinha  baptizado, 


468 


P.  BRÁS  LOURENÇO  -  P.  MIGUEL  DE  TORRES 


do  mato,  mostrando-nos  o  lugar,  que  já  tinha  limpo  para 

175  nos  mandar  fazer  a  igreja.  Determinão  os  Padres  de  o  casar 
cedo,  fazendo-o  christão.  A  molher  para  este,  que  hé  uma 
moça  dos  seus,  ensina  a  molher  do  Capitão  em  boons  costu- 
mes, a  qual  também  hé  devota  de  nossa  Companhia,  e  em 
cousas  semelhantes  pode  favorecer  muito  nosso  ministério. 

180  12.  Aqui  nesta  casa  se  criarão  huns  moços  dos  da  Baya, 
os  quaes  os  Padres  casarão  com  destas  moças  dos  índios  e 
delles  aprenderão  a  tecellões  e  as  molheres  a  fiar  e  alfaya- 
tas  e  ganhão  sua  vida  ao  modo  dos  Brancos,  que  hé  cousa 
muito  para  estimar  en  estes  que  tam  pouca  habilidade  tem. 

185  13.  Os  Tupinaquins,  que  acima  digo,  hé  gente  mui 
pouco  aparelhada  para  se  fazer  fruito  nelles.  Vindo  huns 
pouquos  delles  os  dias  passados,  da  guerra,  souberão  nos- 
sos Padres  que  trazião  carne  humana  para  comerem.  Acudio 
logo  lá  o  Padre  Fabiano  e  não  lhe  achando  mais  que  hum 

190  braço  lho  deitou  no  mar  e  lhe  tomou  algumas  oyto  almas, 
que  trazião  cativas,  e  trouve-as  ao  Capitão,  que  as  fizesse 
repartir  pelos  Brancos  e  as  pagassem  a  seus  donos  para 
que  as  não  comessem. 

Isto  hé  o  que  se  ofrece  para  escrever  a  V.  R.a,  pedindo-lhe 

195  nos  faça  sempre  encomendar  a  Deos  N.  Senhor  pelos  da 
Companhia  dessa  Provincia,  para  que  en  tudo  sejamos 
sempre  favorecidos  e  ajudados  de  sua  divina  bondade  nes- 
tas terras  tam  estranhas  in  médio  nationis  pravae11. 

Desta  Capitania  do  Spiritu  Sancto  a  10  de  Junho  de  1562. 

200       Por  commissão  do  P.e  Brás  Lourenço. 

CARTAS  PERDIDAS 

ósa-b.  Do  P.  Antônio  Pires  aos  Padres  e  Irmãos  da  Baia  (Aldeia 
de  Santa  Cruz  de  Itaparica,  Junho  de  1562).  «Onde,  por  cartas  do 
Padre  Antonio  Pirez,  que  aly  reside,  soubemos»,  —  escreve  Leonardo 
do  Vale,  da  Baía,  a  26  de  Junho  de  1562  §  31  (carta  66). 


com  o  nome  de  Vasco  Fernandes  {Mon.  Bras.  11  374-375;  cf.  supra, 
carta  de  António  de  Sá,  de  13  de  Junho  de  1559  §  I,  p.  37). 
11    Cf.  Ps.  77,  8. 


66.  -  BAÍA  26  DE  JUNHO  DE  1562 


469 


66 

DO  P.  LEONARDO  DO  VALE 
POR  COMISSÃO  DO  P.  LUÍS  DA  GRÃ 
AOS  PADRES  E  IRMÃOS  DE  S.  ROQUE,  LISBOA 

BAÍA  26  DE  JUNHO  DE  1562 

I.  Bibliografia :  Catalogo  dos  Manuscriptos  I  28  ;  Cimélios  496 ; 
Leite,  História  ix  169  n.  2. 

II.  Autores :  Vasconcelos,  Chronica,  liv.  11  n.  107  ;  Franco,  Ima- 
gem de  Coimbra  11  211-212  224  ;  Capistrano  de  Abreu,  Ensaios  e  Estu- 
dos, 3.*  série  24-25  ;  Leite,  História  1  218  237  238  381 ;  11  55-58  73  96  122 
151 153  198  270  273  275  298  300  426  473  512  556;  Vasconcelos  de  Almeida, 
Gaspar  Lourenço  158. 

III.  Texto:  1.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque, 
Lisboa]  1-5,  2,  38,  ff.  n6r-i24v.  Título:  «Jesus.  Copia  de  huma  do 
P.e  Leonardo,  da  Baya  de  Todolos  Sanctos  de  26  de  Junho  de  1562. 
Para  os  Padres  e  Irmãos  da  Companhia  de  Jesu  en  Sam  Roque».  Apó- 
grafo  coevo  em  português. 

2.  ARSI,  Bras.  ij,  ff.  I34r-i4iv.  O  mesmo  título  que  no  códice  de 
S.  Roque,  mas  com  esta  nota  de  Polanco  [f.  141V] :  «Está  revista,  y  hase 
de  traducir».  Cópia  menos  perfeita.  Onde  em  S.  Roque  se  escreveu 
i certo):  1)  raízes,  2)  João  de  Melo,  3)  em  huma  rede,  4)  índios,  5)  Bom 
Jesu  mil,  6)  mocinhos,  etc.  transcreveu-se  :  1)  roíns,  2)  Jerónimo  de 
Melo,  3)  ahi  na  rocha,  4)  enemigos,  5)  bom  1000,  6)  mininos,  etc.  Apó- 
grafo  em  português  (no  aparato :  fe). 

5.  Bras.  zj,  ff.  i2or-i32r.  Com  cortes  e  emendas  de  Polanco.  Tra- 
dução italiana  do  texto  2. 

IV.  Impressão :  Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  344-371 
(pelo  texto  1). 

V.    Edição:    Reedita-se  o  texto  1  (mais  perfeito). 

Textus 

1.  Anno  praeterito  dixit  ea  quae  egerat  Provincialis  usque  ad  baptis- 
mum  in  Pago  Sanctae  Crucis  Itaparicae.  —  2.  Postea  Pater  Grã  pagos 
versus  Pernambucum  visitavit;  primus  fuit  Spiritus  Sancti.  —  3.  Pergit 
id  Pagum  S.  Antonii  ubi  baptismos  et  matrimonia  facit.  —  4.    In  Pago 


470 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


Boni  Iesu,  a  P.  Antonio  Rodrigues  fundato,  baptisat  900  Indos  et  70  fiunt 
matrimonia.  —  5.  Simul  cttm  P.  Rodrigues  post  decem  leucas  seligit 
locum  ad  Pagum  S.  Petri.  —  6.  Octo  leucas  progrediens  seligit  locum  ad 
Pagum  S.  Andreae.  —  7.  Adit  magnum  pagum  senis  «Aracaem»  con- 
trarii  Indorum  praecedentium,  qui  etiam  ecclesiam  cupiebat  in  suo  pago 
habere.  —  8.  Grã  regressus  est  Bahiam  secum  ducens  indum  principalem 
consanguineum  indi  «Aracaem».  —  9.  Paulo  ante  Pagum  S.  Andreai, 
pax  fit  inter  Principalem  S.  Andreae  et  Principalem  Pagi  «Aracaem»  : 
ritus  pacis  describitur.  —  10.  Gubernator  de  pace  laetatus  est,  indum  ves- 
tivit  eique  vinum  dedit  lusitanum. —  77.    Minis  teria  Provincialis  Bahiat. 

—  72.  Pagi  Dominae  Nostrae  Assumptionis  et  S.  Michaelis.  —  75.  Etiam 
Indi  commorantes  «Tinharé»  fieri  christiani  cupiebant  sed  desunt  Patres. 

—  7-7-76.    Visitationes  Pagorum  S.  Iacobi,  S.  Ioannis  et  S.  Antonii. 

—  77.  Visitationes  Pagorum  Boni  Iesu  et  S.  Petri.  —  18-19.  P.  Anto- 
nius  Rodrigues  in  iisdem  pagis  versatur  et  recuperat  Indos  e  Pago 
S.  Andreae  effugientes.  —  20.  Adventus  Bahiam  P.  Francisci  Viegas  et 
Fratris  Scipionis.  —  21.  Post  festum  Paschae  Provincialis  ad  Flumeri 
S.  Francisci  pergit  sed  frustra  propter  sterilitatem  terrae.  —  22.  De  sen- 
tentia  contra  Indos  «Caetès»  qui  Episcopum  inter f ecerunt ;  legis  acerbi- 
tatem  mitigar e  tenta t  Provincialis.  —  23.  Opus  erat  Patri  Provinciali 
propter  hos  labores  abstinere  a  sacro  faciendo  per  integram  hebdomadam 
et  a  recitando  breviário  tempore  debito.  —  24.   Zelus  aliorum  Patrum. 

—  25.  Qui  e  Portugália  venturi  sunt  tantos  in  Brasília  invenient  labores 
ac  in  índia.  —  26.  Ministério  in  urbe  Bahia.  —  27.  Vicus  Alphonsi 
Torres.  —  28.  Galli  in  ora  Brasiliae.  —  29.  «Boles».  —  30.  Expeditio 
ad  detegendas  aurifodinas  et  casus  crucifixi.  —  31.  Baptismus,  incen- 
dium  in  Pago  S.  Crucis  I tapar icae  a  quadam  vetula  venefica  excita  - 
tum.  —  32.  Magni  baptismi  in  Pagis  S.  Michaelis  et  Dominae  Nos- 
trae Assumptionis.  —  33.    Labores,  morbi,  et  pericula  terra  marique. 

—  34.  Studia  in  Collegio  bahiensi  et  ministério  in  urbe  Pa/ris  brasílica 
língua  periti. 

Jesus 

Pax  Christi. 

1.  Ho  anno  passado,  dilectissimos  em  Christo  Padres 
e  Irmãos,  se  lhes  deu  conta  dos  caminhos  que  ho  Senhor 
5  de  novo  abria  para  lume  e  salvação  deste  gentio,  tam 
seguro  e  repousado,  asentado  na  sombra  da  morte1;  e 
pois  isto  deve  ser,  e  hé,  o  que  lá  mais  satisfas  e  incita 
os  corações  com  zelo  de  tam  sancta  obra,  proseguirey  com 


1    Ps.  106,  IO. 


66.  -  BAÍA  26  DE  JUNHO  DE  1562 


471 


as  derradeiras  cartas  que  de  quá  forão  o  Outubro  pasado  2, 
e  que  continhão  ha  yda  que  o  nosso  P.e  Provincial  fez  ao  10 
gentio  da  Capitania  dos  Ylheos  e  o  baptismo  que  depois 
de  sua  vinda  foy  fazer  o  Bispo  3  à  nossa  Igreja  de  Sancta 
Crux  da  Ilha  de  Taparica,  onde  o  Padre  o  esperava. 

2.  Depois  da  vinda  do  qual,  a  obra  de  6  dias  (como  já 
creo  diria  i),  se  partio  deste  Collegio  a  visitar  as  casas  que  15 
estão  situadas  ao  longuo  da  costa  para  a  banda  de  Fernão- 
buco.  E,  posto  que  vinha  muy  cansado  pollos  muitos  tra- 
balhos que  pasara  todo  o  tempo  que  andara  fora  do  Colé- 
gio, quis  antes  satisfazer  aos  grandes  desejos,  que  asi  os 
índios  como  os  Padres,  que  antre  elles  residem,  tinhâo  de  20 
sua  vista,  o  que  mostravão  por  recados  que  loguo  manda- 
rão de  diversas  partes  tanto  que  souberão  de  sua  vinda, 
que  à  necessidade  que  a  natureza  tinha  de  algum  repouso; 
assy  que,  chegando  hà  segunda  5,  que  hé  de  Sant  Spiritus, 
se  deteve  nela  alguuns  dias,  por  causa  de  o  P.e  Antonio  25 
de  Pina6,  que  nella  estava,  aver  de  dizer  sua  missa  nova; 
para  a  oferta  da  qual  ho  Padre  Provincial  aparelhou  muita 
riqueza  de  almas  que  se  avião  de  baptizar,  que  forão  174, 

e  casais  em  ley  de  graça  86. 

3.  E  feito,  se  partio  para  a  terceira,  que  hé  de  S.  Anto-  30 
nio,  onde  os  índios  o  receberão  com  grandes  mostras  de 
amor  e  se  alvoraçarão  muito  com  sua  ida  que  avia  dias 
esperavão.    Logo  comesou  a  dar  ordem  a  outro  baptismo 


14   do]  da  ms. 


2  Cartas  de  1,  22  e  23  de  Setembro  de  1561  (cartas  58  59  61). 

3  D.  Pedro  Leitão. 

4  Cf.  carta  de  23  de  Setembro  de  1561  §  16,  onde  diz  que  o  Provin- 
cial Luís  da  Grã  partiu  no  mesmo  dia  23,  data  da  carta. 

5  A  primeira  Aldeia  era  a  de  S.  Paulo. 

6  O  P.  António  de  Pina,  «sacerdote  scholar  de  26  aríos  a  8  que  fué 
recebido  a  la  Companía  en  el  Brasil,  fué  de  los  niflos  huérfanos.  Studió 
latín.  Sabe  la  lengua  de  los  índios»,  diz  o  Cat.  de  1567  (Bras.  j-I,  f.  6v). 
Pediu  e  obteve  licença  para  passar  à  Cartuxa  em  1569  (Leite,  Histó- 
ria II  447-448). 


472 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


com  que  o  P.e  Antonio  de  Saa,  que  aly  resedia,  o  esperava; 

35  e,  em  examinar  os  pagãos,  que  se  avião  de  baptizar,  e  con- 
fessar os  que  já  erão  christãos  e  avião  de  casar,  se  passou 
numa  somana. 

4.    E,  feito  o  bautismo,  em  que  se  bautizariâo  duzentas 
e  cinquoenta  almas  e  casarião  muitos  casais  em  ley  de 

40  graça,  e  concluydo  com  as  mais  visitações  particulares 
que  nos  taes  lugares  costuma  fazer,  sabendo  dos  casados 
como  vivem,  e  dos  mais  inquirindo  de  cada  hum  conforme 
a  seu  estado,  e  amoestando-os  com  sua  costumada  brandura, 
se  partio  pera  a  quarta  casa,  que  hé  do  Bom  Jesu,  e  podia 

45  aver  dous  messes  pouquo  mais  ou  menos  que  fora  fundada, 
e  naquelle  tempo  era  a  derradeyra  e  que  mais  longe  estava 
desta  cidade  e  atee  então  ha  mais  afamada  de  grande  e  de 
muita  gente  e  melhor  sitio  e  vista  que  avia;  e  nella  resedia 
o  P.e  Antonio  Rodriguez,  que  a  fundara,  o  qual,  neste  pouquo 

50  tempo  que  disse  que  avia  que  ally  estava,  tinha  aparelhado 
pera  a  ida  do  Padre  Provincial  o  mor  bautismo  que  ainda 
se  fizera.  E  estas  são  as  brandas  camas  e  mimos  com  que 
todos  nossos  Padres,  que  antre  o  gentio  servem  ao  Senhor, 
esperão  e  agasalhâo  o  Padre  Provincial,  como  aquelles  que 

55  por  experiência  tem  bem  visto  e  conhecido  que  estes  são 
seus  gostos  e  descansos,  posto  que  comummente  quanto  à 
carne  nos  taes  tempos  sofre  grandíssimos  trabalhos,  porque 
lhe  [n6v]  custa  perdê-llo  7  sono  e  tempo  em  que  hé  neces- 
sário dar  refeição  ao  corpo  e  fazer  de  muita  parte  da  noyte 

60  dia  com  a  diversidade  dos  negócios  que  então  sobre  elle 
carregão.  Porque  ainda  que  mais  não  ouvesse  que  os  do 
aparelhar  os  que  hão-de  receber  os  sacramentos,  faz  tantos 
exames  em  seu  saber  e  desposição  pera  elles  que,  por  mais 
ajudadores  que  tenha,  sempre  lhe  cabe  a  mor  parte  dos 

65  trabalhos. 


s 

50    que  s»/>. 


7  «Perdê-llo»  por  «perder  o»  :  há  outros  casos  semelhantes  nesta 
carta. 


66. -BAÍA  26  DE  JUNHO  DE  1566 


475 


E,  para  elles  serem  de  mais  quilates  e  valor,  permetio 
Nosso  Senhor  que  o  demónio,  com  a  grande  magoa  que 
tinha  da  presa  que  de  seu  poder  naquella  Aldeã  se  lhe 
ordenava  tirar,  inventasse  alguns  ardis  e  desinquietações; 
o  que  se  vio  claramente  por  o  dia  antes  do  baptismo  verem  70 
alguuns  da  Aldeã  hum  indio  tinto  de  preto,  que  lhes  meteo 
em  cabeça  que  os  Christãos  os  mandavão  ally  ajuntar  pera 
os  matar  ha  todos  e  hião  já  sobre  elles,  com  o  que  fiquarão 
mui  atemorizados  e  tanto  que  determinavão  despovoar  e 
fugir  cada  hum  por  onde  pudesse.  E  sentida  a  revolta  poios  75 
Padres,  e  sendo-lhe  descuberta  a  causa  delia,  poserão  logo 
grande  diligencia  pera  saber  qual  fora  o  que  o  disera. 
E  visto  que  não  avia  quem  tal  indio  conhecesse,  nen  sou- 
bese  dar  rezão  donde  era  nen  pera  onde  hia,  crerão  ser 
tudo  falso,  e  aquietando-sse  com  o  que  o  Padre  lhes  disse  80 
acerqua  disso,  cessou  a  revolta  de  todo.  E  desgostoso  o 
imigo  do  roim  successo  do  primeiro  ardil,  estando  todos  na 
Igreja  o  dia  do  bautismo,  outra  vez  não  sey  por  que  modo, 
se  alevantou  que  já  lhe  punhão  o  foguo  à  Aldeã,  e  estavão 
ardendo  as  casas ;  e  saindo  com  grande  pressa  e  alvoroço  85 
acharão  também  ser  falso,  e  o  bautismo  foy  por  diante;  e, 
por  ser  a  gente  muita  e  se  deterem  muito  nos  cathecismos, 
se  passou  o  dia  e  tanta  parte  da  noyte  que  se  acabou 
quando  cantavão  os  gallos,  fiquando  os  casamentos  pera 
pola  menhãa.  E,  vindo  o  dia,  começou  o  P.e  Provincial  a  90 
missa  com  a  maior  solenidade  que  pôde,  conforme  ao  lugar 
e  cantores  que  nelle  avia,  con  fiquar  asaz  cansado  do  bau- 
tismo que  elle  por  sua  mão  fizera. 

E  o  demónio,  como  lastimado  de  quem  tantas  vezes  lhe 
disfizera  suas  machinas,  determinando  vingar-se,  ordenou  95 
outra  por  lhe  queimar  o  sangue  não  com  menos  sagacidade 
que  as  primeiras.  Porque  estando  elle  assy  revestido  depois 
do  offertorio,  asentado  para  fazer  os  casamentos,  tendo  jaa 
hum  dos  casais  pella  mão,  alevantou  antre  elles  supita- 
mente  hum  reboliço  que  assi  como  se  em  hum  mesmo  ins-  100 


77    fora]  foro  »«s.  [|  85    grande]  grandre  ws.  ||  86    por  sup.  ||  88    da  lis 


474 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


tante  fallara  a  cada  hum  à  orelha,  se  alevantarão  todos  a 
fugir  sem  olhar  por  porta,  mas  furando  pella  mesma  Igreja, 
que  era  toda  de  palma,  quebrando  as  varas  e  vergas  com 
que  estavão  atadas e  com  tanto  impetu  e  ligeireza  o  faziam, 

105  que  parecia  mais  rumor  de  frechas  que  de  homens,  sem 
saberem  de  que  fugião  nem  aver  tempo  pera  o  preguntar  e 
sendo  tudo  despejado  mais  brevemente  do  que  pode  crer 
quem  o  não  vio.  Sayrão  os  Irmãos  após  elles,  e  assy  fiquou 
o  Padre  com  ho  casal  que  tinha  pella  mão,  e  elles  fora 

iro  acharão  ser  tudo  nada,  e  corridos  do  seu  medo  se  tornarão 
à  Igreja  e  os  casamentos  forão  por  diante,  ainda  que  faltos 
dos  ornamentos,  porque  de  quam  ataviados  de  vestidos 
dantes  estavão,  tanto  fiquarâo  depois  faltos,  porque  quasi 
nada  fiquou  que  não  fosse  despedaçado  com  a  revolta  e 

115  fiquarão  muitos  feridos  e  mui  maltractados,  dos  quaes  depois 
diserão  que  morrera  hum  ou  dousj  e  ainda  hé  muito  de 
espantar  como  não  arebentavão  os  filhos. 

O  numero  dos  que  se  então  bautizarâo  foy  novecentos 
menos  oyto,  e  casais  em  ley  de  graça  70,  sendo  o  primeiro 

120  [1171"]  bautismo  solemne  que  naquella  Aldeã  se  fizera,  e  foy 
a  12  de  Outubro  de  1561.  E  d'Agosto  8,  em  que  se  povoara 
atee  então  bautizara  ho  P.e  Antonio  Rodrigues  85  antre 
innocentes  e  adultos  in  extremis.  Asi  que  pola  bondade  de 
Christo  Nosso  Senhor  e  boa  diligencia  de  seu  servo,  o  Padre 

125  Antonio  Rodrigues,  que  nesta  cousa  da  conversão  é  mui 
sollicito  e  fervente,  ouve  no  Bom  Jesu  mil  e  tantos  chris- 
tâos,  e  casados  os  que  dise  em  obra  de  dous  meses.  Porem 
os  mais  delles  são  inocentes  y  mocinhos  de  eschola,  e  meni- 
nas, e  asi  são  comummente  todolos  primeiros  bautismos  de 

130  muita  gente,  que  adiante  verão,  afora  esses  pouquos  que 
casão. 


118    O  corr.  ex  Do 


8  Em  Agosto  concluiu-se  o  ajuntamento  dos  índios,  mas  o  P.  Antó- 
nio Rodrigues  já  aí  residia  desde  Junho.  Cf.  carta  do  mesmo  Rodrigues 
aos  Padres  e  Irmãos  da  Bala,  Agosto  de  1561  §  7,  supra,  p.  390. 


66.  -  BAÍA  26  DE  JUNHO  DE  1562 


475 


5.    Depois  de  feito  tudo  isto,  se  partio  o  Padre  pera 
diante,  ha  instancia  e  rogos  dos  mesmos  índios,  os  quaes 
estavam  já  juntos  em  huma  grande  povoação,  10  legoas 
alem  do  Bom  Jesu,  e  deixarão  suas  Aldeãs,  confiados  que  135 
o  Padre  satisfaria  logo  a  seus  desejos,  que  era  dar-lhes 
quem  os  doctrinasse.  Pelo  que  o  Padre  Provincial  deixou 
o  P.e  Vicente  Fernandez  no  Bom  Jesu  e  levou  consigo  o 
P.e  Antonio  Rodriguez  ;  e  afora  elle  hia  tamben  o  Padre  Gas- 
par Lourenço,  que  hé  lingoa,  porque  como  a  gente  hé  muito  140 
de  novidades  são  tantos  sobre  o  Padre,  scilicet:  dos  Prin- 
cipaes,  por  se  mostrarem  ou  fallarem  em  cousas  necessárias 
à  fundaçam  da  casa  e  preguntas  sobre  a  nova  vida  que  se 
lhes  prega ;  outros,  por  se  terem  por  honrrados  de  falar  com 
elle,  que  para  satisfazer  a  todos  lhe  erão  necesarios  tres  ou  145 
quatro  lingoas  se  tantas  tivesse  escusso. 

Asi  que  sendo  avisados  os  índios  de  sua  ida  se  alegra- 
rão muito,  e  os  Principaes  lhe  mandarão  fazer  os  caminhos, 
que  hé  a  maior  honra  e  recebimento  que  antre  elles  se  faz, 
e  lhe  mandarão  15  ou  20  mancebos  ao  caminho  pera  o  leva-  150 
rem  em  huma  rede,  os  quaes  o  forão  tomar  algumas  tres 
legoas  antes  da  Aldeã,  e  elles  com  a  mais  gente  o  forão 
receber  huma  legoa  dela,  por  ordem,  scilicet:  os  meninos, 
primeiro,  com  suas  capellas  de  flores  nas  cabeças ;  e,  indo 
mais  por  diante,  estavam  os  homens  e  depois  as  molheres,  155 
e  todos  cheos  de  contas  e  suas  galantarias  de  pena  de  diver- 
sas cores  e  lavores.  E  com  muitos  tangeres  e  atabales  se 
forão  pera  o  lugar  antes  do  qual,  obra  de  hum  tiro  de  pedra, 
estava  no  campo  feito  hum  terreiro  limpo  e  concertado, 
pera  o  Padre  repousar  e  pratiquar  hum  pedaço  antes  de  160 
entrar,  como  elles  usão  com  os  grandes  Principaes  e  de 
muita  autoridade.  E  acabada  esta  cerimonia  se  foi  para  [a] 
Aldeã,  onde  todos  os  honrados  tiverão  grandes  porfias 
antre  s}'  sobre  a  pousada  que  lhe  avião  de  dar  por[que] 
cada  hum  queria  que  fosse  a  sua  casa.  O  Padre  se  deteve  165 
aly  alguuns  dias  por  tomar  conhecimento  da  terra  e  sitios. 


141-142  Principaes]  Príncipes  ms.  ||  147  sendo  post  corr,  ||  162  foi  sup.  ||  164  lhe 
corr.  ex  lhes 


476 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


E  a  contentamento  seu  e  de  todos,  escolheo  hum  mui  apra- 
zível para  se  fazer  a  igreja,  que  avia  de  ser  da  vocação  do 
Apostolo  S.  Pedro  9. 

r7°  6.  E,  concluydo  isto,  com  os  mais  comprimentos,  que 
nos  taes  lugares  conforme  a  gente  e  uso  da  terra  se  cos- 
tuma, se  partio  pera  outro  lugar,  que  também  com  as  mes- 
mas esperanças,  se  ajuntava  oyto  legoas  alem  daquelle, 
onde  se  asentou  que  se  fizese  outra  igreja  de  S.  André10. 

*75  E  hé  muito  pera  louvar  a  Nosso  Senhor  e  sinal  de  grande 
misericórdia  sua,  ver  fazer  a  este  gentio,  sem  ninguém  o 
constranger,  cousa  tanto  fora  de  seu  uso  e  inclinação,  como 
hé  ajuntaren-se  de  diversas  partes,  tendo  em  pouco  seu 
trabalho  de  fazer  casas  e  roças  de  novo,  afora  o  aver  de 

180  deixar  [117V]  as  mancebas  e  o  bever  supérfluo;  e,  alem 
disso,  estarem  muitos  juntos  avendo  de  perder  cada  hum 
seu  nome  e  fama  de  principal  e  fiquarem  muitos  debaxo  de 
hum  soo,  o  que  elles  não  sentem  pouquo,  e  alem  disso  per- 
dem a  fama  de  quigrê  ibás11,  que  quer  dizer  valentes  e 

185  ditosos  em  guerras,  e  de  comedores  descravos,  gram  feli- 
cidade antre  elles.  Mas,  pola  bondade  de  Nosso  Senhor, 
hum  e  outro  lhes  hé  fácil  perder  pelo  nome  de  christãos  e 
gente  que  tem  igrejas  em  suas  terras  e  tem  por  desditosos 
aos  que  disto  carecem.  E  assy,  os  principaes  costumão  em 

190  suas  pratiquas  alegar  com  outros  dizendo:  «Não  tem  F. 
e  F. 12  a  vida  boa  como  nós;  e  se  algumora  a  vierem  a 


175  louvar  a  Nosso  Senhor  in  tnarg,  dcxt.  ||  177  uso//  |j  179  roças  corr.  ex  roquus 
||  184  quigrinbas  I:  ||  188  que]  que  quem  »is.  |  desditosos  corr.  cx  ditosos  ||  190  ale- 
gar corr.  ex  alegrar  ||   190  191    F.  e  F.  corr.  ex  N.  e  N. 


9   Aldeia  de  S.  Pedro  de  Saboig  (Leite,  Historia  II  56). 

10  Aldeia  de  S.  André  do  Anhembi  (ib.  11  57). 

11  «Valente,  ditoso  ou  venturoso  nas  guerras  —  Guigreibaba»  (Leo- 
nardo do  Vale,  Vocabulário  421 ;  2.»  edição  [Carlos  Drumond]  ii  : 
«Quigreíbaba»).  Deixa-se  no  texto  a  palavra,  tal  qual,  para  confronto 
com  a  do  Vocabulário :  segundo  o  nosso  método,  desdobrar-se-iam 
assim :  «quigrem  imbás»  (texto),  «quigreimbaba»  {Vocabulário).  Nenhum 
dos  textos  é  autógrafo. 

12  Fuão  e  Fuão  ou  Fulano  e  Fulano. 


66.  -  BAÍA  26  DE  JUNHO  DE  1562 


477 


tomar,  tomá-la-ão  de  nós,  que  a  nós  veio  primeiro».  E  isto 
dizem  pola  emcarecer  aos  seus.  E  este  fervor  e  importu- 
nação sua  mereceo  conceder-lhe  o  Padre  esta  casa  de 
Sant'André,  estando  tam  falto  de  gente  que  escassamente  195 
bastava  a  que  avia  para  as  que  estavão  feitas ;  do  que  todos 
nos  espantávamos,  por  ver  que  tudo  lhe  quai  em  trabalho 
mais  a  elle  que  a  ningem. 

7.    Porque,  a  elle  não  ser  tam  zelozo  e  Nosso  Senhor 
não  ajudar  tanto  sua  magnanimidade,  hos  sobresaltos  de  200 
lhe  adoecerem  ora  em  huma  parte  ora  na  outra  com  ho 
grande  trabalho  e  lhe  ser  mui  difficil  pôr  outro  em  seu 
lugar,  bastarão  pera  o  estorvar  de  fazer  mais  casas,  posto 
que,  de  se  fazerem,  resulta  tanta  gloria  e  serviço  a  Deus 
Nosso  Senhor,  quantas  offensas  e  perdas  de  almas  sem  ellas  205 
o  demónio  causa.  E  contudo,  como  pola  fama,  que  delle 
avia  pola  terra  nunqua  chegasse  tam  longe  quam  longe  era 
desejado,  lhe  foy  finalmente  necessário  passar  daquelles 
aos  seos  contrários,  com  quem  atee  aly  se  comerão,  e  hé 
10  legoas  alem  de  SanfAndré,  onde  por  ser  fronteira  está  210 
a  mais  afamada  Aldeã  de  grande,  que  há  nesta  costa,  cujo 
principal  se  chama  Aracaém  13,  mui  estimado  e  de  grandís- 
sima fama.    Mas  por  ser  mui  velho,  que  dizem  será  de 
120  annos,  e  não  ser  já  pera  mandar  nen  fazer  nada,  tem 
hum  sobrinho  que  pode  ser  de  sesenta  que  manda  a  Aldeã  215 
e  chama-sse  Capym  14,  os  quaes,  depois  de  muitas  pratiquas 
que  com  o  Padre  tiverão,  asentarão  que  aly  se  fizesse  outra 
Igreja. 


214    já  pera  mandar  in  marg.  dext.  ||  215    sobrinho  dei.  tem 


13  Nos  manuscritos  omite-se  com  frequência  a  cedilha  do  ç,  e  é 
conhecido  o  Araçá  (árvore  e  fruto:  espécie  de  goiaba)  com  o  qual  este 
termo  tupi  poderia  ter  relação;  mas  está  sem  cedilha  e  assim  o  deixa- 
mos. «Aracaé»  em  Montoya  (Tesoro  65V)  é  advérbio  de  tempo :  «anti- 
guamente,  quando,  para  sempre,  jamás,  passado  y  futuro»;  e  pode  ter 
ainda  outras  interpretações,  que  os  especialistas  verão. 

14  Erva  miúda  :  «capim»  entrou  no  vocabulário  português.  Friede- 
Rici,  Amerikanistisches  Wórterbuch  130. 


478 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


8.  E,  avendo-se  de  tornar  daly,  detreminava  de  trazer 
220  consigo  este  principal,  sobrinho  do  velho,  assi  pera  que  o 

Governador  15  lhe  fizesse  alguuns  favores,  como  também 
pera  que,  vendo  elle  a  cidade  e  cousas  dos  christãos, 
fiquase  daly  por  diante  mais  seguro  e  fiel  amigo;  a  qual 
vinda  elle  areceava  muito  e  escusava-sse  polo  temor  que 

225  tinha  dos  Brancos  cuja  conversação  era  pera  elle  tão  nova 
que  por  grande  cousa  contava  que  já  na  sua  Aldeã  vira 
por  vezes  4  ou  5  delles;  e  o  porque  também  areceava  era 
por  ter  no  caminho  seus  contrários ;  mas  tanta  fee  tinha 
elle  no  Padre  que,  com  todos  seos  areceos,  se  determinou 

230  cometê-lla  viagem. 

9.  E  sabido  poios  de  Sant'André,  os  forão  receber 
huma  legoa  d'Aldea,  onde  descansarão,  e  o  Padre  come- 
çou a  tratar  pazes  antre  o  que  trazia  e  o  de  SantAndré, 
que  com  a  mais  gente,  o  fora  receber.  E  com  isso  se  alvo- 

235  raçarão  todos  muito;  porque  ainda  que  elles  tenhão  o 
guerrear  pella  melhor  vida  e  passatempos,  que  há,  não 
deixâo  de  conhecer  a  quietação  que  de  has  guerras  ces- 
sarem lhes  nace,  especialmente  polo  parentesco  e  liança  de 
casamentos  que  antre  elles  há,  e  [n8r]  amizade  que  nou- 

240  tros  tempos  tiverão.  E,  tendo  jaa  o  Padre  consentimento 
d'ambos,  fez  com  que  se  vissem  e  fallassem  hum  a  outro. 
E  assentando-se  pera  isso  cada  hum  em  sua  rede,  estando 
arodeados  de  grande  multidão  de  gente  mui  curiosa  de  ver 
e  ouvir  as  pratiquas  com  que  se  recebião  tam  antigos  con- 

245  trarios,  estando  também  presente  o  P.e  Provincial  16  com 
seus  companheiros,  começou  o  de  SantAndré  e  disse  ao 
que  o  Padre  trazia:  «Vieste,  minha  esposa»?  (E  este  hé  ho 
modo  que  há  entre  elles  de  se  chamarem  dous  grandes 
amigos  por  algum  certo  nome  como  este,  ou  meus  dentes, 

250  ou  meu  braço,  ou  qualquer  outra  parte  do  corpo,  e  fica-lhe 


337    que  dal.  les 


15  Mem  de  Sá. 

16  Luís  da  Grã. 


66.  -  BAÍA  26  DE  JUNHO  DE  15(i2 


479 


pêra  sempre  tam  fixo  como  parentesco  espiritual  contra- 
hido  por  sacramento  17,  e  ou  estes  se  chamassem  assy  em 
algum  tempo  que  vivião  em  paz  ou  começasem  então). 
Enfin,  respondeo-lhe  o  que  vinha  com  o  Padre  Provincial: 
«Si,  vim».  E  então  fez-lhe  elle  também  a  mesma  pergunta,  255 
por  que,  como  dise,  era  huma  legoa  d'Aldea  onde  o  elle 
fora  receber.  E  o  primeiro  tornou:  «Não  morramos». 
Respondeo:  «Não  morramos,  vá-nos  bem».  Respondeu: 
«Vá».  E  depois  de  muitas  benções  desta  maneira,  se  vie- 
rão  ha  atear  em  pratiquas  até  que  finalmente  vierão  a  260 
comer  ambos  em  hum  prato  e  beber  por  hum  mesmo  vaso, 
para  o  que  lhe  avião  levado  vinho  da  Aldeã,  que  hé  o 
foedus  18  e  firma  de  suas  pazes.  E  depois  se  vierão  para 
a  Aldeã,  fiquando  ambos  mui  seguros,  e  o  Padre  se  veo 
ao  longo  da  costa,  visitando  as  casas ;  e  finalmente  chegou  265 
a  este  Collegio  bem  desposto,  avendo  muito  que  era  fora 
delle. 

10.  O  Governador  se  alegrou  muito  com  sua  vinda 
e  boa  disposição  e  com  as  pazes  que  avia  feito,  polo 
caminho  que  com  ellas  se  abria  pera  se  dilatar  a  con-  270 
versão  de  que  elle  hé  tam  zeloso  como  todos  sabem.  Ho 
indio  andava  em  estremo  contente  e  não  sabia  encarecer 
quanto  se  alegrava  de  ver  esta  cidade  e  Peraguaçú  19,  que 
delia  se  parece  de  que  sempre  tivera  grande  fama,  mas 
vivia  parece  bem  fora  de  aver  de  ver.    Ho  Governador  275 


17  Digna  de  nota  esta  alusão  ou  analogia  com  o  carácter  sacra 
mental. 

18  A  «aliança».  Nota  de  Afrânio  Peixoto:  «Esta  página,  de 
pazes  entre  gentios,  é  talvez  única  nos  cronistas  coloniais»  (Cartas 
Avulsas  371). 

19  Peraguaçú  ou,  como  se  lê  no  §  30,  Paraguaçu,  termo  geográfico : 
Alegrou-se  por  ver  a  cidade  e  o  seu  «mar  grande»,  a  baia,  o  recôn- 
cavo... Muito  mais  tarde  começaram  a  chamar  a  Catarina  Álvares, 
mulher  do  Caramuru,  Catarina  «Paraguaçu».  Não  aparece  tal  apelido 
nestes  documentos  da  Companhia,  e  a  sua  súbita  introdução  aqui, 
sem  qualquer  esclarecimento  nem  aplicação  pessoal,  dificilmente  se 
coadunaria  com  o  estilo  explicativo  e  minucioso  de  Leonardo.  Cf.  Frie- 
derici,  o.  e.  480. 


480 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


o  vestio  mui  bem  e  o  fez  meirinho,  pera  que  todolos  da 
sua  comarqua  lhe  obedecessem,  e  assy  os  ajuntassem  con- 
sigo pera  quando  os  Padres  fossem.  Fiquou  elle  mui 
contente  com  tantos  mimos  e  não  menos  com  beber  tanto 

280  vinho  de  Portugal,  que  fiquou  perdido  de  bêbedo  e  correo 
risquo  de  lhe  vir  algum  grande  mal  por  isso,  cousa,  que, 
pelo  muito  que  antre  elles  se  tem,  ele  há-de  deixar  pera 
ser  contada  in  mille  generationes  20. 

11.    Despedido  elle  para  a  sua  terra,  que  pode  ser 

285  desta  cidade  40  e  tantas  legoas,  começou  o  P.e  Provincial 
a  dar  ordem  como  se  povoassem  algumas  das  Igrejas,  que 
avia  aceitado  em  diversas  partes,  para  o  que  andando 
ainda  fora  do  Collegio  mandara  apreceber  ho  necessário, 
para  que  vindo  elle  não  se  detivesse  aquy  por  ser  cousa 

290  que  o  seu  fervor  não  sofre.  E  este  parece  hum  dos  maio- 
res trabalhos  de  suas  doenças,  quando  ellas  são  de  maneira 
que  lhe  estorvem  andar  visitando  e  animando  seos  filhos 
que  antre  o  gentio  residem  ;  e  has  quaresmas,  em  que,  por 
falta  de  quem  supre,  lhe  hé  forçado  pregar  às  quartas  e 

295  sestas-feiras  e  domingos;  e  esta21,  por  acudir  a  todos,  hya 
todalas  sestas-feiras  pregar  a  huma  povoação22,  que  está 
mea  legoa  da  cidade,  e  nos  dias  que  não  pregava  ajudava 
a  confessar,  porque  não  há  trabalho  em  que  não  deseje 
entremeter-se,  e  maxime,  em  cousas  toquantes  [n8v]  ao 

300  gentio,  como  hé  a  doctrina  da  escravaria,  e  suas  confissões, 
a  que  sempre  se  deu  muito,  por  interprete,  quando  não 
avia  Padres  lingoas;  e  agora  o  deseja  tanto  fazer  também 
por  si  só,  que  ha  grande  vontade  que  lhe  tem,  com  ajuda 
divina,  lhe  há-de  fazer  cedo  perder  o  medo  que  ateegora  o 

305  estorvou. 

Asi  que  de  sua  vinda  ha  muy  pouquos  dias,  trabalhou 
desses  pouquos  que  no  Collegio  avia,  de  escolher  os  que 


395    esta]  este  ms.    |  397    legoa  dtl,  foro 


20  Cf.  Ps.  104,  8. 

21  Quaresma  de  1562  (a  Páscoa  foi  a  29  de  Março). 

22  Vila  Velha. 


66.  -  BAÍA  26  DE  JUNHO  DE  1562 


481 


possível  fosse  pera  a  nova  missão;  mas  por  não  se  poder 
acudir  a  todalas  partes  em  que  era  importunado  e  elle 
desejava,  mandou  o  Irmão  Joseph  23,  que  veio  com  o  310 
P.e  João  de  Melo,  com  tudo  o  necessário,  pera  ser  conpa- 
nheiro  do  P.e  Antonio  Rodriguez  que  avia  de  yr  residir 
em  Sam  Pedro;  e  elle  se  partio  com  outros  dous  Padres 
e  dous  Irmãos  a  povoar  duas  das  que  avia  escolhido  para 
a  banda  dos  Ilheos,  de  que  o  anno  pasado  dey  larga  infor-  315 
mação  24. 

12.  E  delias  a  que  mais  longe  está  desta  cidade,  e  mais 
perto  dos  Ilheos,  hé  de  Nossa  Senhora  da  Assumpção25,  e 
será  por  terra  caminho  de  trinta  legoas;  a  outra  estará 
obra  de  dez  legoas  mais  pera  nós  e  hé  de  S.  Migel 2G.  Sam  320 
muito  povoadas  de  gente,  porque  a  fama  do  bom  trata- 
mento e  amor,  que  os  Padres  tem  aos  que  se  convertem 
e  querem  ser  por  elles  doutrinados,  íaz  que  não  só  os  que 
se  acharão  ao  principio  delias  ao  longo  do  mar  folgarão  de 
se  ajuntar  e  achegar  a  ellas,  mas  também  os  que  estavão  325 
polo  sertão  em  diversas  e  remotas  partes,  como  sempre 
esperamos,  e  parece  que  de  cada  vez  o  farão  de  melhor 
vontade,  por  verem  por  obra  que  no  spiritual  e  temporal 
tem  em  nós  pais  piadosos.  Porque,  sendo  elles  estes  dias 
pasados  perseguidos  dos  Tupinaquins  do  sertão  dos  Ilheos,  330 
não  soo  trabalharão  sempre  de  os  emparar  e  livrar  de  seus 
insultos,  mas  também  fizerão  com  o  Guovernador  que  os 


311    P.1  dei.  Jeio  |i  326    diversas  dcl.  partes. 


23  Deste  Irmão,  por  não  chegar  a  entrar  no  Catálogo  de  1574,  não 
se  conhece  o  apelido  nem  a  naturalidade.  O  de  1567  diz  :  «Joseph. 
Tiene  votos  de  escholar  aunque  se  pretende  que  será  temporal.  Es  de 
30  anos,  a  12  que  entró  en  Portugal  en  la  Companía.  Sabe  la  lengua 
de  los  índios»  (Bras.  f-i,  f.  7r).  Zeloso  da  conversão  do  gentio.  Faleceu 
na  Baía  a  15  de  Agosto  de  1571  (Leite,  História  1  561). 

24  Cf.  carta  6r. 

25  Aldeia  de  Nossa  Senhora  da  Assunção  de  Tapepigtanga  (Leite, 
História  11  58). 

26  Aldeia  de  S.  Miguel  de  Taperaguá  (ib.  n  58). 


482 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


favorecesse  e  prohibisse  aos  outros  fazerem-lhes  guerra, 
ho  que  elle  fez  mandando-os  ameaçar  por  huma  lingoa  dos 
335  honrados  e  antigos  na  terra. 

13.  À  jornada  destas  casas  foy  o  Padre  Provincial  muy 
importunado  dos  Índios  asi  dalguns,  que  atee  ly  viverão 
em  esperanças  de  serem  dos  primeiros  discípulos,  como  de 
outros  que  de  novo  se  oferecião  pera  se  ajuntar  em  huma 

340  Ilha,  que  chamão  Tinharé,  e  se  fazerem  christãos,  ho  que 
elle  não  desejava  pouquo  conceder;  mas,  por  de  nenhuma 
qualidade  aver  possibilidade  pera  isso,  os  contentou  somente 
com  esperanças  de  futuro  em  que  ateegora  vivem ;  mas  já 
se  lhe  não  poderão  comprir  atee  desse  Reyno  não  virem 

345  obreyros  que  ajudem  a  aproveitar  a  grande  fertilidade  que 
ha  divina  clementia  em  nossos  dias  quer  mostrar.  Ho  Padre 
chegou  a  este  Collegio  na  entrada  do  advento  27,  pelo  que 
lhe  foy  necessário  descansar  alguns  dias,  ou  por  melhor 
dizer,  mudá-los  trabalhos  de  caminhar  em  pregar  e  o  mais 

35°  que  nos  taes  tempos  se  costuma. 

14.  Mas  passada  a  festa  do  Collegio,  scilicet,  o  dia  de 
Jesu28,  logo  ao  outro  dia  se  partio  a  visitar  os  desta  banda, 
de  cuja  ida  os  Padres  e  todos  estavão  jaa  mui  desejosos;  e 
na  primeira  que  visitou,  que  hé  a  de  Santiago,  fez  hum 

355  bautismo  solene,  ao  qual  se  achou  presente  Simão  de  Gama 
e  Dona  Lianor  sua  molher,  que  forão  padrinhos  alternatim 
com  outra  gente  honrada  que  se  aly  achou,  afora  outra 
muita  que  de  diverssas  partes  comarquãas  se  ajuntou  a  ele. 
Os  christãos,  que  então  se  fizerão,  120  pouquo  mais  ou 

360  menos,  e  cinquoenta  casais  em  lei  de  graça,  [nor]  E  estes 
forão  os  dões,  que  então  offerecerão  e  com  que  festejarão 
a  festa  dos  Reys  89f  que  então  era. 

15.  Daly  se  foy  pera  Sam  Johão,  onde  se  fez  outro 
maior,  ao  qual  também  se  quis  achar  presente  Symão  da 

365  Gama  com  toda  sua  casa  e  seu  cunhado  Bastião  da  Ponte 
e  outra  gente  honrada,  que,  com  estarem  ca[n]sados  do 


27  Em  1561,  a  primeira  dominga  do  Advento  foi  a  30  de  Novembro. 

28  1  de  Janeiro  de  1562. 

29  6  de  Janeiro  de  1562. 


66. -BAÍA  26  UE  JUNHO  UE  1562 


485 


outro  bautismo  de  Santiago,  que  foy  tanta  a  devação  que 
nelle  tiverão  que  não  poderão  deixar  de  segir  o  Padre  e 
oferecerem  ao  Senhor  tam  aceita  offerta,  como  forão  qui- 
nhentas e  quarenta  e  nove  almas  que  se  então  bautizarão,  370 
de  que  elles  forão  padrinhos,  e  94  casaes  em  ley  de  graça 
com  que  fiquarão  mui  ca[n]sados,  mas  muito  mais  edefica- 
dos  do  animo  com  que  o  P.e  Provincial  e  os  mais  coadiu- 
tores  sofrião  tam  immenso  trabalho.  Por  que,  como  já 
saberão,  nenhuma  cerimonia  se  deixa  de  fazer  por  mais  375 
que  os  bautizados  sejam,  no  que  se  gasta  tanto  tempo 
que  ainda  aos  seculares,  que  assentão  e  alevantão  quando 
querem,  hé  quasi  imsofrivel. 

16.  Desta  casa  de  Sant  João,  que  está  dentro  da  baya 

7  ou  8  legoas  da  cidade,  se  passou  a  Sant'Antonio  30,  que  380 
hé  da  outra  banda  da  costa,  e  pode  estar  de  Sant  João 
atravesada  polo  sertão  outras  7  ou  8  pouquo  mais  ou 
menos;  e  aly  fez  outro  bautismo  de  400  e  tantos  christãos 
e  110  casaes  em  ley  de  graça. 

17.  E  adiante,  no  Bom  Jesu  31  fez  outro  de  242  chris-  385 
tãos  e  74  casais  em  ley  de  graça;  e  adiante,  em  Sant  Pedro32, 
onde  ainda  não  bautizara,  fez  hum,  mui  avantejado  de  todo- 
los  outros,  de  1152  christãos,  e  150  e  tantos  casaes  em  ley 

de  graça;  e  d'aly  fez  a  volta  por  se  chegar  a  quaresma33 
em  que  pola  necessidade,  que  disse,  convinha  estar  na  390 
cidade. 

18.  A  despedida  do  P.e  Antonio  Rodriguez  do  Bom 
Jesu  pera  S.  Pedro  me  pareceo  também  escrever,  posto  que 
seja  algum  tanto  fora  do  tempo,  por  aver  sido  alguns  dias 


367  Santiago  corr.  ex  des  então  ||  377-378  quando  querem  sup.  \\  381  João  dei.  p«lo 
|  385-386    Bom  Jesu  —  graça  in  niarg.  dext.   \\  380    e  d'aly  sup. 


30  Aldeia  de  S.  António  na  costa  atlântica,  em  contraposição  com 
a  de  S.  João,  no  litoral  do  Recôncavo  da  Baía,  como  explica. 

31  Aldeia  do  Bom  Jesus  de  Tatuapara  (Leite,  Historia  II  56). 

32  Aldeia  de  S.  Pedro  de  Saboig  (ib.  II  56). 

33  Em  1562  a  Quarta-feira  de  Cinzas  (começo  da  quaresma)  foi  a 
12  de  Fevereiro. 


484 


T.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


395  antes  deste  bautisrao.  E  elle  se  partio  cora  o  Irmão  Ioseph 
seu  companheiro  do  Bom  Jesu  donde  atee  aly  residira,  dei- 
xando em  seu  lugar  o  Padre  Vicente  Fernandes  e  o  Irmão 
Antonio  de  Saa,  como  o  Padre  Provincial  lhe  ordenara,  o 
qual  fiquava  asaz  saudoso  e  sentido  por  perder  a  conversa- 

400  ção  e  companhia  do  P.  Antonio  Rodriguez;  e  com  muita 
rezão,  por  que  avendo  sido  no  mundo  mui  contrairo  a  este 
gentio,  deixando  o  mundo  de  tal  maneira  deixou  também  o 
avorrecimento  e  o  converteo  em  fervor  e  zello  de  o  ajudar 
a  salvar,  que  a  todos  mete  espanto  com  quanto  animo  (posto 

405  que  com  grandissimo  trabalho  do  corpo)  leva  a  crux.  De 
maneira  que  ninguém  o  conversará  que  neste  negocio  não 
sinta  ser  mui  ajudado  com  sua  conversação.  Ha  gente  do 
Bom  Jesu  se  foy  com  elle  hum  bom  pedaço  fora  dAldea  e 
todos  resando  o  rosário  do  Nome  de  Jesu,  e,  ao  apartar, 

410  mostrarão  grande  sentimento  e  saudades.  Aquela  tarde  foy 
hum  velho  principal  a  visitar  o  P.e  Vicente  Fernandes  e 
achando-o  asy  sentido  e  saudoso  como  a  mais  gente,  des- 
cansando em  huma  rede  se  asentou  con  doo  que  delle  ouve 
a  o  chorar,  e  mandou  a  algumas  molheres,  que  consigo 

415  levava,  que  o  ajudasem,  ho  que  não  foy  pequena  ajuda  pera 
o  Padre  mais  se  magoar.  E,  acabado  o  choro,  quis  ele  con- 
solar o  Padre  dizendo:  «Pai  não  sejas  triste,  porque  nós  nos 
alegramos  e  somos  mui  contentes  de  tu  fiquares  por  troco 
do  Padre',  descansa,  porque  nós  todos  queremos  ser  boons 

420  e  saber  as  cousas  de  Deus».  Et  similia. 

O  P.e  Antonio  Rodrigues  foy  a  S.  Pedro  dizer  a  primeira 
missa  o  dia  da  dedicação  da  Basilica  dos  Apóstolos  S.  Pedro 
[119V]  e  S.  Paulo34,  aonde  avia  bem  pouquos  dias  que  che- 
gara, quando  lhe  derão  rebate  que  a  gente  que  estava  junta 

425  em  S.  André  era  fugida,  porque,  posto  que  elles  folgassem 
muito  de  serem  christãos  e  viverem  juntos  debaxo  da  obe- 


407    sinta  corr.  cx  sentia    |    |i6    acabado  con:  MT  acabando    |  433    aonde]  donde  ins. 


34  18  de  Novembro  de  1561.  Primeira  missa  na  Aldeia  (não  pri- 
meira missa  de  António  Rodrigues). 


()6.  -  BAÍA  26  DE  JUNHO  DE  1562 


485 


diencia  dos  Padres,  não  faltão  messageiros  do  demónio  que 
lhe  metão  falsos  medos  com  os  Brancos,  a  que  parece  que 
Nosso  Senhor  permitte  que  elles  temão  tanto  e  mais  do  que 
antes  erão  temidos  delles,  e  ajudara  também  a  isso  os  fei-  430 
ticeiros  que  antre  elles  há  polo  descrédito  e  falta  de  pitan- 
ças  que  ha  conversão  lhes  causa. 

19.  Mas  ainda  que  o  Padre  Antonio  Rodrigues  estava 
mal  desposto,  e  tanto  que  avia  mui  pouquo  que  por  boas 
novas  de  sua  disposição  escrevera  a  este  Collegio  que  já  435 
podia  estar  assentado  em  huma  cadeira  na  igreja35  e  fazer 
huma  pratiqua  à  gente,  não  podendo  sofrer  que  ho  imigo 
levase  tal  bocado,  se  determinou  segui-los,  não  ho  estor- 
vando a  vantajem  e  trabalhosa  rota  que  levavão  por  ser 
por  despovoado  e  terra  mui  fragosa,  confiado  todo  em  a  440 
bondade  do  Senhor  e  amor  que  os  índios  lhe  tinhão.  E,  final- 
mente, alcançando-os  con  grande  trabalho,  começou  de  lhes 
fallar  palavras  de  pai,  e  amorosas,  como  elle  costuma;  e  elles, 
como  já  começavão  a  sentir  os  desgostos  do  deserto  e  can- 
seira com  o  fato  e  gente  miúda,  corridos  de  sua  liviandade  445 
e  mao  conselho,  se  tornarão  com  elle ;  e  asi  se  restaurou 
aquella  Aldeã,  pola  intercessão  do  Apostolo  Sant'André, 
em  que  pode  aver  perto  de  3000  almas36.  E  o  Padre  Anto- 
nio Rodrigues  depois  de  os  ter  quietos  e  contentes,  se  tor- 
nou para  a  sua  igreja  de  Sam  Pedro,  onde  logo  o  Padre  450 
Provincial  foy  fazer  os  bautismos  que  disse37.  E  tudo  isto 
foy  feito  em  mui  poucos  dias. 

20.  Muita  consolação  recebemos  todos  com  as  novas 
que  neste  comenos  tivemos  da  vinda  do  Padre  Viegas38  e 


.(53   consolação  eorr.  tx  consalaçâo 


35  Cf.  carta  de  Agosto  de  1561,  supra,  p.  389. 

36  A  cronologia  da  narrativa  e  a  referência  ao  Santo  Apóstolo 
parece  colocar  esta  restauração  no  próprio  dia  da  festa  de  S.  André 
(30  de  Novembro  de  1561). 

37  Cf.  supra  §  17. 

38  Francisco  Viegas. 


486  P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  K  II.  DE  S.  ROQUE 

455  do  Irmão  Cipião39,  ainda  que  pera  o  muito  socorro,  que  em 
tanta  necessidade  esperavemos,  era  mui  pouquo;  e  porem 
o  muito  serviço  e  gloria  do  Senhor,  que  com  a  pouquidade 
esperavemos  se  seguiria,  nos  era  causa  de  grande  conten- 
tamento. Mas  também  nos  intristecia  sua  tardança  por  che- 

460  garem  outros  navios  que  partirão  detrás  e  diziâo  que  era  a 
nao  mais  veleira  que  elles,  o  que  nos  fazia  sospeitar  serem 
tomados  de  Franceses  ou  averem  aribado  às  Antilhas. 
E  toda  a  tardança  íoy  yrem  de  rota  abatida  aos  Ilheos  40, 
donde  vierão  em  hum  barquo,  asaz  enfadados  da  viagem, 

465  onde  passarão  muito  trabalho  por  adoecer  o  Irmão  Cipião 
e  outra  muita  gente,  na  costa  de  Guiné,  alem  de  serem  tam 
pouquo  favorecidos  de  remédios  humanos  quanto  lá  con- 
fiarão que  fossem  favorecidos,  e  elles  creo  escreverão,  por 
que  sirva  de  aviso  e  saibão  que,  no  mar,  tem  quem  tem  ;  e 

470  quem  não,  padece.  E  elles  se  consolarão  muito  de  se  ver 
comnosquo. 

E  depois  dalguns  dias,  em  que  forão  apalpados  da  terra 
levemente,  começarão  a  trabalhar,  especialmente  o  Padre 
Viegas  em  confessar,  porque  chegarão  na  coresma  em  tempo 
475  que  no  Collegio  não  nos  podíamos  valer  comnosquo  com 


39  Cipione  Comitoli. 

40  Foram  «de  rota  batida  aos  Ilhéus»,  porque  para  essa  Capitania 
foram  pedidos  pelo  seu  Donatário  Lucas  Giraldes:  a  Quadrimestre  da 
Casa  de  S.  Roque,  Lisboa,  31  de  Dezembro  de  1561,  ao  falar  da  ida  para 
o  Brasil  dum  Padre  e  do  Ir.  Cipione,  explica:  «El-Rei  los  hizo  proveer 
muy  bien  de  lo  necessário  para  el  viage:  los  quales  pedió  un  mercader 
[Lucas  Giraldes]  con  mucha  instancia  para  una  su  Capitania  y  les  hizo 
dar  mui  buena  embarcación,  y  todo  le  costaría  más  de  dozientos  duca- 
dos» (Litt.  Quadr.  vil  623). 

Na  mesma  página,  referindo-se  a  Quadrimestre  a  esmolas,  que 
recebe  a  Casa  de  S.  Roque,  tanto  para  essa  casa  como  para  outras  par- 
tes, menciona  o  Brasil:  «Y  para  el  Brasil  va  también  otro  [sacrarioj, 
que  con  su  custodia  vale  treinta  ducados,  y  también  se  les  embía  un 
portal  de  mármol,  que  bien  valdrá  sesenta  ducados,  y  otras  cosas 
muchas;  y  El  Rey  les  embió  agora  ansl  a  ellos,  como  los  de  Angola, 
mui  buenas  limosnas,  ansl  de  libros,  vestido,  como  también  ornamen- 
tos y  cosas  para  mantenimiento».  (ib.  VII  623). 


66. -HAIA  26  DE  JUNHO  DE  1562 


487 


coníisões,  asi  por  aver  muita  gente  do  mar  e  os  da  terra 
comumente  terem  devação  de  se  confessar  connosquo,  como 
por  o  Bispo  mandar  aos  seus  clérigos  que  não  confessasem 
por  causa  do  embaraço,  que  então  avia  sobre  o  resgate  das 
peças,  pello  que  elle  quis  antes  confessar  que  confiar  tam  480 
difficil  caso  dos  clérigos. 

O  Irmão  Cipião  nos  edifica  muito  com  o  grande  fervor 
e  sede  que  traz  da  conversão.  Tanto  que  convaleceo,  pedio 
ao  Padre  que  o  leixasse  ir  ver  as  casas  [i2or]  que  são  fei- 
tas polo  gentio,  o  qual  folgava  muito  com  elle,  e  lhe  mos-  485 
trava  muito  amor.  E  alguns  dizem  que  o  pedião  cuydando, 
parece,  que  era  de  missa;  e  o  Irmão  se  afeiçou  tanto  a  elle 
que  alcançou  pôrem-no  em  huma  das  casas  por  companheiro 
de  hum  Padre,  onde  com  grande  cuidado  se  dá  a  aprender 
a  lingoa.  E  diz  que  se  lhe  dá  tam  bem  que  espera  em  49o 
pouquo  tempo  falar  tam  bem  brasil  como  agora  italiano. 
E  dá  elle  boas  mostras  de  aver  assi  de  ser,  porque  a  pri- 
meira vez  que  saio,  com  ser  asi  de  passada,  falava  tantos 
vocábulos  e  gostava  tanto  delles  que  às  vezes  lhe  falava 
homem  portuges  e  elle  respondia  brasil.  Quanto  à  dispo-  495 
sição  corporal  creo  que  nenhum  mal  trouve  em  que  não 
ache  milhoria  em  tam  breve  tempo,  e  atee  as  faixas  de  que 
trazia  ho  estômago  bem  acompanhado  vai  tirando  huma  e 
huma.  Aos  mantimentos  da  terra  está  já  tam  afeito  como 
se  fora  antigo  nella,  tam  satisfeito  com  beber  agua  como  500 
se  nunqua  bebera  vinho,  e  tanto  encarece  o  gosto  que  nella 
acha  que  diz  que  nem  em  Portugal  nem  em  toda  Itália  á 
tal  agua.  Mas  quis-se  tanto  acommodar  aos  naturaes  da 
terra  que  lhe  fez  mal,  porque  como  foy  n'Aldea  deixou  as 
meias  calças  ;  e  como  a  terra  sofrera  mais  andar  homem  mal  505 
aroupado  que  mal  calçado,  e  os  mosquitos  são  muitos, 
achou-se  tão  mal  de  feridas  que  lhe  nacerão  nos  pees  e 
pernas,  que  veo  a  não  poder  andar,  polo  que  foy  necessá- 
rio trazerem-no  ao  Collegio,  onde  averá  tres  ou  4  somanas 


489  dá  a]  doa  ms.  ||  492  boas  bis  \  assi]  si  ma.  ||  494  tanto"  tantos  mm.  j  503  quis- se] 
quise  ms.  ||  509-511    averá  —  são 


488 


T.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


510  que  se  está  curando,  muy  descontente  pola  lingoa  que 
perde;  mas  já,  louvores  a  Deus,  está  quasi  sSo41. 

O  Padre  Viegas 12  está  ao  presente  em  este  Collegio, 
onde  ajuda  às  confissões  e  lee  a  classe  de  latim,  de  que 
ategora  teve  cuydado  o  Padre  Jorge  Rodrigues,  que  o  dia 

515  que  leixou  a  classe  o  mandarão  pera  S.  Antonio.  E  assi 
lhe  quis  Nosso  Senhor  conceder  efíectuarem-se  seus  fervo- 
res e  desejos  que  tinha  de  ser  antes  discipulo  da  gramma- 
tica  da  terra43,  que  mestre  nestoutra.  E  este  hé,  dilectis- 
simos,  o  principal  intento,  que  nesta  terra  se  tem,  e  pera 

520  que  são  desejados  os  devotos  e  zelozos,  que  nesses  colle- 
gios  se  crião,  de  que  Deus  Nosso  Senhor  se  serviria.  E  elles 
não  somente  spiritual  mas  ainda  corporalmente  se  satisfa- 
rião,  à  huma  por  a  terra  ser  sadia  e  de  bons  ares,  e  à  outra 
polo  muito  que  acharião  em  que  se  empregar;  e  se  agora 

525  se  deixa  de  fazer  muito  mais  do  que  se  faz,  saibão,  certo, 
ser  mais  por  falta  de  obreiros  que  por  a  gente  não  estar 
disposta  pera  tudo,  de  que  seja  gloria  ao  Senhor  de  todos. 

21.  Esta  quaresma  vierão  novas  ao  Padre  Provincial 
que  o  gentio  do  Rio  de  S.  Francisco,  polas  novas  que 

530  tinha  do  que  elle  por  quá  fazia,  o  desejavão  ver  e  ouvir 
sua  falia  e  esperando  de  com  sua  ida  deixarem  seus  cos- 
tumes e  matanças;  e  pera  isso  queriam  que  fizesse  pazes 
antre  elles  e  outros  seus  contrários  com  que  se  comião. 


529    do  dei  gc    |  531    c]  e  es  «is. 


41  Cipione  Comitoli,  de  Perúsia,  passou  em  1561  da  Sicília  para 
Portugal  com  destino  à  Índia.  Padecia  do  mal  de  gota.  Em  vez  da  índia 
seguiu  para  o  Brasil  (Litt.  Ouadr.  VIII  199  403).  Não  perseverou  na 
Companhia. 

42  O  P.  Francisco  Viegas,  de  Val  de  Santiago  (Arcebispado  de 
Évora),  teve  a  primeira  ideia  da  vocação  em  Ferrara  (Itália)  quando  o 
P.  Diego  Laynes  al  foi  fundar  o  Colégio  dessa  cidade.  Tinha  26  anos 
em  1561  (Epp.  Nadal  I  693).  Não  era  para  o  Brasil  nem  para  a  Compa- 
nhia, donde  foi  despedido  em  1565  (Leite,  História  1  562). 

43  «Gramática  da  terra»,  isto  6,  tupi,  que  o  mestre  de  latim,  Jorge 
Rodrigues,  ia  agora  aprender  na  Aldeia  de  S.  António. 


0)6.  -  HAIA  26  DE  JUNHO  DE  1562 


489 


E  por  aquelle  ser  hum  dos  passos  mais  diííicultosos  e 
impidosos  a  se  andar,  este  caminho  daqui  a  Fernãobuquo  535 
por  terra,  se  alegrou  o  Padre  muito  com  tam  boa  nova. 
E  se  fora  possivel  deixar  sua  occupação,  de  pregar  e  con- 
fessar, a  outrem,  tivera  por  mui  alegre  Páscoa  passar  deser- 
tos e  rios,  que  se  passam  com  muito  trabalho,  maxime 
naquelle  tempo  em  que,  por  causa  das  muitas  chuvas,  vão  540 
de  monte  a  monte.  Mas  em  passando  a  Páscoa  u  se  partio, 
levando  consigo  dous  Padres  lingoas  e  hum  homem  de 
fora  honrrado  e  dos  lingoas  que  mais  autoridade  tem  antre 
o  gentio,  por  que  nada  faltasse  para  se  effectuar  tam  boa 
obra.  E,  tendo  andado  perto  de  quarenta  legoas  ao  longo  da  545 
costa  com  muito  trabalho,  pola  falta  dos  mantimentos,  que 
ou  pollo  descuido  do  gentio  ou  por  [120V]  permissão  devina 
este  anno  há  entre  elle,  e  por  ser  informado  que  quanto  mais 
fosse  por  diante  tanto  mais  fome  avia,  polo  que  os  Índios 
andavam  pelos  matos  espalhados  à  fruita:  com  parescer  550 
da  companhia  determinou  tornar-se  e  deixá-lla  yda  pera 
outro  tempo,  porque  polia  muita  gente  que  levava  consigo, 
como  alguns  Principaes  necessários  para  o  fazer  das  pazes 
e  outros,  fora  impossivel  caminhar  con  tanta  esterelidade. 

22.  Huma  sentença  sayo  agora  contra  o  gentio,  que  555 
quá  chamão  de  Caaêtê,  que  matarão  o  Bispo  46f  em  que  se 
condena  toda  a  geração  a  serem  escravos.  E  por  o  Padre 
ser  informado  que  toda  a  terra,  ainda  nesta  Capitania,  era 
chea  desta  mistura  e  o  vulgo  esperar  que  a  sentença  avia 
de  sair  tanto  à  sua  vontade,  areceoso  da  desenquietação  que  560 
despois  soccedeo,  fez  com  o  Guovernador  que  antes  do  dar 
da  sentença,  que  ainda  que  fosse  justo  sair  ella,  como  comum- 
mente se  esperava,  desejava  elle,  todavia,  favorecesse  os 
que  se  achassem  em  os  lugares  onde  a  Companhia  tem  casas. 
Com  o  qual  aviso,  elle  folguou  como  quem  não  deseja  pou-  565 


551    companhia  post  corr,  ||  556    quá  tup. 


44  Em  1562,  29  de  Março. 

45  D.  Pedro  Fernandes  {Mon.  Bras.  i  51). 


490 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


quo  a  quietação  dos  novamente  convertidos;  e  asi  o  fez 
como  o  P.e  Provincial  queria.  Mas  como  o  imiguo  não 
dorme  44  e  a  cobiça  seja  má  de  arrancar  donde  tanto  há 
que  reyna,  nen  isto  bastou  pera  deixarem  de  ser  perse- 

570  guidos,  porque,  por  ias  e  nefas,  trabalhavão  muitos  desal- 
mados fartar  sua  sede  e  encher-se  de  peças,  não  perdoando 
a  pagãos  nen  a  christãos,  e  con  tanta  diligencia  que  convi- 
nha aos  pobres  deixar-se  morrer  em  casa  sem  busquar  de 
comer  nen  fazerem  suas  roças  ou  fugirem  pellos  matos 

575  como  veados,  porque  tanto  que  saissen  das  abas  dos 
Padres  e  os  topavam,  logo  eram  ferrados,  que  não  sey 
quem  lhe  dizia  serem  daquela  casta. 

Conveio  então  ao  Padre,  como  aquelle  em  quem  está 
toda  a  confiança  de  tanta  orfandade,  atalhar  con  todos  os 

580  remédios,  assy  com  bradar  nos  púlpitos  e  estranhar  a 
crueldade,  como  com  fazer  com  o  Governador  que  tamben 
os  defendesse  e  ajudasse.  O  que  elle  fez  tanto  que  soube, 
mas  in  manu  valida47,  com  prender  e  castigar;  com  o  que 
alguns  se  retiverão  de  sua  fúria  e  começarão  a  dar  os  que 

585  tinhâo.  E  tal  ouve  que,  con  medo  de  ser  culpado,  entre- 
gou ao  Padre  30  ou  40  peças  sem  lhe  elle  fallar  nellas,  e 
como  que  ainda  se  tinha  por  ditoso  achar  modo  e  maneira 
com  que  ellas  fossem  restituidas  aos  lugares  donde  erão, 
sem  o  saber  quem  ho  pudesse  accusar.  E  tanto  que  pellas 

590  Aldeãs  se  soube  a  diligencia,  que  o  Padre  Luis  da  Grãa 
punha  em  seu  livramento,  concorrerão  logo  a  este  Collegio 
de  diverssas  partes  em  bandos,  e  hera  cousa  piadosa  ver 
tanta  gente,  e  huns  pedirem  filhos,  e  outros  molheres  e 
parentes,  e  outras  maridos;  e  enchia-se  o  Collegio  de  gente. 

595  23.  Con  o  que  o  Padre  levava  tanto  trabalho,  que  se 
não  sabia  dar  a  conselho,  e  pera  acudir  e  ouvir  huns  e 
outros,  era  necessário  não  dizer  misa  toda  a  somana  e 


57  1    suas]  sus  m*. 


46  Cf.  Mat.  13,  24-25. 

47  Cf.  2  Esd.  1,  10. 


66.  -  BAÍA  26  DE  JUNHO  DE  1562 


491 


rezar  fora  de  tempo48.  O  Governador19  e  Ouvidor  Geral50, 
como  são  todos  da  Companhia  e  de  muito  boas  consciên- 
cias e  se  confesão  muitas  vezes  en  casa,  puserão,  des  que  600 
começarão,  tão  boa  diligencia,  que  vay  já  tudo  cessando, 
e  os  moradores  virão  a  conhecer  seu  erro,  por  já  alguns 
começarem  a  temer  que  os  índios  com  a  perseguição  se 
alevantassem  e  fossem  ajuntar  em  parte  onde  depois  fos- 
sem trabalhosos  de  sogeitar  de  novo.  605 

24.  Por  aquy  poderão,  charissimos,  conjecturar  hos 
trabalhos  que  hos  que  nestas  partes  andâo  sofrem  e 
quanto  [i2ir]  os  soldados  farão  por  se  opporem  a  elles, 
vendo  seu  capitão  nunqua  ter  repouso;  e  certo  elles  se 
aproveitão  tam  bem  de  seu  exemplo  que  tem  muito  mais  610 
necesidade  de  freo  que  de  esporas,  e  com  muita  alegria 
e  consolação  spiritual,  com  que  Nosso  Senhor  os  ajuda 
por  carecerem  de  todo  humano  rifrigerio.  Porque  não 
basta  o  trabalho  de  dia,  mas  ainda  de  noite  muitas  vezes 
hé  necessário  levantarem-se  tres  e  quatro  e  mais  vezes  615 
pollos  chamarem  para  bautizar  in  extremis,  o  que  se  sente 
muito  onde  não  hay  revezarem-se ;  e  como  hé  por  neces- 
sidade de  importância,  não  há  esperar  pello  dia.  Com  que 
andão  tais  que  hé  pera  aver  piedade.  E  nestas  pressas 
continuas  muitas  vezes  acontece  bautizarem  os  Irmãos  por  620 
não  aver  tempo  para  chamar  o  Padre.  E  asi  ajuntão  e 
fazem  cada  hum  seu  feixe,  ora  ensinando-lhes  a  doctrina 
e  cousas  da  íee,  ora  bautizando  e  ajudando  a  bem  morrer 
esta  pobre  gente  que  ategora  andou  tão  fora  do  caminho. 

E  que  mais  não  fosse  que  fazer  nomear  o  sanctissimo  625 
nome  de  Jesus  a  quem  nunqua  delle  teve  noticia  era  muito, 


601  começarão  corr.  ex  comerão  |  604  alevantassem  corr.  ex  alevantem  |  fossem 
dei,  sojeitar  |j  606    poderão  corr.  ex  porderão  |  conjecturar  corr.  ex  conjeicturar 


48  Entenda-se:  rezava  cada  dia  as  partes  canónicas  do  Breviário, 
não  porém  dentro  do  tempo  que  a  disciplina  eclesiástica  de  então  mar- 
cava para  cada  uma  delas. 

49  Mem  de  Sá. 

50  Brás  Fragoso. 


492 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


quanto  mais  en  lugares  onde  tantas  almas  há  juntas,  e  não 
tem  mais  de  hum  Padre  que  olhe  por  ellas!  A  cada  passo 
se  offrecem  cousas  e  impresas  maravilhosas,  porque  ora  se 

630  achão  crianças  que  estam  morrendo  antes  de  as  bautizar, 
ora  grandes  que  morrem  ao  desamparo  spiritual  e  tempo- 
ral, outros  que  avendo  vivido  mal  se  tornarião  a  Deus 
naquella  hora,  se  ouvesse  quem  nas  encaminhasse.  E,  nos 
tais  tempos,  ho  que,  do  Padre  e  Irmão  que  com  elle  está, 

635  primeiro  anda  primeiro  ganha  51. 

Huma  vez  chamarão  hum  Padre  muito  à  presa  pera 
hum  que  estava  morrendo,  que  em  todo  o  tempo  de  sua 
doença  fora  duríssimo,  pelo  que  ho  Padre  desconíiava 
algum  tanto  de  sua  conversão.    E  parece  que  por  escar- 

640  mento  dos  outros  seria  de  aver  lá  de  ir,  porque  lhe  falou 
muitas  vezes  a  elle  e  outro  que  junto  com  elle  estava 
doente,  o  qual  se  convertera  e  morrera  bom  christão» 
fiquando  elle  sempre  em  sua  dureza.  E  todavia  foy  lá 
com  outro  Padre  que  aly  se  achou.    E,  fallando-lhe,  dise 

645  o  Padre,  que  o  conhecia,  que  não  bastava  o  que  dizia 
para  ser  christão,  pois  fora  sempre  tão  mao  e  emperrado. 
O  outro  era  de  contraria  opinião;  e  dizia  que  pudia  ser 
aquilo  de  Nosso  Senhor.  E  assy  estiverão  nestas  porfias 
e  falavão-lhe  de  quando  en  quando   para  tomar  mais 

650  conhecimento  delle  e  sua  contrição.  E,  vendo  que  se 
hia  gastando,  finalmente  se  puserão  de  joelhos  a  par 
delle,  e  rezarão  o  hymno  do  Spiritu  Sancto  e  outras 
orações,  pedindo  ao  Spiritu  Sancto  lhe  desse  a  sentir  o 
milhor.    E  depois  lhe  começarão  a  correr  os  artigos  da 

655  fee  e  mover  à  contrição  e  aborrecimento  de  sua  vida  pas- 
sada. E  a  tudo  respondia  mui  bem,  e  fallou  sempre  pella 
bondade  de  Nosso  Senhor  até  de  todo  arancar;  tanto  que 
tendo  já  a  vista  perdida  se  esforçava  a  falar,  e,  des  que  não 


639-640  escarmento^  scramenlo  tns.  ]|  650  couhecimento  post  corr.  ||  651  joelhos] 
goclhos  tns. 


51  «Quem  primeiro  anda,  primeiro  ganha»  (Chaves,  Rifoneiro 
Português  361). 


(56.  -  BAIA  26  UE  JUNHO  UE  1562 


495 


pode  mover  os  beiços,  falava  com  o  paladar,  e  depois  pare- 
cia que  falava  já  no  meo  da  guella.  E,  vendo  que  se  lhe  66o 
hia  sumindo  a  falia,  desta  maneira  o  bautizarão;  e  escas- 
samente foy  feito,  quando  de  todo  deu  a  alma  a  seu  Cria- 
dor. E  pellas  muitas  mostras,  que  virão,  de  ser  mercê 
especial  que  Christo  Nosso  Senhor  quis  fazer  aaquella 
alma,  fiquarão  tam  contentes  os  Padres,  que  disse  hum  665 
delles,  lingoa,  e  que  tem  visto  muitas  cousas  antre  ho 
gentio,  que  nunqua  fizera  bautismo  em  que  tanta  conso- 
lação recebesse. 

Outra  vez  foy  chamado  outro  Padre  pera  ver  huma 
moça,  que  se  achava  mal,  por  o  dia  dantes,  indo  à  fonte,  670 
ha  asombrara  não  sey  quê.  Fez-lhe  elle  as  pergun-[i2iv]tas 
acostumadas.  E  polia  ver  guorda  e  tam  bem  desposta,  como 
se  nenhum  mal  tivera,  a  deixou  ally  aparelhada  para  que 
avendo  alguma  pressa  não  ouvesse  mais  que  bautizá-la. 
E,  sendo  outra  vez  chamado,  foy,  e  com  elle  outro  Padre  675 
lingoa,  que  àquella  ora  ally  fora;  e  polia  ver  como  dantes 
e  quieta,  posto  que  sem  falia,  se  hião,  deixando  recado  que 
se  alguma  cousa  vissem  os  mandassem  chamar.  Estava  ally 
huma  molher  sua  parenta,  já  christã  e  casada,  que  parece 
que  falava  algum  anjo  nella,  porque  tres  ou  quatro  vezes  680 
deteve  os  Padres,  dizendo  que  a  bautizassem,  porque  antes 
de  perdê-la  falia,  dissera  que  cria  em  Deus  e  queria  ser 
bautizada,  e  outras  cousas  que  lhe  ouvira  dizer  quando  a  o 
Padre  aparelhava;  e  isto  dizia  e  pedia  com  tanta  lastima  que 
emfim  se  determinarão  bautizá-la.  E,  querendo  começá-lo  685 
officio,  virão  alguns  sinaes  com  que  ho  deixarão,  e  a  bau- 
tizarão muito  à  pressa,  e  daly  ha  nada  espirou,  como  quem 
outra  cousa  não  esperava;  de  que  hos  Padres  forão  tam 
consolados  quam  descosolados  ficarião  se  ha  ouverão  dei- 
xado sem  bautismo;  porque  se  asy  fora,  em  elles  chegando  690 
a  casa  espirara  ela,  que  tam  breve  foy  a  cousa. 

25.  E  porque  estas  cousas  acontecem  muitas  vezes, 
hos  Irmãos  que  lá  punhão  a  summa  de  seus  desejos  em 


658-659  ,e  des  que  —  beiços  in  marg.  sin.  |  paladar]  padar  ms.  ||  690    se  tltl.  ella 


494 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


serem  raeyo  de  hum  infiel  vir  em  conhecimento  de  seu 

695  Criador,  ho  são  quá  mui  ameude,  e  assi  não  há  nesta  terra 
nenhum  que  não  ache  de  que  lançar  mão.  Pollo  que,  orde- 
nando-o  ha  sancta  obediência,  hos  que  pera  quá  vierem 
não  devem  ser  menos  contentes  con  sua  sorte  que  os  que 
vão  pera  a  índia,  porque  quá  nem  hos  que  não  sabem  são 

700  tidos  por  innutiles,  nem  hos  que  sabem  lhes  falta  em  que 
se  empregarem. 

£  se  na  índia  há  guerras,  quá  não  faltão;  se  há  espe- 
ciarias, quá  há  açuquere,  algodam,  brasil,  e  ambre,  e  res- 
gates, em  que  os  homens  tractâo,  e  a  terra  e  tráfegos  vay 

705  em  grandíssimo  crecimento.  Pollo  que  os  letrados  não  são 
muito  menos  necessários  que  na  índia  e  às  vezes  fazem 
mui  grande  falta,  ha  quall,  assy  de  huuns  como  dos  outros, 
dê  Nosso  Senhor  a  sentir  a  quem  ha  pode  remediar.  Por- 
que aliem  do  que  digo  acerqua  do  que  toca  ao  gentio,  estão 

710  tres  Capitanias  clamando  por  Padres  da  Companhia,  e  hé 
tam  pouqua  possibilidade  que  nen  aos  Ilheos,  com  esta- 
rem tam  perto  e  lhe  ter  o  Padre  Provincial  dado  palavra, 
se  pôde  ateguora  socorrer  nen  creo  se  fará  ally  nada  até 
não  virem  de  llá  obreiros. 

715  26.  Quanto  ao  proveito  spiritual  da  gente  branca  desta 
Capitania  hé,  louvores  a  Nosso  Senhor,  muito  defferente 
do  que  soya,  e  corresponde  bem  à  diligencia,  que  nisso  os 
Padres  poem,  assi  nesta  cidade  como  na  povoação,  que 
chamâo  da  Villa  Velha,  com  pregações  e  amoestações  par- 

720  ticulares  e  acudirem  a  todas  suas  pressas  e  doenças,  a 
qualquer  tempo  que  são  chamados.  Há  commumente 
todolos  domingos  e  dias  sanctos  muita  gente  que  se  con- 
fessa e  comunga  neste  Collegio,  e  hé  muito  para  louvar 
a  Nosso  Senhor  e  motivo  de  muita  consolação,  aos  que 

725  conhecerão  e  virão  sua  frieza,  ver  agora  tam  grande 
mudança  que  muitas  vezes  não  podem  4  confesores  ou  5 
dar  expedição  a  confissões  de  oyto  e  15  dias,  ao  sábado 
e  domingo  até  à  missa  do  dia,  senão  com  trabalho.  Ha 


708-709    Porque j  Por  MM.  |  do')  da  MM,       7*7    expedição  post  curr- 


66. -BAÍA  26  UE  IUNHO  DE  1562 


495 


Villa  Velha  se  visita  comummente  cada  quinze  dias,  como 
sempre  se  fez  no  tempo  que  ho  Padre  João  de  Mello  tinha  730 
cuidado  delia,  [i22r]  ho  que  agora  faz  por  outrem,  por  as 
occupações  que  tem  com  ho  carrego  de  Rector,  em  que 
este  anno  succedeo  ao  Padre  Francisco  Pirez,  o  estorvarem 
de  o  fazer  por  sy  como  dantes. 

27.    Ha  povoação,  que  chamão  de  Afonço  de  Torres52,  735 
que  está  perto  da  nossa  igreja  de  Sanct}'ago,  cinco  legoas 
desta  cidade,  ordenou  o  Padre  Provincial  que  de  quando 
em  quando  a  visitase  o  Padre  Luis  Rodriguez,  de  Sanctyago» 
alguuns  messes  que  lá  esteve.  E  sendo  dantes  mui  mal  afa- 
mada, quis  Nosso  Senhor  que  com  suas  amoestações  se  740 
mudasse  tanto  que  totalmente  parece  outra.    E,  avendo 
sempre  vivido  como  gente  de  todo  esquecida  de  sua  sal- 
vação, se  começarão  a  confessar  com  elle  todos  ou  quasi 
todos,  homens  e  molheres,  como  quem  queria  começar 
vida  nova,  e  ouve  alguuns,  que  tendo  peças  duvidosas  745 
ou  das  que  se  tem  por  mal  resgatadas,  as  entregarão  ao 
Padre  Luis  Rodrigues,  que  fizesse  delias  o  que  quisesse. 
E  assi  fiquarão  tam  afeiçoados  à  confissão  que,  com  terem 
cura,  se  alegravão  summamente  de  serem  visitados  e  con- 
fessados por  qualquer  dos  nosos  Padres,  que  resida  em  750 
Sanctiago;  e  sem  comparação  se  faria  muito  mais  proveito 
nas  almas  se  isto  se  podesse  mais  continuar.  Mas  ha  falta, 
que  há  da  gente,  faz  que  qualquer  que  ally  está,  ainda  que 


735   Afonço  743    esquecida]  escecida  tns. 


52  O  orago  da  povoação  era  Santa  Cruz.  Mas  também  se  dizia  de 
Afonso  de  Torres  (não  António  de  Torres).  Afonso  de  Torres,  natural 
de  Jaén  (Andaluzia),  veio  para  Portugal  em  tempo  de  D.  Manuel  I,  com 
outro  irmão,  e  foi  grande  mercador  em  Lisboa  e  armador  de  navios. 
O  Donatário  Francisco  Pereira  Coutinho  concedeu-lhe  uma  sesmaria  de 
três  léguas,  «partindo  do  porto  do  Tubarão  até  ao  Rio  de  Matoim»,  a 
28  de  Julho  de  1542.  Portugal  deu-lhe  brasão  de  armas  e  faleceu  a  4  de 
Março  de  1560.  A  sua  descendência,  entre  a  qual  se  conta  o  famoso 
patriota  de  1580,  Febo  Monis  (seu  bisneto),  veio  a  fundir-se  na  casa  dos 
Condes  de  Sampaio  (Braancamp  Freire,  Brasões  da  Sala  de  Sintra  1 
482-488 ;  Wanderley  Pinho,  História  de  um  Engenho  16-17). 


496 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


soo,  de  tal  maneira  tenha  cuidado  do  gentio  que  de  todo 
755  não  deixe  os  brancos,  e  assy  os  visitão  de  tarde  era  tarde, 
por  yr  sustentando  até  Nosso  Senhor  soccorrer  a  tantas 
necessidades. 

28.  Has  novas  geraes  ha  toda  terra  hé  ser  mui  cursada 
de  Franceses,  e  tanto  que  muy  pouquas  legoas  desta  cidade 

760  tomarão  huma  nao  que  vinha  do  Porto,  vindo  já  a  deman- 
da-llo  porto  ao  longo  da  costa,  e  por  cuydarem  que  o  gentio 
estaria  de  guerra  e  não  saberem  das  nossas  casas  e  Padres, 
defronte  de  que  estavão,  lhe  largarão  a  nao  e  se  meterão 
todos  no  batel  em  que  vierão  a  esta  cidade.  Agora  andam 

765  muitas  naos  espalhadas  pollos  mais  dos  portos,  e  no  Rio 
de  Janeiro  se  dizem  estarem  7,  das  quais  vierão  duas  à 
Capitania  do  Espiritu  Sancto;  e,  como  ella  hé  pouquo  favo- 
recida d'El-Rey,  por  ser  alhea,  e  de  seu  dono  por  ser  pobre53, 
estiverão  em  grande  aperto  e  desacoroçoarão  tanto  os  mora- 

770  dores,  por  serem  pouquos  e  como  digo  mal  providos,  que 
foy  necessário  o  nosso  Padre  Brás  Lourenço  fazer-se  seu 
alferez.  E  isto,  saindo  pola  Vila,  animando-os  (como  elle 
escreveria  miudamente"'4);  e  com  isso  lhes  meteo  algum 
coração  com  que  pelejarão  obra  de  4  horas,  que  o  combate 

775  durou.  E  quis  Nosso  Senhor  que  se  achasse  ally  acaso 
huma  nao  que  hia  de  S.  Vicente  pera  ese  reino,  que  os 
ajudou  com  que  hos  Franceses  não  ousarão  de  sair  a  terra, 
e  somente  passou  a  cousa  com  esbombardearem  a  villa  de 
que  estavão  muy  perto  por  o  rio  ser  estreyto.    E,  polia 

780  pressa  com  que  levarão  a  anchora  e  se  sairão  se  sospeitou 
fiquarem  maltractados  da  artelharia  da  terra  ou  da  nao 
portuguesa.  E  querendo  elles  tomar  carga  de  brasil  em 
hum  porto  perto  dally,  de  índios  da  mesma  Capitania,  lhe 


780    anchora  post  corr. 


53  Vasco  Fernandes  Coutinho,  pai,  que  faleceu  no  Espírito  Santo 
em  Fevereiro  de  1571  (Mon.  Bras.  1  299).  Acabou  nesta  Capitania  «tão 
pobremente,  que  chegou  a  darem-lhe  de  comer  por  amor  de  Deus,  e 
não  sei  se  teve  um  lençol  seu,  em  que  o  amortalhassem»  (Soares  de 
Sousa,  Tratado  79). 

54  Cf.  carta  65  §  7. 


66.  -BAIA  26  UE  JUNHO  DE  1562 


497 


tomarão  elles,  que  estavão  já  avisados  polo  capitão  da  terra, 
huraa  chalupa  com  7  ou  8  Irancesses,  e  fiquarão  cativos  e  as  785 
naos  se  forão  embora,  mas  segundo  fama,  com  preposito  de 
tornarem  milhor  aprecebidos  para  o  que  dantes  pretendião. 

Da  mingoa  que  ally  padecem  os  nossos  Padres  não 
fallo,  por  me  parecer  que  elles  a  escreverão  por  alguma 
via.  A  estoutro  perigo,  de  que  todos  estão  areceosos,  lhe  79° 
quisera  logo  o  Governador  socorrer  [i22v]  se  o  tempo  não 
fora  contrairo,  com  dous  navios  d'armada,  com  estar  esta 
cidade  tam  falta  de  pólvora  que  certo  parece  que  todos 
nesta  terra  vivem  vendidos  e  estão  expostos  a  grandes 
perigos.  Porque  se  se  atem  a  esta  cidade,  que  hé  cabeça,  795 
às  vezes  lhe  faltará  o  tempo  pera  virem  pedir  socorro,  e 
outras  o  terão  e  aproveitar-lhe-á  mui  pouco  por  estar  ella 
(como  digo)  tam  falta  de  monições,  que  parece  que  não  há 
nesse  Reyno  quem  se  lenbre  delia,  com  o  que  a  terra  será 
sempre  pouquo  segura  até  as  cousas  de  lá  yrem  por  outro  800 
estilo.  E,  assy  os  da  terra,  como  os  que  de  fora  vem  a  ella, 
receberão  muitas  perdas,  o  que  o  Governador  não  sente 
pouquo,  porque  não  soffre  o  seu  animo  estar  como  em 
cerquo  e  virem-lhe  tomar  os  navios  há  porta. 

São  pressas  todas  estas,  Charissimos,  a  quem  fazem  não  805 
pouca  mingoa  suas  orações  e  devações,  porque  dantes  se 
temião  nesta  costa  de  Franceses,  como  de  homens  cobiço- 
sos de  fazendas  alheas,  e  agora  como  de  herejes,  que  se 
(ho  que  Deos  não  permita)  tomasem  alguma  destas  Capi- 
tanias, seria  muy  grande  lastima  polo  perigo  que  averia  810 
de  muitos  serem  contaminados  como  são  os  de  pequena 
idade,  criando-sse  com  elles,  e  outros,  que  por  medo  do 
mao  tratamento  que  dão  aos  fieis,  podião  correr  o  mesmo 
perigo.  Porque  pouco  há  que  indo  de  quá  hum  barco  para 
Fernãobuco  desgarrou  e  foy  ter  aos  Patiguares 55,  onde  esta-  815 


791  quisera  logo]  quiserao  logio  ms,  798  não  sup.  ||  810  perigo]  perigro  ms. 
|l  815    Patiguares  post  corr. 


55  Os  índios  «Potiguares»  habitavam  a  Paraíba,  ao  norte  de  Per- 
nambuco (Leite,  História  i  499). 

3» 


498 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


vão  Franceses,  os  quaes,  posto  que  lhe  não  íizerão  mal  mas 
antes  determinavão  mandá-llos  como  tivesem  tempo  como 
mandarão,  tomavão  por  passatempo  escarnecer  e  zombar 
dos  livros  de  rezar,  que  levavão,  e  imagens,  dizendo,  deos 

820  de  pao,  deos  de  frandes  5G,  deos  na  caxa,  e  chamando-lhes 
de  papistas,  e  outras  cousas  em  que  lhes  parecia  favorece- 
rem sua  cegeira. 

29.    E  não  hé  tanto  de  espantar  isto  em  gente  rústica 
do  mar,  como  neste  que  está  preso,  como  já  saberão,  passa 

825  de  hum  anno  ou  vay  em  dous,  em  huma  cadea  que  parece 
se  pode  mais  chamar  mazmorra  que  cadea,  e  contudo  tam 
pertinaz  como  se  outro  letrado  não  ouvera  no  mundo. 
E  aly,  onde  está,  não  deixa  de  fallar  o  que  lhe  vem  à  von- 
tade, e  hé  ele  tam  gabado  de  sutil  e  delicado  engenho  que 

830  se  Nosso  Senhor  por  sua  bondade  não  ajudase  nesta  parte 
tanto  ha  Nação  Portugesa,  como  sempre  ajudou,  não  pode- 
ria deixar  de  se  apegar  algum  aos  que  ally  vão.  E,  porem, 
elles,  com  sua  íee  de  enche-mão,  dando-lhe  humas  rezões, 
que  hé  para  rir,  e  cuidão  que  o  concluirão ;  e  vem-se  depois 

835  gavar  que  se  tiverão  muy  bem  com  Monsior  de  Bollés57,  o 
que  não  fizerão  alguns  franceses  que  aqui  estavão  quando 
elle  veo  do  Rio  de  Janeiro;  mas  neses  pouquos  dias,  que 
aqui  andou,  se  aproveitarão  bem  de  sua  doctrina,  e  sendo 
presos  dous  moradores  antigos  e  cassados  na  terra,  sayo 

840  hum  com  huma  penitencia  solemne  na  See  e  outro  com  hum 
sambenito  para  sempre  e  que  não  saise  fora  dos  muros  e 
visitasse  este  Collegio  duas  vezes  cada  dia.  O  Monsior  de 
Bollés  deixa  de  ser  queimado  por  estar  remetido  ao  Car- 
deal58.  Pouquo  tempo  há  que  fugindo,  por  hum  descuido, 

845  dous  presos  da  cadea,  de  dia,  acudio  o  Ouvidor  Geral  e 
achando  que  o  hereje  estivera  também  pera  isso,  por  andar 


Sag    hé  sup.  ||  846    também]  tam  sup. 


56  De  folha-de-flandres,  isto  é,  de  folha  de  ferro  estanhado. 

57  Cf.  supra,  doe.  32;  Leite.  Breve  Itinerário  162-165. 

58  D.  Henrique,  Infante  de  Portugal. 


66.  -  BAÍA  26  DE  JUNHO  UE  1562 


499 


sem  ferros,  lhe  mandou  deitar,  o  que  elle  não  quis  consen- 
tir, e  foy  nisso  tam  remisso  que  duas  ou  tres  vezes  mandou 
a  Justiça  apontar  nelle  com  huma  seta  pera  o  matar,  e  ele 
todavia,  por  ver  o  perigo  tam  imminente,  hé  tam  soberbo  850 
que  por  não  mostrar  fraqueza  disse  que  o  deixassem  fallar 
ao  Senhor  Ouvidor;  e  dise-lhe  que  não  por  medo,  mas  por 
amor  de  sua  mercê,  os  queria  tomar.  E  assy  escapou  do 
que  por  ventura  lhe  fora  milhor  por  não  estar  cada  dia 
acrecentando  tormentos  pera  o  inferno.  855 

30.  Ho  anno  passado  se  fez  huma  entrada  com  atoar- 
das ou  esperanças,  que  avia  de  [i23r]  ouro,  em  que  hia  hum 
dos  honrrados  da  terra  por  Capitão59  de  certos  homens,  assi 
da  mesma  terra  como  da  nao  da  Índia,  S.  Paulo,  que  aquy 
veo,  e  se  deixarão  fiquar  pera  isso.  E  sendo  já  60  ou  860 
70  legoas  pello  sertão  adentro  por  antre  hum  gentio,  que 
chamão  Tupiguaem,  se  alevantou  o  gentio  contra  elles 
poios  ver  estranhos  e  tam  longe  de  suas  terras ;  e,  como 
elles  hião  descuidados  e  forão  cometidos  de  supito  entre 
matos  e  caminhos  tam  estreytos,  que  se  não  podião  ajudar  865 
das  armas  por  vir  hum  ante  outro,  virão-se  em  grandíssimo 
aperto  de  que  Nosso  Senhor  os  livrou.  E  foy-lhes  forçado 
deixar  toda  a  fazenda  e  monições  que  levavão,  deixando 
somente  o  necessário  para  desandar  o  caminho  para  que  os 
escravos  e  índios  forros,  que  de  quá  levavão,  tomassem  os  870 
feridos  às  costas,  e  os  sãos  pelejassem  mais  desembaraça- 
damente. E  assy,  pelejando  e  cativando  muitos  dos  contrá- 
rios, sayrão  de  antre  elles  caminhando  de  dia  e  de  noyte, 


860    deixarão]  deixfio  ms. 


59  Cf.  «Carta  de  Mercê,  que  o  Senhor  Governador  Mem  de  Sá  fez 
a  Vasco  Rodrigues  de  Caldas  e  a  100  homens  que  vão  com  elle  a  des- 
cobrir minas»,  de  24  de  Dezembro  de  1560  (Doe.  Hist.  36  [1937]  144-147). 
Um  dos  que  iam  era  Filipe  de  Guillen,  que  sobre  esta  entrada  ou  ban- 
deira escreveu  uma  carta  a  12  de  Março  de  1561  (Carvalho  Franco, 
Dicionário  188) 


500 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


sem  da  gente  branca  faltar  mais  que  2  homens  que  no  pri- 

875  meiro  encontro  forão  mortos00. 

E  entre  o  fato  fiquou  lá  hum  crucifixo  em  huma  caxa, 
do  qual  se  dixe  dahy  a  pouco  tempo  que  forão  humas 
velhas  pera  ho  tirar  da  caxa  para  os  seus  lhe  quebrarem  a 
cabeça  a  seu  modo,  e  supitamente  cairão  mortas.  E  yrados 

880  alguns  mancebos  valentes  disto,  tomarão  seus  arcos  e  fre- 
chas pera  às  frechadas  o  matarem  ;  e  querendo-o  pôr  por 
obra,  aconteceu-lhe  o  mesmo  que  às  outras.  Quererá  Nosso 
Senhor  que  desta  offensa  sua  naça  ainda  algum  proveito  e 
lume  para  salvação  daquella  cega  gente,  se  em  algum 

885  tempo  lhe  for  preguada  a  palavra  divina,  o  que  parece 
começa  já  a  ser  em  parte,  porque,  avendo  alguns  dous  mes- 
ses, pouquo  mais  ou  menos,  que  isto  acontecera,  se  foy  o 
propio  Capitão  que  fora  a  Paraguaçu,  a  fazer  brasil,  e  tinha 
alguns  escravos  daquella  nação  pressos,  e  hum  mancebo 

890  mamaluco  que  hos  gardava,  os  quais  se  soltarão  das  pri- 
sões e  fogirão  pera  suas  terras,  e  nen  elles  nen  o  mancebo 
pareceo  mais,  pello  que  se  creo  que  o  matarão  por  fogirem. 
E  avendo  perto  de  hum  anno  que  aconteceo,  vierâo  agora, 
averá  oyto  dias,  novas  que  o  crucifixo  estava  são  e  o  man- 

895  cebo  vivo,  e  que  vinha  hum  certo  índio  com  novas  e  mos- 
tras de  ouro.  Pello  que,  digo  começarem  jaa  a  terem  algum 
começo  de  lume,  pois,  sendo  tam  faltos  de  saber  e  discri- 
ção humana,  se  lhes  encaixou  ser  aquelle  crucifixo  alguma 
grande  cousa,  pois  ningem  o  podia  matar  com  espada  nen 

900  frecha,  e  elle,  sem  se  mover,  matava  a  quem  queria.  E  hé 
de  crer  que  o  christão  não  escapara  de  ser  comido  se  o 
medo  que  tinhão  à  imagem  de  Christo  Nosso  Senhor  hos 
não  estorvara. 


876    entre]  outro  ms,  ||  S85     preguada  corr.  ex  pregua  |  divina  coir.  tx  de  vida 


||  886    a  ser  em  parte  t2  ;  en  ser  en  pago  ms. 


60  Segando  hipótese  justificada,  diz  Rodolfo  Garcia  que  esta 
entrada  chegou  à  Chapada  Diamantina  (Minas  Gerais).  Cf.  notas  de 

Capistrano  de  Abreu  e  Rodolfo  Garcia,  in  HG  i  403-404. 


66  -  HAIA  26  DE  JUNHO  DE  1562 


501 


Esta  digressão  de  novas  fiz  não  sey  como,  fora  de  meu 
propósito,  mas  faço  de  conta  que  servirá  de  saberem  mais  905 
de  raiz  ho  bem  e  mal  da  terra  e  verem  a  necesidade  que 
tem  de  suas  orações,  vendo  quantos  obstáculos  se  offrecem 
ao  bem  e  quietação  das  almas. 

31.  Ho  P.e  Luis  da  Grãa  foy  deste  Collegio,  passadas  as 
oitavas  do  Pentecoste G1,  pera  Sancta  -f-  [Cruz]  de  Taparica,  910 
onde  por  cartas  do  Padre  Antonio  Pirez,  que  aly  reside, 
soubemos  que  se  detivera  até  o  Corpus  Christi Gá,  por  causa 
de  hum  bautismo,  que  fez  aquelle  dia,  em  que  se  bautizarão 
108  pessoas,  e  se  fizerão  43  casaes  em  ley  de  graça.  O  qual 
acabado,  se  partio  logo  para  has  otras  casas  que  estão  na  915 
Capitania  dos  Ilheos03,  deixando  ally  ho  Padre  e  seus  com- 
panheiros mui  contentes,  assy  por  averem  aquelles  dias 
gozado  de  sua  presença  como  pello  crecimento  de  suas 
ovelhas  com  sua  [123V]  yda.  Mas  não  se  passarão  porven- 
tura seis  dias  depois  de  sua  partida  para  a  terra  firme  que  920 
o  imigo  não  buscasse  alguma  occasião  de  impaciência.  E  foy 
ella  de  maneira  que  lhes  ouvera  de  custar  a  vida,  ao  Padre 
Antonio  Pirez  e  seus  companheiros,  porque  estando  elles 
huraa  noite  ao  primeiro  sono  se  alevantou  o  fogo  na  igreja, 
que  era  por  baixo  e  por  cima  toda  de  palma,  e  o  fogo  cor-  925 
ria  da  porta  travessa,  donde  se  alevantou,  para  o  altar 
detrás  do  qual  estavão  os  Padres  em  hum  repartimento  de 
pao  a  pique.  E  parece  que,  por  a  palma  estar  sequa  e  o 
vento  esperto,  tam  supitamente  chegou  o  fogo  ao  altar  e 
repartimento,  que  foy  grande  mercê  de  Nosso  Senhor  pode-  93° 
rem  acertar  com  huma  porta  que  saya  pera  hum  quintal. 
E  quis  Deos  que  huma  caixa,  em  que  estava  o  calez  e  huma 
vestimenta,  se  salvasse;  e  elles,  pola  falta  que  quá  há  de 
vestidos  e  estarem  longe  pera  poderem  ser  socorridos,  are- 


932   E  íoy  ella  de  maneira  bis  ||  926   o  bis 


61  Em  1562,  o  Pentecostes  (Festa  do  Espirito  Santo)  foi  a  17  de  Maio. 

62  28  de  Maio. 

63  Aldeias  de  S.  Miguel  de  Taperaguá  e  Nossa  Senhora  da  Assun- 
ção de  Tapepigtanga  (Leite,  História  n  58). 


502 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S  ROQUE 


935  raeteo  cada  hum  por  onde  lhe  pareceo  que  estava  a  sua 
roupeta,  e,  com  andarem  como  atónitos  e  desatinados,  acer- 
tarão com  ellas.  E  nisto  acodio  a  gente  d'Aldea.  Mas  o 
fogo  era  tam  bravo  e  comsumio  a  igreja  e  casa  tam  asi- 
nha64 que  não  avia  poder  humano  que  lhe  resistisse,  nem 

940  avia  tempo  pera  se  aventurarem  a  tirar  alguma  cousa.  E  da 
igreja  saltou  o  fogo  em  huma  casa  dos  índios,  a  qual  tam- 
bém ardeo  sem  lhe  poderem  valer. 

Os  negros  meirinhos  fizerâo  grandíssimas  diligencias 
por  saber  quem  fizera  aquillo,  e  acharão  culpada  huma 

945  feiticeira,  que  diz  que  se  dohia  tanto  do  pouquo  credito, 
que  já  entre  elles  tinha,  que  dizia:  «Vós  outros,  porque 
credes  em  Deos,  me  não  credes  a  my,  mas  não  sou  eu 
homem»,  —  como  quem  diz,  se  o  fora  eu  me  vingara! 
E  acrecentou-se  a  esta  magoa  sua  ser  ella  já  de  dias  e 

950  casada  à  sua  guisa  com  hum  mancebo  de  quem  tinha  hum 
filho,  ho  qual  se  foy  ao  Padre  que  se  queria  fazer  christão 
e  casar  com  outra  christã  e  apartar-se  daquella.  E  porque 
o  Padre  consentio  nisto  e  lhe  mandou  entrega-llo  filho  ha 
seu  pay,  ou  lho  não  quis  dar  a  ella,  pedindo-lhe  que  o 

955  tirasse  ao  pay  e  lho  desse,  dizem  que  se  acabou  de  tentar. 
E  asi  fez  o  que  dantes  não  fazia  por  molher,  como  ella 
dizia,  parecendo-lhe  que  em  queimar  a  igreja  se  vingava 
do  Padre  e  do  marido  que  ha  deixava  por  casar  com  outra, 
pelo  que  fazia  terribeis  bravuras,  segundo  se  conta.  Hos 

960  índios  fiquarão  tam  indinados  contra  ella  quando  virão 
estes  e  outros  mais  certos  indicios,  que  dizião  que  ha 
emforcassem  logo  lá,  e  por  ventura  o  fizerão,  se  o  Padre 
lhe  não  fora  à  mão.  Vierão  elles  dar  conta  disso  ao 
Governador  e  depois  por  seu  mandado  a  trouverão.  Está 

965  agora  na  cadea,  e  corre  risquo  de  se  lhe  fazer  alguma  jus- 
tiça nova  para  castigo  de  todolos  feiticeiros. 

32.    Has  novas,  que  temos  do  Padre  Provincial,  são 
aver  feito  em  São  Migel  hum  bautismo  em  que  se  bau- 


947    sou]  sSo  ms 


64   Asinha,  advérbio  antiquado  :  depressa. 


66.  -  BAIA  26  DE  JUNHO  DE  1562 


505 


tizarâo  897  almas  e  se  fizerão  106  casais  em  ley  de  graça 
e  muitos  em  ley  de  natureza.  E  hé  partido  pera  Nosa  970 
Senhora  da  Assumção,  que  hé  em  Camamum,  mais  che- 
gada aos  Ilheos,  onde  esperamos  que  se  bautizará  grande 
numero  de  gente,  do  qual  darey  conta  na  segunda  via  c:' 
quando  nesta  primeira  não  poder,  porque  por  ser  longe 
não  esperamos  outro  mesageiro  que  dee  as  novas  senão  975 
o  mesmo  Padre  Provincial. 

Tendo  a  carta  nestes  termos  e  estando  a  caravela  de 
verga  d'alto,  contra  nossas  esperanças,  chegou  o  P.e  Pro- 
vincial na  primeira  oytava  66  de  S.  João  Bautista,  e  por- 
que a  caravela  dizem  que  parte  logo,  oje,  que  hé  dia  de  980 
S.  Joan  e  S.  Paulo67,  e  o  tempo  ser  pouquo  para  contar 
sua  viagem,  direy  o  de  mais  importância,  que  hé  o  bau- 
tismo  que  fez  en  Nosa  Senhora  da  Assumção.  O  qual  foy 
a  14  de  Junho  de  1562,  e  bautizarâo-se  nelle  1015  almas  e 
fizerão-se  123  casaes  em  ley  de  graça.  E,  daly  a  hum  dia  985 
ou  dous,  fez  outro  [i24r]  em  que  se  bautizarão  40  e  fez 
14  casais  em  ley  de  graça,  e  depois  fez  outro  bautismo  em 
que  se  bautizarão  33  almas.  Estes  tres  bautismos  fez  em 
obra  de  9  dias,  que  aly  esteve,  e  são  os  bautizados  por 
todos  1088,  sendo  a  primeira  vez  que  o  Padre  aly  fora  990 
bautizar;  e  antes  disto,  des  que  a  casa  se  fundara  até 
então,  tinha  bautizado  o  Padre  Pero  da  Costa,  que  nella 
reside,  176  antre  inocentes  e  adultos  in  extremis,  dos 


987    em'  bis  priore  dtl. 


65  Desta  carta,  diz  Leonardo  do  Vale  na  sua  de  12  de  Maio  de  1563, 
que  enviou  duas  yias,  uma  das  quais  se  perdera,  ainda  na  costa  do  Bra- 
sil, com  a  nau  que  a  levava  {Cartas  Avulsas  378).  Salvou-se  a  outra  via 
(não  consta  se  i.a,  se  2.a),  que  é  a  presente  carta.  E  já  nela  dá  conta 
sumàriamente  do  que  se  passara  na  Aldeia  de  N.a  Senhora  da  Assun- 
ção, por  o  Provincial  ter  chegado  no  dia  25  de  Junho,  como  escreve  a 
seguir. 

66  25  de  Junho. 

67  26  de  Junho. 


504  I'.  LEON  ARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 

quais,  a  este  tempo  que  ho  Padre  Provincial  foy,  seriâo 
995  já  mortos  8o. 

33.  Hos  descansos  do  Padre,  caminhando  por  esses 
despovoados,  não  os  conto,  porque  são  os  acostumados  de 
fome  e  chuivas  sem  aver  venda  nem  choupana  onde  se 
meter.    E  agora  à  vinda  lhe  aconteceo,  depois  de  andar 

iooo  longo  caminho,  chegar  a  hum  rio  mui  largo  ou  braço  de 
mar,  e  que  se  avia  de  passar  em  barco  para  ir  à  Ilha  de 
Taparica,  e  tardar-lhe  tanto  o  barquo  que  depois  de  passar 
toda  a  noite  no  campo  hà  chuiva  e  quasi  todo  o  dia  sem 
comer,  lhe  foy  forçado  meter-se  em  huma  jangada;  e  acer- 

1005  tou  de  correr  então  tanto  o  mar  que  o  levava  pola  barra 
fora,  e  foy  dar  a  jangada  no  rollo  do  mar,  onde  correo 
tanto  perigo  que  foy  necessário  o  Padre  Gaspar  Lourenço 
lançar-se  no  mar  com  os  índios  que  levavâo,  e  asi  quis 
Nosso  Senhor  que  sustentarão  a  jangada  e  escaparão  do 

1010  perigo.  E  comquanto  chegarão,  assy  elle  como  ho  Padre 
Gaspar  Lourenço  que  com  elle  fora,  cansados  con  hos 
muitos  trabalhos,  que  passava  de  5  semanas  sofriâo,  assy 
em  caminhar  como  no  apreceber  dos  que  se  bautizão,  que 
sem  duvida  parece  quasi  insofrível  a  forças  humanas,  pola 

1015  gente  ser  muita  e  ter  necessidade  de  grande  instrução, 
para  de  raiz  detestar  e  aborrecer  ha  maa  vida  passada  e 
conhecer  tam  alta  mercê  como  ho  Senhor  lhes  faz  em  os 
ajuntar  a  seu  povo  fiel.  Assy  que  com  todos  estes  traba- 
lhos, e  continuos,  achou  por  consolação,  em  chegando,  novas 

1020  que  lhe  adoecera  o  Padre  Antonio  de  Pina  em  Sancti  Spi- 
ritus;  e  parecia  cousa  feita  acinte,  que  não  avia  huma  hora 
que  o  recado  viera  quando  elle  chegou,  que  foy  vespora  de 
S.  João  e  S.  Paulo,  quasi  noyte,  e  em  amanhecendo  despe- 
dio  seu  companheiro  assy  pera  sangra-lo  Padre,  se  fosse 

1025  necessário,  como  para  dizer  missa  à  gente  e  suprir  em  todo 
por  elle. 

Por  onde  se  pode  bem  conjeiturar  a  necesidade  e  falta 
de  gente  que  quá  há,  pois  tam  pouqua  conta  se  tem  com 


loa8    gente  dil.  pois  tam 


66.  -ua(a  26  DE  JUNHO  DE  1562 


505 


dar  algum  refrigério  ao  corpo  sendo  às  vezes  não  menos 
necesario  que  ho  comer;  e  convém  algumas  vezes  acodir  1030 
ha  necesidades  e  caminhar  com  febres,  de  que  somos  mais 
visitados  que  os  outros,  pello  pouco  repouso  que  há,  com 
a  terra  ser  tam  sadia  como  hé;  e  os  convalecentes,  porque 
na  terra  não  há  o  necessário  para  sua  convalescencia,  con- 
vem-lhes  ante  tempo  deixar  a  emfermaria  e  busca-los  reme-  1035 
dios  spirituaes  confesando  e  ajudando  o  próximo,  assy  em 
casa  como  fora. 

34.  Hos  que  comummente  residem  neste  Collegio  são 
o  P.e  João  de  Mello,  Reitor,  que  tem  asaz  de  trabalho  em 
prove-llas  casas  e  acudir  a  negócios  do  gentio,  que  quasi  1040 
cada  dia  delias  vem  ao  que  já  disse  em  cima,  e  outras 
cousas  semelhantes.  Está  também  o  Padre  Antonio  Blas- 
quez,  que  tem  carrego  da  escola  de  leer  e  escrever,  e  o 
Padre  Francisco  Viegas,  que  tem  a  de  latim,  e  ambos  aju- 
dão  a  confessar  a  seus  tempos,  e  outro  Padre  lingoa  °8,  que  1045 
aliem  das  ocupações  de  casa  e  confissões  de  Brancos,  tem 
a  seu  carrego  a  doctrina  e  confissões  da  escravaria,  assi 
desta  cidade  como  doutra  povoação,  que  está  perto  delia69, 
em  que  tem  tanto  que  fazer,  que  de  quaresma  a  quaresma 
não  acabara  de  confessar  a  metade  por  ser  grandíssimo  1050 
numero  delia;  e  se  isto  não  fosse  e  o  acodir-lhe  no  tempo 
de  infirmidade  todalas  vezes  que  hé  chamado,  a  cada  passo 
se  perderiâo  muitos.  [124.V]  Mas,  polia  bondade  de  Nosso 
Senhor  (posto  que  sempre  forão  dados  a  vicios  e  piores 
que  hos  forros  pagãos,  porque  alem  do  que  herdaram  de  1055 
seus  avós  se  lhes  ajuntou  verem  muitos  males  e  ruym 
exemplo  de  vida  nos  brancos),  con  a  doctrina  e  confisões 
se  emmendarão  tanto  que  hé  grande  consolação  vê-llos; 
e  se  em  suas  doenças,  se  os  senhores  se  esquecem  de  seu 


1029-1031    não  menos  —  caminhar  com  ta  ||  1056   seus]  sus  ws. 


68  O  próprio  autor  desta  carta,  P.  Leonardo  do  Vale,  como  se  infere 
do  final  do  parágrafo  :  «ao  presente  estamos»;  e  cf.  supra,  p.  410. 

69  Vila  Velha. 


506 


P.  LEONARDO  DO  VALE  -  PP.  E  II.  DE  S.  ROQUE 


1060  proveito  e  saúde  espiritual,  elles  os  inportunâo  que  nos 
chamem  pera  se  confessarem,  e,  ainda  que  saibão  íallar 
portuges,  sabem  já  fazer  deferença  de  nós  aos  outros 
Padres  de  fora.  E  hum,  que  viera  de  fora,  e  porventura 
nunqua  viera  a  este  Collegio,  dizendo-lhe  seu  senhor  que 

IQ65  se  comfesasse  que  lhe  mandaria  chamar  hum  Padre, 
dise-lhe  que  mandasse  elle  chamar  hum  Padre  de  Jesu 70 
e  com  elle  se  confessaria,  e  não  se  quis  confessar  com 
outro.  Has  molheres,  que  sohyão  a  ser  mui  soltas  e  de 
mao  viver,  parecem  agora  totalmente  outras,  e  confes- 

1070  san-sse  muitas  vezes  no  anno. 

Huma  vez  acertou  este  Padre  acaso  de  hir  a  huma 
parte  onde  achou  hum  indio  forro  ao  qual  algum  branco, 
seu  compadre,  mandara  bautizar  con  ha  manceba,  que 
tinha,  e  deixou-os  assy,  christãos  e  amancebados,  e  o 

1075  indio  estava  etigo71  ou  tisico  e  já  na  derradeira,  e  sabendo 
delle  o  como  estava  lhe  fallou  e  o  confessou  logo  a  elle 
e  a  manceba  e  despensando  com  elles  em  algum  paren- 
tesco, que  ainda  se  dizião  que  tinhão,  os  casou.  E  elle, 
casado,  e  muy  bem  confessado  e  aparelhado,  se  foy  à 

1080  gloria,  como  se  em  todo  o  tempo  de  sua  doença  outra 
cousa  não  esperara.  Outra  vez  foy  o  mesmo  Padre  con- 
fessar hum  escravo  doente,  e  acabado  de  o  confessar  foy 
ver  outro,  que  estava  na  mesma  casa,  muito  pior,  de  cuja 
perda  ou  morte  spiritual  seo  senhor  estava  bem  desagas- 

1085  tado.  Falou-lhe  e  moveo  a  se  confessar,  cousa  que  elle 
nunqua  fizera,  na  qual  confissão  elle  deu  muito  boas  mos- 
tras de  contrição,  e  assy  como  a  confissão  se  hia  acabando, 
assy  a  falia  lhe  hia  faltando;  he  concluida,  estavão  ambos 


108a   hum  corr.  ex  humg  ||  108Í    deu  post  torr. 


70  «Hum  Padre  de  Jesu»,  isto  é,  «deste  Collegio  de  Jesu»,  donde 
data  a  carta.  Mas  o  facto  de  o  Índio  dizer  «Um  Padre  de  Jesu»  em  vez 
de  «um  Padre  do  Colégio»,  revela  que  era  então  uso  chamar  «Padres 
de  Jesus»  aos  Padres  da  Companhia. 

71  Hêctico,  em  português  moderno. 


67.  -  HAIA  7  DE  SETEMBRO  DE  1562 


507 


rezando  a  penitencia,  e  quando  veyo  ao  cabo,  estava  elle 
já  tal  que  se  lhe  não  entendia  quasi  o  que  dizia,  e  final-  1090 
mente,  acabado  tudo,  deu  sua  alma  a  seu  Criador.  E  des- 
tes acertos  não  faltarão  alguns  outros,  se  o  tempo  dera 
lugar.  De  tudo  seja  gloria  ao  Senhor  de  todos. 

Ao  presente  estamos  —  eses  pouquos,  que  estamos  neste 
Collegio  —  honestamente  da  saúde  corporal.  E,  pera  alcan-  1095 
çar  ha  espiritual,  pedimos  ser  encomendados  nos  sanctos 
secrificios  e  ferventes  orações  de  todolos  Charissimos  desse 
Reyno. 

Deste  Collegio  de  Jesu,  da  Cidade  do  Salvador,  Baya 
de  Todolos  Sanctos,  aos  26  de  Junho  de  1562.  noo 
Por  comissão  do  Padre  Luis  da  Grâa,  Provincial. 
De  todos  em  o  Senhor  Jesu, 

Leonardo. 

67 

SESMARIA  DA  ALDEIA  DO  ESPÍRITO  SANTO 
DO  COLÉGIO  DA  BAÍA 

BAÍA  7  DE  SETEMBRO  DE  1562 

I.   Texto :    Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro,  Tombo  das 
Terras  da  Bata  da  Companhia  de  Jesus,  1-19,  18,  2. 

II.    Autores:    F.  V.  VlANA,  Memoria  475;  LEITE,  História  V  262. 

III.  Impressão:    Documentos  Históricos  63  (Rio  de  Janeiro  1944) 
337-34°- 

IV.  Edição:    Reimprime-se  o  texto  por  Doe.  Hist. 

Textus 

7.  Petitio  Indorum  Pagi  Spiritus  Sancti  et  fines  tractus  terrarum 
—  2.  Sententia  Gubernatoris  Mendi  de  Sá.  —  3.  Epistola  Régis  Mendo 
de  Sá  de  terris  dandis.  —  4.    Donationis  litterae  et  exemplar. 


508 


SESMARIA  DA  ALDEIA  DO  ESPÍRITO  SANTO 


Carta  de  sesmaria  da  terra  dos  índios  da  Aldeia 
do  Espirito  Santo  deste  Colégio. 

1.    Saibam  quantos  este  instrumento  de  Carta  de  data 
de  sesmaria  virem  que  no  ano  do  nascimento  de  Nosso 
5  Senhor  Jesus  Cristo  da  era  de  mil  e  quinhentos  e  sessenta 
e  dois  anos,  em  os  sete  dias  do  mes  de  Setembro  do  dito 
ano,  em  esta  cidade  do  Salvador  da  Bahia  de  Todos  os 
Santos,  em  as  casas  da  morada  de  mim  escrivão  ao  diante 
nomeado,  apareceu  um  requerendo  dos  índios,  moradores 
io  e  povoadores  do  gentio  do  Espirito  Santo,  e  por  ele  me  foi 
apresentada  uma  petição  e  nela  um  despacho  posto  do 
Senhor  Mendo  de  Sá,  do  Concelho  de  El-Rei  Nosso  Senhor, 
Capitão  desta  cidade  e  Governador  Geral  de  todo  este 
Estado  do  Brasil,  de  cujo  traslado  da  dita  petição  e  despa- 
15  cho  tudo  é  o  seguinte: 
Senhor, 

Dizem  os  índios  moradores  da  povoação  do  Espirito 
Santo  que  eles  se  apresentaram  na  dita  povoação  para 
aprenderem  a  doutrina  cristã  e  se  converterem  e  serem 

20  cristãos,  e  já  pela  bondade  de  Deus  Nosso  Senhor  muitos 
deles  são  Cristãos  e  todos  se  dispõem  para  o  serem,  e  tem 
feito  igreja  em  que  os  ensinam  Padres  da  Companhia  de 
Jesus;  e  porque  eles  suplicantes  tem  necessidade  de  terras 
em  que  possam  fazer  semente  e  criações  para  si  e  os  [que] 

25  descem  e  para  isso  tem  necessidade  das  terras  e  matos  que 
estão  de  redor  da  dita  povoação,  que  começam  por  baixo  da 
tapera,  donde  esteve  outra  povoação  dos  antepassados,  donde 
se  mudaram  1  à  em  que  agora  estão,  partindo  pela  banda  do 
campo  ao  longo  dos  midos  2  de  terra  e  pela  tapera,  que  foi 

30  do  Grilo  3,  e  correndo  até  o  Rio  Capicaji  até  da  povoação 


1  A  mudança  da  Aldeia  do  Espirito  Santo  para  novo  sitio  ope- 
rou-se,  por  ordem  do  P.  Luís  da  Grã,  em  1561  (cf.  supra,  carta  de  Bláz- 
quez  de  1  de  Setembro  de  1561  §  14  [carta  58];  Leite,  História  II  53). 

2  Midos.  No  original  perdido,  supomos  que  estaria  médos  (médos 
de  terra,  mais  pròpriamente  de  areia,  dunas). 

3  índio  Grilo  (cf.  Mon.  Bras.  1  550). 


67.  -  BAÍA  7  DE  SETEMBRO  DE  1562 


509 


de  Santo  Antonio,  e  por  acima  até  um  caminho  que  vai 
para  a  povoação  de  São  Tiago,  que  parte  de  uma  tapera  que 
se  chama  Cuirestiba,  e  dai  corre  até  o  rio  da  dita  povoação 
do  Espirito  Santo,  que  se  chama  Araragoacope,  e  passando 
o  dito  rio  correndo  pelo  dito  caminho  que  ia  da  povoação  35 
velha,  que  estava  no  caminho,  digo,  caminho  que  vai  para 
São  Tiago  até  aguas  vertentes,  e  daí  cortando  ao  sul  até 
uma  cerca  velha,  que  estava  no  caminho  que  ia  da  povoa- 
ção velha  de  Santo  Espirito  para  São  Tiago  e  pelo  rio 
abaixo  até  a  tapera  de  Faoajo4:  pedem  a  Vossa  Senhoria  4o 
que  no  dito  sitio  lhes  faça  mercê  de  tres  léguas  de  terra 
em  quadra  para  fazerem  os  mantimentos  e  criações  deles  e 
os  das  sementes,  e  lhes  mande  passar  sua  carta  de  sesma- 
ria no  que  receberão  mercê  e  esmola,  pedindo  eles  supli- 
cantes ao  dito  Senhor  Governador  que  pela  sobredita  45 
maneira  lhes  íizesse  mercê  da  dita  terra  pera  suas  criações 
e  mantimentos.  E  visto  pelo  Senhor  Governador  seu  pedir 
e  dizer  ser  justo ;  e,  havendo  respeito  ao  que  na  sua  petição 
fazem  menção  e  por  lhe  El-Rei  Nosso  Senhor  [dizer]  em  sua 
carta  que  dê  terra  aos  suplicantes  para  nela  fazerem  os  5o 
mantimentos  e  criações,  lhe  deu  a  dita  terra  de  que  em  sua 
petição  fazem  menção,  a  qual  lhe  concede,  como  pelo  des- 
pacho do  dito  Senhor  consta.  E  lhas  deu  de  sesmaria  por 
virtude  de  um  Capitulo  de  uma  carta  de  El-Rei  Nosso 
Senhor,  cujo  traslado  dele  e  do  dito  despacho  é  o  seguinte.  55 
2.    Traslado  do  despacho  do  Senhor  Governador: 
Dou  aos  índios  e  moradores  da  povoação  de  Santo  Espi- 
rito 5  as  três  léguas  de  terra  em  quadra,  que  pedem,  de  que 


4  Não  se  trata  de  palavra  tupi  (Teodoro  Sampaio,  O  Tupi  na  Geo- 
graphia  Nacional,  não  traz  nenhum  termo  que  principie  por  F)  e  parece 
que  é  transcrição  incorrecta  de  São  J.°  (São  João").  A  primeira  Aldeia 
de  S.  João  despovoara-se  em  1560.  E  o  sítio,  em  que  estava  antes, 
parece  ser  a  tapera  de  que  fala  o  texto  (tapera  de  São  João).  A  Aldeia 
de  S.  João  refez-se  em  1561  em  sítio  diferente  (Leite,  História  11  52), 

5  Prevaleceu  depois  o  nome  de  Aldeia  do  Espírito  Santo,  e  assim 
está  no  título  desta  mesma  sesmaria;  mas  no  começo  era  Aldeia  ou 
«Povoação  de  Santo  Espírito»,  como  se  lê  mais  de  uma  vez  neste 


510 


.SESMARIA  DA  ALDEIA  DO  ESPIRITO  SANTO 


lhe  farão  sua  carta  em  forma.  Hoje,  vinte  dias  do  mes  de 
6o  Agosto  de  mil  e  quinhentos  e  sessenta  e  dois  annos.  Mem 
de  Sá. 

3.  Traslado  do  capitulo  de  uma  Carta  da  Rainha  Nossa 
Senhora  6,  que  veiu  ao  Senhor  Governador  Mem  de  Sá,  em 
que  começa: 

65  Dizem  7  também  que  seria  grande  remédio  para  aumento 
e  conservação  da  conversão  dos  ditos  gentios  repartirem-se 
e  darem-se  terras  aos  que  já  fossem  cristãos,  digo,  e  darem-se 
aos  que  fossem  cristãos  terras  próprias  e  sitios  e  lugares 
para  isso  convenientes,  em  que  possam  fazer  os  mantimen- 

70  tos  e  grangearias  sem  lhe  poderem  ser  tiradas,  porque  por 
não  terem  terras  próprias  alguns,  depois  de  convertidos  e 
apartados  de  seus  brutos  costumes,  se  vão  para  diversas 
partes  remotas  donde  não  podem  ser  doutrinados  e  se  tor- 
nam a  perder,  e  outros  se  ausentam  por  os  próprios  portu- 

75  gueses  lhe  tomarem  as  terras  em  que  fazem  os  mantimentos; 
também  convém  que  alguns,  que  agora  são  convertidos, 
tenham  nessa  Capitania  terras  que  lhe  foram  tomadas  e 
dadas  a  outrem  sem  causa  justa  e  que  seria  grã  consolação 
e  quietação  tornar-se-lhe  ou  parte  delas  8.  Encomendo-vos 

80  consulteis  estas  cousas  com  os  Padres  da  Companhia,  que 
nessa  Capitania  estiverem,  e  façais  nisso  de  maneira  que 
vos  parecer  que  convém  ao  bem  e  aumento  da  conversão 
e  conservação  dos  ditos  gentios  e  não  seja  escândalo  a  outras 
partes  e  a  todos  se  ouçam  de  justiça  e  igualdade. 

85  4.  Por  virtude  do  qual  capitulo  da  dita  carta,  deu  as 
ditas  terras  aos  ditos  Gentios,  povoadores  de  Santo  Espi- 


documento.  Hoje  chama-se  Abrantes,  cidade  a  44  quilómetros  ao  norte 
da  cidade  da  Bala  (Viana,  Memoria  473;  Leite,  História  II  54). 

6  D.  Catarina,  Regente  do  Reino,  na  menoridade  de  D.  Sebastião, 
de  1557  a  1562,  em  que  entregou  a  regência  a  D.  Henrique,  Cardeal 
Infante. 

7  «Dizem»:  parece  referência  aos  Padres  da  Companhia,  aliás 
abaixo  expressamente  nomeados.  Um  dos  pontos  civilizadores  de 
Nóbrega  era  fazer  viver  os  índios  quietos  sem  se  mudarem,  «tendo 
terras  repartidas  que  lhes  bastem»  (cf.  Mon.  Bras.  11  54*  450  §  11). 

8  Cf.  carta  de  Nóbrega  a  Tomé  de  Sousa,  supra,  pp.  88-89. 


67. -BAÍA  7  DE  SETEMURO  UE  1562 


511 


rito.  E  por  verdade  lhe  mandou  ser  feita  esta  Carta  pela 
qual  manda  que  eles  hajam  a  posse  e  senhorio  das  ditas 
terras,  deste  dia  para  todo  sempre  para  si  e  para  os  herdei- 
ros, descendentes  e  ascendentes,  que  após  eles  vierem,  com  90 
tal  condição  e  entendimento  que  eles  lavrem,  aproveitem 
as  ditas  terras  deste  dia  por  diante.  E  por  verdade  esta 
assinou.  E  eu  Francisco  Vidal 9,  escrivão  que  a  escrevi, 
este  capitulo  aqui  trasladei  da  própria  carta,  que  a  Rainha 
Nossa  Senhora  escreveu  ao  Senhor  Governador;  e  este  95 
traslado  com  ela  concertei  sem  duvida,  digo,  sem  cousa 
que  duvida  faça.   Mem  de  Sá  10. 


CARTA  PERDIDA 

67a.  Do  Capitão  dc  Ilhéus  ao  P.  Luis  da  Grã,  Baia  (Ilhéus,  Outu- 
bro [?]  1562).  O  P.  Grã  mandou  dois  Padres  para  «satisfazer  a  vontade 
do  Capitão  dos  Ilheos  que  por  carta  o  mandou  pedir  com  grandes  rogos», 
—  escreve  Leonardo  do  Vale,  carta  de  12  de  Maio  de  ^63  (Cartas  Avul- 
sas 381).  Os  Padres  Luís  Rodrigues  e  Diogo  Jácome  foram  para  Ilhéus 
a  3  de  Janeiro  de  1563  (carta  72  §  7),  e  o  pedido  do  Capitão  deve  ter  sido 
feito  meses  antes.  E  podia  ser  mais  antigo,  pois  consta  que  a  resolu- 
ção de  se  fazer  casa  em  Ilhéus  vinha  já  de  1560  (cf.  supra,  p.  306). 


9  Francisco  Vidal  era  o  escrivão  das  sesmarias,  na  Baía  (Doe. 
Hist.  63  [1944]  36). 

10  Mem  de  Sá  deu  terras  não  só  aos  índios  da  Aldeia  do  Espírito 
Santo,  mas  também  aos  das  outras  Igrejas  ou  Aldeias  da  Baía:  «Na  dita 
era  de  62,  por  hum  capitulo  duma  carta  da  rainha  deu  o  Governador 
Men  de  Saa  terras  de  sesmaria  aos  índios  das  ditas  Igrejas,  vendo 
quam  proveitosos  e  necessários  elles  erão  a  esta  Baya  e  que  não  se 
podiam  sostentar  sem  terem  terras,  em  que  podessem  lavrar,  lhes  deu 
perto  do  mar,  assi  da  costa,  como  do  mar  da  baya,  pera  seu  sustenta- 
mento,  de  que  tem  suas  cartas»  (Bras.  //,  f  3  v. ;  Discurso  das  Aldeias 
358). 


512 


P.  DIEGO  LAYNES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


68 

DO  P.  DIEGO  LAYNES 
AO  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA,  BRASIL 

TRENTO  [16  DE  DEZEMBRO  DE  1562] 

I.   Autores:    Leite,  História  I  41;  li  243  370;  ix  427;  Diálogo 
sobre  a  Conversão  do  Gentio  21 ;  Breve  Itinerário  175. 

II.  Texto:  ARSI,  Epp.  NN.  j6,  ff.  gçv-ioor  ioór.  Título,  à  mar- 
gem no  ângulo  esquerdo :  «P.e  Nóbrega  nel  Brasil».  Na  f.  ioor,  à  mar- 
gem esquerda  a  meio  da  folha  com  a  mesma  letra:  «il  resto  sta  a 
foi.  106».  E  nesta  folha,  também  à  margem  esquerda:  «Nóbrega,  il 
principio  a  foi.  100».  É  o  próprio  registo,  por  letra  de  amanuense,  em 
espanhol. 

III.  Data:    Ver  infra,  nota  11. 

IV.  Impressão :  Edição.  Lainii  Mon.  vi  577-580 ;  Cartas  de  Nóbrega 
(Coimbra  1955)  SM-õ^- 

V.    Edição:    Reedita-se  o  texto  (Epp.  NN.jó). 

Textus 

1 .  Respondei  epistolae  Patris  Nóbrega  et  sufficit  ut  ipse  Nóbrega 
consilia  cominunicet  Patri  Grã.  —  2-3.  Domos  puerorum  approbat,  qnat 
tamen  a  viris  saecularitus  regantur  quoad  sustentationem.  —  4.  Domos 
puellarum  approbat  si  debita  prudentia  adhibeatur.  —  5.  Servos  habere 
approbat  dummodo  iuste  acquisiti  fuerint.  —  6.  Approbat  industriam 
emendi  res  minore  pretio  quia  commercium  non  est.  —  7.  Approbat  ut  ad 
studia  in  Portugaliam  mittantur  pueri  Brasiliae.  —  8.  Approbat  ut  bona 
cura  habeatur  de  valetudine  eorum  qui  in  servido  Dei  laborant.  —  9.  De 
viro  coniugato  qui  cupiebat  ingredi  Societatem.  —  10.  De  dispensationibus 
matrimonialibus.  —  11.  Nullum  inconveniens  ut  saccharum  aliaeque  res 
in  Portugaliam  mittantur  ad  emendas  res  quae  in  Brasília  desunt. 

Molto  Reverendo  en  Christo  Padre 
Pax  Christi. 

1.    Rescivi  una  letra  de  V.  R.  de  12  de  Junio  dei  61  1, 


1    Cf.  supra,  carta  52. 


68.  -  TRENTO  16  UE  DEZEMBRO  DE  15(52 


513 


estando  aqui  en  Trento  de  buelta  de  Francia  -;  y  entendi 
por  ella  la  variedad,  que  en  el  modo  de  proceder  en  ciertas  5 
cosas,  se  ha  tenido  en  esa  Província,  specialmente  después 
que  el  Padre  Luís  da  Grana  tiene  el  cargo  de  Provincial; 
y  aunque  se  crey  que  un  visitador  o  commisario,  como  él 
dize,  seria  muy  al  propósito  en  esa  Província  y  así  spero 
en  Dios  Nuestro  Seííor  que  un  dia  se  ymbiará,  todavia,  10 
porque  parece  que  la  información  puede  bastar  para  resol- 
ver o  determinar  algunas  cosas  en  este  médio,  scriviré  lo 
que  me  occurre  a  algunos  punctos  principales  de  vuestra 
letra.  Y  porque  yo  no  tengo  ninguna  dei  Padre  Luís  de 
Grana  bastará  para  que  entienda  mi  parecer  y  determina-  15 
ción  que  se  le  communique  esta  mesma. 

2.  El  tener  cargo  de  Casas  de  Muchachos  3,  hijos  de 
iníieles,  o  mestiços,  y  otros  qualesquiera,  que  tengan 
semejante  necessidad  en  esa  Provinda,  me  parece  obra 
muy  pia  y  no  nada  repugnante  al  fin  que  nuestra  Compa-  20 
panía  pretiende  y  así  siento  que  no  se  dexen  semejantes 
casas,  donde  se  ha  tomado  el  assunto  dellos:  y  antes 
haviendo  commodidad  me  parece  se  deven  hazer  de  nuevo. 

3.  Por  consiguiente  el  buscarles  modo  con  que  mante- 
nerse  me  parece  bien;  y  si  huviesse  seglares  confiados  por  25 
cuya  mano  se  pudiesse  tratar  lo  de  la  hazienda  de  ganados 
videtur  seria  bien  ayudarse  de  su  industria  y  trabajo. 
Quando  no  huviesse  semejantes  personas  seglares,  no 
tengo  por  inconveniente  que  alguno  de  los  nuestros  exer- 
cite tanbién  en  esto  su  charidad,  procurando  de  proceder  30 


15  mi  dei.  dezir  j|  17  ante  El  dei.  Las  ||  19  semejante  corr.  ex  semejantes  || 
39    alguno  corr.  ex  algunos    |  30    su  corr.  sup.  ex  la 


2  Em  1561-1562  Laynes  com  o  F.  Polanco  intervieram  na  confe- 
rência religiosa  de  Poissy  (França),  donde  voltou  a  Trento  fazendo 
caminho  pela  Bélgica  e  Alemanha  (Synopsis  Historiae  S.  J.  43). 

3  Estas  Casas  de  Meninos  ou  Casas  de  Rapazes  eram  o  objecto 
principal  da  carta  de  Nóbrega,  que  é  uma  como  história  delas  nas 
diversas  Capitanias,  a  Laynes,  de  12  de  Junho  de  1561  §§  4-19,  supra, 
carta  52. 

33 


514 


P.  DIEGO  LAYNES  -  P.  MANUEL  DA  NÓBREGA 


en  tal  manera  que  haya  testimonios  de  fuera  de  la  Compa- 
nía,  de  la  integridad  y  limpieça  con  que  esto  se  trata,  para 
mantener  estos  muchachos,  cuya  institutión  en  buena  y 
sana  doctrina  y  costumbres  es  tan  importante  para  el  bien 
35  de  esa  región. 

4.  El  hazer  Casas  de  Muchachas  4,  que  se  goviernen 
por  algunas  matronas  de  mucha  honestidad  y  conoscida 
virtud,  para  que  con  el  tiempo  se  puedan  juntar  en  matri- 
monio con  los  muchachos  que  ay  crescieren,  tanbién  parece 

40  será  obra  muy  grata  a  Dios  Nuestro  Senor.  Pero  requiere 
este  assunto  maj^or  cautela  y  miramiento  para  que  en  tal 
manera  los  nuestros  las  ayuden  en  lo  spiritual,  que  no  sola- 
mente  no  se  pongan  ellos  en  peligro  mas  aún  se  guarde  la 
buena  edificación  y  odor  che  conviene  para  con  los  pró- 

45  ximos. 

5.  El  tener  esclavos  5  para  trattar  la  hazienda  de  gana- 
dos  o  pescar  o  para  lo  demás  con  que  se  ha  de  mantener 
semejantes  casas,  no  lo  tengo  por  inconveniente  con  que 
sean  justamiente  posseídos,  lo  qual  digo  porque  he  enten- 

50  dido  que  algunos  se  hazen  esclavos  injustamente. 

6.  La  industria  de  hazer  venir  las  redes  de  otras  par- 
tes G,  donde  son  baratas,  hora  se  compren  con  dinero  agora 
con  otra  alguna  commutación,  no  se  deve  tener  por  merca- 
dería,  antes  tal  industria,  no  causando  distractión,  parece 

55  buena;  y  así  en  otras  cosas  semejantes. 

7.  El  ymbiar  algunos  desos  muchachos,  que  allá  pare- 
cieren  de  más  abilidad,  a  Portugal 7,  después  que  allá  se 
ayan  algo  aprovechado,  para  que  ganen  letras  y  virtud  y 
tornen  hombres  de  confiança  a  esa  Provinda,  me  parece 


43  cu  lo  spiritual  corr.  ex  spiritualmente  ||  |8  inconveniente  dei.  estando  j  40  lo 
qual  corr.  ex  como   1  53    hora  corr.  #.»■  agora  ||  56    El  ymbiar  bis 


4  Ib.  §  20. 

5  /*.§i8. 

6  1b.  §  14. 

7  Ib.  §§  15-17. 


68.  -  TRENTO  16  DE  DEZEMBRO  DE  156'2 


515 


bien;  y  podríase  tratar  con  las  casas  de  huérfanos  que  los  6o 
reciban;  y  en  sus  lugares  ymbíen  otros  allá:  y  si  algunos 
de  los  tales  fuesen  aptos  para  la  Companía,  después  de 
mucha  probación  se  podrían  rescibir  en  ella  y  ser  buenos 
y  útiles  operários  en  esa  vina  dei  Senor,  y  quando  no 
llegassen  a  esto,  podrían  servir  de  intérprete  a  lo  menos,  65 
y  de  otras  cosas. 

8.  El  tenerse  cuydado  de  que  los  nuestros,  que  por 
esas  partes  trabajan  en  el  servicio  divino,  tengan  susten- 
tación  conveniente  para  [ioor]  conservar  sus  fuerças  y 
poder  trabajar  a  la  larga8:  pudiéndose  hazer,  me  parece  70 
bien;  y  asi  que  no  se  les  falte  en  lo  que  toca  al  victo  y 
vestido  et  quanto  se  pudiera  buenamente  hazer. 

9.  Si  es  persona  9  que  se  caso,  y  no  consumando  el 
matrimonio  desea  ser  admitido  en  la  Companía,  se  halla 
tener  buenas  partes  para  el  servicio  divino  conforme  a  75 
nuestro  Instituto,  em  manera  que  se  pueda  fiar  dél,  pas- 
sado un  ano,  el  hazer  profissión  de  tres  votos,  recíbase 
en  buen  hora,  pressupuesto  que  no  aya  disedificación  o 
escândalo  en  el  recibirle,  antes  como  escrivís  que  se  quite 
occasión  de  rebueltas  y  enemistades,  y  podrá  admitirse  a  80 
professión  de  tres  votos. 

10.  [ioór]  Quanto  a  las  gracias  y  faculdades,  que  se 
embiaron,  parece  que  las  dispensationes  circa  matrimonia 
contrahenda  10  con  los  hijos  de  los  christianos  mestiços  se 
podrá  comprehender  en  ellas  como  la  de  los  otros  christia-  85 
nos  nuevos  de  esas  partes,  todavia  se  ha  escrito  a  Roma 
para  que  se  estienda  esta  gracia  a  los  tales  mestiços. 


70   trabajar  corr.  tx  perseverar  ||  8o   podrá  dei.  hazer  la 


8  Ib.  §  21. 

9  Trata-se  de  Simão  Jorge  e  o  caso  não  foi  proposto  por  Nóbrega 
directamente  ao  P.  Geral,  mas  ao  P.  Miguel  de  Torres,  na  carta  de  14 
de  Abril  de  1561  §  2,  que  mandou  cópia  para  Roma  (carta  46). 

10  Responde  à  referida  carta  de  Nóbrega  a  Laynes,  de  12  de  Junho 
de  1561  §  22. 


516 


QUADRIMESTRE  DA  CASA  DE  S.  ROQUE 


Y  con  esto  no  se  ofrece  otro  que  responder  a  las  letras 
que  de  allá  hemos  visto.    Encomendámonos  mucho  todos 
90  en  las  oraciones  y  sacrifícios  de  V.  R. 
De  Trento  [16  de  Deciembre  1562]  u. 
11.   No  se  tiene  por  enconveniente  que  de  allá  se  embíen 
a  Portugal  açúcares  y  otras  cosas 12  que  tenéis,  que  en  cierta 
raanera  sirven  de  rnoneda,  para  que  con  el  valor  delias  se 
95  compren  las  cosas  de  que  tenéis  necessidad,  o  para  enfer- 
mos (como  dezís),  o  para  sanos,  en  esse  Brasil. 

69 

QUADRIMESTRE  DA  CASA  DE  S.  ROQUE 

LISBOA  31  DE  DEZEMBRO  DE  1562 

I.   Autores:    Franco,  Synof>sis  an.  1563  n.  2;  F.  Rodrigues,  His- 
tória 11  2  481;  Leite,  História  11  321. 

II.  Texto:  1.  ARSI,  Lus.  ji,  ti.  259v-2Óor  [antes  257v-258r]. 
Endereço  por  mão  de  amanuense  [£.  260V] :  «Al  muy  Reverendo  Padre 
nuestro  en  Christo,  el  Padre  Maestro  Diego  Laynez  Praepósito  General 
de  la  Companhia  de  Jesus.  En  Trento».  Outra  letra :  «Lisbona  62 
ultimo  decembre».  Original  em  espanhol  (assinado  por  Pero  Gonçal- 
ves). 

2.  Lus.  ji,  ff.  26ir-264r.  A  mesma  carta,  escrita  e  assinada  por 
Baltasar  Fernandes,  com  a  data  de  Pridie  Cal.  Ianuarii  1562.  Autógrafo 
em  latim.  Ambos  os  textos  (1-2)  por  comissão  do  P.  Miguel  de  Torres. 

3.  Biblioteca  e  Arquivo  Público  de  Évora,  Cód.  cvill/2-2,  f.  146V. 
Cópia  em  espanhol  do  texto  1. 

III.  Autor:  Como  se  vê,  os  dois  textos  iguais  desta  carta,  um  em 
espanhol,  outro  em  latim,  estão  assinados  por  nomes  diferentes,  talvez 


93    a  Portugal  sup.  |  que'  dtl.  alia 


11  Em  branco  no  registo,  mas  entre  duas  cartas  com  a  data  de  16 
de  Dezembro  de  1562. 

12  Responde  à  carta  de  Nóbrega  a  Francisco  Henriques,  de  12 
de  Junho  de  1561  §§  2-3  (carta  50). 


69.  -  LISUOA  51  DK  DKZEMBRO  DE  1562 


517 


tradutores  dum  texto  português  perdido.  O  P.  Pero  Gonçalves,  portu- 
guês, residia  em  S.  Roque,  como  ajudante  do  Secretário  da  Província 
P.  Francisco  Henriques  (Lus.  43-1,  f.  i7or)  e  dez  anos  depois  era  Pro- 
curador da  Província  de  Portugal  (ib.  448V) ;  o  P.  Baltasar  Fernandes, 
do  Porto,  foi  mais  tarde  para  o  Brasil  com  o  P.  Inácio  de  Azevedo 
em  1566  e  faleceu  na  Baía  em  1628  (Leite,  História  VIII  222;  Mon 
Bras.  I  301). 

IV.  Data:  O  texto  latino  (2)  traz  «Pridie  Cal.  Ianuarii  1562»,  que 
segundo  o  estilo  actual  seria  31  de  Dezembro  de  1561.  Mas  deve  ser 
equívoco,  frequente,  no  uso  da  expressão  latina  «Calendas»  em  fins  de 
ano.  Equívoco,  porque  é  o  mesmo  conteúdo  do  texto  espanhol  (1),  e 
Pero  Gonçalves  tira  toda  a  dúvida,  escrevendo  «último  de  Deziembre 
de  1562  que  enpieça  1563»  (§  4). 

V.  Edição:  Edita-se,  no  que  toca  ao  Brasil,  o  texto  1  (original 
espanhol). 

Textus 

1.  Expeditio  sacra  in  Brasiliam.  —  2.  Supellectilia  sacra,  vestes, 
cálix  argênteas,  etc.  a  rege  donata.  —  3.  Vestes  sacrae  a  Patribus  Indiae 
ad  Patres  Brasiliae  tnissae.  —  4.    Pannus  ad  vestes  Patrum. 

1.  Para  el  Brasil  están  de  camino  4  de  la  Compartia, 
scilicet,  hun  Sacerdote  y  un  Diácono  y  los  dos  laicos  K  El 
Sacerdote  oyó  algunos  anos  de  Theología  y  uno  de  los 
Hermanos  también  la  estudiava.  Ya  de  todo  están  apare- 
jados  aguardando  tiempo  para  partir.  Nuestro  Senor  los 
lleve  para  que  le  hagan  en  aquellas  partes  muchos  servi- 
dos. El-Rey  los  mandó  proveer  de  lo  necessário  para  su 
viage  e  embarcación  en  la  nave  capitanea. 

2.  También  les  mandó  dar  15  vestimentas,  13  frontales 
y  nueve  panos  de  púlpito  de  diversas  colores  de  cedas, 


8    nave]  nove  tus. 


1  O  Padre  era  Quirlcio  Caxa.  O  termo  «laicos»  quer  dizer,  aqui, 
que  dois  ainda  não  tinham  ordens  sacras.  Na  verdade,  todos  três  se 
destinavam  ao  sacerdócio  e  se  ordenaram.  Eram  Baltasar  Álvares, 
Sebastião  de  Pina  e  Luís  Carvalho.  A  expedição  saiu  de  Lisboa  a  15  de 
Fevereiro  de  1563  e  chegou  à  Baía  a  1  de  Maio  (Leite,  História  1  563). 


518 


QUADRIMESTRE  DA  CASA  DE  S.  ROQUE 


scilicet,  tafetá,  cetín  y  damasco,  con  barras  de  terciopelo, 
y  sus  alvas,  manípulos  y  estolas  para  las  iglesias  que  allá 
an  edificado  los  Padres  de  la  Compafiía;  y  18  cálices  de 
plata  y  n  vestimentas  comunes  para  entre  semana,  de  un 
15  cierto  pano  que  viene  de  las  índias,  con  11  frontales  de  lo 
mesmo;  para  las  iglesias  mando  se  diessen  campanillas  y 
hierros  para  hazer  hóstias,  cruzes  doradas,  y  dió  muchos 
corporales,  guardas  y  otras  cosas  necessárias. 

3.  Ultra  destos  ornamentos,  que  Su  Alteza  a  dado, 
20  llevan  estos  Hermanos  7  vestimentas,  3  frontales  y  un 

pano  de  púlpito,  de  ceda,  que  los  Padres  de  las  índias  2 
embiaron  para  los  dei  Brasil. 

4.  Llevan  también  panos  para  se  vestirem  los  Padres 
que  residen  en  aquellas  partes. 

[...] 

25      Desta  casa  de  S.  Roque  y  de  Lisbona,  último  de  Deziem- 
bre  1562  3  [mão  própria  até  o  fim:]  que  enpieça  1563. 

Por  commissión  dei  Padre  Doctor  Torres,  Praepósito  de 
la  casa,  de  V.  P.  indigno  hijo  en  el  Senor, 

+ 

Pero  Gonçalvez. 

CARTAS  PERDIDAS 

óça-c.  Do  P.  Leonardo  do  Vale  e  outros  aos  Padres  de  Portugal 
(Baía  segundo  semestre  de  1562).  «Algumas  particularidades  escrevi 
com  as  derradeiras  cartas,  que  de  cá  foram,  dos  ritos  deste  gentio  e 
principalmente  de  uma  notável  cegueira,  que  entre  elles  há,  a  que  cha- 
mam Santidade  [. . .]  como  já  escrevi»,  —  diz  Leonardo  do  Vale,  a  12  de 


2  «índias»  de  Portugal  ou  simplesmente  Índia  (Oriente).  Em  1562 
ainda  não  havia  Padres  da  Companhia  nas  «índias»  de  Castela  (Amé- 
rica Espanhola).  Cf.  Mon.  Bras.  1  188. 

3  Esta  grande  esmola  do  Rei  de  Portugal  corresponde  a  um  pedido 
do  Provincial  do  Brasil,  Luís  da  Grã  (carta  59  §  6).  A  Quadrimestre 
desta  mesma  Casa  de  S.  Roque,  do  ano  precedente  (31  de  Dezembro 
de  1561),  fala  de  outros  objectos,  que  por  então  se  enviaram  para  o  Bra- 
sil, entre  os  quais  nomeadamente  um  sacrário  e  uma  custódia  e  ainda 
um  portal  de  mármore  (cf.  supra,  carta  66  nota  40,  p.  486). 


70.  -  TRENTO  6  DE  .JANIÍIRO  DK  1565 


519 


Maio  de  1563  {Cartas  Avulsas  382).  A  última  carta  de  Leonardo  do 
Vale,  conhecida,  de  1562,  é  de  26  de  Junho  (carta  66),  que  não  trata 
deste  assunto.  A  primeira  carta  do  Brasil,  de  Padres  da  Companhia, 
depois  dessa,  é  a  de  Luís  Rodrigues,  de  11  de  Março  de  1563.  Donde 
se  segue  que  se  perderam  não  só  a  carta  de  Leonardo  do  Vale,  mas 
as  outras  «derradeiras»,  a  que  se  refere.  O  que  explica  a  penúria  do 
ano  de  1562  em  que  só  se  conhecem  três  cartas  do  Brasil  (62  65  66). 

70 

DO  P.  DIEGO  LAYNES 
AO  P.  LUÍS  DA  GRÃ,  BRASIL 

TRENTO  6  DE  JANEIRO  DE  1565 

I.   Texto:     ARSI,  Epp.  NN.  j6,  f.  I38r-i38v.  À  margem  :  «Bra- 
sil. Provincial».  Registo,  em  espanhol. 

II.   Edição:   Edita-se  o  texto  único. 

Textus 

1.  Non  habet  epistolam  Patris  Grã  sed  Patris  Nóbrega  cui  scribit. 
—  2.  Consolatur  de  bonis  nuntiis  Brasiliae,  fundationes  in  Europa  non 
sinunt  muitos  mitti  Paires  in  Brasiliam,  sed  aliquos  mittet. 

Jesús 

Muy  Reverendo  em  Christo  Padre 
Pax  Christi. 

1.  Aunque  no  he  recevido,  de  más  de  un  ano  a  esta 
parte,  letras  de  V.  R.a  no  dexaré  de  screvir  esta  por  occa-  5 
sión  de  una  larga  que  receví  dei  P.e  Nóbrega  \  donde  me 
consultava  de  ciertas  cosas  en  que  allá  teníades  duda.  Y  así 
me  pareció  os  devia  embiar  la  copia  de  la  respuesta,  que  le 
hago,  que  va  con  esta  2. 


1  Carta  de  12  de  Junho  de  1561  (carta  52). 

2  Carta  de  16  de  Dezembro  de  1562  (carta  68). 


520 


P.  DIEGO  LAYNES  -  P.  LUÍS  DA  GRÀ 


io  2.  También  os  he  querido  avisar  que  nos  han  dado 
mucha  edifficación  y  Consolación  las  nuevas  que  de  essas 
partes  nos  avéis  embiado,  viendo  como  llama  Dios  Nuestro 
Sefior  essas  gentes,  que  tan  apartadas  estavan  de  su  cono- 
cimiento  y  culto,  al  servicio  suyo,  y  al  camino  de  su  sal- 

15  vación;  y  la  necessidad  que  mostráis  de  obreros  para  poder 
coger  y  conservar  tan  copiosa  messe,  nos  dan  deseo  de 
poder  os  embiar  muchos;  y  aunque  por  las  muchas  funda- 
tiones  que  acá  se  hazen  (y  son  harto  necessárias),  no  pue- 
dan  ser  tantos  por  aora  como  deseamos,  siempre  [138V]  se 

20  embiarán  algunos  y  con  el  tiempo  se  embiarán  más  pla- 
ciendo  a  Dios  N.  S.  y  se  tendrá  cuidado  en  estas  partes  de 
Europa  de  encomendar  os  mucho  con  todas  las  impresas 
que  tratáis  a  su  Divina  Magestad. 

De  otras  cosas  se  scrivirá  por  otras  letras  3.  En  esta  no 

25  diré  más,  sino  que  me  encomiendo  mucho,  con  todos  los 
que  aqui  estamos,  en  las  orationes  y  sacrifícios  de  V.  R.a 
y  de  todos  nuestros  Charissimos  Hermanos  que  en  essas 
partes  están. 

De  Trento  6  de  Enero  1563  4. 

CARTAS  PERDIDAS 

7oa-b.  Do  P.  António  de  Sá  aos  Padres  e  Irmãos  de  Portugal  (Per- 
nambuco, Janeiro  de  1563).  «Polas  cartas  que  escrevemos  este  Janeiro 
de  1563»,  —  escreve  o  P.  António  de  Sá,  de  Pernambuco  a  8  de  Setem- 
bro de  1563  (Cartas  Avulsas  400). 


14    al'  sup.       18    son  corr.  cx  con 


3  Cf.  infra,  carta  73. 

4  Passando  por  Trento  um  correio  português,  que  ia  de  Roma 
para  Lisboa  {Epp.  NN.  j6,  i.  255V),  o  P.  Geral  aproveitou  a  oportuni- 
dade e  escreveu,  a  7  de  Janeiro  de  1563,  ao  Provincial  de  Portugal 
Gonçalo  Vaz  de  Melo,  mandando-lhe  o  despacho  ou  correspondência 
destinada  à  Índia  e  ao  Brasil:  «Poderá  V.a  R.a  ver  todo  lo  que  se  scrive 
o  hazerlo  ver  al  P e  Francisco  Anriques,  y  cerrado  embiarlo;  y  lo 
mismo  dei  despacho  para  el  Brasil,  imbiando  al  P.e  Provincial  Luis  de 
Grana  y  también  al  P.e  Nóbrega  las  que  para  ellos  van»  (Epp.  NN.  j6, 
f.  i38v-i39r). 


71. -BAÍA  27  UE  JANEIRO  DE  1565 


521 


71 

SESMARIA  DO  CAMAMU  DOADA  PELO 
GOVERNADOR  MEM  DE  SÁ 
AO  COLÉGIO  DA  BAÍA 

KAÍA  27  DE  JANEIRO  DE  1565 
I.    Autores:    LEITE,  História  I  154-155. 

II.  Texto:  ARSI,  Bras.  11,  ff.  43r-45v  [antes  n.  XII  moderno]. 
Título  [f.  46V]:  «Doação  das  terras  do  Camamu  que  deu  o  Governador 
Men  de  Saa  [outra  letra:]  al  Collegio  dei  Salvador  de  Baya  1563,  27  de 
Janeiro».  Outra  letra:  «Donatio  terrarum  Camamu  facta  Collegio 
Bahiensi  a  Gubernatore  Mendo  de  Sá». 

III.   Edição:   Edita-se  o  texto  (Bras.  11). 

Textus 

1.  Donatio  duodecim  leucarum  tractus  terrarum  «Camamu»  a  Guber- 
natore Praefecturae  «Ilhéus»  Mendo  de  Sá  et  Francisco  de  Betancor  facta. 
—  2.  Cessio  Francisci  de  Betancor  eiusque  uxoris  in  favorem  Mendi  de 
Sá.  —  3.  Sententia  regia  quae  constituit  Mendum  de  Sá  possessorem 
illarum  duodecim  leucarum  terrae.  —  4.  Donatio  Collegio  Bahiensi  a 
Mendo  de  Sá  facta,  excepta  leuca  cum  dimidio  qttam  pro  se  servat.  — 
5.  Confirmatio  donationis.  —  6.  Petitio  Rectoris  Collegii  Bahiensis.  — 
7.  Epistola  Mendo  de  Sá  data  cui  Rex  Portugaliae  concedit  facultatem 
confirmandi  omnes  terras  Patribus  S.  I.  donatas.  —  8.  Instrumentum  et 
exemplar  authenticum. 

+ 

1.  Saibão  quantos  este  estromento,  de  doação  e  de 
numa  terra  de  dada  pera  sempre,  virem:  que  no  ano  do 
nacimento  de  Nosso  Senhor  Jesu  Christo  de  mil  e  qui- 
nhentos e  sesenta  e  tres  anos,  aos  27  dias  do  mes  de 
Janeiro  do  dito  ano,  em  esta  cidade  do  Salvador  da  Baya  5 
de  Todolos  Sanctos,  terras  do  Brasil,  nas  pousadas  do 
Senhor  Men  de  Saa,  do  Conselho  d'Ei-Rei  Nosso  Senhor 


522 


SESMARIA  DO  CAMAMU  DOADA  POR  MEM  DE  SÁ 


e  seu  Governador  Geral  nestas  partes  e  costa  do  Brasil, 
hay,  em  presença  de  mim  publico  tabaliam,  ao  diante 
nomeado,  e  das  testemunhas  que  a  todo  forão  presentes, 
pello  dito  Senhor  Governador  foi  dito  que  elle  tinha  e 
posuya  humas  doze  legoas  de  terra  na  Capitania  dos 
Ilheos,  de  que  foi  Capitão  e  Governador  Jorge  de  Figei- 
redo  Correa  1  como  agora  o  é  Lucas  Giraldes  2,  as  quais 


14    Correa  sup. 


1  Jorge  de  Figueiredo  Correia,  escrivão  da  Fazenda  Real,  pri- 
meiro Donatário  de  Ilhéus,  faleceu  em  1551  (História  da  Colonização 
Portuguesa  do  Brasil  III  206;  Leite,  História  1  155). 

2  Lucas  Giraldes  pertencia  a  uma  família  florentina  (Giraldi),  já 
assinalada  em  Portugal  do  século  xv.  Lucas  parece  ter  vindo  menino 
e  começa  a  ser  mencionado  em  Lisboa  em  1515.  Possuía  Casa  Bancá- 
ria na  Rua  Direita  da  Sé  e  estava  em  relação  com  outra  Casa  Bancária 
de  Roma  da  mesma  família  (Cavalcanti-Giraldi).  Lucas  Giraldes  (assim 
prevaleceu  o  apelido  do  ramo  português)  armava  navios  na  carreira 
da  índia  e  também  na  do  Brasil,  onde  possuía  um  Engenho  na  Capi- 
tania de  Ilhéus.  O  seu  nome,  neste  documento,  como  Capitão  e  Gover- 
nador de  Ilhéus,  provém  de  ele  em  1561  ter  comprado  a  Jerónimo  de 
Alarcão  de  Figueiredo  (filho  do  primeiro  donatário)  essa  Capitania  por 
4.825  cruzados.  Pelo  facto  de  estar  em  relações  com  a  Casa  Bancária 
de  Roma  e  ser  armador  da  carreira  da  índia,  Lucas  Giraldes  prestou 
serviços  à  nascente  Companhia  de  Jesus,  sobretudo  na  transmissão  de 
correspondência  (tempo  de  Simão  Rodrigues,  S.  Inácio  e  S.  Francisco 
Xavier).  El-Rei  deu-lhe  foros  de  nobreza,  foi  amigo  e  testamenteiro 
de  D.  João  de  Castro.  O  testamento  abriu-se  em  casa  de  Lucas  Giral- 
des [1545]  e  entre  as  assinaturas  que  o  subscrevem,  ao  pé  da  de  Giral- 
des, está  a  de  Tomé  de  Sousa,  ambos  com  a  menção  de  «fidalgos  da 
Casa»  de  El-Rei  (Cristóvão  Aires,  Testamento  de  D.  João  de  Castro. 
Memoria  apresentada  à  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa  [Lis- 
boa 1901]  15-16).  O  seu  filho,  já  português  de  nascimento,  Francisco 
Giraldes,  foi  nomeado  Governador  Geral  do  Brasil  em  1588,  cargo  de 
que  não  chegou  a  tomar  posse  por  falecer  pouco  depois  (Leite,  His- 
tória I  126).  Os  bens  da  Casa  de  Lucas  Giraldes  vieram  a  encorporar-se 
com  o  tempo  na  dos  Condes  de  Vidigueira  (descendentes  de  Vasco  da 
Gama).  Faleceu  em  1565  (Pedro  de  Azevedo,  Os  primeiros  Donatá- 
rios, in  História  da  Colonização  Portuguesa  do  Brasil  111  206;  Prospero 
Peragallo,  Lenni  intorno  alia  Colónia  Italiana  in  Portogallo  nei 
secoli  XIV  XV  c  XVI  [Génova  1908]  85;  Schurhammer,  Franz  Xavtr  I 
[Freiburg  1955]  590;  Epp.  Xav.  I  61  69  344). 


71. -baía  27  de  JANEIRO  DI  1563 


525 


doze  legoas  de  terra,  que  são  em  quadra,  erâo  no  Rio  das  15 
Contas  e  do  Camamu,  e  as  tinha  per  doação  e  carta  de 
sesmaria  em  fatiota  pera  sempre;  a  qual  doação  lhe  fizera 
o  dito  Capitão  Jorge  de  Figeiredo  Correa  a  elle  dito  Men 
de  Saa  e  a  Francisco  de  Betancor,  fidalgo  da  casa  do  dito 
Senhor,  a  ambos  juntamente,  dando-lhes  esta  terra  per  20 
vertude  de  sua  doação  da  dita  Capitania  e  poder  que  pera 
ello  tinha;  e  elle  dito  Senhor  Men  de  Saa  mostrou  loguo 
a  mim  tabalião  a  dita  doação  e  carta  de  sesmaria,  que  era 
escrita  em  purgaminho  que  dezia  ser  feita  por  Anrrique 
Nunes,  tabaliam  publico  na  cidade  de  Lisboa  aos  dezanove  25 
dias  do  mes  de  Março  de  mil  e  quinhentos  e  quorenta  e 
quatro3,  segundo  nella  hé  conteúdo  e  outras  cousas  mui 
largamente,  que  se  nella  contem,  dadas  e  concedidas  aos 
ditos  Men  de  Saa  e  Francisco  de  Betancor  pera  nas  ditas 
doze  legoas  de  terra  fazerem  engenhos  e  as  aproveitarem  30 
e  povoarem  e  senhorearem,  assi  com  sua  jurdição  como 
con  todas  as  mais  condiçõis  que  o  dito  Jorge  de  Figeiredo 
lhes  trespasou  e  concedeo. 

2.  E  assi  disse  elle  dito  Men  de  Saa  e  mostrou  mais 
outro  estromento  de  destrato  e  trespasaçâo  que  lhe  o  dito  35 
Francisco  de  Betancor  fez  da  sua  parte  das  ditas  doze 
legoas  de  terra  e  agoas  delias,  e  outras  cousas,  que  no 
dito  estromento  mais  largamente  hé  conteúdo,  em  maneira 
que  a  dita  terra  fica  toda  com  ho  dito  Men  de  Saa;  e  parece 
ser  feito  este  estromento  pello  dito  tabaliam,  que  a  doação  40 
primeira  fez,  feito  aos  dezasete  dias  do  mes  de  Setembro 
de  mil  e  quinhentos  e  corenta  e  cinco. 

E  bem  assi  aprezentou  outro  estromento  de  outorgua 
e  disistimento  de  Dona  Maria  da  Costa,  molher  do  dito 
Francisco  de   Betancor,  feito  na  Ilha  da  Madeira  por  45 
Afonce  Anes  de  Fraguedo,  publico  notairo,  aos  dozanove 
de  Fevereiro  de  mil  e  quinhentos  e  corenta  e  sete  anos. 


|i    dezasete  corr.  ex  desasete 


3  Como  se  vê,  quando  Mem  de  Sá  foi  nomeado  Governador  do 
Brasil  (1556),  já  aí  era  possuidor  de  extensas  terras. 


524 


SESMARIA  DO  CAMAMÚ  DOADA  POR  MEM  DE  SÁ 


3.  E  bera  assi  aprezentou  mais  o  dito  Senhor  Men  de 
Saa  huma  sentença  que  tinha  de  Sua  Alteza  pella  qual  e 

5o  per  vertude  delia  foi  metido  de  posse  das  ditas  doze  legoas 
de  terra  em  quadra,  scilicet,  doze  legoas  de  largo  e  doze  de 
comprido;  e  dise  que  elle  estava  metido  da  posse  delias  e 
as  tinha  e  pesuya  até  agora  per  vertude  dos  ditos  estro- 
mentos  que  assi  apresentava  4. 

55  4.  E  porque  elle  tinha  sabido  a  muita  necessidade  e 
pobreza  em  que  estavão  e  vivião  os  Padres  da  Companhia 
de  Jesu  no  Collegio  e  mosteiro  desta  cidade  do  Salvador, 
o  qual  mosteiro  era  muito  pobre  e  elles  fazião  e  fazem 
muito  serviço  a  Deos  nesta  terra  e  proveito  ao  povo  em 

60  estas  Capitanias  do  Brazil,  e  tinhão  a  cargo  muita  gente, 
mininos  e  outras  pessoas  asi  brancos  como  do  gentio  da 
terra,  a  que  ensinão  e  doutrinão  e  dão  de  comer,  no  que 
todo  passão  [43V]  grande  trabalho  5;  e  por  elle  ver  que  era 


49   huma]  humas  tus. 


4  «El  ano  deór,  un  Jerónimo  de  Larcón,  hijo  de  Jorge  de  Figuei- 
redo y  heredero  suyo  en  la  Capitania  de  los  Illeos,  por  no  poderia  sus- 
tentar, la  vendió  a  un  florentín  mercader  rico  Uamado  Lucas  Giraldes 
por  4.825  ducados.  Este  embió  un  Capitán  en  la  dicha  Capitania  por 
nombre  Baltasar  Ferreira,  el  qual  por  mostrar  su  diligencia  en  su  cargo, 
según  se  deve  creer,  començó  a  poblar  las  tierras  dei  Camamú,  y  dar 
principio  a  una  villa.  Opúsese  luego  a  esso  Men  de  Saa,  que  ya  estava 
en  el  Brasil,  y  por  el  Oidor  General  (porque  puso  el  negocio  en  justi- 
cia  y  derecho)  fué  dada  sententia,  a  17  de  Setiembre  de  62,  en  favor  de 
Men  de  Saa,  en  que  le  mandava  restituir  la  possessión  de  todas  las 
doze  legoas  de  tierra,  que  por  el  dicho  Capitán  le  era  impedida»  («Infor- 
mación  de  las  tierras  dei  Camamú  para  Nuestro  R.  P.  General»  [1586], 
Rras.j-i,  f-  i66r).  Consta  desta  «Información»,  que  das  terras,  que  per- 
tenceram antes  a  Betancor,  que  era  metade,  isto  é,  seis  léguas,  tomara 
posse  Mem  de  Sá  «el  afio  de  62,  poniendo  allá  un  criado  suyo  por  nom- 
bre Felipe  Gomes,  y  haziendo  en  ellas  algunos  benefícios  en  senal  de 
possesión»  (Jb.  f.  165V). 

5  Estas  terras  vieram  a  ser  com  o  tempo  excelentes  fontes  de  pro- 
dução para  os  fins  aqui  enunciados;  mas  outro  aspecto  é  que  nos  prin- 
cípios de  todas  as  colonizações,  para  efeitos  de  promover  a  agricultura 


71. -BAÍA  27  DE  JANEIRO  UE  1565 


525 


muito  serviço  de  Deos,  e  por  estas  rezõis  e  outras  muitas, 
que  a  isso  o  moverão,  elle  hé  contente  e  lhe  praz  de  dar,  e  65 
como  de  feito  deu  e  trespasou,  ao  dito  Collegio,  as  ditas 
doze  legoas  de  terra,  na  dita  Capitania  dos  Ilheos,  d'oje 
pera  sempre,  asi  e  da  maneira  que  a  elle  Men  de  Saa  são 
dadas  e  concedidas  pella  dita  sua  doação  con  todalas  clau- 
sulas, condiçõis,  aforamuitos,  partidos,  avenças  e  convenças,  7o 
conteudas  na  dita  doação,  e  que  o  dito  Collegio  e  Padres 
delle  ajão  e  tomem  posse  da  dita  terra  das  doze  legoas  na 
parte  e  lugares  donde  elle  dito  Men  de  Saa  tem  tomado  e 
havida  a  posse,  como  consta  per  sua  sentença  e  estromento 
da  posse  que  lhe  foi  dada.  75 

Somente  e  com  tal  condição  que  elle  dito  Men  de  Saa 
tomará  pera  si  e  lhe  ficará  huma  agoa  pera  fazer  enjenho, 
com  huma  legoa  e  mea  de  terra  em  quadra  dentro  nas  ditas 
doze  legoas,  onde  elle  a  quiser  e  ouver  por  bem;  isto 
somente  quer  pera  si,  scilicet,  huma  agoa  com  a  dita  legoa  80 
e  mea  de  terra  que  lhe  ficará  assi  e  da  maneira  que  tinha 
a  mais  terra  conforme  a  sua  doação;  e  todo  o  mais  dá  e 
trespasa  ao  dito  Collegio,  como  dito  hee,  damor  em  graça, 
sem  interese  algum  de  nenhuma  maneira  e  callidade  que 
seja.  85 

E  dise  que  tirava,  e  de  feito  por  este  publico  estromento 
tirou,  demitio  e  renunciou  de  si  todo  o  direito  e  aução,  posse, 
propriedade  e  senhorio  que  pella  dita  doação  e  carta  de 
sesmaria  tinha  e  lhe  pertencia  ter  e  aver  em  as  ditas  doze 
legoas  de  terra,  salivante  a  dita  agoa  e  legoa  e  mea  de  terra  90 
que  toma  pera  si,  pellas  demarcaçõis  e  confrontaçõis  com 
que  estão  demarcadas,  e  todo  pôs  e  concedeo  e  trespasou 
ao  dito  Collegio  e  Padres  delle  e  que  todo  ajão,  logrem  e 
pesuyão  livremente  d'oje  em  diante,  e  pera  sempre,  asi  na 


93    que  add. 


e  o  povoamento,  as  sesmarias  representaram  também  a  luta  denodada 
«contra  o  brejo  e  contra  o  mato»  (Virgínia  Rau,  Sesmarias  medievais 
portuguesas  [Lisboa  1946]  127). 


526 


SESMARIA  DO  CA MAM U  DOADA  POR  MEM  DE  SA 


95  jurdição  como  en  todo  o  mais  contheudo  e  conforme  a  dita 
doação,  e  para  que  aproveitem  todo  e  fação  e  mandem  fazer 
aquellas  benfeitorias  que  lhes  bem  parecer,  dando  e  conce- 
dendo as  ditas  terras  nas  ditas  doze  legoas  a  quem  quise- 
rem, com  os  partidos  e  sesmarias  que  lhes  aprouver  e  por 

ioo  bem  tiverem.  E  lhes  deu  lugar  e  poder  ao  dito  Collegio  e 
Padres  delle,  que  por  vertude  e  vigor  deste  estromento  e 
doação  que  lhe  faz,  possão  tomar  e  tomem  a  posse  de  tudo 
sem  mais  autoridade  delle  Men  de  Saa  nem  de  justiça 
alguma,  porquanto  elle  Senhor  Men  de  Saa  tem  já  tomado 

105  a  posse  principal  como  dito  hee. 

E  asi  declarou  mais  elle  Senhor  Men  de  Saa  que  a  dita 
terra  de  doze  legoas,  que  dá  ao  dito  Collegio,  tirando  a  sua 
agoa  com  legoa  e  mea  de  terra  que  lhe  fica,  lhe  dá  com 
suas  agoas  6,  allcaidarias  e  toda  jurdição  como  a  elle  Men 

no  de  Saa  todo  he  dado  e  concedido  pella  dita  doação  e  com 
os  foros  e  declaraçõis  nella  conteudas;  e  dize  que  faltando 
alguma  clausula  ou  clausolas  que,  por  não  irem  aqui  escri- 
tas e  declaradas,  este  estromento  de  doação  se  ouvesse  de 
anular  em  parte  ou  en  todo  ou  os  ditos  Padres  e  Collegio 

115  por  isso  ouvessem  de  aver  alguma  perda  ou  menoscabo: 
em  tal  caso,  elle  Senhor  Men  de  Saa  as  á  aqui  por  escritas 
e  expecificadas  neste  estromento  como  se  nelle  das  ditas 
clausolas  fizera  especial  e  expreça  menção,  porque  sua  von- 
tade e  tenção  delle  Senhor  Men  de  Saa  hé  de  se  comprir  e 

120  manter  este  estromento  em  todo,  pello  serviço  de  Deos  e 
pellas  boas  obras  e  trabalhos  e  gastos  que  os  ditos  Padres 
e  Collegio  tem  e  sostentão. 

E  lhes  dá  as  ditas  doze  legoas  de  terra  pera  sempre  con 
todas  suas  entradas  e  saydas,  direitos  e  pertenças,  serven- 

125  tias,  logradoiros  e  con  todallas  clausollas  e  condiçõis  da 


6  Fernão  Cardim,  que  esteve  aí  em  1583,  aludindo  à  doação  de 
Mem  de  Sá,  escreve  que  na  bala  e  formosa  enseada  do  Camamu  «entram 
tres  rios  caudaes,  tamanhos  ou  maiores  que  o  Mondego  de  Coimbra, 
afora  muitas  outras  ribeiras,  aonde  ha  aguas  para  oito  engenhos  copei- 
ros, e  podem-se  fazer  outros  rasteiros,  e  trapiches».  Mas  então  as  ter- 
ras estavam  «infestadas  dos  Guaimurés»  (  Tratados  295). 


71. -BAÍA  27  DE  JANEIRO  DE  1565 


527 


dita  doação  feita  a  elle  dito  Senhor  Men  de  Saa  pello  dito 
Jorge  de  Figeiredo.  E  assi  poderão  dar  e  doar,  vender, 
trespasar,  premudar  e  aforar,  emprazar,  arrendar,  excambar 
as  ditas  legoas  de  terra,  tirando  a  que  toma  pera  si  elle 
Senhor  Men  de  Saa  com  sua  agoa,  a  quem  quizerem  e  por  130 
bem  tiverem,  pellos  preços  e  contias  que  lhes  aprouver, 
per  qualquer  modo  e  maneira  que  lhes  bem  parecer. 

[44r]  E  prometeo  e  se  obrigou  per  si  e  seus  sobcesores 
de  comprir  e  manter,  em  todo,  este  estromento,  e  de  nunqua 
em  tempo  algum  hir  contra  elle,  nem  ho  revogar  nem  con-  135 
tradizer  em  parte  nem  en  todo  per  si  nem  per  outrem  que 
seu  poder  tenha  per  modo  algum  que  seja,  sob  obrigação 
de  sua  fazenda  e  todos  seus  beens  e  rendas  moveis  e  de 
rais,  que  pera  comprir  en  todo  o  que  dito  hé  obrigou  e  asi 
o  outorgou.  140 

Eu  tabaliam  como  pessoa  publica  estepullante,  aceitante, 
estepullei,  aceitei  este  estromento  de  doação  da  dada  e  tres- 
pasação  das  ditas  doze  legoas  de  terra,  tirando  afora  a  dita 
agoa  e  legoa  e  mea  de  terra  do  dito  Senhor  Men  de  Saa7, 
em  nome  do  dito  Collegio  e  Padres  delle,  auzentes  ao  fazer  145 
deste  estromento.  E  em  testemunho  e  fee  da  verdade  dello, 
asi  ho  outorgou  e  mandou  ser  feito  este  estromento  de 
doação  e  deste  theor  mandou  dar  ao  dito  Collegio  os  estro- 
mentos  que  lhe  comprissem  e  aos  Padres  delle. 

Testemunhas  que  prezentes  forão :  Diogo  da  Rocha  8  e  150 
Belchior  Vieira,  criados  do  dito  Senhor  Men  de  Saa,  e  Heitor 


7  Esta  água  e  légua  e  meia  de  terra,  que  agora  em  1563  Mem  de 
Sá  reservara  para  si,  três  anos  depois,  a  23  de  Julho  de  1566,  doou-a 
igualmente  ao  Colégio  da  Baía  nas  mesmas  condições  desta  doação 
de  1563.  {Bras.  }-i  165  v).  Passou  treslado  autêntico  o  Ouvidor  Geral 
Fernão  da  Silva,  a  15  de  Julho  de  1568.  Pública-forma  (na  mesma  data 
que  a  da  Sesmaria  do  Camumu):  23  de  Março  de  1575  (Bras.  11,  f  i5r-i5v). 

8  Diogo  da  Rocha  veio  a  ser  Senhor  de  Engenho,  e  dele  diz  Mem 
de  Sá  no  seu  testamento:  «Eu  trouxe  Diogo  da  Rocha  comigo  do  Reino, 
en  lhe  tenho  dado  e  satisfeito  seu  serviço  com  o  cobre  que  lhe  dei  para 
o  seu  Engenho  e  com  o  gado  que  lhe  tenho  dado»  (Testamento  de  Mem 
de  Sá,  publicado  por  Rodolfo  Garcia,  in  HG  1  450;  Wanderley  Pinho, 
Testamento  de  Men  de  Sá  88). 


528 


SESMARIA  DO  CAMAMU  DOADA  POR  MEM  DE  SÁ 


Antunes  cavaleiro  da  casa  d'El-Rei  nosso  Senhor.  E  eu 
Luis  da  Costa,  tabaliam  publico  e  do  judicial  pello  dito 
Senhor  em  esta  cidade  do  Salvador  e  seu  termo,  que  este 

155  estromento  e  doação  fiz  e  tomei  em  meu  livro  de  notas, 
aonde  está  asinado  pello  dito  Senhor  Men  de  Saa  e  teste- 
munhas, donde  este  tirei  fielmente  na  verdade  e  o  concertei 
pello  propio  sem  cousa  que  duvida  faça.  E  aqui  asinei  de 
meu  publico  sinall,  que  tal  hé.   [Segue-se  o  sinal].  Pagou 

160  nichil. 

Registada  no  livro  donde  se  registão  as  dadas  das  ter- 
ras de  sesmarias  às  folhas  63  do  dito  livro,  sem  cousa  que 
duvida  faça,  de  verbo  ad  verbum,  por  mim  Salvador  da 
Foncequa,  escrivão  d'Alfandega  e  Provedoria  nesta  cidade 
rós  do  Salvador  e  seus  termos  por  El-Rei  nosso  Senhor.  Oje 
dozaseis  dias  de  Março  de  mil  e  quinhentos  e  sesenta  e 
tres  anos.  Salvador  da  Foncequa.  Pagou  cento  reis. 

Registada  no  livro  dos  registos,  donde  se  registão  as 
dadas  das  terras  de  sesmarias  a  folhas  cento  e  vinte  e  sete 
170  do  dito  livro,  per  mim  Baltezar  Pires,  escrivão  d'Alfandega 
e  Provedoria  nesta  villa  dos  Ilheos  por  El-Rei  nosso  Senhor. 
Oje  vinte  de  Agosto  de  mil  e  quinhentos  e  sesenta  e  seis 
anos.  Baltezar  Pires.  Pagou  nichil. 

[CONFIRMAÇÃO] 

175  5.  [44V]  Saibão  quantos  esta  carta  de  confirmação 
virem  que  no  ano  de  Nosso  Senhor  Jesu  Christo  de  mil  e 
quinhentos  e  sesenta  e  nove  anos  ao  derradeiro  dia  do  mes 
de  Setembro  nas  casas,  diguo,  na  cidade  do  Salvador  na 


170    Alfandega  pnst  corr. 


9    Heitor  Antunes,  um  dos  que  depõem  em  1570  sobre  os  serviços 

de  Mem  de  Sá  (Instrumento  144). 


71. -BAÍA  27  DE  JANEIRO  DE  1563 


529 


Baya  de  Todolos  Santos,  terras  do  Brazil,  nas  casas  das 
moradas  de  mira  escrivam  abaixo  nomeado,  pareceo  Duarte  180 
Fernandes10,  Irmão  dos  Padres  do  Collegio  de  Jesu,  e  me 
aprezentou  huma  pitição  com  hum  despacho  nella  do  Senhor 
Men  de  Saa,  do  conselho  d'El-Rei  nosso  Senhor,  Capitão  da 
dita  cidade  e  Governador  Geral  nestas  partes  e  províncias 
do  Brazil  etc.  E  outrosi  me  aprezentou,  com  a  dita  pitição,  185 
huma  carta  d'El-Rei  nosso  Senhor  e  me  requereo  que,  por 
vertude  da  dita  carta  do  dito  Senhor  e  bem  asi  do  dito  des- 
pacho do  dito  Senhor  Governador,  pasasse  cartas  de  con- 
firmação aos  ditos  Padres  do  dito  Collegio,  de  suas  terras 
que  lhe  forâo  dadas  de  sesmarias  pellos  Governadores  asi  190 
e  da  maneira  que  o  dito  Senhor  per  sua  carta  mandava  e 
por  vertude  do  dito  despacho  do  Senhor  Governador,  da 
qual  carta  e  pitição  e  despacho  o  trelado  de  tudo  hé  o 
seguinte. 

Trelado  da  pitição  do  Padre  Reitor  do  Collegio  195 
de  Jesu  desta  cidade  do  Salvador. 

+ 

Senhor 

6.  Diz  o  Padre  Reitor  11  da  Casa  e  Collegio  de  Jesu 
que  o  anno  passado  de  sesenta  e  oito,  Sua  Alteza  escreveo 
a  V.  Senhoria  huma  carta  em  que  lhe  mandava  confir-  200 


10  O  Ir.  Coadjutor  Duarte  Fernandes,  minhoto  (do  termo  de  Bar- 
celos, diz  o  Catálogo  de  1574;  de  Pedrouços,  Arquid.  de  Braga,  dizem 
os  seguintes),  entrou  na  Companhia,  no  Brasil,  em  1563,  com  50  anos 
de  idade.  Sabia  a  língua  dos  índios  e  «ajuda  bem»  (Bras.f-i,  ff  6v  iov). 
Fernão  Cardim  narra  a  sua  morte  na  Baía  em  1604  (Leite,  História  1 576). 

11  Gregório  Serrão  (ele  assinava  Sarrão)  governou  o  Colégio  da 
Baía  de  1564  a  1574,  sendo  eleito  Procurador  a  Roma  em  1575;  e  é 
já  nesta  qualidade  que  mandou  tirar  a  pública-forma  deste  e  outros 
documentos  que  trazem  no  fim  a  sua  assinatura  autógrafa.  Gregório 
Serrão,  de  Sintra,  entrou  na  Companhia  em  Coimbra  em  1550,  embar- 
cou para  o  Brasil  em  1553,  estava  na  Aldeia  de  Piratininga  em  1554 

34 


550 


SESMARIA  DO  CAM  AM  L'  DOADA  POR  MEM  DE  SÁ 


raase  era  seu  nome  todas  as  dadas  e  terras  dos  Padres  da 
dita  Companhia  nesta  costa  do  Brazil,  como  mais  clara- 
mente se  verá  na  dita  carta;  pedem  a  V.  S.  mande  ao 
escrivam  das  sesmarias  que  per  vertude  da  dita  carta  faça 
205  hum  termo  da  dita  confirmação,  em  cada  huma  das  ditas 
dadas  de  terra  de  sesmaria,  pera  que  V.  S.  o  asine  e  sejão 
confirmadas  como  Sua  Alteza  manda. 

Despacho  do  Senhor  Governador 

Faça  o  escrivão  das  sesmarias,  em  cada  dada  das  cartas 
210  das  terras  que  são  dadas  aos  Collegios  de  Jesu,  um  termo 
de  confirmação  da  maneira  que  o  pedem.    Oje,  vinte  e 
sinco  dias  de  Setembro  de  mil  e  quinhentos  e  sesenta 
e  nove  anos. 

7.    Trelado  de  huma  carta  que  El-Rei  nosso  Senhor 
215  escreveo  ao  Governador  Men  de  Saa  pella  quall  lhe 
manda  que  em  seu  nome  confirme  todas  as  dadas  de 
terras  e  dadas  de  Sesmarias,  que  os  ditos  Padres  da 
Companhia  de  Jesu  tem  nestas  partes  do  Brazil. 

[45r]  Men  de  Saa,  amigo:  Eu  El-Rei  vos  envio  muito 
220  saudar.  Eu  sou  enformado  que  en  algumas  Capitanias 
dessas  partes  são  dadas  aos  Collegios  dos  Padres  da 
Companhia,  que  nellas  estão  começados,  algumas  terras 
pera  sostentação  dos  Religiozos  que  ora  há  e  ao  diante 
ouver  nos  ditos  Collegios.  E,  porque  eu  desejo  que  nessas 
225  partes  aja  todos  os  mais  que  nellas  fossem  necessários  e 
que  sejão  fundados  e  dotados  de  maneira  que  possa  aver 


230    sou]  s&o  ins.  li  226    que'  bis  priore  dil. 


quando  se  fundou  o  Colégio  de  São  Paulo,  e  prestou  relevantes  servi- 
ços, sempre  muito  estimado  dos  de  casa  e  dos  de  fora.  Faleceu  no 
Espirito  Santo  (Capitania)  a  25  de  Novembro  de  1586  (Leite,  História  I 
63-64;  ix  123). 


71. -BAÍA  27  DE  JANEIRO  DE  1565 


nisso  perpetuação,  e  porque  quantos  elles   mais  forem 
tanto  mor  poderá  ser  o  numero  dos  Religiosos  que  nelles 
residirem  e  que  nessas  partes  são  utiles  e  necessários 
como  por  experiência  se  tem  até  agora  visto,  vos  enco-  230 
mendo  muito  que  não  consintais  que  as  tais  terras  e  roças 
e  quaisquer  outras  propriedades  per  qualquer  via,  que  até 
agora  são  dadas  aos  ditos  Padres  dos  ditos  Collegios,  lhe 
sejão  per  nenhum  modo  tiradas,  e  lhe  confirmeis  as  dadas 
e  doação,  e  lhes  paseis  carta  pera  as  elles  possuírem,  posto  235 
que  nellas  não  tenhão  benfeitorias,  sem  embarguo  do  que 
aserca  das  taes  dadas  for  ordenado  per  minhas  ordena- 
çõis;  e  pera  isso  ei  por  compridos  quaesquer  defeitos  que 
de  facto  ou  de  direito  ouver  neste  caso,  porque  ey  que 
assi  convém   pera  o  bem  spiritual  e  temporal  dessas  240 
partes  12. 

Gonçalo  da  Costa  a  fez  em  Lisboa  a  onze  de  Novem- 
bro de  mil  e  quinhentos  e  sesenta  e  sete  anos.  E  do  teor 
desta  se  passou  outra  pera  irem  por  duas  vias,  de  que 
esta  hé  a  segunda;  e  comprir-se-há  numa  delias  somente.  245 

8.  Pello  qual,  e  por  vertude  da  dita  carta  d'El-Rei 
nosso  Senhor  e  em  comprimento  dela,  elle  dito  Senhor 
Governador  lhe  confirma  em  nome  de  Sua  Alteza  e  lhe 
há  por  confirmada  d'oje,  deste  dia  pera  sempre,  aos  ditos  250 
Padres  do  Collegio  da  Companhia  de  Jesu,  asi  e  da 
maneira  que  o  Sua  Alteza  manda,  esta  escritura  de  dada 
e  doação  de  doze  legoas  de  terra  que  lhe  pello  dito 
Senhor  Governador  forão  dadas  e  doadas  e  asi  e  da 
maneira  que  se  per  esta  doação  atrás  contem,  feita  per  255 
Luis  da  Costa,  tabaliam  publico  que  foi  nesta  cidade, 
porque  tudo  lhe  há  confirmado  e  dado  de  maneira  que 


227  porque  post  corr. 
235    as  sufi. 


12  Carta  de  11  de  Novembro  de  1567.  Publicada,  parcialmente, 
ib.  1  414;  Documentos  para  a  história  do  Açúcar  I  (1954)  213. 


532  SKSMARI A  DO  CAMAMU  DOADA  POR  MEM  DE  SÁ 

o  Sua  Alteza  por  sua  carta  manda  e  per  esta  doação  se 
contem. 

260  E  por  verdade,  eu  Nofre  Pinheiro  Carvalho,  escrivam 
das  sesmarias  por  El-Rei  nosso  Senhor  em  esta  sua  cidade 
do  Salvador  e  seus  termos,  que  esta  carta  de  confirmação 
fiz  e  em  ella  de  meu  sinal  razo  asinei,  oje,  no  dito  dia, 
a  quall  vay  asynada  pello  dito  Senhor  Governador.    E  a 

265  carta  de  Sua  Alteza  com  a  pitição  e  despacho  fica  tudo 
em  meu  poder  pera  todo  tempo  se  saber  em  como  esta  fiz 
por  vertude  delia  e  do  dito  despacho. 

[Mão  própria:]  Nofre  Pinheiro  Carvalho 
[Mão  própria:]  Men  de  Saa. 

270  [45V]  Ho  qual  trellado  de  trespasação  de  terra,  eu 
Marçall  Vaz,  taballiâo  do  pubriquo  e  do  judiciall  por 
Ell-Rey  noso  Senhor  nesta  cidade  do  Sallvador  he  seus 
termos,  comcertei  com  ho  propio,  que  fiqua  em  poder  dos 
Reveremdos  Padres  da  Companhia  de  Jesus  desta  cidade 

275  do  Sallvador,  he  vai  na  verdade  sem  cousa  que  duvida 
faça;  ho  qual  comsertei  com  ho  Padre  Greguorio  Serrão, 
nesta  dita  cidade  do  Sallvador,  oje,  vimte  he  tres  dias 
e  mes  de  Março  de  mill  e  quinhentos  e  setemta  e  cinquo 
anos,  e  aqui  asinei  de  meu  pubrico  sinall  que  tall  hé. 
280  [Segue-se  o  sinal  desenhado].   Pagou  nada  [?]. 

[Mão  própria:]  Confrontado  por  mim  tabaliam  Marçal 
Vaz. 

[Mão  própria:]  E  comigo  o  P.e  Gregorio  Sarrão. 


CARTAS  PERDIDAS 

7ia-b.  Dos  Padres  Luis  Rodrigues  e  Diogo  Jácoine  aos  Padres  da 
Baia  (Ilhéus,  Fevereiro  [?]  de  1563).  «Houve  logo  grande  concurso  de 
gente  às  confissões  dos  Brancos  como  da  escravaria  com  que  o  P.  Diogo 
Jácome  se  ocupa,  e  o  P.  Luís  Rodrigues  nas  confissões  dos  Brancos  e 
em  pregar  e  fazer  amizades  algumas  das  quais  eram  de  maneira  que, 
segundo  nos  escreveram,  parecia  coisa  impossível  effectuarem-se», — 
escreve  Leonardo  do  Vale,  12  de  Maio  de  1563  (Cartas  Avulsas  381). 
Os  Padres  tinham  chegado  a  Ilhéus  em  Janeiro  de  1563  (carta  72  §  7). 


72.  -  ILHÉUS  11  DE  MARÇO  DK  1565 


555 


72 

DO  P.  LUÍS  RODRIGUES 
AO  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO,  LISBOA 

ILHÉUS  11  DE  MARÇO  DE  1565 

I.  Bibliografia:  Catalogo  dos  Mamiscriptos  I  29;  Cimélios  497; 
Leite,  História  ix  88  n.  r. 

II.    Autores:   Leite,  História  i  190;  11  57  57L 

III.  Texto:  1.  ARSI,  Eras.  j-2,  ff.  271X28V  [antes  ff.  i07r-io8v, 
mais  antigo,  riscado,  574r-575v].  Título:  «Japón.  Copia  de  numa  do 
P.e  Luis  Rodrigues,  dos  Uheos,  pera  ho  P.e  Gonçalo  Vaz  a  xi  de  Março 
de  1563.  Do  Brasil».  Letra  de  Polanco:  «Revista  y  hase  de  traducir». 
Com  cortes  e  emendas  do  mesmo  Polanco.  A  palavra  Japón  no  prin- 
cípio do  título  não  significa  origem,  clara  no  fim  dele.  Talvez  equívoco. 
Apógrafo  em  português. 

2.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  ff.  I3rr-i32v.   Apógrafo  coevo  em  português  (no  aparato:  t2). 

5.  ARSI,  Bras.  ij,  ff.  iÓ5r-i66r.  Tradução  italiana  por  1,  com  cor- 
tes e  emendas  de  Polanco. 

IV.  Impressão:   Cartas  Avulsas  (Rio  de  Janeiro  1931)  372-377. 

V.    História  da  Impressão:    Cartas  imprime  o  texto  2. 

VI.  Edição:  Edita-se  o  texto  1  (Bras.  j-2),  antes  das  emendas  de 
Polanco. 

Textus 

1.  Ministério  ipsius  et  P.  Didaci  Iácome  apud  «Ilhéus*.  —  2.  Ordi- 
nem  sacrum  recipit  in  Natali  anni  ijóo.  —  3.  Cum  P.  Antonio  Pires  in 
Insula  Itaparica.  —  4.  In  aliquo  pago  terrae  firmae  a  colubra  «cascavel-» 
morsus,  in  extremo  fuit  periculo  mortis.  —  5-6.  Deinde  in  alterum  pagum 
ivit  et  etiam  in  alium  longius  ab  urbe.  —  7.  Nunc  adest  in  oppido 
«Ilhéus».  —  8.  Cives  «Ilhéus»  promittunt  magnum  iuvamen  ad  aedifican- 
dam  dotnum  et  ecclesiam. 


554 


P.  LUÍS  RODRIGUES  -  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO 


+ 

Mui  Reverendo  em  Christo  Padre 
Pax  Christi. 

A  paz  e  amor  de  Jesus  faça  continua  morada  em  nossas 
almas.  Amen. 

5  1.  Amantissimo  Padre.  Tres  annos  fará  por  Julho  que 
chegei  a  esta  terra  1  &  se  ouvera  de  escrever  a  V.  R.a  as 
muitas  mercês,  que  de  Nosso  Senhor  tenho  recebidas  neste 
tempo,  fora  mister  muito  tempo  para  as  escrever  por  meude, 
mas  o  tempo  não  me  daa  lugar,  à  numa  por  estar  este  navio 

io  para  se  partir  para  Fernãobuco  para  onde  estava,  como  por 
ser  tam  occupado  em  cousas  de  confissões  e  doentes  que 
agora  aqui  ay,  as  pregações  ordinárias  desta  quaresma  & 
outras  muitas  cousas  do  bem  do  próximo,  como  hé  em  ami- 
zades &  apartar  amancebados  que  nesta  terra  ay  muitos, 

15  principalmente  como  nella  não  estiverão  Padres  da  Com- 
panhia, por  seus  grandes  peccados  ou  por  os  querer  casti- 
gar; &  assi  achei  esta  gente  tam  remota  que  parece  que 
não  se  criarão  na  cristandade,  como  adiante  direi,  de  maneira 
que  o  tempo  me  há-de  fazer  ser  breve,  por  ser  jaa  isto  tam- 

20  bem  muito  noite  &  chegei  agora  de  huma  fazenda  de  fora, 
de  confessar  hum  doente  que  nem  de  noite  nem  de  dia  me 
deixa. 

E  esta  Capitania  hé  de  gran  trabalho,  porque  tem  qua- 
tro engenhos  a  legoa  &  duas  da  villa,  &  estão  nelles  gente 
25  honrrada  &  muita,  &  avemos  de  acudir  a  tudo.  Porque  não 
ay  outrem  que  acuda  senão  eu,  porque  o  meu  companheiro 
é  o  Padre  Diogo  Jacome  que  veo  com  o  P.e  Lyonardo2:  hé 


5  fará  dei.  que  ||  7  recebidas  ti ;  recebidos  »is.  [|  8  fora  ti ;  forfio  ||  34  nellas 
;  nelle  MM.  ||  27    Lionardo  Nunez  tj 


1  Do  Brasil. 

2  Leonardo  Nunes.  Diogo  Jácome  veio  em  15^9  e  também  vieram 
Nóbrega  e  António  Pires  do  qual  o  autor  da  carta  vai  falar  a  seguir  no 


72.  -  ILHÉUS  11  DE  MARÇO  DE  15(55 


555 


lingoa  &  serve  para  a  escraveria  que  hé  muita,  de  confes- 
sar &  doctrinar,  que  tem  bem  em  que  entender  &  emprega 
o  seu  talento  de  maneira  que  eu  lhe  tenho  gran  emveja.  3° 
Seja  a  gloria  ao  Senhor.  Também  anda  pollos  engenhos 
instruindo  aos  pagões  em  nossa  sancta  fee  católica,  &  con- 
fessando &  doctrinando  aos  christãos,  que  hé  huma  empreza 
grandissima,  com  a  qual  elle  anda  em  meio  de  seus  traba- 
lhos tam  alegre  que  não  há  cousa  na  terra  a  que  a  possa  35 
comparar;  &  assi  os  caminhos  se  lhe  fazem  curtos,  com  ser 
muito  compridos,  &  as  calmas  não  sente,  que  são  muito 
grandes  nesta  terra,  porque  o  calor  do  Espirito  Sancto,  que 
elle  traz  dentro,  vem  ao  de  fora;  finalmente  não  há  hora 
que  elle  não  emprege  em  seu  Criador  &  Senhor  com  gran-  4o 
dissimo  fervor.  Seja  a  gloria  &  honrra  ao  Senhor  de  quem 
tudo  mana. 

2.  Tornando  ao  meu  propósito :  chegamos  a  estas  par- 
tes ao  fim  de  Julho  y,  saymos  de  Lisboa  aos  20  de  Abril, 
as  cousas  da  viagem  eu  as  escrevi  largas,  o  Natal  seguinte,  45 
fui  ordenado  de  missa  por  mandado  da  obedientia,  &  domingo 
antes  da  septuagessima  disse  missa  nova. 

3.  Logo  na  quaresma  fomos  o  P.e  Antonio  Pirez  &  eu 
a  fundar  huma  igreja  nova  a  huma  Ylha  4,  que  estaa  de 
fronte  da  cidade  do  Salvador  cinquo  legoas  por  aguoa,  onde  5° 
estive  dous  meses  pouquo  mais,  baptizey  &  instruy  grande 
numero  de  gente  assim  pequenos  como  adultos  que  logo 
morriam  &  se  yam  gozar  de  seu  Criador,  curava  &  san- 
grava os  doentes,  achava  algumas  vezes  crianças  para  espi- 
rar que  logo  baptizava  &  morrião  que  ouverão  de  perecer.  55 
Veja  V.  R.a  o  gosto  que  sintiria  em  cobrar  cousa  que  jaa 


31  engeuhos  /->  ;  engenos  ms.  |j  32  pagões  t2  ;  paganos  »is.  ||  37  sente  post  corr. 
||  43   chegamos  corr.  ex-  chegando  ||  47    septuagessima  dei.  fui  ||  51    dous  corr.  ex  dos 


§3.  O  não  dizer  que  veio  com  este,  de  quem  vai  falar,  mas  com  Leo- 
nardo, faz  supor  qualquer  relação  de  carácter  pessoal  entre  Leonardo 
e  o  destinatário  da  carta. 

3  De  1560. 

4  Ilha  de  Itaparica  (cf.  carta  58  §  8). 


556 


P.  LUÍS  RODRIGUES  -  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO 


ya  perdida;  &  certifico  a  V.  R.a  que  o  que  daa  N.  Senhor  a 
sentir  por  meio  destas  obras  não  se  pode  escrever,  porque 
hé  começar  a  gozar  da  gloria  do  Senhor. 

6o  4.  Fui  a  cabo  deste  tempo  a  ser  vigairo  de  huma  nossa 
ygreja  de  índios  5  em  terra  firme  seis  legoas  da  cidade, 
onde  fiz  grande  soma  de  christãos,  por  vezes  em  extremo, 
muitos  de  50  &  60  annos  &  outros  mais  e  menos,  fartos  de 
comer  carne  humana,  que  pedião  o  baptismo  com  tanta  ins- 

65  tantia  &  fervor  que  era  grande  a  alegria,  onde  via  aquelles 
que  estavão  predestinados  na  mente  do  Senhor  como  se  con- 
vertião  tam  de  veras  com  ser  esta  huma  gente  muito  bruta. 

Estive  aqui  algum  tempo  até  que,  indo  hum  dia,  fui  [27 v] 
visitar  huma  roça.    No  caminho  me  mordeu  huma  cobra 

70  tão  grossa  como  o  meu  braço  &  não  a  vi  atee  que  me  mor- 
deu ;  a  qual  era  das  mais  peçonhentas,  que  há  nesta  terra, 
que  era  de  cascavel6,  que  nunqua  escapa  nenhum  que 
aquellas  mordem.  Tornei-rae  para  casa  fazendo  conta  de 
aquella  noite  ir  ver  a  nosso  Criador  &  Senhor,  muito  con- 

75  tente,  &  dava  minha  morte  por  bem-aventurada.  Tinha  hum 
Padre  por  companheiro  que  me  servia  de  lingua:  despedi-me 
delle,  abraçando-o,  &  elle  com  muitas  lagrimas  fazendo 
conta  que  yaa.  era  morto;  &  assi  dentro  de  3  horas  me 
tirou  do  sentido  &  forão  tantas  as  dores  que  tive  que  me 

80  parece  que  atee  alli  podem  chegar.  Fiz  hum  mensageiro 
logo  ao  P.e  Luis  da  Gram,  &  isto  era  aa  tarde,  elle  veo  logo 
como  lhe  derão  nova  aa  toda  a  presa,  como  bom  pastor, 
mandando  diante  hum  Padre  por  a  posta,  no  cavallo  do 
Governador,  com  ollicornio  7  e  outros  remédios  que  me 


84    ollicornio  corr.  ex  ullicornio 


5  Aldeia  de  S.  João. 

6  Cobra  Cascavel  {Crotaltts  terrificus  Laur.).  Cascavel,  em  portu- 
guês guiso.  Em  tupi:  boicininga,  «de  bói  cobra,  cininga  tintinante, 
ressoante,  chocalhante»  (Rodolfo  Garcia,  in  Cardim,  Tratados  118). 
Dos  efeitos  da  mordedura  fala  adiante  quase  no  fim  do  §  7. 

7  Nota  de  Afrânio  Peixoto  a  este  passo:  «Olicorne,  o  licorne, 
corruptela  de  unicórnio,  do  latim  uuicornis,  nome  de  um  animal  fabu- 


72.-  ILHÉUS  11   DE  MARÇO  DE  1565 


557 


fizerão.  Estive  ungido  sem  esperança  de  viver.  Em  20  dias  85 
me  parece  que  não  dormi  6  horas,  polias  grandes  dores  que 
tinha  em  todo  o  corpo.  Quis  Nosso  Senhor  que  escapasse: 
foi  tido  por  milagre.   Queira  o  Senhor  que  seja  para  sua 
maior  gloria  &  honrra. 

5.    E  como  eu  convalesci,  fui  mandado  a  outra  igreja  8  9° 
4  léguas  da  cidade  por  vigário  com  hum  moço  da  terra  por 
lingoa.   Day  ya  aos  domingos  pregar  a  huma  povoação  de 
Brancos,  que  estava  day  a  huma  legoa,  que  tem  60  freige- 
ses,  que  se  chama  Sancta  Cruz,  povoação  de  Afonso  de 
Torres,  donde  por  a  bondade  de  Nosso  Senhor  ouve  tanta  95 
devação  assi  em  os  homens  como  em  as  molheres,  que  se 
confessavâo  cada  oito  dias  &  cada  quinze,  com  grandes 
lagrimas  assi  nas  confissões  como  nas  comunhões.  Foi-me 
necessário  que  o  Padre  me  desse  hum  companheiro  para 
me  dizer  missa  aos  índios  aos  domingos  &  para  também  100 
me  ayudar  a  confessar  gente  branca;  porque,  com  ir  laa 
todos  os  sabbados  amanhecer  &  pôr-me  logo  no  confissio- 
nario  &  estar  confessando  atee  noite  &  o  domingo  desde 
antemanhã  atee  horas  de  missa,  não  podia  confessar  a  todos; 
&  aas  vezes  quando  amanhecia  o  domingo  tinha  confes-  105 
sado  dous  homens.  Estaava  toda  aquella  gente  polia  bon- 
dade de  Nosso  Senhor  que  parecia  huma  relligião.  Os  da 
cidade  lhe  tinhão  grande  enveja  &  se  aedificavão  muito, 
onde  via  &  considerava  muitas  vezes  quam  postos  tem  ho 


104   missa  dei.  no  ||  109    onde  corr.  ex  aonde 


loso,  de  que  faz  cabedal  a  heráldica,  que  teria  um  só  corno  na  testa, 
arma  terrível  que  o  tornava  invencível.  Eram  preciosos  vasos  e  bas- 
tões de  unicórnio;  as  bengalas  de  unicórnio  chegaram  aos  nossos  dias: 
eram  ou  são  nervos  endurecidos  de  rinocerontes  e  hipopótamos.  Esse 
corno  teria  virtudes  especiais  contra  doenças  e  envenenamentos.  Desde 
a  antiguidade,  através  da  Idade-Média  até  o  século  xvi  e  mesmo  xvn 
em  certos  países,  a  crença  foi  geral,  nessas  propriedades  anti-peçonhen- 
tas  do  unicórnio.  Aqui  está  um  atestado»  (Cartas  Avulsas  377).  Exac- 
tamente em  1563,  publ  içava  Garcia  de  Orta  os  seus  Colóquios,  onde 
fala  do  unicórnio  com  todas  as  reservas  (1  265;  II  75  233). 
8    Aldeia  de  Santiago  (cf.  carta  66  §  27). 


558 


P.  LUÍS  RODRIGUES  -  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO 


no  Senhor  os  seus  olhos  em  nossa  Companhia,  pois  por  hum 
membro  delia  tam  inútil,  como  eu  sou,  obraava  tamanhas 
maravilhas. 

6.  Estive  alguns  7  meses  atee  que  o  Padre  Provincial 
me  mandou  a  huma  Aldeã,  a  mais  longe  igreja  que  agora 

115  temos  9,  porque  a  despejavão  os  índios  &  fugião.  Pareceo 
ao  Padre  que  eu  a  reduziria.  Fui-me  para  laa,  ficando  o 
P.e  Francisco  Pirez  alli  com  os  mesmos  cargos  que  eu  tinha. 
Estive  em  estoutra  baptizando  &  doctrinando,  &  quis  o 
Senhor  que  se  reduzio  muita  parte  da  gente  fugida,  onde, 

120  em  extremo,  foi  grande  soma  de  gente  a  que  foi  gozar  de 
seu  Criador  e  Senhor. 

7.  Estive  alli  atee  que  o  Padre  quis  prover  esta  Capi- 
tania dos  Ilheos,  assi  por  o  pedir  o  Bispo10  e  Governador11 
com  grande  instantia  como  por  saber  a  necessidade  que 

125  delia  avia. 

Partimos  da  cidade  do  Salvador  dous  Padres 12  com 
hum  mocinho  yndio  para  nos  ajudar  aa  missa.  Aos  3  de 
Janeiro  passado  viemos  a  esta  Capitania,  onde  fomos  rece- 
bidos com  muita  alegria.    Comecei  a  pregar  o  domingo 

130  seguinte.  Quis  Nosso  Senhor  que  naquella  primeira  forão 
tocados  muitos  do  Senhor,  principalmente  o  Capitão,  que 
tinha  em  casa  huma  concubina  que  trouxe  do  Reino  & 
convidou-me  a  jantar  aquelle  dia  &  deu-me  manjar  da 
terra  &  do  ceo,  porque  alargou  a  moça,  e  eu  pu-lla  em 

135  casa  de  hum  homem  honrrado,  casado  com  huma  molher 
virtuosa  &  devota  fidalga,  que  chamão  Dona  Marta,  onde 
não  sairá  senão  casada  com  o  favor  do  Senhor  &  [28r]  muito 
cedo,  porque  como  parir  há-de  ser  casada,  assim  por  ser 


iii  sou]  sam  tus.  |  ia8  viemos  bis  |  133  convidou-me  dei.  &  co  |  dia  &  dei.  de  noite 


9  Das  três  Aldeias  ao  norte  da  Baía,  Bom  Jesus,  S.  Pedro  e 
S.  André,  esta  última  era  a  mais  «longe»  da  cidade  (Leite,  História  li 

57-58). 

10  D.  Pedro  Leitão. 

11  Mem  de  Sá. 

12  O  outro  era  Diogo  Jácome,  cf.  §  i. 


72. -ILHÉUS  11  DE  MARÇO  DE  1565 


559 


moça  como  por  elle  aver  de  dar  com  que  a  casar.  Isto  íez 
grande  aballo  &  edificação  na  terra,  porque  não  se  espe-  140 
rava  ver,  porque  elle  era  mancebo  &  jaa  avião  vindo  com 
elle  na  nao  o  P.e  Francisco  Viegas  e  o  Irmão  italiano  13  & 
não  poderão  com  elle:  confessou-sse  &  comungou  logo 
&  assi  outros  muitos ;  &  dia  de  Nossa  Senhora  das  Can- 
deas  14  forâo  as  primeiras  comunhões  com  tantas  lagrimas  145 
&  devação  que  nunqua  as  mayores  vy;  &  digo  a  V.  R.a 
que  os  saluços  se  ouvirão  muito  longe;  foi  de  tal  maneira 
que  eu  com  toda  minha  frieza,  estando  com  ho  Sanctis- 
simo  Sacramento  nas  mãos,  não  podia  fallar  com  lagrimas. 
Vão-se  continoando  tanto  as  coníissões  &  comunhões  que  150 
eu  não  posso  acudir  a  tanto,  seja  gloria  ao  Senhor,  por- 
que, como  digo,  soo  sou;  aynda  que  fôramos  dous  confes- 
sores tivéramos  bem  que  fazer;  &  domingo  pasado  sobi  ao 
púlpito  com  febre  &  por  ser  quaresma  &  satisfazer  aa 
devação  sua  não  deixei  de  pregar  aquelle  dia,  ainda  que  155 
aa  tarde  ouvera  de  pregar  &  não  me  atrevi,  &  foi  neces- 
sário folgar  a  segunda-feira  para  ajudar  aa  besta  que 
pudesse  com  a  carga.  Quis  o  Senhor  que  logo  me  achei 
bem.  Deixou-me  aquella  cobra  algum  tanto  fraco  da 
cabeça  do  que  eu  era  bem  desposto.  160 

Hum  homem  honrrado  estava  amancebado  com  huma 
molher  branca  avia  anno  &  meio,  &  como  lhe  fallei  logo 
se  apartou,  dizendo  que  para  lhe  esquecer,  &  sair  de  sua 
casa  delia,  se  queria  yr  à  Baya  alguns  dias;  com  ter  boa 
fazenda  nesta  Capitania  se  foi;  &  outros  muitos  casos  que  165 
por  o  tempo  ser  breve  não  me  daa  lugar. 

Restituições  se  hão  feito  muitas  &  muito  antigas.  Tam- 
bém em  amizades  estaa  jaa  toda  esta  Capitania  conforme, 
com  estar  muita  gente  com  grandes  inimizades  de  muito 
tempo.  Seja  a  gloria  ao  Senhor  de  quem  tudo  procede.  170 


141    ver]  vez  tns.  ||   148    minha  f->  ;  mina  >«s.  ||  155    ainda  bis 


13  Cipione  Comitoli. 

14  2  de  Fevereiro  de  1563. 


540 


P.  LUÍS  RODRIGUES  -  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO 


8.  Hão-rae  feito  muitas  esmolas  com  ser  a  terra  pobre, 
para  fazer  a  nossa  igreja  &  casa.  Passão  de  duzentos 
cruzados,  sem  muitos  serviços  de  escraveria  que  me  pro- 
meterão.   Derão-me  hum  chão  muito  bom   para  nossa 

x15  igreja,  o  melhor  que  na  villa  avia  sobre  o  mar,  &  o  Con- 
selho me  deu  humas  casas  suas  &  desfazem  a  cadea  por 
me  darem  o  chão  com  ser  muito.  Custou  aver  de  fazer 
outra  &  o  Capitão,  visto  como  eu  pedia  aquelle,  fez  que 
mo  dessem,  fazendo  elle  outra  cadea  à  sua  custa.  Come- 

180  çarei  a  carretar  a  pedra  a  15  deste,  com  o  favor  do  Senhor, 
com  duas  juntas  de  bois,  duma  pedreira  muito  perto,  & 
assi  esperamos  estar  acabada  para  o  Natal,  porque  a  gente 
anda  muito  devota  &  com  gram  fervor. 

Vim  muito  pobre  de  ornamentos.  Somente  trouxe  huma 

185  vestimenta  velha,  porque  na  Baya  não  os  avia,  que  espe- 
rando por  a  armada  não  se  povoou  15  antes  esta  Capitania 
por  falta  de  ornamentos. 

Isto  hé  o  que  agora  com  esta  pressa  escrevo.  Huma 
nao  estaa  aqui,  que  partiraa  daqui  a  cinquo  ou  seis  meses, 

190  por  a  qual  escreverei  mais  meudamente  16. 

Não  digo  mais  senão  que  V.  R.a  me  encommende  ao 
Senhor  em  seus  santos  sacrificios,  pedindo  ao  Senhor  me 
faça  verdadeiro  instrumento  da  Companhia  para  reduzir 
estas  almas  ao  seu  Criador  &  Senhor  &  assi  o  peço  aos 

195  meus  Charissimos  Irmãos  assi  de  Casa  &  Collegio  de  Lis- 
boa, como  a  todos  os  mais;  &  com  esta  nao,  que  digo,  eu 
lhes  mandarei  carta  geral. 

Desta  Capitania  dos  Ilheos  n  de  Março  de  1563  annos. 
Servo  ynutilissimo, 

200  Luis  Rodriguez. 


173    cruzados  sup.  |    i8o    pedra  tj;  peda  MM. 


15  «Não  se  povoou»  quer  dizer  aqui:  não  vieram  para  cá  os  Padres 
da  Companhia:  «não  se  proveu»  estaria  no  original. 

16  O  P.  Gonçalo  Vaz  de  Melo  faleceu  a  14  de  Maio  [não  Abril] 
de  1563,  e  provàvelmente  o  autor  não  chegou  a  escrever  a  carta  que 
aqui  promete:  e,  se  escreveu,  não  se  conhece. 


73.  -  TRENTO  25  DE  MARÇO  DE  1565 


541 


73 

DO  P.  JUAN  DE  POLANCO  POR  COMISSÃO  DO 
P.  GERAL  DIEGO  LAYNES  AO  P.  GONÇALO  VAZ 
DE  MELO,  PROVINCIAL  DE  PORTUGAL  [RESPON- 
DENDO UNICAMENTE  A  CARTAS  DE  NÓBREGA] 

TRENTO  25  DE  MARÇO  DE  1563 

I.  Texto:  ARSI,  Epp.  NN.jó,  ff.  256r-256v.  É  o  próprio  registo 
sem  título  nem  endereço.  Este  acha-se  na  carta,  que  a  precede,  datada 
do  dia  anterior,  e  de  que  se  publicou  apenas  um  breve  trecho  em 
Lainii  Mon.  VI  730-731,  dirigida  ao  Provincial  de  Portugal  [f.  255V] : 
«Portugallo,  Provincial».  Apógrafo  em  espanhol. 

II.  Autores:  Leite,  História  1  300  343;  II  438 ;  Breve  Itinerário 
175-177. 

III.  Impressão:  Leite,  Cartas  de  Nóbrega  (Coimbra  1955)  519-523. 

IV.  Edição:  Reimprime-se  o  texto  (Epp.  NN.  j6). 


Textus 

1.    Respondei  epistolis   Patris   Nóbrega.  —  2.    Legata  et  missae. 

—  3.  Episcopus  et  emptio  servorum.  —  4.  Opus  est  ut  Societas  in  Bra- 
sília habeat  sustentationem  certam  quin  pendeat  ab  eleemosynis  incertis. 

—  5.  De  opere  in  colle  ad  victum  et  recreationem  studentium.  —  6.  Cam- 
pus ad  armentum.  —  7.  Conditurae.  —  8.  Scholae  S.  Vincentii  regredi 
possunt  Piratiningam.  —  9.  De  servis.  —  10.  Periculum  aedificandi 
domos  in  oppido  S.  Vincentii  cuius  incolae  in  oppidum  Sanctorum  tran- 
seunt. —  11.  De  Paraquaria. —  12.  De  subsidiis  regiis  ad  Collegia 
S.  Vincentii  et  Bahiae  et  de  terris  Indorum.  —  13.  De  inópia  Pa/rum  in 
Brasília  et  de  magistro  qui  posset  substituere  Fratrem  Anchieta  ut  in  uti- 
lioribus  rebus  occupetur.  —  14.  Patres  S.  I.  curam  animarum  habere 
possunt  ad  tempus  usquedum  efformetur  melior  clerus  saecularis.  — 
15.  Superiores  vitent  lites  et  persuadeant  testamentariis  ut  se  in  officio 
contineant.  —  16.  V a/de  se  commendat  Patribits  Portugaliae  et  Patri 
Nóbrega  si  haec  epistola  in  Brasiliam  pervenerit. 


542 


P.  JUAN  DE  POLANCO  -  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO 


Muy  Reverendo  [en  Christo  Padre]: 
1.  En  las  copias  de  ciertos  capítulos  de  letras  dei 
Padre  Manuel  de  Nóbrega  vienen  algunos  puntos  a  los 
quales  responderé  por  orden  de  nuestro  Padre  por  esta. 
5  2.  Uno  dellos  es  de  una  letra  de  30  de  Junio  de  61  %. 
Donde,  porque  en  el  testamento  de  uno  que  murió,  y 
dexava  ciertas  tierras,  y  por  otra  parte  que  le  dixessen 
ciertas  missas,  no  se  acceptando  lo  uno  se  perdió  lo  otro: 
lo  que  parece  a  nuestro  Padre  es  que  si  se  vey  claramente 

10  que  se  da  lo  uno  por  lo  otro,  como  seria  aquellas  tierras 
por  limosna  de  las  missas,  no  se  deve  acceptar.  Quando 
la  limosna  no  se  dexa  proportionada  a  las  missas,  o  ofíicios 
que  se  piden,  ni  se  vey  que  lo  uno  se  dexa  por  lo  otro, 
aunque  se  dexa  lo  uno  por  limosna,  y  después  se  pide  lo 

15  otro,  no  ay  porque  rehusar  la  tal  limosna:  y  puédense 
dezir  las  missas  que  el  defuncto  deseava  2. 

3.  Lo  que  dize  en  la  mesma  letra  dei  rescatar  todo 
género  de  esclavos  el  Obispo  3,  y  que  aprueva  los  tales 
rescates:  porque  acá  no  se  sabe  lo  particular,  no  se  puede 

20  responder:  mas  cierto  es  que  si  con  mal  titulo  se  posséen 
los  esclavos  no  se  pueden  comprar  licitamente. 

4.  En  otra  de  15  de  Julio,  dei  mesmo  para  el  Padre 
Francisco  Anríquez,  lo  que  habla  de  la  hazienda  de  un 
Hermano4,  remítese  a  lo  que  allá  pareciere;  solamente 

25  diré  esto  que  parece  bien  a  nuestro  Padre  que  tengan 
allí,  si  pueden,  con  que  se  mantener  sin  depender  de  las 
limosnas  o  provisiones  que  no  son  perpetuas  ni  ciertas 
dei  Rey  6. 


5    Junio  corr.  sup.  IX  Julio 


1  Carta  de  Nóbrega  perdida. 

2  Cf.  Constitutiones  P.  6  c.  2  n.  7  G. 

3  D.  Pedro  Leitão. 

4  Parece  ser  o  Ir.  (depois  P.)  Adão  Gonçalves,  de  que  se  trata  na 
carta  de  Nóbrega  ao  P.  Francisco  Henriques  (carta  51  §§  1-2). 

5  Já  se  pensava  então  em  dotações  perpétuas  e  certas  (supra, 
carta  60  §  2),  e  a  primeira  foi  a  do  Colégio  da  Baía,  Padrão  Régio  de 
7  de  Novembro  de  1564  (Leite,  História  1  538-540). 


75. -TRENTO  25  DE  MARÇO  DE  1565 


545 


5.  Tanbién  les  den  parecer  desde  allá  sobre  la  obra 
que  escrive  a  24  de  Abril u  el  dicho  Padre  Nóbrega  sobre  3° 
ciertos  oteros  para  hazer  bienyfeitorías  de  mantenimientos 

y  recreatión  de  los  estudiantes,  o  remítase  a  uno  de  los 
que  allá  mejor  entienden  la  cosa  si  en  ella  huviere  duda. 

6.  Del  pedir  un  pedaço  de  tierra  al  luengo  dei  mar, 
como  escrive  el  Padre  Nóbrega  a  dos  de  Julio  7  dei  61,  35 
para  criatión  de  vacas:  lo  mesmo  se  dice  que  desde  ay  les 
den  parecer,  pues  entenderán  mejor  lo  que  conviene. 

7.  Habla  de  ciertas  conservas  para  los  que  tienen 
dolor  de  piedra,  y  las  llama  de  ananazes,  y  ciertas  otras 
para  câmaras 8 :  y  quando  se  oífreciese  oportunidad  de  4° 
embiar  algo  desto  por  esas  partes,  para  ver  si  aprovecha 
haríamos  la  prueva  de  buena  voluntad. 

8.  [256V]  En  otra  letra,  que  escrive  el  mesmo,  de  12  de 
Junio  dei  61  9,  para  el  Padre  Doctor  Torres,  muestra  que 
no  succedía  bien  el  passar  las  eschuelas  de  Piratininga  a  45 
San  Vincente ;  y  si  esto  la  experientia  mostrase,  bien  será 
que  miren  si  debrían  tornarias  a  su  lugar. 

9.  V.  R.  tanbién  de  ay  les  haga  entender  lo  que  le 
parece  dei  tener  esclavos  próprios,  o  alquilados;  pues  que 
en  esto  sienten  de  diversa  manera  el  Padre  Luís  de  Grana  5° 
y  el  dicho  Padre  Nóbrega10. 

10.  Parece  bien  cosa  digna  de  consideratión  lo  que  toca 
dei  no  fabricar  mucho  en  aquella  tierra  de  San  Vincente, 


3a    los'  corr.  ex  lo  I    39    las  dei.  llamas  ||  46    si  corr.  ex  sin 


6  Carta  perdida :  a  carta  conhecida,  de  14  de  Abril  de  1561  (carta  46), 
não  trata  deste  assunto. 

7  A  terra,  ao  longo  do  mar,  era  no  Rio  de  Iguapé,  de  que  trata 
aquela  mesma  carta  de  12  de  Junho  de  1561  §  5  (carta  51),  que  aqui  apa- 
rece como  de  2  de  Julho. 

8  É  a  carta,  também  com  a  data  de  12  de  Junho  (carta  50). 

9  Com  esta  data  não  se  conhece  nenhuma  carta  de  Nóbrega  para 
Torres. 

10  Cf.  supra,  carta  ao  P.  Diego  Laynes,  de  12  de  Junho  de  1561 
§§  18-19  (carta  52). 


544 


P.  JUAN  DE  POLANCO  -  P.  GONÇALO  VAZ  DE  MELO 


pues  ay  peligro  que  se  despueble  y  se  passe  a  otra  villa 
55  que  llaman  de  Santos. 

11.  A  30  de  Julio  dei  61 11  scrive  el  mesmo  diversas 
razones  pró  y  contra  sobre  la  yda  de  algunos  nuestros  al 
Paragay:  y  lo  que  a  nuestro  Padre  parece  es  que  aviendo 
de  ir  se  aya  licencia  de  su  Alteza  en  Portugal  o  allá  en  el 

60  Brasil  de  quien  govierna  y  tiene  para  ello  auctoridad;  y 
sin  la  tal  licentia  de  Portugal  o  de  allá  que  no  vayan. 

12.  Lo  que  trata  dei  aplicar  las  limosnas  dei  Rey  a  los 
dos  Collegios  de  San  Vincente  y  de  la  Baya,  los  quales 
proveyessen  de  vestido  a  los  que  atienden  a  la  conversión, 

65  y  curasen  los  enfermos  dellos:  nuestro  Padre  lo  remite  al 
parecer  de  V.  R.  oydos  los  de  su  consulta;  y  así  el  dar  o 
no  dar  las  tierras  entre  Christianos  a  los  índios,  aunque  es 
razón  tener  respecto  a  la  institutión  dellos  para  la  qual 
importa  que  estén  juntos  y  no  esparcidos,  como  escrive  el 

70  mesmo  en  la  letra  de  30  de  Julio  de  61. 

13.  La  gran  necessidad  de  gente,  que  dize  ay  en  el  Bra- 
sil, se  crey:  y  así  de  los  que  se  embiaren  de  Itália12,  como 
de  los  de  allá,  vea  V.  R.  la  parte  que  les  pueden  hazer. 
Y  entre  ellos  será  bien  vaya  alguno  maestro,  pues  el  Her- 

75  mano  Joseph13  parece  ser  solo  en  San  Vincente,  y  que  en 
otras  cosas  de  la  conversión  se  podría  emplear  más  util- 
mente. 


63  Baya  corr.  ex  Abaya  ||  o.(    proveyessen  bis  priori  dei.  ||  72    los  corr.  tx  lo 


11  Deve  ser  a  mesma  carta,  de  que  trata  o  §  2,  perdida. 

12  Este  envio  de  Padres  italianos  não  se  chegou  a  efectuar  e  foram 
mais  para  o  Oriente  que  para  o  Brasil.  Depois  da  data  desta  carta,  a 
primeira  expedição  foi  a  do  Visitador  Inácio  de  Azevedo,  em  1566,  e 
eram  portugueses  (Leite,  História  I  563). 

13  Também  não  se  mandou  para  a  Capitania  de  São  Vicente  subs- 
tituto ao  Ir.  José,  cuja  carreira  de  mestre  de  latim  estava  praticamente 
encerrada,  como  também  a  do  Colégio  de  S.  Vicente.  Quando  Polanco 
por  comissão  do  Geral  escrevia  esta  carta,  já  Nóbrega  preparava  a 
jornada  de  Iperoig,  para  onde  partiu  em  Abril  de  1563,  levando  como 
intérprete  o  Ir.  Anchieta  (cf.  Leite,  História  1  367;  Breve  Itincr  ário  177 
e  carta  seguinte  [74  §  17] ). 


75.  -  TRENTO  25  DE  MARÇO  DE  15(35 


545 


14.  Dize  en  la  mesma  letra  y  acá  se  crey,  que  impor- 
taria mucho  para  ayuda  de  aquellas  ánimas  que  no  huvies- 
sen  otros  clérigos  que  administrassen  los  sacramentos  sino  8o 
los  de  la  Compaiiía:  y  cierto,  siendo  el  estorvo  que  allí  dan 
los  créligos14  al  bien  spiritual  tan  grande,  no  tiene  nuestro 
Padre  por  inconveniente  dispensar  que  los  nuestros  tengan 

la  cura  de  las  ánimas  a  lo  menos  ad  tempus15,  entretanto 
que  se  constituyen  clérigos  buenos  seglares  en  aquellas  85 
partes. 

15.  A  lo  que  demanda  el  mesmo  si  se  podrá  pleitar 
pidiendo  lo  que  en  los  testamentos  dexan  algunos  sin 
encargos  de  missas,  quando  los  testamentários  no  cum- 
plen :  a  nuestro  Padre  parece  devrán  escusar  las  lites,  y  90 
tomar  otros  médios  como  seria  hablar  a  los  Superiores  para 
que  ellos  hablen  a  los  testamentários  y  les  hagan  hazer  su 
dever. 

16.  Y  esto  es  lo  que  acá  ha  parecido  responder  sobre 
los  capítulos  embiados.  Nuestro  Padre  y  todos  nos  enco-  95 
mendamos  mucho  en  las  oraciones  y  sacrifícios  de  V.  R.  y 
de  toda  esa  casa  y  Collegio ;  y  así  en  las  dei  Padre  Nóbrega 

y  los  que  están  en  San  Vincente,  si  esta  allá  fuere. 
De  Trento  25  de  Marzo  1563 16. 


84   de  corr.  ex  delias  |j  98    Vincente]  Vinceynte  ms. 


14  Clérigos,  como  se  lê  duas  vezes  neste  mesmo  §. 

15  Esta  faculdade  explica  que  Nóbrega  e  os  seus  sucessores  fossem 
curas  de  almas  em  São  Paulo  (cf.  Leite,  Nóbrega  e  a  sua  herança  em 
São  Paulo  de  Piratininga  18-19) ;  e  esclarece  o  certificado  matrimonial 
de  3  de  Julho  de  1568,  passado  por  ele  no  Rio  de  Janeiro  (cf.  Cartas  do 
Brasil  e  mais  Escritos  [1955]  429-430). 

16  Referindo-se  às  expedições  missionárias  para  o  ultramar  (para 
o  Brasil,  a  11  de  Fevereiro  de  1563,  Leite,  História  i  563),  o  mesmo 
P.  Polanco,  por  comissão,  escrevia  na  véspera  (Trento,  24  de  Março 
de  1563)  ao  mesmo  Provincial  de  Portugal :  «A  los  embiados  a  la  índia 
y  Brasil  acompagne  Dios  N.  Senor.  Espérase  respuesta  de  lo  que  se 
escrevió  para  embiar  4  ó  5  de  acá  y  dos  dellos,  que  no  eran  sacerdotes^ 
esta  quaresma  lo  serán.   Y  cierto  la  necessidad  y  esperança  de  fructo 

35 


546 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  I'.  DIEGO  LAYNES 


CARTAS  PERDIDAS 

73a-b.  Dos  Padres  Luis  Rodrigues  e  Diogo  Jácome  aos  Padres  da 
Baía  (Ilhéus,  Abril  de  1563).  «Dos  logares,  onde  até  agora  reinon  a 
peste  temos  novas  haver  cessado  e  estar  tudo  quieto,  especialmente 
em  S.  Miguel,  que  hé  uma  das  três  que  estão  mais  perto  dos  Ilheos, 
donde  os  Padres  escreveram  estarem  todos  mui  pacíficos  e  contentes», 
—  escreve  o  P.  Leonardo  do  Vale,  a  12  de  Maio  de  1563  (Cartas 
Avulsas  392). 

74 

DO  IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA 
AO  P.  DIEGO  LAYNES,  ROMA 

S.  VICENTE  16  DE  ABRIL  DE  1563 

1.  Bibliografia:  Inocêncio-Brito  Aranha  xii  219;  Catalogo  dos 
Mamiscripíos  1  30;  Cimélios  497;  Sommervogel  i  311  n.  4;  Streit  ii 
350  n.  1283 ;  Leite,  História  viu  21  n.  19. 

II.  Autores:  SACCHINI,  Hist.  S.  I.  (Pars  2.a)  149;  VASCONCELOS, 
Chronica,  liv.  11  nn.  131-142;  Leite,  História  1  289-290  366;  11  30  79  273 
339  512;  Breve  Itinerário  162-163  !73-i74  *77 :  Mariz,  Nóbrega  177; 
F.  Fernandes  98. 

III.  Texto:  1.  ARSI,  Epp.  NN.  9j,  ff.  ioir-io4v  [antes  ff.  io3r-ioóv, 
mais  antigo  ff.  58or-583v].  Endereço  autógrafo  [f.  104V].  Outra  letra: 
«1563.  S.  Vinzente  16  de  Abril  1563.  Joseph».  Letra  de  Polanco: 
«Tradúzase».  Autógrafo  em  espanhol. 

2.  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  [S.  Roque,  Lisboa]  1-5, 
2,  38,  ff.  i39v-i43r.  Título:  «  -f-  Jesús  Maria.  Copia  de  una  de  S.  Vicente 
dei  Hermano  Joseph  de  Anchieta  para  el  Padre  Mestre  Diogo  Laynez. 
Praepósito  General,  de  16  de  Abril  de  1563».  Apógrafo  em  espanhol 
(cópia  do  texto  1). 


que  se  vey  especialmente  en  el  Brasil  parece  que  requiere  que  con 
mucha  sollicitud  se  emblen  operários»  (Epp.  NN.  j6,  f.  255V).  Pelo 
que  toca  ao  Brasil,  esta  solicitude  não  teve  por  então  seguimento,  talvez 
por  falecer,  logo  em  Maio,  o  P.  Gonçalo  Vaz  de  Melo. 


74.  -  S.  VICENTE  16  UE  ABRIL  UE  1565 


547 


IV.  Impressão  :  Revista  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  Brasi- 
leiro li  (1840)  538-552;  [2.a  ed.  1858]  541-555;  Cartas  de  Anchieta  (Rio 
de  Janeiro  1933)  181-194. 

V.  História  da  Impressão:  Imprimiu-se  em  português,  traduzida 
do  texto  2,  por  Januário  da  Cunha  Barbosa. 

VI.  Edição  :   Edita-se  o  autógrafo  (1). 

Textus 

1.  Indi  contrarii  et  Indi  campi,  hi  tcrribiliores  ut  fures  domestici, 
Domui  S.  Pauli  Piratiningae  afferunt  periculum.  —  2.  Indi  lusitanos 
plures  et  nunc  alios  duos  interfecerunt  ducendo  secum  alterius  uxorem  iam 
christianam.  —  3.  Indi  bellum  nuntiaverunt  contra  Piratiningam,  quo 
nuntio  cognito  defensio  par  ata  est.  —  4.  Principalis  Martinus  Alphonsus 
Tibiriçá  suam  in  oppidum  introduxil  gentem  ut  id  defenderent.  —  5.  Indi 
Piratiningam  oppugnaverunt  die  9  iulii,  aliquos  defensores  vulnerave- 
runt,  armentum  occiderunt,  alimenta  destruxerunt  et  post  duos  dies  se  in 
fugam  dederunt.  —  6.  Tres  Lusitani,  Indis  fidelibus  stipati,  eos  persecuti 
sunt  viginti  leucas,  et  40  personas  ab  hoste  captas  redemerunt.  —  7.  Bellum 
valde  utile  fuit  quia  et  Piratininga  se  munivit  et  Indi  in  ipsam  recepti 
doctrinam  discere  possunt.  —  5.  Ad  hanc  gentem  nulla  est  melior  contio 
quam  gladius  et  virga  férrea.  —  9.  Indi  aegrotantes  qui  baptisantur  et 
bene  moriuntur.  —  10.  Obitus  Principalis  Tibiriçá,  sepulti  in  ecclesia  S.  I., 
cuius  funeri  interfuerunt  omnes  Lusitani  portantes  ceram  sodalitatis. 

—  11.  Ministeria  Patris  Nóbrega  qui  nunc  bene  valei.  —  12.  Ministeria 
apud  «Santos».  —  13.  Ministeria  in  oppido  «Ilanhaém-»  et  baptismus 
alicuius  senis  «centum  et  triginla  annorunv».  —  14.    Ministeria  in  itinere. 

—  15.   Indi  contrarii  [«Tamoios»],  qui  adsunt  septentrionem  versus. 

—  16.  Abhinc  duobus  annis  Pater  Nóbrega  de  pace  cum  his  contrariis 
cogitai  facienda  et  nunc  occasio  datur  magno  cum  gáudio  totius  Prae- 
fecturae. —  17.  Pater  Nóbrega,  ducendo  secum  Fratrem  Anchieta  ut  inter- 
pretem, exspectat  ut  hostes  dent  obsides ;  et  iam  Pater  et  Frater  obviam 
i/lis  pergunt. 

+ 

Jesús  Maria 

Pax  Christi. 

1.  Un  ano  a  y  passa  que  se  escrivió  desta  Capitania 
por  el  mes  de  Março  de  62  1  a  V.  P.  de  lo  que  hazen  los 


1    Cf.  supra,  carta  62. 


548 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


5  Hermanos  en  sus  ministérios  en  servitio  de  N.  Senor  y 
ayuda  de  las  animas,  resta  dar  cuenta  de  lo  que  más  suc- 
cedió,  según  lo  manda  la  sancta  obedientia. 

En  las  letras  passadas  hize  mentión  como  quedávamos 
en  la  casa  de  S.  Pablo  de  Piratininga  con  algunos  studian- 

10  tes  nuestros  y  forasteros,  occupándonos  en  ensenarlos  y  en 
la  doctrina  de  los  Índios,  juntamente  con  los  esclavos  de 
los  christianos  en  nuestros  sólitos  ministérios  spirituales, 
instruyendo  y  aparejando  para  el  baptismo  los  que  no  son 
baptizados  y  confessando  los  que  lo  son,  y  ayudándolos 

15  también  en  sus  enfermedades  corporales,  curándolos  et 
sangrándolos  y  acudiéndoles,  maxime  en  el  tiempo  dei 
morir  por  que  consigan  el  fín  de  su  criatión.  En  esto  nos 
occupamos  estando  siempre  esperando  los  embates  de  los 
enemigos,  de  una  parte  de  los  contrários  2  destos  con  quien 

20  bivimos,  y  de  otra  de  los  nuestros  mesmos  3  que  están  dis- 
pargidos  por  el  mediterrâneo  4,  como  muchas  vezes  tengo 
escrito;  y  destos  nuestros  nos  temíamos  más  por  ser  ladro- 
nes  de  casa  y  aver  muchos  anos  que  nos  tienen  amenazado 
con  guerra,  maxime  a  los  que  estamos  en  Piratininga,  que 

25  es  frontera  dellos  y  como  llave  de  las  poblationes  de  los 
christianos  que  están  situadas  en  estos  puertos  de  mar. 

2.  Aviendo  pues  estos  índios  muerto  muchos  de  los 
christianos  portogueses  en  diversos  tiempos  y  lugares  por 
sus  tierras,  onde  ívan  a  les  rescatar  sus  cosas,  como  es 

30  costumbre,  acrescentaron  agora  su  maldad  matando  otros 
dos  christianos,  uno  de  los  quales  era  hombre  muy  vir- 
tuoso y  que  se  confessava  y  commulgava  quasi  cada  ocho 
dias,  cuya  muger,  que  era  india  de  la  generatión  destos 
nuestros  Índios  y  tenía  muchos  hermanos  y  parientes  entre 

35  ellos,  no  era  menos  amiga  de  N.  Senor  continuando  los 
mesmos  exercitios  que  su  marido,  confessándose  por  intér- 
prete y  commulgando  muy  a  menudo.  Esta,  que  entonces 


2  índios  Tamoios. 

3  índios  Tupis  (Tupinaquins). 

4  «Mediterrâneo»,  o  interior  da  terra,  o  «sertão»,  como  escreveu 
na  carta  de  1  de  Junho  de  1560  §§  3  e  18  (carta  36). 


74.  -  S.  VICENTE  16  DK  ABRIL  UE  1563 


549 


iva  en  companía  de  su  marido,  después  de  la  muerte  dél 
tornándose  muy  triste  para  los  christianos  con  algunos  sus 
esclavos  y  indios  de  Piratininga  que  la  avían  sierapre  40 
acompafíado,  fué  presa  y  detenida  de  los  suyos  mesmos 
por  hum  principal  de  una  Aldeã  para  que  los  christianos 
le  diessen  rescate  por  ella,  y  entretanto  tenerla  por  man- 
ceba por  aver  sido  muger  de  portogués,  lo  qual  ellos  tienen 
por  grande  honrra.  Mas  ella  que  tenía  otro  conoscimiento  45 
y  amor  de  Dios  N.  Sefíor  y  de  su  sancta  fe  y  ley,  tenía 
determinado  de  antes  morir  que  en  tal  consentir,  aunque 
supiesse  matarse  a  sí  mesma.  Y  fué  el  caso  que  aquel  dia 
que  la  prendieron,  se  salió  de  noche  de  casa  de  los  indios 
secretamente  y  nunca  más  paresció,  aunque  fué  muy  bus-  50 
cada  dellos,  por  lo  qual  ellos  mesmos  dizen  que  creen  que 
se  ahorcó  o  echó  en  algún  rio  por  no  consentir  en  ser  man- 
ceba de  ningún  infiel.  Mas  a  nosotros  paréscenos  que  ellos 
mesmos  la  mataron  por  el  mismo  caso  y  después  echaron 
esta  fama,  y  porque  teníamos  muy  bien  conoscida  su  inno-  55 
cente  vida  de  muchos  anos  que  frequento  los  sacramentos 
en  nuestra  casa,  no  podemos  pensar  otra  cosa,  ni  creer  que 
avia  N.  Sefíor  de  permittir  que  quien  tam  bien  avia  siempre 
bivido,  en  el  fín  de  su  vida  se  perdiesse. 

3.  Acabado  esto,  començaron  luego  a  pregonar  guerra  60 
contra  Piratininga,  la  qual  tenían  ya  en  voluntad  avia 
mucho  tiempo  5,  porque  esta  gente  es  tam  carnicera  que 
paresce  impossible  poder  bivir  sin  matar.  Y  aunque  ellos 
determinavan  de  hazello  muy  secretamente,  todavia  diónos 
aviso  N.  Sefíor  porque  castigándonos  no  nos  matasse;  y  al  65 
siguiente  dia  6  después  de  la  Visitatión  de  N.  Senora  tuvi- 


5  Também  Piratininga  se  começou  a  preparar  e  João  Ramalho 
saiu  «por  capitão  para  a  guerra»,  «por  vozes  e  eleição».  Por  sua  vez  o 
Capitão-mor  de  S.  Vicente,  por  provisão  de  28  de  Maio  de  1562,  datada 
de  São  Paulo  de  Piratininga,  diz  que  dá  todo  seu  poder  a  João  Ramalho 
para  a  guerra  e  ordena  que  todos  lhe  obedeçam  {Actas  da  Camara  de 
São  Paulo  I  14-15).  E  entre  os  Portugueses,  «pelejara  no  dito  cerco 
para  a  defensão  da  terra»,  Brás  Cubas  (Taunay,  João  Ramalho  e 
Santo  André  200). 

6  3  de  Julho  de  1562. 


550 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


mos  aviso  por  un  indio  que  tenía  [ioiv]  su  gente  entre 
nosotros,  el  qual  apartándose  de  los  malhechores  se  vino 
corriendo  por  otro  camino  a  nos  hazer  aparejar.  iMuchas 

70  particularidades  avia  que  contar  que  passaron  en  este  caso, 
mas  solamente  diré  las  grandes  misericórdias  de  que  Dios 
usó  con  nosotros.  La  principal  de  las  quales  fué  mover  el 
coraçón  de  muchos  indios  de  los  nuestros  catechúminos  y 
christianos  a  nos  ayudar  y  tomar  armas  contra  los  suyos, 

75  los  quales  sabida  la  nueva  y  verdad  de  la  guerra  se  vinie- 
ron,  de  siete  o  ocho  Aldeãs  en  que  estavan  dispargidos,  a 
meter  con  nosotros,  no  todos  mas  aquellos  solamente  a 
quien  quiso  escoger  la  mano  de  Dios,  para  nos  defender 
de  la  fúria  de  los  enemigos  carniceros.   Y  era  de  manera 

80  que  de  noche  con  candeias  se  venían,  temblando  de  frio 
(que  entonces  es  acá  muy  grande),  a  llamar  a  la  puerta  de 
la  Villa,  no  por  miedo  que  tuviessen  de  los  suyos  mas  for- 
çados, como  paresce,  dei  poder  de  Dios  sin  ellos  quasi  saber 
lo  que  hazían.  Otros  se  mesclaron  con  ellos  pensando  que 

85  a  su  gran  multitud  no  pudiessen  resistir  los  poços  que 
estavan  en  Piratininga.  Otros  uvo  que  no  podiendo  meterse 
con  nosotros,  por  los  tomar  de  súbito,  se  escondieron  por 
las  selvas  no  los  queriendo  ayudar,  y  después  de  passados 
con  las  cabeças  quebradas  para  sus  tierras  se  vinieron  para 

90  nosotros. 

4.  El  que  maiores  muestras  dió  de  christiano  y  amigo 
de  Dios  fué  Martim  Afonso  7,  Principal  de  Piratininga  (de 
que  en  muchas  letras  e  hecho  mentión  8),  el  qual  recogió 
luego  toda  su  gente  que  estava  repartida  en  três  aldehue- 

95  las  deshaziendo  sus  casas  y  dexando  todas  sus  labranças 
para  ser  destruídas  de  los  enemigos.  Y  era  tanto  el  cui- 
dado que  tenía  de  todos  los  portogueses  que  nunca  otra 
cosa  hizo  en  cinco  dias  que  estuvimos  esperando  el  com- 
bate, sino  darles  avisos  y  esfuerços  porque  eran  muy  poços, 

100  y  dellos  tollidos  y  enfermos:  predicando  continuamente  de 


7  Martim  Afonso  Tibiriçá. 

8  Cf.  Mon.  Bras.  11  497. 


74.  -  S.  VICENTE  16  DE  ABRIL  DE  15fi5 


551 


noche  y  de  dia  a  los  suyos  por  las  calles  (como  es  su  cos- 
tumbre)  que  defendiessen  la  Iglesia,  que  los  Padres  avían 
hecho  para  los  ensenar  a  ellos  y  a  sus  hijos,  que  Dios  les 
daria  victoria  contra  sus  enemigos  que  tan  sin  razón  les 
querían  dar  guerra.  Y  aunque  algunos  de  sus  hermanos  y  105 
sobrinos  se  quedaron  en  una  Aldeã,  que  no  quisieron 
seguirlo,  y  uno  dellos  venía  juntamente  con  los  enemigos, 
y  les  mandó  poner  grandes  miedos  que  eran  muchos  y  avían 
de  destruir  la  Villa,  todavia  tuvo  en  más  el  amor  de  noso- 
tros  y  de  los  christianos  que  el  de  sus  próprios  sobrinos  no 
que  tienen  en  cuenta  de  hijos,  alevantando  luego  bandera 
contra  todos  ellos,  y  una  espada  de  paio  muy  pintada  y 
ornada  de  plumas  de  diversos  colores  que  es  senal  de 
guerra. 

5.    Venido  pues  el  dia,  que  fué  el  octavo  9  de  la  Visi-  115 
tatión  de  N.  Senora,  dieron  de  mariana  sobre  Piratininga 
grande  hueste  de  enemigos  pintados  y  enplumados  con 
grandes  alaridos,  a  los  quales  salieron  luego  a  recibir  nues- 
tros  discípulos,  que  eran  muy  poços,  con  grande  esfuerço. 
Y  los  trataron  muy  mal:  y  fué  cosa  maravillosa,  que  se  120 
hallavan  y  encontravan  a  las  ílechadas  hermanos  con  her- 
manos, primos  con  primos,  sobrinos  con  tios,  y  lo  que  más 
es,  dos  hijos  que  eran  christianos  y  estavan  con  nosotros, 
contra  su  padre  que  era  contra  nos.  De  manera  que  paresce 
que  la  mano  de  Dios  los  aparto  assí  y  forço,  sin  ellos  enten-  125 
derlo,  a  que  hiziessen  esto.  Las  mugeres  de  los  Portogue- 
ses  y  ninos,  y  aún  de  los  mesmos  índios,  recogiéronse  los 
más  dellos  a  nuestra  casa  y  iglesia,  por  ser  un  poco  más 
segura  y  fuerte,  onde  algunas  de  las  mestizas  estavan  toda 
la  noche  en  oratión  con  candeias  encendidas  ante  el  altar,  130 
y  aún  dexaron  las  paredes  y  bancos  de  la  iglesia  bien 
tenidos  de  su  sangre  que  sacavan  con  las  disciplinas,  lo 
qual  no  dudo  que  peleava  más  reziamente  contra  los  ene- 
migos que  no  las  flechas  ni  arcabuzes. 


9  9  de  Julho.  O  «oitavo»  ou  «oitava»  duma  festa  obtém-se  jun 
taudo  7  à  data  da  mesma  festa :  2  -f-  7  =  9. 


552 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


135  Tuviéronnos  cercados  dos  dias  solamente,  dándonos 
siempre  combate,  hiriendo  muchos  de  los  nuestros  índios, 
y  aunque  eran  muchas  de  las  ílechadas  peligrosas,  nin- 
guno  murió  por  la  bondad  dei  Sefior,  los  quales  todos  se 
retrahían  a  nuestra  casa  y  allí  los  curávamos  dei  cuerpo  y 

140  dei  ánima,  y  assí  lo  hezimos  después  hasta  que  sanaron 
todos.  Mas  de  los  enemigos  fueron  muchos  los  heridos  y 
algunos  muertos,  entre  los  quales  fué  uno  nuestro  cate- 
chúmino,  que  fué  quasi  capitán  10  de  los  maios,  el  qual 
sabiendo  que  todas  las  mugeres  se  [i02r]  avían  de  recoger 

145  a  nuestra  casa  y  que  allí  avría  más  que  robar,  vino  a  dar 
combate  por  la  cerca  de  nuestra  huerta,  mas  allí  lo  halló 
una  flecha  que  le  dió  por  la  barriga  y  lo  mató,  dándole  el 
pago  de  lo  que  él  nos  queria  dar  por  la  doctrina  que  le 
aviamos  ensenado,  y  otras  buenas  obras  que  le  aviamos 

150  echo,  aviéndolo  ya  curado  en  el  tiempo  que  estava  con 
nosotros  a  él  y  a  sus  her manos  de  heridas  muy  peligrosas 
de  sus  contrários. 

Al  segundo  dia  dei  combate,  viéndose  muy  heridos  y 
maltratados,  y  perdida  la  esperança  de  nos  poder  entrar, 

155  diéronse  a  matar  las  vaccas  de  los  christianos,  y  mataron 
muchas,  destruyendo  grande  parte  de  los  mantenimientos 
por  los  campos,  y  dieron  a  huyr  ya  sobre  la  tarde  con 
tanta  priessa,  que  no  esperava  padre  por  hijo,  ni  hermano 
por  hermano.  En  cuyo  alcance  salieron  los  nuestros  discí- 

160  pulos,  y  tomaron  dos  dellos,  uno  de  los  quales  quisiera 
tener  por  padrinos  a  los  Padres  llamando  por  ellos,  diziendo 
que  ellos  lo  avían  ensenado  y  catechizado  que  seria  su 
esclavo:  mas  poco  le  aprovechó  que,  sin  nos  dar  cuenta 


10  Segundo  Vasconcelos  [Chronica,  liv.  11  n.  136)  este  «quasi  capi- 
tão» seria  um  Jagoanharô  («Cão  Bravo»),  sobrinho  de  Tibiriçá,  e  que  o 
mesmo  Vasconcelos  (n.  134)  faz  filho  de  «Araraíg».  Como  adverte 
A.  Machado,  na  peugada  de  João  Mendes  de  Almeida,  «Araraíg»  é  o 
nome  da  Aldeia,  onde  morava  o  pai  daquele  índio,  o  qual  se  chamaria 
Piquerobi,  irmão  de  Tibiriçá  (A.  Machado,  nota  a  este  passo  em  Car- 
tas de  Anchieta  195;  cf.  Leite,  História  1  290-292  [com  bibliografia]; 
Breve  Itinerário  171 -172). 


74.  -  S.  VICENTE  IH  DE  ABRIL  DE  1565 


555 


desso,  le  quebro  luego  la  cabeça  Martim  Alonso  con  su 
espada  de  paio  pintada  y  emplumada  que  para  esso  tenía  165 
ya  levantada  con  la  bandera  u,  lo  qual  hizo  para  omnino 
apartarse  de  los  suyos  que  tan  injustamente  venían  a  matar 
a  él  y  a  nosotros,  si  Dios  se  lo  permittiera. 

6.  Después  desto  hizo  Dios  N.  Senor  muchas  mercedes 

a  los  nuestros  discípulos  y  a  nosotros  en  diversos  saltos  170 
que  los  enemigos  venían  a  hazer  pollos  caminos,  en  los 
quales  siempre  llevavan  la  peor.  Y  porque  los  enemigos 
tenían  llevados  muchos  de  los  que  estavan  dispargidos  por 
las  Aldeãs,  antes  que  se  pudiessen  recoger,  y  los  detenían 
en  sus  tierras  quasi  como  captivos  porque  no  íuessen  de  175 
nuestra  parte,  juntáronse  unos  poços  de  nuestros  discípulos 
christianos  y  catechúminos  con  tres  Portogueses,  y  entraron 
quasi  veinte  léguas  por  la  tierra  de  los  malhechores  y 
truxeron  bien  quarenta  almas  de  hombres,  mugeres  y  nifios, 
los  más  dellos  christianos;  de  los  quales  unos  tenían  sus  180 
hijos  en  Piratininga,  otros  las  mugeres,  y  algunas  a  sus 
maridos.  Mas  no  los  sacaron  tanto  a  su  salvo  que  no  íues- 
sen salteados  de  los  enemigos,  aunque  por  su  mal,  que 
fueron  muertos  tres  dellos,  y  los  otros  dieron  a  huyr 
dexando  muerto  un  nino  innocente  baptizado,  e  un  nuestro  185 
discípulo  con  tantas  ílechadas  y  tan  peligrosas,  que  no  fué 
de  nadie  juzgado  a  vida,  donde  se  tuvo  por  maior  merced 
dei  Senor  escapar  con  la  vida  quasi  sin  cura,  y  tan  breve- 
mente que  más  paresce  que  obro  el  Senor  de  la  vida  que 
ninguna  otra  medicina,  por  ser  esto  uno  de  los  mejores  190 
christianos  que  se  an  hecho  en  esta  tierra,  y  más  amigo  de 
las  cosas  de  Dios,  y  el  que  más  pelea  por  defender  los 
christianos,  quedando  él  después  de  su  salud,  quasi  inspe- 
rata  y  súbita,  con  gran  conoscimiento  de  la  merced  que  le 
hizo  N.  Senor  y  con  propósito  de  mejor  bivir.  195 

7.  Esta  guerra  fué  causa  de  mucho  bien  para  nuestros 
antiguos  discípulos,  los  quales  son  agora  forçados  por  la 


11  A  «bandeira»  e  a  «espada  de  pau»,  dois  elementos,  um  portu- 
guês, outro  indígena,  que  constituem  a  primitiva  aliança  étnica  e  poli- 
tica de  São  Paulo. 


554 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


necessidad  de  dexar  todas  sus  habitationes  en  que  se 
avían  dispargido  y  recogerse  todos  a  Piratininga.  La  qual 

200  ellos  mesmos  cercaron  agora  de  nuevo  con  los  Portogue- 
ses,  y  está  segura  de  todo  embate,  y  desta  manera  pueden 
ser  ensenados  en  las  cosas  de  la  fe,  como  agora  se  haze, 
aviendo  continua  doctrina,  de  dia  a  las  mugeres  y  de 
noche  a  los  hombres,  onde  concorren  quasi  todos,  aviendo 

205  un  alcaide12  que  los  constrifie  a  entrar  en  la  Iglesia.  Anse 
ya  baptizado  y  casado  algunos  dellos  y  prosíguese  la  mesma 
obra  ya  con  esperança  de  maior  fructo,  porque  estos  no  tie- 
nen  onde  se  apartar,  por  estar  ya  enemistados  con  los  suyos, 
y  estando  siempre  junto  de  nosotros,  como  agora  están,  no 

210  pueden  dexar  de  tomar  las  costumbres  y  vida  Christiana,  a 
lo  menos  poco  a  poço  como  ya  se  a  començado. 

8.  Paréscenos  agora  que  están  las  puertas  abiertas  en 
esta  Capitania  para  la  conversión  de  los  gentiles,  si  Dios 
N.  Sefior  quisiere  dar  manera  con  que  sean  subiectados  y 

215  puestos  debaxo  de  jugo,  porque,  para  este  género  de  gente, 
no  ay  mejor  predicatión  que  espada  y  vara  de  hierro  1S,  en 
la  qual  más  que  en  ninguna  otra,  es  necessário  que  se 
cumpla  el  «cornpelle  eos  intrare»  14.  Bivimos  agora  en  esta 
esperança,  aunque  puestos  en  peligro  por  estar  toda  la 

220  tierra  levantada,  y  como  son  ladrones  de  casa  cada  dia 
vienen  a  saltear  por  las  haziendas  y  caminos. 

9.  [i02v]  Entre  otros  bienes  que  la  divina  Bondad 
supo  sacar  desta  guerra,  fué  uno,  que  se  baptizaron  y  ayu- 
daron  a  bien  morir  algunos  esclavos  de  los  portogueses 

225  que  destas  poblationes  marítimas  16  nos  fueron  a  dar 
soccorro,  mas  ya  después  de  la  contienda  acabada,  los 
quales  eníermaron  de  graves  fiebres  y,  acudiéndoles  a 


199    1'liatlllinga  dei.  por 


12  Ê  o  meirinho  dos  índios,  sistema  iniciado  na  Baía,  cf.  supra, 
cartas  12  §  4  e  31  §  10. 

13  Cf.  Ps.  2,  9. 

14  Luc.  14,  23. 

15  S.  Vicente.  Santos,  Itanhaém,  Bertioga. 


74.  -  S.  VICENTE  16  DE  ABRIL  DE  1565 


555 


los  sangrar,  hallávamos  a  unos  que  tenían  nombre  sola- 
mente  de  christianos,  sin  lo  ser  por  grande  descuido  de 
sus  sefiores,  otros  que  en  toda  su  vida  nunca  avían  sido  230 
coníessados,  ni  ensefiados  en  las  cosas  que  avían  de  creer 
y  obrar,  y  assí  se  ovieran  de  morir  si  por  estos  médios  no 
les  procurara  Dios  su  salvatión,  llevándolos  a  Piratininga, 
onde  por  la  gratia  dei  Sefior  tienen  los  Hermanos  gran 
vigilantia  sobre  estas  cosas.  De  los  índios  también,  que  235 
por  fuerça  avían  sido  llevados  de  los  suyos,  se  an  tornado 
algunos  para  nosotros,  algunos  de  los  quales  paresce  que 
no  venían  más  que  a  buscar  su  salud,  porque  dende  a 
poços  dias  morían  recebido  el  baptismo,  dellos  innocentes 
y  dellos  ya  adultos.  240 

10.  Murió  también  nuestro  Principal  y  grande  amigo 
y  protector  Martim  Afonso,  el  qual  después  de  se  aver 
hecho  enemigo  de  sus  próprios  hermanos  y  parientes  por 
amor  de  Dios  y  de  su  Iglesia,  y  después  de  le  aver  dado 
N.  Sefior  victoria  de  sus  enemigos,  estando  él  con  grandes  245 
propósitos  y  muy  determinado  de  defender  la  causa  de  los 
christianos,  y  nuestra  casa  de  S.  Pablo,  que  él  bien  conos- 
cía  aver  sido  edificada  en  su  tierra  por  amor  dél  y  de  sus 
hijos,  le  quiso  Dios  dar  el  galardón  de  sus  obras,  dándole 
una  dolência  de  câmaras  de  sangre,  en  la  qual  como  no  250 
uviesse  serial  de  mejoría,  mando  llamar  un  Padre,  que 
quasi  cada  dia  lo  visitava  y  curava,  y  se  confesso  y  al 
otro  dia  se  torno  a  reconciliar  con  grande  sentimiento  de 
su  vida  passada,  y  de  no  aver  bien  guardado  lo  que  le 
aviamos  ensefiado,  con  tanto  seso  y  madureza  que  no  255 
parescía  hombre  brasil.  Hizo  su  testamento  y  dexó  encom- 
mendado  a  su  muger  y  hijos  que  siguiessen  nuestras  pala- 
bras  y  doctrina,  y  dia  de  la  Natividad  16  de  N.  Sefior  Jesú 
Christo  murió  para  nascer  en  nueva  vida  de  gloria  como 
esperamos.    Fué  enterrado  en  nuestra  iglesia  con  mucha  260 


237    paresce  eorr.  ex  parsce 


16   25  de  Dezembro  de  1562. 


556 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


honrra,  acotnpanándole  todos  los  christianos  Portogueses 
con  la  cera  de  su  coníradía  17 '. 

Quedo  toda  la  Capitania  con  grande  sentimiento  de  su 
muerte  por  la  falta  que  sienten  todos  que  les  haze,  porque 

2Ó5  este  era  el  que  sustentava  tódolos  otros,  conosciéndose 
todos  serie  muy  obligados  por  el  trabajo  que  tomó  en 
defender  la  tierra.  Más  que  todos  creo  que  le  devemos 
nosotros  los  de  la  Companía,  y  por  esso  determinó  de 
darlo  en  cuenta  no  sólo  de  bienhechor,  mas  aún  de  fun- 

270  dador  y  conservador  de  la  casa  de  Piratininga  y  de  nues- 
tras  vidas.  Porque  aviendo  él  ayudado  a  hazerla  con  sus 
próprias  manos,  y  aviéndonos  ayudado  a  sustentar  luego 
en  el  principio  de  su  fundatión,  que  no  avia  allá  ningunos 
Portogueses,  agora  lo  quiso  hazer  Dios  nuestro  defensor, 

275  y  puso  en  sus  manos  la  vida  de  diez  18  Hermanos  que  en 
aquel  tiempo  de  la  guerra  nos  hallamos  en  Piratininga,  y 
todo  el  más  pueblo  de  los  Portogueses.  Y  digo  puso  en 
sus  manos,  porque  quasi  todos  los  de  aquella  comarca  que 
se  recogieron  con  nosotros  dependían  dél,  y  queriendo  él 

280  consentir  con  la  maldad  de  los  suyos  (como  ellos  mal  pen- 
saron)  poco  oviera  que  hazer  en  nos  matar  y  comer.  Esto 
creo  que  basta  para  dar  a  entender  la  obligatión  que  todos 
tenemos  de  lo  encommendar  a  N.  Senor.  Plega  a  su  divina 
Bondad  de  nos  abrir  puerta  para  se  poder  hazer  algun  pro- 

285  vecho  en  la  conversión  de  tanta  gentilidad  que  ay  en  esta 
tierra. 


17  Esta  Confraria  dos  Portugueses,  com  cera  para  acompanhar  os 
funerais,  parece  ser  já  de  Irmãos  da  Misericórdia. 

18  Os  Padres  e  Irmãos  da  Capitania  de  S.  Vicente  eram  13  ao  todo 
em  Abril  de  1562  (cf.  supra,  doe.  63).  Como  Piratininga  desde  Novem- 
bro de  1561  tornara  a  ser  casa  de  estudos  (carta  de  Março  de  1562  §  4), 
deveriam  estar  em  Julho  os  que  nesse  Catálogo  aparecem  como 
«escolares»,  supondo-se  que  ainda  perseverassem  todos.  Superior  da 
Capitania  era  o  P.  Manuel  da  Nóbrega,  ofício  que  o  obrigava  a  estar 
ora  numa  casa  ora  noutra,  tendo  entretanto  cada  uma  o  seu  Superior 
local,  que  em  Piratininga,  segundo  Vasconcelos  {Chronica,  liv.  II  n.  133) 
era  o  P.  Vicente  Rodrigues,  que  de-facto  aparece  Superior  de  São  Paulo 
no  Catálogo  de  1567  {Bras.       f.  8r). 


74.  -  S.  VICENTE  16  DE  ABRIL  DE  1563 


557 


11.  Anse  siempre  proseguido  los  sólitos  ministérios 
nuestros  de  doctrinas  y  confessiones  con  los  índios  y 
esclavos  assí  en  Piratininga  como  en  estos  lugares  marí- 
timos, accorriendo  a  unas  y  a  otras  partes  según  las  neces-  290 
sidades  occurrentes,  de  que  siempre  se  coge  algún  fructo: 
predicando  también  el  P.  Manoel  da  Nóbrega  a  los  Porto- 
gueses,  empleando  en  esto  y  en  otros  trabajos  en  servitio 

de  Dios  N.  Sefior  la  salud  que  su  divina  Bondad  se  a 
dignado  de  le  communicar,  la  qual  al  presente  es  mucha,  295 
y  más  de  lo  que  esperávamos  que  fuesse,  según  las  graves 
enfermedades  en  que  estava,  como  se  avrá  sabido  por  las 
letras  passadas.  Bendito  sea  el  Senor  en  sus  dones. 

12.  Esta  Quaresma 19  se  a  soccorrido  a  la  Villa  de 
Sanctos,  que  es  la  principal  habitatión  desta  Capitania,  300 
con  un  sacerdote  y  un  Hermano  intérprete  para  la  doctrina 

y  confessión  de  los  esclavos,  onde  estuvieron  quinze  dias 
solos  por  poder  acudir  a  otras  partes;  los  quales  íueron 
tan  bien  gastados  que  desde  ante  mariana  hasta  grande 
parte  de  la  noche  se  occupavan  en  confessiones,  haziéndose  3°5 
doctrina  por  la  mariana  [ro3r]  y  tarde  a  todos,  machos  y 
hembras,  a  quantos  venían,  y  a  la  noche  en  special  a  los 
esclavos.  Como  supieron  que  éramos  llegados  para  los 
ensenar  y  confessar  concorrió  gran  multitud  dellos  de  las 
haziendas  con  grandes  desseos  de  confessarse.  Y  lo  mejor  3TO 
es,  que  como  no  saben  usar  de  muchas  cortezías,  ni  aver 
respecto  más  que  a  su  devotión,  dales  poco  si  estamos 
cansados,  si  tenemos  necessidad  de  sueno  o  no,  y  assí  se 
confesso  muy  gran  parte  dellos  aquellos  quinze  dias  que 
allí  estuvimos  con  mucho  provecho  de  sus  ánimas.  Y  como  3r5 
quiera  que  no  tienen  tantos  embaraços,  ni  curan  de  más 
que  de  servir  a  sus  senores,  algunos  dellos  ya  casados 
guardando  muy  bien  y  estimando  mucho  las  leyes  dei 


287    los  corr.  »x  so 


19  As  semanas  que  precederam  a  Páscoa,  que  em  1563,  foi  a  11  de 
Abril. 


558 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


matrimonio,  otros  solteros  venciendo  muchos  encuentros 

320  de  tentationes  de  diablos  encarnados  y  dando  mucho  cré- 
dito a  lo  que  les  ensenamos,  no  dudo  de  anteponerlos  a 
sus  senores,  los  quales  commúnmente  cada  vez  se  embaraçan 
más  con  diversos  géneros  de  impedimentos,  con  que  ni 
pueden  ni  quieren  admittir  el  remédio  que  les  quieren  dar 

325  los  de  la  Companía,  y  assí  recorren  a  otros  médicos  que 
les  encueren  las  llagas  por  encima  dexando  dentro  la  sánie 
corrompedora  que  penetra  hasta  las  entrarias.  No  dexo 
empero  de  aver  algunos  que  se  confiessan  y  commulgan 
muy  a  menudo  con  los  Padres,  siguiendo  en  todo  su  pares- 

330  cer  y  saludable  consejo  para  sus  ánimas. 

13.  Cumplidos  quinze  dias  que  estuvimos  en  la  Villa 
de  Sanctos,  onde  se  confessó  grande  parte  de  los  esclavos 
y  mugeres  de  los  portogueses,  las  quales  siempre  son  más 
devotas  que  sus  maridos,  nos  tornamos  a  este  Collegio  de 

335  S.  Vicente,  y  de  aqui  partimos  luego  a  otro  lugar  llamado 
Itanhaém,  seis  o  siete  léguas  por  la  playa,  que  es  frontera 
de  los  indios  que  se  levantaron  agora,  onde  también  se 
mudaron  a  morar  con  los  christianos  dos  Aldeãs  de  índios, 
matando  algunos  de  los  malhechores  que  también  venían 

340  sobre  aquella  poblatión,  y  agora  tienen  hechas  casas  de 
nuevo  junto  de  los  Portogueses,  desseando  ser  ensenados  y 
baptizados,  mas  por  falta  de  intérprete  no  se  puede  hazer 
nada  aora  al  presente.  En  esta  Villa20  avemos  estado  otro 
pedaço  de  la  Quaresma  occupándonos  en  los  mesmos  exer- 

345  citios  de  ensenar  y  confessar  senores  y  esclavos  de  noche 
y  de  dia  con  assaz  de  trabajo,  mas  mesclado  con  mucha 
consolatión  de  ver  la  diligentia  que  tienen  los  esclavos  en 
acudir  de  las  haziendas  en  que  están  derramados  a  confes- 
sarse,  y  quán  buen  cuidado  tienen  en  la  guarda  de  los  man- 

350  damientos  de  Dios. 

Entre  estos  índios  que  digo,  está  uno  que  creo  passa  de 
ciento  y  treinta  anos,  al  qual  todos  los  que  a  mucho  tiempo 


20  S.  Vicente,  segundo  parece,  depois  de  haverem  estado  o  Padre 
e  o  Irmão  nas  Vilas  de  Santos  e  Itanhaém.  Como  se  vê,  a  narrativa 
não  individua  nem  o  Padre  nem  o  Irmão. 


74.  -  S.  VICENTE  16  UE  ABRIL  DE  1565 


559 


que  lo  conoscen  dan  testimonio  de  aver  sierapre  bivido  sine 
querela  esse  tiempo  que  lo  conoscieron  assí  con  los  suyos 
como  con  los  nuestros  Portogueses.  Otra  vez  que  fuemos  a  355 
aquella  Villa21  por  la  fiesta  de  la Conceptión  de  N.  Sefiora22, 
a  quien  su  Iglesia  es  dedicada,  hablámosle  que  lo  quería- 
mos baptizar  porque  no  se  perdiesse  su  ánima,  mas  que 
por  entonces  no  podíamos  ensefiarle  lo  que  era  necessário 
por  falta  de  tiempo,  mas  que  estuviesse  aparejado  para  36° 
quando  bolviéssemos.  Holgó  él  tanto  con  esta  nueva  como 
venida  dei  cielo  y  túvola  tanto  en  memoria,  que  agora 
quando  bolvimos  y  le  preguntamos  si  queria  ser  christiano, 
respondió  con  mucha  alegria  que  si,  que  ya  desde  entonces 
lo  estava  esperando.  Tomándolo  pues  entre  manos  y  comen-  365 
çándole  a  ensefiar  las  cosas  más  essentiales  de  nuestra  fe, 
pensávamos  que  ya  no  pudiesse  tener  tino  en  nada  por  su 
grande  vejez  y  por  tener  ya  perdido  dei  ver  y  oir,  y  sus 
miembros  todos  poco  más  que  los  huessos  cubiertos  con  el 
cuero  muy  arrugado ;  mas  fué  al  contrario,  que  lo  que  la  37° 
mucha  edad  le  negava,  se  supplía  la  grande  voluntad  y 
desseo  que  tenía  de  ser  christiano,  maxime  después  que  le 
dimos  a  entender  quanto  le  iva  en  ello,  y  de  tal  manera  tomo 
lo  que  le  ensenávamos  que  no  me  acuerdo,  entre  muchos 
que  ya  e  instruído,  pequenos  y  grandes,  aver  hallado  tal  375 
aparejo  y  promptitud  como  en  este  viejo.  Dándole  pues  la 
primera  lición,  de  ser  un  solo  Dios  todo  poderoso  que  crió 
todas  las  cosas  etc,  luego  se  le  imprimió  en  la  memoria, 
diziendo  que  él  le  rogava  muchas  vezes  que  criasse  los 
mantenimientos  para  la  sustentatión  de  todos,  mas  que  380 
pensava  que  los  truenos  eran  este  Dios,  empero  agora  que 
él  sabia  aver  otro  Dios  verdadero  sobre  todas  las  cosas, 
que  a  él  rogaria  llamándole  Dios  Padre  y  Dios  Hijo.  Porque 
de  los  nombres  de  la  S.  Trinidad,  estos  dos  solamente  pudo 


353-354   sine  querela  sup. 


21  Itanhaém. 

22  8  de  Dezembro  de  1562. 


560 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


385  tomar,  porque  se  le  pueden  dezir  en  su  lengua,  mas  el  Spí- 
ritu  Sancto,  para  el  qual  nunca  hallamos  vocablo  próprio  ni 
circunlóquio  bastante,  aunque  no  lo  sabia  nombrar  sabíalo 
empero  creer  assí  como  se  lo  dezíamos. 

[103V]    Torné23  después  a  le  visitar  preguntándole  por 

390  su  lición.  Tornómelo  a  repetir  todo,  diziendo  que  la  maior 
parte  de  la  noche,  que  por  su  mucha  vejez  no  puede  dormir, 
estava  pensando  y  hablando  consigo  aquellas  cosas  des- 
seando  que  su  ánima  fuesse  al  cielo.  Quando  le  vine  a 
declarar  el  mysterio  de  la  Encarnatión  mostro  grande 

395  espanto  y  contentamiento  de  N.  Senora  parir  y  quedar 
Virgen,  preguntando  algunas  particularidades  acerca  desto 
(lo  qual  es  bien  ageno  de  los  otros  que  ni  saben  dudar  ni 
preguntar  nada),  y  hablando  palavras  affectuosas  de  amor 
de  N.  Senora;  y  nunca  más  se  le  olvido,  ni  el  mysterio,  ni 

400  el  nombre  de  la  Virgen.  El  nombre  de  Jesú  tuvo  más 
trabajo  en  retener,  y  para  esso  llamava  sus  hijos  y  nietos 
que  viniessen  a  oir  para  que  le  acordassen  lo  que  se  le 
olvidasse.  Y  los  hijos  y  nietos  también  nos  rogavan  que 
lo  baptizássemos.  Unos  dezían:  «Baptizad  a  mi  abuelo,  no 

405  vaya  su  ánima  al  infierno».  Otros:  «Baptizad  mi  padre 
para  que  vaya  su  ánima  al  cielo».  Y  assí  cada  uno  con  lo 
que  podia  lo  ayudava.  Lo  que  más  se  le  imprimió  íué  el 
mysterio  de  la  Resurrectión,  lo  qual  repetia  muchas  vezes 
diziendo:  «Dios  verdadeiro  es  Jesú  que  se  salió  de  la 

410  sepultura  y  se  fué  al  cielo,  y  después  a  de  venir  muy 
airado  a  quemar  todas  las  cosas». 

Finalmente  después  de  tener  sufficiente  conoscimiento 
de  las  cosas  de  nuestra  sancta  fe,  y  aborrescimiento  de  la 
vida  passada  con  muy  grande  desseo  dei  baptismo,  le 

415  lie  vamos  un  dia  a  la  Iglesia,  a  la  qual  él  fué  por  sus  pies 
sustentándose  en  un  bastón,  y  ayudado  de  sus  nietos  por 
un  monte  arriba  assaz  áspero  para  aquella  edad,  mas  el 


23  Ao  contrário  da  narrativa  da  missão  apostólica  pelas  vilas  do 
litoral  durante  a  quaresma  de  1563,  aqui,  neste  caso  particular  de  cate- 
quese, ocorrido  em  Dezembro  de  1562.  o  autor  da  carta  individua-se  a 
si  mesmo. 


74.  -  S.  VICKNTK  1G  UE  ABRIL  DE  1565 


561 


gran  ardor  de  su  ániraa  dava  fuerças  a  los  raiem bros  ya 
desfallescidos.  Llegando  a  la  puerta  de  la  Iglesia  lo  assen- 
tamos en  una  silla,  onde  ya  estavan  sus  padrinos  con  otros  420 
christianos  esperándole.  Allí  le  torné  a  dezir  que  dixesse 
delante  de  todos  lo  que  queria,  a  lo  qual  él  respondió  con 
gran  fervor  que  queria  ser  baptizado,  y  que  toda  aquella 
noche  estuviera  pensando  en  la  ira  de  Dios  que  avia  de 
tener  para  quemar  todo  el  mundo  y  destruir  todas  las  425 
cosas,  y  de  como  aviamos  de  tornar  a  resuscitar  todos, 
detestando  también  su  vida  passada,  diziendo  que  por  falta 
de  conoscimiento  de  la  verdad  comiera  él  carne  humana  y 
hiziera  otros  peccados  en  el  tiempo  de  su  mocedad,  mas 
que  agora  todo  aborrescía,  y  que  bastava  que  las  ánimas  430 
de  sus  passados  estavan  en  el  infierno,  mas  la  suya  queria 
que  fuesse  al  cielo  a  estar  con  Jesú,  de  que  todos  los  pre- 
sentes davan  gloria  a  Dios.  Estándole  pues  haziendo  los 
exorcismos,  un  poco  antes  de  la  benditión  dei  agua 24, 
començó  a  llorar  y  esfregar  los  pies  rauy  pensativo,  la  435 
causa  de  lo  qual  después  diré  como  él  mesmo  me  lo  contó. 
Después  de  lo  baptizar  y  hecho  todo  el  offício,  tornámosle 
assentar  en  su  silla,  diziéndole  sus  padrinos  y  otros  que 
estavan  presentes  que  se  alegrasse  pues  de  nuevo  era  nas- 
cido. Y  como  le  dixessen  sus  nietos  que  se  fuesse,  pre-  440 
guntó  él  muy  espantado:  para  onde?  Paresce  que  penso 
que  no  avia  más  de  tornar  de  la  Iglesia,  mas  que  de  allí 
se  avia  d'ir  para  el  cielo;  y  buelto  a  su  casa  començó  a 
llorar,  y  sus  hijos  y  nietos  con  él.  Al  otro  dia,  tornándo- 
nos  para  este  Collegio,  fuéme  a  despedir  dél,  y  él  me  dixo  445 
sin  yo  más  le  preguntar,  que  nunca  se  avia  de  olvidar  de 
mis  palabras,  diziéndome  más :  «Muy  alegre  estoy  que  a  d'ir 
mi  ánima  al  cielo  y  por  esso  llorava  yo  ayer  quando  me 


-(41    Paresce  corr.  tx  Parese 


24  Infere-se  destes  pormenores  litúrgicos  que  não  se  tratava  de 
baptismo  in  extremis,  mas  solene,  e  que,  portanto,  não  poderia  ser 
celebrado  senão  por  quem  já  fosse  ordenado.  Três  linhas  abaixo  fala 
no  plural,  mas  cala  o  nome  do  Padre. 

36 


562 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


baptizavan,  acordándome  de  mis  padres  y  abuelos,  porque 

450  todos  no  alcançaron  esta  buena  vida  que  yo  alcancé». 
Con  esto  nos  despedimos  dél  muy  consolados,  dexándole 
encommendado  a  sus  padrinos. 

Maravillas  son  estas  que  sabe  hazer  la  summa  bondad 
de  nuestro  Seiíor  con  sus  escogidos,  tornando  este  de  tanta 

455  vejez  a  la  infantia  y  innocentia  dei  baptismo,  y  en  tiempc 
que  ya  parescía  él  más  nino  que  viejo,  sin  tener  occupatión 
interior  ni  exterior  alguna,  por  lo  qual  esta,  que  tan  neces- 
sária le  era,  se  le  imprimió  tanto  en  el  coraçón.  Pocc 
tiempo  puede  bivir  naturalmente  y  paréscenos  que  no  le 

460  dilatava  Dios  la  vida,  sino  hasta  llegarlo  a  esta  hora  eu 
que  recibiesse  vida  de  gratia  para  ser  participante  de  la 
eterna  vida.  A  Dios  sea  gloria  por  todo. 

14.    Partidos  de  allí,  nos  tornamos  por  la  playa  bus- 
cando ánimas  perdidas  y  desamparadas  de  los  esclavos  de 

465  los  christianos  que  están  guardando  sus  labranças,  y  halla- 
mos  en  diversos  lugares  cinco  o  seis,  algunas  en  extrema 
necessidad  de  medicina  spiritual,  una  aqui,  otra  allí,  en 
unas  pobres  cabanas  metidas  por  las  selvas  onde  hazen 
sus  manteni[mi]entos.  A  unos  confessamos  de  toda  su  vida, 

470  porque  nunca  lo  avían  hecho,  siendo  ya  de  muy  luenga 
edad,  y  sangramos  juntamente;  a  dos  innocentes  baptiza- 
mos, que  si  Dios  N.  Seiíor  no  los  fuera  a  buscar  desta 
manera  no  sé  si  hallaran  entrada  para  la  vida  eterna.  Uno 
de  los  quales  hallamos  sólo  con  otra  nina  de  menos  edad 

475  que  él  en  una  choça  de  paja  junto  de  un  bosque,  mucho  al 
cabo  y  con  poca  esperança  de  vida;  y  sabiendo  dél  que 
no  era  christiano  y  que  lo  queria  ser,  lo  traximos  a  un 
rio  onde,  acordándonos  de  S.  Philippe  quando  baptizo  al 
eunucho  2'°,  lo  metimos  en  el  rio  y  baptizamos  llamándole 

480  Philippe.  Estos  pequenuelos  manípulos  se  cogen  por  estos 
caminos  con  assaz  trabajo  y  cansancio,  calores  y  lluvias. 
Sírvase  de  todo  Jesú  Christo  N.  Seiíor  que  con  immensos 
trabajos  de  su  vida  y  muerte  nos  andó  buscando  que  dei 
todo  estávamos  perdidos. 


35  Act.  Apost.  8,  36-38. 


74.  -  S.  VICENTE  16  DE  ABRIL  DE  1565 


565 


15.  [1041*]  Destotra  banda  dei  norte  tenemos  los  con-  485 
trarios  2(i,  enemigos  también  destos  nuestros  índios  2T,  de 
que  muchas  vezes  hee  escrito.   Estos  paresce  que  tienen 
justitia  contra  los  Portogueses  por  las  muchas  sin  justitias 

y  sinrazones  que  dellos  an  siempre  recibido,  y  por  esso 
los  ayuda  siempre  la  divina  Justitia  porque  vienen  muy  490 
a  menudo  por  diversas  partes,  por  mar  y  por  tierra  a 
saltear,  y  siempre  llevan  esclavos  de  los  christianos,  y 
a  los  mesmos  hombres  matan.  Y  agora  en  el  tiempo  28 
que  estos  índios  se  levantaron,  dieron  en  unas  haziendas 
y  tomaron  y  mataron  más  de  quarenta  animas  christianas  495 
de  esclavos  y  hijos  de  los  Portogueses;  y  abueltas  tres 
mugeres  casadas,  de  las  mestizas,  una  de  las  quales  les 
huyó  de  noche  desnuda,  y  las  otras  llevaron,  de  las  qua- 
les tenemos  nuevas  que  son  vivas.    Estas  son  unas  dos 
hermanas  que  aqui  siempre  oyan  la  doctrina,  y  se  confes-  5°° 
savan  y  commulgavan  mucho  a  menudo,  a  las  quales  dió 
N.  Senor  esfuerço,  maxime  a  una  delias  de  que  los  mesmos 
contrários  nos  contaron  en  particular  que,  queriendo  el 
que  la  captivara  tenerla  por  manceba,  nunca  lo  quiso  con- 
sentir ni  con  halagos  ni  con  amenazas,  hasta  que  determinó  5°5 
de  mataria,  a  lo  qual  ella  se  offresció  de  buena  voluntad  por 
no  offender  a  Dios;  y  estando  ya  su  senor  para  lo  poner 
por  obra,  se  lo  impidieron  otros  sus  parientes  diziendo  que 
la  dexassen  que  la  tornarían  a  rescatar  los  christianos  y 
con  esto  la  dexó.   Esto  hee  tocado  porque  de  todo  se  dé  5l° 
gloria  a  Dios,  el  qual  aún  de  las  mugeres  brasíllicas  tiene 
quien  de  grado  quiera  recibir  la  muerte  por  la  guarda  de 
la  castidad. 

16.  Viendo  el  P.  Manoel  da  Nóbrega  los  grandes  traba- 
jos  e  inquietatión  de  toda  esta  Capitania  con  los  contínuos  5r5 
incursos  destos  contrários  y  la  mucha  justitia  que  tienen 

de  su  parte,  se  determinó,  encommendándolo  mucho  a 
N.  Senor,  de  ir  a  tratar  pazes  con  ellos,  si  estos  pueblos 


26  índios  Tainoios. 

27  índios  Tupis  ou  Tupinaquins. 

28  Julho  de  1562. 


564 


IR.  JOSÉ  DE  ANCHIETA  -  P.  DIEGO  LAYNES 


de  los  Portogueses  quisiessen,  y  quedarse  entre  ellos  y  ellos 

520  venir  acá,  y  assí  aver  com municatión  y  concórdia.  Yaviendo 
ya  dos  anos  y  más  29  que  N.  Sefior  le  da  esto  a  sentir,  y 
faltando  siempre  opportunidad,  agora  quiso  Dios  abrir 
camino  para  ello.  Y  es  que  yendo  allá  un  barco  a  saber 
destas  mugeres  captivas,  fueron  muy  bien  recebidos  dellos, 

525  y  supieron  como  los  contrários  sabían  de  nuestros  desseos 
de  pazes,  y  como  se  levantaron  nuestros  Índios  contra  noso- 
tros.  Por  lo  qual  dessean  mucho  de  se  effectuar  las  pazes, 
maxime  sabiendo  que  los  Padres  an  de  ir  a  morar  entre 
ellos,  de  los  quales  a  mucho  tiempo  que  tienen  notitia  assí 

530  por  informatión  de  rauchos  esclavos  de  los  christianos  que 
daqui  huyen  y  ellos  llevan,  como  de  los  suyos  mesmos  que 
nosotros  impedimos  a  estos  Índios  nuestros  discípulos  que 
no  coman  ni  matem,  por  lo  qual  muestran  grandes  desseos 
de  nos  tener  consigo  para  les  ensenar  sus  hijos.    Es  esta 

535  una  nueva  de  grande  alegria  para  toda  esta  tierra,  y  mucho 
[más  para  nosotros  que  esperamos  que  por  esta  via  se  abrirá] 
alguna  puerta  para  ganar  muchas  ánimas  al  Senor. 

17.    Agora  están  aparejados  dos  navios  en  que  avemos 
d'ir  el  P.  Manoel  da  Nóbrega  y  yo  por  intérprete,  por  falta 

540  de  otro  mejor  porque  los  más  Hermanos  son  mandados  a 
la  Baya  a  tomar  ordenes30,  onde  tienen  bien  en  que  emplear 
sus  talentos  en  servitio  de  Dios  N.  Sefior  y  ayuda  de  las 
ánimas.  Queriendo  los  contrários  dar  rehenes  que  vengan 
acá,  nos  avemos  de  quedar  en  sus  tierras,  y  con  esto  espe- 

545  ramos  que  terná  algún  sosiego  esta  Capitania,  que  anda 
dellos  tan  infestada  que  ya  quasi  no  piensan  los  hombres, 
sino  en  como  se  an  de  ir  y  dexarla;  y  juntamente  se  podrán 


536    [más  —  abrirá]  ta;  charla  lactratu  ms. 


29  Portanto,  desde  princípios  de  1561.  «Longamente  amadurecido» 
(Capistrano  de  Abreu,  Capítulos  109). 

30  Gregório  Serrão,  Manuel  de  Chaves  e  Diogo  Jácome  (Leite, 
Breve  Itinerário  172;  e  supra,  p.  461).  A  chamada  à  Baía  já  tinha  sido 
feita  por  Nóbrega  em  1559  (supra,  p.  162)  e  entre  os  Irmãos,  para  se 
ordenarem,  incluía-se  Anchieta,  que  não  chegou  a  ir  (supra,  p.  146). 


74.  -  S.  vicente  16  de  abril  de  1565 


565 


amansar  y  subiectar  estos  nuestros  Índios,  para  se  poder 
hazer  algo  de  provecho  en  sus  ánimas,  y  assí  en  los  mis- 
mos  contrários,  en  los  quales  se  echará  agora  este  pequeno  55° 
fundamento,  sobre  el  qual  después  se  podrá  edificar  grande 
obra,  y  quando  más  no  fuesse,  ya  podría  ser  que  por  allí 
se  nos  abriesse  alguna  puerta  para  ir  más  presto  al  cielo. 
Estamos  ya  de  camino  para  esta  jornada  81,  entregándonos 
â  la  divina  Providentia  como  hombres  morti  destinatos  32,  555 
no  teniendo  más  cuenta  con  muerte  ni  vida,  que  quanto 
fuere  más  gloria  de  Jesú  Christo  N.  Senor  y  provecho  de 
las  ánimas  que  él  compro  con  su  vida  y  muerte  33. 

En  los  sanctos  sacrifícios  y  orationes  de  V.  P.  y  de  todos 
nuestros  charíssimos  Hermanos  desseamos  y  pedimos  mucho  56° 
ser  encommendados  a  Dios  N.  Senor  para  que  nos  dé  gra- 
tia  con  que  conoscamos  y  cumplamos  perfectamente  su 
sanctíssima  voluntad. 

Deste  Collegio  de  Jesú  de  S.  Vicente,  oy  16  de  Abril  de 
1563  anos.  565 

Minimus  Societatis  Iesu, 

Joseph. 

[104V.  Endereço  autógrafo :]  +  Al  muy  Reverendo  en 
Christo  Padre,  el  P.  M.  Diego  Laynez,  Praepósito  General 
de  la  Companía  de  Jesú.    Del  Brasil.    i.a  via.  57° 


31  A  jornada  de  Iperoig.  Para  a  qual  saíram  dois  dias  depois  da 
data  desta  carta,  a  18  de  Abril  de  1563.  O  facto  apresenta-se  aqui  em 
relação  com  a  Capitania  de  S.  Vicente.  Na  realidade,  são  os  pródro- 
mos  já  da  fundação  da  Cidade  do  Rio  de  Janeiro,  que,  com  a  dotação 
régia  do  Colégio  da  Baía,  constituirão  factos  centrais  do  IV  vol.  de  Monu- 
mento Brasiliae  (cf.  Leite,  História  1  366-368;  Breve  Itinerário  177-191). 

32  1  Cor.  4,  9. 

33  Cf.  Rom.  5,  9-11. 


CORRIGENDA 


Mon.  Bras.  i 


Pág.   68,  linha  22 


i-r,  16,  1  leia-sc  1-19,  16,  1 


Mon.  Bras.  11 


Pág.  105,  linha  14 

»    113,     »  r7 

»    279,     »  18 


primeira  leia-se  primeiro 
22  lcia-sc  24 

seguinte  lcia-sc  precedente 


Mon.  Bras.  m 


Como  dissemos  em  Mon.  Bras  II  475,  trata-se  de  composição 
manual,  a  mais  indicada  (com  a  monotípica)  para  este  género  de  livros. 
Sabem  os  peritos  que.  durante  a  impressão,  nem  sempre  o  impressor 
pode  advertir  a  tempo  a  queda  dalguma  letra  extrema  ou  sinal  diacrl- 
tico  móvel,  sobretudo  nas  versais  dos  títulos.  E  nos  títulos  dos  documen- 
tos verificamos  uma  ou  outra  queda  do  acento  agudo  ou  do  til.  Não 
atingindo  os  textos  críticos,  basta  aqui  a  observação  genérica  desta 
quase  insuperável  contingência  em  edições  de  grande  tiragem  como  é 
a  presente,  nas  suas  duas  modalidades  de  Monitineiita  e  de  Cartas 
(cf.  supra,  p.  115*). 

—  Esta  observação  e  até  esta  página  de  Corrigenda  poderia  talvez 
omitir-se  (e  outros  em  circunstâncias  idênticas  a  omitem).  Preferimos 
manter-nos  fiéis  ao  mesmo  preceito  científico  com  que  a  iniciámos 
em  1938  no  1  vol.  da  História  da  Companhia  de  Jesus  no  Brasil  (p.  605). 


ÍNDICE   ALFABÉTICO   E  REMISSIVO 


ONOMÁSTICO,  GEOGRÁFICO  E  IDEOGRÁFICO 

(Jesuítas  com  asterisco) 


Abrantes  (Brasil)  :  64. 
Abrolhos:  209. 

Academia  das  Ciências  de  Lis- 
boa :  —  Ver  Lisboa. 

Accioli  de  Cerqueira  e  Silva,  Iná- 
cio: Escritor:  41*  109*  68  285. 

Açúcar:  Serve  de  moeda  351  516. 
—  Ver  Agricultura  ;  ver  En- 
genhos. 

Adorno,  Francisco:  Provincial  177. 

Adorno,  José:  Morador  de  S.  Vi- 
cente. 177  181  196. 

África :  383. 

Agnus  Dei  :  326. 

Agostinho:  Santo.  78. 

Agricultura:  Legumes  e  frutas 
de  Portugal  e  do  Brasil  297463, 
plantas  medicinais  233-234  351, 
árvores  diversas  231-234  444, 
pau  brasil  490  494  500,  abó- 
boras 35,  açúcar  corre  como 
moeda  351  516,  Mem  de  Sá  dá 
40  arrobas  para  a  Casa  de  Ilhéus 
306;  174  291  321  494  (ver  En- 
genhos); aipins  416,  algodão 
172  494  (ver  Artes  e  Ofícios), 
ananases  350  543,  araçás  351, 
arroz  149,  bananas  406  463, 
camucis  351,  cânhamo  de  car- 
dos 256,  ibás  ou  pinhões  233 
351,  mandioca  (farinha  e  pão  da 
terra)  454,  149  231  416;  milho 


149  228  406  416;  a  função  das 

sesmarias  524-525. 
*  Aicardo,  José  M. :  Escritor.  41*  6. 
Aires,  Cristóvão:  Escritor.  522. 
Alagoas :  329-331. 
Alagón :  79*. 

Alão  de  Morais,  Cristóvão:  Escri- 
tor. 41*  81*. 

Alarcão,  Jerónimo  de :  327  522  524. 

Alatorre,  Antonio:  49*. 

Albernás,  Fernão  de  :  Morador  de 
São  Paulo.  271. 

Albuquerque,  D.  Brites  de:  Gover- 
nadora de  Pernambuco.  Pede 
a  volta  da  Companhia  325,  ale- 
gria quando  voltou  332-333. 

Alcácer- Ouibir :  148  332. 

Alcântara  Machado,  António  de : 
Escritor.  41*  43*  113*  203  215 
218  221-223  225  229  353  372  552. 

Álcool:  174. 

Aldeia  do  Aracaèm  :  477. 

—  Araraig:  552. 

—  Assunção:  Ao  sul  da  Baía  30  lé- 
guas por  terra  438  481  501,  «que 
é  em  Camamu»  503. 

—  Bom  Jesus:  Fundada  pelo  P. 
António  Rodrigues  386-387  418 
420,  constituída  por  15  aldeias 
do  sertão  da  Baía  388-389,  qua- 
trocentos meninos  de  escola 
389,  grande  baptismo  e  casa- 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  F.  REMISSIVO 


mentos  472-4741  92  39o  475  483 
484  538. 

Carão  :  64  122  126  127. 
Conceição :  De  Índios  do  Gato 
467,  fundação  e  catequese  466- 
-467. 

Cuirístiba  :  509. 
Espirito  Santo :  No  Rio  de 
Joane  51  87,  a  maior  de  todas 
298,  três  léguas  mais  longe  que 
a  de  S.  João  132,  começada  por 
João  Gonçalves  e  António  Ro- 
drigues 60,  igreja  edificada  por 
António  Rodrigues  134,  retá- 
bulo vindo  de  Portugal  152, 
casas  de  taipa  66,  escola  de 
António  Rodrigues  64  65  121- 
-122  138,  os  meninos  (300)  são 
quase  todos  cristãos  65*  28r, 
residência  de  Nóbrega  157, 
grande  baptismo  170,  ministé- 
rios de  Grã  311-312,  missa  nova 
471,  muda  de  sítio  415-416,  ses- 
maria dos  Índios  70*  507-511  ; 
5  63  120  122  124  126  141  154  239 
315  5°4- 

Geraibatiba  :  104.  —  Ver  Gerai- 
batiba. 

Guarulhos :  458. 
Iperuibe :  375. 

Itapuã :  142.  —  Ver  Itapuã. 
Jaravaia :  40. 
Maraguí:  47. 

Piratininga :  —  Ver  São  Paulo 
de  Piratininga. 
Reis :  302. 
Reritiba  :  458-459. 
Rio  Vermelho :  84. 
Santa  Crus  :  Fundação  406-407 
425,  posição  primitiva  442,  so- 
lene pontifical  62*  447,  incêndio 
da  igreja  por  uma  feiticeira 
501-502  ;  468  471.  —  Ver  Ilha  de 
Itaparica. 

S.  André:  A  oito  léguas  além 
de  S.  Pedro  476,  fuga  dos  Índios, 


logo  recuperados  por  António 
Rodrigues  484-485 ;  538. 

—  S.  António :  Na  costa  atlântica 
a  onze  léguas  da  Baía  414  418 
483,  recepção  do  P.  Grã  312  313, 
ministérios  471-472 ;  388  405  488 
508-509. 

—  S.  João  :  Orago  S.  João  Evan- 
gelista a  4  ou  5  léguas  da  Baía 
51  87  132,  do  gentio  de  Miran- 
gaoba  87  e  doutras  aldeias  por 
ordem  de  Mem  de  Sá  138,  retá- 
bulo vindo  de  Portugal  152, 
fuga  dos  índios  299,  reconsti- 
tuída (orago  S.  João  ante  por- 
tam latinam)  em  lugar  diferente 
no  Recôncavo  a  7  ou  8  léguas 
da  Baía  483,  pela  reunião  de  12 
ou  13  aldeias  399,  catequese  e 
casos  edificantes  401-405,  re- 
cepção de  Grã  404-405 ;  59  62 
124  239  336  399  414  416  482  509 
536. 

—  S.  Miguel:  A  20  léguas  ao  sul 
da  Baía  481  501-503  546. 

—  S.  Paulo  (Baia):  Orago  Nossa 
Senhora,  formada  de  tiês  al- 
deias e  parte  doutra  290,  a  uma 
légua  da  Baía  51  132,  primeira 
missa  na  igreja  86-87,  retábulo 
vindo  de  Portugal  152,  grande 
escola  de  ler  e  escrever  65*  94 
132,  com  muitos  índios  casados 
311  413,  semana  santa  54-56, 
residência  do  Provincial  Nó- 
brega 54,  e  do  Provincial  Grã 
189-190;  62  88  110  iii  126  133 
16  r  239  407  418  423  424  471. 

—  5.  Paulo  de  Piratininga:  Faz-se 
vila  (ver  São  Paulo  de  Pirati- 
ninga). 

—  S.  Pedro:  A  dez  léguas  além 
do  Bom  Jesus  475  476,  primeira 
missa  nela  do  P.  António  Ro- 
drigues 484  ;  481  483  538. 

—  S.  Sebastião  :  84. 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


5H9 


—  S.  Tiago:  A  derradeira  feita 
(1559)  antes  de  Mem  de  Sá  ir 
para  o  sul  314,  retábulo  vindo 
de  Portugal  152,  muda-se  para 
perto  de  S.  João  300,  grande 
festa  420-423;  61*  123-124,  239 

307  315  398,  414  4X5  482  509  538- 

—  Tinharé :  426. 

Aldeias  :  Da  Doutrina  64,  neces- 
sidade de  os  índios  se  reuni- 
rem em  Aldeias  por  serem  mui- 
tos e  os  Padres  poucos  61* 
544,  multiplicam-se  na  Baía  de- 
pois da  sujeição  do  gentio  61 
51  255,  de  residência  e  de  visita 
87;  António  Rodrigues  «vai 
sempre  adiante  a  esmoutar  a 
terra»  60,  a  cruz  grande  de  San- 
tiago 301,  ajuda  de  Mem  de  Sá 
51  85,  só  não  fez  mais  por  não 
ter  meios  de  sustentação  170,  o 
Bispo  também  ajuda  62*,  objec- 
tos enviados  de  Portugal  153. 

Quando  Nóbrega  foi  para  o 
sul  (1560)  já  360  moços  de  es- 
cola sabiam  ler  e  escrever  65*- 
-66*  170. 

Grã  reúne  na  Baía  os  Padres 
e  índios  principais  das  Aldeias 
278,  aldeias  pequenas  (15)  que 
se  querem  juntar  numa  grande, 
e  mais  doze  que  se  querem 
juntar  noutra  389-390,  índios 
dos  sertões  que  se  aldeiam  na 
costa-mar  sem  constrangimento 
389-390  476 ;  84  161  162  239  290. 

Na  Capitania  do  Espírito 
Santo  40  47. 

Nos  arredores  de  São  Paulo 
de  Piratininga  não  há  Aldeias 
da  Doutrina,  Nóbrega  ao  voltar 
da  Baía  manda  aos  Irmãos  vi- 
sitar os  índios  dispersos  250- 
-25 r  370-371.  — Ver  Direito  Pe- 
nal nas  Aldeias. 
Alegre,  Tomás  :  Florentino  98  328. 


Alemanha  :  33  185  244  394  513. 
Alenquer :  307. 
Alentejo :  27. 
Algarves  :  387. 

Algodão:  —  Ver  Agricultura  ; 
ver  Vestidos. 

Alimentação:  —  Ver  Sustenta- 
ção (Meios  de). 

Almazán :  78*. 

Almeida,  António  Rodrigues  de  : 

Morador  de  S.  Vicente.  178  184 

187-189  201. 
Almeida,  Fortunato  de  :  Escritor. 

41*  23  148. 
Almeida  Prado,  J.  F.  de  :  Escritor. 

41*  195. 
Almeirim  :  82*. 
Alpedrinha :  95. 
Alto  Douro  :  397. 
Álvares,  Catarina :  479. 
Álvares,  Diogo  :  —  Ver  Caramuru. 
Álvares,  Diogo:  Capitão  192. 
Álvares,  Gonçalo  :  O  do  «Diálogo» 

de  Nóbrega.  Intérprete  46  47. 
*  Álvares,  Manuel:  Pintor.  Vida  92*, 

45*  78*,  frontispício  («aguada») 

pintado  na  Baía  64*  411 ;  272 

279  303  304  309. 
Álvares,  Sebastião  :  Escrivão.  244 

277. 

Alves,  Isaías  :  Escritor.  41*  172. 
Amann,  É. :  Escritor.  44*. 
Amaral,  Afrânio  do  :  Escritor.  203 

213  216  218. 
Amaral,  Brás  do :  Escritor.  41* 

109*  68  205. 
Amazonas :  208  291. 
Amazónia :  228. 
Âmbar:  494. 

América :  «Que  é  o  Brasil»  321,  o 
primeiro  Jesuíta  77*  182  223. 

América  Espanhola  :  68*  89  518. 

América  Portuguesa  :  68*.  —  Ver 
Brasil. 

«Anais  da  Biblioteca  Nacional  do 
Rio  de  Janeiro»  :  41*  110*. 


570 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


Ananás:  67*  350  543. 

Anchieta,  José  de:  5.0  Provincial 
do  Brasil  117*.  Epistológrafo 
337,  informa  correctamente  so- 
bre a  jurisdição  da  Companhia 
na  conversão  do  gentio  72,  notí- 
cia latina  sobre  as  coisas  natu- 
rais da  Capitania  de  S.  Vicente 
(doe.  34)  67*  202-236,  tradução 
portuguesa  deste  documento 
115*,  escreve  a  arte  da  língua 
brasílica  que  se  ensina  na  Baía 
283  310-311,  naufrágio  209,  de- 
sejo do  martírio  262. 

Intervenção  no  processo  de 
Bolés  180  187-188  265-267,  cha- 
mado à  Baía  por  Nóbrega  para 
se  ordenar  de  sacerdote  146  162 
564,  mestre  de  latim  em  S.  Vi- 
cente e  Piratininga  e  o  que 
pensa  dos  talentos  brasílicos 
454,  trata-se  de  lhe  dar  substi- 
tuto para  se  ocupar  em  coisas 
mais  úteis  à  conversão  do  gen- 
tio 544,  irá  como  intérprete  de 
Nóbrega  na  jornada  de  Iperoig 
564- 565,  carta  perdida  248;  41* 
43*  78*  94*  107*  108*  in*-ii3* 
117*  119*  11  35  136  177  199  246 
354  367  382  45 1  456  458  546- 

Andaluzia :  80*  495. 

Andrade,  Manuel  de:  406  407. 

Anes,  Domingos:  — Ver  Pecorela. 

Anes,  João:  Morador  de  São  Paulo. 
347- 

Angola:  Expedição  missionária 
com  os  embaixadores  166-167, 
livros  e  outros  objectos  man- 
dados de  Portugal  486;  107  108 
303  3i6  348  383  385- 

Anta  :  222. 

Antilhas  :  72  92  294  486. 

António:  Santo.  —  Ver  Culto. 

Antropofagia  :  A  grande  felici- 
dade dos  índios  serem  «valen- 
tes e  comedores  de  escravos» 


476,  cerimónias  da  morte  do 
cativo  em  terreiro  26r,  «morre- 
rás» palavra  solene  do  rito  262. 

No  tempo  de  D.  Duarte  da 
Costa  84,  os  índios  do  Tuba- 
rão e  Mirangaoba  uns  contra 
os  outros  89,  os  moradores  con- 
sideravam-na  útil  à  segurança 
da  terra  90,  aprovavam-na  ca- 
pitães e  prelados  76,  dizem  que 
os  franceses  davam  cativos  a 
comer  aos  índios  330,  os  índios 
comem  os  náufragos  82,  o  caso 
do  religioso  que  estimulou  a 
antropofagia  29,  impossibilitava 
a  doutrina  cristã  89-90. 

Tratado  de  Nóbrega  contra 
a  antropofagia  77,  proibe-a  e 
combate-a  Mem  de  Sá  86-87, 
vai  desaparecendo  e  castiga-se 
quem  desobedece  57  91-92. 
não  comer  carne  humana  con- 
dição de  paz  nas  guerras  de 
Ilhéus  e  Paraguaçu  96  140  240, 
proibe-se  até  onde  chega  o 
poder  do  Governador  239,  já 
se  não  pratica  nas  Aldeias  da 
Baía  (1560)  313,  baptismo  so- 
lene de  índios  que  quatro  anos 
antes  ainda  comiam  carne  hu- 
mana 135  536,  o  grande  Caqui- 
riacum  «comedor  de  carnes 
humanas»  faz-se  catecúmeno 
387,  os  índios  do  Rio  de  S.  Fran- 
cisco desejam  que  os  Padres 
vão  fazer  as  pazes  entre  eles 
para  deixarem  de  se  comer  488. 

Os  antigos  catecúmenos  de 
São  Paulo  de  Piratininga  ainda 
matam  em  terreiro  258-262,  já 
não  comem  carne  humana  mas 
alguns  ainda  a  dão  a  comer 
aos  parentes  gentios  76*  370, 
espera-se  a  sua  sujeição  para 
a  deixarem  de  praticar  370-371 ; 
ainda  comem  carne  humana  os 


Índice  alfabético  e  remissivo 


571 


Tupinaquins  do  Espírito  Santo 

468 ;  57*  58*  38  52  58  59  93  94 

98  160  455  56 E. 
Antunes,  Heitor:  527-528. 
Apacê :  —  Ver  Passe. 
Aracaju  :  398. 
Aragão :  79*. 
Aranhas  :  218. 

Archivum  Romanum  Societatis 
Iesu  (ARSI) :  —  Ver  Roma. 

Arco  :  92*. 

Arembc :  127  312. 

Armadas  :  —  Ver  Navios. 

Armadores:  171  274. 

Armas:  Dos  Capitães-mores  e 
Senhores  de  Engenho  85,  dadas 
pelos  Franceses  aos  Tamoios 
345,  pedem-nas  os  moradores 
de  São  Paulo  346,  necessidade 
de  o  Brasil  ter  mais  pólvora  e 
munições  para  se  defender  497. 

Arquitectura  :  —  Ver  Artes  e 
Ofícios. 

Arquivo  Histórico  Ultrama- 
rino :  —  Ver  Lisboa. 

Arquivo  Nacional  da  Torre  do 
Tombo  :  —  Ver  Lisboa. 

Artes  e  Ofícios  :  Os  Irmãos 
ocupam-se  em  trabalhos  ma- 
nuais 70*  256,  alfaiates  256, 
alpercateiros  70*  256,  barbei- 
ros 256,  dois  aparelhos  de  bar- 
bear enviados  de  Portugal  153; 
construtores  de  casas  de  taipa 
70*  256,  repartimeDto  de  pau  a 
pique  501,  casas  de  índios  à 
moda  dos  Portugueses  75*  66 
137,  construções  em  Pernam- 
buco 334,  igreja  nova  da  Baía 
(de  pedra  e  cal)  431  449, 
em  Ilhéus  540;  cozinheiro  463, 
enfermeiros,  sangrar  e  curar 
doentes,  enfermarias  nas  Al- 
deias (ver  Doenças  ;  ver  Fle- 
botomia),  escreventes  (copis- 
tas) 385,  ferreiro  4  38r,  ferraria 


tomada  aos  franceses  22,  hor- 
telão 463,  oleiros  70*  256,  sapa- 
teiros 70*  256,  torneiros  (fabri- 
cantes de  rosários)  70*  256. 

Objectos  enviados  de  Por- 
tugal :  retábulos  70*  152  517 
518,  sacrário,  custódia  e  por- 
tal de  mármore  486,  retábulo 
oferecido  pelo  Bispo  417,  ima- 
gens 411,  a  bordo  498,  pintura 
(«aguada»)  92*  279  411,  prateiro 
de  Lisboa  (na  Bala)  410. 

Rapazes  índios  dados  a  ofí- 
cios 359  361,  tecelões  75*  468, 
índias  fiandeiras  e  alfaiatas  75* 
294  466  468,  camisas  de  algodão 
para  mulheres  índias  172. 

Árvores  :  —  Ver  Agricultura. 

Assis,  Francisco  de:  Santo.  364  366. 

Assistência  :  —  Ver  Misericór- 
dia (Obras  de). 

Assistência  de  Portugal  S.  1. : 
116*. 

*  Astrain,  Antonio :   Escritor.  42* 

ii8*-H9*. 
Ávila,  Garcia  de:  Morador  da  Baía. 
94  98  99- 

Ayrosa,  Plínio:  Escritor.  42*  51* 
91*  195. 

Azeite  :  Enviado  de  Portugal  152. 

Azeredo,  Miguel  de  :  Capitão-Mor. 
Virtude  e  capacidade  para  su- 
jeitar os  índios  e  resistir  aos 
Franceses  464-465,  invoca  S. 
Tiago  antes  de  ir  às  guerras  465. 

Azeredo,  Simão  de  :  21  41. 

*  Azevedo,  Inácio  de:  Visitador  do 

Brasil.  61*  88*  93*  117*  356  517 
544- 

Azevedo,  Pedro  de  :  Escritor.  42* 
522. 

Azevedo  Marques,  Manuel  Eufrá- 
sio de :  Escritor.  42*  110*  197 
199  201  270. 

*  Azpilcueta  Navarro,  Juan  de  :  85 

118  146  357. 


572 


ÍNDICE   ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


Baia  :  Cidade  metropolitana  434, 
até  1552  vida  cristã  exemplar 
73,  mau  exemplo  dalguns  clé- 
rigos 73,  «guerras  civis»  entre 
o  Bispo  e  o  Governador  83, 
carta  régia  à  Câmara  para  favo- 
recer a  Companhia  e  não  vexar 
os  índios  13-15,  a  Câmara  e  a 
repartição  dos  índios  91-93,  e  a 
Mesa  da  Consciência  173. 

Progresso  e  estabilidade  de- 
pois da  chegada  de  Mem  de  Sá 
e  a  sujeição  do  gentio  i6r,  com 
as  terras  conquistadas  podia-se 
fazer  um  reino  170,  o  bom  exem- 
plo da  Baía  desejado  também 
em  São  Paulo  de  Piratininga 

37i  397- 

Pregação  do  P.  Nóbrega  131 
397,  Confraria  dos  Meninos  de 
Jesus  357,  ministérios  da  Com- 
panhia 285,  arribada  da  nau  da 
índia  «S.  Paulo»  276-277,  carta 
de  Manuel  Álvares  pintor  272, 
criação  de  gado  349  ;  62*  73*  89* 
93*  107*  5  12  17  18  34  49  53  57 
79  82  95  97  113  ir8  125  128  129 
141  144  150  175  177  181  184  189 
194  209  213  228  246  275  307  325- 

-329  353  364  367  392  397  398  4" 
424  451  460  469  508  517  528  529 
532  554.  —  Ver  Colégio  da 
Baía;  ver  Aldeias. 

Baldus,  Herbert:  Escritor.  42*  67. 

Bandeiras  :  —  Ver  Minas. 

Baptismo  :  — Ver  Sacramentos. 

Baptista  Caetano  de  Almeida  No- 
gueira: Escritor.  43*. 

Barbas:  Um  índio  deixa-as  cres- 
cer por  afeição  aos  costumes 
portugueses  441. 

Barbeiros:  153256. 

Barbosa,  Gaspar:  Capitão.  186  192. 

Barbosa  Machado,  Diogo  :  Escri- 
tor. 42*  67  118  120  123  124  142 
237  272  285  307  323. 


Barcelos :  95*  398  529. 

Barradas,  Manuel  Álvares :  Licen- 
ciado. 55. 

Barreiros,  D.  António:  Bispo  do 
Brasil.  333. 

Barreto,  Francisco  de  Morais:  375. 

Baudrillart,  A.:  Escritor.  182. 

Bebidas  :  —  Ver  Vinhos. 

Beja  :  101*. 

Bélgica :  513. 

*  Beliarte,  Marçal :  6.°  Provincial  do 

Brasil  117*.  Notícia  e  louvor  de 
Leonardo  do  Vale  9o*-9i*. 

*  Beringer,  F. :  Escritor.  42*  143. 
Berrien,  William  :  Escritor.  47*. 
Bertioga :  453  554. 

Betencort,  Francisco  de  :  523-524. 
«Bíblia»:  Livro  dos  Macabeus  186. 
Biblioteca  da  Academia  das 
Ciências  :  —Ver  Lisboa. 

—  da  Ajuda  :  —  Ver  Lisboa. 

—  Pública  e  Arquivo  Distrital 
de  Évora  :  106*. 

—  Nacional  :  — Ver  Lisboa;  ver 
Madrid  ;  ver  Rio  de  Janeiro. 

Billom :  459. 

Bispo  :  Como  Nóbrega  e  Tomé 
de  Sousa  o  desejavam  no  Bra- 
sil 72. 

*  Blázquez,  António  :  Epistológrafo 

e  Mestre  de  Meninos.  Escola 
de  ler  e  escrever  505,  doente 
435  436 ;  75*  77*  86*  108*  m* 
5  13  67  113  118-129  135  140  T41 
146  162  165  209  336  386  388  394 

395  397  4°9  429- 
:  Bliart,  Pierre :  Escritor.  50*. 

Bobadilla,  Fr.  Francisco  de:  Do- 
minicano. Confessor  da  rainha 
D.  Catarina  80*. 

Bois-le-Comte :  182  264. 

Bolandistas :  38L 

Bolés,  João  de :  Devassa  e  pro- 
cesso da  Inquisição  175-196,  781 
105*  11  80  199  263-267  498-499. 

Bolonha :  3. 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  K  REMISSIVO 


575 


Bora,  Catarina:  185. 

Borba  de  Morais,  Rubens  :  Escri- 
tor. 47*. 

Borda  do  Campo :  189  190  199. 

Bordões  :  De  cruz  dados  pelos 
Padres  aos  índios  372,  do  Bispo 
424;  217. 

Borges,  Pero:  Ouvidor  Geral.  89 
136  151  198. 

Borges,  Pero  :  Pai  do  P.  Rui  Pe- 
reira 92*. 

Borja,  Francisco  de :  Santo  42* 
93*  106. 

Borromeo,  Carlos  :  Santo.  177. 

Botânica  :  — -  Ver  Agricultura. 

Braancamp  Freire,  Anselmo  :  Es- 
critor. 42*  333  495. 

Braga :  92*  191  529. 

Bragança  :  86*  90*  307. 

Bragança,  Duque  de  :  102*. 

Bragança,  Francisco  Tavares  de : 
Escritor.  116*. 

Brás,  Afonso:  Fundador  do  Colé- 
gio do  Espírito  Santo.  Prega- 
dor no  Minho  81*,  Superior 
da  2.a  expedição  missionária 
59*,  Coadjutor  Espiritual  4  458, 
constrói  e  ajuda  os  índios  de 
Piratininga  a  construir  casas 
de  taipa  260,  caridade  com  uma 
índia  doente  253  ;  357. 

Brasil :  Pau  «brasil»  171  243,  gente 
(«homem  brasil»)  405,  língua 
(«falar  brasil»)  487,  terra  («Amé- 
rica que  é  o  Brasil»)  321. 

Descobrimento  em  1500  e 
primeiras  cartas  dos  Jesuítas 
67*,  salubridade,  abundância, 
paraíso  na  terra  296-297,  água 
boa,  terra  sadia  e  bons  ares 
487-488  500,  possibilidade  de 
fazer  armadas  com  madeiras 
da  terra  245. 

Povoamento  97,  é  preciso 
facilitá-lo  com  perdões  170-171, 
necessidade  de  capitães  hon- 


rados e  de  boas  consciências 
171,  precisa  mais  de  morado- 
res que  de  soldados  245,  e  de 
ter  armas  suficientes  para  se 
defender  contra  o  perigo  ex- 
terno (francês)  497. 

Fazendas  e  Engenhos  meios 
eficazes  de  povoamento  97*, 
não  se  povoará  com  qualquer 
paz,  mas  ganhando-se  103,  os 
catecúmenos  da  Baía  ajudam 
os  Portugueses  nas  guerras  ao 
gentio  58  157  158,  guerras  dos 
Ilhéus  e  Paraguaçu,  sujeição  e 
integração  do  gentio  no  Estado 
do  Brasil  74*-75*  240,  vir  ao 
Brasil  não  ê  perder  tempo  287. 

Construção  moral  do  Brasil 
(carta  de  Nóbrega  a  Tomé  de 
Sousa)  67-105,  os  índios  cris- 
tianizam-se  e  civilizam-se  87, 
metem-se  em  «ordem  de  polí- 
cia cristã»  122,  começam  a  con- 
tentar-se  dos  bens  da  paz  89, 
paz  e  frutos  dela  429,  pazes 
entre  índios  contrários  (rito  da 
aliança)  478-480,  família  mono- 
gâmica 315,  os  índios  cristãos 
casam-se  pela  Igreja  (ver  Sa- 
cramentos), os  não  baptizados 
casam  civilmente  com  teste- 
munhas e  registo  num  livro 
295- 

Confraternizam  índios  e 
Portugueses  em  banquetes  75* 
136,  Brancos  e  índios  já  podem 
ir  seguros  entre  os  gentios  dos 
sertões  da  Baía  292;  a  «ban- 
deira» e  a  «espada  de  pau»  de 
Tibiriçá  em  Piratininga  553, 
resultados  do  plano  civilizador 
de  Nóbrega  74*,  sentido  de  uni- 
dade, segurança  e  previsão  77*, 
unidade  religiosa  estímulo  para 
a  unidade  territorial  76*,  es- 
trangeiros 195,  correspondên- 


574 


índice  alfabético  e  remissivo 


cia  epistolar  385,  procuratura 
S.  I.  em  Lisboa  383,  objectos 
enviados  de  Portugal  e  da  ín- 
dia 517-518,  o  Brasil  não  vale 
menos  que  a  índia  e  vai  em 
grandíssimo  crescimento  494; 
e  passim  (todo  o  livro). 

Brásio,  António  :  Escritor.  167. 

Brito  Aranha,  P.  V. :  Escritor.  42* 
50*  202  237  546. 

Brotas  .-51. 

«Brotéria» :  42*. 

Buarque  de  Holanda,  Sérgio  :  Es- 
critor. 42*  74  191  212. 
«Bula  da  Ceia»:  318  319. 
«Bullarium  Patronatus»:  42*. 

Cabelos  :  —  Ver  Índios. 

Cabo  de  S.  Agostinho :   275  276 

325  334- 

Caça  :  222  224  467-468. 

Caiubi :  —  Ver  índios. 

Calçado  :  Sapatos  enviados  de 
Portugal  153,  feitos  em  Firati- 
ninga  256. 

Caldas,  Vasco  Rodrigues  de:  Ca- 
pitão. Nas  guerras  de  Ilhéus 
100  102,  do  Paraguaçu  58  96,  en- 
trada a  descobrir  oiro  499-500. 

Calendários:  Juliano  e  Grego- 
riano 208. 

Calmon,  Pedro :  Escritor.  42*  81 
82  94  95  327. 

Calvinistas:  Processo  de  Bolés 
175-196,  matam  no  mar  o  Go- 
vernador D.  Luís  de  Vascon- 
celos 97* ;  264. 

Calvino,  João:  Heresiarca.  182  186 
244  264  363. 

Cnmamu  :  Aldeia  de  N.a  S.a  da  As- 
sunção 503,  sesmaria  e  doação 
de  Mem  de  Sá,  70*  78*  97*  521- 
-532 ;  327- 

Camara,  Rui  de  Melo  da  :  Capitão. 
279. 

Camaragibc  3  331. 


Camas  :  297.  —  Ver  Redes. 

Caminhos:  Mem  de  Sá  abre  um 
de  três  léguas  para  passar  ho- 
mens e  cavalos  na  guerra  do 
Paraguaçu  158,  caminho  novo 
de  Piratininga  para  o  mar  198- 
-199,  morte  de  Portugueses  no 
do  Paraguai  343,  caminho  por 
terra  entre  a  Baía  e  Ilhéus  438, 
de  índios  404  475  499. 

Campainhas:  Enviam-se  de  Por- 
tugal 152  518. 
*  Campo,  António  do  :  459. 

Campo  de  Piratininga  :  Sesmaria 
de  Geraibatiba  197-201  270-271, 
variedade  do  tempo  206-208; 
72  180  397-398. 

Cancro  :  215. 

Cânhamo  :  De  cardos  bravos  256. 

Canto  :  Cantares  e  bailes  dos  ín- 
dios 416,  «tangendo  e  cantando 
uma  folia  a  seu  modo»  415,  dos 
meninos  índios  nas  Aldeias  51- 
-52,  em  português  e  na  língua 
brasílica  66*  56,  salve  cantada 
aos  sábados  52  296,  salve  e  la- 
dainhas 155,  alegria  de  Mem  de 
Sá  ouvindo  cantar  os  meninos 
do  Ir.  António  Rodrigues  155, 
meninos  cantores  da  Sé  423, 
missa  cantada,  oficiada  por  me- 
ninos brasis  136,  de  órgão,  can- 
çonetas, motetes,  salmos  e  can- 
tares 62*  421  432  445  447. 

Capistrano  de  Abreu,  João  :  Escri- 
tor. 42*  43*  49*  50*  66*  98*  106* 
110*  112*  119*  12  67  136  175  185 
192  196  198  201  244  321  324  369 
500  564. 

Capivara  :  214. 

Cappelli,  A.:  Escritor.  43*208. 

Caraffa,  Gian  Pietro:  Papa.  78. 

Caramello,  Pietro :  Escritor.  51*. 

Caramuru,  Diogo  Alvares:  Amigo 
de  Nóbrega  73*,  legado  a  favor 
do  Colégio  da  Baía  72*  30,  479. 


ÍNDICE   ALFABÉTICO   E  REMISSIVO 


575 


Caranguejos  :  215. 

Carapeto,  Fernão  Luís  :  188.  —  Ver 

Luís,  Fernão. 
Caravelas  :  102  211. 
Cardim,  Fernão:  Escritor.  43 ;:  40 

94  110  213  221-224  228  229  232 

234  332  333  408  458  528  529  536. 
Cardoso,  António:  Escritor.  110. 
Cardoso  de  Barros,  António:  Pro- 

vedor-Mor.  85  91  111  429. 
Caridade  :  —  Ver  Misericórdia 

(Obras  de). 
Cariocas  :  195. 

Carlos  V :  Imperador.  80*  148. 

Carrasco,  Bartolomeu :  Morador 
de  S.  Vicente.  271. 

Cartas:— Ver  Correspondência 
Epistolar. 

«Cartas  Jesuíticas»:  43  112*  113*. 

Cartuxa  :  94*  471. 

Carvalho,  Luís :  517. 

Carvalho  Franco,  F.  de  A. :  Escri- 
tor. 43*  177  192  499 

Casa  da  Índia  :  151. 

—  Professa  de  Lisboa  (S.  Ro- 
que) :  —  Ver  Lisboa. 

—  Professa  de  Roma  (Gesú)  :  7. 

—  Professa  de  Toledo  :  80*. 

—  da  Torre  :  94. 

Casamentos:  —  Ver  Sacramen- 
tos ;  ver  ÍNDIOS  ;  ver  MORALI- 
DADE Pública. 

Casas:  —  Ver  Artes  e  Ofícios. 

Casas  de  Rapazes:  — Ver  Edu- 
cação. 

Casimiro,  Acácio :  Escritor.  8o;: 
116*. 

Castela :  106  148  303  383. 
Castelhanos  :  103  T04. 
Castelo  Branco,  Fernão  Rodrigues 
de :  85. 

Castelo  Branco,  D.  Simão  de:  Mo- 
rador do  Espírito  Santo  81. 
Castro,  Eugénio  de  :  Escritor.  43*. 
Castro,  D.  João  de :  522. 
Catálogos  S.  I.:  De  S.  Vicente 


(1562)  456-459,  deficiências  do 
de  1567  88  ;;-89;  . 
Catarina  (D.) :  Rainha  de  Portu- 
gal. Escolhe  o  P.  Miguel  de 
Torres  por  confessor  80* ;  ia 
137  148  151  341  510. 
Catecúmenos  :  Baptizam-se  uns 
e  fazem-se  outros  300,  deviam 
sair  da  igreja  ao  Ofertório,  mas 
diz-se-lhes  missa  em  recinto 
aberto  445,  cooperam  com  os 
Portugueses  na  formação  do 
Brasil  76*,  os  da  Baía  ajudam 
nas  guerras  do  Paraguaçu  58,  da 
Aldeia  do  Espírito  Santo  (ver 
Conversão  do  Gentio),  da  Ca- 
pitania de  S.  Vicente  249-252. 

Os  antigos  de  Piratininga 
quase  todos  voltaram  atrás  75*- 
-76*  262,  mas  não  tornaram  a 
comer  carne  humana  260;  com 
a  volta  de  Nóbrega  (1560)  come- 
çam a  juntar-se  outros  em  lu- 
gar dos  que  fugiram  256  e  no 
ataque  dos  índios  (1562)  esta- 
vam divididos,  uns  a  favor  ou- 
tros contra  552. 
Catequese:  —  Ver  Conversão  do 
Gentio. 

*  Caxa,  Quirício  :  517. 
Chaco :  225. 
Champagne :  179. 
Chapada  Diamantina :  500. 
Chapéus:  30  sombreiros  enviados 

de  Portugal  153. 
Chartier,  Guillaume  :  Calvinista. 
182. 

*  Chaves,  Manuel  de  :  Coadjutor  Es- 

piritual 4,  intérprete  258  260  ; 
461  564. 

Chaves,  Pedro :  Escritor.  43*  492. 
China  :  340. 

Chuva:  Grande  seca  na  Baia  56, 
regime  na  Capitania  de  S.  Vi- 
cente 204,  inundações  207. 

Cícero,  Marco  Túlio  :  98*. 


576 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  K  REMISSIVO 


*  Cipriano  do  Brasil :  Primeiro  Je- 

suíta filho  da  América.  Vida 
83*,  em  Coimbra  363,  respostas 
ao  Exame  do  P.  Nadal  104*  391- 
•  -394- 

Cirigipe :  —  Ver  Sergipe. 

Civilização  :  —  Ver  Conversão 
do  Gentio. 

Clemente  VII:  Papa.  81*  78  184. 

Clérigos:  Relaxamento  da  disci- 
plina eclesiástica  em  matéria 
de  honestidade  pública  57*,  nos 
meados  do  século  XVI  74,  os 
que  trouxe  o  primeiro  Bispo 
73-75,  «liberais  da  absolvição» 
65*  66,  «jubileus  de  condena- 
ção» às  almas  75,  «médicos» 
que  deixam  a  chaga  dentro  558, 
proibidos  de  confessar  pelo  se- 
gundo Bispo  487;  55  545-  — ver 
Leitão,  D.  Pedro. 

Clero  indígena  :  O  pensamento 
de  Nóbrega  (favorável)  66*  115- 
-116.  —  Ver  Vocações. 

*  Cobo,  Bernabé  :  Escritor.  43*  225. 
Cobras:  Coral  216,  jararaca  215- 

-216,  sucurijuba  213,  cascavel 
216,  uma  que  morde  o  P.  Luís 
Rodrigues  93*  536. 

Cobre  :  Utensílios  enviados  de 
Portugal  153 ;  527. 

Coelha,  Margarida:  326. 

Coelho,  Duarte:  Donatário  de  Per- 
nambuco. 325. 

Coelho,  Gonçalo :  No  Rio  de  Ja- 
neiro 195. 

Coelho  de  Albuquerque,  Duarte: 
Governador  de  Pernambuco. 
332  334- 

Coelho  de  Albuquerque.  Jorge: 
332. 

Coimbra  :  Comédia  sobre  a  divisa 
da  Cidade  74,  Mosteiro  de  Santa 
Cruz  23  166,  estudo  de  mestiços 
e  brasis  66*  363  393 ;  81*  83*  86* 
92*  95*  74  146  177  272  273  307 


310  311  326  335  339  391  526 
529- 

Cointá,  Jean  de:  T75  179.  —  Ver 

Bolés,  João  de. 
Coiros  :  70*  349. 

Colaço  Vieira,  Pedro:  Eleito  Ca- 
pitão-Mor  na  presença  de  Nó- 
brega 353  375. 

Colégio  de  Alcala  :  107*. 

—  Baía  :  «Colégio  de  Jesus»  190 
432  451  507,  o  «Dia  de  Jesus» 
(1  de  Janeiro)  festa  do  Colégio 
482,  escola  geral  de  meninos  da 
terra  e  filhos  dos  cristãos  131, 
de  ler  e  escrever  66  505,  e  dou- 
trina 115;  de  latim  116  283  430 
488  505,  Reitor  e  Irmãos  Mes- 
tres 288,  livros  184,  lição  de  lín- 
gua brasílica  (curso  de  férias) 
89*  90*,  pensa-se  em  Portugal 
na  dotação  régia  434  542  565. 

Terras  88-89,  «Tombo»  114*, 
feitor  encarregado  de  fazer 
mantimentos  para  os  meninos 
116,  sesmaria  do  Camamu  521- 
-532,  sino  dado  por  esmola  ré- 
gia 150,  criação  de  gado  349, 
edifícios  116,  os  meninos  vivem 
separados  dos  Padres  133,  aga- 
salho aos  da  nau  da  índia 
«S.  Paulo»  277,  penitência,  a 
um  condenado  de  sambenito, 
de  visitar  o  Colégio  duas  vezes 
por  dia  (1562)  498  ;  86*  114*  61 
196  270  289  419  448  506. 

—  Braga  :  317. 

—  Bragança  :  107*  307. 

—  Chamartín:  107*. 

—  Coimbra:  A  porção  da  carne 
82*  105*.  —  Ver  Coimbra. 

—  Évora:  Pensava-se  em  enviar 
para  aí  mestiços  do  Brasil  339; 
66*  106*  167. 

—  Ferrara  :  488. 

—  Goa  :  55. 

—  Madrid:  80*. 


índice  alfabético  e  remissivo 


577 


—  Pernambuco:  333. 

—  Rio  de  Janeiro:  71*  73*. 

—  Romano  :  7. 

—  Salamanca  :  80*. 

—  Santiago:  No  Espírito  Santo. 
Pobríssimo  464;  82. 

—  S.  Antão  (Lisboa):  Tombo 
das  terras  114*,  83*  166  393  540. 

—  São  Paulo  de  Piratininga: 
Em  fins  de  1561  recomeça  o 
estudo  de  gramática  (latim) 
para  os  de  casa  e  os  de  fora, 
transferido  de  S.  Vicente  453- 
-454  530,  sesmaria  de  Geraiba- 
tiba  70*  197  201  359. 

—  S.  Vicente:  «Colégio  de  Jesus» 
382,  escola  de  gramática  (latim) 
para  os  Irmãos  de  casa  e  al- 
guns meninos  de  fora  382,  até 
Novembro  de  1561  453"454,  5445 
terras  323,  criação  de  gado  348, 
falta  de  mantimentos  453-454. 

Colégios:  Pedem-nos  por  toda  a 
parte  os  Portugueses  do  Bra- 
sil 322,  trata-se  em  Portugal  de 
dotar  os  do  Brasil  com  renda 
firme  70*  164  317,  não  é  fácil 
achar  modo  prático  de  o  fazer 
322,  em  gado  parece  o  melhor 
dote  348  353,  pensa-se  em  do- 
tar quatro  com  as  redízimas 
434  542.  —  Ver  Educação. 

Coligny:  179. 

Coligny,Gasparde:  Almirante.  182. 

Colonização  :  —  Ver  Brasil. 

Comércio:  Não  é  ilícito  comprar 
redes  e  outras  coisas  onde  as 
houver  mais  baratas  514,  nem 
mandar  açúcar  a  Portugal  para 
comprar  o  que  for  preciso  no 
Brasil  516. 

Comissão  do  IV  Centenário  da 
Cidade  de  São  Paulo  :  115*- 
-116*. 

Comitoli,  Cipione:  Vida  488,  460 
486  487  539. 


Companhia  de  Jesus  :  «Ordem  de 
Jesus»  200,  «Padres  de  Jesus» 
192  344  506,  «Padres  da  Compa- 
nhia de  Jesus»  532;  i.a  Congreg. 
Geral  3-4,  pede  o  favor  régio 
de  Portugal  para  a  obra  das 
missões  ultramarinas  14;  a  graça 
da  vocação  6,  impedimentos  à 
admissão  23  337,  dispensa  166, 
necessidade  de  se  cultivarem 
vocações  para  a  continuação  da 
obra  no  Brasil  363  (ver  Voca- 
ções), postulantado  69*,  admis- 
são no  Brasil  antes  das  Cons- 
tituições 391,  graus  456-457,  pro- 
fessos de  4  votos  456,  de  3  votos 
338  515,  coadjutores  espirituais 
4  456,  escolares  ou  escolásticos 
457,  irmãos  coadjutores  4  131 

456,  colateral  358,  consultores  do 
Provincial  117;  a  mudança  dos 
Provinciais  toca  a  Roma  (Geral) 
107,  o  Provincial  de  Portugal 
(Miguel  de  Torres)  não  abra  as 
cartas  que  são  só  para  o  Geral 
107. 

Votos  88*  456-457,  simples 

457,  do  biénio  458.  Para  educar 
meninos  é  preciso  ter  bens  365, 
como  entendia  a  pobreza  o 
P.  Grã  364,  bens  das  casas  e 
pobreza  pessoal  365,  pobreza 
e  trabalhos  dos  que  discorrem 
por  diversas  partes  365,  não  se 
aceitem  legados  que  pareçam 
estipêndio  de  missas  542;  cas- 
tidade 363,  a  Companhia  e  o 
espírito  de  reforma  da  Igreja 
78. 

Observância  regular  69*  10 
130,  práticas  à  comunidade  311, 
ajudas  dos  capelos  e  outras 
penitências  (ver  Disciplinas), 
dizer  a  culpa  e  beijar  os  pés  269, 
oração  69*,  não  se  esquece  382, 
renovação  dos  votos  393,  cari- 


37 


578 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


dade  278  279,  cuidado  com  a 
saúde  para  o  serviço  de  Deus 
9  365  515,  bons  de  saúde  e  de 
espírito  (Baía  1559)  130,  os  cos- 
tumados exercícios  de  oração, 
obediência  e  humildade  268, 
trabalhos  manuais  70*  464  (ver 
Artes  e  Ofícios). 

Constituições  83*  23  457, 
cumprem-se  e  as  regras  69* 
117  358,  antes  das  Constitui- 
ções, o  Provincial  do  Brasil 
(Nóbrega)  regulava-se  pelas 
instruções  recebidas  de  Portu- 
gal e  de  Roma  356,  Exame  do 
P.  Nadal  391-394. 

Mandado  régio  para  a  con- 
versão dos  índios  71-72,  compa- 
nheiros de  Jesus  «companhei- 
ros da  cruz»  451,  «verdadeiros 
apóstolos»  277,  162,  amam  e 
defendem  os  índios  90-91,  são 
para  com  eles  «aios,  pais,  mé- 
dicos e  enfermeiros»  63*  130 
(ver  Conversão  do  Gentio). 

Educação  da  juventude  65:: 
vver  Educação),  poderiam  ser 
curas  de  almas  ad  tempus  545, 
cooperação  na  formação  do 
Brasil  74*-77*,  casas  para  en- 
quanto o  mundo  durar  70*,  pro- 
curatura  em  Lisboa  383,  facul- 
dades pontifícias  318-319. 

Contentamento  ao  chegarem 
cartas  de  Roma  e  notícias  prós- 
peras da  Companhia  145-146, 
alegria  de  Nóbrega  pela  elei- 
ção do  Geral  Laynes  114,  su- 
gere-se  a  vinda  dum  Visitador 
ou  Comissário  356,  esperanças 
de  se  enviar  513;  e  passim 
(todo  o  livro). 

«Compêndio  Índico»  :  44*,  318. 

Comunhão  : —Ver  Sacramentos. 

Conceição  (N.a  S.a  da)  :  —  Ver 
Culto. 


Concílio  de  Trento  :  78*.  —  Ver 
Trento. 

Confirmação  :  —  Ver  Sacramen- 
tos. 

Confissão  :  —  Ver  Sacramentos. 
Confraria:  Dos  Portugueses  em 

São  Paulo  556. 
Confraria  dos  Meninos  de  Jesus: 

66*  143,  fundadas  e  historiadas 

por  Nóbrega  357-360. 
Congregação  Geral  S.  I. :  3  4  14 

114. 

Conservas  :  328,  de  ananás,  ibás 
e  araçás  350-351  543. 

«Constituições  S.  I.» :  —  Ver  Com- 
panhia de  Jesus. 

Construção  :  —Ver  Artes  e  Ofí- 
cios. 

Contas  bentas  :  Pedem-se  146. 

Conversão  do  Gentio:  Caminho 
da  cristandade  58*,  intenção 
principal  de  Portugal  no  po- 
voamento do  Brasil  81,  14, 
D.  João  III  escolhe  a  Compa- 
nhia de  Jesus  para  essa  obra 
322,  desejo  de  Nóbrega  71,  e 
intento  principal  da  Compa- 
nhia 290,  Nóbrega  pede  socorro 
para  que  se  não  apague  a  cin- 
tila da  fé  que  começa  no  cora- 
ção do  gentio  105,  graça  de 
Deus  em  se  juntarem  os  índios 
a  seu  povo  fiel  504. 

Mentalidade  dos  índios  que 
não  costumam  perguntar  nem 
duvidar  42,  opiniões  sobre  a  ca- 
pacidade dos  índios  361,  não 
têm  os  espíritos  e  entendimen- 
tos tão  delicados  como  as  outras 
nações  400,  o  primeiro  Bispo 
considerava-os  incapazes  de  se 
doutrinar  72-73. 

Dificuldades57*-58*,  incons- 
tância 45,  o  costume  de  comer 
carne  humana  (ver  Antropo- 
fagia), a  luxúria  257,  a  dureza 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


579 


de  coração  (Anchieta)  248-249, 
que  se  hão-de  levar  «mais  por 
temor  do  que  por  amor»  378, 
«espada  e  vara  de  ferro»  553- 
-554,  sem  temor  não  se  pode 
fazer  fruto  292,  nem  o  haverá 
enquanto  o  gentio  não  se  sujei- 
tar e  amansar  72,  mas  com  mi- 
sericórdia para  com  as  suas 
erróneas  78. 

Recomendada  no  Regimen- 
to de  Mem  de  Sá  «por  paz  ou 
por  guerra»  85-86,  cartas  régias 
ao  Governador  e  à  Câmara  da 
Baía  13-16,  das  vitórias  do  Go- 
vernador depende  a  obra  da 
conversão  157,  com  as  vitórias, 
ajuda  e  zelo  de  Mem  de  Sá 
abrem-se  as  portas  da  Baía  86 
115  136  160  162  170  287  417  418, 
condições  de  paz  nas  guerras 
de  Ilhéus  e  Paraguaçu  que  os  ín- 
dios receberiam  os  pregadores 
do  Evangelho  240  241,  e  os  ín- 
dios, tanto  baptizjados  como 
gentios,  começaram  a  guardar 
a  lei  dos  cristãos  291-292  ;  indo 
Mem  de  Sá  e  Nóbrega  para  o 
sul,  alterou-se  na  Baía  o  que  se 
tinha  disposto,  mas  com  a  volta 
de  Mem  de  Sá  (1560),  restabe- 
leceu-se  o  método  305,  Grã  pro- 
põe aos  índios  do  sertão  o  que 
devem  fazer  (a  lei  civilizadora 
de  Nóbrega  de  1558)  313. 

Método  de  catequese  (de  Nó- 
brega) 51-52,  Diálogo  da  Suma 
da  Fé  401,  doutrina  na  língua 
brasílica  e  em  português  296, 
doutrina  em  português  425,  Pa- 
ter Noster  e  outras  orações  407, 
saudação  cristã  143  296  404,  os 
índios  aprendem  a  doutrina  de 
cor,  excepto  alguns  por  velhice 
443- 

A  obra  da  conversão  é  ofí- 


cio contínuo  dos  Padres  87-88 
131  239,  mas  estes  faltam  308 
(ver  Missionários),  não  bas- 
tam os  da  Europa  é  preciso 
criar  outros  no  Brasil  363-364, 
educação  de  meninos  brasis  65* 
(ver  Educação),  300  moços  de 
escola  quase  todos  já  cristãos 
281,  os  meninos  sabem  a  dou- 
trina e  ensinam-na  aos  pais  51 
121-122  126,  meninos  índios  ca- 
tequistas 401,  Francisco  cate- 
quista 426-427. 

O  gentio  domestica-se  136, 
índias  antes  de  costumes  sol- 
tos agora  morigeradas  506,  os 
catecúmenos  vão  pios  e  quie- 
tos nas  procissões  75*  (ver  Mi- 
nistérios), pregam  a  seu  modo 
de  madrugada,  mas  cristãmente 
52,  levam  a  cruz  às  costas  415; 
não  se  permitem  os  feiticeiros 
65  133  293,  recepções  festi- 
vas dos  Padres  nas  Aldeias  da 
Baía  142  143  312  313  404  405 
475,  baptizam-se  índios  que 
quatro  anos  antes  ainda  co- 
miam carne  humana  135,  dei- 
xam a  poligamia  pela  família 
monogâmica  315,  o  Provincial 
benze  a  mesa  num  banquete 
de  índios  que  se  casam  cristã- 
mente 314,  baptismos  e  casa- 
mentos em  todas  as  Aldeias  da 
Baía  (ver  Sacramentos),  mais 
de  mil  cristãos  em  dois  meses 
na  Aldeia  do  Bom  Jesus  474; 
antes  cardos  e  espinhos  agora 
fruto  e  tempo  de  recolher  com 
alegria  161  396  397  418  429, 
agora  enche-se  o  céu  de  almas 
brasílicas  390. 

Os  índ  ios  conhecem  o  amor 
dos  Padres  da  Companhia  91, 
obedecem-lhes,  fazem  casas  de 
taipa  para  viverem  em  lares 


580 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


distintos  137,  vendem  a  pluma- 
gem para  se  vestir  137,  e  dizem 
que  eles  são  o  seu  poçanga  (me- 
dicina) 400  (ver  Doenças),  che- 
gam-se  os  índiosdos  sertões  por 
verem  nos  Padres  «pais  piedo- 
sos» 476  481,  e  o  Governador 
dá  sesmarias  às  Aldeias  da  Dou- 
trina 508  511. 

A  conversão  do  gentio  é 
também  progressiva  na  Capi- 
tania do  Espírito  Santo  75*  465- 
-467,  mas  na  Capitania  de  S.  Vi- 
cente a  melhor  disposição 
dalguns  anos  antes  76,  retroce- 
deu na  ausência  de  Nóbrega 
370,  nem  há  que  fiar  dos  índios 
de  Piratininga  enquanto  não 
tiverem  sujeição  como  os  da 
Baía  (Anchieta)  254-255  ;  há  ex- 
cepções: morte  edificante  de 
dois  índios  beneméritos  Caiubi 
372-373,  e  Tibiriçá  555-556. 

A  conversão  do  gentio  ra- 
zão principal  para  a  fundação 
da  Aldeia  de  Piratininga  72,  e 
argumento  da  Câmara  de  São 
Paulo  (1561)  para  fazer  guerra 
aos  índios  contrários  342. 
Copaíba  :  232. 

Corpo  de  Deus  :  —  Ver  Sacra- 
mentos. 

Correia,  Pero :  Protomártir  S.  I. 

na  América.  107*  146  340  348. 
Correia,  Pio  Lourenço:  Escritor. 

203  218. 

Correia  de  Sá,  Martinho  de  Al- 
meida :  202. 

Correspondência  Epistolar  : 
Dos  primeiros  Padres  funda- 
dores da  Companhia  522,  cor- 
reio português  de  Roma  que 
passa  por  Trento  520,  atribui- 
ções do  Secretário  da  Provín- 
cia de  Portugal  384-385,  auto- 
res das  cartas  77*-98*,  edição 


das  cartas  107*-!  15*  entre  Nó- 
brega e  Tomé  de  Sousa  70, 
com  o  Cardeal  Infante  73*  97*, 
Nóbrega  encarrega  os  Irmãos 
de  escrever  as  coisas  particula- 
res das  Aldeias  e  da  conversão 
67*  87,  alegria  com  as  cartas 
recebidas  de  Portugal  111  248, 
e  com  as  de  Roma  145,  não  se 
abram  em  Portugal  (Miguel  de 
Torres)  as  cartas  só  para  o  Ge- 
ral 107,  cifra  28;  interesse  em 
Roma  pelas  novidades  das  no- 
vas terras  67*  203-204  ;  as  cartas 
de  edificação  liam-se  nos  refei- 
tórios da  Companhia  99*;  109 
114  129  165  203  204  273  280  286 

324  337  340  369  452  470-471 5  car- 
tas perdidas  98*-99*,  causas  98*, 
a  insegurança  da  navegação 
209,  cartas  perdidas  de  Nó- 
brega 98*-99*  367  541-544  J  4  11 
15  127  140  166  168  248  284  317 
324  339  356  360  363  387  390  429 
432  433  449  456  468  5°3  5I8-520 
532  546. 

Cortesão,  Jaime  :  Escritor.  44*  115* 
169  341. 

Costa,  D.  Álvaro  da  :  Capitão.  168 

Costa,  D.  Duarte  da  :  2.0  Governa- 
dor do  Brasil.  «Guerra  civil» 
com  o  Bispo  57*  83,  ordem  mo- 
ral e  legal  debilitada  58*,  iDtro- 
duz-se  o  costume  de  os  índios 
se  venderem  a  si  mesmos  79. 
favorece  a  conversão  com  duas 
igrejas  de  palha  84,  quer  que 
um  filho  seu  esteja  no  Colégio 
de  Évora  167-168;  13  89  198. 

Costa,  D.  Francisco  da:  r68. 

Costa,  Gonçalo  da:  531. 

Costa,  D.  João  da  :  168. 

Costa,  D.  Lourenço  da:  168. 

Costa,  Luís  :  Tabelião.  528531. 

Costa,  D.  Maria  da:  523. 
*  Costa,  Pero  da  :  Vida  398,  mestre- 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


581 


escola  na  Aldeia  de  S.  Paulo 
(Baía)  132,  na  de  S.  Tiago  398, 
nade  Assunção  (Camamu)503; 
53- 

Coutinho,  D.  Branca:  47. 
Couto,  Diogo  do  :  Escritor.  44*  272. 
Couto,  João  :  Escritor.  117*. 
*  Crasto,  Pedro  de  :  163  165. 
Cruz  :  —  Ver  Culto. 
Cruz,  António  Augusto  Ferreira 

da :  41*. 
Cruz,  Osvaldo :  Médico.  291. 
Cruz,  Pedro  de  la  :  177  179  187-190. 
Cruzadas  :  183. 
Crúzios  :  23. 

Cubas,  António  :  Morador  de  São 

Paulo.  347. 
Cubas,  Brás  :  Capitão-Mor.  347  348 

549- 
Cubatão :  199. 

Culto  e  Devoções:  Objectos,  or- 
namentos e  cálices  enviados 
de  Portugal  70*  151-153  486  517- 
-518,  pedem-se  430  466,  sino  por 
conta  da  fazenda  real  150,  sinos 
e  campainhas  enviadas  de  Por- 
tugal 152,  faltam  ornamentos 
para  as  novas  Aldeias  417,  aju- 
dam o  Governador  e  o  Bispo 
62*  417,  retábulos  e  imagens 
(ver  Artes  e  Ofícios). 

Os  meninos  das  Casas  de 
Rapazes  oficiavam  nos  ofícios 
divinos  357,  solene  pontifical 
62*  447. 

Jesus  Cristo:  por  todas  as 
casas  se  ouve  o  nome  de  Jesus 
52,  o  «Dia  de  Jesus»  festa  do  Co- 
légio 482,  o  gentio  vai  conhe- 
cendo que  só  a  Ele  se  deve 
crer  amar  e  servir  87,  97,  sau- 
dação cristã  («louvado  seja 
Jesus  Cristo»)  143296404,  rosá- 
rio do  Nome  de  Jesus  62*  143 
296  387  484,  oração  do  Pater 
Noster  186,  mistérios  da  fé  560, 


fé  de  N.  S.  Jesus  Cristo  (Câmara 
de  São  Paulo)  342 ;  e  passim. 

Menino  Jesus  143,  Bom  Je- 
sus 472,  Natal  255,  Semana 
Santa  (cerimónias)  62*  54-55 
255  335  4r°-4i3,  Passos  da  Pai- 
xão 411,  monumento  de  quinta- 
-  feira  santa  411,  Santíssimo 
Sacramento  e  missa  (ver  Sa- 
cramentos), Lava-pés  412,  Se- 
mana Santa  em  São  Paulo  du- 
rante a  guerra  aos  contrários 
(1561)  379. 

Cruz  das  Aldeias  282  415,  a 
da  Aldeia  de  S.  Tiago,  «a  maior 
que  em  minha  vida  vi»  301, 
festa  da  exaltação  da  Santa  Cruz 
395  407  445-448,  os  índios  levam 
a  cruz  às  costas  415,  alçada  na 
guerra  contra  os  contrários  345 
378-379.  os  meninos  com  cruzes 
na  mão  e  na  fronte  143,  a  cruz 
dos  bordões  372,  crucifixos  e 
cruzes  enviadas  de  Portugal  152 
518,  não  as  tinham  os  calvinis- 
tas no  Rio  de  Janeiro  193,  o  cru- 
cifixo deixado  nos  sertões  da 
Baía  500. 

Páscoa  134  335  413. 

Espírito  Santo:  retábulo  152, 
hino  492,  iii  114  143,  291  416 
535  56o. 

Santíssima  Trindade  112  326 
559-560. 

Nossa  Senhora :  orago  da 
Aldeia  de  S.  Paulo  (Baía)  290, 
Apresentação  210,  Assunção 
438,  Conceição  (festa  solene) 
60-61  466  559,  Aparecida  5*,  ante 
Natal  (N.a  S.a  do  0)  61,  Anun- 
ciação (retábulo)  152,  das  Can- 
deias 539,  Medianeira  (Nóbrega) 
60,  da  Vitória  155  ;  contas  ben- 
tas 146,  rosários  feitos  por 
Diogo  Jácome  255-256,  Salve 
Rainha  cantada  155,  aos  sába- 


582 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


dos  62*  296,  nas  viagens  do 
mar  334,  Ave-Marias  (toqne 
das)  194  399  401,  fórmula  da 
Ave-Maria  (1561)  310. 

Santos:  Santa  Ana  276,  S.  An- 
dré 476  485,  S  António  de  Lis- 
boa 59  no,  S.Filipe  562,  S.  Isidro 
274,  S.  João  Baptista  77  111 134, 
S.  João  Evangelista  (retábulo) 
152  230,  S.  João  e  S.  Paulo  (25 
de  Junho)  503,  S.  Mateus  449, 
S.  Miguel  154,  S.  Paulo  Após- 
tolo (retábulo)  152  179484, 
S.  Paulo  Eremita  38r,  S.  Pedro 
179  364  476  484>  S.  Tiago  (retá- 
bulo) 152,  festa  solene  com  tiros 
de  espingarda  e  câmaras  422, 
o  P.  Brás  Lourenço  empunha 
a  bandeira  S.  Tiago  contra  os 
Franceses  465,  S.  Tomé  61 ;  e 
ver  Aldeias  (oragos). 

Relíquias  326,  para  casos 
de  parto  254. 

Funerais:  Do  P.  João  Gon- 
çalves 61,  de  índios  cristãos  56, 
com  missa  cantada  111,  de  Ti- 
biriçá  555-556. 

Cunha  Barbosa,  Januário  da  :  Es- 
critor. 549. 

Cunha  e  Freitas,  Eugénio  Eduardo 
da :  41*. 

Dalgado,  Sebastião  Rodolfo:  Es- 
critor. 44*  303. 

*  Dalmases,  Cândido  de:  Escritor. 

44*  80*. 

Danças  :  Dos  índios  416  440. 

Defuntos  S.  I. :  16  118  146. 

Degredados:  A  Câmara  de  São 
Paulo  pede  e  aceita  todos  me- 
nos ladrões  346,  172. 

*  Delplace,  Ludovicus  :  Escritor.  51* 

55- 

Demandas:  86  92,  evitem-se  quan- 
to possível  por  ocasião  de  lega- 
dos pios  (testamentos)  545. 


Descobrimentos  :  67*. 
Devoções  :  —Ver  Culto. 
«Diálogo  da  Doutrina  Cristã»:  132. 
«Diálogo  da  Suma  da  Fé» :  401. 
«Diálogo  sobre  a  Conversão  do 

Gentio» :  44*  73. 
«Diálogo  Pastoril» :  135. 
Dias,  António  :  Piloto.  279. 
Dias,  Henriques:  Escritor.  272  279. 
Dias,  Lopo:  Morador  de  São  Paulo. 

344- 

Dias,  Pedro:  Tabelião.  271. 
*  Dício,  João:  Doente  de  gota  164, 
embarca  para  o  Brasil  163,  de- 
senganado do  médico  volta  para 
a  Europa  289  334  335  ;  324  326. 

Dindinger,  Johannes:  Escritor.  50* 
51*. 

Dinis  :  Francês.  178. 

Dinis,  Cristóvão :  178181. 

Direito  Canónico:  Matrimonial 
(ver  Sacramentos). 

Direito  Penal  nas  Aldeias  :  Pri- 
meira tentativa  de  integração 
dos  índios  no  sistema  ociden- 
tal 74*-75*,  Aldeias  com  o  nome 
de  vilas,  mas  sem  câmara  mu- 
nicipal 172,  com  meirinho,  pe- 
lourinho e  tronco  (cadeia)  172 
292  313,  com  ouvidor,  alcaide, 
porteiro  e  tronco  466-467,  âm- 
bito dos  poderes  (excepto  o 
homicídio)  466-467,  disciplinas 
impostas  por  penitência  e  cas- 
tigo 54,  castigos  dum  índio  que 
pregou  a  «santidade»  54,  dou- 
tro que  deixou  morrer  o  filho 
sem  baptismo  65,  dum  feiti- 
ceiro que  «tirou  a  palha»  a  um 
doente  65,  dum  adultério  467, 
simulacro  de  castigo  65-66,  dum 
assassino  53,  os  meirinhos  que- 
riam enforcar  uma  feiticeira  in- 
cendiária não  o  consentindo  os 
Padres  502  ;  52  87  89-91. 

Disciplinas:  Na  Companhia  54, 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


5*5- 


pelos  Índios  43  44  54  255  283 
295,  em  São  Paulo  durante  a 
guerra  aos  contrários  379  e  o 
assalto  dos  Índios  (1562)  551, 
na  Semana  Santa  412. 
Dízimos  :  Do  gado  349,  os  da  Baía 
aplicados  ao  Bispo  e  Cabido 
349,  São  Paulo  pede  isenção 
por  dez  anos  346,  até  agora  não 
se  falou  aos  Índios  em  dízimos, 
convém  que  se  dispensem  ainda 
por  algum  tempo  431. 
«Documentos  Históricos»:  44*. 
Doenças:  Dos  da  Companhia  477, 
enfermaria  do  Colégio  505,  fal- 
tam provisões  de  Portugal  284, 
é  grande  perda  adoecer  por 
falta  de  cuidado  366  515. 

Os  Padres  eram  os  enfer- 
meiros dos  Índios  63*  130,  a 
sua  medicina  e  os  seus  «físicos» 
400,  52  56  251-253  450  535  544 
548,  sangrias  (ver  Flebotomia), 
camas  e  roupas  para  quatro  en- 
fermarias 153,  poucos  remédios 
na  terra  453,  epidemia  e  mor- 
tandade 18-19,  os  índios  que 
acompanham  à  guerra  os  Por- 
tugueses são  tratados  pelos  Pa- 
dres 58  (ver  Misericórdia). 

Abortos  nas  mulheres  ín- 
dias 254,  dores  de  cabeça  380, 
câmaras  351  543,  câmaras  de 
sangue  18  267  379-381  555,  can- 
cro 215,  cobras  (mordeduras  e 
efeitos)  215-217  536-537  539, 
cólica  381,  enjoos  do  mar  443- 
-444,  estômago  380,  febres  61 
251  267  380  404  416  453  504-505 
548,  feridas  de  pés  e  pernas  487, 
gota  coral  164  488,  héctica  88 
506,  dor  de  pedra  350-351  38r, 
pestilência  415  546,  postemas 
62,  priorís  453  454,  pulmões 
(gripe  pulmonar  e  intestinal) 
18,  (pneumonia  epidémica?) 


260,  doenças  sexuais  219  253, 
sezonismo  (quartãs)  228  397 
410;  de  João  Gonçalves  61,  de 
Blazquez  e  outros  432,  de  Nó- 
brega e  outros  268  (ver  Nó- 
brega); 18  36  62-63  91  I24- 
Dória.  António  Alves :  Escritor. 
50*. 

Dotação  régia  :  Trata-se  de  do- 
tar com  renda  firme  os  Colé- 
gios do  Brasil  70*  164  322,  em 
gado  seria  a  melhor  348  353,  em 
redízimas  434. 

Dout  o :  81*. 

«Doutrina  Cristã»:  Manda-se  ensi- 
nar publicamente  a  do  Bispo 
D.  João  Soares  310. 

«Doutrina  Cristã» :  Ordenada  e 
feita  pelo  P.  Luís  da  Grã  308- 
•309- 

Doutrina  Cristã  :  Na  língua  bra- 
sílica e  em  português  310.  — 
Ver  Conversão  do  Gentio  ; 
ver  Escravos. 

«Doutrina  na  Língua  do  Brasil»: 
90*  310. 

Drumond,  Carlos :  Escritor.  51* 
91*  476 

Duarte  Nunes,  António  :  Escritor. 
169. 

Duque  de  Bragança  :  102*. 

Ébanos,  Eliodoro  (Heliodoro):  Mo- 
rador de  S.  Vicente.    177  i8r. 

Educação  e  Instrução:  Escolas 
de  ler,  escrever  e  cantar  65* 
505,  escola  geral  na  Baía  para 
meninos  brasis  e  filhos  de  por- 
tugueses 66  115  131,  os  índios 
dão  os  filhos  de  boa  vontade 
para  se  educarem  121 -122  126, 
os  meninos  brasis  têm  apro- 
veitado tanto  que  é  uma  glória 
vê-los  (Nóbrega)  115. 

Gramática  (Latim):  Nó- 
brega determina  que  se  ensine 


584 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


também  aos  meninos  brasis  de 
mais  habilidade  115-116  132  362- 
-363,  também  para  os  filhos  dos 
Portugueses  (ver  Colégios). 

Filosofia  :  espera-se  de  Por- 
tugal um  professor  de  Lógica 
131,  Dialéctica  90*. 

Casas  de  Rapazes:  As  pri- 
meiras do  Brasil  fundadas  e  his- 
toriadas por  Nóbrega  357-358, 
não  foram  aprovadas  superior- 
mente (Mirón)  358,  os  da  Casa 
de  São  Paulo  de  Piratininga 
liam  escreviam  e  oficiavam  as 
missas  359  538,  dispersando-se 
os  rapazes  quase  todos  volta- 
ram aos  costumes  dos  seus  pais 
454-455,  Nóbrega  procura  res- 
taurá-las mediante  a  aprova- 
ção do  Geral  360,  razões  de 
Nóbrega  para  se  restabelece- 
rem e  manterem  econòmica- 
mente  (responde  a  Grã)  361- 
-362,  conveniência  em  educar 
os  meninos  brasis  em  casa  ao 
menos  enquanto  não  houver 
Padres  para  viverem  nas  Al- 
deias 362,  está  disposto  a  dar- 
-lhes  o  que  as  Constituições 
da  Companhia  permitem  (a  es- 
tudantes pobres)  e  o  que  sobra 
da  esmola  régia  362,  a  educa- 
ção nestas  Casas  de  Rapazes  é 
mais  proficiente  do  que  estando 
os  meninos  dispersos  pelas  ha- 
bitações dos  seus  pais  362,  e  ter 
os  meninos  brasis  em  casa  é 
penhor  e  segurança  da  terra 
e  nunca  se  perde  tudo  363;  al- 
guns aprenderam  ofícios  361 
468,  outros  faleceram  cristã- 
mente e  todos  deixaram  de 
comer  carne  humana  363  ;  o  Ge- 
ral aprova  as  Casas  de  Rapa- 
zes 5I3-St4- 

Casas  de  Meninas:  Pe- 


dem-se  matronas  portuguesas 
para  educarem  as  filhas  dos 
índios  137-138,  que  casariam 
depois  com  os  brasis  já  educa- 
dos pelos  Padres  365.  Também 
o  Geral  aprova  estas  Casas  514. 

Aldeias:  Nóbrega  estabe- 
lece escolas  de  ler  e  escrever 
em  todas  as  Aldeias  da  Baía 
65*  85  87,  e  ao  voltar  ao  Sul 
(1560)  já  deixou  360  moços  que 
liam  e  escreviam  66*  170,  en- 
sino primário  obrigatório  65* 
121-122,  horários  51  ;  na  Aldeia 
do  Espírito  Santo  65  130,  fre- 
quência de  200  meninos  120, 
de  300  meninos  281,  os  meni- 
nos mais  aproveitados  ajudam 
o  mestre  António  Rodrigues  no 
ensino  dos  outros  meninos  139, 
os  meninos  «pareciam  anjos 
rezando  matinas»  143;  na  Al- 
deia de  S.  Paulo  140  meninos 
132  294  ;  na  do  Bom  Jesus  400 
meninos  de  escola  389  ;  na  de 
Santa  Cruz  de  Itaparica  300 
meninos  408  ;  na  de  S.  Tiago 
150  moços,  na  fuga  dos  índios 
muitos  meninos  voltaram  do 
caminho  para  os  Padres  299. 

Os  meninos  brasis  folgavam 
com  jogos  escolares  à  portu- 
guesa 75*  296,  outeiro  para  re- 
creação de  estudantes  (na  Ca- 
pitania de  S.  Vicente)  543, 
opinião  sobre  os  talentos  ou 
«engenhos  brasílicos»  454. 
*  Eglauer,  António  :  Escritor  44*  6. 
Elvas :  419. 

Embarcações  :  Canoas  266  267,  al- 
madias  464  465.  —  Ver  Navios. 

Emigração:  De  Portugal  para  o 
Brasil  81. 

Enfermarias  :  —  Ver  Doenças. 

Engenhos  de  Açúcar  :  Copeiros, 
rasteiros  e  trapiches  526,  na 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


585 


Baía  291,  de  António  Cardoso 
91  424,  de  El-Rei  86,  de  Ser- 
gipe do  Conde  «rei  dos  Enge- 
nhos do  Brasil»  174,  de  Ilhéus 
58-59  98  139  174  240  327-328  522 
534,  na  Capitania  de  S.  Vicente 
375  453  i  Qão  havia  na  Capitania 
do  Espírito  Santo  (1562)  462  ; 
97*  53  85  102  527. 
Entradas  :— Ver  Minas;  ver  Ser- 
tões. 

Entre  Douro  e  Minho ;  81*. 

Epidemias  :  —  Ver  Doenças. 

Erasmo,  Desidério :  Escritor.  74. 

Ermidas  :  —  Ver  Igrejas. 

Esaú:  Filho  de  Isac.  107. 

Escolas  :  —  Ver  Educação. 

Escorpiões  :  218. 

Escravos  :  Sentença  contra  os 
Caetés,  matadores  do  Bispo  e 
seus  companheiros  488-49r  495; 
suprimido  o  resgate  oriundo 
das  guerras  intertribais,  os  mo- 
radores buscavam  escravos  por 
modo  ilegítimo  437-438;  os  da 
Capitania  do  Espírito  Santo 
cooperam  com  os  Portugue- 
ses a  repelir  duas  naus  fran- 
cesas 465,  dizem  que  os  não 
consideram  escravos  mas  por 
soldada  464. 

Dado  o  regime  de  trabalho 
e  legislação  coeva  ter  escravos 
legalmente  legítimos  era  neces- 
sário para  a  manutenção  das 
Casas  de  Meninos  362,  sem 
esses  trabalhadores  (e  não  ha- 
via outros)  era  preciso  que  os 
Padres  deixassem  as  ocupa- 
ções do  seu  ministério  para  se 
empregarem  nesses  serviços 
364-365;  o  Padre  Geral  aprova 
ter  escravos  514,  próprios  ou 
alugados  543. 

Doutrina  e  ministérios  da 
Companhia  com  escravosíndios 


i3T  305-3o6  310  373-374  41»  43* 
450-451  480  505-506  535  548  558 
(ver  Liberdade  dos  Índios), 
com  Negros  95  101  115. 
Escultura  :  —  Ver  Artes  e  Ofí- 
cios. 

Esmolas:  Subsídios  régios  a  título 
de  esmola  70*  150  362  486,  men- 
digadas 364. 

Espanha:  No  sentido  ibérico  (não 
nacional)  135  362  ;  116  459 

Espanhóis:  Nos  Descobrimentos 
67*.  —  Ver  Castelhanos. 

Espírito  Santo  :  —  Ver  Culto. 

Espirito  Santo  (Capitania)  :  Colé- 
gio de  Santiago  82.  casa  coberta 
de  telha  22,  pobre  462,  traba- 
lha-se  com  fruto  na  conversão 
do  gentio  75*  171  242,  e  educa- 
ção de  meninos  462-463;  a  Con- 
fraria dos  Meninos  de  Jesus 
ficou  algum  tempo  à  conta  dos 
moradores  357  359,  incêndio  da 
escola  22. 

Guerra  aos  índios  em  que 
morreu  Fernão  de  Sá  96*  13, 
outras  em  que  morreram  al- 
guns moradores  principais  81 
90  97  99,  desavenças  entre  os 
moradores  82,  a  gente  em  perigo 
de  ser  comida  dos  índios  242. 
governada  por  três  capitães 
«sem  barbas»  171,  família  do 
i.°  Donatário  464,  que  renuncia 
à  Capitania,  tomando-a  Mem 
de  Sá  para  a  coroa  171  e  es- 
pera-se  que  o  seja  465-466. 

Pacificada  13,  mas  « bem 
fraca»  245,  casas  de  palha  e 
sem  fortaleza  465-466  nem  En- 
genhos de  açúcar  (1562)  462, 
rondam  os  franceses  21  e  são 
repelidas  duas  naus  empu- 
nhando o  P.  Brás  Lourenço  a 
bandeira  de  S.  Tiago  465  496; 
epidemia  de  600  mortos  18;  re- 


586 


índice  alfabético  e  remissivo 


solução  da  Câmara  sobre  escra- 
vos índios  vendidos  pelos  pais 
41. 

Abundante  de  peixe  -  boi 
208,  tinha-se  pela  melhor  coisa 
do  Brasil  depois  do  Rio  de  Ja- 
neiro 242 ;  o  Capitão  Belchior 
de  Azeredo  benfeitor  da  casa 
465  ;  Aldeia  da  Conceição  466  ; 
75*  77*  !7  37  48  68  79  192  209 
327  430  458  468  530. 

Estações  do  Ano  :  Ao  invés  das 
da  Europa  206-208  459. 

Estanho:  Utensílios  enviados  de 
Portugal  153. 

Estudos  :  —  Ver  Educação. 

Etiópia:  Preste  340,  Procuratura 
em  Lisboa  383;  106*  108*146348. 

Etnologia  :  68*  69*.— Ver  Índios. 

Eubel,  Conradus  :  Escritor.  51*27. 

Eucaristia:— Ver  Sacramentos. 

Europa  :  Admiração  pelos  Desco- 
brimentos 67*,  correspondên- 
cia epistolar  77**78*  385 ;  58* 
66*  7  117  164  360. 

E  vangelho  :  Declarações  em  tupi 
131,  pregações  157  377;  60*  84 
85.  —  Ver  Conversão  do  Gen- 
tio. 

Évora:  Mosteiro  de  Santa  Cata- 
rina de  Sena  174,  Biblioteca  e 
Arquivo  100*  106*  303  326  391 
488. —  Ver  Colégio. 

Exercícios  Espirituais  :  Casa  em 
São  Paulo  de  Piratininga  69:; 
382,  10  393. 

Expedições  Missionárias  :  i.a  e 
a.a  357,  crise  de  seis  anos  59*- 
-61*  146  ;  8  107-108  149  159  163 
165  316-317  460  517  544  545. 

Extrema-Unção  :  —  Ver  Sacra- 
mentos. 

Falcão,  Gil  :  154. 

Faria,  D.  Guiomar  de  :  Mulher  de 
Mem  de  Sá.  98*  173. 


Fazendas  :  —  Ver  Sesmarias. 
Feiticeiros  :  —  Ver  Índios. 

*  Fernandes,  Baltasar:  Vida  517. 
Fernandes,  Diogo :  Vida  458. 

*  Fernandes,  Duarte:  Vida  529. 
Fernandes,  Florestan  :  Escritor. 

44*  367  546. 

Fernandes,  Francisco:  Vigário  Ge- 
ral. 25  136  322. 

Fernandes,  João:  Morto  pelo  gen- 
tio 343- 

i:  Fernandes,  João  :  Vida  434,  433. 

Fernandes,  D.  Pedro :  Bispo  da 
Baía.  Zeloso  dos  brancos  não 
se  tinha  por  Bispo  dos  índios 
72-73,  a  conversão  do  gentio, 
raiz  da  dissidência  com  os  pri- 
meiros Jesuítas  73,  «guerras 
civis»  entre  ele  e  o  Governador 
57*  83,  mandado  ir  para  Lis- 
boa 84,  morto  pelos  índios  Cae- 
tés  73  na  enseada  de  Vazabar- 
ris  329  430,  notícia  da  morte  82, 
Mem  de  Sá  foi  requerido  para 
ir  vingar  a  sua  morte  mas  adiou 
o  castigo  para  mais  tarde  241 ; 
87*  88*  489. 

Fernandes,  Vasco:  «O  Gato». — 
Ver  Índios. 

Fernandes,  Vicente :  420  475  484. 

Fernandes  Coutinho,  Vasco:  i.° 
Donatário  do  Espírito  Santo. 
Renuncia  à  Capitania  171  242, 
morre  pobríssimo  490 ;  13  47 
79  464- 

Fernández  de  Oviedo  y  Valdês, 
Gonzalo  :  Escritor.  44*  68*  225. 

Fernández  Zapico,  Dionísio:  Es- 
critor. 44*. 

Ferrara :  488. 

Ferraria:  —  Ver  Artes  e  OfI- 
cios. 

Ferreira,  Baltasar :  Capitão  de 
Ilhéus.  524. 

Ferreira,  Carlos  Alberto :  Escri- 
tor. 44*. 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


587 


Ferreira,  Tito  Lívio:  Escritor.  45* 
49  237  246. 

Ferreira  Leão,  Luis  Gonzaga:  116*. 

Fiandeiras  :  —  Ver  Artes  e  Ofí- 
cios. 

Figueiredo,  Cândido  de:  Escritor. 
95- 

Figueiredo,  Jorge  de  :  327. 
Figueiredo,  Rui  de:  98*. 
Figueiredo  Correia,  Jorge  de:  i.° 

Donatário  de  Ilhéus.    522  524 

527- 

Filipe  II:  Rei  de  Castela.  148. 

Flandres :  383  459. 

Flebotomia  :  252  277  291  293  380 

454  5°4  535  548  558  562. 
Fleiuss,  Max  :  Escritor.  45*  195. 
Fonseca,  Martinho  da :  Escritor. 

50*. 

Fonseca,  Pero  da  :  Escritor.  104*. 
Fonseca,  Salvador  da  :  Escrivão. 
528. 

Fontes,  André  :  Francês.  264. 
Forcellini,  Egídio  :  Escritor.  205. 
Formigas:  67*,  a  saúva  226,  415. 
Foscolo  Benedetto,  Luigi :  Escri- 
tor. 22. 

Fouqueray,  Henri :  Escritor.  45* 
459- 

Fragoso,  Brás :  Ouvidor  Geral. 
Benemérito  da  obra  da  con- 
versão do  gentio  43T,  padrinho 
de  índios  446,  coníessa-se  no 
Colégio  491 ;  151  444. 

Fraguedo,  Afonso  Anes  de  :  Notá- 
rio. 523. 

França  :  Lutas  religiosas  175  ;  60* 
179  182  196  245  264  383  459  513. 

França,  Carlos  :  Escritor.  45*  202. 

França  Antártica :  182. 

Franceses:  No  Rio  de  Janeiro 
62*  13  169  175  181  278  321,  qua- 
tro fogem  para  S.  Vicente  263, 
tomada  do  forte  do  Rio  de  Ja- 
neiro 96*  242-246  267-268  287, 
processo  de  Bolés  175-196,  Bo- 


lés  e  outros  na  Baía  498,  amea- 
çam a  Capitania  de  S.  Vicente 
104-105,  dão  arcabuzes  e  espa- 
das aos  Tamoios  de  Iperoig 
345,  no  Espírito  Santo  21  39 
8r,  duas  naus  francesas  repe- 
lidas 465  496,  prisioneiros  497, 
naus  francesas  em  Alagoas  329 
330,  na  Paraíba  497-498,  cursam 
e  ameaçam  a  terra  do  Brasil 

496,  e  ameaçam  a  navegação 

497,  com  a  fundação  duma  ci- 
dade no  Rio  de  Janeiro  ob 
franceses  serão  lançados  fora 
e  os  índios  se  poderão  sujei- 
tar 246,  Nóbrega  prepara  a  jor- 
nada de  Iperoig  para  fazer  pa- 
zes com  os  Tamoios  563-565 ; 
76*  83  237  363  397  486. 

*  Franco,  António:  Escritor.  45*  8i*- 

-83*  92*  469  516. 
Frazão  de  Vasconcelos,  José  Au- 
gusto do  Amaral:  Escritor.  45* 
279. 

1  Freitas,  Rodrigo  de:  Vive  na  casa 
da  Baía  até  entrar  na  Compa- 
nhia 69*  117,  toma  conta  dos 
meninos  no  temporal  116  133  . 
196  277. 

Freyre,  Gilberto  :  Escritor.  45*. 

Friederici,  Georg:  Escritor.  45* 
40  47  212-216  221  224  225  228 
230  231  235  350  351  400  477  479. 

*  Fróis,  Luís  :  Escritor  e  Missioná- 

rio do  Oriente.  112. 

Frutas:  —Ver  Agricultura;  ver 
Conservas. 

Funerais  :  —  Ver  Culto. 

Furtado  de  Mendonça,  Heitor  :  Vi- 
sitador da  Inquisição  no  Brasil 
49*. 

Gabrieli,  Julius  :  Escritor.  45*  108* 
237- 

Gado  :  Seria  o  melhor  dote  para 
a  renda  dos  Colégios  348-349 


588 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


353,  o  que  Nóbrega  deixou  na 
Baía  534,  terras  para  criação 
543  ;  70*  102  335  358  364  513  514 
527  552. 

GaffareJ,  Paul :  Escritor.  45*  244. 

Gago,  João  Pires :  Morador  de 
S.  Vicente.  198. 

Gama,  Vasco  da  :  Almirante.  522. 

Gama  de  Andrade,  Simão  da:  Na 
Aldeia  de  S.  Paulo  (Baía)  54-56, 
na  guerra  do  Paraguaçu  155, 
padrinho  de  baptismo  de  ín- 
dios 422  482-483 ;  135. 

Gandavo,  Pero  de  Magalhães:  Es- 
critor. 45*  233. 

Garcia,  Rodolfo :  Escritor.  43*  45* 
49*  51*  98*  110*  12  192  213  221 
222  333  500  527  536. 

Gatos  Monteses:  224-225. 

Gavião,  André :  Morador  de  Ilhéus 
101. 

Gaviões  :  230. 
Genebra :  182  186  244. 
Génova :  177. 

Geraibatiba  :  Sesmaria  pedida  por 
Luís  da  Grã  197-201,  posse  por 
Gregório  Serrão  em  nome  de 
Nóbrega  270-271;  70*  372  375 
377- 

Geraldo:   Morto  pelo  gentio  343. 
Giraldes,  Francisco :  522. 
Giraldes,  Lucas:  Mercador  e  ban- 
queiro.   Vida  522,  98  327  424. 
486  524. 

Goa:  68*  92*  ioi*-io3*  55  112  116 
358. 

•  Goetstouwers,  J.  B  :  Escritor.  51*. 

*  Góis,  Luís  de  :  51. 

Góis,  Pero  de:  Donatário.  327. 
Góis,  Pero  de:   Estudante.  76146. 
Gomes,  Filipe:  524. 
Gomes,  João  :  50. 
Gomes  de  Brito,  Bernardo:  Escri- 
tor. 45*  272  279. 
Gomes  de  Brito,  J.  J.:  Escritor.  50*. 
Gómez  de  León,  Isabel:  78*. 


::  Gonçalves,  Adão :  Vida  191,  193 

353  542. 

*  Gonçalves,  Amaro:  89*. 

*  Gonçalves,  António:  274  304  314 

456. 

*  Gonçalves,  Baltasar:  304. 
Gonçalves,  Bartolomeu:  Mestiço. 

Vida  353,  191. 

*  Gonçalves,  João:  Funda  a  Aldeia 

do  Espírito  Santo  60,  ministé- 
rios, doença  e  morte  60-62,  vir- 
tudes referidas  por  Nóbrega 
61-62,  cartas  perdidas  5 ;  4  118 
146. 

■■■  Gonçalves,  Pero  :  Vida  517. 
Gonçalves,  Pero:  De  Alpedrinha. 
95- 

Gonçalves,  Pero:  De  Lapas.  95. 
Gonçalves,  Pero:  De  S.Tomé.  95. 
;;  Gonçalves,  Sebastiam  :  Escritor. 

45*  105*  272. 
-  Gonçalves,  Simão:  Coadjutor.  4 
209  458. 

:  Gonçalves.  Simeão:  Vida  398,  dos 
órfãos  363,  fundador  da  Aldeia 
de  S.  João  (2.a)  398;  61*. 
Gonçalves  da  Câmara,  Luís:  Mes- 
tre do  Rei  D.  Sebastião.  Inte- 
resse pela  Missão  do  Brasil 
60*  77*  79*  4  307  339. 

*  Gouveia,  Cristóvão  de  :  Visitador 

do  Brasil.  104*  117*  94  318  333 
39 1  393- 

'Gouveia,  Francisco  de:  Missio- 
nário de  Angola.  166. 

;  Grã,  Luís  da:  2.0  Provincial  do 
Brasil.  Olhando  ao  que  fazia 
em  Portugal  o  P.  Mirón  não 
aprova  as  Casas  de  Rapazes 
fundadas  por  Nóbrega  358,  não 
lhe  parece  bem  o  que  se  gasta 
com  Rapazes  nem  a  ocupação 
de  cuidar  deles  360-365,  recebe 
carta  do  Geral  aprovando  a 
orientação  e  propostas  de  Nó- 
brega 519. 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


589 


Superior  da  Capitania  de 
S.  Vicente  15,  requer  devassa 
sobre  João  de  Bolés  175-183 
e  depõe  nela  189-190  195-196; 
ordem  de  ir  para  a  Baía  e  ser 
Provincial  31-34 114,  toma  posse 
do  cargo  na  i.a  quinzena  de 
Abril  de  1560,  beijando  os  pés 
aos  Irmãos  269,  pede  a  ses- 
maria de  Geraibatiba  198-199, 
parte  de  S.  Vicente  para  a 
Baía  369,  onde  é  esperado  288, 
e  onde  chega  a  29  de  Agosto 
278  283  304  309,  desejava  que 
viesse  um  Visitador  ou  Comis- 
sário 356. 

Pregador  64*,  na  Capitania 
de  S.  Vicente  258  266  268  269, 
na  Baía  412  417,  parece  que  não 
sofre  passar-se  um  dia  santo 
sem  pregar  449,  480  490. 

Promove  o  aldeamento  dos 
índios  e  administra  os  sacra- 
mentos (em  série)  do  baptismo 
e  matrimónio  63*  74*  309  312- 
-315  404-408  413-415  422  427-428 
442  449  471-483  501-504,  nenhum 
dos  grandes  baptismos  se  fazia 
sem  ele  448,  os  Principais  das 
Aldeias  mandam-lhe  rede  para 
o  conduzir  475,  recebe  o  Bispo 
com  solenidade  nas  Aldeias 
423  445-448,  escolhe  sítio  para 
futuras  Aldeias  438-439  475-476, 
tenta  ir  por  terra  ao  Rio  de 
S.  Francisco,  desistindo  por  ca- 
restia de  mantimentos  488-489. 

Faz  e  ordena  o  «Diálogo  da 
Suma  da  Fé»  308-309  401,  en- 
sina a  doutrina  e  diálogo  na 
língua  brasílica  426,  e  a  língua 
pela  Arte  de  Anchieta  283  306 
310-311,  confessa  e  fala  com  os 
índios  por  intérprete  398  439 
480,  pazes  entre  dois  índios 
principais  contrários  478-479. 


Acha  que  Ilhéus  devia  ser 
Capitania  de  El-Rei  430,  pro- 
mete fazer  casas  em  Ilhéus, 
Porto  Seguro  e  Pernambuco 
306,  pede  ornamentos  e  objec- 
tos de  culto  430,  celebração  da 
missa  e  reza  do  breviário  490- 
-49  r- 

Perigo  de  morrer  afogado 
(não  sabia  nadar)  valendo-lhe 
o  P.  João  Pereira  418,  e  noutra 
ocasião  o  P.  Gaspar  Lourenço 
504,  cai  doente  com  febres 
(«quartanário»)  397  416,  «doce 
e  santo  Padre»  (Nóbrega)  115. 
afabilidade  e  zelo  incansável 
258  278-279  283  305-306  480;  car- 
tas perdidas  15  316  339  432 ;  59* 
77*  84*  87*-89*  99*  108*  116' 
117*  11  76  104  107  116  117  186 
187  189  194  200  246  271  290  302 
307  325  349  354  386  390  395  397 
409  416  425  428  432  435  436  451 
456  469  507  508  511  513  518  536 

Granada  :  80*. 

Granada,  Frei  Luís  de:  174. 

«Grande  Enciclopédia  Portuguesa 
e  Brasileira» :  45*. 

Grego,  Jorge  :  Morador  de  S.  Vi- 
cente. 178  183. 

Gregório  XIII :  Papa.  Reformado 
Calendário  208,  faculdades  pon- 
tifícias 318. 

Guairá :  337. 

Guanabara :  77*  96*  175.  —  Ver 

Rio  de  Janeiro. 
Guará  :  229. 

Guarani  (Língua)  :—  Ver  Tupi 
(Língua). 

Guerras  :  Dos  índios  entre  si : 
«quase  todo  o  seu  pensamento  e 
cuidado»  258-259,  aprovadas  por 
capitães  e  prelados  76-77,  en- 
tre os  índios  do  Tubarão  e  Mi- 
rangaoba  só  acabadas  no  tempo 
de  Mem  de  Sá  89-90,  de  Itapuã 


590 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


84,  do  Espírito  Santo  81  90  97 
99;  guerras  de  Mem  de  Sá  96*, 
de  Ilhéus  89  139,  do  Paraguaçú 
motivos  vitória  e  condições  de 
paz  57  158  241,  cercas  dos  con- 
trários 154  156  158,  vai  gente  de 
cavalo  58  158,  os  índios  amigos 
foram  já  armados  com  o  «nome 
de  Jesus»  58,  e  tomava  conta 
deles  o  Ir.  António  Rodrigues 
r57»  °iue  está  presente  e  dá  no- 
tícias 154-156,  operando-se  o 
«  desencantamento»  do  Para- 
guaçú 96 ;  ataque  dos  Tupina- 
guaens  no  sertão  da  Baía  499- 
-500. 

No  Rio  de  Janeiro  (ver 
Franceses);  na  Capitania  de 
S.  Vicente  342-343,  contra  os 
Tamóios  62*,  a  gente  de  São 
Paulo  combatia  «por  amor  de 
Deus»  379,  ia  com  ela  o  P.  Paiva 
e  o  Ir.  Serrão  345  378-379'»  no 
sertão  de  S.  Vicente  103-104, 
índios  já  cristãos  que  conti- 
nuam em  guerras  intertribais 
76*  455,  e  parece  quererem  dar 
guerra  aos  Portugueses  (1561) 
363,  atacam  São  Paulo  (1562) 
sendo  derrotados  551. 

Guibert,  Joseph  de:  Escritor.  45*6. 

Guillen,  Filipe  de:  Provedor  de 
Porto  Seguro.  192  499. 

Guiné:  95  101  274-276  304  340  486. 

Gutierres,  C. :  Escritor.  45*  79*. 

Habitação:  —  Ver  Artes  e  Ofí-  ' 

CIOS. 

Hagiografia  :  —  Ver  Culto. 

Henrique,  Cardeal  D. :  Infante  de 
Portugal  e  regente  do  Reino. 
Escreve  a  Nóbrega  que  o  in- 
forme das  coisas  do  Brasil  73" 
238-239,  carta  de  Nóbrega  73* 
97*  237-246;  108*  32  148  195 
321  498  510. 


Henrique  II :  Rei  de  França.  245 
264. 

Henriques,  Francisco :  Procura- 
dor em  Lisboa  das  Missões 
Ultramarinas.  Vida  82*,  infor- 
mação dos  seus  ofícios  385-386  ; 
77*  84*  151  336  347-352  393  461. 

Heranças  :  Recusada  uma  por 
parecer  estipêndio  de  missas 
542,  devem-se  evitar  pleitos 
545- 

Heresias:  Luteranos  e  calvinis- 
tas 80,  três  seitas  entre  os  fran- 
ceses no  Rio  de  Janeiro  1811 
mandam  meninos  a  Calvino  363, 
processo  de  Bolés  175-196,  os 
hereges  ofendem  o  culto  cató- 
lico 497-498  ;  244  265  321  394. 

«História  da  Colonização  Portu- 
guesa do  Brasil»:  45*. 

«História  da  Companhia  de  Jesus 
no  Brasil»  :  113*  117*. 

Hoehne,  F.  C. :  Escritor.  46*  231- 
234  256. 

Holandeses:  76*. 

Homem  de  Melo,  Barão:  Cartó- 
grafo. 46*  37  329. 

Honestidade  Pública  :  —  Ver  Mo- 
ralidade pública. 

Ibás  :  Pinhões  233  351. 

Igreja  :  Católica  162,  espírito  de 
reforma  74  78,  defesa  contra  as 
heresias  178. 

Igreja  da  Ajuda  :  Em  Porto  Se- 
guro 85*. 

—  Baía  :  Culto  63*,  obras  65,  de 
Mem  de  Sá  (de  pedra  e  cal) 
43i  449- 

—  Itanhaém:  Orago  N.a  S.a  da 
Conceição  «num  monte  assaz 
áspero»  560. 

—  Olinda  :  333  334. 

—  S.  Antão:  Em  Lisboa,  fun- 
dada por  D.  Filipa  de  Sá  114* 
85  174. 


Índice  alfabético  e  remissivo 


591 


—  S.  António  dos  Portugueses  : 
Em  Roma,  sermão  do  P.  Gon- 
çalo Vaz  de  Melo  81*. 

—  S.  Paulo  de  Piratininga:  372, 
sepultura  de  Tibiriçá  555. 

—  S.  Roque:  Em  Lisboa,  cons- 
trução 83*. 

—  S.  Tiago:   No  Espírito  Santo. 

44-45  462-464. 

Igrejas  de  Aldeias:  Bom  Jesus 
387  474,  Conceição  466,  Espí- 
rito Santo  282-283,  Santa  Cruz 
de  Itaparica  445  incendiada  501- 
-502,  S.  João  299  399,  S.  Paulo 
(Baía)  54,  S.  Tiago  (Baía)  300- 
-301. 

Iguapé:  354. 

Ilha  America :  182. 

—  do  Cururupeba ;  91. 

—  Frade  :  155. 

—  Itamaracá :  331. 

—  Itaparica:  62*  57  88  95  96  158  395 
406  408-409  414  415  418  426  442 
447  471  501  535. —  Ver  Aldeia 
de  Santa  Crus. 

—  Madeira :  523. 

—  Madre  de  Deus  :  91. 

—  Maré :  57  157. 

—  S.  António  :  40. 

—  Tinharé :  96  426  482. 

Ilhéus :  Capitania  de  Lucas  Gi- 
raldes  522,  guerra  e  vitória  do 
Governador  Mem  de  Sá  96*  58 
59  89  97-101  109  139  240,  se 
o  Governador  não  acudira  os 
índios  teriam  matado  o  capitão 
171,  pensa-se  em  Portugal  em 
fundar  aí  um  Colégio  70^-71* 
434,  projecto  e  traça  da  casa  da 
Companhia,  ajuda  do  Gover- 
nador e  moradores  306,  devia 
ser  Capitania  de  El-Rei  430, 
visita  do  Bispo  424,  ermida 
fora  da  ilha  326,  pede  Padres 
494,  chegam  e  construção  da 
Casa  e  Igreja  540;  79  82  158 


327  437  438  47i  48i  486  501  5" 
524  525  528  533  538  546.  -  Ver 
Engenhos. 
Imigração:  O  Brasil  precisa  mais 
de  moradores  que  de  soldados 
245- 

'  Inácio  de  Loyola:  Santo.  Fun- 
dador da  Companhia  de  Jesus. 
Nomeia  Nóbrega  Provincial  do 
Brasil  71*,  imitado  por  Nóbrega 
73* ;  78*  80*  104*  30  107  114  522. 

Índia:  Procuratura  em  Lisboa  348 
383,  correspondência  epistolar 
385  522,  pano  que  vem  das 
índias  518,  perturbação  108, 
comparação  com  o  Brasil  494; 
60*  92*  105*  108*  4  14  55  106 
112  146  196  245  272  279  303  309 
316  318  340  358  394  488  499. 

índia  D.  Branca:  Mulher  de  Vasco 
Fernandes  (Gato).  Grande  in- 
fluência entre  os  índios  47. 

índio  Aracaém  :  Dizem  que  sera 
de  120  anos  477. 

—  Baltasar :  387. 

—  Bastião  da  Ponte  :  122. 

—  Belchior:  48. 

—  Benedito  :  113. 

—  Capim:  Sobrinho  de  Aracaém 
477,  o  que  lhe  sucedeu  na  ci- 
dade da  Baía  479-480. 

—  Caquiriacum:  «Comedor  de  car- 
nes humanas»  387  389. 

—  Cururupeba:  Desobediência, 
prisão  e  emenda  91-92,  57. 

—  Filipe  :  562. 

—  Francisco  :  Catequista  426-427. 

—  Garcia  de  Sá :  Meirinho  da  Al- 
deia de  S.  Paulo  122  135,  bap- 
tismo 136,  vende  a  plumagem 
137- 

—  Gaspar :  42. 

—  Gato  Grande: — Ver  índio  Vasco 
Fernandes. 

—  Gonçalo:  Penitência  por  ven- 
der uma  sobrinha  44. 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


Grilo :  508. 

Henrique  Luis:  424  427. 
Jagoanharô  (Cão  Bravo)  :  552. 
João  Caiubi:  Amigo  fiel  e  morte 
edificante  372-373  376. 
Manemoaçu  :  Filho  do  Gato  39. 
Maracajaguaçu :  467. 
Matanim  :   «Doutor  entre  os 
seus»  42. 

Mirangaoba  :  59  86  87. 
Parajuba :  121. 
Piquerobi  :  552. 
Tarajó :  158. 

Tibiriçá  (Martim  Afonso):  Prin- 
cipal de  Piratininga,  amigo  fiel 
dos  Portugueses  e  dos  Padres 
«De  tanto  tino  e  sabedoria  que 
não  parecia  homem  brasil»  555, 
defende  São  Paulo  contra  ou- 
tros índios  e  parentes  550-553, 
morte  cristã  com  sentimento 
geral  555"556. 
Tubarão :  84  89. 
Urupemaiba:  Meirinho.  122  126. 

-  Vasco  Fernandes  (Gato):  Prin- 
cipal na  Capitania  do  Espírito 
Santo.  Prudente  e  sagaz  38, 
ataca  os  Franceses  em  Itape- 
mirim  22;  36  37  45  47  79  82  467. 

NDios:  Regime  familiar.  Uma 
das  suas  maiores  coisas  e  hon- 
ras: ter  muitas  mulheres  e  mui- 
tos filhos  315,  poligamia  53  442 
476,  não  tinham  casamento  nem 
in  lege  naturae  294-295,  sobri- 
nhas que  herdam  por  verda- 
deiras mulheres  442,  matam  ao 
nascer  os  filhos  que  suspeitam 
de  adultério  21,  enterram  uma 
criança  viva  com  a  mãe  morta, 
enterram  outra  viva  20,  as  mu- 
lheres índias  abortam  com  fa- 
cilidade sem  querer  ou  por 
querer,  matando  os  filhos  254. 

Regime  económico,  político 
e  social.    Costumam  mudar  de 


sítio  de  4  em  4  ou  5  em  5  anos 
359,  custa-lhes  «ficarem  muitos 
de  baixo  de  um  só»  476,  o  «se- 
nhor da  fala»  408,  dizem  as 
coisas  sem  circunlóquios  (in- 
cluindo as  sexuais)  206,  o  pranto 
ou  choro  saudoso  484,  sauda- 
ção de  paz  e  amizade  «vieste  ?» 
439,  rito  de  pazes  entre  contrá- 
rios 478,  comer  no  mesmo  prato 
e  beber  pelo  mesmo  vaso  479, 
pela  coroa  ou  corte  do  cabelo 
se  conhecem  as  nações  no. 

Despreocupados  do  dia  se- 
guinte se  o  não  caçam  (pes- 
cam) não  têm  sustento  294, 
redes  de  dormir  e  canas  de 
pescar  12T,  comem  cobras  tor- 
radas ao  fogo,  sapos,  lagartos 
e  ratos  216,  bichos  de  taquara 
225,  formigas  226;  excesssos  no 
beber  (ver  Vinhos);  o  gentio 
de  Pernambuco  mais  rico  que 
o  de  outras  Capitanias  335,  re- 
cepções à  moda  índia  nas  Al- 
deias da  Baía  312-313  404-405 
475- 

Religião  e  feiticeiros.  Os 
trovões:  Deus  559,  feiticeiros 
(pagés)  40  206  403  455  485,  «chu- 
pam» 250  408-409,  e  «tiram  a 
palha»  aos  doentes  64-65.  feiti- 
çarias e  laços  para  prender  a 
morte  65,  depois  (aculturação) 
em  vez  de  laços,  cruzes  137; 
os  feiticeiros  queriam  fazer-se 
deuses  com  as  suas  feitiçarias 
133,  a  «santidade»  54  102,  o  que 
pregavam  53,  tremor  e  assom- 
bramento das  índias  137,  mor- 
rem de  pura  imaginação  416, 
tiram  os  seus  dós  pelos  mortos 
109-110,  a  feiticeira  incendiária 
502. 

Espectros  e  demónios  234- 
-236. 


ÍNDICE   ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


593 


Enfeites.  Homens  e  mulhe- 
res com  contas  e  galantarias  de 
penas  de  diversas  cores  e  la- 
vores 475,  pena  louçã  447,  ca- 
pas e  trajes  137,  plumas  de 
guará  nos  braços  e  cabelos  230, 
tosquiam  o  cabelo  e  fazem  co- 
roa 109-110,  um  índio  deixou 
crescer  a  barba  para  se  parecer 
com  os  Portugueses  441,  pedras 
nos  beiços  426,  não  são  serpes, 
mas  gente  nua  102,  espada  de 
guerra  de  «pau»  pintada  e  or- 
nada de  plumas  551. 

Guerras.  Vangloriam-se  de 
ser  valentes  e  ditosos  nas  suas 
guerras  133476,  elas  eram  quase 
todo  o  seu  pensamento  e  cui- 
dado 258-259  (ver  Guerras), 
cerimonias  da  morte  do  cativo 
em  terreiro  261-262  (ver  An- 
tropofagia). 

Grandes  alaridos  de  danças 
e  tangeres  440  (ver  Música). 

Capacidade   (ver  CONVER- 
SÃO do  Gentio). 
Índios  Aimurés:  526. 

—  Caetés  :  Que  mataram  o  Bispo 
e  companheiros  e  os  comeram. 
Sentença  contra  eles  489. 

—  Carijós  :  15  103. 

—  do  Gato  :  «Sempre  amigos  dos 
cristãos»  (Portugueses)  467  ;  79 
242. 

—  Maramomins  :  363  458. 

—  Potiguares  :  497. 

—  Tamoios  :  Feitos  com  os  Fran- 
ceses na  fortaleza  do  Rio  de  Ja- 
neiro quando  foi  tomada  pelos 
Portugueses  244;  cometem  tro- 
pelias e  roubos  e  mortes  na 
Capitania  de  S.  Vicente  263 
563,  os  moradores  de  São  Paulo 
determinam  fazer-lhes  guerra 
para  poder  viver  em  paz  377- 
-378  ;  62*  83  345  548. 

38 


—  TUPIGUAENS  :  499. 

—  Tupis  e  Tupinaquins:  Os  de 
São  Paulo,  dispersos,  recusam 
a  doutrina  cristã,  excepto  pou- 
cos 370,  cometem  tropelias  e 
matam  377-378,  «ladrões  de  casa» 
548  554,  atacam  São  Paulo  de 
Piratininga  e  são  vencidos  419 
548-554 ;  os  do  Espírito  Santo 
menos  aptos  para  a  doutrina 
que  os  índios  do  Gato  467,  os 
dos  sertões  de  Ilhéus  perse- 
guem os  índios  amigos  ou  con- 
vertidos 481 ;  15  79  81  97  98  103 
104  240  242. 

Inocêncio :  — Ver  Silva,  Innocencio 
Francisco  da. 

Inquisição  :  Processo  de  João  de 
Bolés  105*  175-196  498. 

Instituto  do  Açúcar  e  do  Ál- 
cool: 174. 

Instituto  Português  de  Ar- 
queologia, História  e  Etno- 
grafia :  279. 

Instrução  :  —Ver  Educação. 
'■■  Iparraguirre,  Ignacio:  Escritor.  47*. 

Iperoig:  77*  544,  Nóbrega  levando 
por  intérprete  a  Anchieta,  pre- 
para-se  para  ir  lá  fazer  pazes 
com  os  índios  contrários  565. 

Itália  :  60*  3  33  74  177  460  487  488 
544- 

Itamaracá :  331. 

Itanhaèm :  Quase  todos  os  seus 
moradores  se  confessam  e  co- 
mungam 374-375,  ministérios  e 
pregações  de  Nóbrega  453;  554 
558-560. 

Itaparica :  —  Ver  Ilhas. 

Itapemirim :  Franceses,  alguns  dos 
quais  aprisionados  22;  19  21  37. 

Itapuã:  84  118  121  127  142. 

Jacaré  :  213-214. 
•  Jácome,  Diogo  :   Em  Piratininga 
faz  e  ensina  a  fazer  rosários  255- 


594 


índice  alfabético  e  remissivo 


-256,  ministérios  com  a  escrava- 
ria  de  Ilhéus  534-535,  cartas  per- 
didas 532  546;  4  357  461  538  564. 
Jaèn:  495. 

Jangadas  :  75*  312  427  437  504. 
Janssens,  João  Baptista:  Geral  S.  I. 
116*. 

Japão  :  106*  108*  340. 
Jaraguá :  330. 

Jaraibatiba:  —  Ver  Geraibatiba. 
Jerusalém :  321. 

Jesuítas  :  —  Ver  Companhia  de 
Jesus. 

Jesus  (Nome  de)  :  —  Ver  Culto. 

Joana,  Princesa  D. :  Mãe  do  Rei 
D.  Sebastião.  148. 

Joanne,  Adolphe:  Escritor.  179. 

João,  Príncipe  D. :  Pai  do  Rei 
D.  Sebastião.  148. 

João  III  (D.):  Rei  de  Portugal. 
«Quase  pai»  da  Companhia  de 
Jesus  117*.  escolhe-a  para  a 
conversão  do  gentio  do  Brasil 
71  322,  manda  povoar  o  Brasil 
menos  por  bens  materiais  que 
pela  exaltação  da  fé  e  salvação 
das  almas  81,  manda  restituir  à 
liberdade  índios  injustamente 
cativos  92,  esmola  de  gado  347, 
correspondência  com  Nóbrega 
99*,  retrato  2*/3*  ;  73*  80*  96* 
74  148  198  310. 

Jogo:  Coibe-se  o  ilícito  86  92, 
promove-se  o  escolar  75*  296. 

Jordão,  Levi  Maria:  —  Ver  Paiva 
Manso. 

Jorge,  Fernão:  Juiz.  271. 

Jorge,  Marcos:  Escritor.  90*. 

Jorge,  Simão :  515. 

Jorge,  Simão:  Morador  de  São 
Paulo.  337. 

Jorge,  Simão:  Filho  do  precedente. 
337- 

José  (Irmão):  Vida  481,  falecido 

precocemente  163-165,  484. 
Jubileus:  417  418. 


Judeus  :  179  193. 

Júlio  III :  Papa.  78*  55. 

Justiça  :  O  Governador  deve  ter 
poderes  largos  para  castigar  e 
perdoar  172,  a  corte  de  Lisboa 
recomenda  justiça  e  igualdade 
510.  —  Ver  Direito  Penal  nas 
Aldeias. 

:i:  La  Cerda,  Agustin  de  :  Missioná- 
rio de  Angola.  166. 
Lacticínios  :  70*  349. 
Ladainhas  :  —  Ver  Ministérios. 
Lamas  (Lhamas)  :  68*  225. 
Lamego :  434. 
Lapas:  95. 
Lascarins  :  303. 

Latim:  — Ver  Colégios;  ver  Edu- 
cação. 

*  Laynes,  Diego :  2°  Geral  S.  I. 
Vida  78*.  Ao  ser  eleito  Geral 
confirma  a  Nóbrega  no  cargo  de 
Provincial  do  Brasil  71*  79*  114, 
exortação  aos  missionários  do 
Brasil  e  da  índia  6-11,  alegria 
de  Nóbrega  ao  saber  que  ele 
foi  eleito  Geral  114,  contenta- 
mento ao  chegarem  as  suas 
cartas  145,  sua  satisfação  por 
se  tomar  a  fortaleza  luterana 
do  Rio  de  Janeiro  321,  aprova 
a  orientação  e  medidas  propos- 
tas por  Nóbrega  para  a  educa- 
ção da  juventude  66*  360  366, 
assim  como  as  demais  propos- 
tas do  mesmo  Padre  512-516, 
comunica-as  ao  provincial  Grã 
519,  a  outras  propostas  res- 
ponde Polanco  por  comissão 
do  Geral  541-545- 

No  Concílio  de  Trento  460, 
regozija-se  com  o  aumento  da 
conversão  do  gentio  e  promete 
missionários  520,  cartas  perdi- 
das 4 ;  60*  69*  77*  103*  104*  3  6 
16  31  32  71  107  108  112  113  129 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


595 


140  141  144  163  164  202  246  269 
316  317  320  337  354  382  384  394 

395  433  435  45*  4^8  5*6  54i  546 
565. 

Laynes,  Juan  :  Pai  de  Diego  Lay- 

nes.  78*. 
Le  Boulay  :  179. 

Leitão,  António  :  Cantor.  289  294. 

Leitão,  Domingos:  551. 

Leitão,  D.  Pedro :  2.0  Bispo  do 
Brasil.  Enganado  ao  começo 
322,  esperado  na  Baía  iôr,  pri- 
meiras ordenações  sacerdotais 
35*  87*,  proibe  os  seus  cléri- 
gos de  confessar  por  causa  dos 
escravos  65*  487,  mas  a  sua  ati- 
tude sobre  resgate  de  escravos 
suscita  alguma  dúvida  542,  pre- 
gador na  Baía  288,  prega  contra 
os  desaforos  feitos  aos  índios 
417-418,  ajuda  as  Aldeias  com 
ornamentos  e  outros  objectos 
62*  417,  zelo  pela  conversão  do 
gentio  431  450,  faz  baptismos 
e  casamentos  418  423-424  446. 
missa  de  pontifical  447,  con- 
sidera os  índios  como  ovelhas 
suas  448,  ia  em  rede  nos  cami- 
nhos 444,  «amor  e  fiel  amizade 
à  Companhia»  443,  tinha  sido 
em  Portugal  filho  espiritual  de 
Nóbrega  27;  23  33  35  149  163 
187  189  190  305  471  538. 

Leitão,  Pero :  289. 

Leite  :  349. 

Leite,  José:  Escritor.  116*. 
Leite,  Serafim :  Escritor.  43*  46* 

48*  83*  84*  ii3*-ii4*  72  391  459 

552 ;  e  passim. 
Leite  Cordeiro,  J.  P.:  Escritor.  47* 

116*  80  347. 
Lendas  :  234-236. 

Lery,  Jean  de:  Escritor.  47*  182 
183. 

Leturia,  Pedro  de :  Escritor.  44* 
47*  10. 


Liberdade  dos  Índios:  Defendida 
por  Nóbrega  74*,  que  fecha  a 
porta  das  confissões  aos  que 
têm  escravos  mal  havidos  66, 
D.  João  III  mandou  restituir 
os  índios  injustamente  cativos 
92,  a  Mesa  da  Consciência  e  o 
resgate  do  gentio  173,  os  mora- 
dores ensinaram  os  índios  a 
«furtarem-se  a  si  mesmos»  57* 
79,  e  queriam  os  órfãos  e  órfãs 
e  até  casados  à  soldada,  mas 
o  Governador  Mem  de  Sá  im- 
pediu-o  92  431,  abusos  come- 
tidos 437-438,  alguma  dúvida 
sobre  a  atitude  do  Bispo  em 
relação  a  resgates  542,  peni- 
tência a  um  índio  que  vendeu 
a  filha  e  a  outro  que  vendeu  a 
sobrinha  43-44;  239. —Ver  Es- 
cravos. 
■■■  Liétard,  Nicolas:  182. 

Língua  Brasílica  :  —  Ver  Tupi 
(Língua). 

Língua  Maramomim  :  458. 

Língua  Portuguesa  :  Nas  esco- 
las de  meninos  de  ler  e  escre- 
ver Cver  Educação),  doutrina 
aos  índios  na  língua  brasílica 
e  em  português  62*  132  296  310, 
cantos  na  língua  e  em  portu- 
guês 66*  56,  prosa  bilingue  135, 
doutrina  e  orações  em  portu- 
guês 48,  na  Baía  há  escravos 
que  falam  português  506,  em 
Pernambuco  as  escravas  só 
querem  falar  em  português 
333,  no  Espírito  Santo  um  me- 
nino índio  prega  a  Paixão  em 
português  463. 

Linhares,  Conde  de  :  174. 

Lisboa  :  Confraria  do  Nome  de  Je- 
sus 143,  Casa  Professa  de  S.  Ro- 
que 340,  esmolas  que  recebe 
486,  Procuratura  das  Missões 
Ultramarinas  S.  I.  82*  83*  151, 


596 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


índia,  Etiópia,  Brasil  e  Angola 
383,  de  Lisboa  dependem  todos 
os  negócios  das  missões  384- 
-385 ;  S.  Roque  60*  78*  81*  83* 
106*  17  36  49  67  77  108  118  120 
123  125  128  141  153  159  202  237 
247  280  285  297  307  323  367  386 
388  391  394  395  428  435  451  461 
464  469  516  533  546;  Arquivo 
Nacional  da  Torre  do  Tombo 
100*  104*  105*  ix  15  168  175  318 
341 ;  Arquivo  Histórico  Ultra- 
marino 64;  Biblioteca  da  Aca- 
demia das  Ciências  100*  106* 
272;  Biblioteca  da  Ajuda  100* 
105*  23  273  318;  Biblioteca  Na- 
cional 100*  105*  6  272 ;  57*  58* 
117*  5  32  64  85  148  151  163  175 
178  179  273  316  320  326  339  391 

397  433  459  522- 

Lisboa,  Baltasar  da  Silva:  —  Ver 
Silva  Lisboa. 

Livros  :  Crónicas  no  Colégio  da 
Baía  184,  livros  enviados  de 
Portugal  para  o  Brasil  e  Angola 
486,  espirituais  332  498,  livros 
protestantes  186  195  244  268. 

Lontras  :  214. 

Lopes,  Cristóvão:  Pintor.  117*. 
"Lourenço,  Brás:  Superior  do  Es- 
pírito Santo.  Naufrágio  209,  ca- 
ridade com  feridos  e  mortos  da 
epidemia  18,  pregador  64*  402, 
director  espiritual  do  Capitão- 
-Mor  465,  empunha  a  bandeira 
de  S.  Tiago  contra  os  France- 
ses 465,  «alferes»  da  resistên- 
cia 496,  faz  de  Vigário  462-463 ; 
77*  85*  4  37  40  41  47  171  211  460 
461. 

*  Lourenço,  Gaspar  :  Missionário 
dos  índios.  Vida  397-398.  En- 
trou menino  no  Brasil  61*,  pa- 
rece que  sabia  o  tupi  melhor 
que  o  português  403,  intérprete 
dos  índios  na  tomada  da  forta- 


leza do  Rio  de  Janeiro  243, 
adoece  de  febre  e  câmaras  267, 
caridade  com  uma  índia  em  Pi- 
ratininga  267,  chega  à  Baía  304, 
intérprete  de  Grã  398,  entrava 
pelas  Aldeias  pregando  em  voz 
alta  62*  398-399,  fundador  da 
Aldeia  de  S.  João  (2.a)  397,  na 
Aldeia  de  S.  Pedro  475,  baptis- 
mos in  extremis  401-404.  exerce 
a  flebotomia  504,  acode  ao  P. 
Grã  em  perigo  de  se  afogar  504, 
carta  perdida  98*  336 ;  414. 
Lourenço,  Silvestre  :  Mestre-es- 
cola  da  Sé  189,  Vigário  de  Per- 
nambuco 190  194. 

*  Loyola,  Inácio  de  :  —  Ver  Inácio. 

*  Lucena,  Fabiano  de :  Tem  cargo 

dos  índios  do  Espírito  Santo 
461  463  466  468. 

*  Luís,  Fernão  :  Confessor  de  solda- 

dos na  tomada  da  fortaleza  do 
Rio  de  Janeiro  243  267,  depoi- 
mento no  processo  de  Bolés 
177  188  ;  458. 

Luís,  Henrique :  Feitor.  327  424. 

Luís,  João  :  Mestre.  279. 

Luteranos  :  Processo  de  Bolés 
175-196,  242  321. 

Lutero,  Martim :  Heresiarca.  182 
184  185. 

Macacos  :  223-224. 
Maceió :  329  330. 

Machado,  José  Pedro:  Escritor.  47* 
223. 

Machado  de  Faria,  António:  Es- 
critor 47*. 

Madahil,  A.  G.  da  Rocha :  Escri- 
tor. 47*  95*. 

Madeira :  523. 

Madeiras  :  232-233,  possibilidade 
de  fazer  armadas  com  madeiras 
do  Brasil  245. 

Madre  de  Deus,  Frei  Vicente  da  : 
Escritor.  47*  201  346. 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


597 


Madrid :  Biblioteca  Nacional  100*, 
Colégiod  e  Chamartln  100*;  109*. 
Magalhães,  Basilio  de :  Escritor. 

47*  5i- 
Magia  :  —  Ver  Índios. 
Malta;  321. 

Maluco  :  —  Ver  Molucas. 

Mamalucos  :  —  Ver  Mestiços. 

Mandioca  :  —  Ver  Agricultura. 

Mangar  ai :  47. 

Mangenot,  E. :  Escritor.  47*. 

Mangues  :  40  232. 

Manso,  Pedro  :  Vigário.  194. 

Mantimentos  :  —  Ver  Sustenta- 
ção (Meios  de). 

«Manual  Bibliográfico  de  Estudos 
Brasileiros» :  47*. 

Manuel  I  (D.):  Rei  de  Portugal. 
495- 

Mar:  Os  missionários  levam  man- 
timentos dados  pelo  Rei  de 
Portugal  para  a  viagem  164.  — 
Ver  Navegação. 

Maracás  :  447. 

Maranhão,  Gil  Metódio  :  Escritor. 
174. 

Marante,  João  :  Escrivão.  191-194. 

Mariguegipe :  147. 

Mário  de  Oliveira  Pinto,  Olivério  : 

Escritor.   203  208  214  215  226 

228-231. 

Mariz,  António  de:  Morador  de 
São  Paulo.  344. 

Mariz  de  Morais,  José :  Escritor. 
47*  67  74  237  546. 

Marmeladas  :  351. 

Marrocos :  148  340. 

Marta  (D.) :  538. 

Marvão  :  458. 
;:  Mateos,  Francisco  :  43*. 

Matrimónio  :  —  Ver  Sacramen- 
tos. 

;  Maurício  Gomes  dos  Santos,  Do- 
mingos :  Escritor.  47*. 
Mazoyer,  Ph.  de  :  Escritor.  42*. 
Medicina:  Os  Padres  são  médicos 


dos  índios  63*,  o  cancro  215,  o 
unicórnio  536-537,  plantas  me- 
dicinais 233-234  350-351  543.  — 
Ver  Doenças. 

Médicis,  Júlio  de  :  Papa.  184. 

Meirinhos  :  índios  75*  53  59  122 
126  172  313  502  554.  —  Ver  Di- 
reito Penal  nas  Aldeias. 

Mel  :  227. 

*  Melo,  António  de  :  304. 

Melo,  António  de:  Pai  do  P.  Gon- 
çalo Vaz  de  Melo.  81*. 

Melo,  Cristóvão  de :  Senhor  de 
Povolide.  81*. 

*  Melo,  Inácio  de  :  463-464. 

*  Melo,  João  de  :  Reitor  da  Bala. 

Vida  86*,  carta  perdida  168;  59* 

75*  77*  65  163-165  279  280  328 

379  48r  495  5°5- 
Melo,  Jorge  de :  Pai  do  Donatário 

Vasco  Fernandes  Coutinho  47. 
Melo,  Jorge  de :  Filho  do  mesmo 

Donatário  464. 
Melo,  Martim  Afonso  de  :  Irmão 

do  precedente  464. 
Melo  Leitão,  C.  de :  Escritor.  47* 

219  230. 

Melo  Morais,  A.  J.  de:  Escritor. 
47*  237- 

*  Mendes,  António  :  Missionário  de 

Angola.  166. 
Mendes  de  Almeida,  João  :  Escri- 
tor. 552. 

Mendes  de  Sá,  Gonçalo:  Cónego. 
95*  74- 

*  Mendizábal,  Rufo :    Escritor.  6* 

116*. 

Mendonça,  Leonor  Marques  de : 
264. 

Meneses,  D.  Jorge :  Morto  na 
guerra  do  Espírito  Santo  81. 

*  Mercuriano,  Everardo  :  Geral  S.  I. 

80*. 

Mesa  da  Consciência  :  Determi- 
nação sobre  o  resgate  do  gen- 
tio 173. 


598 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


Mestiços  :  Às  vezes  não  se  dife- 
renciam dos  gentios  366,  alu- 
nos 65*,  recebidos  na  Compa- 
nhia 338-339  459,  convinha  man- 
dá-los formar  na  Europa  para 
voltarem  bons  operários  363, 
um  em  Coimbra  363,  Ir.  Ci- 
priano 83*,  Ir.  Bart.  Gonçalves 
191  353  5  5J3  5*5 '>  há  muitas 
mestiças  em  São  Paulo  344; 
"6  357  500. 

Mestre,  Vicente  :  163  165  420. 

Meteorologia  :  204-208  258  371. 

Métodos  de  Catequese:  De  Nó- 
brega nas  Aldeias  51-52 ;  293- 
-294  401.  —  Ver  Conversão  do 
Gentio. 

Métraux,  A. :  Escritor.  47*  202  235. 
México :  225. 

Michaèlis  de  Vasconcelos,  Caro- 
lina :  Escritora.  50*  95*. 
Milho  :  149  228  406  416. 
Mina:  340. 

Minas  :  De  oiro  91  419,  entrada 
da  Baía  até  à  Chapada  Diaman- 
tina 499,  mostras  500;  de  prata 
191,  prateiro  de  Lisboa  na  Baía 
414 ;  metais  245. 

Minas  Gerais :  500. 

Minho:  8e*  53  337  375. 

Ministérios  :  Pregações  de  Nó- 
brega na  quaresma  e  advento 
66  131,  só  prega  o  P.  Nóbrega 
147,  382  453;  Grã  pregador  in- 
cansável parece  que  não  sofria 
passar-se  um  dia  santo  sem 
pregar  449,  480  490;  sermão  do 
mandato  (Grã)  e  da  Paixão 
(Francisco  Pires)  412-413  ;  64* 
iii  334  288  462  463  494  534  538- 
-539 ;  pregadores  dos  índios 
62*,  nas  Aldeias  52  119  155, 
costume  de  entrar  nelas  pre- 
gando em  voz  alta  399. 

Procissões  da  Quaresma  e 
Semana  Santa  54-56  282-283,  de 


penitência  (com  disciplinas)  21 
255  283,  propiciatórias  na  Bala, 
semanais,  pelo  triunfo  das  ar- 
mas portuguesas  contra  os 
franceses  no  Rio  de  Janeiro 
62*  295,  gratulatórias  pela  vi- 
tória dos  Ilhéus  59,  do  Corpo 
de  Deus  56,  de  S.  Tiago  (com 
tiros  de  espingardas  e  câmaras) 
422,  outras  solenes  423  447,  os 
índios  nas  procissões  75. 

Ladainhas  propiciatórias  267 
295,  ad  petendam  pluviam  56, 
cantadas  155  423,  diárias  com  a 
Salve  nas  viagens  do  mar  334. 
Sábado  Santo  (oficio  das  fon- 
tes) 56. 

Com  os  moradores  63*  65*, 
na  Capitania  de  S.  Vicente  258, 
com  escravos  e  mulheres  dos 
Portugueses  em  São  Paulo  454. 

«Ajudar  a  bem  morrer»  491- 
-492  506-507.  —  Ver  Culto  ;  ver 
Escravos  ;  ver  Misericórdia 
(Obras  de)  ;  ver  Sacramentos. 

Miranda  de  Azevedo,  Augusto  Cé- 
sar :  Escritor.  112*. 

Miranda  e  Sotomaior,  João  Gon- 
çalves de :  95*. 
*  Mirón,  Diego:  Provincial  de  Por- 
tugal :  59*  80*  146  358. 

Misericórdia  (Obras  de)  :  Os  da 
Companhia  são  para  com  os 
índios  «aios,  pais,  médicos  e 
enfermeiros»  130,  «físicos»  400, 
visitar  os  doentes  52  91  205-206 
281,  curar  doentes  e  assistir  aos 
moribundos  63*  505-506,  e  «aju- 
dar a  bem  morrer»  49 '-492  e 
enterrar  os  mortos  na  epidemia 
do  Espírito  Santo  18,  na  peste 
da  Baía  291,  na  epidemia  de 
câmaras  de  sangue  (Capitania 
de  S.  Vicente)  377-380,  na  guer- 
ra do  Paraguaçu  155  (ver  Doen- 
ças). 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


599 


Pazes  entre  desavindos  86* 
532  534  539  i  restituições  539. 

O.  de  M.  espirituais  (ver 
Conversão  do  Gentio  ;  ver 
Educação). 
Missa  :  —  Ver  Catecúmenos  ;  ver 
Culto. 

Missionários  :  Grande  messe  de- 
pois da  sujeição  do  gentio  mas 
faltam  operários  239  241,  faltam 
para  evangelizar  os  Ilhéus  de- 
pois da  guerra  140,  faltam  para 
todas  as  novas  Aldeias  da  Baía 
87-88,  faltam  na  Baía  e  man- 
dam-se  vir  de  S.  Vicente  131, 
faltam  e  pedem-se  de  Portugal 
118  122  126  146  161-162  296  298 
303  308  3I3-3M  4l8  448  450-45i 
482  484  494  504-505,  pedem-nos 
e  desejam-nos  os  índios  e  os 
Portugueses  429-430;  enviam-se 
de  Portugal  mas  é  preciso  que 
doutras  partes  também  ajudem 
163-165,  necessidade  de  se  cria- 
rem em  Portugal  para  as  mis- 
sões ultramarinas  340,  pensa-se 
em  enviar  um  que  pudesse  ser 
Provincial  460. 

Missões  :  Exortação  do  P.  Geral 
Laynes  6-11,  todas  as  missões 
ultramarinas  da  Companhia  de- 
pendem de  Portugal  340,  em 
Lisboa  procuratura  geral  83* 
383- 

Molina,  Luís  de  :  104*. 

Molucas :  106*  108*  340. 

Monções  :  205  240  287  325. 

Moniz,  Febo:  Patriota.  495. 

Monomotapa :  108*. 

Monte- Redondo :  86*. 

Monteiro,  Gonçalo  :  Vigário  e  Ou- 
vidor eclesiástico  de  Santos. 
176-178  183  187-189  199  266. 

Monteiro,  Jácome :  Escritor.  48* 
219  221-225  230. 

Monterrey :  339 


«Monumenta  Histórica  S.  I.»  :  48* 
112*. 

Morais,  Francisco  de:  Capitão-Mor 
de  S.  Vicente.  197  271  353  375. 

Morais,  Francisco  de  :  Escrivão  da 
Provedoria  da  Baía.  201. 

Moralidade  Pública  :  Nóbrega 
fecha  a  porta  das  confissões 
aos  amancebados  66,  apar- 
tam-se  amancebados  534  538- 
-539,  mau  exemplo  dos  cléri- 
gos 73-75- 

Moreira,  Jorge  :  Morador  de  São 
Paulo.  177  347. 

Morim,  Diogo  de  :  Morador  no  Es- 
pírito Santo.  39. 

Mosquitos  :  228  487. 

Mosteiro  de  Santa  Catarina  de 
Sena  :  Em  Évora  741. 

Mosteiro  de  Santa  Cruz  :  Em 
Coimbra,  23  166. 

*  Mota,  Gaspar  da  :  459. 

Moura,  Américo  de  :  Escritor.  48* 
51  178  271  337  347  375. 

Moura,  Gildo :  Escritor.  174. 

Museu  de  Butantã  :  203. 

Música  :  Folias  nas  Aldeias  56  136 
3i2,dosíndios(«tangendoe  can- 
tando uma  folia  a  seu  modo») 
415  440,  com  maracás  447,  tam- 
boris 414,  festa  de  atambores 
414,  tangeres  e  atabales  475, 
dos  Brancos  419,  flautas  e  mú- 
sica 335. 

*  Nadal,  Jerónimo:  Comissário. 

Exame  84*  391  434;  60*  82*  310 

339  354  384  385  392  459- 
Nao,  Mestre  :  Francês.  21. 

*  Natalis,  Antonius  :   Escritor.  48* 

143- 

Navegação  :  Na  costa  da  Baía 
444-445,  da  Baía  a  Pernam- 
buco 325,  fluvial  (na  Capit.  de 
S.  Vicente)  378,  arribadas  452, 
navio  desgarrado  para  a  Pa- 


600 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


raíba  497,  falta  navio  de  S.  Vi- 
cente 430;  50  iii  162  248  303 
304  315  368  449  486  540. 
Navios  :  Da  carreira  da  índia  273- 
-276  522,  possibilidade  de  se 
fazerem  armadas  com  madeira 
da  terra  245,  os  navios  da  ar- 
mada de  Mem  de  Sá  conserta- 
ram-se  em  S.  Vicente  (1560) 
246;  naus  «Barrileira»  196, 
«Drago»  275,  «S.  Lourenço» 
168  324,  caravela  «S  João»  149 
324,  «S.  Paulo»  272  303,  «S.  Vi- 
cente» 275,  galeão  «S.  João  Bap- 
tista» 275,  armada  429,  carave- 
las 429  503,  navios  de  S.  Vicente 
267  496,  nau  do  Porto  496,  cara- 
velão  de  Pernambuco  328,  nau 
rasteira  325. 

Naus  francesas:  uma  to- 
mada no  Rio  de  Janeiro  189 
243  287,  duas  atacaram  o  Espí- 
rito Santo  sendo  repelidas  e 
outra  entrou  a  explorar  o  porto 
465  496,  outras  em  Alagoas  329, 
sete  no  Rio  de  Janeiro  496; 

274-275  45o  495- 
Naufrágios:  Nos  Abrolhos  (1553) 

209-211,  da  nau  «S.  Paulo»  92* 

279  ;  82  97  103  503 
Negros:— Ver  Escravos;  ver 

Guiné. 

Nemésio,  Vitorino:  Escritor.  48* 
49  67. 

Neves,  Álvaro  :  Escritor.  50*. 
*  Nóbrega,  Manuel  da:  Dois  desejos 
sempre  o  animaram :  conver- 
ter os  índios  e  reformar  os 
cristãos  71-73;  práticas  com 
Tomé  de  Sousa  97. 

I.  —  Fundador  da  Missão  e 
1.°  Provincial  do  Brasil. 

1.  —  Conversão  dos  índios. 

a)  Pediu  ao  Governador 
D.  Duarte  da  Costa  que  proi- 
bisse  a   antropofagia  e  jun- 


tasse algumas  aldeias  peque- 
nas numa  grande  84,  pede 
carta  régia  para  a  Câmara  da 
Baía  favorecer  a  conversão  16, 
para  os  novos  aldeamentos 
(com  a  ajuda  de  Mem  de  Sá) 
pede  missionários  de  Europa 
118,  manda  vir  alguns  de  S.Vi- 
cente, para  se  ordenarem  e 
ajudarem  146  162  564,  aldea- 
mentos 74*,  método  de  cate- 
quese 51-52,  na  Aldeia  de  S. 
Paulo  (Baía)  54  62,  na  do  Espí- 
rito Santo  157  170,  recebido 
festivamente  142-143  ,  ao  voltar 
a  São  Paulo  de  Piratininga(i5Ôo) 
manda  aos  Irmãos  que  visitem 
os  antigos  discípulos  dispersos 
pelos  arredores  370,  e  a  pouco 
a  pouco  se  reúnem  outros  256. 

b)  Defensor  dos  índios. 
Opõe-se  a  que  os  moradores 
tomem  as  terras  dos  índios 
aldeados  88,  opõe-se  à  repar- 
tição dos  índios  pelos  mora- 
dores por  não  haver  causa 
justa  nem  os  moradores  os 
poderem  doutrinar  92-94,  cerra 
as  portas  da  confissão  aos  que 
compram  escravos  mal  havi- 
dos 80,  para  elevar  e  autorizar 
os  índios  inicia  o  regime  penal 
nas  Aldeias  172,  zela  a  liber- 
dade dos  índios  542,  o  «Caso 
de  Consciência»  74*,  para  de- 
fender as  festas  cristãs  dos 
índios  nas  Aldeias  «declina  o 
foro»  55. 

c)  Baptismo  de  meninos  e 
adultos  in  extremis  62*,  de 
adultos  e  solene  na  Aldeia  de 
S.  Paulo  135,  baptiza  um  me- 
nino índio  que  tinha  visões  e 
sara  64,  confessa  por  intérprete 
r34  453i  move  os  índios  ao 
matrimónio  cristão  134. 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


601 


2.  —  Reforma  dos  costumes. 

a)  O  espírito  de  reforma 
da  Igreja  78,  zelo  pelo  resta- 
belecimento da  disciplina  ecle- 
siástica 74  77-78,  e  da  morali- 
dade pública  (contra  as  man- 
cebias) cerrando  a  porta  das 
confissões  80,  criticismo  cons- 
trutivo 58*. 

b)  i.°  Educador  do  Brasil 
66*.  Funda  escolas  de  ler  e 
escrever  em  todas  as  Aldeias 
65*  87,  os  meninos  brasis  têm 
aproveitado  tanto  «que  é  uma 
glória  vê-los»  115,  determina 
que  se  ensine  latim  aos  meni- 
nos brasis  mais  adiantados  132- 
-133,  propugna  o  envio  de  me- 
ninos brasis  e  mestiços  a  estu- 
dar em  Coimbra  ou  Évora  66* 
339  363,  mandou  alguns  mas  foi 
avisado  que  não  mandasse  mais 
363 ;  faz  a  Casa  de  São  Paulo 
de  Piratininga  para  educar  me- 
ninos e  catequizar  gentios  358- 
-359!  finda  e  defende  as  Casas 
de  Rapazes  356-365,  aprovadas 
depois  pelo  Geral  513-514;  para 
assegurar  a  obra  da  catequese 
e  ensino  procura  bens  mate- 
riais adequados  353-354,  lem- 
bra a  dotação  em  gado  348- 
349;  torna  a  mudar  para  São 
Paulo  as  escolas  de  S.  Vicente 
543,  propugna  a  fundação  de 
Casas  de  Meninas  365,  também 
aprovadas  pelo  Geral  514. 

c)  Pregador  64*,  na  Baía 
i3r,  único  147,  no  Advento  e 
Quaresma  (1558-1559)  66,  ser- 
mão de  N.a  S.a  Medianeira  60; 
na  Capitania  de  S.  Vicente  (vilas 
do  litoral)  453,  nas  vilas  e  em 
São  Paulo  de  Piratininga  557, 
prega  e  confessa  onde  estiver 
382,  «pondo  a  sua  alma  pela  de 


seus  irmãos»  (adoecendo  gra- 
vemente) 453. 

d)  Particularidades.  Pede 
ornamentos  e  utensílios  de  es- 
tanho e  cobre  151,  envia  para 
Portugal  conservas  de  frutas 
do  Brasil,  cujas  qualidades  te- 
rapêuticas indica  350-351;  de- 
poimento no  processo  de  João 
de  Bolés  184-187,  desgosto  ao 
saber  do  naufrágio  e  morte  do 
Bispo  82,  incumbe  aos  Irmãos 
que  escrevam  as  coisas  par- 
ticulares e  de  edificação  67*, 
alegria  pela  eleição  do  P.  Geral 
Laynes  72*  114,  atribui  aos 
outros  as  obras  de  zelo  73. 

II.  —  Religioso. 

a)  Professo  457,  fórmula 
dos  votos  simples  457,  antes 
das  Constituições  regia-se  no 
governo  da  Província  do  Brasil 
por  instruções  de  Portugal  e 
de  Roma  356,  segue  o  exemplo 
de  S.  Inácio  em  cultivar  as 
amizades  que  mais  podem  aju- 
dar ou  obstar  ao  bem  das  almas 
73*,  envia  abertas  para  Lisboa 
as  cartas  de  Roma  163,  confir- 
mado Provincial  pelo  novo  Ge- 
ral 79*  114,  mas  deixa  de  o  ser 
por  lho  ordenar  o  P.  Miguel  de 
Torres  sem  consulta  prévia  do 
novo  Geral  71*  31-35  107,  man- 
dado ir  para  S.  Vicente  e  con- 
tra-ordem  tardia  de  Torres  74* 
165-166. 

b)  Prepósito  da  Capitania 
de  S.  Vicente  271  556,  o  Geral 
Laynes  trata  das  coisas  do  Bra- 
sil através  de  Nóbrega  79*,  e 
aprova  a  sua  orientação  e  pro- 
postas 79*  152-516. 

c)  Cultiva  as  vocações  de 
meninos  e  adultos  61*  66*,  favo- 
rável à  admissão  de  brasis  e 


602 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


mestiços  na  Companhia  pre- 
parando-se  na  Europa  117,  e  à 
vinda  de  meninos  portugueses 
para  aprenderem  a  língua  363, 
ordena  uma  Casa  de  Recolhi- 
mento (Exercícios  Espirituais) 
em  São  Paulo  69*  10  382,  cui- 
dado da  saúde  dos  Irmãos  para 
o  serviço  de  Deus  366. 

d)  Humildade  de  santo 
(«abortivo  ante  tempo»)  diante 
da  atitude  do  P.  Torres  na  mu- 
dança de  Provincial  72*  114- 
-115;  com  que  fala  do  martírio 
que  sempre  desejou  e  pediu  a 
Deus  73;  com  que  fal-a  de  si- 
-mesmo  na  morte  do  P.  João 
Gonçalves  61. 

e)  Tido  por  héctico  ou  tí- 
sico 34  38,  as  suas  «manquei- 
ras» 62,  vão-se-lhe  apoucando 
as  forças  146,  grandes  e  con- 
tínuas enfermidades  131  166, 
corrimentos  e  postemas  114- 
-115,  chega  a  S.Vicente  muito 
chagado,  começa  a  melhorar 
268,  pernas  chagadas  e  sangue 
pela  boca  369,  melhora  e  prega 
382,  recai  gravemente  (1562) 
453,agora  muita  saúde  (1563)557. 

/)  Os  seus  caminhos.  Na 
Baía  e  visita  das  Aldeias  54  62 
142-143  157  170,  da  Baía  para 
S.  Vicente  com  o  Governador 
76*  75-7b  281  287,  no  Espírito 
Santo  242,  no  Rio  de  Janeiro 
(tomada  da  fortaleza)  243,  chega 
a  Santos  e  Colégio  de  S.  Vi- 
cente 268,  vai  para  Piratininga 
369,  anda  por  todas  as  vilas  dos 
Portugueses  pregando  e  con- 
fessando 453,  vai  a  caminho  de 
Iperoig  (1563)  364-365- 

III.  —  Preocupação  do  bem 
público. 

a)    A  «fé  e  o  império»  na 


mente  de  Nóbrega  58*,  o  plano 
civilizador  de  1558  57*  510  e  os 
seus  resultados  74*-77*;  clama 
por  socorro  a  favor  do  Brasil 
em  particular  da  Capitania  de 
S.Vicente  104-105,  necessidade 
de  se  povoar  o  Rio  de  Janeiro 
e  fazer  cidade  para  tudo  ficar 
defendido  245;  as  suas  amiza- 
des 73*,  amizade  e  colaboração 
com  o  Governador  Mem  de  Sá 
96*,  a  quem  louva  e  defende 
na  corte  de  Lisboa  58*  97*  86 
88,  conselheiro  do  Governador 
72*  27,  as  mais  coisas  do  Brasil 
lhe  passavam  «pelas  mãos»  243, 
no  entendimento  e  na  execu- 
ção delas  356-357,  intermediá- 
rio entre  o  Governador  e  os 
Capitães  antes  da  tomada  do 
forte  do  Rio  de  Janeiro  243, 
recebe  carta  do  Cardeal  Infante 
para  que  o  avise  das  coisas  do 
Brasil  73*  238-239. 

b)  O  caminho  novo  do  mar 
a  São  Paulo  198-199,  que  Nó- 
brega tinha  fundado  72,  a  mu- 
dança de  S.  André  para  São 
Paulo  347,  preside  à  eleição  do 
Capitão-Mor  375,  com  regozijo 
da  Capitania  prepara-se  para 
ir  fazer  as  pazes  com  os  Ta- 
moios  (Iperoig),  oferecendo-se 
em  reféns  com  o  seu  intérprete 

363-365- 

c)  Máxima.  No  homem 
constituído  em  autoridade  o 
mais  certo  sinal  de  não  con- 
tentar a  Deus  é  contentar  a 
todos  240. 

d)  Alguns  testemunhos  de 
historiadores  73*. 

IV.  —  Homem  de  Letras. 

Carta  a  Tomé  de  Sousa 
67-105, 111*,  ao  Cardeal  Infante 
237-246. 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


603 


Cartas  perdidas  99*  5  16  127 

140  367. 

Outras  referências :  43*  44* 
48*  61*  62*  67*  69*  77*  82*  84* 
85*  90*  108*  116*  117*  4  11  12  15 
18  22  24  28  32  49  85  102  106  109 
113  118  120  123  124  127  128 

141  144  153  178  181  212  336 
347  352  354  377  381  416  43°  445 
534- 

Nogueira,  Mateus :  «Ferreiro  de 
Jesus  Cristo».  Falecimento  381 
382,  4. 

Norton,  Luís :  Escritor.  48*  11. 
Nossa  Senhora  :  —  Ver  Culto. 
Nova  Espanha  :  225. 
Nova  Lusitânia  :  332  335. 
«Novas  Cartas  Jesuíticas»  :  —  Ver 

Leite,  Serafim. 
Noviciado  :  Noviços  recebidos  na 

Capitania  de  S.  Vicente  458-459, 

398. 

Nunes,  Henrique:  Tabelião.  523. 
Nunes,  Leonardo  :  83*  86*  118  146 

209  357  393  534- 
Nuovi  Avisi  delle  Indie  di  Porto- 

gallo  :  48*  108*. 

Observância   Regular  :  —  Ver 

Companhia  de  Jesus. 
Ocidente :  67*  75*. 
Ofícios  :  —  Ver  Artes  e  Ofícios 
Oiro  :  Jóias  e  correntes  411.  —  Ver 

Minas. 

Olaria  :  Em  Piratininga  256. 
Olinda  :  332  335. 

Oliveira,  Gonçalo  de:  Intérprete 
260,  «doutor  das  gentes»  333, 
chega  à  Baía  304,  vai  para  Per- 
nambuco 310  324  330  430. 

Onças  :  219-221  369. 

Oração:  Tempo  (hora  matutina) 
10. 

Ordem  Sacerdotal:  —  Ver  Sa- 
cramentos. 
Ordens  Militares:  Hospitalários 


321,  S.  João  81*  321,  Rodes  181 
321,  Malta  321. 

Ordens  Religiosas  :  No  Brasil  só 
a  Companhia  de  Jesus  29  78,  só 
a  Companhia  e  não  outros 
Religiosos  por  escolha  de  D. 
João  III  322,  frades  egressos 
ou  exclaustrados  72*,  o  que  es- 
timulou a  antropofagia  29  ;  Car- 
melitas descalços  182,  Cartuxa 
94*  471,  Cónegos  regrantes  de 
S.  Agostinho  (Crúzios)  23,  Do- 
minicanas 174,  Dominicanos  80* 
143  196  381,  de  S.  Agostinho 
185,  Eremitas  de  S.  Agostinho 
80*,  Franciscanos  22. 

Ordônhez,  Diogo  de  Toledo  Lara  : 
108*  202  218  23L 

Orense :  339. 

Órfãos  :  De  Lisboa  17  357,  mais 
vinte  359,  alguns  entram  na 
Companhia  e  são  úteis  operá- 
rios 363  398  419  458,  um  que  diz 
missa  nova  315,  sugestão  para 
haver  permuta  entre  os  de  Por- 
tugal e  Brasil  514-515,  os  da 
terra  (brasis  e  mestiços)  impe- 
didos por  Mem  de  Sá  de  ser 
dados  à  soldada  431. 

Órfãs  :  334. 

Oriente:  67*  106*  108*  518  544. 
Ormuz:  105*. 

Ornamentos  :  —  Ver  Culto. 
Orta,  Garcia  de  :  Escritor.  48*  68* 
537- 

Ots  Capdequi,  J.  M. :  Escritor.  48* 
92. 

Padroado  Português  :  71-72  434. 

Fádua  :  110. 

Pagé  :  —  Ver  Índios. 
*  Paiva,  Manuel  de  :  Na  guerra  con- 
tra os  contrários  com  a  cruz 
alçada  345  378-379  *>  4  357  4°i- 

Paiva  Manso,  Visconde  de  :  Escri- 
tor. 48*  110*. 


6W 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


Panamá :  291. 

Papagaios  :  228. 

Paquier,  J. :  Escritor.  184  185. 

Paraguaçu :  Guerras  em  que  se 

quebra  o  «desencantamento» 

96 ;  153  !58  160  240  241  479  500. 
Paraguaçu,  Catarina  Álvares  :  479. 
Paraguai :  Portugueses  mortos  no 

caminho  pelos  índios  263343; 

não  se  vá  sem  licença  do  Rei 

ou  do  Governador  544;  103  104 

155  225  294. 
Paraíba  :  (Estado  da)  :  497. 
Paralbuna :  378. 
Paranapiacaba :  198. 
Paripe:  155. 
Paris  :  179  320. 
Paris,  Marim  :  Francês.  264. 
Passé :  88*  57  88  157. 
Pau  brasil:  490  494  500. 
Paulo  III :  Papa.  78*  55  381. 
Paulo  IV:  Papa.  108*  78. 
Pecorela,  Domingos  Anes:  76  146 
Pecuária  :  —  Ver  Gado. 
Pedrouços  :  529. 
Peixe-boi:  —  Ver  Pescarias. 
Peixoto,  Afrânio :    Escritor.  43* 

48*  69*  93*  106*  113*  18  48  56 
161  291  297  335  479  536. 
Penafiel:  310. 
Peneda,  Pero  :  304. 
Penitência:  —  Ver  Disciplinas; 

ver  Sacramentos. 
Peragallo,  Prospero:  Escritor.  48* 

522. 

Pereira,  Isabel :  Mãe  de  Rui  Pe- 
reira 92*. 

*  Pereira,  João:  Vida  419.  Dos  ór- 
fãos 363  419,  entrou  menino  no 
Brasil  61*,  prega  aos  índios  62* 
424,  socorre  Grã  em  perigo  de 
se  afogar  418;  414  425-427. 

'  Pereira,  Rui:  Vida  92*,  missa 
nova  300,  pregador  64*  288  327, 
o  Brasil,  paraíso  na  terra  297- 
-298,  vai  para  Pernambuco  310, 


carta  perdida  168  ;  75*  78*  85* 
88*  163  165  277  279  284  285  306 

323  336  397  424  43°  433- 
Pereira  Coutinho,  Francisco  :  Do- 
natário da  Baía  morto  pelo  gen- 
tio 82  97,  495. 
*  Pérez,  Ruiz:  93*. 
Pérez  de  Villanueva,  Joaquin:  45*. 
Perigos  e  Trabalhos  :  Pobreza 
dos  que  discorrem  por  diver- 
sas partes  365,  dormir  no  mato 
e  no  chão  425,  andar  nas  praias 
que  quebrantam  o  corpo  425, 
calores  535,  tempestades  de 
vento  e  água  e  perigos  nas 
passagens  dos  rios  (Grã  em 
perigo  de  morrer  afogado)  418 
504.  jangadas  427  437  504,  tem- 
pestades e  raios  204,  incêndios 
501-502.  Na  visita  das  Aldeias 
e  nos  caminhos  253-254  369-370 
562,  um  Irmão  perdido  pela 
garoa  371,  cobras  peçonhentas 
217,  um  Padre   mordido  por 
uma  cascavel  536;  nas  viagens 
por  mar  (ida  a  Pernambuco) 
325  (Ver  Naufrágios). 
Pernambuco  :  Nova  Lusitânia  332, 
situação  geográfica  334-335,  já 
tem  princípio  de  Casa  da  Com- 
panhia 323  325,  deseja  a  volta 
dos  Padres  306  310,  alegria  com 
a  volta  332-334,  ajuda  dos  mo- 
radores na  ampliação  dos  edi- 
fícios 334-335,  pensa-se  em  Por- 
tugal na  fundação  e  dotação 
régia  do  Colégio  7o*-7i*  434, 
Aldeia  de  índios  333,  Vigários 
190  194,  barcos  pernambucanos 
em  Alagoas  331 ;  77*  89*  79  82 

193  33o  335  43°  47i  489  497- 
Peru  :  68*  72  92  225  294. 
Perúsia  :  488. 

Pescarias  :  Peixe  alimento  são 
212,  os  meninos  da  escola  vão 
pescar  para  comer  51  121  294 


Índice  alfabético  e  remissivo 


605 


362  464,  canas  de  pescar  121, 
redes  211,  piracema  ou  saída  do 
peixe  207,  piralqué  e  uso  do 
timbó  212,  tainhas  212,  peixe- 
-boi  67*  208  331. 

Pimenta,  Bernardo  Sanches:  Morto 
no  Espírito  Santo  81-82. 

Pimentel,  D.  Ana:  Donatária  de 
S.  Vicente.  178. 

Pina,  António  de :  Dos  órfãos  363, 
missa  nova  471,  504. 

Pina,  Luís  de  :  Escritor.  48*. 

Pina,  Sebastião  de  :  517. 

Pinheiro,  António  :  Doutor.  105*. 

Pinheiro,  António:  Pai  de  Gaspar 
Pinheiro  193. 

Pinheiro,  Gaspar :  193-194. 

Pinheiro  de  Carvalho,  Nofre  :  Es- 
crivão. 532. 

Pinheiros  :  233. 

Pinto,  Manuel :  Missionário  de  An- 
gola. 166. 

Pintura  :  — Ver  Artes  e  Ofícios. 

Pio  IV:  Papa.  78*  317  318. 

Pio  XII:  Papa.  60. 

Piratas.-  Os  calvinistas  franceses 
matam  o  Governador  D.  Luís 
de  Vasconcelos  97*;  497. 

Piratininga  :  —  Ver  São  Paulo  de 

Piratininga. 
'■  Pires,  Ambrósio:  Voltou  para  Por- 
tugal antes  do  tempo  de  reco- 
lher com  alegria  161;  107*  29 
34  59  106  118  131  147  326  359. 
'Pires,  António:  Vice-Provincial 
77*  283  288,  doente  62,  reside 
na  Ald.  de  S.  João  e  vai  dizer 
missa  à  do  Espírito  Santo  132, 
visita  as  Aldeias  da  Baía  com 
o  P.  Grã  315,  um  dos  fundado- 
res da  de  Itaparica  409  445  447, 
onde  é  muito  acatado  409,  es- 
capa dum  incêndio  501,  cartas 
perdidas  468 ;  75*  84*  107*  4  5 
iii  124  146  307  316  325  340  357 
397  433  534  535- 


Pires,  Baltasar:  Escrivão.  528. 
i:  Pires,  Francisco  :  Antigo  crúzio 
dispensado  para  permanecer 
na  Companhia  23  166,  pregador 
demorado  no  púlpito  64*  101, 
prega  o  sermão  da  Paixão  43, 
doente  1 1558-1559)  62-63  357  429, 
mestre  da  Escola  Geral  da 
Baía  131,  Reitor  da  Baía  288 
495,  carta  perdida  112;  77*  85* 
4  16  17  40  47  108  112  146  153  154 
158  159  162  169  277  283  538. 

Pires,  Francisco  :  Morador  de  São 
Paulo.  271. 

Pires,  João  :  O  Gago.  198. 

Pires  de  Lima,  Augusto  César: 
Escritor.  51*. 

Plantas  Medicinais  :  233-234  350- 

-351  543- 
Plínio,  o  Velho  :  Escritor.  67*. 
Plumas  :  —  Ver  Índios. 
Pobreza:— Ver  Companhia  deIJe- 

sus;  ver  Sustentação  (Meios 

de). 

Poesia:  Dos  índios  das  Aldeias 
no  recebimento  dos  Padres  313 
406.  —  Ver  Canto. 
Poissy  :  513. 
*  Polanco,  Juan  Alfonso  de  :  Secre- 
tário S.  I.  Cartas  perdidas  5  ; 
49*  77*  79*  81*  82*  4  107  115  144 
145  147  285  321  354  360  366  367 

384  513  533  54i  545  546. 
Poligamia  :  —  Ver  Índios. 
Ponta  de  Jaraguá  :  330-331. 
Ponte,  Sebastião  da :  Morador  da 

Baía  54-55,  na  guerra  do  Para- 

guaçu  155,  padrinho  de  índios 

482-483. 

Pontes  :  Dos  índios  75*  312  424. 

Portalegre :  458. 

Portela  de  Tamel :  53. 

Porto:  317  347  496  517. 

Porto  Calvo :  329  330. 

Porto  Francês  :  329  330. 

Porto  de  Pedras  :  331. 


606 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


Porto  Seguro :  Perturbações  dos 
índios  8r,  guerra  96*  97-101  240, 
está  para  se  despovoar  171,  de- 
seja Padres  da  Companhia  306 
456  ;  77*  86*  89*  99*  77  79  82  191 
192  209  458. 

Porto  Seguro,  Visconde  de  (Var- 
nhagen) :  Escritor.  49*  51*  109* 
12  15  149  168  195  327  341  464. 

Porto  do  Tubarão  :  495. 

Portugal:  Novidade  dos  Desco- 
brimentos 67*,  Deus  tem  sem- 
pre salvo  a  nação  portuguesa 
na  fé  498,  a  «fé  e  o  império» 
58*,  intenção  de  povoar  o  Bra- 
sil menos  por  interesses  mate- 
riais do  que  pela  exaltação  da 
fé  e  salvação  das  almas  81 
293- 

Recomenda  a  Companhia  de 
Jesus  ao  Governador  e  à  Câ- 
mara da  Baía  e  que  os  índios 
sejam  bem  tratados  e  se  lhes 
não  tirem  as  terras  13-16,  e  se 
lhes  dêem  terras  e  todos  (índios 
e  Brancos)  «se  ouçam  de  justiça 
e  igualdade»  510. 

A  conquista  do  gentio  para 
a  conversão  e  a  civilização  87 
478-480;  as  Casas  de  Rapazes 
índios  era  penhor  de  segurança 
para  os  Portugueses  363,  con- 
fraternizam Portugueses  e  ín- 
dios em  banquetes  75*  136. 

Trata  de  botar  fora  do  Bra- 
sil os  franceses  calvinistas  321, 
procissões  propiciatórias  se- 
manais na  Baía  durante  a  jor- 
nada do  Rio  de  Janeiro  295. 

Sustenta  econòmicamente  os 
missionários  do  Brasil  7o*-7i* 
147,  provisões  de  viagem,  objec- 
tos de  culto  e  outros  enviados 
para  o  Brasil  152  164  486  517- 
-518,  ordena  ao  Governador  que 
defenda  e  confirme  as  terras 


da  Companhia  97*  530-531,  quer 
fundar  e  dotar  quatro  Colégios 
434,  todos  os  Portugueses  do 
Brasil  desejam  mais  Padres 
429,  e  pedem  Colégios  da  Com- 
panhia 322. 

Resultados  do  plano  civiliza- 
dor de  Nóbrega  (1558)  na  for- 
mação do  Brasil  74**77*.  —  Ver 
D.João  III;  e  passim  (todo  o 
livro). 

Portuga],  D.  Fernando  José  de: 

113* 

Povo/ide:  81*. 

Prado,  Paulo  :  Escritor.  198. 

Prata  :  Prateiro  de  Lisboa  na 
Baía  410.—  Ver  Minas. 

Pregações  : —Ver  Ministérios. 

Preguiça:  Descreve-se  este  ani- 
mal 222. 

Preste :  340. 

Procissões  :  —  Ver  Ministérios. 

Procuratura  do  Brasil  em  Lis- 
boa :  82*-83x  383. 

Protestentismo  :  Processo  de 
João  de  Boles  175-196,  nem 
igrejas  nem  cruzes  191  268 ; 
80  244. 

Província  do  Brasil  :  —  Funda- 
ção e  primeiros  Padres  59*, 
despachos  de  Roma  3,  junta 
de  S.  Vicente  (1567)  88*  Pro- 
vinciais no  século  xvi  117*. 

Província  de  Portugal  :  Funda 
a  Missão  do  Brasil  59*,  supe- 
rintende ao  envio  de  Padres  e 
Irmãos  para  o  Brasil  60*,  dela 
dependem  as  missões  ultra- 
marinas 340. 

Puerto  de  Santa  Maria  :  192. 

Purgatório:  179  189. 

Puy-de-Dôme:  459. 

*  Quadros,  António  de :  Secretário. 
538. 

Quaresma:  Pregações  (ver  Minis- 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


607 


térios)  ;  Semana   Santa  (ver 
Culto). 
Queijos:  349. 

Rabelo,  Pantaleão  :  151. 

Rabelo,  Sebastião  :  Escrivão.  151. 

Ramalho,  João :  Capitão-Mor  do 
Campo.  73*  48  549. 

Ramalho,  Manuel:  Morador  no 
Espirito  Santo.   39  82. 

Rapazes  (Casas  de):  —  Ver  Edu- 
cação. 

Rau,  Virgínia :  Escritora.  49*525. 

Rebelo  da  Silva,  Luís  Augusto  : 
Escritor.  441. 

Recife:  1161  332  335. 

Redes  :  De  pescar  211 ;  de  dormir 
e  descansar  121  220  312  326  362 
438  484  5T4,  levam-se  nas  visi- 
tas às  Aldeias  439,  para  trans- 
portar pessoas  nos  caminhos 
444  475,  além  das  redes  tam- 
bém havia  camas  de  colchões 
153  297. 

Reforma  de  Costumes  :  Zelo  de 
Nóbrega  71.— Ver  Moralidade 
Pública. 

Reforma  da  Igreja  :  74  78. 

Regimentos  :  De  Tomé  de  Sousa 
81,  de  Mem  de  Sá  96*  85. 

Reis  Magos :  94. 

Religiosos  : —  Ver  Ordens  Reli- 
giosas. 
Relíquias  :  254  326. 
Rembé  :  127. 

Remédios  :  De  Portugal  366,  do 
Brasil  purgantes  e  vomitórios 
233  (ver  Plantas  medicinais). 

Repartição  dos  Índios  :  Nega-se 
na  Baía  por  não  haver  causa 
justa  92,  concede-se  no  Espírito 
Santo  (dos  cativos  de  guerra) 
468. 

Resgates  :  Ferramenta  438. 
Retábulos  :  Enviados  de  Portu- 
gal 152. 


Retratos  :  116*. 
Reusch,  Heinrich:  Escritor.  49*151. 
Reverdin,  Olivier  :  Escritor.  49* 
182. 

«Revista  de  História»:  49*. 
«Revista  do  Instituto  Histórico  e 

Geográfico  Brasileiro»:  49* 

109*. 

«Revista  do  Instituto  Histórico  e 
Geográfico  de  São  Paulo» :  49*. 

Ribeiro,  António  :  Capitão  de 
Ilhéus.  326. 

Ribeiro,  Luciano:  Escritor.  49*  151. 

Ribeiro,  Manuel :  194. 

Ribeiro,  Victor  :  Escritor.  49*  174. 

Ricard,  Robert :  Escritor.  49*  285. 

Richier,  Pierre  :  182. 
*  Rijo,  Jorge  :  Ministro  do  Colégio 
de  Coimbra.  82*  393. 

Rio  Araragoacupe ;  509. 

—  Camamu  :  523. 

—  Camaragibe :  331. 

—  Capicaji :  508. 

—  Caravelas  :  102  211. 

—  Douro  :  8 1  *  95. 

—  Geribatiba  :  199. 

—  Grande :  199. 

—  Iguapé  :  354  543. 

—  Itapemirim  :  19. 

Rio  de  Janeiro  :  índios  do  Gato 
passados  para  o  Espírito  Santo 
242  467,  Franceses  e  Tamoios 
83,  Mem  de  Sá  determina  ir  li- 
bertar o  Rio  de  franceses  lute- 
ranos 242,  fortaleza  com  arti- 
lharia 263-264,  tomada  e  des- 
truição da  fortaleza  169-170 
175-176  191  242  246  267-268  287 
327 ;  237  321 ;  para  a  tomada  da 
fortaleza  mandaram  de  S.  Vi- 
cente navios,  canoas  e  dois  da 
Companhia  267,  procissões  pro- 
piciatórias pela  vitoria  62*  295  ; 
processo  de  Bolés  175-196,  di- 
zem estarem  aí  sete  naus  fran- 
cesas (1562)  496. 


608 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


Nóbrega  encarece  a  necessi- 
dade de  se  fazer  cidade  portu- 
guesa 245,  pródromos  da  fun- 
dação da  cidade  77*  565,  cidade 
de  S.  Sebastião  96*,  o  seu  futuro 
Colégio  71*  434,  «carioca»  195. 

Biblioteca  Nacional  100*  106* 
114*  17  36  49  67  108  118  120  123 
125  128  141  147  153  159  202  237 
249  280  285  307  323  367  386  388 
395  428  435  45i  461  469  507  533 
546;  —  73*  19  2i  37  45  79  127  166 
168  175  181  186  191  3C4  395  545. 
Rio  J aguar ig  :  448. 

—  Joane:  87. 

—  Matoim  :  495. 

—  Minho :  81*. 

—  Mondego :  526. 

—  Negro:  235. 

—  Neiva :  95*. 

—  Paraguaçu  :  57  59  88  95  96. 

—  Paraíba  :  378. 

—  Paraibana :  378. 

—  Pequeno :  199. 

—  Pinheiros :  199. 

—  Piratininga :  198. 

—  Pojuca  :  94. 

—  Porto  Calvo :  331. 

—  Prata  :  155  225  294. 

—  Real :  328. 

—  S.  Francisco  :  Primeira  tenta- 
tiva de  ir  lá  Padres  da  Compa- 
nhia 488-489 ;  329  380. 

—  Tejo  :  59*  12. 

—  Tietê :  347. 

—  Ubai:  354. 

—  Vermelho :  86. 

*  Rivière,  Ernest  M. :  Escritor.  43* 
428. 

Rocha,  Diogo  da :  Senhor  de  En- 
genho. 527. 

Rodes :  81*  181  321. 
'  Rodrigues,    António  :  Primeiro 
Mestre-Escola  de  São  Paulo 
77*,  tinha  andado  nos  confins 
do  Peru  68*  225,  intérprete  de 


Nóbrega  134,  «alferes  de  Cristo» 
e  apóstolo  das  Aldeias  61*  65* 
66*  139  474,  «vai  sempre  adiante 
a  esmoutar  a  terra»  74*  60,  Al- 
deia do  Espirito  Santo  60  132 
134,  do  Bom  Jesus  386-387  417 
419  420,  de  S.  Pedro  475-476, 
saudade  dos  índios  quando  ele 
se  despediu  483-484. 

Pregador  dos  índios  62*  119 
155,  grande  auditório  387,  a  pe- 
dido do  Governador  acompa- 
nha os  índios  amigos  à  guerra 
do  Paraguaçu  para  lhes  pregar 
o  Evangelho  517  170  e  atender 
aos  doentes  e  feridos  155. 

Ordenado  de  Sacerdote  no 
Natal  de  1559  85*,  confessor  dos 
índios  294,  doente  (na  Aldeia 
de  S.  Paulo)  62,  corresponde-se 
com  o  Governador  Mem  de 
Sá  99*,  obedecido  e  venerado 
pelos  índios  65  389,  recupera 
a  gente  fugida  da  Aldeia  de 
S.  André  484-485,  baptiza  um 
menino  a  expirar  e  sarou  63, 
causa  espanto  com  quanto  âni- 
mo leva  a  cruz  do  gentio  484, 
carta  perdida  390  ;  75*  85*  108* 
in*  4  92  118-125  128  153  165  169 
3C2  390  395  481. 

*  Rodrigues,  António  Augusto:  116*. 
Rodrigues,  Baltasar:  Morador  de 

São  Paulo.  344. 

*  Rodrigues,   Francisco  :  Escritor. 

45*  49*  80*  81*  92*  107  114  167 
307  317  5i6. 

*  Rodrigues,  Jorge :  Vai  para  o  Bra- 

sil 163-165,  passa  de  mestre  de 
latim  a  aprendiz  da  língua  bra- 
sílica 488. 
Rodrigues,  José  Honório  :  Escri- 
tor. 42*  43*  49*  73*  111*  116* 
49  67  195  198  202  246. 

*  Rodrigues,  Luís  :  Missionário  dos 

índios.  Vida  93*,  chega  a  Ilhéus 


[ND1CE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


328,  na  Aldeia  de  Itaparica  406, 
na  de  S.  Tiago  495,  mordido  de 
cobra  cascavel  536,  ministérios 
534-540,  cartas  perdidas  284  532 
546  ;  64*  75*  78*  274  533. 

*  Rodrigues,  Paulo  :  407. 

*  Rodrigues,  Pero:  7.0  Provincial  do 

Brasil.  ioo*-roi*  117*  198  199 
317  3i8. 

*  Rodrigues,  Salvador :  Na  Baía  76 

118  146  357. 

*  Rodrigues,  Simão  :  Envia  os  pri- 

meiros missionários  para  o 
Brasil  59*,  recomenda  que  se 
recolham  em  Colégios  os  filhos 
dos  gentios  357,  78*  80*  522. 

*  Rodrigues,  Vicente  :  Superior  de 

São  Paulo  durante  o  ataque  dos 
Índios  556,  naufrágio  209;  4  76 

357  393  458. 
Rodrigues  de  Caldas,  Vasco:  — Ver 
Caldas. 

*  Rojo,  Juan  :  303  309. 

Roma  :  Casa  Professa  (Gesú)  7, 
correspondência  epistolar  385, 
interessa-se  pelas  notícias  das 
novas  terras  descobertas  67*, 
manifesta  desejos  de  receber 
conservas  do  Brasil  543,  Casa 
bancária  522,  correio  portu- 
guês 520  ;  93*  99*  102*  120*  4  5 

23  31-33  i°7  "4  145  ig7  179  í84 
205  246  356  366  529. 

ARSI  100*  3  6  28  30  32  113 
115  120  124  128  141  144  163-165 
197  202  237  285  316  317  320  336 
339  347  352  354  367  383  385-387 
39i  395  428  433  435  456  469  5r2 
516  519  521  533  54r  546. 

Romanos  :  408. 

Romarias  :  326. 

Rosários:  Fazem-se  255-256;  do 
Nome  de  Jesus  62*  143  296  387 ; 
pedem-se  contas  bentas  146. 

Rubim,  Brás  da  Costa  :  Escritor. 
49*  17  4°  47- 

39 


Ruibarbo  :  233-234. 

*  Ruiz  de  Montoya,  Antonio  :  Escri- 

tor. 48*  400  477. 

Sá,  Ambrósio  de  :  Cónego.  74. 

*  Sá,  António  de  :  Missionário  dos 

Índios.  Vida  94*,  chega  à  Baía 
304,  na  Aldeia  de  S.  António 
472,  na  do  Bom  Jesus  484,  car- 
tas perdidas  520  ;  78*  17  36  49 

232  415  417- 

Sá,  Artur  de  :  Escritor.  50*  279. 

Sá,  D.  Beatriz  de  :  173. 

Sá,  Estácio  de  :  Capitão-Mor.  Re- 
querimento da  Câmara  de  São 
Paulo  344 ;  88*  189  397. 

Sá,  Fernão  de  :  Filho  de  Mem  de 
Sá.  13  39  98  192. 

Sá,  D.  Filipa  de  :  Avó  de  Mem  de 
Sá.  95*. 

Sá,  D.  Filipa  de  :  Condessa  de  Li- 
nhares. 173. 

Sá,  Henrique  de  :  Cónego.  74. 

Sá,  D.  Maria  de  :  98*. 

Sá,  Mem  de  :  3.0  Governador  do 
Brasil.  Vida  95*,  nomeado  sem 
limitação  de  prazo  96* ;  recí- 
proca amizade  com  Nóbrega  e 
a  Companhia  de  Jesus  e  mútua 
colaboração  71*  96*,  põe  em 
execução  o  plano  civilizador 
de  Nóbrega  seu  conselheiro 
72*  74*  27. 

Zelo  da  conversão  do  gen- 
tio 14  88  287  431  450,  é  uma 
das  condições  da  paz  241,  de- 
seja-se  que  continue  no  go- 
verno para  se  consolidar  essa 
obra  303,  ajuda  e  autoriza  os 
Padres  em  tudo  o  que  se  refere 
à  conversão  e  aldeamento  dos 
índios  138  239  255  292  418,  or- 
dena que  os  índios  se  aldeiem 
e  se  não  comam  uns  aos  outros 
89-90,  favorece  as  escolas  45* 
170,  opõe-se  a  que  os  morado- 


610  ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


res  tomem  as  terras  dos  índios 
aldeados  88,  e  dá-lbes  terras  de 
sesmaria  508  511,  ameaça  os 
índios  do  sertão  de  Ilhéus  que 
perseguem  oscatecúmenos  481- 
-482. 

Não  fizera  «mais  ainda  que 
professasse  a  vida  da  Compa- 
nhia» 292,  ajuda-a  material- 
mente para  a  realização  da  sua 
obra  presente  e  futura  524,  dá 
40  arrobas  de  açúcar  para  a 
futura  Casa  de  Ilhéus  306,  ofe- 
rece cortinas  417,  dá  a  Sesma- 
ria do  Camamu  70*  97*  521-532, 
faz  a  igreja  nova  do  Colégio  da 
Baía  431  449,  confirma  por  or- 
dem régia  todas  as  terras  da 
Companhia  530. 

Recebe  e  honra  o  índio  Ca- 
pim fazendo-o  meirinho  480, 
nega  a  repartição  dos  índios 
92-94,  impede  que  se  dêem  ór- 
fãos e  órfãs  à  soldada  aos  mo- 
radores porque  seriam  mal 
doutrinados  431;  o  Brasil  à  sua 
chegada  e  obra  renovadora  de 
costumes  57*  92,  murmurações 
contra  ele  e  Nóbrega  72*  92, 
em  Lisboa  dão  capítulos  contra 
ele  por  «pessoas  com  paixão» 
243- 

Regimento  96*  85,  prudên- 
cia, zelo  e  virtude  no  governo 
86,  administra  justiça  com  mo- 
deração 87,  corrige  os  desman- 
dos, incluindo  os  dos  índios 
«sem  nunca  mandar  matar  nin- 
guém» 239. 

Vence  e  sujeita  os  índios 
revoltos  de  Ilhéus  e  Paraguaçu 
58-59  98-100  109  139  154-157  241. 
que  ficam  todos  de  paz  160,  na 
guerra  do  Paraguaçu  abre  um 
caminho  de  três  léguas  para  ho- 
mens de  guerra  e  de  cavalo  158. 


Conhece  por  Bolés  a  situa- 
ção dos  franceses  no  Rio  de  Ja- 
neiro e  determina  ir  tomar  a 
fortaleza  267-268,  a  caminho 
com  Nóbrega  76*',  no  Espírito 
Santo  aceita  esta  Capitania  para 
a  Coroa  171  242,  vence  com  a  in- 
tervenção e  apoio  de  Nóbrega 
a  contradição  dos  seus  capi- 
tães, toma  e  destrói  a  fortaleza 
239  242-246  465,  escreve  a  El- 
-Rei  e  pede  sucessor  173. 

Por  lho  pedirem  muda  a 
vila  de  S.  André  para  junto  da 
Casa  de  São  Paulo  dos  Padres 
de  Jesus  343-344,  o  caminho 
novo  198,  manda  apregoar  guer- 
ra aos  gentios  contrários  343- 
-344,  volta  e  chega  à  Baía  278 
304  369,  e  no  que  toca  aos  ín- 
dios restabelece  a  ordem  que 
existia  (a  de  Nóbrega)  antes  de 
irem  para  o  Sul  305,  meia  pala- 
vra sua  basta  para  se  fazer  obe- 
decer 292. 

Senhor  de  Engenho  97*  174. 

«Verdadeiro  soldado»  de 
Cristo  97*  162,  mui  fiel  no  ser- 
viço de  Deus  e  grande  atalha- 
dor  de  males  43:,  frequenta  os 
Sacramentos  na  Igreja  do  Colé- 
gio 65*  491,  virtude  e  genero- 
sidade 155  e  com  humildade 
que  se  impõe  pede  perdão  com 
o  barrete  na  mão  a  um  capitão 
seu  subalterno  155;  testemu- 
nho de  Capistrano  de  Abreu 
98* ;  78*  105*  iii*  11  12  51 
110  135  138  141  151  168  186 
201  237  269  290  321  327  389  390 
397- 

Sá  de  Miranda,  Francisco  de: 
Poeta.    Irmão  de  Mem  de  Sá 

50*  95*. 

*  Sacchini,  Francisco  :  Escritor.  50* 
6  546. 


ÍND1CK  ALFABÉTICO  K  REMISSIVO 


611 


Sacramentos  :  Os  Padres  S.  I. 
foram  autorizados  ad  tempus 
pelo  Geral  a  ser  curas  de  almas 

545,  463- 

Baptismo.  De  índios,  meni- 
nos e  adultos  62*63*  555,  opi- 
niões sobre  a  capacidade  dos 
lodios  para  se  baptizarem  361, 
os  feiticeiros  diziam  que  o  bap- 
tismo matava  64,  os  meninos 
da  escola  davam  aviso  dos 
doentes  graves  da  Aldeia  293, 
palavras  formais  da  fórmula 
na  língua  brasílica  447,  por  1562 
faziam-se  com  solenidade  e  em 
grandes  grupos  e  algumas  ve- 
zes pelo  Bispo  418  446,  não  se 
omitiam  para  cada  um  as  ceri- 
mónias litúrgicas  483  ;  lactan- 
tes e  inocentes  45  52  60  64  119 
250  290  301  379  445,  menino 
que  tem  visões  baptiza-se  e 
sara  64,  outro  moribundo  que 
se  baptiza  e  sara  63,  penitência 
a  um  índio  que  deixou  morrer 
o  filho  sem  baptismo  65 ;  adul- 
tos 41  45  56  87  130  134  135  170 
249-252  293  3"-3i4  37i  374  375 
390  405-408  414-424  446  472  482 
483  5OI-5°3  535  536,  de  uma 
velha  de  cem  anos  389,  de  um 
velho  de  130  anos  558-562;  «in 
extremis»  :  até  1560  (setembro) 
quase  só  se  baptizavam  os 
adultos  em  artigo  de  morte  da 
qual  alguns  escapavam  e  per- 
severavam 290  298,  também  se 
procurava  que  não  morresse 
nenhum  lactante  ou  inocente 
sem  baptismo  19  35  52  59  87 
124  211  281-282  371  387  390  402- 
-404  491-493,  estes  baptismos 
faziam-nos  às  vezes  os  Irmãos 
se  não  havia  tempo  de  vir  o 
Padre  491-492 ;  baptismo  de 
cativos  em  terreiro  258-262. 


Confirmação.  87*,  crisma  de 
índios  418. 

Eucaristia.  Corpo  de  Deus 
62*  41  186  501,  Santíssimo  Sa- 
cramento (Quinta-Feira  Santa) 
Ó4*-65*  55  4H,  elevação  da 
missa  194,  missas  solenes  ofi- 
ciadas por  meninos  brasis  51 
136,  de  pontifical  e  canto  de 
órgão  62*  447,  de  defuntos  (can- 
tada) in,  festa  de  missa  nova 
422,  binação  da  missa  i6r,  vi- 
nho e  farinha  de  trigo  para 
hóstias  mandados  de  Portugal 
152;  comunhões  (incluindo  fre- 
quentes e  semanais)  Ó4*-65* 
131  258  328  333  374-376  45°  454 
494,  na  guerra  contra  os  Ta- 
moios  345  378  537  539. 

Confissão.  Em  1559  os  Pa- 
dres da  Companhia,  além  dos 
estudantes  e  pessoas  devotas 
288  289,  só  confessavam  mu- 
lheres e  gente  pobre  que  não 
alcançava  escravos  66,  aos  mais 
Nóbrega  cerrou  as  portas  por 
comprarem  escravos  injusta- 
mente cativos  ou  viverem 
amancebados  66  88,  mas  estes 
achavam  clérigos  que  os  absol- 
viam dando  «jubileus  de  con- 
denação» às  almas  Ó4*-Ó5*  66 
73  75»  depois  o  Bispo  proibiu 
por  algum  tempo  os  seus  clé- 
rigos de  confessar  65*  487 ;  os 
calvinistas  contra  este  sacra- 
mento 194;  confissões  (e  comu- 
nhões) dos  combatentes  na  to- 
mada do  forte  do  Rio  de  Janeiro 
267,  e  dos  moradores  de  São 
Paulo  na  guerra  contra  os  Ta- 
moios  345  376  378;  confissões 
frequentes  65*  131  253  258  283 
305  328  333  37i  373-375  4*4  45° 
454  49i  494  505  532  534  537  539 
548-549  ;  gerais  288 ;  na  língua 


612 


índice  alfabético  e  remissivo 


brasílica  ou  por  intérprete  63* 
310  380  398  410  444  453  480  495 
506  548  557  562,  de  escrupulo- 
sos 309;  uão  sacramental  63* 
56  402  403  405  444. 

Santa-Unçâo.  63*  185373537. 

Ordem.  Espera -se  Bispo 
para  ordenar  alguns  Irmãos  161, 
e  esperam-se  outros  de  S.  Vi- 
cente 288;  85*  87*  535. 

Matrimónio.  Dispensas  ma- 
trimoniais 117  319  366  515,  casa- 
mento de  moços  da  escola  e 
moças  da  doutrina  290  466  514, 
de  índios  convertidos  (quase 
sempre  em  série)  63*  41  56 

134-135  3"-3i2  374-375  399  4°5- 
-408  413  416  418  421-426  446-447 
471-472  482  483  501;  para  os 
ainda  não  baptizados,  casamen- 
tos in  lege  naturae  (com  teste- 
munhas e  registo  num  livro) 
28  r  295. 

Sacrifícios  Humanos:— Ver  An- 
tropofagia. 

Sal:  Enviado  de  Lisboa  152,  os 
índios  do  sertão  vão-no  fazer 
ao  mar  79-80. 

Salamanca :  122. 

Saldanha  da  Gama,  João  :  Escri- 
tor. 43*. 

Salema,  Pedro  da  Costa  de  Al- 
meida :  104*. 
*  Salmerón,  Alfonso  de  :  60*. 

Salvador  :  —  Ver  Baía. 

Salvador,  Frei  Vicente  do:  Escri- 
tor. 42*  50*  39  297. 

Salvador  de  Todos  os  Santos  :  395. 
—  Ver  Baia. 

Samatra  :  92*  279. 

Sampaio  (Condes  de)  :  495. 

Sampaio,  Teodoro:  Escritor.  50* 
91  94  96  97  157  195  219  227  335 
35i  5°9- 

Sanceau,  Elaine  :  Escritora.  50* 
153  168  175. 


Santa  Cruz  :  Orago  da  Aldeia  de 
Itaparica  (ver  Aldeias),  e  da 
Povoação  de  Afonso  Torres 
495  537- 

Santa  Sé:  55,  faculdades  conce- 
didas por  Pio  IV  318-319. 

Santos :  Capitania  190,  a  vila  prin- 
cipal da  Capitania  de  S.  Vi- 
cente 557,  de  maior  cresci- 
mento 543-544,  pregações  e 
doença  de  Nóbrega  453;  104 
175-177  180  183  188  189  195-191 
199  201  269  344  354  557-558. 

S.  Amaro  :  Capitania  177. 

S.  André  da  Borda  do  Campo  :  Sem 
Padres  para  celebrar  e  admi- 
nistrar os  Sacramentos  376, 
muda-se  para  o  pé  da  Casa  dos 
Padres  de  Jesus,  a  requeri- 
mento do  povo  de  S.  Vicente 
e  Santos  e  dos  Padres  da  Com- 
panhia 344,  «a  instância  dos 
Padres»  376,  76*  198  347,  «vila 
que  foi»  271. 

S.  Fins :  434. 

S.  Miguel  de  Urró  :  310. 

São  Paulo  de  Piratininga  :  Povoa- 
ção nova  que  os  Índios  fazem 
por  ordem  de  Nóbrega  para  re- 
ceberem a  fé  72,  73*  76*,  o  pri- 
meiro índio  que  começou  a 
povoar  a  Aldeia  de  Piratininga 
a  pedido  dos  Padres  372,  Nó- 
brega faz  a  Casa  de  São  Paulo 
para  educar  meninos  e  conver- 
ter o  gentio  358-359,  depois  da 
ida  de  Nóbrega  para  a  Baía 
(1556)  quase  todos  os  índios  se 
mudaram,  levaram  os  filhos 
da  Casa  de  Rapazes,  não  se 
adquiriram  outros  e  assim  aca- 
bou aquela  instituição  359,  re- 
trocedeu a  obra  da  conversão 
e  civilização  dos  Índios  por 
não  estarem  sujeitos  371  455- 
-456,  ainda  nos  arredores  de 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


615 


São  Paulo  se  matam  cativos 
em  terreiro  embora  já  os  anti- 
gos discípulos  os  não  comam 
260-262. 

Em  1560  Nóbrega  volta  à 
Capitania  de  S.  Vicente  com 
Mem  de  Sá  268,  a  pedido  de 
«nós  todos»  344,  «do  povo  de 
S.  Vicente,  Santos  e  Padres  da 
Companhia»  344,  a  «instância 
dos  Padres»  376,  o  Governador 
mandou  que  a  Vila  de  S.  An- 
dré «se  passasse  para  junto  da 
Casa  de  São  Paulo  que  é  dos 
Padres  de  Jesus»  344,  São 
Paulo  consolida-se  deixando  de 
ser  Aldeia  de  índios  para  ser 
Vila  de  Portugueses  76*  346, 
«nova  vila  que  agora  se  faz» 
(1560)  198. 

Guerra  aos  contrários  378- 
-379)  os  Portugueses  e  mestiços 
que  vão  à  guerra  confessam-se 
e  comungam  378,  da  Compa- 
nhia vai  um  Padre  para  dizer 
missa  e  administrar  os  Sacra- 
mentos (Paiva)  e  um  Irmão 
língua  para  atender  aos  índios 
(Serrão)  378,  enquanto  em  casa 
se  fazem  orações  e  disciplinas 
propiciatórias  62*  379,  vitórias 
contra  os  contrários  (Tamoios) 
345-346  378-379,  a  Câmara 
asando  o  argumento  da  con- 
versão do  gentio,  pede  a  Por- 
tugal a  confirmação  da  mu- 
dança da  vila  e  dos  privilégios 
dados  por  Mem  de  Sá,  pede 
povoadores,  armas  e  isenção 
temporária  de  dízimos  para  se 
fortificar  346;  deseja-se  a  su- 
jeição do  gentio  como  na  Baía 
379- 

Muitos  Portugueses  com  as 
suas  famílias  268,  e  confraria 556, 
Nóbrega  manda  visitar  pelos 


arredores  os  antigos  discípulos 
dispersos  370,  juntam-se  novos 
índios  em  lugar  dos  que  fugi- 
ram 256,  e  fazem  casas  de  taipa 
com  incansável  trabalho  do  P. 
Afonso  Brás  265,  o  Ir.  Gregório 
Serrão  tem  a  cargo  a  vila  e  en- 
sina na  língua  as  mulheres  dos 
moradores  e  os  seus  escravos 
376-377,  em  nome  de  Nóbrega 
o  Ir.  Serrão,  ministro  da  Casa, 
toma  posse  da  sesmaria  de  Ge- 
raibatiba  270-276,  requerida  por 
Luís  da  Grã  em  troca  das  pri- 
meiras terras  pedidas  por  Nó- 
brega e  que  agora  eram  neces- 
sárias aos  moradores  da  nova 
vila  198,  alguns  filhos  de  Por- 
tugueses estudam  latim  268, 
Nóbrega  torna  a  passar  o  Co- 
légio de  S.  Vicente  para  São 
Paulo  (1561)  e  nele  estudam  os 
Irmãos  de  casa  e  alguns  alunos 
de  fora  453-454  548,  Nóbrega 
trata  de  conseguir  uns  oiteiros 
para  recreação  dos  estudantes 
543- 

Grande  ataque  dos  índios 
revoltos  (1562),  resiste-lhes, 
afugenta -os  e  fortifica -se  337 

551-554- 

Não  havia  Vigário,  fora  dos 
Padres  da  Companhia  64*, 
administração  dos  sacramentos 
376  546,  ministérios  com  índios 
257-258,  com  escravos  e  mu- 
lheres dos  Portugueses  454548, 
os  Padres  da  Companhia  cui- 
dam dos  doentes  252-253  548, 
festas  do  Natal,  Semana  Santa 
e  devoção  a  Nossa  Senhora  255- 
-256,  Casa  de  Recolhimento 
feita  por  Nóbrega  para  Exercí- 
cios Espirituais  dos  Irmãos  10 
382,  notícias  dadas  por  An- 
chieta: tempestade  205,  sol  e 


614 


índice  alfabético  e  remissivo 


chuva  206  207,  Irmão  perdido 
pela  garoa  371 ;  66*  90*  115*- 
-116*  104  179  180  220  234  236 
347  359  366  398  451  458  529. 

S.  Pedro  Fins  :  53. 

S.  Pedro  de  Povolide  :  81*. 

S.  Salvador  do  Campo:  95*. 
*  S.  Sebastião,  João  de  :  132. 

S.  Vicente :  Posição  geográfica  204, 
regime  dos  ventos  204-205,  coi- 
sas naturais  da  Capitania  (An- 
chieta) 203-236. 

Melhor  disposição  (1553) 
para  tratar  com  o  gentio  76, 
com  muitos  Irmãos,  mamalucos 
e  escravaria  103,  a  obra  da  con- 
versão do  gentio  baixou  depois 
da  saída  de  Nóbrega  (1556)  75*- 
-76*,  pouco  fruto  por  o  gentio 
não  estar  sugeito  249-252,  Capi- 
tania desarmada,  oprimida  do 
gentio,  à  mercê  dos  índios  103 
104  171  342-343. 

Volta  de  Nóbrega  com  Mem 
de  Sá  268,  Colégio  na  Vila  199, 
«Colégio  de  Jesus»  269  366  382 
565,  os  estudos  passam  outra 
vez  para  São  Paulo  543,  prega- 
ções de  Nóbrega  453,  ministé- 
rios com  índios  258,  ameaçada 
a  Vila  de  a  gente  se  passar 
para  Santos  543-544,  a  corte  de 
Portugal  pensa  em  fundar  e 
dotar  um  Colégio  nesta  Capita- 
nia 71*  434;  67*  73*  74*  83*  88* 
89*  96*  107*  15  30  35  48  67  75 
79  84  104  107  114  115  127  146 
166  175  182  191-195  202  209  217 
236  237  246  275  287  304  336  337 
342  347  352-354  366  367  369 
392  397  430  442  456  461  546  554 
558. 

5.  Tomé:  95. 

Saragoça  :  79*. 

Sardinha,  Afonso  :  Morador  de  S. 
Vicente.  198. 


Sarzedo,  Francisco  de  :  Morto  pelo 
gentio  343. 

*  Schmitt,  Ludovicus:  Escritor.  51*. 

*  Schurhammer,  Georg:  Escritor. 

44*  50*  82*  56  522. 

Sebastião  (D.) :  Rei  de  Portugal. 
Vida  148,  autógrafo  de  menino 
102*,  dá  a  Mem  de  Sá  o  hábito 
de  Cristo  97*,  manda  ao  Gover- 
nador que  confirme  as  terras 
dos  Colégios  da  Companhia  530- 
-531 ;  60*  77*  97*  12  13  137  168 
318  332  509  510. 

Seca  :  Na  Baía  56. 

*  Segurado,  Luís  :  Estudante.  Vida 

326. 

Segurado,  Marcos  Gil :  326. 
Semana  Santa  :  — Ver  Culto. 
Sens  :  179. 

Sérgio,  António  :  Escritor.  279. 
Sergipe  (do  Conde)  :  57  88  157  174 

194  264.  —Ver  Engenhos. 
Sergipe  (Estado  de)  :  328  398. 
Serpa :  458. 

Serpentes  :  —Ver  Cobras. 
Serra  de  Paranapiacaba  :  198. 

*  Serrão,  Gregório  :   Vida  529-530. 

Como  Ministro  da  Casa  de 
São  Paulo  toma  posse  da  ses- 
maria de  Geraibatiba  em  nome 
de  Nóbrega  271,  tem  cargo  da 
Vila  de  São  Paulo  e  ensina  na 
língua  as  mulheres  dos  mora- 
dores e  os  escravos  376-377, 
tem  cargo  dos  índios  e  com 
eles  vai  à  guerra  contra  os 
Tamoios  345  378,  Reitor  do 
Colégio  da  Baía  529,  naufrá- 
gio 209  ;  461  532  564. 
Sertões:  Cerimónias  das  pazes 
entre  si  de  índios  contrários 
69*  478-479,  para  os  lados  do 
Peru  225,  do  caminho  do  Para- 
guai 263,  de  S.  Vicente  548,  da 
Baía  299  388-389,  os  índios  dos 
sertões  buscam  os  Padres  481, 


ÍNDICE  alfabético  e  remissivo 


615 


quinze  aldeias  que  se  juntam 
numa  (na  costa)  e  mais  doze 
que  se  juntam  noutra  389-390, 
entrada  em  busca  de  oiro  (ate 
à  Chapada  Diamantina)  499. 

Servet,  Miguel  :  182. 

Sesmarias:  Função  de  luta  con- 
tra o  brejo  e  o  mato  524-525, 
no  Regimento  de  Mem  de  Sá 
85,  o  Governador  dá-as  aos  ín- 
dios das  Aldeias  da  Doutrina 
509  511,  e  confirma  por  ordem 
régia  as  da  Companhia  530-531; 
Água  de  Meninos  88*,  Camamu 
70*  97*  521-532,  Espírito  Santo 
(Aldeia)  70*  507-511,  Geraiba- 
batiba  197-201  270-271,  Passe 
88*,  pedida  no  Rio  de  Iguapé 
354  ;  Livros  dos  Tombos  114*; 
x55  495-  —  Ver  Sustentação 
(Meios  de). 

Sevilha  :  192. 

Sicília  :  488. 

Silva,  Fernão  da:  Ouvidor.  527. 

Silva,  Inocêncio  Francisco  da  :  Es- 
critor. 50*  52*  68*  iro*  202  237 
310  546. 

Silva  Lisboa,  Baltasar  da:  Escri- 
tor. 50*  109*  iii*  68  237  247 
285  368. 

Silva  Rego,  António  da  :  Escritor. 
50*  340. 

Silveira,  Luís  :  Escritor.  50*. 

Símios  :  223-224. 
*  Simões,  Garcia:  307. 

Sinos:  Quatro  enviados  de  Portu- 
gal 152,  por  conta  da  fazenda 
régia  150. 

Sintra:  529. 

Smith,  Robert  C:  Escritor.  50*64. 

Soares,  D.  João :  Bispo  de  Coim- 
bra. 310. 

Soares,  D.  Leonor :  Mulher  de 
Simão  da  Gama  54  422,  madri- 
nha de  índios  482. 

Soares  de  Sonsa,  Gabriel:  Escri- 


tor. 50*  81  219  224  227-229  232 
351  496. 

Social  (Vida):  Confraternizam 
Portugueses  e  índios  num  ban- 
quete oferecido  pelos  índios  da 
Aldeia  de  S.  Paulo  (Baía)  136, 
a  organização  do  trabalho  365, 
índias  fiandeiras  e  índios  tece- 
lões que  ganham  a  vida  ao 
modo  dos  Brancos  468.  —  Ver 
Escravos,  Liberdade  dos  Ín- 
dios, Sacramentos  (matrimó- 
nio), Educação. 

Solórzano  Pereira,  Juan :  Escri- 
tor. 89. 

*  Sommervogel,   Carlos:  Escritor. 

43*  50*  93*  49  67  118  120  123 
124  142  202  237  272  285  307 
323  367  386  387  394  428  460 
546. 
Sória :  78*. 

*  Sousa,  António  de  :  459. 

*  Sousa,  João  de  :  146. 
Sousa,  José  Soares  de:  50*. 
Sousa,  Martim  Afonso  de:  Dona- 
tário.   Deu  à  Companhia  duas 
léguas  de  terra  198 ;  176  178 
197  200  201  270  353  354. 

Sousa,  Tomé  de:  i.°  Governador 
do  Brasil.  Correspondência 
com  Nóbrega  70,  carta  de  Nó- 
brega 57*  72*  73*  97*  67-105  ; 

15  39  58  59  94  ^09  m  240  5 10  522. 

Sousa  Machado,  José  de :  Escri- 
tor. 50*  95*  98*  74. 

Sousa  Viterbo,  F.  M.  de :  Escritor. 
50*  95*  97*  98*  85  151  169. 

Southey,  Robert :  Escritor.  50*. 

Streit,  Robert :  Escritor.  50*  93* 
108*  49  67  118  120  123  124  142 
202  237  272  285  317  367  460  546. 

Sujeição  do  Gentio:  «Sujeição 
de  Deus  e  do  Governador»  87, 
no  tempo  de  Tomé  de  Sousa 
97,  com  os  índios  bravos  não 
se  fará  nada,  com  os  amansa- 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


dos  e  na  obediência  aos  cris- 
tãos far-se-á  tudo  72,  os  índios 
amigos  cooperam  com  os  Por- 
tugueses na  sujeição  do  gentio 
74*  58,  sujeição  do  de  Ilhéus  e 
Porto  Seguro  101,  do  Para- 
guaçu  157,  240-241. 

Consequências  74*,  multi- 
plicam-se  as  Aldeias  da  Dou- 
trina 58*,  sujeição  civil  e  polí- 
tica não  é  escravidão  e  nega-se 
a  repartição  dos  índios  pelos 
moradores  92  (ver  Liberdade 
dos  Índios),  agora  os  índios 
são  «cera  branda»  para  a  dou- 
trina cristã  296,  os  domésticos 
da  Aldeia  de  S.  Paulo  (Baía) 
295,  abrem-se  os  caminhos  do 
sertão  292. 

Em  São  Paulo  de  Pirati- 
ninga  todos  desejam  a  sujeição 
do  gentio  como  se  fez  na  Baía 
254-255  31I-312  379,  é  necessá- 
ria «para  se  fazer  algum  fruto 
nas  almas»  564,  efeitos  saluta- 
res da  derrota  dos  índios  no 
ataque  a  São  Paulo  554;  80  115 
434  (ver  Brasil;  ver  Conver- 
são do  Gentio). 
Sustentação  (Meios  de)  :  Faltam 
na  Baía  para  os  meninos  e  Nó- 
brega manda  fazer  mantimen- 
tos 357  361-362  513-514,  Grã 
procura  diminuir  tudo  o  que 
Nóbrega  grangeara  364. 

Portugal  dá  mantimentos 
para  36  da  Companhia  147-151, 
a  título  de  esmola  e  em  caso  de 
dúvida  se  interprete  a  favor 
dos  Padres  150,  dava  provisões 
para  o  mar  164,  e  enviava 
outras  para  o  Brasil  (de  comer 
e  vestir,  utensílios  e  dinheiro) 
151 -153  165  518. 

Alimentação.  Produtos  da 
terra  (ver  Agricultura),  carne 


e  lacticínios  (ver  Gado),  peixe 
«que  é  são»  212  (ver  PESCA- 
RIAS), galinhas  e  caça  do  mato 
467-468  222  224. 

Não  é  comércio  ilícito,  mas 
operação  legítima  comprar  re- 
des e  outros  objectos  onde 
forem  mais  baratos  514,  nem 
mandar  açúcar  para  comprar 
em  Portugal  o  que  for  preciso 
no  Brasil  para  doentes  e  sãos 
35i  5i6. 

Ofício  do  Procurador  do 
Brasil  em  Lisboa  383-384,  a 
obra  da  educação  e  conversão 
requer  muita  gente  que  é  pre- 
ciso sustentar  353,  a  Compa- 
nhia no  Brasil  «tem  a  cargo 
muita  gente  meninos  e  outras 
pessoas  assim  brancos  como 
do  gentio  a  quem  doutrinam 
ensinam  e  dão  de  comer»  (Mem 
de  Sá)  524  (ver  Sesmarias); 
Portugal  manda  ao  Governador 
que  defenda  e  confirme  as  ter- 
ras da  Companhia  97*  530-531, 
e  trata  da  dotação  de  quatro 
Colégios  no  Brasil  70*  164  317. 

*  Tacchi  Venturi,  Pietro:  Escritor. 

51*  74  78. 
Tamanduá  :  221. 
Tamel:  53. 
Tatu  :  224. 

Tatuapara  :  92  328  329.  —  V er  Al- 
deia do  Bom  Jesus. 
Taunay,  Afonso  de  E. :  Escritor. 

47*  5i*  34i  549- 
Tecidos  :  —  Ver  Artes  e  Ofícios. 
Teixeira,  António  :  178  181. 
Teixeira  de  Melo :  Escritor.  51* 

iii*  178  202. 
Teixeira  Pinto,  Bento:  Escritor. 

51*  332. 

*  Teles,  Baltasar:  Escritor.  51*  256. 
Teologia  :  De  Praedestinatione 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


(SI  7 


187,  De  Poenitentia  288.  —  Ver 

Heresias. 
Terras:  Dos  índios  88  239. —  Ver 

Sesmarias. 
Teschauer,  Carlos:  Escritor.  III*. 
Teschitel,  Josef :  Escritor.  116*. 
Tetuão  :  340. 

Tibiriçá:  —  Ver  índio  Martim 

Afonso. 
Timbó  :  Nas  pescarias  212. 
Tinharé :  59  96. 
Toledo :  80*. 

Tolosa,  Inácio:  4.0  Provincial  do 
Brasil.  117*. 

Tomás  de  Aquino  :  Santo.  51  288. 

«Tombo  das  Terras  pertencentes 
ao  Colégio  da  Bafa  da  Compa- 
nhia de  Jesus»  :  51*  114*. 

«Tombo  das  Terras  pertencentes 
à  Igreja  de  Santo  Antão  da 
Companhia  de  Jesus»  :  51*  114*. 

Torre  de  Garcia  de  Avila :  94. 

Torres,  Afonso  de :  Mercador. 
495- 

Torres,  Miguel  de :  Provincial  de 
Portugal.  Vida  79*,  confessor 
da  rainha  D.  Catarina  80*  ;  crise 
de  expedições  missionárias 
para  o  Brasil  59%  ordena  a  mu- 
dança do  Provincial  do  Brasil 
sem  consulta  prévia  do  Geral 
e  procura  justificar-se  71*  31-32 
33-35,  deu  ouvidos  a  murmu- 
radores  72*,  ordenou  coisas  sem 
boa  inteligência  delas  107,  mu- 
dou de  parecer  sobre  Nóbrega 
ficar  na  Baía  74*  165,  avisos  do 
P.  Geral  107,  cartas  perdidas 
5  35 ;  77*  19*  3  16  22  24  28  35  49 
71  77  105  112  114  127  129  146 
158  159  163  164  168  280  287  316 
317  320  324  339  348  360  428  432 
433  460  518  539. 

Torrinha,  Francisco:  Escritor.  205. 

Traglia,  Aloysio :  Arcebispo.  6*. 

Trás- os- Montes :  86*397. 


Trento  :   78*  102*  103*  74  366  367 

460  512  513  516  545. 
Troyes  :  179. 

Tupi  (Língua):  Os  Padres  da 
Bafa  chamam-lhe  «grego»  306, 
a  gramática  da  terra  488,  ciên- 
cia mais  necessária  no  Brasil 
para  a  conversão  do  gentio 
363,  conveniência  em  vir  da 
Europa  gente  nova  que  a 
aprenda  363  43r,  lição  pela 
Arte  do  Ir.  Anchieta  para  to- 
dos dada  pelo  P.  Grã  283  306 
310-311;  curso  de  férias  pelo 
P.  Leonardo  do  Vale  89*-9o*, 
«Vocabulário  na  Língua  Brasí- 
lica» 9o*-9i*  «Doutrina  na  Lín- 
gua do  Brasil»  90*,  Doutrina  e 
Diálogo  62*  132  426,  Doutrina 
em  tupi  (e  português)  296,  De- 
clarações do  Evangelho  131, 
pregações  62*  52  255  424,  as 
palavras  formais  da  fórmula 
baptismal  447,  confissão  444, 
orações  423,  cantigas  66*,  can- 
tos na  língua  e  em  (português) 
75*  56,  não  há  termo  próprio 
para  o  conceito  do  Espírito 
Santo  559-560. 

Irmãos  línguas  (pregadores, 
intérpretes  e  catequistas)  18  48 
76  84  146  191  258  260  283  304  305 
333  345  353  376  377  397  407  410 
419  458  464  480  529  537  544 ;  ter- 
mos tupis  37  40  47  97  195  207 
208  212-219  221-235  335  350-351 
400  415  476  477  5°9- 

Turcos  :  81*  245  321. 

Unicórnio:  536-537. 

Universidades  :  De  Alcalá  78* 
79*,  Coimbra  81*,  Lisboa  95*, 
Paris  78*,  Recife  116*. 

Urrô  (S.  Miguel  de) :  310. 

Utensílios  :  De  estanho  cobre  e 
ferro  enviados  de  Portugal  153. 


61M 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


Vacant,  A. :  Escritor.  44*. 

Val  de  Santiago  :  488. 

Vale,  António  do  :  87*. 

Vale,  Leonardo  do:  Mestre  da 
Língua  Brasílica.  Vida  86*,  en- 
trou menino  na  Companhia  61*, 
pregador  90*,  estimado  dos  ín- 
dios 299,  confessor  dos  Bran- 
cos e  dos  escravos  e  escravas 
da  Baía  e  Vila  Velha  que  tinha 
a  seu  cargo  410  450  505 ;  expõe 
a  necessidade  de  se  fortificar 
o  Brasil  para  se  defender  dos 
piratas  franceses  497. 

Bom  observador  das  coisas 
dos  índios  92*,  de  estilo  expli- 
cativo e  minucioso  479,  mestre 
da  língua  no  Colégio  da  Baía 
(curso  de  férias)  89*-9o*,« Voca- 
bulário na  Língua  Brasílica» 
90* -91*,  «príncipe  dos  línguas 
do  Brasil»  90*;  cartas  perdidas 
518-519;  51*  75*  77*  iii*  37  47 
91  226  351  386  390  395  400  403 
427  432  435  456  460  468  469  503 

5°7  532  546. 
Vale  Cabral,  Alfredo  do:  Escritor. 

43*  51  106*  iii*  112  49  68  237. 
Valência :  303. 

Valente,  Luís  :  Vida  458.  Dos  ór- 
fãos 458. 

Van  Gulick,  Gulielmus:  Escritor. 
51*  27. 

Van  der  Vat,  Odulfo:  Escritor.  51* 

83  177  193- 

Varnhagen,  Francisco  Adolfo:  50* 
51*  98*.  —  Ver  Porto  Seguro, 
Visconde  de. 

Vasconcelos,  Alexandre  António 
Pereira  de :  41*. 

Vasconcelos,  D.  Luís  de :  Ia  por 
Governador  do  Brasil  quando 
o  mataram  os  calvinistas  fran- 
ceses 97*. 

Vasconcelos,  Simão  de  :  Escritor. 
51*  110*  119*  28  113  168  198  199 


246  256  269  297  323  367  435  469 
546  552  556. 

Vasconcelos  de  Almeida,  Aurélio: 
Escritor.  51*  394  398  469. 

Vasconcelos  da  Cunha,  Bartolo- 
meu :  Capitão-Mor.  85*  149 169- 
-170  241. 

Vaz,  Diogo:  Morador  de  São  Paulo. 
344- 

Vaz,  Fernão:  Escrivão.  190  191 193 
194. 

Vaz,  Francisco:  22. 

Vaz,  Marçal :  Tabelião.  532. 

*  Vaz  de  Melo,  Gonçalo:  Provincial 

de  Portugal.  Vida  81*;  60*  61* 
77*  108  168  279  280  284  366  432 

459  520  533  540  541  546- 
Vaza-Barris :  329. 
Veados  :  224-225. 

*  Veiga,  Manuel  da  :  81*. 

*  Velho,  Jorge  :  419. 
Velosa,  João  de  :  155. 
Veneza  :  78*. 
«Verbum»  :  52. 
Vespúcio,  Américo  :  297. 
Vestidos  :  Enviados  de  Portugal 

para  30  Padres  153,  pano  da 
índia  518,  pedem-se  da  Capita- 
nia do  Espírito  Santo  464,  ca- 
misas de  algodão  para  as  ín- 
dias 172,  índias  fiandeiras  e 
alfaiatas  75*  294  466  468,  índios 
tecelões  75*  468,  dos  antigos 
catecúmenos  andam  nus  os 
pouco  industriosos  361;  424  544. 

Viana:  Do  Minho.  337375. 

Viana,  Francisco  Vicente:  Escri- 
tor. 52*  507  510. 

Vianna,  Hélio  :  Escritor.  73*. 

Vicente,  Gil :  Poeta   52*  74  192. 

Vidal,  Francisco  :  Escrivão.  511. 

Vidigueira  (Condes  da):  522. 

*  Viegas,  Francisco  :  Vida  488 ;  456 

460  485  505  539. 

*  Viegas,   Manuel  :    Apóstolo  dos 

Maramomins.  363  458. 


ÍNDICE  ALFABÉTICO  E  REMISSIVO 


619 


Vieira,  Belchior  :  527. 

Vieira  de  Almeida,  João :  112*202. 

Viena:  De  Áustria.  109*. 

Vila  Nova,  Pero  de :  194  264. 

Vila  Real  :  92*  397. 

Vila  Velha  :  306  480  494  495  505. 

Vilar  :  81*. 

Vilela,  Pedro  Colaço  :  375. 

Villa  Franca,  Frei  Francisco  de : 
Confessor  da  Rainha  D.  Cata- 
rina 80*. 

Villegaignon,  Nicolas  Durand  de  : 
179  181  182  193  237  244  264  321. 

Vinhos  :  De  Portugal  152  480  ;  dos 
índios,  causa  de  pecados  e  dis- 
soluções 126  262  313,  nos  seus 
beberes  os  índios  nem  aten- 
dem às  tempestades  205,  con- 
tinua esse  costume  nos  arredo- 
res de  Piratininga  370,  um  da 
Bala  quebra  as  talhas  cheias  de 
vinho  126,  os  índios  ao  conver- 
ter-se  obrigam-se  a  deixar  o 
«beber  supérfluo»  476,  beber 
pelo  mesmo  vaso,  sinal  de  paz 
e  amizade  479. 

Viseu  :  8t*. 

Vitória  (Espirito  Santo)  :  19  40. 
Vitória  (Paraguaçu):  155. 
«Vocabulário  na  Língua  Brasílica». 
9o*-9i*. 

Vocações  :  Para  o  sacerdócio  e 
para  a  Companhia  115-116,  ne- 
cessidade de  se  cultivarem  para 
a  continuação  da  obra  da  Com- 
panhia e  conversão  do  Gentio 
363,  esperanças  de  Nóbrega  nos 


meninos  brasis  e  mestiços  (pre- 
parando-se  na  Europa)  66*  117 
362-363,  dois  mestiços  recebi- 
dos 338,  o  Geral  aprova  que  se 
mandem  formar  em  Portugal 
514-515;  de  meninos  órfãos  por- 
tugueses 363,  de  adultos  61*, 
podiam  vir  de  Portugal  meni- 
nos para  aprenderem  a  liDgua 
antes  de  entrar  na  Companhia 
363  431 ;  287  458-459  463- 

Wanderley  Pinho,  José :  Escritor. 

52*  98*  91  495  527. 
Wapãus,  J.  C. :  Escritor.  229. 

*  Wicki,  Josef :    Escritor.   44*  45* 

52*  82*  92*  103*  105*  107*  116*  6 
14  56  112  116  146  272  273  279 
303  358- 

*  Xavier,  Francisco  :  Santo.  55  522. 

Yonne :  179. 

Zabala,  Silvio  A. :  Escritor.  52*  92. 

Zelo  Apostólico:  Os  Padres  eram 
para  com  os  índios  «aios,  pais. 
médicos  e  enfermeiros»  63*  130, 
de  Nóbrega  na  educação  da 
juventude  361-362.  —  Ver  Edu- 
cação; ver  Conversão  do 
Gentio  ;  ver  Ministérios  ;  ver 
Sacramentos. 

Zoologia  :  Animais  indígenas  do 
Brasil  212-23T,  lamas  (lhamas) 
68*  225,  peixe-boi  (ver  Pesca- 
rias).